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BRANT, BIAZATTI O Papel das recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na formação do Direito Internacional

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192
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
O PAPEL DAS RECOMENDAÇÕES DA ASSEMBLEIA GERAL DAS 
NAÇÕES UNIDAS NA FORMAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL
Leonardo Nemer Caldeira Brant1
Bruno de Oliveira Biazatti2
RESUMO 
O presente artigo visa descrever o modo como os efeitos jurídicos e 
políticos das recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas podem 
influenciar o processo de formação do direito internacional. Essa influência assume 
três formas diferentes. Primeiramente, a autoridade política dessas recomendações é 
capaz de induzir os sujeitos internacionais a agir em conformidade com o conteúdo 
dessas resoluções, ainda que não possuam qualquer efeito vinculante sobre eles. Em 
segundo plano, destaca-se a forma quasi normativa das recomendações, que podem 
operar-se como catalizadores no processo de formação de tratados ou costumes 
internacionais. Por fim, a Assembleia Geral, via recomendação, pode estabelecer 
uma situação jurídica nova, que será voluntariamente implementada pelos Estados. 
Palavras-Chave: Assembleia Geral das Nações Unidas; resoluções não vinculantes; 
efeitos políticos e normativos das recomendações; fontes do direito internacional.
ABSTRACT 
This article aims to describe how the legal and political effects of the United 
Nations General Assembly’s recommendations may influence the formation of 
international law. These recommendations’ influence appears in three different 
aspects. Firstly, their political authority can induce international subjects to comply 
with their content, even if these recommendations have no binding effect on them. 
Secondly, recommendations have a quasi normative caracter, meaning they can 
operate as a catalyst for the adoption of treaties and the formation of international 
customs. Finally, the General Assembly, through the adoption of a recommendation, 
can establish a new legal situation, which States can voluntarily implement. 
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1 Doutor em Direito Internacional pela Université Paris X Nanterre, com tese laureada com o Prix du 
Ministère de la Recherche. Jurista Adjunto na Corte Internacional de Justiça-C.I.J. Membro do Comitê 
Consultivo para Nomeações do Tribunal Penal Internacional – T.P.I. Professor associado de Direito 
Internacional Público da U.F.M.G. e da P.U.C. MINAS. Professor convidado na Université Paris X, no 
Institut des Hautes Études Internationales da Université Panthéon-Assas Paris II, na Université Caen 
Basse-Normandie, e no XXXVII Curso de Direito Internacional da OEA. Visiting Fellow no Lauterpacht 
Center da Cambridge University. Presidente e fundador do Centro de Direito Internacional- C.E.D.I.N. 
Editor Chefe do Anuário Brasileiro de Direito Internacional- A.B.D.I.
2 Pesquisador do Centro de Direito Internacional – C.E.D.I.N. 
193
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
Keywords: United Nations General Assembly; non-binding resolutions; political and 
legal effects of recommendations; sources of international law.
INTRODUÇÃO 
O conceito de recomendação tem uma abrangência ampla e é empregado 
dentro de concepções diversas visando qualificar certos atos de organizações 
internacionais, que são dirigidos a um ou mais destinatários e que se caracterizam 
como um convite a adoção de um comportamento, uma ação ou uma abstenção 
determinada 3 . Em termos gerais, pode-se considerar que uma recomendação é, 
prioritariamente, um ato de natureza não normativo, emanado de uma organização 
internacional e destinado a um ou mais atores internacionais4. Ela normalmente 
estabelece certos princípios e convida seus destinatários a execução de um 
comportamento específico. Isto significa que ela não é, em princípio, dotada de força 
obrigatória e a sua não implementação não implica na responsabilidade do Estado 
inadimplente com a referida obrigação5. Tal princípio é de tal forma estabelecido que 
mesmo o voto de um determinado Estado eventualmente favorável a uma 
recomendação não o obrigaria e este não verá comprometida sua boa-fé em caso de 
não cumprimento do conteúdo de uma recomendação. 
Esta regra geral parte do princípio de que uma recomendação deve, na 
grande maioria dos casos, emanar de um órgão intergovernamental. Neste contexto, 
os destinatários são normalmente os Estados membros da referida organização 
internacional. Tal é a regra, embora, nada impeça que uma recomendação venha a ser 
destinada aos particulares, as empresas privadas ou mesmo aos Estados não membros 
���������������������������������������������������������������������������������������������������������������
3 M. Virally, La valeur juridique des recommandations des organizations internationals, A.F.D.I., 1956, p. 
66-96.
4 Em raríssimas circunstâncias, o termo recomendação veio a ser utilizado para designar uma obrigação de 
natureza vinculante. Este foi, por exemplo, o caso do Tratado de Paris estabelecendo a Comunidade 
Europeia do Carvão e do Aço. Posteriormente, contudo, após o Tratado de Merger, tal nomeclatura foi 
deixada de lado e o termo “diretivas” passou a ser utilizado (C. Parry e J. P. Grant, Encyclopedia of 
International Law, New York, Oceana Publications, 1986, p. 330). O artigo 4º do Tratado de Locarno
também determinava que as partes contratantes deveriam agir em conformidade com as recomendações do 
Conselho da antiga da Liga das Nações, aprovadas por unanimidade e excluídos os votos dos Estados 
partes na controvérsia em análise (J. P. Jacque, Élements pour une théorie de l’acte juridique en droit 
international public, Paris, L.G.D.J., 1972, p. 234).
5 Nos termos do artigo 2º do Projeto de Artigos da C.D.I. sobre a Responsabilidade dos Estados por Atos 
Internacionalmente Ilícitos, a responsabilidade de um Estado está condicionada a ocorrência de violação 
de uma obrigação internacional desse mesmo Estado. Tal entendimento também encontra fulcro na 
jurisprudência internacional, como se identifica no caso da Usina de Chorzów (C.P.J.I., Série A, nº 9, p.21; 
C.P.J.I., Série A, nº 17, p.29), na Opinião Consultiva sobre a Reparação pelos Danos Sofridos à Serviço 
das Nações Unidas (C.I.J., Rec.1949, p.184) e também na decisão arbitral “Rainbow Warrior”
(U.N.R.I.A.A., Vol. XX, 1990, p.251). Assim, já que as recomendações não são, a priori, instrumentos 
hábeis para criar obrigaçãos jurídicas aos Estados, o seu desrespeito não seria suficiente para ativar a 
responsabilidade internacional do Estado que age em desacordo com elas.
194
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
da organização de origem. O artigo 2º, parágrafo 6º da Carta das Nações Unidas dá
suporte a tal entendimento6.
Uma recomendação, contudo, pode ser igualmente dirigida a um outro 
órgão da mesma organização. Neste caso, segue-se, em princípio, a lógica da 
coordenação entre estes. As recomendações da Assembléia Geral dirigidas ao 
Conselho de Segurança em matéria orçamentária para as operações de manutenção 
da paz são bons exemplos7, sobretudo como confirmado pela jurisprudência da Corte 
Internacional de Justiça (C.I.J.), no Parecer Consultivo sobre Certas Despesas das 
Nações Unidas8. 
Contudo, tal capacidade é uma possibilidade e não uma obrigação. Em 
outras palavras, e invertendo o argumento inicial, observa-se que a coordenação entre 
os vários órgãos de uma organização internacional é o ideal. Entretanto, não há 
nenhum impedimento formal a que dois órgãos de uma mesma organização, desde 
que não sejam subordinados um ao outro, tenham eventualmente posições contrárias 
relativas a uma determinada matéria. Neste sentido, basta notar as posições do 
Conselho de Segurança e da Assembléia Geral em matéria relativa a relação entre o 
terrorismo e o direito a autodeterminação 9 . A natureza não vinculante de uma 
recomendaçãoresponde a esta paridade entre os órgãos que compõem uma 
organização. 
Diante de tal contexto, observa-se que o elemento determinante de uma 
recomendação é, verdadeiramente, a prática de um ato inserido no contexto de uma 
organização internacional destinado a terceiros e destituído de força obrigatória e 
vinculante. Os exemplos de atos dotados de tais qualidades são inúmeros e as 
consequências de tal pluralidade também são variadas. Por exemplo, aponta-se tanto 
os atos produzidos pelo Conselho de Segurança no contexto do Capítulo VI da Carta 
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6 O artigo 2º, parágrafo 6º da Carta das Nações Unidas afirma: “A Organização fará com que os Estados 
que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for 
necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais.” O antecedente desse dispositivo foi o 
artigo 17 do Pacto da Sociedade das Nações, o qual afirmava: “Em caso de litígio entre dois Estados, dos 
quais um somente seja membro da Sociedade ou se nenhum deles fizer parte, o Estado ou os Estados 
estranhos à Sociedade serão convidados a se submeterem às obrigações que se impõem aos seus membros 
com o fim de se resolver a pendência, segundo as condições achadas justas pelo Conselho.”
7 Resolução da U.N.G.A. no. 55/235, UNDoc.A/RES/55/235, 30 de janeiro de 2001; Resolução da 
U.N.G.A. no. 64/269, UNDoc.A/RES/64/269, 3 de agosto de 2010; Resolução da U.N.G.A. no. 67/239, 
UNDoc.A/RES/67/239, 11 de fevereiro de 2013. Para fins de ilustração, o orçamento aprovado pela 
U.N.G.A. para operações de manutenção da paz das Nações Unidas para o ano fiscal de 1º de julho de 
2015 a 30 de junho de 2016 é de aproximadamente 8,27 bilhões de dólares americanos, o que corresponde 
a menos da metade de 1% dos gastos militares mundiais. Em 2013, esses gastos foram de 1,747 trilhões de 
dólares americanos. Dados disponíveis em: 
<http://www.un.org/en/peacekeeping/operations/financing.shtml>. Acesso em: 08/10/2015. 
