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Monografia Contrato de Seguro Ação de Terceiro Direta e Exclusivamente contra Seguradora

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Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ 
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO: ANÁLISE DA POSSIBILIDADE DO 
TERCEIRO PREJUDICADO AJUIZAR AÇÃO DIRETA E 
EXCLUSIVAMENTE EM FACE DA SEGURADORA DO 
APONTADO COMO CAUSADOR DO DANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diego Capelo Vitoriano 
Matricula: 1122114/9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza–CE 
Dezembro, 2016
2 
 
 
DIEGO CAPELO VITORIANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO: ANÁLISE DA POSSIBILIDADE DO 
TERCEIRO PREJUDICADO AJUIZAR AÇÃO DIRETA E 
EXCLUSIVAMENTE EM FACE DA SEGURADORA 
CONTRATADA PELO CAUSADOR DO DANO 
 
 
 
Monografia apresentada como 
exigência parcial para a obtenção 
do grau de bacharel em Direito, sob 
a orientação de conteúdo do 
Professor David Accioly de 
Carvalho e orientação 
metodológica da professora Simone 
Trindade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza–Ceará 
Dezembro, 2016 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
DIEGO CAPELO VITORIANO 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO: ANÁLISE DA POSSIBILIDADE DO 
TERCEIRO PREJUDICADO AJUIZAR AÇÃO DIRETA E 
EXCLUSIVAMENTE EM FACE DA SEGURADORA 
CONTRATADA PELO CAUSADOR DO DANO 
 
 
 
Monografia apresentada à banca 
examinadora e à Coordenação do 
Curso de Direito do Centro de 
Ciências Jurídicas da Universidade 
de Fortaleza, adequada e aprovada 
para suprir exigência parcial 
inerente à obtenção do grau de 
bacharel em Direito, em 
conformidade com os normativos 
do MEC, regulamentada pela Res. 
nº R028/99 da Universidade de 
Fortaleza. 
 
 
 
 
Fortaleza (CE), 02 de dezembro de 2016. 
 
David Accioly de Carvalho, Ms. 
Profº. Orientador da Universidade de Fortaleza 
 
Cilana de Morais Soares Rabelo, Ms. 
Profº. Examinador da Universidade de Fortaleza 
 
Ruth Leite Vieira, Ms. 
Profº. Examinador da Universidade de Fortaleza 
 
Simone Trindade da Cunha, Dra. 
Profª. Orientadora de Metodologia 
 
Profª. Núbia Maria Garcia Bastos, Ms. 
Supervisora de Monografia 
 
Coordenação do Curso de Direito 
5 
 
 
 
