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Serviço Social & Sociedade. ISSN 0101-6628. Revista Quadrimestral de Serviço Social. São Paulo, Ano XXIV, nº 82, julho 2005, p. 5-21. O desafio de construir e consolidar direitos no mundo globalizado [1] Marco Aurélio Nogueira RESUMO: O artigo pretende examinar em que medida os direitos humanos, e particularmente os direitos sociais, encontram-se ameaçados pela reiteração da modernidade capitalista tardia e da globalização, sobretudo naquilo que eles implicam em termos de retração dos Estados nacionais. Seu pressuposto é que os direitos de cidadania refletem conquistas importantes do movimento democrático e das lutas sociais dos séculos XIX e XX, mas não são uma dádiva nem uma concessão: foram “arrancados” por iniciativas sociais e por operações políticas complexas. Sua reprodução, sua defesa e o prosseguimento de sua ampliação, nas condições atuais, dependem não apenas de uma valorização da idéia da norma e do Estado “ético”, como também da plena afirmação da gestão pública e da colocação em curso de uma dinâmica política que não dissocie a luta por direitos da luta democrática. PALAVRAS-CHAVE: direitos humanos, globalização, cidadania, Estado nacional, democracia, gestão pública. ABSTRACT: The article intends to examine if the human rights, and namely the social rights, are in danger in the circunstances of the capitalistic globalization, in which there is a national state retraction. The main argument of the article is that the human rights are not a gift neither a concession, but a result of important social actions and complex political operations. His reproduction, his protection and his enlargement depends on a valorization of the “ethical” State idea and on the affirmation of the public management and of a political dinamics that not separated the struggle for rights and the democratic struggle. KEYWORDS: Human Rights, Globalization, Citizenship, National State, Democracy, Public Management. O desafio de construir, afirmar e consolidar direitos é um tema caro às melhores tradições democráticas e à trajetória histórica das Ciências Sociais. Trata-se de um tema explosivo, estratégico, que nos projeta para o centro mesmo da vida moderna e nos põe diante de pelo menos uma questão de excepcional magnitude, que afeta a sociabilidade contemporânea como um todo: dadas as ameaças e as dificuldades que hoje se antepõem aos direitos de cidadania, e particularmente aos direitos sociais, estariam estes direitos à beira do precipício, prestes a desaparecer ou a perder a legitimidade de que se valeram sistematicamente no decorrer do século XX? Como fazer para reiterá-los e defendê-los quando tudo parece contra eles conspirar? De uma perspectiva mais geral, os direitos podem ser vistos como problema inerente ao modo moderno de viver e de conviver, bem como ao modo moderno de fazer política, entender a política e organizar a política. Têm acompanhado as vicissitudes da modernidade, se adaptado a ela e em boa medida auxiliado a dar, a essa modernidade, formas mais elaboradas de reconhecimento e de autoconsciência. Se a modernidade avança para além de sua dinâmica ―simples‖, se se radicaliza e se torna mais ―complexa‖, como sustentam diversos autores, [2] é razoável que sejamos obrigados a reconhecer que alguma turbulência adicional se instale na esfera específica dos direitos humanos. O presente artigo procura, antes de tudo, fixar algumas hipóteses de trabalho para uma reflexão preliminar sobre os direitos humanos em condições de modernidade radicalizada e de globalização econômica capitalista. A partir delas, também procura pensar em voz alta sobre a questão dos direitos e da esfera pública no Brasil e, como conclusão, lançar algumas idéias para o encontro de saídas para os impasses que se vislumbram hoje em dia. Para pensar os direitos 1. Os direitos de cidadania, e particularmente os direitos sociais, são um parâmetro fundamental da vida civilizada e refletem conquistas importantes do movimento democrático e das lutas sociais dos séculos XIX e XX. São uma prova cabal de que a humanidade tem sabido construir, ao lado da exacerbação do mercado, da competição, da violência e da exploração capitalista, formas mais dignas de convivência. Os direitos, porém, não são uma dádiva, nem uma concessão. Foram ―arrancados‖ por lutas e operações políticas complexas. Além disso, também têm funcionado como um importante fator de reprodução social e de reposição da força de trabalho: não são uma doação dos poderosos, mas um recurso com o qual os poderosos se adaptam às novas circunstâncias histórico-sociais, dobrando-se com isso, contraditoriamente, às exigências e pressões em favor de mais vida civilizada. Os direitos também não constituem a expressão de uma chegada da classe operária ao paraíso, isto é, da plena e definitiva emancipação social. São uma espécie de tradução jurídica do processo de socialização política que acompanha a modernidade capitalista, e que se manifesta na instauração de níveis progressivos de cidadania e na participação de grupos populacionais cada vez mais amplos no governo da sociedade. São, em suma, um fator que viabiliza o sistema e ao mesmo tempo um fator que ajuda a que avance a oposição ao sistema por dentro do sistema. Os direitos como um todo são indispensáveis para que se possa pensar numa forma democrática e justa de vida. No mínimo por isso, deveriam ser sempre plenamente valorizados e defendidos. 