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MARINHO Ataques indiscriminados em conflitos armados não internacionais, uma análise jurídica

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ATAQUES INDISCRIMINADOS EM CONFLITOS ARMADOS 
NÃO INTERNACIONAIS: UMA ANÁLISE JURÍDICA** 
 
 
 Frank Dumas de Abreu Marinho
*
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este artigo objetivou identificar as regras do Direito Internacional Humanitário (DIH) 
que proíbem os ataques indiscriminados, em conflitos armados não internacionais. A 
partir do campo de aplicação do DIH, pode se conceituar o conflito armado não 
internacional (CANI). Foi necessário identificar os fatores indicativos de CANI, 
ensejando a discussão sobre os ataques indiscriminados. Fez-se, então, a análise das 
regras do DIH que proíbem esses ataques, concluindo que o art. 3º comum às 
Convenções e o II Protocolo Adicional às Convenções, ambos aplicáveis aos conflitos 
internos, não dispõem sobre essa vedação, mas que o direito costumeiro proíbe, diante 
dessa lacuna, os ataques indiscriminados. 
 
Palavras-Chave: Direito Internacional Humanitário. Conflitos armados não 
internacionais. Ataques indiscriminados. Direito costumeiro. 
 
 
RÉSUMÉ 
 
Cet article a eu l’objectif d’identifier les règles du Droit International Humanitaire 
(DIH) qui interdisent les attaques sans discrimination, dans les conflits armés non 
internationaux. Dès le champ d'application du DIH, on a pu conceptualiser le conflit 
armé non international (CANI). Il était nécessaire d'identifier les éléments matériels du 
CANI et son environnement dans la guerre, permettant la discussion des attaques sans 
discrimination. Puis on a fait une analyse des règles du DIH qui interdisent ces 
attaques-ci, concluant que l'article 3 commun aux Conventions et le Protocole II 
additionnel aux Conventions, tous les deux applicables aux conflits internes, ne 
prévoient pas cet interdiction, mais que le droit coutumier interdit, en face de cet écart, 
les attaques sans discrimination. 
 
Mots-Clés: Droit International Humanitaire. Conflits armés non internationaux. 
Attaques sans discrimination. Droit coutumier. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
*
 Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho; Ex-Instrutor de DIH da Escola de Comando e Estado-
Maior da Aeronáutica; e Professor visitante do Curso de Mestrado da Universidade da Força Aérea. 
2 
 
 
Na segunda década do século XXI, observa-se no mundo a ocorrência de diversos 
conflitos armados, com destaque para os conflitos de índole não internacional ou 
conflitos internos denotando uma tendência dos enfrentamentos bélicos modernos, 
enredados em guerras assimétricas que possuem ambiente operacional geralmente 
urbano, sem a existência de um campo de batalha clássico, onde as partes contendoras 
entrechocavam-se. 
Não foi outra a abordagem do Expert Meeting – Explosive Weapons in Populated 
Areas: Humanitarian, Legal, Technical and Military Aspects (EXPERT..., 2015) – , 
promovido pelo Comitê Internacional da Crua Vermelha (CICV) em 2015, para debater 
os desafios e as oportunidades potenciais na escolha dos meios e métodos de guerra, 
com vista a minimizar os danos colaterais, quando um legítimo alvo é atacado em área 
povoada. 
Sob o olhar atento da mídia internacional, ataques dirigidos contra concentrações 
urbanas são revelados quase diariamente, principalmente no Oriente Médio. 
Independentemente do fato motivador ou deflagrador (casus belli), Síria, Iraque e Iêmen 
são países afundados em guerras, que expõem aspectos das hostilidades, provocadores 
de perplexidade na opinião pública internacional: as baixas excessivas de civis nas áreas 
conflagradas. 
Notadamente, ocorridas em regiões densamente povoadas, essas perdas de vidas 
humanas decorrem, supostamente, de ataques proibidos, que a lei internacional 
denominou como indiscriminados. 
Enquanto este trabalho é desenvolvido, a mídia internacional divulga a realização 
de um bombardeio contra um hospital dos Médicos sem fronteiras, ocorrido no dia 3 de 
outubro de 2015, em Kunduz, no norte do Afeganistão, acarretando a morte de pelo 
menos 19 pessoas (ONU..., 2015). 
Diante de fenômenos dessa natureza, com o qual a comunidade internacional 
defronta-se, restou uma inquietação que levou a um problema teórico-jurídico: quais são 
as regras do Direito Internacional Humanitário que proíbem os ataques indiscriminados, 
nos conflitos armados não internacionais? 
Para responder a essa indagação este artigo cuidou, na seção 2, do conceito de 
Direito Internacional Humanitário (DIH) e de outros aspectos importantes para 
edificação dos pilares jurídicos que foram articulados, em especial o campo de 
aplicação do direito. 
3 
 
Na seção seguinte, estudou-se o conflito armado não internacional, focalizando, 
entre outros vieses, o procedimento de classificação dos conflitos armados não 
internacionais (CANI) e o seu ambiente operacional. 
Sendo possível identificar um CANI, passou-se ao exame dos ataques 
indiscriminados. Inicialmente, pela abordagem dos princípios reitores do DIH, para 
entender-se o fundamento das normas proibitivas. 
Por fim, fez a análise das fontes do DIH para identificar aquelas que vedam a 
prática de ataques indiscriminados em contendas internas. 
 
2 DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO 
 
Diz Peytrignet (1996) que dissertar sobre o direito humanitário conduz a 
inevitável referência às guerras, à violência armada e aos enfrentamentos diversos, 
fenômenos que marcam a história da humanidade e representam uma expressão da 
natureza do ser humano, nas relações entre grupos sociais organizados, povos e nações. 
Entretanto, afirma que a história universal gerou inúmeros esforços e tentativas para 
criar limitações ao uso da força e para proteger o ser humano, reduzindo os sofrimentos 
advindos da guerra, bem como evitando danos e perdas humanas e materiais inúteis. 
Nesse contexto, o DIH, também chamado de Direito Internacional dos Conflitos 
Armados (DICA)
1
, surge, nas palavras de Swinarski (1997), como um conjunto de 
normas internacionais, de caráter convencional ou costumeiro, dedicado por razões 
humanitárias, durante os conflitos armados de índole internacional ou não internacional, 
a limitar o direito dos beligerantes de escolher livremente meios e métodos empregados 
na guerra e a proteger as pessoas e os bens afetados, ou que possam ser afetados pelo 
conflito. 
Essa concepção expressa estruturas importantes do regramento dos conflitos 
armados: as fontes de direito, o âmbito de aplicação, a finalidade, os direitos dos 
contendores e as proteções das pessoas envolvidas. 
 
 
1
 Pictet (1986 apud Mello, 1997, p. 143) afirma que a denominação de Direito Internacional Humanitário 
foi adotada pela maioria da doutrina, mas reconhece a Organização das Nações Unidas prefere usar a de 
direito dos conflitos armados. 
4 
 
2.1 Fontes de convencionais de DIH 
 
O DIH deriva das convenções firmadas pelos Estados Partes e dos usos e 
costumes da guerra. Em síntese, pode-se dizer que o direito convencional divide-se em 
direito de Genebra, direito de Haia e direito de Nova York. 
O direito de Genebra consagra as regras protetoras das vítimas da guerra. O 
direito de Haia, as relativas aos meios e métodos de guerra (à própria condução da 
guerra). Já o direito de Nova York aparece, em decorrência da evolução da codificação 
do DIH, com algumas iniciativas das Nações Unidas em matéria de direitos humanos, 
aplicáveis em conflitos armados, e com a adoção de convenções relacionadas à 
limitação ou à proibição de certas armas convencionais (PEYTRIGNET, 1996). 
O direito de Genebra, formado primariamente pelostratados celebrados em 1949, 
denominados Convenções de Genebra (I, II, III e IV), tem como escopo a melhoria da 
sorte dos feridos e enfermos dos exércitos em campanha; a melhoria da sorte dos 
feridos, enfermos e náufragos das forças armadas no mar; o tratamento dos prisioneiros 
de guerra; e a proteção dos civis em tempo de guerra. Acrescenta-se, ainda, o 
desenvolvimento dessa matéria trazido pelos dois Protocolos Adicionais de 1977 às 
Convenções. O primeiro ocupa-se da proteção das vítimas nos conflitos armados 
internacionais e o segundo, nos não internacionais (MELLO, 1997). 
O direito de Haia compreende as convenções de 1907
2
. O direito de Nova York 
resta consolidado pela Convenção de 1980
3
 sobre a proibição ou a limitação do 
emprego de certas armas convencionais que podem ser consideradas excessivamente 
lesivas ou geradoras de efeitos indiscriminados. Vinculados a este tratado, vários 
protocolos foram anexados, regendo o uso de determinados armamentos. O Protocolo I, 
por exemplo, proíbe a utilização de armas cujos fragmentos não sejam detectados por 
 
