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A morte do Jornalismo informativo e o nascimento dso Realjornalismo.

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A MORTE DO
 JORNALISMO
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CONCEITOS REVISTA DA ADUFPB-JP
1. As configurações
 teóricas do
 Realjornalismo.
AA dificuldade em compreender asrelações entre a política do go- verno e o cotidiano da socie-
dade brasileira é um dos problemas im-
postos pelo jornalismo informativo na
sociedade, cujo modelo evidencia um
cotidiano marcado pela divisão social
do trabalho1 e a fragmentação das re-
lações sociais.
O modelo jornalismo que tem
legitimado a prática social da exclu-
são, através da defesa do modelo eco-
nômico neoliberal e da globalização
das economias mais ricas, tem como
um de suas principais características
criar «fantasmagorias» conceituais, «re-
alidades lingüísticas» para justificar
processos de dominação. Esta catego-
ria de jornalismo denominamos «re-«re-
aljornalismo»aljornalismo».
Às vezes, podemos constatar
certas similitudes entre o realjornalis-realjornalis-
momo e a realpolitik, realpolitik, principalmente
quando consideramos a construção de
um processo político como extensão da
violência e da sedução da socieade de
consumo. Mas, do ponto de vista da
criação das «realidades», o realjorna-realjorna-
lismolismo não demonstra aos leitores as
diferenças ideológicas que são pontos
de articulações do tecido social
O tempo social no realjornalis-
mo nasce a partir da fratura entre o dis-
curso dos atores sociais e as estratégias
político-partidárias patrocinadas e cons-
truídas pelo estados totalitários. Por isto,
nesta linguagem referencial do jornalis-
mo informativo, como nos demonstra
Nílson Lage, em seu livro Linguagem
Jornalística2 , a construção dos fatos jor-
nalísticos obedece à lógica do espetá-
culo, na qual prevalecem o tempo de
exposição e a profusão de imagens.
 No realjornalismorealjornalismo, a única
coisa importante é a demonstração dos
eventos no nível da descrição, haja vista
que narrar um fato social exige uma
democratização das falas - pluralidade
dos discursos -, aspecto negado pela
concepção do modelo jornalístico que
enfatiza a materialização do signo, sem
se preocupar com a produção de idéi-
as. Pois ao jornalismo informativo inte-
ressa apenas o que pode ser anuncia-
do enquanto forma discursiva, através
de seus referentes.
Como a realpolitikrealpolitik, o real-real-
jornalismojornalismo tem por finalidade a cons-
trução de um imaginário social sem
conflitos ideológicos, o que demons-
tra a conjugação no presente de tem-
pos sociais distintos, num exercício de
«effacement» dos problemas políticos
enfrentados em outros períodos histó-
ricos. Isto porque o principal objetivo
do realjornalismorealjornalismo é: empilhar ima-
gens, discursos, inscrevendo-os numa
nova ordem estético-política, negan-
do a complexidade do cotidiano, subs-
tituindo a razão pela utopia e a utopia
pelo nada.
POR WELLINGTON PEREIRA
A MORTE DO
 JORNALISMO
 INFORMATIVO
e o nascimento do realjornalismo
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CONCEITOS REVISTA DA ADUFPB-JP
2. O Realjornalismo
 e a construção
 do Cotidiano
AAs representações do cotidiano, no realjornalismo, são efetivadas a
partir de uma busca pela sociedade per-
feita, na qual o tempo presente (mes-
mo o presente do indicativo) é negado.
Isto se enfatiza no «modus» autoritário
como este novo modelo de jornalismo
substitui as realidades estético-sociais
por «realidades lingüísticas», de forma
totalitária, tudo em nome da perfeição
e da estandardização das formas (aqui
entendidas no sentido simmeliano)3 ,
como demonstra Michel Maffesoli, em
seu livro, La Violence Totalitaire:
«Sauter pardessus le présent au
nom de la perfection de la socié-
té parfaite, c´est encore passer
à côté de l´épaisseur et de la
densité sociale du vécu social, ce
qui revient à dire qu´il ne convi-
ent pas de canoniser la réalité,
le statu quo, mais de voir com-
ment les situations humaines sont
un mixte de spectacle et
d´authenticité, d´acceptation et
de révolte, de banalité et
d´aventure, en un moto, sont les
liens de l´ambivalence (...)»4 .
O realjornalismorealjornalismo concebe o
mundo através da «trucagem» de ima-
ges, da distorção de conceitos. Neste
sentido, a técnica de construção dos
textos informativos, que estabeleciam
a metonímia como figura de explica-
ção do mundo dos homens e dos ob-
jetos, é subordinada às novas regras
de «representação» do real que tomam
a vida cotidiana como sendo estan-
dardizada e mecânica, sem sentido fi-
losófico.
A violência semântica do rea-rea-
jornalismojornalismo se configura na troca de
una realidade por outra, obedecen-
do à concepção dos sistemas políti-
cos autoritários, como nos explica
Hannah Arendt:
«Rien ne caractérise meiux les
mouvements totalitaires en géné-
rale, et la gloire de leurs chefs
en particulier, que la rapidité sur-
prenante avec laquelle on les
oublie et la facilité surprenante
avec on les remplace».5
Uma das formas de dominação
estético-lingüística se dá através das
«techniques de remplacement». Atra-
vés das técnicas de substituição, o re-re-
aljornalismoaljornalismo impõe e dissolve demo-
cracias que nascem do populismo mi-
diático (Berlusconni, Collor, Hugo Cha-
ves, Fuji Mori, Bernado Tapie), e trans-
forma culturas complexas, como o mun-
do árabe, em representantes de Satã.