2. Nas últimas décadas, a cidadania dilatou-se de forma inédita e inusitada. O campo dos direitos está hoje definido pela reiteração de antigas conquistas (direitos civis e políticos), pela oscilação dos direitos sociais e pela afirmação incessante de ―novos direitos‖, que recobrem territórios tão vastos quanto o meio ambiente, a sexualidade e a bioética. A vida moderna ficou inseparável de um progressivo, tenso e irregular reconhecimento jurídico dos direitos de cidadania. Ao mesmo tempo, a luta por direitos está longe de se ter esgotado ou de ter encontrado um ritmo regular. Paralelamente à reiteração jurídico-formal dos direitos, continuam a se multiplicar as situações de desrespeito, preconceito, exclusão e indiferença, assim como continuam a se prolongar as situações de marginalidade, ―desproteção‖ e arbítrio. Devemos tentar compreender as razões dessa sinuosidade e as conseqüências e implicações dessa dilatação. Quando, no correr do século XX, os interesses homogêneos das grandes classes do mundo do trabalho foram se inserindo na arena pluralista da representação e no status de cidadania, algumas contradições se evidenciaram. Tal processo, por um lado, permitiu o surgimento dos grandes agregados de cidadãos incluídos e protegidos, mas não promoveu o desaparecimento dos grupos de excluídos, pobres e marginalizados. Com isso, muitos indivíduos perderam concretamente as condições para exercer e reclamar o cumprimento de direitos humanos básicos (de primeira e segunda geração, por exemplo), passando a viver à margem de proteções formais ao seu status nominal de cidadão. A «era dos direitos» acabou, assim, por produzir um certo impasse no campo da cidadania. Afinal, os que se organizam com maior competência podem se fazer representar de modo qualitativamente superior e, nessa medida, podem participar melhor da vida pública, influenciar os mecanismos de decisão, conquistar direitos e posições mais vantajosas na escala distributiva. A extensão da cidadania também formulou, para o século XX, o desafio dos chamados direitos de terceira e quarta geração, que não dizem respeito a grandes interesses agregados e homogêneosmas a diversificados interesses difusos, multidimensionais, referidos a questões que são vitais para todos os habitantes da Terra. Incluem-se aí tanto os direitos vinculados ao gênero, às várias fases da vida (crianças, terceira idade), aos estados excepcionais da existência (enfermos, portadores de limitações físicas ou mentais), ao meio ambiente e à natureza, quanto os direitos associados à integridade genética das pessoas, por exemplo. Todo esse processo expandiu e recriou a cidadania, associando a ela novos temas e novas dimensões. Trouxe também interrogações e dúvidas até então adormecidas, bem como um conjunto de novas exigências em termos de gestão de políticas públicas. Entre outras coisas, a multiplicação das demandas e a fragmentação dos interesses puseram em xeque os critérios até então prevalecentes para estabelecer e fixar o quadro dos direitos: quem tem direito a que, quando e em que proporções? Ao mesmo tempo, agravou-se o problema do financiamento dos gastos públicos e, mais ainda, o da gestão financeira e o da tributação. Tornou-se decisivo saber administrar os custos derivados da afirmação do pluralismo sem afetar ou rebaixar suas virtudes, o que exige doses extras de competência técnica, densidade cultural e sensibilidade política. Mais do que nunca passamos a depender de políticas sociais ativas, tanto no que elas representam para a viabilização dos direitos sociais, quanto no que têm de repercussão sobre os direitos civis e políticos. A cidadania social terminou, desse modo, por ficar cortada por uma contradição, já que, para ser viabilizada, não só requisita uma maior fatia dos fundos públicos e força a expansão das burocracias estatais, como também consolida o protagonismo e as vantagens das organizações corporativas ou dos grupos sociais mais fortes. Mais significa mais emancipação, mas significa também maior esforço e mais custo social, uma maior disposição para o ―sacrifício‖. Sem isso, ela não se estabiliza, nem tem como continuar avançando. 