8 C.I.J., Rec.1962, p.164.
9 L. N. C. Brant, “Terrorismo Internacional: A Guerra Preventiva e a Desconstrução do Direito 
Internacional”, Revista Brasileira de Estudos Políticos, Vol.90, 2004, pp.222-224.
195
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
das Nações Unidas10, conforme disposto pela C.I.J. no caso Lockerbie11, quanto 
aqueles elaborados pela Assembleia Geral12.
Especificamente no tocante a preservação da paz internacional, a
Assembléia Geral, assim como o Conselho de Segurança, podem ser acionados por 
qualquer membro da Organização ou pelo próprio Conselho a respeito de uma 
controvérsia ou situação passíveis de ameaçar a manutenção da paz ou a segurança 
internacionais13. Apesar da Assembléia Geral e do Conselho poderem ser provocados 
pelo mesmo objeto, cabe à primeira o papel de representação de uma espécie de 
consciência moral global. Ela goza de natureza associativa e plenária14 e, conforme o 
artigo 9º da Carta, “será constituída por todos os Membros das Nações Unidas”15,
sendo que cada Estado tem direito a um único voto16. Tal natureza permitiu que lhe 
fosse delegada, segundo o artigo 10 da Carta, um poder geral de discussão e de 
recomendação17.
A discussão seria uma fase prévia de caráter procedimental e preparatória. 
Ela antecede a decisão e possui natureza abrangente, já que a Carta delega 
competência à Assembléia Geral para discutir “quaisquer questões ou assuntos que 
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10 Nota-se que o artigo 33, parágrafo 2º da Carta das Nações Unidas afirma: “O Conselho de Segurança 
convidará, quando julgar necessário, as referidas partes a resolver, [por negociação, inquérito, mediação, 
conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro 
meio pacífico à sua escolha], suas controvérsias” (grifo nosso). Vez que cabe ao Conselho de Segurança 
meramente convidar as partes da controvérsia a resolve-la por meios pacíficos, esses convites não podem
ser considerados vinculantes, mas apenas recomendatórios. 
11 C.I.J. Rec. 1998, p.26.
12 Segundo o artigo 13, parágrafo 1º da Carta das Nações Unidas, “[a] Assembléia Geral iniciará estudos e 
fará recomendações, destinados a: (i) promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o 
desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação; e (ii) promover cooperação 
internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos 
direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, 
língua ou religião.” (grifo nosso)
13 O artigo 12, parágrafo 1º reconhece a distinção entre controvérsia e situação. Ainda que ambas as 
noções englobem uma ameaça grave à manutenção da paz e da segurança internacionais, elas não são 
sinônimas. Assim, apesar da Carta ter evitado definir essas noções, a doutrina entende por “controvérsia” 
uma contestação restrita às partes envolvidas. Ao contrário, uma “situação” representa uma noção objetiva 
destacada do comportamento dos Estados envolvidos e suscetível de ser encarada independentemente 
destes (O. Kimminich e M. Zockler, Article 14, pp.323-324. In B. Simma (org.), The Charter of the United 
Nations: A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995).
14 O professor britânico Malcolm N. Shaw, chega a afirmar que a Assembleia é o “órgão parlamentar das 
Nações Unidas” (M. N. Shaw, International Law, 5ª ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2003, 
p.1087).
15 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, art.9º, 
parágrafo 1º. 
16 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, 22 de outubro de 1945, art.18, 
parágrafo 1º.
17 O artigo 10 determina: “A Assembléia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que 
estiverem dentro das finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com as atribuições e funções de 
qualquer dos órgãos nela previstos e, com exceção do estipulado no Artigo 12, poderá fazer 
recomendações aos Membros das Nações Unidas ou ao Conselho de Segurança ou a este e àqueles, 
conjuntamente, com referência a qualquer daquelas questões ou assuntos.” 
196
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
estiverem dentro das finalidades da presente Carta”18. Tal generalidade permite que a 
Assembleia Geral venha a discutir qualquer tema que não esteja confinado no 
domínio reservado dos Estados19, conforme previsto no artigo 2º, parágrafo 7º da 
Carta das Nações Unidas 20 . Essas deliberações são feitas por meio de diversas 
comissões, cada uma delas contando com a representação de todos os membros da 
organização21. A única restrição, neste caso, repousa sobre a necessidade de que a 
matéria em pauta seja colocada na ordem do dia e, para isso, demanda-se unicamente 
uma maioria simples22.
Após a discussão, nos termos do artigo 14 da Carta23 e, conforme lembrado 
pela C.I.J. no caso relativo à Certas Despesas das Nações Unidas, a Assembléia 
Geral pode “recomendar medidas próprias para assegurar a solução pacífica de 
qualquer situação” 24 . Mas qual é a real autoridade de tal recomendação para a 
formação do direito internacional? A resposta tem uma tripla conotação. Afinal, 
ainda que de natureza preponderantemente não vinculante, uma recomendação da 
Assembleia Geral terá inicialmente uma forte autoridade política. Nestes casos, tal 
recomendação goza de um alto potencial de convencimento na condução do 
comportamento dos sujeitos de direito internacional (A) 25 . Por outro lado, uma 
recomendação poderá ser igualmente dotada de um forte valor jurídico e, deste 
modo, ter uma forma quasinormativa. Nestes casos uma recomendação da 
Assembleia Geral terá a função reconhecida de contribuir de forma significativa para 
a formação do direito internacional (B) 26 . Finalmente, as recomendações da 
���������������������������������������������������������������������������������������������������������������
18 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, art.10. 
19 De acordo com Jean Salmon, o domínio reservado dos Estados é o "[...] domínio de atividades em que o 
Estado não é obrigado pelo direito internacional, gozando de uma competência totalmente discricionária e, 
consequentemente, não deve sofrer qualquer interferência de outros Estados ou organizações 
internacionais." (J. Salmon. Dictionnaire de Droit International Public, Bruxelas, AUF, 2001, p.356).
20 O artigo 2º, parágrafo 7º da Carta das Nações Unidas positiva que “[n]enhum dispositivo da presente 
Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição 
de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da 
presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do 
Capitulo VII.”
21 Dentre as comissões criadas, destacam-se: a Comissão de Desarmamento e Segurança Internacional, a 
Comissão de Descolonização, a Comissão Econômica e Financeira, a Comissão Social Humanitária e 
Cultural, a Comissão Administrativa e Orçamentária e a Comissão Jurídica (M. A. Ribeiro, A Organização 
das Nações Unidas, Coimbra, Livraria Almeida, 1998, p.65).
22 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, art.18, 
parágrafo 3º.
23 No artigo 14 lê-se: “A Assembléia Geral, sujeita aos dispositivos do Artigo 12, poderá recomendar 
medidas para a solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja sua origem, que lhe pareça 
prejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre as nações, inclusive em situações que 
resultem da violação dos dispositivos da presente Carta que estabelecem os Propósitos e Princípios das 
Nações Unidas”. 
24 Certas Despesas das Nações Unidas, C.I.J., Rec. 1962, p. 163. 
25 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, pp.273-274. In B. Simma (org.), The Charter of the United 
Nations: A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
26 Caso sobre as Atividades Militares e Paramilitares dentro e contra a Nicarágua, Nicarágua v. Estados 
Unidos, C.I.J. Rec.1986, pp.99-100; A. T. Guzman e T. L. Meyer, “International Soft Law”, Journal of 
�
197
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
Assembleia são, ainda, capazes de criar uma situação jurídica nova que pode ser 
implementada de forma voluntária pelos Estados. Essa hipótese não diz respeito a 
incorporação da recomendação em uma das fontes primárias vinculantes do direito 
internacional,27 mas, na verdade, de atestar a sua execução espontânea (C). 
I. A AUTORIDADE POLÍTICA DE UMA RECOMENDAÇÃO DA 
ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS 
A autoridade das recomendações da Assembleia Geral pode levantar 
diferentes questões que vão muito além do reconhecimento da inexistência de sua 
força normativa obrigatória e vinculante. De fato, seus efeitos políticos no direito 
internacional são diversos e, em forte medida, constringentes. As razões para isso são 
múltiplas, mas decorrem, sobretudo, do fato de que os seus destinatários devem 
examiná-las de boa-fé28. 
A. A autoridade política de uma recomendação reside no fato de que ela obrigaria os 
seus destinatários a se manterem em uma posição defensiva. 
Em primeiro lugar, uma recomendação, em geral, obrigaria os seus 
destinatários a se manterem em uma posição defensiva. Os Estados sabem 
perfeitamente que, apesar de não estarem vinculados normativamente, tal 
recomendação pode interpretar o direito internacional ou mesmo antecipar novas 
regras que serão futuramente formadas. Neste sentido, por prudência e conveniência,
elas devem ser levadas em consideração. Uma recomendação tem, portanto, a 
finalidade de inibir um determinado comportamento contrário a seus fundamentos, já 
que ela impõe uma exigência moral de explicação das razões que conduziriam o 
destinatário a produção de tal ato. 
