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Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 Universidade Federal do Esp´ırito Santo Centro Tecnolo´gico Departamento de Engenharia Ele´trica CAPI´TULO 5: Materiais Semicondutores 5.1 Semicondutores Os semicondutores sa˜o caracterizados por uma banda de valeˆncia cheia e uma banda de conduc¸a˜o vazia a T=0, separadas por um gap de energia relativamente pequeno. Devido ao pequeno gap, o semicondutor apresenta um nu´mero aprecia´vel de ele´trons na banda de conduc¸a˜o, embora muito menor do que os metais. Isto resulta numa condutividade intermedia´ria. Esta e´ a raza˜o do nome semicondutor. O processo de adic¸a˜o de impurezas (dopagem) do semicondutor pode alterar drasti- camente a condutividade do mesmo. E´ esta propriedade que possibilita a fabricac¸a˜o de dispositivos eletroˆnicos. O semicondutor mais importante para a eletroˆnica e´ o sil´ıcio. Ele tem a mesma estru- tura cristalina do diamante, mostrado na Figura 1, formada apena por a´tomos de Si. A Figura 2 mostra a estrutura de bandas de energia do sil´ıcio, onde Eg = 1.12 eV e´ o valor do gap de energia do Si. Figura 1: Estrutura cristalina do Diamante Outro semicondutor importante e´ o germaˆnio, que tambe´m tem a estrutura cristalina e de bandas semelhantes ao do Si, pore´m com Eg = 0.66 eV a` temperatura ambiente. Fazendo com que suas propriedades ele´tricas sejam mais sens´ıveis a mudanc¸as de tempe- ratura. 1 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 Figura 2: Estrutura de bandas de energia do Si. As propriedades de conduc¸a˜o dos semicondutores sa˜o determinadas principalmente pelo nu´mero de ele´trons na banda de conduc¸a˜o. Enta˜o elas dependem fortemente do valor do gap Eg, mas na˜o sa˜o muito influenciadas pela forma das bandas. Por outro lado, as propriedades o´pticas dependem muito da forma das bandas de energia. A Figura 3 mostra as bandas de valeˆncia e conduc¸a˜o em um semicondutor de gap direto (a) e indireto (b). No caso da transic¸a˜o atrave´s do gap direto ocorre a emissa˜o de um fo´ton de frequeˆncia wg = Eg/h, que e´ o fundamento dos Lasers e LEDs (Light Emitting Diode). Figura 3: Estrutura de bandas de valeˆncia e de conduc¸a˜o em semicondutores de gap direto (a) e indireto (b). 2 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 5.2 Ele´trons e Buracos em Semicondutores Intr´ınsecos 5.2.1 Massa Efetiva de Ele´trons e Buracos Num semicondutor, a excitac¸a˜o te´rmica faz com que um certo nu´mero de ele´trons passe da banda de valeˆncia para a de conduc¸a˜o. Os ele´trons da banda de conduc¸a˜o, sob ac¸o do campo ~ε, sentem uma forc¸a ~F = −e~ε e movem-se de acordo com a lei de Newton, com massa efetiva igual a m∗e = − ~2 (∂2E/∂k2)k=kmc (1) O ele´tron na camada da banda de valeˆncia se comporta diferente. A Figura 4 ilustra o comportamento desde estado quando o cristal e´ submetido a um campo ~ε na direc¸a˜o ~x. Apo´s a plicac¸a˜o do campo, todos ele´trons tendem a deslocar-se no espac¸o E(k) no sentido kx negativo, pois: ~ dkx dt = −eε (2) Note que o deslocamento de todos os ele´trons da banda no sentido kx negativo resulta no deslocamento do estado vazio no mesmo sentido no espac¸o do momentum. Como todos os outros estados esta˜o ocupados, a existeˆncia de um estado vazio (auseˆncia de ele´tron) com momentum −~k1 implica em que o momentum total do