3. O quadro dos direitos humanos encontra-se complicado e ameaçado pelos impactos e pelas implicações da globalização, que entre outras coisas retira soberania dos Estados nacionais e, com isso, reduz a capacidade que estes Estados têm de regular, controlar e proteger, perturbando-os como fonte de garantia de expectativas normativas. Os direitos humanos em geral e particularmente os direitos sociais ficam, deste modo, sem o devido anteparo estatal, correndo o risco de se perderem ou de simplesmente não serem efetivados. Na marcha rumo à ―sociedade global‖, emergem novos espaços de produção de direitos que, no entanto, não gozam de garantias ou proteções consistentes, ficando na dependência da vontade política dos governantes, da dura luta dos interessados ou da ativação ético- política da sociedade civil. Vivemos em uma época que apresenta um mercado mundial, que assiste à constituição de uma sociedade mundial mas que nem de longe se reconhece em um Estado mundial. Há muito pouco de ordem na ―ordem mundial‖ em que estamos inseridos. Há pouca regulação, pouca justiça social e pouca igualdade efetiva. Que mundo global é este em que cerca de 300 multimilionários possuem renda superior a tudo o que é acumulado por 2,3 bilhões de habitantes da Terra? Em que aproximadamente 17 milhões de pessoas morrem a cada ano de doenças como malária, diarréia ou tuberculose? Em que quase 1/3 da população mundial (1,3 bilhão de pessoas) vegeta na pobreza? Não há regras categóricas estabelecidas e respeitadas, apenas ―janelas de oportunidades‖, como se costuma dizer. Muitos espaços locais (regionais ou subnacionais) movem-se animados pelo desejo de contrastar uma ―ordem mundial‖ marcada pela indiferença, pela agressividade, pela violência. Comunidades inteiras sentem-se prejudicadas pelas forças globais e como não conseguem encontrar respostas dos governos a que estão submetidas, amplificam suas demandas de autonomia e vão de alguma forma à luta. Os fatores de ―desagregação‖ e de quebra de hierarquias institucionais são poderosos. O ímpeto de defender identidades e tradições ameaçadas é igualmente potencializado, até mesmo como meio de resistir a mudanças que não podem ser controladas. O fundamentalismo e o sectarismo surgem, assim, como uma tendência inscrita na própria lógica da globalização. Ao mesmo tempo, porém, como que a contrastar e a frear tal tendência, percebe-se que a movimentação geral também contém uma orientação distinta, de natureza cosmopolita e receptiva à expansão da democracia participativa em nível global. Hoje, agem no mundo não apenas os Estados nacionais, mas também inúmeras outras formas de ―associação‖: cidades, regiões, movimentos políticos e redes globais. E não há porque duvidar que, desta pluralização e desta efervescência, não possam surgir vetores positivos e ações afirmativas, voltadas para a composição democrática de uma efetiva ordem mundial. 4. Apesar de vivermos numa ―era de direitos‖ repleta de conquistas e avanços, os direitos sociais parecem hoje viver muito mais como direitos proclamados, ―direitos em sentido fraco‖ ou expectativas de direitos, como diria Norberto Bobbio, do que como direitos efetivamente usufruídos, ou seja, ―direitos em sentido forte‖. Há, no campo dos direitos sociais, um maior grau de defasagem entre a norma jurídica e a sua efetiva aplicação. Trata-se de uma defasagem comum a todas as áreas, mas que, na área social, parece ser maior, basicamente porque os direitos sociais dependem muito, para serem efetivamente usufruídos, de decisões políticas cotidianas, tomadas no dia-a-dia, em função de mil e uma contingências políticas, econômicas ou financeiras. Os direitos sociais trazem consigo, como sabemos, a necessidade de alocações expressivas de recursos: financeiros, humanos, técnico- científicos, organizacionais, políticos, seja para que se financiem os direitos, seja para viabilizá-los no plano organizacional. Como são recursos de natureza ampla, quase sempre mexem com interesses estabelecidos, e por isso acabam ficando na dependência de acertos, acordos, pactos societais, decisões de natureza governamental e política, que muitas vezes comprometem a efetiva aplicação, implementação e proteção desses direitos. 5. Os direitos sociais são direitos de tipo especial, já que não implicam a possibilidade da criminalização. Diferentemente do que ocorre com os demais direitos, que trazem consigo a possibilidade de penalizar aqueles que os infringem, no caso dos direitos sociais essa possibilidade, ou não existe, ou está radicalmente enfraquecida. O governante que não cumpre o que estabelece a norma constitucional no plano dos direitos sociais pode, quando muito, sofrer sanções morais e desgaste político. Somente será criminalizado se o não-cumprimento vier acompanhado de atos abertos de corrupção: a incompetência ou a opção por uma política social inconsistente, equivocada, prejudicial à população, não são ―crimes‖. Vale a pena, portanto, pensar na provocativa pergunta feita por Bobbio: será que ainda podemos chamar de direitos aqueles direitos ―cujo reconhecimento e cuja efetiva proteção podem ser adiados sine die, além de confiados à vontade de sujeitos cuja obrigação de executar o ‗programa‘ é apenas uma obrigação moral ou, no máximo, política?