2
 Sobre o tema Mello (1997) entende que o advento dos protocolos de 1977 fez desaparecer a distinção 
entre o direito de Genebra e o de Haia, pois o primeiro protocolo regulamentou a guerrilha e os meios e 
métodos de combate que eram versados pelo direito de Haia. Nesse sentido, também argumenta 
Peytrignet (1996), ao asseverar que a quase totalidade das disposições das convenções de Haia 
incorporaram-se ao direito de Genebra, mediante adaptação e modernização, e encontram-se no I 
Protocolo Adicional às Convenções. 
3
 Cabe lembrar que Peytrignet (1996) destaca que outras iniciativas das Nações Unidas contribuíram para 
a formação do direito de Nova York. Nessa linha, Bierrenbach (2011, p. 95) informa que “[...] com o final 
da guerra fria, o CSNU passou incluir em sua agenda temas relativos ao DIH. Aprovou resoluções sobre a 
proteção de civis em conflitos armados, de crianças em conflitos armados, e sobre mulheres, paz e 
segurança”. Swinarski (1997) dá destaque à Resolução 2444 (XXIII), intitulada Respeito aos Direitos 
Humanos em Período de Conflito Armado, pois marcou o interesse das Nações Unidas sobre o assunto. 
5 
 
radiografia. Tais anexações conferem a essa convenção o status de umbrela agreement 
(MELLO, 1997). 
 
2.2 Fontes costumeiras de DIH 
 
O costume internacional é uma prova de prática geral aceita como direito, nos 
termos do art. 38, alínea b do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (COUR 
INTERNATIONALE DE JUSTICE). A leitura feita por Silva e Accioly (2002) desse 
dispositivo legal indica que o direito costumeiro apresenta-se como uma fonte jurídica. 
Da mesma forma entende Bugnion (2007), que completa dizendo que tal fonte 
presta-se à criação de normas regentes das relações dos sujeitos na ordem internacional, 
principalmente, das relações entre os Estados. 
Nessa linha de raciocínio, os usos e os costumes de guerra surgem como fonte do 
DIH, uma vez que possuem eficácia jurídica própria, consoante a lição de Peytrignet 
(1996) que consigna a substância consuetudinária do direito humanitário, válida, de 
acordo com a Corte Internacional de Justiça, até para os Estados que não signatários de 
determinadas convenções. 
Logo, se o DIH funciona como uma regulação da conduta de guerra e um 
regramento de proteção às vítimas de guerra, nas palavras de Swinarski (1997). 
Depreende-se que o direito internacional consuetudinário rege essas condições 
independentemente de formalidade convencional. 
A denominada cláusula Martens, ínsita na Convenção de Haia de 1907, indica, 
também, a normatividade jurídica das regras consuetudinárias ou costumeiras, ao 
preconizar que, na ausência de regulação das práticas relacionadas aos meandros dos 
conflitos armados, as populações e os beligerantes permanecem sob a garantia e o 
regime dos princípios dos Direito das Gentes preconizados pelos usos estabelecidos 
entre as nações civilizadas, pelas leis da humanidade e pelas exigências da consciência 
pública. Significa dizer, segundo Bierrenbach (2011, p. 89), que “[...] nem tudo o que 
não era proibido era permitido. Em casos de lacunas legais, deveria prevalecer o 
princípio da humanidade
4”. 
 
4
 Na introdução do seu manual sobre condução das hostilidades, o CIVC (2001) propugna que os tratados, 
que regem a condução das hostilidades, e o direito consuetudinário internacional, que obriga a todos os 
Estados, estão fundados em dois princípios relacionados entre si: o de necessidade militar e o de 
humanidade, que, juntos, significam que são apenas permitidas ações necessárias para derrotar o inimigo 
e que estão proibidas às que causam sofrimentos ou perdas supérfluas. 
6 
 
O sentido da cláusula Martens foi reproduzido, mais recentemente, nas 
Convenções de Genebra de 1949 (MELLO, 1997), nos seus protocolos adicionais e na 
convenção sobre certas armas convencionais de 1980 (PEYTRIGNET (1996), 
consagrando a força jurídica que é inerente às normas costumeiras, nos seguintes 
termos: 
Nos casos não previstos pelo presente Protocolo ou por outros acordos 
internacionais, os civis e os combatentes ficarão sob a proteção e a autoridade 
dos princípios de direito internacional, tal como resulta do costume 
estabelecido, dos princípios humanitários e das exigências da consciência 
pública. (CICV, 1998). 
Nesse contexto, Mello reforça a ideia fazendo um alerta (1997, p. 147): 
[...] este dispositivo hoje é de um certo modo redundante, vez a prática 
internacional considera as normas aí consagradas como costumeiras, ou 
ainda, de jus cogens, significando que elas existem e continuarão a existir 
independente de norma convencional”. 
No julgamento perpetrado, no Tribunal Penal para ex-Iugoslávia, em face de 
Stanislav Galić, o direito internacional consuetudinário serviu para preencher as 
lacunas
5
 ensejadas pelos tratados internacionais de DIH (UNITED NATIONS, 2006)
6
. 
Indubitavelmente, fica evidenciada a eficácia jurídica dos costumes nessa matéria. 
Dado o exposto, o CICV, em razão de mandato conferido pela XXVI Conferência 
Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, empreendeu estudo para 
realizar o levantamento das práticas de guerra, com o intuito de identificar a composição 
do denominado Direito Internacional Humanitário Costumeiro
7
 (DIHC). 
Vale dizer que se buscou pormenorizar os usos e os costumes de guerra, que 
cumprem a função de reger a condução das hostilidades e de proteger as vítimas dos 
conflitos. Entende Kellenberger (2006) que o citado trabalho é uma fotografia tão 
rigorosa quanto possível do DIHC, haja vista as circunstâncias: de regular juridicamente 
as partes em conflitos armados, mesmo aquelas que abstiveram de celebrar certas 
convenções; de responder às necessidades de proteção, relacionadas aos conflitos 
 
5
 Sobre as lacunas do direito convencional, Bugnion (2007, p. 8) explica que “En ce qui concerne le droit 
des conflits armés, on constate cependant qu’il existe souvent un abîme entre les besoins de protection 
qu’engendrent certains conflits et les dispositions conventionnelles qui visent à protéger les victimes de 
ces mêmes conflits. C’est dans ce sens-là seulement que nous parlons de lacunes en droit des conflits 
armés” 
6
 “This is because in most cases, treaty provisions will only provide for the prohibition of a certain 
conduct, not for its criminalisation, or the treaty provision itself will not sufficiently define the elements 
of the prohibition they criminalise andcustomary international law must be looked at for the definition of 
those elements” (UNITED NATIONS, 2006, P. 38). 
7
 Une étude du droit international humanitaire coutumier peut aussi être utile pour réduire les incertitudes 
et les ambiguïtés potentielles inhérentes à la nature même du droit international coutumier 
(HENCKAERTS; DOSWALD-BECK, 2006) 
7 
 
armados não internacionais que foram minimamente regulamentados; e, por fim, de 
contribuir para a interpretação dos tratados. 
Já foi dito que costume internacional é a prática aceita como direito. O trabalho, 
acima mencionado, feito por Henckaerts e Doswald-beck (2006) foi concebido com o 
pressuposto de que a existência do DIHC exige dois elementos: a prática
8
 dos Estados e 
a opinio juris, ou seja, a convicção de que essa prática (proibida ou autorizada) decorre 
de uma regra jurídica. 
 