Esse fenômeno se evidencia no não reconhecimento internacional de regiões 
separatistas cuja pretensão de independência foi rejeitada pela Assembleia Geral. A 
República do Nagorno-Karabakh é um exemplo. Ela consiste numa região de maioria 
armênia, localizada na parte oeste do território do Azerbaijão e que se autoentitula 
�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������
Legal Analysis, Vol.2, No.2, 2010, p.216; K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, pp.268-273. In B. Simma
(org.), The Charter of the United Nations: A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
27 Essas fontes primárias se encontram listadas no artigo 38, parágrafo 1º do Estatuto da Corte 
Internacional de Justiça. São elas: os tratados, o costume internacional e os princípios gerais de direito 
(Estatuto da Corte Internacional de Justiça, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, 22 de outubro de 
1945, art.28, parágrafo 1º).
28 Procedimento de Votação das Questões Relacionadas aos Relatórios e Petições do Território do 
Sudoeste Africano, C.I.J. Rec.1955, Opinião Separada do Juiz Klaestad, p.88; Procedimento de Votação 
das Questões Relacionadas aos Relatórios e Petições do Território do Sudoeste Africano, C.I.J. Rec.1955, 
Opinião Separada do Juiz Sir Lauterpacht, p.119.
198
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
um Estado independente e soberano. A sua pretensão separatista já resultou num 
conflito armado sério no Cáucaso, opondo, de um lado, o governo de Baku e, do 
outro, Nagorno-Karabakh e a Armênia. O conflito durou de 1992 a 1994 e terminou 
com a assinatura de um cessar-fogo29. 
Apoiando os interesses do Azerbaijão, a Assembleia Geral aprovou, em 
2008, a Resolução no. 62/243, na qual se reafirmou a integridade territorial azeri30.
Antes disso, duas outras resoluções mencionaram a situação crítica de Nagorno-
Karabakh e fizeram referência a essa região como pertencente ao Azerbaijão 31 .
Refletindo essa conjuntura, nenhum Estado reconheceu a independência de Nagorno-
Karabakh até o momento, incluindo o seu maior aliado, a Armênia.32
Outro exemplo é a incorporação da Crimeia e da Cidade de Sebostopol ao 
território russo, em 19 de março de 2014, depois que um referendo foi realizado 
nessas duas regiões e cujo resultado foi favóravel a mudança territorial. A
Assembleia Geral, por meio da Resolução no. 68/262,33 condenou tanto a realização 
desse referendo, quanto a subsequente incorporação34. Nessa resolução, atestou-se a
invalidade do plesbicito separatista e afirmou-se o dever dos Estados e outras 
entidades de não reconhecer qualquer mudança nas fronteiras ucranianas35. Diante 
disso, a anexação da Criméia e da Cidade de Sebostopol pela Rússia recebeu pouco 
���������������������������������������������������������������������������������������������������������������
29 S. E. Cornell, “The Nagorno-Karabakh Conflict”, Relatório nº. 46 do Departamento de Estudos da 
Europa Oriental, Universidade de Uppsala, 1999, pp.31-44.
30 Resolução da A.G.N.U. no. 62/243 UNDoc.A/RES/62/243, 25 de abril de 2008. Essa resolução foi 
aprovada com 39 votos favoráveis (Afeganistão, Azerbaijão, Bahrein, Bangladesh, Brunei, Camboja, 
Colômbia, Comores, Djibuti, Gâmbia, Geórgia, Indonésia, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbia, Malásia, Ilhas 
Maldivas, Marrocos, Moldávia, Myanmar, Níger, Nigéria, Omã, Paquistão, Qatar, Arábia Saudita, 
Senegal, Sérvia, Serra Leoa, Somália, Sudão, Turquia, Tuvalu, Uganda, Ucrânia, Emirados Árabes 
Unidos, Uzbequistão e Iêmen), 100abstenções, 7 votos contrários (Angola, Armênia, França, Índia, 
Rússia, Estados Unidos, Vanuatu) e 46 Estados ausentes na votação. Dados disponíveis em: 
<http://www.un.org/press/en/2008/ga10693.doc.htm>. Acesso em: 09/10/2015. 
31 Resolução da U.N.G.A. no. 57/298, UNDoc.A/RES/57/298, 6 de fevereiro de 2003; Resolução da 
U.N.G.A. no. 49/13, UNDoc.A/RES/49/13, 15 de novembro de 1994. O Conselho de Segurança também 
já aprovou resoluções reafirmando a integridade territorial do Azerbaijão: Resolução do C.S.N.U. no. 853 
(1993), UNDoc.S/RES/853, 29 de julho de 1993; Resolução do C.S.N.U. no. 874 (1993), 
UNDoc.S/RES/874, 14 de outubro de 1993; Resolução do C.S.N.U. no. 884 (1993), UNDoc. S/RES/884, 
12 de novembro de 1993.
32 P. Carley, “Nagorno-Karabakh: Searching for a Solution”, Relatório do Instituto da Paz dos Estados 
Unidos, 1998, p.2; F. Ismailzade, “The Nagorno-Karabakh Conflict: Current Trends and Future 
Scenarios”, Artigo de Trabalho no. 11, Istituto Affari Internazionali, 2011, p.2.
33 Resolução da U.N.G.A. no. 68/262, UNDoc.A/RES/68/262, 27 de março de 2014. Essa resolução foi 
aprovada com 100 votos favoráveis, 58 abstenções, 11 votos contrários (Armênia, Bielorrússia, Bolívia, 
Cuba, Nicarágua, Coréia do Norte, Rússia, Sudão, Síria, Venezuela e Zimbábue) e 24 Estados ausentes na 
votação. Dados disponíveis em: <http://www.un.org/press/en/2014/ga11493.doc.htm>. Acesso em:
09/10/2015.
34 Resolução da U.N.G.A. no. 68/262, UNDoc.A/RES/68/262, 27 de março de 2014. 
35 Resolução da U.N.G.A. no. 68/262, UNDoc.A/RES/68/262, 27 de março de 2014. 
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O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
apoio internacional, sendo que apenas Síria, Venezuela, Afeganistão, Cuba, 
Nicarágua e Coréia do Norte a reconheceram36. 
B. Uma recomendação pode consolidar certa legitimidade de contestação pública
Uma recomendação pode, igualmente, servir para consolidar um 
determinado argumento jurídico. Neste sentido, ela gerará certa legitimidade de 
contestação pública que poderá ser exercida por meio de pressão psicológica 
proveniente de outros Estados, da própria organização ou mesmo de particulares. Ela 
gera, assim, uma presunção de legitimidade e autoriza o exercício dos controles 
globais de governança a agirem. Estes são evidentemente políticos, mas podem 
causar um desgaste relevante de imagem, que qualquer Estado pretende 
necessariamente evitar37.
C. Uma recomendação pode apreciar o progresso ou as insuficiências da aplicação de 
certo conjunto normativo.
 
É verdade que as controvérsias que surgem entre dois ou vários Estados 
perturbam suas relações mútuas. É também verdade que os Estados têm a obrigação 
de acertar suas controvérsias sem recorrer à força38. É verdade, ainda, que os Estados 
podem escolher o meio de solução de controvérsias mais adaptado a seus interesses39. 
Enfim, é igualmente verdade que, apesar da diversidade das controvérsias 
internacionais, os modos de solução desses conflitos de interesse podem ser 
normalmente divididos em dois: o modo jurisdicional e o modo diplomático40. A 
questão, então, é saber se a limitação do caráter operatório do sistema de solução de 
controvérsias, dividido unicamente entre estes dois modelos, não pode, por vezes, ser 
contraditório. 
Evidentemente, não se pode negar que quanto mais os Estados são 
próximos, mais seus interesses convergem, mais a solução de suas controvérsias é 
fácil e mais o modo de solução é flexível. Como sublinha Michel Virally, “se as 
relações entre dois Estados são verdadeiramente amigáveis, o recurso à negociação 
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36 M. Seddon, “Crimea Has Voted to Join Russia in a Vote Recognized By Few Besides Russia”, 
BuzzFeed News, 16 de março de 2014; M. Rosenberg, “Breaking With the West, Afghan Leader Supports 
Russia’s Annexation of Crimea”, The New York Times, 23 de março de 2014; “Nicaragua recognizes 
Crimea as part of Russia”, Kyiv Post, 27 de março de 2014; A. Byrka, “Visiting Russia, Fidel Castro's Son 
Scoffs at U.S. Sanctions Over Crimea”, The Moscow Times, 1 de abril de 2014.
37 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, pp.273-274. In B. Simma (org.), The Charter of the United 
Nations: A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
38 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, 22 de outubro de 1945, artigos 2º,
parágrafo 3º, e 33. 
39 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, 22 de outubro de 1945, art.33;
Declaração de Manila sobre a Solução Pacífica de Controvérsias Internacionais, Resolução da U.N.G.A. 
no. 37/10, UNDoc.A/RES/37/10, 15 de novembro de 1982, art.I, parágrafo 3º.
40 P. Dailler e A. Pellet, Droit International Public, 6ª ed., Paris, L.G.D.J., 1999, pp.787-791.
200
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
será espontâneo e suficiente. Neste caso, as obrigações de recorrer aos meios mais 
sofisticados de solução pacífica serão inúteis” 41 . No entanto, ainda que essa 
afirmação seja verdadeira, o contrário não se impõe de maneira tão clara. Na 
realidade, não seria razoável admitir que quanto mais os interesses se divergem, mais 
difícil será a negociação e que, por essa mesma razão, mais provável será o apelo à 
solução jurisdicional, que deverá impor uma obrigação normativa às partes em 
controvérsia42. 
Uma recomendação da Assembleia Geral ocupa, portanto, este terreno 
intermediário entre o caráter claramente obrigatório e definitivo da sentença 
internacional e a regulamentação diplomática, cuja solução é apenas proposta às 
partes. O nível progressivo de autoridade de uma recomendação a meio caminho 
entre a norma vinculante e uma mera proposta política autoriza a reconhecer que ela 
pode vir a atuar como mecanismo de controle e de apreciação do progresso ou das 
insuficiências da aplicação de certo conjunto normativo. Em razão de sua 
flexibilidade, ela pode ser mais adaptável e funcional. 