‖. [3] Podemos, é claro, continuar chamando de direitos a essas exigências, que são sobretudo expectativas de direitos, mas só teremos a ganhar se soubermos evitar a confusão entre a exigência de proteção futura de um certo bem (a saúde, por exemplo), que posso proclamar e exigir com certa facilidade, e a proteçãoefetiva desse bem, algo que muitas vezes só posso conquistar mediante recurso a uma corte de justiça. No campo dos direitos sociais, não há tribunais capazes de reparar erros gerenciais, má alocação de verbas ou opções políticas equivocadas, nem muito menos de punir os culpados. Procurando as determinações Se caminharmos em direção à vida concreta, podemos ver que toda a problemática inerente aos direitos sociais está no Brasil bastante amplificada. Os brasileiros não são protagonistas de uma experiência histórica rica na elaboração de pactos sociais consistentes ou na construção orgânica e ―funcional‖ dos direitos de cidadania. Têm sido precários, entre nós, os arranjos políticos e os entendimentos comuns dedicados a estruturar e a viabilizar, por exemplo, uma melhor distribuição de renda e escolhas públicas voltadas para a valorização e a proteção efetiva dos direitos sociais. Ainda hoje nos faltam lealdades políticas e lealdades sociais para que se tomem decisões firmes em favor de direitos. Em decorrência, os direitos sociais não têm sido muito respeitados e nem têm fluído em condições razoáveis. A formação histórica brasileira teve muito Estado. Sem a intervenção estatal direta, sem a organização e a atuação de um aparelho de Estado tecnicamente qualificado e ―forte‖ não teríamos tido o que tivemos de desenvolvimento industrial e de inclusão social. Mas tivemos pouco Estado enquanto comunidade política e enquanto fiador da vida democrática e da cidadania plena. Os próprios direitos (civis, políticos e sociais) vigoraram entre nós de modo seletivo: tornaram-se nominalmente universais, mas nunca foram efetivamente usufruídos por toda a sociedade. Sempre existiram obstáculos complicados para a democratização e para a socialização efetiva dos direitos de cidadania, por mais que a luta em favor de um Estado democrático de direito tenha se mantido como horizonte de atuação de muitos brasileiros. Basta ver, por exemplo, a situação de ―abandono‖, medo e insegurança social em que vivem diversos setores da população (principalmente os de baixa renda) para se constatar como deixamos a desejar neste terreno da construção do Estado como comunidade política e mesmo como aparelho dedicado a prover os serviços básicos para a vida cotidiana. Houve avanço em 1988, com a nova constituição. Ela não só valorizou política e juridicamente os direitos de cidadania – não é à toa que ela passou à história como ―Constituição-cidadã‖ – como também abriu e fortaleceu o Estado como espaço de autonomia individual e de ação coletiva. A sociedade civil foi valorizada e inserida no campo mesmo da gestão de políticas sociais, via instituto da descentralização participativa. Do mesmo modo, o Ministério Público ganhou impulso e autonomia em todas as suas instâncias, a federal e as estaduais. Com isso, conseguiu ampliar um pouco mais a confiança dos cidadãos no Estado, ou ao menos compensar o grave descrédito das instituições públicas. De 1988 para cá houve de fato muita evolução e muitas conquistas políticas e sociais. O Brasil não ficou parado, nem retrocedeu, muito ao contrário. Mesmo assim, ainda deixamos a desejar em termos de Estado democrático de direito e em direitos de cidadania. E esta é uma situação que fica dramaticamente agravada no quadro de uma globalização arrogante, dominada por um mercado irresponsável e direcionada por uma hegemonia neoliberal que, entre outras coisas, trava o desenvolvimento, promove o desemprego e exacerba a concorrência entre os diferentes grupos sociais. Como então sustentar, digamos assim, as hipóteses acima apresentadas? Quais os fatores que determinam o atual estado de dificuldades e restrições que afetam os direitos sociais? Gostaria de apresentar alguns pontos que, na minha avaliação, ajudam a explicar estas restrições e dificuldades e, ao mesmo tempo, a avaliar os caminhos que temos de trilhar para fazer com que esses direitos especiais, que são os direitos sociais, ganhem consistência, estabilidade, proteção e efetiva aplicação. Começaria dizendo que conhecemos hoje uma situação de crise do Estado e de crise do Estado nacional. Podemos aliviar um pouco a carga dramática desta idéia de crise – afastá-la claramente, por exemplo, de qualquer visão apocalíptica, associada a morte, a fim, a colapso definitivo –, mas não temos como negar que existe hoje um profundo mal-estar no espaço estatal, um desarranjo, uma falta de coordenação, uma falta de estruturação. Com isso, estamos perdendo o terreno histórico- social concreto em que se vincularam até hoje e em que foram praticados os direitos, e os direitos sociais em primeira instância. Tais direitos vivem hoje ao sabor de turbulências internacionais, escassez de recursos, planos de estabilidade recessivos, ajustes, pressões e constrangimentos de diferentes tipos. Justamente por isso, flutuam sem encontrar a devida proteção jurídica e política. Associado a este quadro, há o processo de mercadorização geral. Estamos vivendo uma fase em que predomina no mundo uma mentalidade de mercado. Gostemos ou não gostemos disto, estamos obrigados a reconhecer que este é um dado da realidade. A visão de que o mercado funciona como parâmetro e como