2.3 Âmbito de aplicação do DIH 
 
O DIH tem sua eficácia jurídica acionada quando, se somente se, houver 
deflagração de um conflito armado, seja de índole internacional, seja de caráter não 
internacional, conforme depreende-se das Convenções de Genebra e de seus protocolos 
adicionais (CICV, 1992). 
Em síntese, segundo os comentários, feitos pelo Comité international de la Croix-
Rouge (CICR), ao artigo 2º comum às Convenções de Genebra de 1949, um conflito 
armado internacional (CAI) decorre de qualquer controvérsia entre dois Estados que 
leve à intervenção das forças armadas, mesmo que uma das Partes negue a existência do 
estado de guerra, não importando a duração do conflito ou quanta mortandade ocorra 
(CICR, 1952). 
Outra abordagem conceitual, mais recente, preconiza que um CAI existe sempre 
que houver recurso à força armada entre Estados
9
, nos termos da decisão do Tribunal 
Penal Internacional para a Ex-Iugoslávia (TPII), no caso Tadic, conforme mencionado 
pelo CICV (2008) que destaca que essa definição vem sendo adotada por outros 
organismos internacionais. 
 
8
 Segundo a metodologia empreendida pelo estudo, as práticas dos Estados foram observadas nos atos 
verbais (manuais militares, legislação nacional, jurisprudência nacional, doutrina militar, manifestações 
diplomáticas, assessoramentos jurídicos oficiais etc.) e nos atos materiais (comportamento no campo de 
batalha, emprego de certas armas e o tratamento concedido às categorias de pessoas envolvidas no 
conflito) (HENCKAERTS; DOSWALD-BECK, 2006). 
9
 Há que se recordar que no Protocolo I Adicional às Convenções de Genebra estão incluídos, na 
categoria de CAI, os conflitos armados em que os povos lutam contra a dominação colonial, a ocupação 
estrangeira e os regimes raciais, no exercício do direito dos povos à autodeterminação (CICV, 1998). 
8 
 
Já um CANI
10
, nos termos conclusivos do CICV (2008, p. 6, grifo do autor), resta 
assim definido: 
Conflitos armados não internacionais são confrontos armados 
prolongados que ocorrem entre forças armadas governamentais e forças de 
um ou mais grupos armados, ou entre esses grupos, que surjam no território 
de um Estado [parte das Convenções de Genebra]. Os confrontos armados 
devem atingir um patamar mínimo de intensidade e as partes envolvidas no 
conflito devem apresentar um mínimo de organização. 
Dessa feita, o âmbito de aplicação do DIH será somente durante CAI ou CANI. 
 
3. CONFLITO ARMADO NÃO INTERNACIONAL 
 
A acepção dada a este conflito, consoante o art. 3º comum às Convenções de 
Genebra e o seu Protocolo II adicional (GPII), traz algumas questões jurídicas 
interessantes, que serão discutidas na seção 5. 
Nesta oportunidade, serão estudados os elementos materiais que caracterizam o 
CANI, propiciando a classificação adequada do conflito perante o DIH. 
 
3.1 Primazia do fato 
 
Um aspecto relevante que carece de discussão refere-se à classificação de um 
conflito armado, pois da sua revelação depende a aplicação de determinado sistema de 
proteção específico do DIH. 
A classificação de um estado de beligerância, segundo Swinarski (1997), na 
comunidade internacional, pode ser implementada de três modos distintos: pelas Partes 
em conflito; pelos órgãos da comunidade internacional (Organização das Nações 
Unidas, por exemplo); e pelo CICV. Contudo, afirma que esses modelos não são 
consistentes pelas razões as seguir. 
No tocante ao primeiro modo, evidenciou-se, no conflito do Atlântico Sul, que as 
Partes (Argentina e Reino Unido) não conseguiram classificá-lo oficialmente. Um dos 
motivos para tal indecisão residia nas relações dos contendores, individualmente, com 
os Estados Unidos, no âmbito do sistema de pactos e de alianças internacionais e, por 
conseguinte, nas obrigações de assistência correlatas. 
 
10
 As referências jurídicas sobre CANI encontram-se no 2º artigo comum à Convenções de Genebra e no 
1º artigo do Protocolo II Adicional às Convenções de Genebra. 
9 
 
Já o entendimento sobre a classificação encarregada aos órgãos da comunidade 
internacional, também, convergiria aos problemas análogos àqueles concernentes aos 
pactos e às alianças internacionais, redundando em paralisia do processo. 
E por fim, a neutralidade inerente ao CICV torna-o incompatível com essa 
atividade, haja vista o caráter eminentemente político da qualificação de um conflito 
armado para comunidade internacional. 
Logo, conclui o autor, que, ante o viés político subjacente aos três procedimentos, 
prepondera o estado de fato
11
 para determinar o âmbito de aplicabilidade do DIH (CAI 
ou CANI). 
Quanto ao exame do estado de fato, há precedente no TPII como lecionou 
Koutroulis (2014), em aula ministrada no Centre d'Etude de Droit Militaire et de Droit 
de la Guerre, quando analisou a situação na Líbia (de 15 fevereiro a 10 março de 2011) 
e na Síria (de 18 março de 2011 a 27 de maio de 2012), à luz dos fatores indicativos
12
 
estabelecidos pela jurisprudência daquele tribunal, expostos a seguir
13
. 
Primeiro, as partes em conflito devem ter um mínimo de organização. Essa 
característica compreende: a existência de um quartel general; a existência de uma 
estrutura hierárquica; a transmissão de ordens militares; a existência de teatro de 
operações definidos; a capacidade de adquirir, transportar e distribuir as armas; a 
resistência aos ataques inimigos; e a realização de ofensivas bem-sucedidas. 
Por fim, o nível mínimo de intensidade das hostilidades caracteriza-se pela 
escalada das ofensivas armadas; pela gravidade dos ataques; pela propagação de 
confrontos sobre um território, num dado período; pelo reforço dos efetivos das forças 
opostas; e pelo fato de o conflito ter sido objeto de uma análise ou resolução de 
 
11
 “[...] é oportuno partir-se de um estado de fato para determinar esse âmbito, porque segundo os atuais 
procedimentos de classificação nos quais deveriam ser levados em conta, em primeiro lugar, os 
elementos jurídicos, levam-se em consideração sobretudo elementos políticos, tornando-os 
inoperantes. E se chegarmos à conclusão de que são os fatos que constituem a situação de conflito 
armado internacional, seja qual for a classificação dada, por razões políticas, a este fato, e se 
postularmos que o conjunto do direito internacional humanitário em vigor é aplicável nesse caso[...] ” 
(SWNARSKI, 1998, p. 34-35, grifo nosso). 
12
 Neste artigo, usa-se o termo elementos materiais como homologo a fatores indicativos. 
13
 Na aula em comento, não foram apresentados critérios para a qualificação da duração prolongada de 
um conflito, mas infere-se da decisãodo TPII que este caráter deve ser identificado pelas circunstâncias 
do fato, conforme se segue: “(...) Les combats entre les diverses entités au sein de l'ex-Yougoslavie ont 
commencé en 1991, se sont poursuivis durant l'été 1992 quand les crimes présumés auraient été commis 
et continuent à ce jour. En dépit de divers accords provisoires de cessez-lefeu, aucune conclusion générale 
de la paix n'a mis un terme aux opérations militaires dans la région. Ces hostilités excèdent les critères 
d'intensité applicables aux conflits armés tant internes qu'internationaux. On a observé un conflit 
prolongé, sur une grande échelle, entre les forces armées de différents Etats et entre des forces 
gouvernementales et des groupes de rebelles organisés” (UNITED NATIONS, 1995, grifo nosso). 
10 
 
organismos internacionais, Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) ou Conselho 
de Segurança das Nações Unidas (CSNU). 
 