sistema e´ +~k1. Assim, o sistema comporta-se como se fosse formado por um buraco de vetor de onda. Figura 4: Movimento de ele´tron na banda de valeˆncia: em (a) sem campo aplicado. Em (b) e (c) com campo no sentido +x. A equac¸a˜o da forc¸a pode ser escrita enta˜o como ~Fe = ~ d ~Ke dt = −~d ~Kb dt (3) Sendo a forc¸a proveniente de um campo ele´trico, como a carga do ele´tron e´ negativa, ~F = −e~ε, e portanto, +e ~ε = ~ d ~Kb dt (4) 3 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 Isto mostra que o buraco se comporta como uma part´ıcula de carga positiva. Analo- gamente a` equac¸a˜o 1, a massa efetiva do buraco e´ dada por m∗b = ~2 (∂2E/∂k2)k=kmv (5) Como ∂2/∂k2 no ma´ximo da banda de valeˆncia e´ negativo, a massa do buraco e´ positiva. Isto consiste com o fato de que se um campo ele´trico e´ aplicado no sentido +x, os buracos teˆm momentum kx > 0 e portanto, movimentam-se no sentido +x no espac¸o real. 5.3 Semicondutores Extr´ınsecos Os semicondutores intr´ınsecos sa˜o pouco utilizados em dispositivos por sua condutivi- dade ser pequena e depender muito da temperatura. Em geral, utiliza-se semicondutores dopados com impurezas, chamados de extr´ınsecos. Atrave´s da dopagem e´ poss´ıvel fazer com que o nu´mero de ele´trons seja maior que os buracos, ou vice-versa. Os semicondutores com predominaˆncia de ele´trons sa˜o chamados do tipo n, analoga- mente, os que possuem maior concentrac¸a˜o de buracos sa˜o do tipo p. Apo´s a dopagem, os semicondutores tornam-se pouco sens´ıveis a` temperatura. E´ o controle das propriedades dos semicondutores que possibilita a fabricac¸a˜o de uma enorme gama de dispositivos. 5.3.1 Nı´vel de Energia de Impureza num Cristal A presenc¸a de defeitos ou impurezas num cristal modifica o potencial eletrosta´tico em sua vizinhanc¸a, produzindo func¸o˜es de onda localizadas nas proximidades da impureza. As energias dessas func¸o˜es de onda sa˜o obtidas atrave´s da equac¸a˜o de Schroedinger resolvida para o potencial da impureza. A Figura 5 ilustra poss´ıveis n´ıveis de energia de impurezas nas bandas de um cristal com defeitos. Figura 5: Perturbac¸a˜o do esquema de energia causada por impurezas. 4 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 As impurezas acrescentadas podem ser elementos do grupo V da tabela perio´dica (P, As ou Sb, por exemplo), que teˆm cinco ele´trons na camada de valeˆncia em vez de quatro; ou elementos do grupo III (B, Al, Ga ou In), que possuem um ele´tron a menos que Ge ou Si. No caso das impurezas do grupo V, quatro de seus cinco ele´trons na camada de valeˆncia sa˜o utilizados na ligac¸a˜o covalente com os a´tomos vizinhos. O quinto ele´tron e´ doado para a banda de conduc¸a˜o. Assim, as impurezas do grupo V sa˜o do tipo doadoras, e os semicondutores dopados com este tipo sa˜o chamados do tipo n. No caso das impurezas do grupo III, ha´ um ele´tron a menos do que o necessa´rio para completar a ligac¸a˜o com os vizinhos. Ele´trons da banda de valeˆncia do cristal sa˜o capturados para complementarem as ligac¸o˜es, deixando buracos na banda de valeˆncia. As impurezas do grupo III sa˜o chamadas de aceitadoras e formam semicondutores do tipo p. A Figura 6 mostra o modelo esquema´tico da rede cristalina formada apo´s a dopagem de impurezas. A Figura 7 mostra os n´ıveis de energia eletroˆnica da impurezas, pro´ximos da banda de valeˆncia. Figura 6: Modelo de um cristal de Ge ou Si dopado com impurezas. Figura 7: Nı´veis de impureza no gap de semicondutores dopados. 