recurso para obter todos os bens parece-me hoje dominante, dominante não necessariamente no coração do povo mas seguramente na cabeça dos dirigentes políticos, na cabeça dos gestores, dos gerentes, dos empresários, de muitos dirigentes associativos, de muitos formadores de opinião. Sendo verdadeiro isso, tudo tende a ser reduzido a uma relação de compra e venda, incluindo os direitos, a justiça, a igualdade e assim por diante. Tudo vira mercadoria. Hoje temos uma situação tendencialmente disposta no sentido da idéia de que os direitos sociais também podem ser ―comprados‖: os que podem pagar por eles são lançados para fora do campo público e os direitos sociais propriamente ditos (direitos publicamente garantidos, universais, cobertos pelo imposto recolhido pela sociedade) são, quando muito, previstos exclusivamente para os mais pobres. Trata-se de uma tendência que até pode repercutir positivamente em termos de finanças públicas, mas que seguramente enfraquece o campo dos direitos sociais e tira legitimidade deles. Os direitos estão complicados, também, em terceiro lugar, porque temos hoje no mundo, e portanto também no Brasil, uma espécie de crise da idéia de cidadão. A idéia de cidadão é uma idéia sofisticada, complicada, e hoje me parece que ela está em crise sobretudo porque tende a se afirmar quase que exclusivamente no plano dos direitos, deixando para trás o plano das obrigações. È uma conseqüência do clima geral, de pouca perspectiva coletiva e muito individualismo. Junto com a crise da idéia de cidadão há uma crise da idéia de República, ou seja, o cidadão republicano está hoje gravemente reduzido ou à condição de consumidor ou à condição de eleitor, de alguém que é chamado a referendar decisões que são tomadas em âmbitos aos quais ele não tem acesso. Os cidadãos reclamam, protestam, fazem plebiscitos, votam regularmente de dois em dois anos ou de quatro em quatro, mas não conseguem entrar no ventre em que são geradas as decisões. Além do mais, somos protagonistas de uma época que assiste a uma espécie de colisão entre o social e o institucional. Trata- se de uma situação que se manifesta com força no Brasil. Estamos numa fase em que o plano social está muito excitado, muito exacerbado, ficou muito complexo; é diferenciado, diversificado, conhece uma enorme dispersão em termos de interesses. Há problemas sociais gravíssimos, como sabemos bem, e as instituições não conseguem dar contadisso, não parecem possuir a legitimidade e a plasticidade suficientes para assimilar e muito menos direcionar ou dirigir o social. Tal defasagem entre o mundo social, o mundo dos interesses, o mundo das pessoas, e o mundo das instituições é uma defasagem perturbadora que não só torna extremamente difíceis a reprodução e a renovação dos pactos fundamentais, como torna também extremamente árdua a organização dos instrumentos com os quais podem ser implementadas políticas sociais, e sobretudo políticas sociais mais agressivas. Não há como lutar por direitos sem luta institucional – luta mediante instituições, dentro de instituições e em defesa de instituições –, mas a luta institucional não pode substituir a luta social. Em quinto lugar, precisamos reconhecer também que, nesse contexto, afirma-se uma idéia perversa de reforma – de reforma da administração pública e de reforma do aparelho de Estado, sobretudo –, ou seja, uma visão que reduz a reforma ao plano técnico-administrativo e ao plano fiscal-financeiro. O reformismo com que atravessamos a última década do século XX acabou, de um lado, por despolitizar radicalmente todo o debate a respeito de seu sentido e de seu programa: tornou-se um reformismo incapaz de se completar e de se desdobrar em resultados socialmente expressivos. A dinâmica reformadora não esteve socialmente orientada. De outro lado, tal reformismo ajudou a fazer com que as instituições passassem a sangrar e a se desmobilizar: quebrou a identidade delas, liquidou seus recursos humanos, sucateou seu principal patrimônio. Tal idéia de reforma, que está bastante concentrada no barateamento dos serviços e no enxugamento da burocracia, alimenta operações gerenciais que levam as organizações à falência. As organizações públicas, maltratadas dos mais diferentes modos, foram ainda por cima consideradas como despreparadas para enfrentar o ambiente competitivo em que se vive, devendo ceder espaço para organizações mais ―modernas‖, quase sempre vistas como market oriented. Para complicar ainda mais a situação, esta idéia de reforma e de Estado prolongou-se no tempo e fixou-se na agenda nacional. Ainda não foi superada pelo novo governo eleito em 2002, que ascendeu impulsionado por um enfático compromisso com as reformas e com combate à questão social. Devemos portanto nos perguntar: pode um governo de esquerda realizar-se como governo de esquerda com a manutenção da idéia neoliberal de reforma do Estado? Pode-se reformar a sociedade – superar sua crônica desigualdade, distribuir renda, retomar o desenvolvimento e dinamizar o sistema de proteção social e de direitos de cidadania – sem um esforço determinado para inventar