3.2 Distúrbios e tensões internos 
 
As hostilidades de um CANI atingem um nível mínimo de intensidade (patamar 
mínimo). Algumas situações interiores aos Estados possuem, em certa medida, um grau 
de instabilidade, mas não demonstram um índice de violência suficiente para 
caracterizar um conflito armado. Tais circunstâncias são conhecidas como distúrbios 
interiores e tensões internas. 
Swinasrki (1997) argumenta que uma situação de distúrbio interior (ou interno) 
ocorre quando num Estado existe um conflito que apresente certa gravidade ou duração 
e que implique atos de violência, porém, sem caracterizar uma contenda armada. As 
manifestações relevantes desses fenômenos podem apresentar-se na forma de rebeliões; 
lutas entre grupos mais ou menos organizados; ou confrontos entre esses grupos e as 
autoridades constituídas. 
Nesses casos, comenta que se observa o recurso a numerosas forças policiais, 
inclusive, às forças armadas, para o restabelecimento da ordem, redundando num grande 
número de vítimas. 
No tocante às tensões internas, ressalta ainda que estão num nível inferior de 
violência em relação aos distúrbios interiores. 
Tal entendimento é compartilhado por Vité (2009), que vê as tensões internas 
como circunstâncias de menos violência, tais quais: prisões em massa, elevado número 
de detidos políticos, prática de tortura, desaparecimento forçado e perda das garantias 
fundamentais
14
. 
A importância de identificar os fatores indicativos de cada situação, para, então, 
defini-la adequadamente, deve-se à necessidade de respeitar o regime jurídico de 
aplicação ao caso concreto
15
. Logo, não se deve confundir distúrbios e tensões internos 
com CANI. 
 
 
14
 Swinarski (1998, p. 63) adverte que “(...) a situação de tensões internas pode apresentar todas as 
características ao mesmo tempo; mas é suficiente que apresente apenas uma delas para que possa ser 
classificada com tal”. 
15
 No GPII, prescreve-se que não se aplica o protocolo nos casos de tensão e distúrbios internos (CICV, 
1998). 
11 
 
3.3 Aspectos operacionais de CANI 
 
Foram estudadas as características de fato que definem uma situação como um 
conflito de índole não internacional ou afastam-na dessa concepção, à luz dos elementos 
aceitos pelas leis e pelos tribunais internacionais. 
Entretanto, a abordagem deve se estender além da classificação ou da qualificação 
do conflito. Conhecer as algumas nuanças do campo operacional desse tipo de conflito 
significa ter uma compreensão concreta desse ambiente, onde se dão as hostilidades, 
ajudando o entendimento do fenômeno, em especial, aqueles relacionados às violações 
das Convenções de Genebra
16
. 
Para tal fim, aproximou-se o conceito de CANI ao da guerra irregular e 
assimétrica, sem perscrutar o tema em sua totalidade, mas, o suficiente para radiografar 
minimamente o ambiente operacional de um conflito interno. 
Os conflitos internos, por vezes, ocorrem em condições de guerra assimétrica
17
, 
haja vista o confronto de grupos armados e forças regulares, detentoras de capacidades 
esmagadoramente superiores. A significativa diferença entre os poderes militares em 
contraste leva a parte mais fraca a valer-se de táticas típicas da guerra irregular
18
, isto é, 
ações de guerrilha. 
A guerra de guerrilha, como aponta Visacro (2009), desenvolve-se por forças 
preponderantemente locais que agem de forma ostensiva e coberta e com o apoio da 
população. 
Depreende-se dessa visão de guerrilha que os seus combatentes estão imbricados 
com a população civil e com ela confundem-se
19
. Nessa esteira, Bernard (2011, p. 6) 
 
16
 Cada conflito tem um ambiente operacional e uma conduta nas hostilidades específicos, contudo é de 
bom alvitre trazer a impressão de Napoleoni (2015, p. 121) sobre os conflitos armados atuais, na Síria e 
no Iraque: “Em nenhum desses conflitos existem trincheiras, campos de batalha e nem sequer a 
observância ou o respeito a regras internacionais que, até certo ponto, estabeleciam códigos de conduta e 
limites ao comportamento de seus combatentes. A Convenção de Genebra foi atirada na lata de lixo”. 
17
 “Conflito armado que contrapõe dois poderes militares que guardam entre si marcantes diferenças de 
capacidades e possibilidades. Trata-se de enfrentamento entre um determinado partido e outro com 
esmagadora superioridade de poder militar sobre o primeiro. Neste caso, normalmente o partido mais 
fraco adota majoritariamente técnicas, táticas e procedimentos típicos da guerra irregular” (BRASIL, 
2007, p. 125, grifo nosso). 
18
 “Conflito armado executado por forças não regulares ou por forças regulares empregadas fora dos 
padrões normais da guerra regular, contra um governo estabelecido ou um poder de ocupação, com o 
emprego de ações típicas da guerra de guerrilhas” (BRASIL, 2007, p. 126, grifo nosso). 
19
 No GPI, art. 44, parágrafo 3º, prescrevem-se as regras de distinção dos combatentes da guerrilha em 
ralação aos civis, conforme os comentários ao protocolo (EBERLIN et al, 1986). 
12 
 
lembra que a assimetria das forças conduz os grupos armados
20
 a seguirem a estratégia 
maoísta, segundo a qual a guerrilha deve evoluir entre a população civil (“comme un 
poisson dans l’eau”), o que redunda na indistinção dos civis e na sua exposição à 
violência de contra-ataques ou represálias governamentais. 
Assim, dado que os grupos armados misturam-se com a população, Bernard 
(2011) observa um dilema submetido às forças regulares: atacar os insurgentes sem 
causar perdas maciças na população ou cometer crimes de guerra despertando 
hostilidade na população civil. 
Contudo, aponta que, diante dessa situação, o uso pelas forças armadas de táticas 
brutais contra a guerrilha, herdadas das guerras coloniais, busca neutralizar o apoio dado 
pela população local ao “vider le bocal pour tuer le poisson”. 
 Enredada nessa violência, conforme menciona o International Committee Of The 
Red Cross (ICRC), a população civil não poderia ter outro destino senão ser o alvo 
primário dos confrontos, no seio dos conflitos armados não internacionais, conforme 
divulgado pelo relatório de 2010 (ICRC, 2010). 
 
4 ATAQUES INDISCRIMINADOS 
 
A população civil, notadamente, no curso da história dos conflitos armados, sofre 
todo o tipo de violação aos seus direitos. 
À luz do que foi exposto na seção 3.3, o ambiente das contendas internas é o local 
onde ações de “vider le bocal pour tuer le Poisson” são perpetradas. Isso sugere, entre 
outras possibilidades, que o verdadeiro alvo militar não está distinguido em relação à 
população civil, ensejando ataques contra alvos indeterminadosnas concentrações 
urbanas. 
No relatório de 2014, que trata do seu trabalho em áreas de interesse
21
 e das ações 
para promover o DIH, o ICRC (2014) identificou que mulheres e crianças são mortas ou 
feridas em decorrência de ataques indiscriminados; que as crianças são testemunhas da 
morte de seus pais em decorrência de ataques indiscriminados; e que violações aos DIH, 
entre elas os ataques indiscriminados, resultam em deslocamentos dos civis. 
 
20
 Bernard (2011) denomina-os como as organizações que não estão sob o comando ou controle de 
Estado, mas participam de conflitos armados. Adverte que contemporaneidade não permite fixar apenas 
uma definição, em razão da complexidade dos conflitos e da diversidade desses grupos. 
21
 Nesta nota, citam-se alguns dos países que foram mencionados no relatório, onde o CICV opera: 
Afeganistão, Colômbia, República Democrática do Congo, Iraque, Líbano, Mianmar, Somália, Sri Lanka 
e Síria. 
13 
 
No mesmo documento, o CICV insta às Partes envolvidas nos conflitos a respeitar 
as normas de DIH, entre elas a proibição de realizar ataques indiscriminados, como por 
exemplo, o emprego de explosivos em áreas densamente povoadas. 
 Nesse contexto hostil, as mazelas advindas dos ataques indiscriminados 
justificam o seu estudo no âmbito das contendas internas. Entender esse fenômeno e as 
proibições correlatas passa pela necessidade de compreender primeiramente os 
princípios reitores do DIH. 
 
