Buscar

Antropometria e conduta nutricional na adolescência

Prévia do material em texto

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 Adolescência & Saúde
51
RESUMO
Objetivo: Durante a adolescência, o indivíduo passa por transformações físicas e fi siológicas que modifi cam sua composição 
corporal e proporcionam crescimento e desenvolvimento. Para possibilitar a mensuração destas transformações e auxiliar 
o profi ssional de saúde no diagnóstico e em intervenções salutares neste período, a avaliação nutricional se torna um pro-
cedimento necessário e constante na rotina de atendimentos clínicos. Este artigo objetiva auxiliar o profi ssional da área de 
saúde a realizar o diagnóstico nutricional e proporcionar aos adolescentes a melhor conduta nutricional. Síntese dos dados: 
A antropometria é um método que avalia o estado nutricional por meio da aferição das medidas corporais. Com base nas 
curvas e tabelas de referência reconhecidas universalmente e nos pontos de cortes preconizados pelo Ministério da Saúde é 
possível diagnosticar distúrbios nutricionais, por exemplo, magreza e excesso de peso. Conclusão: Existem vários critérios 
para a avaliação antropométrica do adolescente, todos apresentam limitações e benefícios, mas ainda auxiliam o profi ssio-
nal de saúde quando treinado e bem equipado a promover ações de saúde dentro da sua rotina.
PALAVRAS-CHAVE
Antropometria, estado nutricional, nutrição do adolescente.
ABSTRACT
Objective: During adolescence, physical and physiological changes modify body composition, spurring growth and 
development. In order to measure these changes and assist healthcare practitioners with diagnoses and interventions 
during this stage, constant nutritional assessments are necessary in routine clinical care. This paper attempts to help 
healthcare practitioners draw up the nutritional diagnoses, advising adolescents on the best nutritional conduct. Data 
synthesis: Anthropometry is a method that assesses nutritional status through body measurements. Based on universally 
acknowledged reference curves and tables, with cut-off points recommended by the Ministry of Health, nutritional disorders 
such as malnutrition and overweight can be diagnosed. Conclusion: There are several anthropometric assessment criteria 
for adolescents that, despite their limitations and benefi ts, help healthcare practitioners when trained and well equipped to 
promote health activities during their routine work.
KEY WORDS
Anthropometry, nutritional status, adolescent nutrition. 
Avaliação nutricional: antropometria
e conduta nutricional na adolescência
Nutrition assessment: nutritional anthropometry and
conduct in adolescence
Ana Maria 
Lourenço1
Stella R. Taquette2
Maria Helena 
Hasselmann3 
1 Nutricionista, mestranda do PPGCM – UERJ 
2 Doutora em Medicina – Profª Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
3 Profª Adjunta do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
ARTIGO DE REVISÃO
Ana Maria Lourenço (amvls@hotmail.com) - Rua Joaquim Távora, 310/1003 – Icaraí – Niterói – RJ 
Recebido em 30/08/2010 - Aprovado em 20/12/2010
>
>
>
>
Adolescência & Saúde
52
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 
APRESENTAÇÃO
Adolescência é um período de vida no 
qual há mudanças no desenvolvimento bioló-
gico, psíquico e social. A forma como ocorrem 
estas transformações varia consideravelmente 
entre os indivíduos e as sociedades. Fatores so-
ciais, culturais e econômicos envolvidos neste 
processo podem acentuar ainda mais as dife-
renças já existentes entre os adolescentes de 
mesma idade e sexo1. 
A avaliação nutricional nesta fase da vida 
deve considerar as características dos indivídu-
os, incluindo o ritmo de crescimento e outros 
fatores envolvidos – genéticos, hormonais e 
ambientais – já que neste período o adolescen-
te, além do fenômeno biopsicossocial, vivencia 
transformações físicas e fi siológicas como, por 
exemplo, o desenvolvimento dos caracteres se-
xuais secundários e o estabelecimento da capa-
cidade reprodutora – a maturação sexual2. 
A maturação sexual que ocorre nesta 
fase de vida gera alterações na composição 
corporal dos adolescentes, como o aumento 
do peso corporal em torno de 50% e da es-
tatura em 15% a 20%, quando comparados 
com a idade adulta, o que acarreta maior 
anabolismo e um aumento de apetite para 
propiciar o alcance das necessidades ener-
géticas de proteína e de micronutrientes3.