um novo Estado? Pode-se avançar com a reiteração de uma teimosa política de ajuste fiscal, mas não de desenvolvimento? Sabemos que não. Porém, na atual conjuntura, são muitos os obstáculos e os constrangimentos. Não se trata apenas de exigir governos com coerência programática e vontade política, mas sim de descobrir a maneira de agir em termos realistas e democráticos num contexto complexo. E o realismo democrático, hoje, talvez imponha um preço alto demais em termos de velocidade na obtenção de resultados. No fundo, todo governo reformador caminha hoje sobre uma corda estreita, estendida sobre um abismo de riscos e perigos. Temos de aprender a manter de pé a idéia mesma de governo reformador, da possibilidade de um governo que se dedique à efetivação de reformas socialmente orientadas e democraticamente implementadas, tanto para conseguirmos preservar e aprofundar o que já se conquistou quanto para impulsionar as ações governamentais em um sentido mais radical. Temos de descobrir um modo de criticar os governos reformadores sem inviabilizá- los. Por fim, vinculado a este quadro, processa-se uma espécie de sofrimento organizacional generalizado: as organizações estão sofrendo. A vida organizada está sofrendo.[4] É como se o mundo estivesse ―doente‖, e se o mundo está doente as organizações adoecem também, e sem organizações a vida fica muito complicada, principalmente no campo dos direitos e dos direitos sociais em particular. Como as organizações estão sofrendo, elas tendem a criar condições para o aparecimento, no interior delas, de uma elite de gestores sem audácia e sem criatividade, gestores opacos, desvinculados de interesses ou compromissos organizacionais, carentes de responsabilidades públicas, que atuam com os olhos naquilo que é considerado o up to date da ciência administrativa, com os olhos no caixa, com os olhos em estratégias gerenciais de último tipo. Estes gestores acabam por minar as resistências organizacionais. Se passarmos uma vista panorâmica pelas organizações públicas do campo técnico- burocrático e científico – como as universidades públicas, por exemplo --, veremos uma situação assustadora: as organizações são pressionadas a partir de fora (via cortes orçamentários ou imposições políticas, por exemplo) e não estão conseguindo contar com boas e qualificadas respostas a partir de dentro delas. E isto seguramente despoja os governos e os movimentos sociais de um aparato intelectual e operacional decisivo para fazer certas políticas ganhem maior consistência, maiores chances de implementação, maior rigor técnico, e assim por diante. Para o encontro de saídas Sendo esse o quadro, em que saídas podemos pensar? Não há como sugerir qualquer pauta de soluções categóricas, mas pode- se fixar algumas idéias preliminares. Elas não garantem o encontro de saídas, mas sem elas as saídas não aparecerão. O primeiro ponto é que temos de descobrir pela política, pelo social, pelo intelectual, por fóruns democráticos e eminentemente dialógicos, uma forma de colocar em curso um novo movimento de valorização da norma, um novo movimento de valorização do Estado, não do Estado reduzido a aparato de intervenção, porque deste, num certo sentido, nós até temos bastante, mas do Estado como expressão jurídica de pactos coletivos consistentes, com os quais seja possível no mínimo domesticar o mercado e frear a liquidação do patrimônio e dos valores públicos. Sem essa valorização da idéia da norma, da idéia do pacto, da idéia do Estado ―ético‖, não teremos como estabelecer um sentido comum, republicano e democrático para a vida social. O segundo ponto é uma espécie de princípio: se é verdade que há hoje uma crise no campo dos direitos sociais, que estão sendo questionados pelas mudanças que a inovação tecnológica, a globalização da economia e da comunicação, os avanços científicos e a reorganização das relações internacionais estão provocando na estrutura produtiva, no Estado, na vida em geral, se é verdade que há uma crise neste campo, também é verdade que a questão dos direitos e da luta por direitos é ineliminável e se reproduz de modo inevitável. Ela não consegue ser silenciada, nem desativada, nem represada. Em boa medida, a questão dos direitos espelha o mundo em que vivemos, com suas injustiças, suas desigualdades, seus dilemas e suas contradições. A luta por direitos, por isso, quando devidamente politizada, nos coloca de novo, o tempo todo, no olho do furacão, ou seja, no terreno dos conflitos, das lutas sociais, e acaba por nos animar a brigar por uma ordem social justa, sem miséria, sem exclusões, sem desigualdades. O terceiro ponto é que teremos de afastar os direitos do campo de que eles estão se aproximando perigosamente hoje. O que quero dizer com isso é que os direitos, e sobretudo os direitos sociais, não são um item do orçamento público, não podem ser reduzidos ao financeiro, às condições financeirasdas sociedades e muito menos às opções de política financeira feitas pelos governos das sociedades. O financeiro sempre pesa, e não há como ignorar suas restrições. Mas se não salvarmos os