RESUMO 
Este trabalho tem como objetivo geral analisar a possibilidade de um terceiro acionar 
judicialmente, de forma direta e exclusiva a companhia seguradora do apontado como possível 
causador do dano, nos casos do seguro de responsabilidade civil facultativo. Para isso, 
estudaremos as peculiaridades do contrato de seguro, apresentando os seus sujeitos, a sua 
natureza jurídica, o seu objeto e as suas espécies. Verificaremos a evolução dos princípios 
contratuais, levando em consideração os denominados princípios clássicos e sociais, através de 
uma perspectiva histórica. Por fim analisar-se-á, questões relativas ao Superior Tribunal de 
Justiça (STJ), destacando a existência de decisões divergentes, onde inicialmente citaremos o 
enunciado nº 544 da VI Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal 
(CJF), com o entendimento de que deveria ocorrer uma mitigação dos princípios da relatividade 
dos efeitos dos contratos e do pacta sunt servanda, em razão do princípio da função social, 
afirmando que o seguro possui o objetivo de evitar o dano patrimonial do segurado, mas 
também funciona como uma espécie de estipulação em favor de terceiros, dessa forma sendo 
possível acionar judicialmente a seguradora. Posteriormente ocorreu uma mudança neste 
entendimento, inclusive com a publicação da Súmula nº 529, do mesmo tribunal, que reconhece 
a ilegitimidade da seguradora para atuar individualmente no pólo passivo, levando em 
consideração o devido processo legal e a ampla defesa, uma vez que ocorreria cerceamento na 
defesa do segurador, pois como poderia o mesmo produzir provas, por exemplo, para alegar 
exclusão de ilicitude ou até mesmo a inexistência do fato. Dessa forma, concluímos que o 
terceiro deve ingressar com ação em face do segurado e da seguradora, em conjunto, em regime 
de litisconsórcio, não acarretando em prejuízo para o mesmo. 
Palavras-chaves: Contrato de seguro. Princípios contratuais. Processo civil. Ação direta. Seguro 
de responsabilidade civil facultativo. Seguro de dano. 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 
1 O CONTRATO E SUA PRINCIPIOLOGIA ........................................................................ 10 
1.1 Principiologia clássica .................................................................................................... 12 
1.1.1 Princípio da liberdade contratual ........................................................................................ 12 
1.1.2 Princípio da força obrigatória dos contratos ...................................................................... 13 
1.1.3 Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos ............................................................ 14 
1.2 Principiologia social ....................................................................................................... 14 
1.2.1 Princípio da boa-fé objetiva ................................................................................................. 15 
1.2.2 Princípio da equivalência material ....................................................................................... 17 
1.2.3 Princípio da função social do contrato ................................................................................. 17 
2 O CONTRATO DE SEGURO .............................................................................................. 20 
2.1 Natureza jurídica ............................................................................................................. 20 
2.2 Sujeitos e Objeto ............................................................................................................. 22 
2.3 Espécies de seguro .......................................................................................................... 24 
2.3.1 Seguro de dano .................................................................................................................... 24 
2.3.2 Seguro de pessoas ................................................................................................................ 26 
2.4 Instrumentos contratuais ................................................................................................. 27 
2.5 Prescrição ........................................................................................................................ 28 
3 POSSIBILIDADE DO TERCEIRO PREJUDICADO AJUIZAR AÇÃO DIRETA E 
EXCLUSIVAMENTE EM FACE DA SEGURADORA CONTRATADA PELO CAUSADOR 
DO DANO ................................................................................................................................ 30 
3.1 Análise principiológica ................................................................................................... 31 
3.2 Análise jurisprudencial ................................................................................................... 33 
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 38 
REFERÊNCIAS........................................................................................................................40 
 
7 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O Estado Brasileiro passou nas últimas décadas por um período de grande avanço 
econômico, o que acarretou na constituição e no acúmulo de riquezas dos membros da 
sociedade de umaforma em geral. Assim a preocupação com a preservação do patrimônio 
constituído ou ao menos a mitigação de um possível prejuízo é consequência natural, afinal 
estamos expostos a diversos riscos, sejam decorrentes de eventos naturais ou da própria 
atividade humana. 
Neste sentido os contratos de seguro são essenciais para a nossa sociedade e ocupam 
relevante papel no ordenamento jurídico, principalmente pelos seus aspectos econômicos e 
sociais, pois podemos verificar que com a redução ou a extinção de um eventual dano que possa 
acarretar em prejuízos, o indivíduo tem a chance de manter seu patrimônio e condição de vida, 
isso em muito possui influência do princípio da dignidade humana e da função social do 
contrato. 
O seguro possui sua base no mutualismo, funcionando através de uma cooperação 
coletiva para amortizar os prejuízos e consequências danosas, uma vez que de forma individual 
os membros da sociedade enfrentariam sérias dificuldades no enfrentamento das contingências. 
O seguro assim é fruto do sentimento de solidariedade. 
Com o avanço tecnológico e a complexidade das relações e as atividades da sociedade 
moderna, a probabilidade de acidentes foi potencialmente multiplicada, fato que podemos 
verificar observando o número de mortes provenientes de acidentes de trânsito, seja terrestre 
ou aéreo, do emprego de armas de fogo na violência urbana, entre diversos outros. 
Como resultado dessas interações sociais é normal o aparecimento de conflitos, onde o 
Estado é chamado para cumprir sua obrigação jurisdicional e apresentar solução para a lide, o 
contrato de seguro é justamente mecanismo de proteção, possibilitando uma maior segurança e 
estabilidade jurídica. 
8 
 