D. Uma recomendação pode ter um valor permissivo.
Uma recomendação pode ter, igualmente, um proeminente valor permissivo. 
Certamente, uma recomendação da Assembleia Geral não garante um título 
executivo e normativo. Entretanto, ela representa um indicativo do posicionamento 
do direito internacional acerca de uma determinada matéria. Uma recomendação 
pode ser considerada, portanto, uma clarificação do direito internacional. Neste 
sentido, ela determina o terreno da legalidade. Assim, é certo que, na medida em que 
os Estados observam uma recomendação, seu comportamento não poderá ser julgado 
como ilícito e, consequentemente, sua responsabilidade não poderá ser invocada. 
Nesta esfera, uma recomendação da Assembleia Geral se transforma em uma 
proteção à ação dos Estados vis-à-vis do direito internacional.
II. UMA RECOMENDAÇÃO AGIRÁ DE FORMA QUASI NORMATIVA E 
TERÁ A FUNÇÃO DE CONTRIBUIR DE FORMA SIGNIFICATIVA PARA 
A FORMAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL
Ainda que se deva reconhecer a inexistência de força obrigatória das 
recomendações da Assembleia Geral e o relevante alcance de sua autoridade política, 
não se pode negar que tais recomendações gozam de um certo “valor jurídico” não 
negligenciável e já reconhecido pela jurisprudência da C.I.J. No Caso relativo à 
Licitude da Ameaça ou Uso de Armas Nucleares afirmou-se que “as resoluções da 
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41 M. Virally, “Panorama du droit international contemporain: Cours général de droit international public”, 
R.C.A.D.I., vol. 183, 1983, p.238.
42 M. Virally, “Le champ opératoire du réglement judiciaire international”, R.G.D.I.P., 1983, pp.281-314.
201
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
Assembleia Geral, mesmoque elas sejam desprovidas de força obrigatória, podem, 
por vezes, gozar de um valor normativo”43.
Mas o que a Corte quer dizer ao fazer referência à expressão “valor 
normativo”? Na verdade, a principal jurisdição das Nações Unidas 44 está 
reconhecendo a capacidade das recomendações de agirem como instrumento 
processual e auxiliar de formação do direito internacional. Mas de que maneira tal 
fato se dará? Basicamente, as recomendações auxiliam a formação do direito por 
intermédio de outras fontes. Através desse processo, a obrigatoriedade do comando 
identificável na resolução e a abrangência de sua extensão decorrerão de uma norma 
posterior proveniente de uma das fontes principais competente para tal formação. A 
recomendação teria, assim, o papel de espelhar certo consenso e, deste modo, 
viabilizar a construção do direito internacional por outras vias 45. Com isso, elas 
exercem uma influência notável no processo de adaptação do direito internacional às 
necessidades da sociedade internacional46. 
A. O papel das declarações
Uma declaração da Assembleia Geral visa afirmar certos princípios de 
natureza fundamental. Seus efeitos, contudo, são por vezes extraordinários. Neste 
sentido, pode-se observar, por exemplo, a Resolução no. 2749 (XXV), de 17 de 
dezembro de 1970, que declara solenemente os novos princípios que devem reger os 
fundos dos mares e oceanos além dos limites das jurisdições nacionais 47 . Esta 
resolução vai inspirar as negociações que conduzirão a adoção da Convenção de 
Montego Bay, pela Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar 48 ,
convocada por outra resolução, de número 3067 (XXVIII), de 1976, igualmente 
adotada pela Assembleia Geral49.
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43 C.I.J. Rec. 1996, p. 254.
44 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, 22 de outubro de 1945, art.92.
45 E. Jiménez de Aréchaga, International Law in the Past Third of a Century, Collected Courses of Hague 
Academy of Internacional Law, Vol.159, 1978, pp.12 e 31.
46 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, pp.267-268. In B. Simma (org.), The Charter of the United 
Nations: A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
47 Resolução da AGNU no. 2749 (XXV), UNDoc.2749(XXV), 17 de dezembro de 1970. 
48 O preâmbulo da Convenção de Montego Bay atesta: “Desejando desenvolver pela presente Convenção 
os princípios consagrados na Resolução n.º 2749 (XXV), de 17 de Dezembro de 1970, na qual a 
Assembleia Geral das Nações Unidas declarou solenemente, inter alia, que os fundos marinhos e oceânicos 
e o seu subsolo para além dos limites da jurisdição nacional, bem como os respectivos recursos, são 
património comum da humanidade e que a exploração e o aproveitamento dos mesmos fundos serão feitos 
em benefício da humanidade em geral, independentemente da situação geográfica dos Estados”. 
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, Convenção de Montego Bay, Montego Bay, 
Jamaica, 10 de dezembro de 1982, 6ª cláusula preambular.
49 Resolução da AGNU no. 3067 (XXVIII), UNDoc.3067(XXVIII), 16 de novembro de 1973.
202
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
A Resolução no. 2749 (XXV) também teve papel fundamental para a adoção 
da Convenção para a Prevenção da Poluição Marinha por Operações de Imersão de 
Detritos e Outros Produtos50, cujo prêambulo a menciona expressamente51.
Outro exemplo, e talvez o mais expressivo, é certamente aquele decorrente da 
Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948,52 que 
inspirou inúmeras produções normativas acerca do tema e continua, ainda hoje, a 
fazê-lo53.
Inicialmente, observa-se que, embora, em sua gênese, esta declaração tivesse 
uma forma não vinculante54, esta veio a se transformar em norma internacional 
obrigatória. Tal transmutação se deu inicialmente a partir de uma prática constante e 
do reconhecimento presente da opinio juris, o que permite afirmar que a Declaração 
Universal constitui hoje mera codificação de costumes internacionais55. Além disso, 
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50 Convenção para a Prevenção da Poluição Marinha por Operações de Imersão de Detritos e Outros 
Produtos, Londres, 13 de novembro de 1972.
51 O prêambulo afirma: “Recordando a Resolução n.º 2749 (XXV) da Assembleia Geral das Nações 
Unidas sobre os princípios que regem o leito do mar, o fundo dos oceanos e o seu subsolo, além dos 
limites da jurisdição nacional”. Convenção para a Prevenção da Poluição Marinha por Operações de 
Imersão de Detritos e Outros Produtos, Londres, 13 de novembro de 1972, prêambulo.
52 Declaração Universal dos Direitos do Homem, Resolução da AGNU no. 217A(III), UNDoc.A/810, 10 
de dezembro de 1948. Ela foi aprovada com nenhum voto contrário, oito abstenções (União Soviética, 
Ucrânia, Bielorússia, Iugoslávia, Polônia, África do Sul, Tchecoslováquia e Arábia Saudita) e 48 votos 
favoráveis. 
53 M. Shaw, International Law, 5ª ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2003, pp.259-260.
54 A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada na forma de um anexo à Resolução da 
AGNU no. 217A(III) e, portanto, não possui, em si mesma, efeitos vinculantes. A própria Eleanor 
Roosevelt, Presidente da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas durante a elaboração da 
Declaração, assim afirmou quando essa resolução foi adotada: “Ao dar a nossa aprovação à Declaração 
hoje, é de primordial importância que tenhamos claramente em mente o caráter básico desse documento. 
Ele não é um tratado; ele não é um acordo internacional. Não é e não pretende ser uma declaração de 
Direito ou de obrigações legais. É uma declaração de princípios de direitos humanos e liberdades básicas, 
a ser timbrada com a aprovação da Assembleia Geral por uma votação formal dos seus membros, e servir 
como um padrão comum a ser atingido por todos os povos de todas as nações.” (H. Hannum, “The status 
of the Universal Declaration of Human Rights in national and international law”, Georgia Journal of 
International and Comparative Law, Vol.25, 1995/1996, p.318)
55 Caso do Corpo Diplomático e Consular dos Estados Unidos em Teerã, Estados Unidos da América v. 
Irã, C.I.J. Rec. 1980, p.42; Opinião Consultiva sobre as Consequências Legais aos Estados da Presença 
Contínua da África do Sul na Namíbia (Sudoeste Africano) não obstante a Resolução do Conselho de 
Segurança no. 276 (1970), C.I.J. Rec. 1971, Opinião Separada do Vice-presidente Ammoun, p.76; Pedido 
de Revisão da Sentença No. 333 do Tribunal Administrativo das Nações Unidas, C.I.J. Rec. 1987, Opinião 
Dissidente do Juiz Evensen, p.173; Aplicabilidade do Artigo VI, seção 22, da Convenção sobre Privilégios 
e Imunidades das Nações Unidas, C.I.J. Rec. 1989, Opinião Dissidente do Juiz Evensen, p.211; H. 
Hannum, “The status of the Universal Declaration of Human Rights in national and international law”,
Georgia Journal of International and Comparative Law, Vol.25, 1995/1996, p.319; J. von Bernstorff, “The 
Changing Fortunes of the Universal Declaration of Human Rights: Genesis and Symbolic Dimensions of 
the Turn to Rights in International Law”, E.J.I.L., Vol. 19, No. 5, 2008, p.913. 
203
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
há aqueles que defendem a força obrigatória da Declaração por se tratar de 
instrumento que interpreta e complementa a Carta das Nações das Unidas56. 