direitos da lógica financeira, não vejo como eles poderão ser implementados e protegidos. O determinismo economicista, a mentalidade contábil e a arrogância fiscalista do nosso tempo, dependentes que são do fundamentalismo de mercado hoje prevalecente, mostram sua pior face ao conceber os direitos como itens do orçamento. Os direitos não podem assentar no mercado: eles não são personagens do mercado, mas do Estado, e somente no Estado podem encontrar proteção e viabilidade. Estão inseridos, portanto, no coração da política. O quarto ponto tem a ver com gestão. Que fazer para organizar e dirigir os complexos sistemas que respondem pela formulação e pela implementação das políticas com as quais os direitos são viabilizados e garantidos? Além dos inúmeros problemas e tensões inerentes à idéia mesma de proteção social (direito do cidadão, dever do Estado, mas algo sempre dependente de pactos e decisões complicadas), além dos problemas decorrentes da própria natureza explosiva e desafiadora da sociedade brasileira, temos de enfrentar também os desafios positivos, como é o caso, para falar naquilo que é bem típico da área social, da tradução prática da diretriz da descentralização participativa, que é, em si mesma, complexa e, por isso, transfere ainda mais complexidade para os sistemas. Trata-se de uma diretriz que inova e promete democracia, sobretudo porque vem acompanhada de mudanças institucionais que ampliam efetivamente a participação social (como os Conselhos e, eventualmente, outros colegiados paritários). A diretriz inovadora, porém, sobretudo no curto prazo (isto é, enquanto ainda não se formou uma nova cultura política, organizacional e gerencial), acirra bastante a arena de disputas, fazendo com que o mundo dos interesses venha à tona, quase sempre de forma bruta, isto é, como ―interesses particulares‖, autocentrados, refratários à geração de efeitos coletivos integradores. Como fazer isso num quadro marcado pela necessidade que temos, no setor público, de encontrar formas de gestão que não só se mostrem eficientes e prestem bons serviços, mas também sejam capazes de criar um trabalhar mais pleno de sentido, não só um emprego a ser defendido? Hoje, no Brasil, a questão gerencial contém uma dose tripla de dramaticidade. Precisamos gerir de modo democrático o sistema e os coletivos de produção de serviços, tanto para que eles funcionem com os olhos no cidadão, quanto para que eles se convertam em espaços onde os próprios gestores possam defender seus empregos e, acima de tudo, desenvolver um trabalho mais pleno de sentido. Ao mesmo tempo, temos de conviver com uma visão hegemônica de reforma que conspira abertamente contra isso. O tema da gestão democrática ainda não recebeu um tratamento cabal entre nós. Continua a nos desafiar e a nos seduzir. Trata-se de um tema composto de muitos temas: a participação, a liberdade, o controle social, a composição dos interesses, o poder compartilhado, os sujeitos autônomos, a eficiência. A gestão democrática é um arranjo sofisticado: combina institucionalidade, compromisso e pacto com criatividade, iniciativa e empreendedorismo. Trata-se de um outro modo de organizar e de agir: um outro modo de fazer política nas organizações e com as organizações. Justamente por isso, a gestão democrática não se identifica com inovação gerencial ou com adoção de novas tecnologias de gestão, como apregoa o discurso hoje dominante. Nela, o tema da eficiência surge de modo bem preciso: desliga-se do custo e concentra-se nas finalidades, preocupando-se em responder não ao impacto financeiro, mas ao impacto ―social‖ — isto é, sobre os que usam um dado serviço. A gestão democrática, quando pensa em eficiência, desloca a dimensão administrativa (o controle, o gasto, a organização, os processos) e a substitui pela dimensão política. Troca a norma burocrática por uma outra: não pela ―norma gerencial‖, mas pelas ―normas‖ definidas por sujeitos capazes de assumir compromissos, organizar espaços coletivos e criar soluções, produzindo serviços que sejam de ―qualidade social‖. Mas é óbvio que a gestão democrática não se resolve num terreno que esteja ―além‖ do normativo ou da organização formal. Ela também depende de convenções, regras, leis, que de um ou outro modo acabam por limitar e contrastar valores, desejos e interesses. Ela também convive com o tema do poder: a gestão democrática não ignora nem teme o tema do poder. Mas pretende dedicar-se a domesticar e a humanizar o poder: a transformá-lo em algo menos ameaçador, mais compartilhado, mais negociado. É por isso que não pode haver gestão democrática sem ―reforma intelectual e moral‖, como dizia Gramsci: sem novas subjetividades e sem uma nova cultura. Afinal, são as pessoas que fazem as instituições. São as pessoas que fazem as organizações. O desafio da gestão democrática pode ser assim apresentado: como dirigir sem hipertrofiar o momento do poder mas, ao contrário, valorizando radicalmente o momento do participar? Como compor interesses, vontades e desejos no interior das organizações sem reduzir as margens de liberdade e de autonomia e