4.1 Princípios reitores do DIH ou princípios humanitários 
 
Os princípios humanitários são as normas que informam as leis do DIH, definindo 
regras que devem ser observadas independentemente de convenção, haja vista o caráter 
costumeiro que lhes é conferido, conforme argumentado na seção 2.2. 
Em consonância ao que já foi exposto, o DIH limita o uso da violência, nos 
conflitos armados, para proteger as pessoas afetadas pela situação de beligerância e para 
restringir o nível do emprego da violência àquele unicamente necessário para atingir o 
objetivo militar de enfraquecer a capacidade militar do adversário. E partir dessa 
definição são delineados os princípios de base do DIH (SASSÒLI et al, 2012). 
 
4.1.1 – Princípio da humanidade 
 
Segundo Blishenko (1984 apud Mello, 1997, p. 148), o princípio da humanidade 
‘[...] engloba todos os aspectos do comportamento dos beligerantes nos conflitos 
armados [...]’, ressaltando que o uso da força deve corresponder ao emprego necessário. 
Ao encontro da assertiva acima, entende-se que esse princípio forma a estrutura 
normativa do DIH (regras de conduta das hostilidades), permeando toda a malha de 
regras convencionais e consuetudinárias. Vale dizer que em cada disposição da norma 
há o sentido do princípio da humanidade, que visa proteger a dignidade da pessoa 
humana. 
Henckaerts e Doswald-Beck (2006, p.64, tradução nossa) recordam que, no caso 
das activités militaires et paramilitaires au Nicaragua et contre celui-ci, a Corte 
Internacional de Justiça Corte Internacional de Justiça julgou que o artigo 3º comum às 
Convenções de Genebra refletem as ‘considerações elementares de humanidade’, que 
são um ‘mínimo’ aplicável a todos os conflitos armados. 
14 
 
Outras passagens do direito de Genebra e de Haia irradiam o princípio da 
humanidade, verbi gratia, o disposto no art. 12º da I Convenção de Genebra (GI), 
preconizando os cuidados com os combatentes feridos e enfermos: 
Serão tratados com humanidade pela Parte no conflito que tiver em 
seu poder, sem nenhuma distinção de caráter desfavorável baseada no sexo, 
raça, nacionalidade, religião, opiniões políticas ou qualquer outro critério 
análogo. É estritamente interdito qualquer atentado contra a sua vida e pessoa 
e, em especial, assassiná-los ou exterminá-los, submetê-los a torturas, efetuar 
neles experiências biológicas, deixá-los premeditadamente sem assistência 
médica ou sem tratamento, ou expô-los aos riscos do contágio ou de infecção 
criados para este efeito (CICV, 1992, p. 23, grifo nosso). 
Depreende-se do excerto que o tratamento com humanidade está calcado no 
respeito da dignidade humana
22
. 
Nesse diapasão, pode se concluir em Peytrignet (1996)
23
 que, se as partes em 
conflito apenas infligirão aos seus adversários danos proporcionais ao objetivo da 
guerra (princípio geral), será concedido um tratamento humano em relação àquelas 
pessoas que estão fora de combate ou não participam diretamente das hostilidades. 
 
4.1.2 Princípio da distinção 
 
Este princípio emana da regra fundamental, instituída no art. 48 do Protocolo I 
adicional às Convenções (GPI), e visa assegurar o respeito e a proteção da população 
civil e dos bens de caráter civil (CICV, 1998). Dispõe, para os conflitos armados 
internacionais, sobre o imperativo da distinção entre a população civil e os combatentes, 
assim como entre os bens de caráter civil e os alvos militares
24
 (objetivos militares), 
quando da execução de operações bélicas. Determinando, por fim, que essas operações 
sejam direcionadas unicamente a alvos militares e proibindo alvejar a população civil e 
os bens de caráter civil. 
Ademais, de acordo com esse princípio, qualquer um envolvido em um conflito 
armado deve distinguir entre combatentes e civis (SASSÒLI et al, 2012)
25
. 
 
22
 Essa regra funciona para os casos de CAI e CANI, conforme GPI e GPII (CICV, 1998). 
23
 Nesta lição, Peytrignet (1996, p. 136) refere-se ao princípio geral que informa os tratados dos direitos 
de Genebra e de Haia. Princípio, onde o objetivo da guerra é destruir ou debilitar a capacidade militar do 
inimigo 
24
 O GPI menciona objetivos militares para designar alvos. Neste trabalho, optou-se pela denominação de 
alvos militares, a fim de discernir da acepção doutrinária dada aos objetivos militares que são afetos aos 
níveis de decisão da guerra, conforme Brasil (2012). 
25
 Segundo os autores, o processo de “civilianisation” (grupos armados e empresas militares e de 
segurança privadas) desafia o princípio da distinção. 
15 
 
Henckaerts e Doswald-Beck (2006) relatam a natureza de direito costumeiro dessa 
regra, no âmbito dos conflitos armados internacionais e não internacionais
26
, consoante 
a prática dos Estados. 
 
4.1.3 Princípio da necessidade militar 
 
A necessidade militar encontra-se presente no §2º, art. 52 do GPI. Perfilando-se à 
distinção, determina que os ataques devem ser dirigidos contra alvos militares que 
tragam uma vantagem militar
27
 precisa, nos seguintes termos: 
Os ataques devem ser estritamente limitados aos objetivos militares. 
No que 
respeita aos bens, os objetivos militares são limitados aos que, pela 
sua natureza, localização, destino ou utilização contribuam efetivamente 
para a ação militar e cuja destruição total ou parcial, captura ou 
neutralização ofereça, na ocorrência, uma vantagem militar precisa (CICV, 
1998, p. 42, grifo nosso). 
Outro exemplo do GPI é citado por Mello (1997). No art. 56 e seguintes, observa-
se que a proteção contra ataques consignada a obras e edificações contendo forças 
perigosas (usinas nucleares, represas etc.) cessa em caso de necessidade militar de 
interromper apoio regular, significativo e direto, provido por essas instalações às 
operações militares, mas somente se os ataques forem a única forma efetiva de eliminar 
esse suporte. 
 Henckaerts e Doswald-Beck (2006) comentam a respeito da cessação da proteção 
contra ataques dos bens culturais em caso de necessidade militar imperiosa, nos termos 
do II Protocolo à Convenção de Haiade 1954, quando esses bens por suas funções 
tornarem-se alvos militares e quando não há outra solução possível para obter uma 
vantagem militar equivalente à oferecida por uma ação dessa natureza
28
. 
 
26
 No GPII, há disposição expressa apenas da proteção da população civil, conforme o art. 13º (CICV, 
1998), o que, prima facie, afastaria a proteção aos bens de caráter civil aos conflitos internos. Entretanto, 
Henckaerts e Doswald-Beck (2006) articulam pela prática dos Estados a proteção desses bens em 
conflitos dessa índole. 
27
 Da leitura desse dispositivo entende-se que vantagem militar decorre do efeito (destruição, captura ou 
neutralização) obtido sobre o alvo, contribuindo para a ação militar. E da interpretação da doutrina da 
Força Aérea Brasileira (Brasil, 2012, p. 42) extrai-se que os efeitos são aqueles de interesse dos objetivos 
militares, a saber: “O somatório dos efeitos causados pelas Tarefas e pelas Ações contribui para a 
consecução dos objetivos da campanha ou operação militar e para o alcance do estado final desejado”. 
28
 Argumentam ainda que um ataque contra bens de natureza civil é um criem de guerra, salvo se essa 
ação for comandada por imperiosa necessidade do conflito (militar). 
16 
 
Portanto, pode deduzir-se que necessidade militar justifica ataques em razão da 
conquista de uma vantagem militar que se pretende adquirir no campo de batalha
29
 e 
que contribua para os objetivos militares. 
 