Mas a Declaração Universal irá, ainda, inspirar a formação de outras 
declarações, que, consequentemente, irão contribuir para a formação do direito 
internacional por via convencional57. Este é o caso, por exemplo, da Declaração das 
Nações Unidas, de 1963, sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial, que encontra fundamentona Declaração Universal dos Direitos do Homem58
e que será posteriormente seguida pela Convenção das Nações Unidas sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, adotada em 21 de 
dezembro de 196559.
A Declaração Universal terá, assim, uma abrangência de ação muito superior 
aos limites declaratórios de direito contidos em seu universo normativo originário.
Ela guiará a constituição dos dois pactos sobre direitos humanos das Nações Unidas: 
um sobre os direitos civis e políticos60 e outro referente aos direitos econômicos, 
sociais e culturais 61 , ambos adotados em 16 de dezembro de 1966. Ela será, 
igualmente, o denominador comum de base para quatro convenções regionais sobre 
os direitos do homem - a Americana, 62 a Européia63, a Africana64 e a Árabe65.
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56 Caso sobre o Sudoeste Africano, Etiópia v. África do Sul, C.I.J. Rec. 1966, Opinião Dissidente do Juiz 
Tanaka, p.293.
57 M. Shaw, International Law, 5ª ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2003, pp.259-260.
58 O seu preâmbulo menciona expressamente a Declaração Universal dos Direitos do Homem: 
“Considerando que a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama que todos os seres humanos 
nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que todos devem gozar da totalidade dos direitos e 
liberdades nela estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie, especialmente no tocante a raça, cor ou 
origem nacional”. Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial, Resolução da A.G.N.U. no. 18/1904, UNDoc.A/RES/18/1904, 20 de novembro de 
1963, preâmbulo.
59 Assim, como a Declaraçao de 1963, essa Convenção também faz referência à Declaração Universal de 
1948 em seu preâmbulo: “Considerando que a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama que 
todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que todos devem gozar da 
totalidade dos direitos e liberdades nela estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie, especialmente 
no tocante a raça, cor ou origem nacional”. Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Racial, adotada pela Resolução da A.G.N.U. no. 2106 (XX), Nova York, 21 de 
dezembro de 1965, 2ª cláusula preambular. 
60 Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Nova York, 16 de dezembro de 1966, Decreto 
no. 592, 6 de julho de 1992. O preâmbulo desse tratado afirma: “Reconhecendo que, em conformidade 
com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano livre, no gozo das liberdades 
civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado e menos que se criem às condições 
que permitam a cada um gozar de seus direitos civis e políticos, assim como de seus direitos econômicos, 
sociais e culturais” (3ª cláusula preambular). 
61 Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, Nova York, 16 de dezembro de 
1966, Decreto no. 591, 6 de julho de 1992. O preâmbulo desse tratado afirma: “Reconhecendo que, em 
conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano livre, liberto do 
temor e da miséria, não pode ser realizado a menos que se criem condições que permitam a cada um gozar 
de seus direitos econômicos, sociais e culturais, assim como de seus direitos civis e políticos” (3ª cláusula 
preambular).
62 O preâmbulo da Convenção Americana sobre Direitos Humanos faz menção expressa à Declaração 
Americana e à Declaração Universal: “Os Estados americanos signatários da presente Convenção: [...] 
�
204
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
Finalmente, pela sua grandeza e importância, a Declaração Universal irá inspirar a 
constituição de tratados especializados em áreas temáticas da proteção dos direitos 
humanos. Neste sentido, observa-se a Convenção das Nações Unidas de 1979 sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres66, a Convenção 
de 1989 sobre os Direitos da Criança,67 a Convenção de 1973 sobre o Crime de 
Apartheid68, dentre outras.69
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Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, 
na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do 
Homem e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito 
mundial como regional” (Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa 
Rica), San José, 22 November 1969, preâmbulo). Destaca-se que a Declaração Americana dos Direitos e 
Deveres do Homem, mencionada no excerto acima, não faz referência à Declaração Universal das Nações 
Unidas, pois a Declaração Americana foi adotada sete meses antes da Declaração Universal.
63 Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, Conselho 
Europeu, Roma, 4 de novembro de 1950. O preâmbulo desse tratado afirma: “Considerando a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de 
dezembro de 1948” (1ª cláusula preambular).
64 Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Carta de Banjul), O.A.U. Doc. CAB/LEG/67/3 rev. 
5, 27 de junho de 1981. O seu preâmbulo afirma: “Reafirmando o compromisso que [os Estados africanos 
membros da Organização da União Africana], solenemente fizerem por meio do artigo 2º da [Carta da 
Organização da União Africana] para erradicar todas as formas de colonialismo em África, para coordenar 
e intensificar a sua cooperação e esforços para alcançar uma vida melhor para os povos da África e para 
promover a cooperação internacional, levando em consideração a Carta das Nações Unidas e a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos” (4ª cláusula preambular).
65 Carta Árabe dos Direitos Humanos, Liga dos Estados Árabes, 22 de maio de 2004. O seu preâmbulo 
afirma: “Rejeitando todas as formas de racismo e Sionismo, que constituem uma violação dos direitos 
humanos e uma ameaça à paz e à segurança internacionais, reconhecendo a estreita ligação que existe 
entre os direitos humanos e a paz e a segurança internacionais, reafirmando os princípios da Carta das 
Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e as disposições do Pacto Internacional 
sobre os Direitos Civis e Políticos e do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
e, levando em consideração, a Declaração do Cairo sobre os Direitos Humanos no Islã” (5ª cláusula 
preambular).
66 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, adotada pela 
Resolução da A.G.N.U. no. 34/180, Nova York, 18 de dezembro de 1979, 2ª cláusula preambular.
67 Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Resolução da A.G.N.U. no. 44/25, Nova York, 20 
de novembro de 1989, Decreto no. 99.710, 21 de novembro de 1990, 3ª, 4ª e 8ª cláusulas preambulares.
68 Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, adotada pela Resolução 
da A.G.N.U. no. 3068 (XXVIII), Nova York, 30 de novembro de 1973, 2ª cláusula preambular.
69 Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos 
Membros das suas Famílias, adotada pela Resolução da A.G.N.U. no. 45/158, Nova York, 18 de dezembro 
de 1990, 1ª cláusula preambular; Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os 
Desaparecimentos Forçados, Nova York, 20 de dezembro de 2006, 2ª cláusula preambular; Convenção 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Nova York, 30 de março de 2007, Decreto no. 6.949, 25 de 
agosto de 2009, 2ª cláusula preambular; Convenção contra a Discriminação na Educação, U.N.E.S.C.O.,
14 de dezembro de 1960, 2ª cláusulapreambular; Convenção sobre o Consentimento para Casamento, 
Idade Mínima para Casamento e Registo dos Casamentos, adotada pela Resolução da A.G.N.U. no. 1763A 
(XVII), Nova York, 7 de novembro de 1962, 2ª e 3ª cláusulas preambulares.
205
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
B. As recomendações podem confirmar o direito costumeiro, traduzir uma opinio 
juris e, assim, contribuir para a formação do direito internacional por via 
consuetudinária
Dependendo de seu conteúdo e das condições de sua adoção, as 
recomendações da Assembleia Geral também podem fornecer elementos de prova 
importantes para que se venha a estabelecer ou confirmar a existência de um direito 
costumeiro internacional70. Neste sentido, elas podem identificar uma opinio juris e
também ilustrar a sua evolução progressiva ou mesmo traduzir um determinado 
consenso. Neste contexto, as recomendações da Assembleia Geral irão contribuir, de 
fato, para a formação da norma consuetudinária71.
A decisão de mérito no caso das Atividades Militares e Paramilitares dentro 
e contra a Nicarágua, datada de 1986, constitui uma ilustração notável72. Nesse 
julgamento, a Corte afirmou que “[o] efeito do consentimento ao texto [das 
resoluções da Assembleia Geral] não pode ser meramente entendido como uma 
‘reiteração ou elucidação’ do compromisso convencional assumido na Carta [das 
Nações Unidas]. Pelo contrário, pode ser entendido como uma aceitação da validade 
da regra ou conjunto de regras declaradas pela resolução”.73
A opinião consultiva da C.I.J. relativa a Licitude da Ameaça ou Emprego de 
Armas Nucleares também é um precedente importante nesse aspecto 74 . Nessa 
decisão, atestou-se que as resoluções da Assembléia Geral, apesar de não serem 
vinculantes, podem ter um valor normativo. Em determinadas circunstâncias, elas
fornecem evidências importantes a fim de estabelecer a existência de uma regra ou o 
surgimento de uma opinio juris. Para determinar se esse é o caso de uma certa 
resolução da Assembleia Geral é necessário analisar o seu conteúdo e as condições 
da sua adopção. A C.I.J. ainda menciona que uma série de resoluções pode revelar a 
evolução gradual da opinio juris necessária para o estabelecimento de uma nova 
regra.75
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70 F. A. Kallás, Artigo 10, p.237. In L. N. C. Brant, Comentário à Carta das Nações Unidas, Belo 
Horizonte, CEDIN, 2008; K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, p.271. In B. Simma (org.), The Charter of 
the United Nations: A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
71 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, p.268-269. In B. Simma (org.), The Charter of the United Nations: 
A Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995; Resolução da A.G.N.U. no. 3232 (XXIX), 
UNDoc.3232(XXIX), 12 de novembro de 1974.
72 C.I.J. Rec. 1986, p.99-100. A seguinte passagem dessa decisão é notável para compreender o valor de 
opinio juris das resoluções da Assembleia Geral: “O efeito do consentimento ao texto [das resoluções da 
Assembleia Geral] não pode ser entendido como meramente uma ‘reiteração ou elucidação’ do 
compromisso convencional assumido na Carta [das Nações Unidas]. Pelo contrário, pode ser entendido 
como uma aceitação da validade da regra ou conjunto de regras declaradas pela resolução”.