A nutrição adequada é essencial nesse perío-
do, pois auxilia no alcance do potencial biológico 
esperado para o crescimento e desenvolvimento 
do organismo. Nesse sentido, a detecção de ado-
lescentes com riscos nutricionais passa a ser uma 
importante tarefa para os profi ssionais de saúde4.
O rastreamento destes indivíduos por meio 
da avaliação nutricional não somente possibilita 
o acompanhamento e monitoramento do esta-
do nutricional desses jovens, como também pro-
picia o conhecimento dos fatores determinantes 
de agravos nutricionais e suas consequências na 
saúde desta população.
Dentre os métodos empregados na ava-
liação do estado nutricional, a antropometria é 
apontada como um recurso prático5 que deve 
ser utilizado pelos profi ssionais para analisar o 
adolescente nas intervenções clínicas, de tria-
gem ou mesmo no monitoramento de tendên-
cias nutricionais6.
AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA
A antropometria é o método utilizado na 
avaliação do estado nutricional do indivíduo 
bem como o da coletividade. Segundo Jelliffe7, 
a antropometria em investigação de nutrição se 
ocupa da medição das variações nas dimensões 
físicas e na composição global do corpo humano 
em diferentes idades e em distintos graus de nu-
trição. Desta forma, as medidas antropométricas 
variam de acordo com a idade e o grau de nutri-
ção. É considerado um método de baixo custo, 
não-invasivo, útil e amplamente utilizado para 
identifi car distúrbios nutricionais como obesida-
de e défi cits nutricionais, além de ser objetivo e 
sensível para detectar precocemente alterações 
no estado nutricional8. Portanto, representa um 
bom recurso para rastrear grupos. Adicionalmen-
te, os procedimentos são precisos e acurados, 
desde que técnicas padronizadas sejam usadas9. 
Para a avaliação individual deve-se utilizar dados 
sequenciais do indivíduo; a associação com ou-
tros métodos auxilia o diagnóstico nutricional10.
Com base nas medidas antropométricas, 
tais como o peso ou massa corporal e a esta-
tura, são construídos os índices antropométri-
cos, por exemplo, o índice de massa corporal 
(IMC) e estatura para idade (EI). Os índices an-
tropométricos podem ser expressos em forma 
de desvio-padrão (escore Z) ou em percentil8. 
Quando comparados com os valores considera-
dos de referência, curva de referência segundo 
idade e sexo11, passam a ser denominados indica-
dores antropométricos, por exemplo, percentual 
de adolescentes com baixa estatura para idade.
Um padrão ou curva de referência é a re-
presentação resumida da distribuição de de-
terminada medida antropométrica ou índice 
antropométrico segundo idade para cada sexo. 
As curvas de referência servem para classifi car e 
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.
>
>
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 Adolescência & Saúde
53AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.
diagnosticar o estado nutricional de um indiví-
duo ou população5. 
Na prática clínica, a escala mais utilizada é, 
devido a sua simplicidade, a de pontos estipu-
lados por percentis, ao passo que para estudos 
epidemiológicos ou em pesquisas clínicas o es-
core Z é mais recomendado8.
ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS
1. ESTATURA PARA IDADE
Utilizado para acompanhar o crescimento 
linear6 do adolescente.Este índice possibilita 
avaliar a distribuição da estatura por faixa etária 
e sexo. A medida da estatura é comparada a 
valores de referência para a população segundo 
idade e sexo correspondente12. O diagnóstico 
do crescimento é dado através de percentil e 
escore Z. Os pontos de corte defi nidos pela Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS) em 2007 
são descritos no Quadro 1.
O crescimento físico adequado é muito im-
portante para proporcionar condições ideais de 
desenvolvimento geral e produtividade, assim o 
monitoramento ou avaliação periódica da esta-
tura é de suma importância nesta fase de vida12.
2. DOBRAS CUTÂNEAS
Na mensuração das dobras cutâneas utili-
za-se uma técnica não invasiva para estimar a 
gordura subcutânea. A dobra de gordura sub-
cutânea e a pele são medidas através de calibra-
dores padronizados em certas regiões do corpo 
como tríceps, subescapular e suprailíaca13.