4.1.4 Princípio da limitação 
 
As regras fundamentais do emprego de métodos e meios de guerra expressam a 
limitação do uso do poder bélico à qual se sujeita as partes beligerantes. Esse 
regramento está prescrito no art. 35 do GPI, a saber (CICV, 1998): em conflitos 
armados
30
 o direito de as Partes contendoras de escolherem os métodos ou meios de 
guerra não é ilimitado; é proibido usar métodos ou meios de guerra que causem danos 
supérfluos ou sofrimentos desnecessários; e é proibido utilizar métodos ou meios 
(armas, projéteis e materiais) de guerra concebidos para causar, ou que se presume que 
irão causar, danos extensos, duráveis e graves ao meio ambiente natural. 
Resume-se o princípio à limitação ao direito de escolha dos métodos e meios e à 
proibição de emprega-los para causarem danos supérfluos aos bens e sofrimentos 
desnecessários aos combatentes. 
Henckaerts e Doswald-Beck (2006) citam que alguns tratados internacionais são 
informados por esse princípio, v. g. a Convenção de 1980 sobre a proibição ou a 
limitação do emprego de certas armas convencionais. 
Nessa linha de pensamento, observa-se que os protocolos à citada convenção 
denotam o sentido do princípio, como por exemplo (CICV, 2001): a proibição de ferir 
por meio de fragmentos que, no corpo humano, não são detectáveis por raio x 
(Protocolo I); e a proibição ou restrição ao emprego de armas incendiárias (Protocolo 
III). 
 
29
 Nesse sentido, ao tratar da necessidade militar, o Manual de Direitos Internacional dos Conflitos 
Armados do Ministério da Defesa (BRASIL, 2011, p. 15) contempla que “(...) em todo conflito armado, o 
uso da força deve corresponder à vantagem militar que se pretende obter”. 
30
 Sejam eles de natureza internacional ou não internacional (HENCKAERTS E DOSWALD-BECK, 
2006). 
17 
 
4.1.5 Princípio da proporcionalidade 
 
De acordo com Henckaerts e Doswald-Beck (2006), a proporcionalidade resta 
formulada no art. 51, §5 b do GPI
31
, nos seguintes termos: 
Os ataques de que se possa esperar que venham a causar 
incidentalmente perda de vidas humanas na população civil, ferimentos nas 
pessoas civis, danos nos bens de caráter civil ou uma combinação destas 
perdas e danos, que seriam excessivos relativamente à vantagem militar 
concreta e direta esperada (CICV, 1998, p. 40). 
Em outras palavras, denomina-se proporcionalidade dos ataques quando esses 
correspondem a uma vantagem militar concreta e direta esperada, sem ocasionar danos 
colaterais
32
 excessivos em relação a essa vantagem. 
Observa-se, então, que proporcionalidade está relacionada à necessidade militar
33
. 
Por fim, outro aspecto relevante é trazido ao conhecimento por Henckaerts e 
Doswald-Beck (2006), quando lecionam que o GPII não cuida da aplicação da 
proporcionalidade nos ataques em conflitos internos, mas argumentam que obediência 
desse princípio, em CANI, vai ao encontro do respeito ao imperativo da humanidade, 
conforme prescreve preâmbulo protocolar. 
 
4.2 Proibição de ataques indiscriminados 
 
No DIH, aplicável ao CAI, foram listadas ações militares proibidas por 
caracterizarem ataques indiscriminados
34
 (normas proibitivas). Segundo os § 4º e §5º, 
art. 51 do GPI (CICV, 1998), elas estão assim designadas como: 
a) ações militares não dirigidas contra um alvo militar determinado; 
b) ações militares cujos métodos e meios de combate empregados não possam ser 
dirigidos contra um alvo militar determinado; 
 
31
 Tem-se, ainda, a manifestação desse princípio no art. 57, §2 a (iii) do GPI, ao determinar-se a abstenção 
de um ataque desproporcional (danos colaterais excessivos), conforme CICV (1998, p. 46). 
32
 Danos colaterais são um conceito empregado pela doutrina militar (BRASIL, 2011) e jurídica (Deyra, 
2001) para representar as perdas de vidas humanas na população civil e danos em bens de caráter civil, 
ocorridos incidentalmente por ataques. 
33
 Segundo Blishchenko (1984, p. 300 apud Mello, 1997, p. 149), o GPI ‘subordina a necessidade militar 
em proporcionalidade’. Então, Mello (1997, p. 149) conclui que “[...] não se pode invocar o princípio da 
necessidade militar se as perdas para a população civil e os danos aos bens de caráter civil forem 
excessivos ‘em relação a vantagem militar concreta e esperada’”. 
34
 Ao comentar o § 4º, art. 51 do GPI, Eberlin et al (1986) salientam que esse dispositivo confirma as 
práticas detestáveis de ilegalidade utilizadas durante a Segunda Grande Guerra e os conflitos armados 
posteriores. Advertem, ainda, que, com muita frequência, os ataques foram concebidos para destruir toda 
a vida em uma área específica ou para arrasar uma cidade, sem obter vantagem militar substancial, na 
maioria dos casos. 
18 
 
c) ações militares em que os efeitos gerados pelos métodos e meios de combate 
não sejam limitados; 
d) bombardeios, independentemente do método e meio utilizado, que tratem como 
alvo militar único certo número de alvos, nitidamente separados e distintos, 
localizados em áreas de concentração de civis ou de bens de caráter civil 
(bombardeios maciços ou bombardeio de zonas); e 
e) ações militares das quais se possam esperar danos colaterais excessivos em 
relação à vantagem militar concreta e direta esperada
35
. 
Argumentam Henckaerts e Doswald-Beck (2006) que as designações, inscritas 
nas alíneas a, b e c, representam uma aplicação dos princípios da distinção e da 
necessidade militar. 
No tocante a alínea a, entende-se que os ataques são levados contra alvos militares 
não identificados ou mal identificados
36
. 
A leitura da alínea b enseja a ideia de imprecisão do armamento empregado em 
certas condições
37
, na mesma linha de raciocínio trazida por Henckaerts e Doswald-
Beck (2006, p. 324), ao tratarem da aplicação da regra de proibição de empregar “des 
armes qui sont de nature à frapper sans discrimination”. 
A terceira designação proíbe o uso de métodos e meios de combate, cujos efeitos 
não sejam limitados. 
Isso pode ser caracterizado pela perda do controle dosefeitos de um ataque 
realizado contra um determinado alvo militar, mas atingindo também a população civil, 
como por exemplo, o emprego de armas biológicas
38
 (HENCKAERTS E DOSWALD-
BECK, 2006). 
Outro aspecto a considerar, além da natureza dos meios de guerra – como 
mostrado na ilustração acima – é o poder das armas. O lançamento de uma bomba de 10 
toneladas, empregada para destruir um único edifício, corre o risco produzir efeitos 
amplos, como danos em edifícios vizinhos. Enquanto, um míssil menos poderoso seria 
suficiente para destruir o edifício (EBERLIN et al, 1986). 
 
35
 Adverte-se que a quarta e quinta alíneas estão previstas no §5º, debaixo da expressão: ataques 
considerados como efetuados sem discriminação. Isso não quer dizer, segundo Eberlin et al (1986), que 
não figuram no rol de ataques indiscriminados proibidos. 
36
 Eberlin et al (1986) comentam que são os dados de inteligência que orientam a definição dos alvos 
militares. Assim, essas informações, ao menos, deverão ser precisas e recentes. 
37
 Sobre esse dispositivo, Eberlin et al (1986) exemplificam o caso dos foguetes V2, empregados no final 
da Segunda Guerra Mundial, demasiadamente imprecisos. 
38
 Ressalta-se que o uso de armas biológicas é proibido, nos termos do Protocolo de Genebra de 1925 
(CICV, 2001). 
19 
 
Com o propósito de conter ações análogas àquelas praticadas na Segunda Grande 
Guerra – e em certos conflitos mais recentes –, quando se praticaram bombardeios 
maciços (ou bombardeio de zonas) que visavam matar qualquer forma de vida, presente 
numa região, e destruir as edificações nela existentes, erigiu-se a vedação consignada na 
alínea d (EBERLIN et al, 1986). Aqui, observa-se a violação da norma do princípio da 
distinção e da necessidade militar, visto que a população civil e os alvos militares não 
eram distinguidos, por conseguinte, não se buscava uma vantagem militar. 
E por fim, o último viés proibitivo dado aos ataques sem discriminação reside no 
equilíbrio entre a vantagem militar esperada e os danos colaterais resultantes do ataque. 
Será proporcional o ataque do qual os danos colaterais não sejam excessivos em 
relação à vantagem militar, mas, se excessivos, será tido como desproporcional, o que 
não permitido. 
Eberlin et al (1986) defendem a satisfação de três requisitos para a realização dos 
ataques legítimos: alvo militar; meios apropriados; e efeitos limitados à vantagem 
militar esperada. Então, advertem que, cumpridas essas condições, é necessário que as 
perdas civis e os danos não sejam excessivos
39
. 
Entretanto, concluem que qualquer planejamento sobre a proporcionalidade entre 
os danos colaterais e a vantagem militar enfrenta um problema delicado: algumas 
situações são inequívocas, enquanto em outras, haverá hesitação. Em tais casos, a 
proteção à população civil deve ter precedência. 
 