 
Assim é necessário que os operadores do direito reflitam sobre as problemáticas 
existentes decorrentes do seguro, questões processuais, choques principiológicos e outros temas 
afins, para que ocorra a construção de conhecimento sobre a temática e uma resposta efetiva do 
Estado para com a sociedade, fazendo com que aumente o sentimento de confiança e segurança, 
que beneficia todo o ordenamento econômico e jurídico. 
Dessa forma este trabalho irá tratar sobre a possibilidade de um terceiro, que não figura 
no contrato, acionar direta e exclusivamente o segurador. Diante da relevância do tema, o 
objetivo será analisar como se dá a relação jurídica contratual do seguro? Como se aplicam os 
princípios clássicos e os princípios sociais do contrato aos seguros no atual contexto jurídico 
brasileiro? Como se posiciona a jurisprudência em relação ao assunto? 
A temática estudada, exige que tenhamos conhecimento sobre a definição e os princípios 
inerentes aos contratos de uma forma em geral, suas características e o conhecimento da 
legislação, para assim obtermos uma conclusão sobre a indagação. 
O trabalho foi dividido em três capítulos, no primeiro iremos tratar os princípios, que são 
os pilares que sustentam o sistema contratual, estes são divididos em duas fases, 
correspondentes ao tipo de Estado adotado naquele momento histórico, o que podemos dividir 
em principiologia clássica e principiologia social. 
No segundo capítulo falaremos sobre a própria definição do contrato de seguro e suas 
características, analisando sua natureza jurídica, seus sujeitos, suas espécies e prazos de 
prescrição. 
Depois de termos analisado os princípios contratuais e o contrato de seguro propriamente 
dito, iniciaremos o terceiro capítulo, que fará uma delimitação do assunto e em seguida irá 
analisar os possíveis conflitos entre os princípios, com base no posicionamento jurisprudencial. 
Devido a relevância geral do tema, o STJ se manifestou, objetivando unificar as decisões 
e garantir uma maior celeridade processual. Assim, o posicionamento foi alterado, não 
reconhecendo o vínculo jurídico de direito material, entre o terceiro e o segurador, afirmando 
que caso fosse possível o acionamento, ocorreria a violação do devido processo legal e da ampla 
defesa, pois o segurador somente possui a obrigação de indenizar, mediante a comprovação da 
responsabilidade civil do segurado, que não estaria presente no processo, como pode ser visto 
9 
 
 
mediante a decisão do Recurso especial nº 962.230 - RS (2007/0140983-5) e através da Súmula 
nº 529, do ano de 2015, onde fica esclarecida a impossibilidade do segurador ser acionado de 
forma direta pelo terceiro. 
O trabalho utilizou de pesquisa bibliográfica e documental, com o uso de referências 
teóricas, como livros, artigos científicos e monografias. Quanto à utilização dos resultados, a 
pesquisa é pura, por ter como finalidade precípua a ampliação dos conhecimentos sobre a 
temática. No que se refere aos fins, a pesquisa classificar-se-á como exploratória e descritiva. 
Quanto à abordagem a pesquisa é qualitativa, enfatizando a compreensão e a interpretação do 
tema, atribuindo significado aos dados coletados a pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
1 O CONTRATO E SUA PRINCIPIOLOGIA 
Conforme Gagliano e Pamplona Filho (2014, p. 39) a definição de contrato é “ Negócio 
jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da 
boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a 
autonomia das suas próprias vontades”. 
O contrato é um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas declarações de 
vontade, cujo objetivo é a criação a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e 
deveres de conteúdo patrimonial. Os contratos são, em suma, todos os tipos de 
convenções ou estipulações que possam ser criadas pelo acordo de vontades e por 
outros fatores acessórios (TARTUCE, 2015, p. 02). 
A partir da definição é de vital importância o entendimento sobre a autonomia da vontade 
das partes na celebração deste negócio jurídico, uma vez que não, ocorrendo essa manifestação, 
não há o que se falar em contrato, pois o mesmo é inexistente. Como nos ensina Diniz (2011, 
p. 485) “ É indubitável que a manifestação de vontade exerce papel preponderante no negócio 
jurídico, sendo um de seus elementos básicos. Tal declaração volitiva deverá ser livre e de boa-
fé, não podendo conter vício de consentimento, nem social, sob pena de invalidade negocial”. 
De acordo com Tartuce (2015, p. 16) “ Todas as vezes que foi mencionada a expressão 
negócio jurídico, poder – se – ia substituir por contrato, pois todo contrato é negócio jurídico”. 
Por se tratar de negócio jurídico devemos lembrar da denominada pela doutrina em geral, 
Escada Ponteana, correspondente a Teoria de Pontes de Miranda, que nos informa sobre a 
existência de três planos que nos ajudam no seu melhor entendimento, sendo o plano de 
existência, o plano de validade e o plano de eficácia. 
Gagliano e Pamplona Filho (2014a), explicam que esses planos tornam possível uma 
análise científica e bem detalhada do contrato, permitindo a dissecação dos seus elementos 
constitutivos, dos pressupostos de validade e de fatores que possam interferir na sua eficácia 
jurídica. 
 