O conhecimento das categorias de dobra 
cutânea aumenta a acurácia para identifi car 
aqueles indivíduos com maior gordura total ou 
outros fatores de risco. Entretanto, o seu uso não 
é recomendado na rotina clínica para avaliação 
de obesidade no curso inicial de vida, devido à 
falta de dados de referência prontamente dispo-
níveis para crianças e adolescentes, a erros de 
medidas originados pela inexperiência e à falta 
de treinamento dos profi ssionais de saúde e de 
bons critérios para intervenção13.
3. CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA
Tem sido relacionada como um indicador 
de gordura centralizada (obesidade central) e 
utilizada como um marcador de risco para sín-
drome metabólica, dados que a literatura mos-
tra que existe uma relação entre tecido adiposo 
visceral acumulado e aumentado risco de saúde 
e doenças metabólicas13-17.
Por ser uma ferramenta simples, confi ável 
e barata18 e defi nida como um bom preditor de 
gordura abdominal, com consequente relação 
com doenças cardiovasculares, diabetes Melli-
tus tipo 2 e morte prematura, o seu uso pode 
auxiliar o clínico de saúde no refi namento do 
diagnóstico de excesso de peso gerado pelo ín-
dice de massa corporal15. 
Porém não é recomendado o seu uso na ro-
tina clínica devido à incompleta informação13 e à 
falta de padronização e de defi nições de valores 
normais e dos pontos de cortes associados com 
Quadro 1. ESTATURA PARA A IDADE PARA ADOLESCENTES DE 10 A 19 ANOS
Diagnóstico Nutricional Valores críticos
Muito baixa estatura para a idade < percentil 0,1 < escore Z -3
Baixa estatura para a idade
≥ percentil 0,1 e
< percentil 3
≥ escore Z -3 e 
< escore Z -2
Estatura adequada para a idade ≥ percentil 3 ≥ escore Z -2
>
Adolescência & Saúde
54
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 
riscos de saúde variando com idade, sexo e etnia 
para adolescentes18. Existe a necessidade de novos 
estudos a partir de diferentes populações para se 
estabelecer valores de referência internacionais16.
4. ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC)
O IMC expressa a relação peso por estatura 
como uma taxa13 e é usado como indicador para 
a adiposidade de uma forma global15.
Ele pode ser calculado diretamente através 
da fórmula Peso (kg)/ [Estatura (m)]2 ou deter-
minado através de tabelas ou nomogramas. A 
OMS recomenda o uso do IMC associado a es-
tágio de maturação sexual para os adolescentes 
e as dobras subcutâneas triciptal e subescapular 
quando na classifi cação da obesidade6. Entre-
tanto, como é difícil a mensuração das pregas 
cutâneas nos serviços de saúde, o uso exclusivo 
do IMC é observado19. Ainda que muito utiliza-
do, apresenta algumas limitações20,21, como a 
pertinência do uso de uma curva de referência 
local ou internacional, a infl uência da maturação 
sexual na composição corporal5 e não distinção 
entre massa gorda e massa magra13,16. 
Com relação a que curva usa, vários debates 
vêm sendo travados. Além das limitações já apre-
sentadas, para Farias Junior et al.21, por exemplo, 
também existe uma grande divergência em rela-
ção aos pontos de corte que serão preconizados 
para diagnóstico de sobrepeso e obesidade na 
adolescência. Na literatura estão disponíveis vá-
rios padrões de referências, assim como critérios 
para classifi car o estado nutricional, dentre estes 
pode-se citar Cole et al.22, International Obesity 
Task Force – IOTF23, OMS10,11, Centers for Disease 
Control and Prevention24 e Conde e Monteiro5.
A curva de referência preconizada pela 
OMS do ano de 2007 foi criada a partir da re-
construção da curva de referência de crescimen-
to recomendada pelo National Center for Health 
Statistics (NCHS) de 1977 para crianças e ado-
lescentes de 5 a 19 anos25. Após os ajustes esta-
tísticos para confecção da nova curva de cresci-
mento, a OMS em 2007 passou a recomendar o 
uso desta nova curva como referência e lançou 
os pontos de corte de IMC por idade para ado-
lescentes como mostra o Quadro 2.
Posteriormente, em 2009, o Ministério da 
Saúde26 subdividiu os pontos de corte para obe-
sidade e magreza, criando novos pontos de cor-
te – magreza acentuada e obesidade grave – que 
inexistiam na classifi cação anterior (Quadro 3).