73 C.I.J. Rec. 1986, pp.99-100.
74 C.I.J. Rec. 1996, p. 254.
75 C.I.J. Rec. 1996, pp.254-255.
206
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
C. As recomendações podem servir como modelo de interpretação da carta 
constitutiva da organização internacional
Pode-se igualmente verificar que todo Estado membro das Nações Unidas
deve examinar uma recomendação da Assembléia Geral de boa fé, visto que esta 
representa a opinião da maioria dos seus membros. Neste sentido, as recomendações 
da Assembléia Geral podem ser vistas como um elemento hermenêutico não 
vinculante destinado a interpretar a carta constitutiva das Nações Unidas, conforme 
aquilo que foi aceito no momento da adesão ou da ratificação da mesma76. Diante de 
tal circunstância, dificilmente os Estados poderão se opor a tal leitura e uma 
recomendação poderá, assim, inspirar o desenvolvimento do direito internacional por 
outros modos vinculantes77. 
A C.I.J. é a detentora prioritária de tal função interpretativa. Afinal, é 
incontestável, como observa o Juiz José Francisco Rezek, que “a Corte é o intérprete 
definitivo da Carta das Nações Unidas. É à Corte que cabe proceder à determinação 
do sentido de cada uma de suas prescrições e do conjunto do texto” 78 . Essa 
competência é decorrente da sua função enquanto órgão judiciário principal da 
Organização das Nações Unidas79.
Contudo, tal papel também é reservado às declarações. As declarações 
enunciam os princípios da Carta que são apresentados como uma evidência jurídica. 
Mas, mais do que isto, elas os complementam. Elas os densificam e, deste modo, 
apresentam uma interpretação própria da Carta. Esse é o caso da Declaração de 1970 
sobre os Princípios de Direito Internacional relativos às Relações de Amizade e 
Cooperação entre os Estados, anexada à Resolução no. 2625 (XXV). Essa 
declaração especifica o escopo dos setes princípios mais basilares do Sistema das 
Nações Unidas, sendo eles a proibição do uso ou ameça da força, a solução pacífica 
de controvérsias, não intervenção em assuntos internos, cooperação entre os Estados, 
igualdade e autodeterminação dos povos, soberania e a boa fé.
Desta relevante força política das recomendações sucederá uma vocação à 
constituição da norma. Neste sentido, pode-se ter, como exemplo, a Resolução da 
Assembleia Geral no. 1514 (XV), que tem como anexo a Declaração sobre a 
Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais80. Por este instrumento 
não obrigatório, a Assembléia Geral impôs uma leitura anti colonial à Carta das 
Nações Unidas, que não estava prevista mesmo nos seus trabalhos preparatórios. Ela 
estabelece uma realidade de fato sobre a qual não poderia mais haver retorno. Tal 
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76 Certas Despesas das Nações Unidas (Artigo 17, parágrafo 2º da Carta), C.I.J. Rec. 1962, p.168.
77 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, p.271. In B. Simma (org.), The Charter of the United Nations: A 
Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
78 Caso sobre as Questões de Interpretação e Aplicação da Convenção de 1971 de Montreal resultantes do 
Incidente Aéreo de Lockerbie, Objeções Preliminares, Líbia v. Reino Unido, C.I.J. Rec.1998, Opinião 
Separada do Juiz Rezek, p.61.
79 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, 22 de outubro de 1945, art.92.
80 Resolução da A.G.N.U. no. 1514 (XV), UNDocA/RES/1514(IV), 14 de dezembro de 1960.
207
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
recomendação aparece, assim, como a base normativa na qual irá se assentar todo o
processo de descolonização81.
Inúmeros são os exemplos de declarações interpretativas no direito 
internacional82, mas, novamente, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 
1948, terá um papel de destaque na representação da autoridade das recomendações 
na formação do direito internacional. 
Com efeito, na medida em que os dispositivos da Carta concernentes aos 
direitos do homem não foram definidos ou catalogados 83 , é natural que a sua 
interpretação viesse a ser feita a partir dos dispositivos previstos na Declaração. De 
fato, a necessária harmonia que deve existir entre a Carta e a Declaração Universal 
dos Direitos do Homem veio a ser prevista no caso do Corpo Diplomático e 
Consular dos Estados Unidos em Teerã84. Esta complementariedade terá, portanto, 
���������������������������������������������������������������������������������������������������������������81 Depois da adoção da Declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais, em 
dezembro de 1960, diversos territórios coloniais afroasiáticos se tornaram Estados independentes e 
soberanos. Destaca-se Burundi (1 de julho de 1962), Ruanda (1 de julho de 1962), Argélia (3 de julho de 
1962), Uganda (3 de outubro de 1962), Singapura (31 de agosto de 1963), Quênia (12 de dezembro de 
1963), Malawi (6 de julho de 1964), Zâmbia (24 de outubro de 1964), Gâmbia (18 de fevereiro de 1965), 
Ilhas Maldivas (26 de julho de 1965), Botsuana (30 de setembro de 1966), Lesoto (4 de outubro de 1966), 
Ilhas Maurício (12 de março de 1968), Suazilândia (6 September 1968), Guiné Equatorial (12 de outubro 
de 1968), Bahrein (15 de agosto de 1971), Qatar (3 de setembro de 1971), Emirados Árabes Unidos (2 de 
dezembro de 1971), Moçambique (25 de junho de 1975), Cabo Verde (5 de julho de 1975), Comores (6 de 
julho de 1975), São Tomé and Príncipe (12 de julho de 1975), Angola (11 de novembro de 1975), Ilhas 
Seichelles (29 de junho de 1976), Djibouti (27 de junho de 1977), Zimbábue (18 de abril de 1980), Brunei 
(1 de janeiro de 1984) e Namíbia (21 de março de 1990).
82 Pode-se citar: Declaração sobre a Soberania Permanente sobre os Recursos Naturais, Resolução da 
A.G.N.U. no. 1803 (XVII), UNDocA/RES/1803(XVII), 14 de dezembro de 1962; Declaração sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, Resolução da A.G.N.U. no. 18/1904, 
UNDocA/RES/18/1904, 20 de novembro 1963; Declaração sobre os Princípios de Direito Internacional 
relativos às Relações de Amizade e Cooperação entre os Estados, em conformidade com a Carta das 
Nações Unidas, Resolução da A.G.N.U. no. 2625 (XXV), UNDocA/RES/2625 (XXV), 24 de outubro de 
1970; Declaração sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional, Resolução da 
A.G.N.U. no. 3201(S-VI), UNDocA/RES/S-6/3201, 1º de maio de 1974; Declaração sobre a 
Inadmissibilidade de Intervenção e Interferência nos Assuntos Internos dos Estados, Resolução da 
A.G.N.U. no. 36/103, UNDocA/RES/36/103, 9 de dezembro de 1981; Declaração sobre o Direito ao 
Desenvolvimento, Resolução da A.G.N.U. no. 41/128, UNDocA/RES/41/128, 4 de dezembro de 1986; 
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Resolução da A.G.N.U. no. 61/295, 
UNDocA/RES/61/295, 13 de dezembro de 2007. Nota-se que essa lista não exaustiva permite perceber a 
diversidade de áreas em que os Estados membros das Nações Unidas demonstram preocupação. 
83 O artigo 1º, parágrafo 3º da Carta das Nações Unidas lista como propósito desta organização “[...] 
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem 
distinção de raça, sexo, língua ou religião”. Contudo, nenhuma especificação sobre os deveres decorrentes 
desse propósito pode ser encontrada na Carta. 
84 Nesse caso afirmou-se: “Privar injustamente seres humanos de sua liberdade e submete-los a restrição 
física em condições de sofrimento é, em si, manifestamente incompatível com os princípios da Carta das 
Nações Unidas, bem como com os princípios fundamentais enunciados na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos” (C.I.J. Rec. 1980, p.42). 
208
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
uma consequência extraordinária, pois autorizará que a Declaração Universal seja 
vista como um instrumento capaz de elaborar uma interpretação autêntica da Carta85.
Os efeitos de tal conclusão não são irrisórios. Como observou-se
anteriormente, uma declaração não vinculante pode tornar-se vinculante por meio de 
sua transformação em norma proveniente de uma fonte principal. Esta norma pode 
mesmo ter seus efeitos normativos estendidos de maneira erga omnes, na medida em 
que sua elaboração se der por via consuetudinária. Entretanto, o que se nota aqui é 
uma outra realidade. Na medida em que interpreta de forma autêntica a Carta das 
Nações Unidas, uma declaração passa a ser a extensão da própria Carta. Nestas 
circunstâncias, ela poderá ser dotada de uma hierarquia decorrente da aplicação do 
artigo 103 da Carta86. Isto significa que as obrigações decorrentes da Declaração 
Universal, por exemplo, devem ser respeitadas mesmo pelos Estados que não 
ratificaram os pactos e convenções de direitos humanos. A declaração será imposta a 
eles como expressão do direito das Nações Unidas. Os deveres impostos pela 
Declaração Universal são, inclusive, superiores a qualquer tratado cujo conteúdo lhes 
seja contrário. 
D. O tratado constitutivo de certas organizações especializadas pode prever a 
natureza vinculante de determinada recomendação
Uma recomendação de um determinado órgão integrante de uma organização 
internacinal pode tornar-se obrigatória pelo fato de que o tratado constitutivo da 
referida organização determina a sua natureza vinculante87. Obviamente, tal natureza 
vinculante decorre do estatuto em questão e não da recomendação propriamente dita. 