5 REGULAÇÃO JURÍDICA DO CANI 
 
O CANI como já se sabe possui características conceituais. O reconhecimento dos 
fatores indicativos dar-lhe-á a devida qualificação e, por conseguinte, autorizará a 
aplicação de normas jurídicas próprias. 
O 3º artigo comum às Convenções de Genebra e o GPII são as regras 
convencionais que regem os conflitos internos. Entretanto, na lacuna dessas disposições, 
aplica-se o DIHC. 
 
39
 No mesmo sentido, ficou registrado, no Expert Meeting, capitaneado pelo CICV, em 2015, intitulado 
de Explosive Weapons in Populated Areas: Humanitarian, Legal, Technical and Military Aspects 
(EXPERT..., 2015), que, independentemente dos tipos de armas à sua disposição, as forças armadas 
continuarão vinculadas à proibição de ataques indiscriminados e às regras de proporcionalidade e 
precaução, quando visarem aos alvos militares em áreas povoadas. 
20 
 
Nesta seção, coube identificar o regramento de DIH que proíbe os ataques 
indiscriminados, no âmbito de um CANI. 
 
5.1 Regras convencionais do DIH 
 
Os conflitos internos são regulados pelas Convenções de Genebra (art. 3º comum) 
e pelo GPII. Entre esses sistemas de proteção residem diferenças no âmbito de aplicação 
(requisitos ou elementos materiais de classificação), ensejando a incidência de cada 
norma em função da conformidade com os requisitos. 
No art. 3º comum às Convenções de Genebra, a concepção de CANI é ampla, pois 
se limita a prescrevê-lo somente como um conflito armado de caráter não 
internacional
40
 – o que denota a necessidade de uma leitura contrario sensu do art. 2º 
comum
41
 –, de ocorrência em território das Altas Partes Contratantes42. 
Por outro lado, o âmbito de aplicação das regras do GPII é mais específico e, por 
conseguinte, mais restrito, pois se preocupou em: delimitar os limiares superiores e 
inferiores da situação de CANI
43
; estabelecer os elementos de sua definição
44
; e 
preservar a existência do art. 3º comum. 
Peytrignet (1996) assegura que se aplica o art. 3º comum às Convenções (mini-
tratado humanitário) em todos os conflitos armados sem caráter internacional, 
entretanto, em algumas situações, emprega-se, concomitantemente, o GPII, desde que 
esteja vigente no sistema jurídico do país em questão e que alguns requisitos materiais 
sejam atendidos. 
 
40
 Os elementos constitutivos do conceito de CANI são definidos com menos precisão, o que permite uma 
aplicação mais ampla das disposições desse sistema de proteção. Assim, o art. 3º comum é considerado 
como uma “miniconvenção” dentro das Convenções e tem aplicação em todas as situações nas quais os 
conflitos não tenham caráter internacional e ocorram em território de umas das Partes signatárias. Não é 
por acaso essa amplitude, visto que se intenta integrar ao direito internacional convencional a maior 
proteção que se possa outorgar às vitimas de conflitos aramados (SWINARSKI, 1998). 
41
 Este artigo define o campo de aplicação das Convenções de Genebra ao estabelecer o conceito de CAI, 
a saber: “[...] a presente Convenção aplicar-se-á em caso de guerra declarada ou de qualquer outro 
conflito armado que possa surgir entre duas ou mais das Altas Partes contratantes, mesmo que o estado de 
guerra não seja reconhecido por uma delas. A Convenção aplicar-se-á igualmente em todos os casos de 
ocupação total ou parcial do território de uma Alta Parte contratante, mesmo que esta ocupação não 
encontre qualquer resistência militar [...]” (CICV, 1992, p. 19). 
42
 Esse aspecto perde sua importância prática, uma vez que as Convenções têm caráter universal (CICV, 
2008), determinando a aplicação desses tratados internacionais em todos os países. 
43
 A situação de CANI fica localizada entre o nível superior e o nível inferior. Segundo Eberlin et al 
(1986), aquele reside no conceito de CAI, expresso no art. 2º comum às Convenções; este, nas definições 
de distúrbios interiores e tensões internas. 
44
 No tocante aos elementos relacionados aos insurgentes: comando responsável; controle de uma parte do 
território que permita conduzir operações militares contínuas e concertadas; e capacidade para aplicar o 
Protocolo (EBERLIN et al, 1986). 
21 
 
Nesse diapasão, Swinarski (1998) conclui que o art. 3º comum é aplicável em 
todas as situações de conflito armado não internacional, em razão de sua amplitude. 
Entretanto, em alguns casos, haverá a simultaneidade das disposições da 
“miniconvenção” e do Protocolo, conforme Vité (2009) e Eberlin et al (1986) . 
Assim, o CANI ficará sujeito também ao regramento do Protocolo
45
, quando 
observadas na situação algumas condições constitutivas,previstas no §1º, art. 1º do 
GPII, a saber: o controle territorial e os contendores envolvidos. Isto é, as partes não 
governamentais devem exercer um controle territorial que lhes permita levar a cabo 
operações militares continuas e organizadas; e os embates dão-se entre as forças 
armadas do Estado e forças armadas dissidentes ou outros grupos armados organizados 
(CICV, 2008). 
Logo, a contenda interna, mutatis mutandis, será regulada simultaneamente pela 
“miniconvenção” e pelo Protocolo se na situação houver território sobre o controle dos 
dissidentes, de modo a permitir-lhes a realização de operações militares; e se os embates 
ocorrerem entre as forças armadas governamentais e as forças armadas dissidentes, ou 
entre aquelas e os grupos armados. Mas, se as contendas internas forem conduzidas 
entre grupos armados, apenas o art. 3º comum será aplicado, conforme a lição de Vité 
(2009), ao explicar que o GPII não contempla o conflito entre apenas grupos armados 
não governamentais. 
Por fim, cumpre verificar que a condição ratione loci determina que as 
disposições do art. 3º comum às Convenções e do GPII deverão ser observadas pelas 
Altas Partes Contratantes (VITÉ, 2009), recordando que o mini-tratado possui aplicação 
erga omnes, haja vista sua natureza universal. 
 
 
45
 Vité (2009) e Eberlin et al (1986) explicam a simultaneidade de aplicação de ambos os sistemas de 
proteção, argumentando que o campo de aplicação do art. 3º comum, mais amplo, abarca, o do Protocolo, 
mais restritivo. Ressalta-se também que o GPII completa e desenvolve o art. 3º comum, sem 
comprometer sem modificar suas condições atuais de aplicação (CICV, 2008). 
22 
 
5.1.1 Sistema de proteção do art. 3º comum 
 
Ficou patente que as disposições do mini-tratado são aplicáveis em todas as 
situações de contendas internas. Essas normas, segundo, Swinarski (1997) expressam 
uma proteção mínima que é devida ao ser humano, em qualquer tempo ou lugar. Esse 
mínimo tratamento, continua o autor, é garantido a todas as pessoas que não participam 
ou deixaram de participar das hostilidades, abrangendo, assim, os membros das forças 
armadas e outras pessoas que tenham ficado fora do combate. 
Então, na situação de CANI, o conteúdo do padrão mínimo de tratamento 
humano, disposto no art. 3º comum, proíbe, verbi gratia: os atentados contra a vida e 
integridade física, especialmente o homicídio sob todas as formas, as mutilações, os 
tratamentos cruéis, torturas e suplícios; a tomada de reféns; as ofensas à dignidade das 
pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes; e as condenações e as 
execuções sem prévio julgamento, realizado por um tribunal regularmente constituído, 
que ofereça todas as garantias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos 
(SWINARSKI, 1997). 
Observa-se que o mínimo de tratamento, disposto no art. 3º comum (sistema de 
proteção), não dispõe sobre as normas que vedam os ataques indiscriminados. 
 