O IMC maior ou igual ao percentil 99 está 
fortemente associado à presença de comorbida-
des, excesso de adiposidade e persistência da obe-
sidade na idade adulta. Apesar de ainda não estar 
disponível nos gráfi cos de crescimento, a gravida-
de da obesidade pode sugerir uma intervenção 
mais agressiva. A incorporação dos pontos de cor-
te de IMC mais elevados nos gráfi cos e na rotina 
clínica dos serviços de saúde favoreceria melhores 
abordagens de tratamento na adolescência13.
Vale ressaltar que de acordo com Onis et 
al.27 na avaliação da magreza de crianças e ado-
lescentes, o IMC para a idade deve ser usado 
complementado pelo índice baixa EI.
Quadro 2. IMC POR IDADE PARA ADOLESCENTES DE 10 A 19 ANOS (2007)
Diagnóstico nutricional Valores críticos
Baixo IMC para Idade < percentil 3 < escore Z -2
IMC adequado ou eutrófi co ≤ percentil 3 e < 85
≥ escore Z -2 e 
< escore Z -1
Sobrepeso
≥ percentil 85 e
< percentil 97
≥ escore Z +1 e 
< escore Z +2
Obesidade ≥ percentil 97 ≥ escore Z +2
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 Adolescência & Saúde
55
CONDUTA NUTRICIONAL
Para a realização do diagnóstico nutricional 
individual, o profi ssional de saúde deve avaliar o 
adolescente, considerando idade e gênero.
A aferição da estatura e do peso corporal 
deverá ser feita usando técnicas adequadas pa-
dronizadas e classifi cadas segundo os padrões 
estabelecidos e recomendados pelo Ministério da 
Saúde. Os indicadores EI e IMC para idade em 
percentis (ou desvio-padrão) para cada gênero 
devem ser calculados e, posteriormente, registra-
dos em prontuário ou fi cha de atendimento6,28.
Muitos serviços utilizam os gráfi cos (dis-
poníveis no site http://www.int/growthref/
em/)11, que poderão ser arquivados no pron-
tuário do adolescente auxiliando o acompanha-
mento do crescimento e desenvolvimento dele 
nas avaliações posteriores28.
Caso o serviço de saúde possibilite o uso 
de outros métodos de avaliação, como pregas 
cutâneas e circunferências, estes podem com-
plementar o diagnóstico nutricional28.
A avaliação da maturação sexual através 
dos estágios de Tanner29 (disponível em http://
portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pran-
cha_masculino_14102009.pdf)30 para mamas 
(sexo feminino) e genitália (sexo masculino) 
deve ser realizada para auxiliar na interpretação 
do diagnóstico nutricional.
O Ministério da Saúde26 preconiza que 
quando na presença de distúrbios nutricionais 
como baixa estatura (EI com percentil <3) ou 
baixo peso (IMC com percentil <3) ou exces-
so de peso (IMC percentil >85), intervençãomais especializada deverá ser preconizada, bem 
como a promoção de hábitos de vida saudáveis.
Existe uma diferenciação em termos de 
conduta quando se considera o estágio de ma-
turação sexual do adolescente. No estágio ini-
cial, quando o adolescente ainda irá passar pelo 
estirão de crescimento, a intervenção nutricional 
quando na presença de distúrbios nutricionais 
deve ser efi caz para possibilitar o crescimento 
e desenvolvimento saudável, não sendo neces-
sariamente restritiva e radical, mas permitindo 
o acompanhamento do peso e sua adequação 
natural conforme o avanço da puberdade. Já na 
fase fi nal da maturação sexual, uma atitude mais 
restritiva pode ser indicada para favorecer me-
lhor terapêutica, uma vez que o adolescente já 
passou pelo pico de crescimento.
Independente do diagnóstico nutricional 
desfavorável, orientações alimentares adequadas 
e ações básicas de saúde no contexto da saúde 
do adolescente devem ser sempre realizadas.
Quadro 3. IMC POR IDADE PARA ADOLESCENTES DE 10 A 19 ANOS (2007)
Diagnóstico nutricional Valores críticos
Magreza acentuada < percentil 0,1 < escore Z -3
Magreza
≥ percentil 0,1 e 
< percentil 3
≥ escore Z -3 e 
< escore Z -2
Eutrofi a
≥ percentil 3 e
≤ percentil 85
≥ escore Z -2 e 
< escore Z +1
Sobrepeso
≥ Percentil 85 e
≤ percentil 97
≥ escore Z +1 e
< escore Z +2
Obesidade
> percentil 97 e 
≤ percentil 99,9
≥ escore Z +2 e 
≤ escore Z +3
Obesidade Grave > percentil 99,9 > escore Z +3
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.