A técnica do realjornalismorealjornalismo se
legitima a partir da superposição de
imagens, criando «realidades lingüísti-
cas » para explicar a complexidade da
vida cotidiana. Isto faz com que este
jornalismo se aproxime mais das exi-
gências do «mau» exercício publicitá-
rio, negando a interpretação da «escri-
ta» de algumas narrativas jornalísticas
como a reportagem, por exemplo.
O realjornalismorealjornalismo nasce, em
nível mundial, no momento em que os
governos neoliberais, as novas tecno-
logias (domínios dos países mais ricos)
transformam as técnicas de informação
em «procedimentos» de espetaculariza-
ção das formas socias, que podem ser
agrupadas em dois níveis: 1) espeta-
cularização da violência e da miséria
(aids e fome nos países africanos, seca
e fome no Nordeste brasileiro, currup-
ção nos países de economia periférica,
Brasil, México, por exemplo); 2) espe-
tacularização das riquezas (o bem-es-
tar social das nações mais ricas: os
Estados Unidos, Japão, Inglaterra e
Franças como forma de controle e es-
petacularização do político).
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CONCEITOS REVISTA DA ADUFPB-JP
Em suas formas narrativas, o
realjornalismorealjornalismo estabelece uma alian-
ça de significados e significantes entre
a política e o consumo. É evidente que
isto se dá através de uma linguagem
sofisticada, na qual a principal função
é a dominação e o aniquilamento das
antinomias sociais.
O contrato entre mercado de
bens de consumo e mercado de infor-
mação, cujos contornos estão bem de-
finidos com o advento da Internet,
transforma o jornalismo em campo de
trocas simbólicas e circulação de mer-
cadorias.
Neste campo de trocas simbó-
licas, a retórica do realjornalismorealjornalismo
procura diminuir as distâncias geográ-
ficas e desqulificar os embates ideoló-
gicos em torno da supremacia dos Es-
tados mais poderosos. Mas tudo isto
se estabelece num programa de exclu-
são, na dominação através da violên-
cia econômica, sem considerar as for-
mas de resistência encontradas no
quotidiano, como demonstra Serge
Halimi, no seu livro Les nouveaux chi-
ens de garde:
« La vie sociale résiste à l´écran,
elle n´est pas virtuelle, elle in-
forme souvent davantage que
l´information sur les mécanismes
du pouvoir est sur l´ urgencedes
refus (...).6
O realjornalismorealjornalismo é a fusão da
política de difusão « entrópica » de in-
formações, sem considerar contextos
sociais distintos, com a disseminação
da sociedade de consumo, cujo objeti-
vo é dominar os países, economica-
mente, mais pobres, padronizando des-
de a cozinha (verificar a proliferação
da cultura macdonald’s no mundo) até
a forma dos diálogos televisuais (ver a
síndrome dos talks-shows).
A resistência ao realjornalis-realjornalis-
mo mo deve ser didático-cultural. Isto exi-
ge uma leitura crítica dos referentes
culturais e seus tempos sociais distin-
tos nas sociedades contemporâneas,
e a verificação dos significados impos-
tos pela pragmática jornalística. Estas
análises podem evitar que as tecnolo-
gias dos mais poderosos, em termos
econômicos, aniquilem as ações dos
mais pobres, como se evidencia nas
narrativas da Imprensa brasileira des-
te final de milênio.
Wellington PereiraWellington Pereira é doutor em Sociologia pela Université René Descartes, Paris V, Sor-
bonne, na qual defendeu a tese: Le quotidien voilé: l’affaire Collor de Mello dans le maga-
zine brésilien Veja (inédita). Desde 1986, é professor do Curso de Jornalismo da Universidade
Federal da Paraíba. É autor dos livros: 1) Crônica: arte do útil ou do fútil? - ensaio sobre a
crônica no jornalismo impresso, João Pessoa, Ed. Idéia, 1992; 2) As possibilidades do róseo
(ficção). Atualmente, coordena uma pesquisa sobre o cotidiano dos jornalistas na Paraíba e
o Seminário Leituras do Cotidiano.
A U T O R
1) Durkehim, Émile. De la vision social du travail. Paris, PUF, 1998.
2) Lage, Nílson. Linguagem jornalística. São Paulo, Ática, Col. Princípios, 1990.
3) Simmel, Georg. La sociologie et l’experience du monde moderne. Org.: Patrick Watier. Paris,
Méridiens, 1979.
4) Maffesoli, Michel. La violence totalitaire. Paris, Méridiens, 1979.
5) Arendt, Hannah. Le système totalitaire - Les origines du totalitarisme. Paris, éditions du Seuils,
coll ; Points_Essais, 1972.
6) Halimi, Serge. Les nouveaux chiens de garde. Paris, 1998.
B I B L I O G R A F I A
Reprodução digital de fotografia sobre a Guerra no Golgo Pérsico

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