5 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 5.3.2 Concentrac¸a˜o de Portadores em Semicondutores Extr´ınsecos A concentrac¸a˜o em equil´ıbrio te´rmico de ele´trons (n0) na banda de conduc¸a˜o e de buracos (p0) na banda de valeˆncia, no semicondutor extr´ınseco, sa˜o dadas por n0 = Nce −(Ec−EF )/kBT (6) p0 = Nve −(EF−Ev)/kBT (7) O que difere o semicondutor extr´ınseco do intr´ınseco e´ a posic¸a˜o do n´ıvel de Fermi. A Figura 8 mostra o ca´lculo de n0 e p0 num semicondutor tipo n. Figura 8: Ilustrac¸a˜o do ca´lculo das concentrac¸o˜es de portadores num semicondutor tipo n. Nos semicondutores tipo n o n´ıvel d Fermi EF esta´ pro´ximo da banda de conduc¸a˜o, e por isso os ele´trons sa˜o chamados deportadores majorita´rios, enquanto os buracos sa˜o os portadores minorita´rios. Por outro lado, nos semicondutores tipo p, os buracos sa˜o os portadores majorita´rios enquanto os ele´trons sa˜o minorita´rios. 5.4 Dinaˆmica de Ele´trons e Buracos em Semicondutores Os dispositivos eletroˆnicos funcionam baseados na dinaˆmica dos portadores de carga ele´trica: ele´trons e buracos. O movimento dos portadores resultam em corrente ele´trica. 5.4.1 Correc¸a˜o de Conduc¸a˜o A corrente de conduc¸a˜o, ou deriva, resulta do deslocamento de portadores de carga produzindo um campo ele´trico externo. Esta corrente e´ formada tanto por ele´trons quanto por buracos. 6 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 Aplicando-se um campo ele´trico num material, ele´trons e buracos teˆm movimentos de deriva em sentidos opostos. Como eles teˆm cargas opostas, as intensidades das correntes ele´tricas se somam. A densidade de corrente ele´trica relaciona-se com o campo ele´trico por Jn = σnε (8) onde σn e´ a condutividade devida aos ele´trons, dada por, σn = e2 n0 τe m∗b (9) τe e´ o tempo de colisa˜o dos ele´trons e n0 a concentrac¸a˜o. A grandeza que descreve a facilidade com a qual cada ele´tron se desloca no material sob ac¸a˜o de um campo externo e´ chamada de mobilidade (µ), definida pela raza˜o entre velocidade de deriva e o campo ele´trico (µ = v/ε). A Figura 9 mostra a variac¸a˜o da mobilidade de ele´trons com a temperatura, em sil´ıcio tipo n, para diversas concentrac¸o˜es de impurezas doadoras. Figura 9: Mobilidade de ele´trons X temperatura. Analogamente, a densidade de correte de buracos e´ dada por Jp = σpε (10) sendo σp a condutividade devida aos buracos, dada por, σp = e2 p0 τb m∗b (11) onde τb e´ o tempo de colisa˜o dos buracos e p0 a concentrac¸a˜o. A soma das Equac¸o˜es 8 e 10 da´ a densidade total de corrente, J = (σn + σp)ε = σε. 7 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 A Figura 10 corrente ele´trica numa barra de material semicondutor, submetida a um campo externo, resulta da mobilidade de ele´trons e buracos. No fio meta´lico, que fornece Figura 10: Ilustrac¸a˜o do movimento de ele´trons e buracos num material semicondutor. a diferenc¸a de potencial para a barra, a corrente e´ inteiramente devida a ele´trons. Como a corrente no fio e´ igual a da barra, o nu´mero de ele´trons que passa por uma sec¸a˜o reta no fio por unidade de tempo e´ a soma dos nu´meros de ele´trons e de buracos no semicondutor, pois a carga de todos eles tem o mesmo mo´dulo. Isto so´ e´ poss´ıvel porque na interface entre o metal e o semicondutor das extremidades A e B, existe um processo de criac¸a˜o de pares ele´tron-buraco. Esses processos de recombinac¸a˜o sa˜o chamados de contato oˆhmico. 