>
Adolescência & Saúde
56
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 
Para melhor visualização da postura profi s-
sional perante a avaliação nutricional e posterior 
conduta nutricional, o Quadro 4 exemplifi ca 
procedimentos realizados conforme situações 
diferenciadas num atendimento clínico. 
Durante a consulta, o profi ssional de saú-
de deve orientar o adolescente para uma vida 
saudável, incentivando a prática regular de ati-
vidade física e o consumo de alimentos saudá-
veis que possibilite a oferta de macro e micro-
nutrientes necessários para o seu crescimento e 
desenvolvimento. Além disso, deve desestimular 
o uso de alimentos gordurosos ou de alta densi-
dade calórica31. Para melhor clareza, os autores 
detalham estas ações em 10 passos para uma 
alimentação saudável disponível no endereço 
eletrônico http://www4.ensp.fi ocruz.br/bi-
blioteca/dados/txt_465569599.pdf.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até o momento não existem critérios de 
classifi cação ou pontos de corte bem defi nidos 
para a avaliação antropométrica de adolescen-
tes. Todos apresentam limitações, e a criação de 
um padrão de referência internacional de cres-
cimento para crianças e adolescentes11, consi-
derando critérios como população, desenho de 
estudo, tamanho da amostra, medidas e mode-
lagem estatística necessárias para o fornecimen-
to de dados, foi de primordial importância para 
esta construção, mas mesmo assim atualizações 
sistemáticas merecem ser realizadas32. Pesqui-
sas nesta área devem ser implementadas para 
o aperfeiçoamento de metodologias antropo-
métricas e não antropométricas que permitam 
investigar as mudanças na composição corporal 
ocorridas neste período.
A interpretação dos dados antropométricos 
na adolescência não pode se basear exclusiva-
mente na sua adequação por idade e sexo. É 
preciso levar em conta o grau de maturação se-
xual, assim como é necessário construir padrão 
de referências que considere o desenvolvimento 
pubertário nesta apreciação8.
É imprescindível que os serviços de saú-
de incorporem na sua rotina uma avaliação da 
maturação sexual mesmo que simplifi cada, pois 
existe variação individual na época da ocorrên-
cia desses eventos em populações de adolescen-
tes saudáveis.
Enfi m, a avaliação antropométrica auxilia 
os profi ssionais de saúde no diagnóstico de dis-
túrbios nutricionais e na promoção de ações de 
saúde e adequada conduta nutricional.
Erros na realização, na leitura ou na anota-
ção das medidas para a realização da avaliação 
do estado nutricional podem ocorrer como, por 
Quadro 4. CASOS HIPOTÉTICOS DE AVALIAÇÃO 
NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES E CONDUTA 
NUTRICIONAL
Num ambulatório de uma Unidade de Saúde, 
dois adolescentes aguardavam atendimento 
clínico. A equipe de enfermagem fez 
as medidas antropométricas de peso e 
estatura, anotando no prontuário. Durante o 
atendimento clínico foi verifi cado o estágio 
de maturação sexual.
Caso 1 – Adolescente com idade de 14 anos e 9 
meses, gênero masculino, apresentando estado 
nutricional adequado pelo IMC para idade e 
estágio inicial de maturação sexual 
Conduta nutricional: O profi ssional de saúde 
deve orientar para uma alimentação saudável 
e demais ações básicas de saúde se houver 
necessidade.
Caso 2 – Adolescente com idade de 12 anos e 4 
meses, gênero masculino, apresentando estado 
nutricional pelo IMC para idade compatível a 
sobrepeso e estágio fi nal de maturação sexual.
Conduta nutricional: O profi ssional de saúde 
deve orientar para uma alimentação saudável 
e demais ações básicas de saúde além de 
referenciar para o serviço de nutrição para 
restabelecer o padrão saudável do estado 
nutricional e acompanhar o crescimento e 
desenvolvimento do adolescente.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.
>
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 Adolescência & Saúde
57
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Adolescent Health and Development: a WHO regional framework 2001-2004, 
Value adolescents invest in the future. Philippines: WHO, Regional Offi ce for the Western Pacifi c. Disponível 
em: < http://whqlibdoc.who.int/wpro/2002/FRAMEWORK2002_a76191.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2010.