Contudo, independente de tal fato, a norma é criada por intermédio de uma 
recomendação. 
Tal obrigação pode ter uma vocação externa e ser destinada aos Estados 
membros da referida organização. Esta realidade pode ser observada, por exemplo, 
no fato de que as recomendações decorrentes da conferência da Organização 
Internacional do Trabalho (O.I.T.) devem, no prazo de um ano, ser encaminhadas a 
cada Estado membro, para que possam ser transformadas em lei ou para que estes 
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85 F. Gomez e K. de Feyter, International Human Rights Law in a Global Context, Bilbao, Universidade de 
Deusto, 2009, pp.223-225.
86 O artigo 103 afirma: “No caso de conflito entre as obrigações dos Membros das Nações Unidas, em 
virtude da presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão 
as obrigações assumidas em virtude da presente Carta.”
87 Esse entendimento não se aplica às resoluções do Conselho de Segurança aprovadas à luz do Capítulo 
VII da Carta das Nações Unidas, vez que, segundo os seus artigos 38 e 42, tais resoluções não assumem a
forma de recomendações, mas de decisões vinculantes. O mesmo pode ser dito das Regulações, Diretivas e 
Decisões do Conselho da Europa e da Comissão das Comunidades Europeias, que também não podem ser 
consideradas recomendações, nos termos do artigo 189 do Tratado Instituindo a Comunidade Econômica 
Europeia (Roma, 25 de março de 1957).
209
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
venham a tomar as medidas correspondentes88. Neste sentido, os Estados devem, em 
seguida, informar o Diretor Geral do Escritório Internacional do Trabalho sobre as 
providências tomadas89. Este não é, todavia, o único exemplo. O tratado constitutivo 
da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(U.N.E.S.C.O.) retomou tal modelo90 e disposições similares podem ser igualmente 
encontradas nos tratados constitutivos da Organização das Nações Unidas para 
Alimentação e Agricultura (F.A.O.) 91 e da Organização Mundial da Saúde
(O.M.S.).92 
Contudo, a previsão estatutária da natureza vinculante de uma 
recomendação pode igualmente ter uma dimensão interna e ser dirigida a outros 
órgãos da mesma organização 93 . Nestes casos, o tratado constitutivo de uma 
determinada organização internacional especializada decidiu prever a subordinação 
hierárquica de um órgão sobre outro94. Novamente, a obrigatoriedade aqui não reside 
na natureza da recomendação propriamente dita, mas no condicionamento previsto 
no estatuto constitutivo da organização internacional95. Este é o caso, por exemplo, 
de certas recomendações de ordem interna da Assembleia Geral no que se refere à 
questões técnicas e de natureza organizacional como a admissão, a suspensão e a 
expulsão de membros96, as emendasno texto da Carta97, a eleição de membros para 
órgãos e comissões98 ou questões de natureza orçamentária99.
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88 Constituição da Organização Internacional do Trabalho, Conferência de Paz de Paris, 1º de abril de 
1919, art. 19, parágrafo 6º, alínea “b”. 
89 Constituição da Organização Internacional do Trabalho, Conferência de Paz de Paris, 1º de abril de 
1919, art. 19, parágrafo 6º, alínea “c”.
90 O artigo VIII da Constituição da U.N.E.S.C.O. afirma que “[n]os momentos e da forma a ser 
determinada pela Conferência Geral, cada Estado Membro apresentará à [U.N.E.S.C.O.] relatórios sobre a 
legislação, regulamentos e estatísticas referentes às suas instituições e atividades de caráter educacional, 
científico e cultural, bem como sobre ações que tenham sido determinadas de acordo com recomendações 
e convenções [aprovadas pela Conferência Geral]”.
91 O artigo IV, parágrafo 3º da Constituição da F.A.O determina que “[p]ela maioria de dois terços dos 
votos dados, a Conferência [da F.A.O.] poderá fazer recomendações a Países Membros e Membros 
Associados sobre questões relacionadas com alimentação e agricultura a fim de que sejam consideradas 
com vistas à implementação pela ação nacional.” 
92 O artigo 62 da Constituição da O.M.S. determina que “[c]ada Estado membro apresentará anualmente 
um relatório sobre as medidas tomadas em relação às recomendações que lhe tenham sido feitas pela 
[O.M.S.] e em relação às convenções, acordos e regulamentos.”
93 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, p.268. In B. Simma (org.), The Charter of the United Nations: A 
Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995.
94 F. A. Kallás, Artigo 10, pp.236-237. In L. N. C. Brant, Comentário à Carta das Nações Unidas, Belo 
Horizonte, CEDIN, 2008.
95 K. Hailbronner e E. Klein, Article 10, p.268. In B. Simma (org.), The Charter of the United Nations: A 
Commentary, Oxford, Oxford University Press, 1995; 
96 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, arts.4º, 5º 
e 6º.
97 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, art.108.
98 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, art.18, 
parágrafo 2º.
99 Carta das Nações Unidas, 26 de junho de 1945, Decreto no. 19.841, de 22 de outubro de 1945, art.17.
210
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
A força vinculante de uma recomendação, através de um instrumento 
internacional, também fica evidente nas opiniões consultivas da C.I.J. Obviamente, 
um parecer consultivo dessa corte tem uma finalidade simplesmente não 
vinculante100. Entretanto, às vezes, este pode ser recebido como obrigatório, em 
virtude de cláusulas especialmente concebidas para esse efeito, as quais figuram em 
outros instrumentos distintos da Carta das Nações Unidas e do Estatuto da Corte 
Internacional de Justiça101. Na realidade, diferentes disposições convencionais podem 
atribuir ao parecer demandado à C.I.J., por exemplo, o valor de uma “decisão” de 
natureza vinculante. Este foi o caso da opinião consultiva de sua antecessora, a Corte 
Permanente de Justiça Internacional (C.P.J.I.), sobre os Decretos de Nacionalidade 
Emitidos na Túnisia e no Marrocos (1923)102.
Porém, a obrigatoriedade de uma opinião consultiva pode igualmente estar 
prevista em um determinado estatuto de uma organização internacional com 
competência para demandá-la.103 Sobre o pano de fundo dessa constatação, coloca-
se, pois, a questão de saber em que medida estas cláusulas contidas em convenções 
gerais ou nos estatutos de determinadas instituições são compatíveis com uma 
competência consultiva que, em si mesma, pode gerar apenas uma resposta 
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100 Consequências Legais da Construção de um Muro no Território Palestino Ocupado, C.I.J. Rec. 2004, 
pp.127-128; Opinião Consultiva sobre a Interpretação dos Tratados de Paz com a Bulgária, Hungria e 
Romênia, C.I.J. Rec. 1950, p.71; Sahara Ocidental, C.I.J. Rec. 1975, p.24.
101 R. Ago, “Les avis consultatifs ‘obligatoires’ de la Cour Internationale de Justice: Problemes d’hier et 
d’aujourd’hui’, p.11.; In M. Virally, Le droit international au service de la paix, de la justice, et du 
développement, Mélanges, Paris, Pédone, 1991.
102 Os fatos relevantes ao caso remontam a emissão, pela França, de certos decretos estabelecendo critérios 
para a outorga de nacionalidade, a vigorar na Túnisia e no Marrocos. O Reino Unido contestou a 
aplicabilidade desses decretos aos nacionais britânicos residentes nesses dois Estados, demandando que a 
questão fosse submetida a arbitragem. A França se recusou a fazê-lo, alegando, inter alia, que a emissão de 
leis sobre nacionalidade estavam confinadas à jurisdição doméstica dos Estados. A disputa foi levada até o 
Conselho da Liga das Nações, que convenceu as partes a submeter suas diferenças à Corte Permanente de 
Justiça Internacional. Foi delegado a essa a competência para emitir um parecer consultivo apenas sobre o 
aspecto preliminar que estava impossibilitando a resolução do caso via arbitragem: o desacordo se regras 
de nacionalidade estão ou não dentro da jurisdição doméstica dos Estados. Ficou pactuado entre França e 
Reino Unido, que se a Corte Permanente concluísse que nacionalidade não fosse um aspecto da jurisdição 
interna, os dois Estados aceitariam levar a sua disputa para arbitragem. A Corte, no fim, rejeitou a tese da 
França, entendendo que seus decretos sobre nacionalidade não se encontravam em sua jurisdição interna. 
Com isso, essa opinião consultiva ativou uma obrigação internacional oponível à França e ao Reino Unido, 
no tocante ao dever dessas duas nações submeter suas diferenças para um tribunal arbitral (Decretos de 
Nacionalidade Emitidos na Túnisia e no Marrocos, C.P.J.I. Rec.1923, pp.7-8 e 31-32).
103 Destaca-se, por exemplo, o artigo 37, parágrafo 2º da Constituição da Organização Internacional do 
Trabalho (O.I.T.), onde se lê: “O Conselho de Administração [da O.I.T.] poderá, não obstante o disposto 
no parágrafo 1º do presente artigo, formular e submeter à aprovação da Conferência, regras destinadas a 
instituir um tribunal para resolver com presteza qualquer questão ou dificuldade relativa à interpretação de 
uma convenção que a ele seja levada pelo Conselho de Administração, ou, segundo o prescrito na referida 
convenção. Qualquer julgamento ou opinião consultiva da Corte Internacional de Justiça aplicável será 
vinculante a qualquer tribunal estabelecido em virtude do presente parágrafo. Qualquer sentença 
pronunciada pelo referido tribunal será comunicada aos Estados-Membros [da O.I.T.], cujas observações, 
a ela relativas, serão transmitidas à Conferência” (grifo nosso).