sem impossibilitar ou atravancar a operacionalidade organizacional? Como construir lealdades e compromissos para defender as instituições, dinamizar o convívio e otimizar a participação? Por fim, temos de lutar por direitos num plano político superior. Essa é uma luta que não tem viabilidade se for dissociada da luta política democrática. A ―estratégia dos direitos‖, tão valorizada pela movimentação social, não pode se completar fora da política, com suas instituições e seus tempos específicos. Hipostasiada, isolada em si, tal estratégia produz apenas expectativas mal- dimensionadas e frustrações. Do mesmo modo, os direitos sociais não podem ser proclamados e defendidos em termos corporativos, como se fossem ―propriedade‖ de um grupo ou de uma profissão, de um partido ou de outro. Eles só têm chance se forem defendidos como causas cívicas coletivas, causas políticas, justamente porque anunciam formas novas e melhores de convivência e de responsabilidade recíproca. Sem que se universalizem, os direitos conquistados não se convertem em recursos societários de emancipação. A dinâmica dos direitos tende a ser sempre subversiva, a se indispor contra a ordem, pois aponta para novos padrões de convivência e de estruturação social. É justamente por isso que os direitos costumam ser banalizados, perseguidos e desvalorizados por todos aqueles que pilotam a reprodução ampliada da ordem. O prosseguimento da aventura da cidadania depende sempre mais da plena valorização da política e de uma recuperação do Estado. Sem isso, novos e velhos direitos poderão ser formulados e formalmente sancionados, mas dificilmente serão implementados. O Estado chegou ao final do século XX ameaçado em sua própria natureza pelo processo da globalização. Com isso, tumultuou-se ainda mais o campo da cidadania. Afinal, de que adiantam tantos direitos se são declinantes as condições para sua efetiva proteção e implementação? O grande risco dos movimentos que demandam novos direitos é o de não ter como lutar pelo fortalecimento das instituições capazes de garantir direitos. É o risco de não ter como evitar o contraste entre proclamação e efetivação. O empenho em favor de uma nova cidadania – disposta num plano compatível com a atual dimensão globalizada da vida – faz um convite para que se libertea cidadania dos termos clássicos que a objetivaram na história: o território, o Estado-nação, a soberania nacional. Não se trata de uma operação simples, tanto que, a despeito de ocupar vasto espaço na agenda de muitos movimentos alternativos, a idéia de uma ―cidadania global‖ ainda não ultrapassou os limites de uma postulação utópica, associando-se à imagem de uma ―sociedade civil global‖ em gestação. A reflexão sobre o tema é, porém, inevitável. Somente uma estratégia política que vá além dos direitos pode produzir conseqüências reais. Não nos basta afirmar um direito para vê-lo respeitado, nem é suficiente, por um pleito ético e moral, exigir o cumprimento dos direitos para que eles se cumpram. A estratégia precisa ser categoricamente democrática. No fundo, a discussão remete para a política: como fazer para transformar expectativas de direitos em direitos efetivos e para impedir que direitos efetivos fiquem ao léu ou regridam para a condição de expectativas? Para ser implementada, esta estratégia exige a construção de uma malha de grandes e pequenos poderes democráticos, com os quais seja possível processar reivindicações, garantir direitos e fazer com que direitos e reivindicações sejam vividos sem produzir dilacerações comunitárias, mas, ao contrário, reforçando e dando novas qualidades às comunidades. Justamente por isso, depende também da existência de governos que governem, isto é, que sejam capazes de administrar as coisas públicas mas também saibam fixar horizontes de sentido, auxiliando as comunidades a ganhar autonomia, a construir democracia e a viver melhor. [1] A primeira versão deste texto foi apresentada como conferência de abertura do XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – O Serviço Social e a Esfera Pública no Brasil. Fortaleza, 17 de outubro de 2004. [2] Ver, por exemplo, Zygmunt Bauman, O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998, e Em busca da política. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000; Ulrich Beck, O que é globalização? Equívocos do globalismo, respostas à globalização. São Paulo, Paz e Terra, 1999, e Liberdade ou capitalismo. São Paulo, Editora Unesp, 2004; Anthony Giddens, As conseqüências da modernidade. São Paulo, Editora UNESP, 1991; U. Beck, A. Giddens & S. Lash, Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo, Editora UNESP, 1997. [3] Norberto Bobbio, A era dos direitos. Rio de Janeiro, Campus, 1992, p. 77. [4] A esse respeito, remeto a Marco Aurélio Nogueira, Um Estado para a sociedade civil. Temas éticos e políticos da gestão democrática. Segunda edição. São Paulo, Cortez, 2005, especialmente cap. 6. Edit this page (if you have permission) | Google Docs -- Web word processing, presentations and spreadsheets.
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