2. Zefferino AMB, Barros Filho AA, Bettiol H, Barbieri MA. Acompanhamento do Crescimento. Jornal de 
Pediatria. 2003; 79 (Supl 1): S23-S32.
3. World Health Organization. Adolescent Nutrition: A Review of the situation in selected South-East Asian 
Countries. Nutrition Status of the Population in SEAR Countries, WHO Regional Offi ce for de South-
East Asia. 2006. Disponível em: < http://www.who.int/nutrition/publications/schoolagechildren/SEA_
NUT_163/en/index.html> Acesso em: 24 mai.2010.
4. Coelho SC, Nascimento TBM. Semiologia Nutricional no Adolescente. In: Duarte ACG. Avaliação 
Nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Atheneu, 2007.
5. Conde WL, Monteiro CA. Valores críticos de massa corporal para classifi cação do estado nutricional de 
crianças e adolescentes brasileiros. Jornal de Pediatria. 2006; 82 (4): 266-72.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN: Orientações básicas para a coleta, 
processamento, análise de dados e informação em serviços de saúde. Brasília: MS. 2004.
7. Jellife DB. Evaluación del estado de nutrición de la cominidad. Ginebra: Organización Mundial de La 
Salud, 1966.
8. Araujo ACT, Campos JADB. Subsídios para Avaliação do Estado Nutricional de Crianças e Adolescentes por 
meio de Indicadores Antropométricos. Alim Nutr Araraquara. 2008;10 (2): 219-25.
9. Habicht JP. Estandartización de métodos epidemiológicos quantitativos sobre el terreno. Bol Ofi cina Sanit 
Panam. 1974; 76: 375-84.
10. World Health Organization. Phisical Status: The use and Interpretation of Anthropometry. Report of a Who 
Expert Commitee. WHO technical report series. WHO. Switzerland. 1995: 854.
11. World Health Organization. Growth reference data for 5-19 years, WHO reference 2007. Disponível em: 
<http://www.who.int/growthref/en/>. Acesso em: 20 jun.2008.
12. Amorim TSP, Rodrigues AGM, Stolarski MC. Estatura de adolescentes matriculados em escolas da rede 
pública noestado do Paraná, Brasil. Rev Nutr. 2009; 22 (2): 195-205.
13. Krebs NF, Hilmes JH, Jacobson D et al. Assessment of Child and Adolescent Overweight and Obesity. 
Pediatrics. 2007; 120 (Supl 4): S193-29.
14. Camhi SM, Kuo J, Young DR. Identifying Adolescent Metabolic Syndrome using Body Mass Index and waist 
circumference. Preventing Chronic disease: Public Health Research, Practice and Policy. 2008; 5 (4): 1-9. 
Disponível em: <www.cdc.gov/pcd/issues/2008/oct/07_0170.htm>. Acesso em: 27 jul. 2010.
15. Katzmarzyk PT, Srinivasan SR, Chen W et al. Body mass Index, waist circumference, and clustering of 
cardiovascular disease risk factors in a biracial sample of children and adolescents. Pediatrics. 2004; 114 
(2): e198-e205.
16. Kelishadi K, Gouya MM, Ardalan G et al. First reference curves of waist and hip circumferences in an asian 
population of youths: CASPIAN study. Journal of Tropical Pediatrics. 2007; 53 (3): 158-64.
exemplo, a mensuração do peso e da estatura 
na rotina dos serviços de saúde. Muitas vezes, os 
próprios profi ssionais consideram estas ativida-
des procedimentos simples que não demandam 
grande conhecimento e se julgam capazes de 
realizá-los sem treinamento6. Isso acarreta erros 
no diagnóstico e consequente conduta incorre-
ta. Portanto, existe uma necessidade de treinar 
e reciclar as equipes de saúde para a realização 
dos procedimentos antropométricos, bem como 
a frequente revisão e manutenção dos equipa-
mentos que possibilitem aferições confi áveis 
para o acompanhamento do desenvolvimento 
do adolescente.
Na presença de distúrbios nutricionais, 
intervenções salutares e acolhedoras devem 
ser incorporadas às práticas dos profi ssionais 
de saúde envolvidos na promoção e acompa-
nhamento do estado de saúde e nutricional do 
adolescente.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.