211
O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
desprovida de efeito obrigatório 104. Trata-se, no caso concreto, por exemplo, de 
observar quais as consequências do artigo XII do Estatuto do Tribunal 
Administrativo da Organização Internacional do Trabalho (T.A.O.I.T.), que além de 
tornar possível uma demanda de um parecer consultivo à C.I.J., estabelece que tal 
parecer terá força obrigatória.105
Não se trata neste caso de um recurso em apelação106. O parecer consultivo é 
um pronunciamento sobre uma questão jurídica encaminhada à Corte por um dos 
órgãos previstos no artigo 96 da Carta107. Ele tem o efeito de colocar em evidência 
um critério jurídico, sem que haja obrigação vinculante para o órgão que o solicitou
ou para o Estado cuja conduta é objeto do parecer108. Neste caso, quando a Corte 
pronuncia um parecer consultivo, ela não age como uma segunda instância dotada da 
competência do efeito devolutivopróprio ao processo de apelação109, ou do efeito 
evocativo das novas demandas, ou dos novos meios110.
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104 G. Bacot, “Réflexions sur les clauses qui rendent obligatoires les avis consultatifs de la C.P.J.I. et de la 
C.I.J”, R.G.D.I.P., 1980, pp.1087-1089.
105 O Artigo XII afirma o seguinte: “(1). Nos casos em que o Conselho de Administração da Organização 
Internacional do Trabalho ou o Conselho de Administração do Fundo de Pensões contestar uma decisão do 
Tribunal confirmando a sua jurisdição, ou considerar que uma decisão do Tribunal se encontra em 
desacordo com uma regra procedimental fundamental, a questão da validade da decisão do Tribunal será 
submetida pelo Conselho de Administração à Corte Internacional de Justiça, para que esta emita uma 
opinião consultiva sobre a questão. (2). A opinião emitida pela Corte será vinculante.” Esse dispositivo já 
foi analisado pela C.I.J. em sua Opinião Consultiva sobre os Julgamentos do Tribunal Administrativo da 
O.I.T. sobre queixas apresentadas contra a U.N.E.S.C.O. (C.I.J, Rec.1956, p.84). Ademais, o artigo 11, 
parágrafo 3º do Estatuto do Tribunal Administrativo das Nações Unidas também estabelecia que os 
pareceres da C.I.J. sobre seus julgamentos seriam vinculantes. Contudo, em 1996, a Assembleia Geral das 
Nações Unidas, por meio da Resolução no. 50/54, excluiu o artigo 11 do Estatuto desse tribunal, alegando 
que a possibilidade de solicitar um parecer consultivo à C.I.J. não se revelou um elemento construtivo ou 
útil na adjudicação de disputas internas das Nações Unidas (Resolução da U.N.G.A. no. 50/54, 
UNDoc.A/RES/50/54, 29 de janeiro de1996). Além disso, o Tribunal Administrativo das Nações Unidas 
foi extinto em 2009, por uma reforma feita pela Assembleia Geral no sistema judicial interno das Nações 
Unidas. Ele foi substituído por dois órgãos: o Tribunal de Disputas das Nações Unidas (United Nations 
Dispute Tribunal) e o Tribunal de Apelações das Nações Unidas (United Nations Appeals Tribunal).
106 Opinião Consultiva sobre os Julgamentos do Tribunal Administrativo da O.I.T. sobre queixas 
apresentadas contra a U.N.E.S.C.O., C.I.J, Rec.1956, p.98-99; Opinião Consultiva sobre o Pedido de 
Revisão da Sentença nº 158 do Tribunal Administrativo das Nações Unidas, C.I.J., Rec. 1973, p.188; T. O. 
Elias, “The I.C.J., in the relation to the U.N. administrative tribunal”, pp. 253-312. In A. Pellet (org.), Les 
voies de recours ouverts aux fonctionnaires internationaux, R.G.D.I.P., 1981.
107 O Artigo 96 da Carta das Nações Unidas afirma: “A Assembléia Geral ou o Conselho de Segurança 
poderá solicitar parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça, sobre qualquer questão de ordem 
jurídica. Outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas, que forem em qualquer época
devidamente autorizados pela Assembléia Geral, poderão também solicitar pareceres consultivos da Corte 
sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades.”
108 J. Moussé, Le contentieux des organisations internationales et de l’Union européenne, Bruxelas, 
Bruylant, 1997, p. 670.
109 No direito processual brasileiro, o efeito devolutivo do recurso faz com que toda a matéria analisada 
pela instância inferior seja reexaminada na instância superior, para que a sentença recorrida seja anulada, 
reformada ou mantida.
110 Opinião Consultiva sobre os Julgamentos do Tribunal Administrativo da O.I.T. sobre queixas 
apresentadas contra a U.N.E.S.C.O., C.I.J, Rec.1956, Opinião Separada do Juiz Winiarski, pp.106-107; 
�
212
X ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL
Segundo a própria C.I.J., “[...] a sua competência não é rejulgar o caso, mas 
apenas dar a sua opinião referente as questões submetidas à ela sobre os argumentos 
contrários ao Julgamento. Assim, a Corte não tem o direito de substituir o acórdão do 
Tribunal sobre os méritos do caso pelo seu próprio parecer. O seu papel é determinar 
se as circunstâncias do caso, no tocante aos aspectos do mérito da disputa ou às 
regras de procedimento, demostram que qualquer objeção feita ao julgamento [...] é
procedente”111. Em outras palavras, os tribunais admitiram, simplesmente, que uma 
opinião de um órgão jurisdicional é obrigatória para eles. A obrigatoriedade do 
parecer consultivo, portanto, resulta não dele próprio, mas de uma disposição contida 
num instrumento autônomo que tem força de lei para os funcionários da referida 
organização internacional112. Nada, nem na Carta das Nações Unidas, nem em seu 
Estatuto, interdita o T.A.O.I.T. a considerar os pareceres da C.I.J. como 
obrigatórios113. 
III. UMA RECOMENDAÇÃO PODE CRIAR UMA SITUAÇÃO JURÍDICA 
NOVA IMPLEMENTADA DE FORMA VOLUNTÁRIA PELOS ESTADOS
Uma outra questão diz respeito a execução espontânea de uma 
recomendação. Não se trata aqui de vê-la transformada em norma vinculante por 
força da atuação das fontes principais, mas sim de constatar sua implementação pelo 
desejo voluntário e facultativo de seus destinatários. 
De fato, diante da inexistência de regras jurídicas concernentes a 
determinado tema, nada impede que uma recomendação possa vir a criar uma 
situação jurídica nova. Assim, desde que um Estado não venha a violar o direito 
adquirido de outro, ele poderá voluntariamente decidir aplicar e implementar uma 
recomendação considerando-a como manifestação do direito válido. De fato, deve-se 
partir do princípio de que as recomendações são adotadas naturalmente com o 
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Opinião Consultiva sobre os Julgamentos do Tribunal Administrativo da O.I.T. sobre queixas apresentadas 
contra a U.N.E.S.C.O., C.I.J, Rec.1956, Opinião Separada do Juiz Córdova, p.157.
111 Opinião Consultiva sobre o Pedido de Revisão da Sentença nº 158 do Tribunal Administrativo das 
Nações Unidas, C.I.J., Rec. 1973, pp.187-188. Apesar desse caso lidar com uma decisão do Tribunal 
Administrativo das Nações Unidas, o entendimento adotado na opinião pode ser perfeitamente aplicado ao 
T.A.O.I.T.
112 Opinião Consultiva sobre os Julgamentos do Tribunal Administrativo da O.I.T. sobre queixas 
apresentadas contra a U.N.E.S.C.O., C.I.J, Rec.1956, pp.84-85; Opinião Consultiva sobre o Pedido de 
Revisão da Sentença nº 158 do Tribunal Administrativo das Nações Unidas, C.I.J., Rec. 1973, p.182.
113 Opinião Consultiva sobre o Pedido de Revisão da Sentença nº 158 do Tribunal Administrativo das 
Nações Unidas, C.I.J., Rec. 1973, p.182. Nesse mesmo caso, a C.I.J. também concluiu que não há nenhum 
impedimento legal ao fato do Tribunal Administrativo das Nações Unidas considerar os seus pareceres 
consultivos vinculantes. Contudo, como exposto na nota de rodapé no. 105, a possibilidade de requerer 
esses pareceres consultivos foi extinta em 1996 e o próprio Tribunal foi extinto em 2009. Contudo, em 
1996, a Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução no. 50/54, excluiu o artigo 11 do 
Estatuto desse tribunal, alegando que a possibilidade de solicitar um parecer consultivo à C.I.J. não se 
revelou um elemento construtivo ou útil na adjudicação de disputas internas das Nações Unidas 
(Resolução da U.N.G.A. no. 50/54, UNDoc.A/RES/50/54, 29 de janeiro de1996).
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O Papel das Recomendações da Assembleia Geral das Nações Unidas na Formação do Direito 
Internacional
objetivo de serem executadas. Como demonstrado por Hersch Lauterpacht, na sua 
opinião individual no caso do Procedimento de Votação das Questões Relacionadas 
aos Relatórios e Petições do Território do Sudoeste Africano, “as recomendações, 
em razão de sua própria natureza, não criam obrigações jurídicas que impõem a 
execução. Contudo, em certas circunstâncias apropriadas, elas constituem uma 
autorização legal que será dada aos membros da comunidade

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