5.1.2 Sistema de proteção do GPII 
 
O sistema protetivo do Protocolo, em síntese, relativamente a todos feridos, 
doentes e náufragos, preconiza o respeito, a proteção, o tratamento humano e a 
assistência médica sem qualquer discriminação. Abarca também o serviço sanitário, 
suas equipes, seus equipamentos e suas instalações (SWINARSKI, 1997). 
Em relação às pessoas, que não participam diretamente ou deixaram de participar 
das hostilidades, e às crianças, esse sistema garante um tratamento humano assegurando 
direitos e proibindo ofensas (CICV, 1998). 
Feitas as considerações sintéticas acima – sem abordar a plenitude do conteúdo –, 
focaliza-se o sistema de proteção da população civil e dos indivíduos civis ao redor dos 
quais gravita o tema estudado. 
 Nesse sistema de proteção, ficam proibidos ataques contra a população civil e os 
civis, bem como contra os bens indispensáveis à sobrevivência da população civil 
(gêneros alimentícios, zonas agrícolas, colheitas, gado, instalações e reservas de água 
23 
 
potável e as obras de irrigação), as obras e instalações contendo foças perigosas e os 
bens culturais e lugares de culto (CICV, 1998). 
Notadamente, bens de caráter civil não foram contemplados no sistema de 
proteção, exceto aqueles supramencionados (EBERLIN et al, 1986), tampouco proibiu-
se, a exemplo do GPI, os ataques indiscriminados em suas cinco designações
46
, 
conforme lição de Henckaerts e Doswald-Beck (2006). 
 
5.2 Regras costumeiras do DIH 
 
Até o momento, à luz do direito convencional, ficou evidenciado que, nos 
conflitos armados sem caráter internacional, não há disposição normativa que proíba os 
ataques indiscriminados. 
Como foi estudado na seção 2, as fontes do DIH funcionam como o repositório de 
regras reguladoras dos conflitos armados. Visto que o direito emanado do art.3º comum 
às Convenções e do GPII não vedam as ações relacionadas aos ataques em questão, 
cumpre perscrutar se o direito consuetudinário responde a essa necessidade, uma vez 
que o costume tem a função de preencher as lacunas deixadas pelo direito 
convencionado. 
Em resposta a essa indagação, Henckaerts e Doswald-Beck (2006) observam que 
a proibição de: ataques não dirigidos contra um alvo militar determinado; ataques cujos 
métodos e meios de combate empregados não possam ser dirigidos contra um alvo 
militar determinado; e ataques em que os efeitos gerados pelos métodos e meios de 
combate não sejam limitados, é de natureza costumeira, aplicável nas situações de 
CANI, e apoia-se na jurisprudência da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal 
Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. 
Concluem que a vedação de ataques indiscriminados representados por 
bombardeios maciços (ou bombardeio de zonas) também é uma norma de caráter 
consuetudinário
47
, incidente nas contendas internas. 
A proibição de ações militares, das quais se possam esperar danos colaterais 
excessivos em relação à vantagem militar concreta e direta esperada, encerra a regra da 
 
46
 De acordo com Henckaerts e Doswald-Beck (2006), a proibição de ataques indiscriminados figurava no 
projeto do GPII, mas foi abandonado como parte de iniciativas para permitir a adoção de um texto 
simplificado. 
47
 Os autores, segundo a metodologia por eles empregada, constataram a existência de manuais militares e 
instrumentos jurídicos que proíbem esse tipo de ação militar, em CANI. 
24 
 
proporcionalidade que não se encontra no GPII (HENCKAERTS E DOSWALD-
BECK, 2006). 
Contudo, a proporcionalidade nos ataques é corolário do princípio da humanidade, 
que é invocado no preâmbulo desse Protocolo para preencher as eventuais lacunas, o 
que leva à compreensão de que a proporcionalidade não pode ser negligenciada nos 
conflitos internos. Logo, entre outras razões
48
, a proibição de ataques desproporcionais é 
acolhida pelo DIHC (HENCKAERTS E DOSWALD-BECK, 2006). 
Portanto, conclui-se que, apesar do hiato deixado pelo sistema de proteção do art. 
3º comum e do GPII, ao não regularem a vedação dos ataques indiscriminados, o 
Direito Internacional Humanitário Costumeiro dispõe a norma proibitiva erga omnes, 
que impede a realização desses ataques nas suas cinco versões, no âmbito dos conflitos 
armados não internacionais. 
Este desfecho vai ao encontro da lição de Kellenberger (2006) que afirmou que o 
DIHC atende às necessidades de proteção relacionadas aos conflitos armados não 
internacionais, que foram minimamente regulamentados e não respondidas pelos 
tratados internacionais. 
Por derradeiro, conclui-se que as regras de DIH que vedamos ataques 
indiscriminados, nos conflitos internos, são aquelas emanadas do DIHC. 
 
6 CONCLUSÃO 
 
Haja vista a perplexidade advinda da observação de atos de violência, 
principalmente, contra a população civil, em conflitos internos, em especial aqueles 
ocorridos no Oriente Médio, este artigo teve o objetivo de fazer uma aproximação 
teórica para conhecer as regras do DIH que proíbem os ataques indiscriminados, nos 
conflitos armados não internacionais. 
Para tanto, o trabalho dispôs de quatro seções, onde pode se discorrer sobre o 
DIH, o CANI, os ataques indiscriminados e a regulação jurídica, de modo a articular as 
ideias que propiciassem uma conclusão correspondente ao objetivo posto. 
 
48
 Segundo o método utilizado em sua pesquisa, Henckaerts e Doswald-Beck (2006) verificaram a 
existência de manuais militares e instrumentos jurídicos que proíbem ataques desproporcionais, em 
CANI, bem como normas estatais que os consideram uma infração. 
25 
 
Assim, no primeiro momento dissertou-se sobre o DIH, suas fontes 
convencionais, suas fontes costumeiras e o seu âmbito de aplicação, identificando-se as 
origens do direito e, especialmente, seu campo de incidência (CAI e CANI). 
Em seguida, examinou-se o conflito armado de caráter não internacional, 
concluindo-se que a sua classificação corresponde aos fatos constitutivos da situação, 
tais como: a organização das partes contendoras e o nível mínimo de intensidade das 
hostilidades. Nesse contexto, foi necessário diferenciar a contenda interna dos distúrbios 
e das tensões internos. Ao final, foi apresentado o ambiente operacional do CANI, 
dando ensejo às circunstâncias militares onde se perpetram os ataques indiscriminados. 
Na seção 4, depois de discutidos aspetos materiais constitutivos do CANI, iniciou-
se o exame dos ataques indiscriminados, a partir da constatação de sua recorrência no 
contexto das contendas internas. Seguiu-se com a abordagem dos princípios 
humanitários (humanidade, distinção, necessidade militar, limitação e 
proporcionalidade) para entender-se o fundamento das cinco normas proibitivas de 
ataques indiscriminados. 
Derradeiramente, foram analisados os sistemas de proteção do art. 3º comum às 
Convenções de Genebra e do GPII. 
 Primeiro, estudou-se o campo de aplicação de cada sistema de proteção, quando 
constatou, em suma, que o mini-tratado abarca todos os conflitos internos sem caráter 
internacional e que o Protocolo, aqueles conflitos que preencham as condições materiais 
previstas. Ato contínuo, ficou claro que as disposições de ambos não vedavam a prática 
de ataques indiscriminados, deixando uma lacuna jurídica. 
Depois, analisaram-se as regras costumeiras e observou-se que esse regramento, 
ao preencher as brechas deixadas pelo direito convencional, com base nos estudos de 
Henckaerts e Doswald-Beck (2006), proíbe a realização de ataques indiscriminados em 
suas cinco versões. 
Portanto, para responder ao objetivo proposto, concluiu-se que as regras do direito 
costumeiro (DIHC) regulam a proibição de ataques indiscriminados, em conflitos 
armados não internacionais, conforme as conclusões de Henckaerts e Doswald-Beck 
(2006). 
 
 
 
 
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