5.4.2 Movimento em Campo Magne´tico-Efeito Hall Ao aplicar um campo magne´tico esta´tico numa barra de semicondutor, perpendicular ao movimento de cargas, surge um acumulo de potencial transversal a` barra. A Figura 11 mostra um campo magne´tico ~B na direc¸a˜o z do sistema. Figura 11: Efeito Hall num semicondutor. 8 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 A forc¸a do campo magne´tico sobre as cargas e´ dada por ~F = q ~v × ~B (12) Supondo o semicondutor do tipo p, onde os buracos se movimentam na direc¸a˜o +x, a forc¸a sobre eles tem sentido −y. Esta forc¸a deflete os buracos e resulta no acu´mulo de cargas positivas no lado y = −d/2. Estas cargas criam um campo ele´trico no sentido +y, impedindo a continuac¸a˜o do movimento dos buracos na direc¸a˜o y. O aparecimento deste campo transversal e´ conhecido como efeito Hall. 5.4.3 Corrente de Difusa˜o A corrente de conduc¸a˜o resulta do movimento de cargas produzido por um gradiente de potencial ele´trico. Este na˜o e´ o u´nico gradiente que produz corrente num semicondutor. Quando portadores de carga sa˜o criados de forma na˜o-uniforme, a diferenc¸a de concentra- c¸a˜o (gradiente de concentrac¸a˜o) resulta num movimento chamado de difusa˜o, que ocorre no sentido da regia˜o de maior concentrac¸a˜o para a menor concentrac¸a˜o. O movimento destes portadores resulta numa corrente chamada de corrente de difusa˜o. Supondo a movimentac¸a˜o de buracos em um semicondutor (Figura 12) num sentido x, a concentrac¸a˜o e´ descrita pela func¸a˜o p(x). As densidades de corrente de difusa˜o dos Figura 12: Correntes entrando e saindo de uma regia˜o ∆x. buracos (Jdifp ) e dos ele´trons (J dif n ) sa˜o dadas por, Jdifp = −e Dp dp(x) dx (13) Jdifn = +e Dn dn(x) dx (14) onde Dp e Dn sa˜o os coeficientes de difusa˜o dos buracos e ele´trons, respectivamente. Generalizando para as outras dimenso˜es: Jdifp = −e Dp ∆p (15) Jdifn = +e Dn ∆n (16) sendo ∆ o operador gradiente. 9 Data: 09/12/2016 Murilo Leonardelli Daltio Estrutura da Mate´ria 2016/2 5.4.4 Injec¸a˜o de Portadores: Difusa˜o com Recombinac¸a˜o Um processo importante para a operac¸a˜o e´ chamado de injec¸a˜o de portadores por mecanismos externos. Ocorre, por exemplo, quando ele´trons, portadores majorita´rios num semicondutor tipo n, passam do lado p numa junc¸a˜o p−n. Na regia˜o de junc¸a˜o os ele´trons sa˜o injetados no semicondutor p. Os portadores injetados numa regia˜o do semicondutor produzem um gradiente de con- centrac¸a˜o, resultando numa corrente de difusa˜o. No caso de ele´trons, o excesso de concen- trac¸a˜o δn e´ descrito por, ∂δn ∂t = −δn τn (17) onde τn e´ o tempo de recombinac¸a˜o. As equac¸o˜es da difusa˜o com recombinac¸a˜o para os ele´trons e para os buracos sa˜o descritas por, ∂δn ∂t = Dn ∆ 2δn − δn τn (18) ∂δp ∂t = Dp ∆ 2δp − δp τp (19) respectivamente. Essas equac¸o˜es permitem calcular a evoluc¸a˜o no espac¸o e no tempo das concentrac¸o˜es de portadores injetados num certo instante numa regia˜o do semicondutor. Refereˆncias [1] REZENDE, S. M. Materiais e dispositivos eletroˆnicos. [S.l.]: Editora Livraria da F´ısica, 2004. 10
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