>
Adolescência & Saúde
58
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 51-58, jan/mar 2011 
17. Li C, Ford ES, Mokdad AH, Cook S. Recent in waist circumference and waist-height ratio among US children 
and adolescent. Pediatrics. 2008; 118 (5): e1390-98.
18. Wang J. Waist circumference: a simple, inexpensive, and reliable tool that should be included as part of 
physical examinations in the doctor’s offi ce. Am J Clin Nutr. 2003; 78: 902-03.
19. Chiara V, Sichieri R, Martins PD. Sensibilidade e especifi cidade de classifi cação de sobrepeso em 
adolescentes. Rio de Janeiro. Rev Saúde Pública. 2003; 37 (2): 226-31.
20. Cintra IP, Passos MAZ, Fisberg M, Machado HC. Evolution of body mass index in two historical series of 
adolescents. Jornal de Pediatria. 2007; 83 (2):157-62.
21. Farias Júnior JC. Konkad LM, Rabacow FM, Griep S, Araujo VC. Sensibilidade e especifi cidade de critérios de 
classifi cação do índice de massa corporal em adolescentes. Rev Saúde Pública. 2009; 43 (1): 53-9.
22. Cole TJ, Flegal KM, Nicholls D, Jckson AJ. Children and adolescents: international survey Body mass index 
cut offs to defi ne thinness in. BMJ.com. 2007; 1-8. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/
articles/PMC1934447/>. Acesso em: 22 jul. 2010. 
23. Cole TJ, Bellizzi MC, Flegal KM, Dietz WH. Establishing a standad defi nition for child overweight and 
obesity Worldwide: international survey. BMJ. 2000; 320: 1-6. Disponível em: <http://www.iotf.org/popout.
asp?linkto=http://bmj.bmjjournals.com/cgi/content/abridged/320/7244/1240> Acesso em: 24 mai. 2010.
24. Center for Disease Control and Prevention. CDC Growth Charts. Disponível em: < http://www.cdc.gov/
growthcharts/> Acesso em: 24 mai. 2010.
25. National Center for Health Statistics-NCHS. Growth Curves for children bith – 18 years vital and health 
statistics series 11, 165 DHEN Plub 78 – 1650. Washington D. C. VS: Government Printing offi ce, 1977.
26. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Sistema de Vigilância 
Alimentar e Nutricional – SISVAN. Incorporação das Curvas de Crescimento da Organização Mundial de 
Saúde de 2006 e 2007 no SISVAN. Disponível em: <G:\estadonutricional\CGPAN-coordenaçãogeraldapo
líticadealimentaçãoenutrição.mht> Acesso em 24 mai.2010.
27. Onis M, Onyanjo AW, Borghi K, Siyam A, Nishida C, SiekMann J. Development of a WHO growth reference 
for school-aged children and adolescents. Bulletin of the World Health Organization. 2007; 85 (9): 660-67. 
Disponível em: <http://www.who.int/growthref/growthref_who_bull.pdf> Acesso em: 24 mai. 2010.
28. Engstrom EM (org.). SISVAN: Instrumento para combate aos distúrbios nutricionais em serviços de saúde: 
o diagnóstico nutricional. 2 ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002.
29. Tanner JM. Growth and Maturation during Adolescence. Nutrition Reviews. 1981; 39 (2): 43-5.
30. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Orientações para o treinamento à saúde do 
adolescente. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/prancha_masculino_14102009.
pdf>. Acesso em: 29 jul. 2010.
31. Barros DC, Felipe GC, Silva ER, Martins PD. Alimentação do Adolescente. Centro Colaborador em Alimentação 
e Nutrição – Região Sudeste (CECAN-Sudeste)/ENSP/FIOCRUZ/MS.Ministério da Saúde, 2007. Disponível 
em: < http://www4.ensp.fi ocruz.br/biblioteca/dados/txt_465569599.pdf> Acesso em: 24 mai. 2010.
32. Butte NF, Garza C, Onis M. Symposium: A New 21st-Century International Growth Standard for Infants and 
Young Children. Evaluation of the Feasibility of International Growth Standards for School-Aged Children 
and Adolescents. The Journal of Nutrition, Geneva: WHO. 2007. Dísponível em: <http://jn.nutrition.org/
cgi/reprint/137/1/153>. Acesso em: 25 jul. 2010.
58 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA E 
CONDUTA NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA
Lourenço et al.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes