Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Metodologia da Economia Bibliografia: Araujo (1993), pags. 13-34; Blaug (1993), parte I – cap 1. Aula 1 Alguns problemas centrais em filosofia da ciência 1 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • Desde os primórdios da reflexão filosófica, e certamente antes também, o ser humano se pergunta o que é conhecimento válido. • Podem ser fornecidas diversas respostas, mas o quê é que permite dizer que certa resposta é melhor do que outra? • Há diversas maneiras de chegar à resposta. Uma delas é através da pesquisa sistemática, empreendimento coletivo da humanidade que é conhecido como ciência. 2 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • Há outras formas de conhecimento: • Tradição • Verdade revelada (religião) • Formas mágicas / não racionais • Além disso, os seres humanos desenvolve(ra)m uma forma de conhecimento que decorre da necessidade de lidar com o mundo nas atividades normais da vida: o senso comum. • A relação entre conhecimento científico e senso comum é complexa: em algumas coisas, eles se opõem, mas em outras a ciência aperfeiçoa o senso comum. 3 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • Uma grande preocupação da humanidade nos últimos séculos têm sido a de separar o conhecimento científico das outras formas de conhecimento. • Esse problema é conhecido como a questão da demarcação científica: como podemos separar o conhecimento científico de outras formas de conhecimento (especialmente: como podemos separar ciência de religião, de superstição, de pseudo-ciência, etc.?) 4 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • A questão básica é tentar saber que conhecimento podemos contar como válido. • Pensem que esta é uma questão da maior importância prática. Vejam no caso de um assassinato pelo qual está sendo acusado X: • Podemos aceitar a prova de que o espírito da vítima disse para um medium que X foi o assassino? • Podemos aceitar a evidência do perito que diz que achou resíduos de pólvora nas mãos de X? • Como podemos decidir se X é imputável, caso seja culpado? • Podemos acreditar no especialista que diz que a cabeça de X tem o formato típico da de criminoso nato? • Obviamente, exemplos desse tipo em economia também são fáceis de bolar. 5 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • O empreendimento coletivo que denominamos ciência engloba muitas áreas diferentes. • Isso deriva na divisão em diversas ciências. • Em geral essas divisões são mais ou menos artificiais: a realidade não está dividida, somos nós os que especializamos nossos conhecimentos em determinados tipos de problemas. • Daí saem as diferentes ciências, mas os limites dessa divisão (sua relativa artificialidade) ficam evidentes quando falamos, crescentemente, dos conceitos de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. 6 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • Por sua vez, a ciência engloba diferentes práticas, p.ex.: A. classificação, B. descrição, C. explicação, D. mensuração, E. predição, F. prescrição G. teste. • O peso relativo de cada uma muda nas diferentes divisões da ciência. • A reflexão sobre o que permite considerar um conhecimento como válido dentro de uma ciência é um campo da filosofia, conhecido como metodologia, filosofia da ciência ou epistemologia. 7 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. • É importante lembrar que a ciência busca aumentar nosso conhecimento e garantir sua qualidade. • Os aumentos do conhecimento provêm de inferências (ir do que não sabemos para o que queremos entender). • Há três tipos de inferências, que contribuem de maneira diferente para o aumento de nosso conhecimento. 8 1.Conhecimento, ciência, metodologia, etc. A. Dedução: •. X é um aluno deste curso •. Todos os alunos deste curso são inteligentes •. (Logo) X é inteligente B. Indução •. X é um aluno deste curso •. X é inteligente •. (Logo) Todos os alunos deste curso são inteligentes C. Abdução •. Todos os alunos deste curso são inteligentes •. X é inteligente •. (Logo) X é um aluno deste curso 9 2. Limpando o terreno : questões conceituais. A) Ciências naturais x ciências sociais • Uma discussão central na filosofia da ciência é se o método deve ser o mesmo em todas ciências factuais . • Se não for o mesmo, uma grande separação pode ser proposta entre ciências naturais e ciências sociais. 10 2. Limpando o terreno : questões conceituais. • Há duas grandes razões para defender a relevância desta divisão: I. Nas ciências naturais, as mesmas leis que funcionavam no “big bang” ainda valem. Nas ciências sociais, as “leis” mudaram enormemente das sociedades de caçadores/coletores para as modernas. II. Nas ciências sociais, os objetos de estudo (seres humanos) podem mudar sua conduta a partir das reflexões das ciências que estudam as sociedades, mas nas naturais isto não ocorre (“nas ciências sociais, os átomos pensam”). 11 2. Limpando o terreno : questões conceituais. B) Metodologia x Método • Metodologia é um termo geral, mas cada ciência tem suas questões metodológicas específicas. P.ex., na economia há algumas questões sempre presentes: • Qual o papel e os limites da formalização? • É possível e desejável o uso de experimentos? • Podemos aceitar evidências por introspecção, ou só podemos aceitar evidências objetivas e externamente verificáveis? • De todos modos, é importante lembrar que metodologia não é o mesmo que método. 12 2. Limpando o terreno : questões conceituais. B) Metodologia x Método (cont.) • Para usar uma diferença bastante informal, diríamos que metodologia responde questões tipo “por que”, enquanto que o método responde as de “como”. • Ou seja, no caso de experimentos em economia, a metodologia pode responder a questão “Por que este resultado experimental pode permitir entender alguma coisa lá no mundo real?” • E uma questão mais específica: “Por que precisamos (ou não) pagar aos participantes do experimento?”; • Mas há também questões de método: “Como pagamos? Só de acordo com o desempenho? Pagamos também apenas pela participação? Se damos coisas (livros, camisetas da UFABC) em lugar de $, estimulamos que os participantes levem este experimento mais a sério?”. 13 2. Limpando o terreno : questões conceituais. C) Descrição x Prescrição: • A economia estuda tanto questões descritivas (“O mundo é assim”) quanto prescritivas (“Os resultados dessa política serão socialmente injustos”). • Os economistas chamam muitas vezes “positiva” à análise descritiva. • Uma questão positiva é dizer “Se for introduzido esse imposto, a demanda vai cair muito”. • Seria positiva tanto com uma resposta qualitativa como com uma quantitativa (“vai cair 10%”). • Uma prescritiva é dizer: “Esse imposto não deve ser introduzido porque vai prejudicar os setores mais pobres”. 14 2. Limpando o terreno : questões conceituais. D) Contexto da descoberta x Contexto da justificação: • O que deve estudar a filosofia da ciência: como surgem as idéias científicas ou quais os motivos pelos quais elas são aceitas? • A resposta tradicional é que a metodologia não tem nada a dizer sobre como as ideias surgem (“Como foi que Newton descobriu a gravidade? Qual a relevância da maçã?”), mas sim sobre os motivos para que os outros aceitem ou rejeitem as análises de alguém, ou seja, como se justifica a afirmação que esse cientista faz. • Outras visões sugerem que seria importante olhar com mais cuidado os processos psicológicos que promovem a criatividade. 15 2. Limpando o terreno : questões conceituais. E) Regras de boa ciência x práticas dos cientistas: • A filosofiada ciência deve fornecer um conjunto de regras que orientem os cientistas (economistas) na determinação do que constitui boa ciência, ou é a prática dos cientistas (economistas) o que define a boa ciência? • A ciência é aquilo que os cientistas fazem? Ou os critérios de cientificidade podem (devem) ser definidos externamente? 16 2. Limpando o terreno : questões conceituais. F) Internalismo x Externalismo: • As explicações relevantes em filosofia da ciência tem que levantadas exclusivamente a partir de discussões internas em cada ciência, ou podem/devem ser trazidos elementos da sociedade e da cultura em que os cientistas se inserem e/ou da própria biografia deles? • P.ex., para entender a obra de Einstein ou de Keynes, temos que falar da infância deles? Da sociedade alemã e inglesa da primeira metade do século? Das duas guerras mundiais? Ou só das discussões em física ou economia das quais eles participavam? 17 Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17
Compartilhar