11 
 
 
Figura 1 – Elementos constitutivos do contrato e do negócio jurídico “Escada Ponteana” 
 
Fonte: Tartuce (2015, p. 43). 
Em relação à forma dos contratos, a regra é que seja realizada de maneira livre, exceto 
nos casos em que a lei define forma específica. Diniz (2011, p. 541) “ A sistemática de nosso 
Código Civil inspira-se pelo princípio da forma livre, o que quer dizer que a validade da 
declaração de vontade só depende de forma determinada quando a norma jurídica 
explicitamente o exigir”. 
Obedecendo o disposto no art.107 do Código Civil: “ A validade das declarações de 
vontade não dependerá de formaespecial, senão quando a lei expressamente a exigir”. É o 
exemplo no caso do art. 108, do Código Civil: 
Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos 
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia 
de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo 
vigente no País. 
Assim, ocorrendo determinação de forma expressa em lei e a mesma não sendo cumprida, 
o contrato será considerado nulo, não produzindo efeitos. 
 
 
12 
 
 
1.1 Principiologia clássica 
A Principiologia clássica dos contratos possuí vínculo direto com o modelo de Estado 
Liberal que prevaleceu durante os séculos XVIII e XIX, onde ocorreu o desenvolvimento da 
classe burguesa e consequente aumento das relações mercantis, após a queda do sistema feudal 
e do Estado Absolutista. 
O Estado liberal significou a antítese do Estado absolutista, no qual as relações 
privadas, especialmente as atividades econômicas, dependiam da vontade e concessão 
do soberano político. As constituições liberais, notadamente a partir das revoluções 
americana e francesa, incorporaram o ideário liberal burguês triunfante da plenitude 
da autodeterminação individual o que significou o controle político do Estado, com 
sua ausência de controle da atividade econômica, para garantir a ilimitada liberdade 
contratual. A ausência de previsão constitucional, sobre a liberdade contratual, 
correspondia à concepção que passou a ser dominante de que “a mão invisível” do 
mercado daria conta do equilíbrio dos interesses privados, sem necessidade da 
interferência do Estado. Minimização do Estado e maximização da liberdade 
individual e contratual passaram a ser lugares-comuns. Todavia, como a experiência 
histórica demonstrou, assegurou-se a liberdade dos que efetivamente exerciam 
poderes negociais dominantes, submetendo na prática os demais contratantes a 
situações injustamente desvantajosas e abusivas. O poder negocial, como qualquer 
poder livre de controle social ou público, leva ao abuso (LÔBO, 2014, p. 39) 
Podemos observar que o Estado Liberal possui algumas características próprias, como a 
pouca participação estatal nas relações privadas, a manutenção da liberdade dos indivíduos e a 
defesa do ideal de auto regulação do mercado, o que em muito influenciou os princípios 
clássicos, como veremos a diante. 
1.1.1 Princípio da liberdade contratual 
O princípio da liberdade contratual é caracterizado pela possibilidade de contratar ou não 
contratar, de escolher com quem contratar e de estabelecer o seu conteúdo, isto é essencial para 
que os contratos acompanhem a dinâmica das relações privadas. Assim observamos que existe 
um duplo sentido de liberdade, o de liberdade de contratar e o de liberdade contratual. 
Dessa dupla liberdade da pessoa, sujeito contratual, é que decorre a autonomia 
privada, que constitui a liberdade que a pessoa tem para regular os próprios interesses. 
De qualquer forma que fique claro, que essa autonomia não é absoluta, encontrando 
limitações em normas de ordem pública (TARTUCE, 2015, p. 55). 
A liberdade contratual aqui apresentada é limitada em alguns aspectos, pois não podemos 
contratar com qualquer pessoa, existindo diversos requisitos legais para que seja garantida a 
13 
 
 
sua validade jurídica. Em relação ao seu conteúdo também existem limitações, podendo ser 
citados como exemplo as imposições da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que 
norteiam o conteúdo dos contratos de trabalho. 
Importa observar desde logo, que a doutrina é unânime em reconhecer que a liberdade 
contratual nunca foi exercida de modo absoluto, sempre encontrando limites assim na 
lei, como nos costumes, na Moral e na ordem pública, de tal modo que, quando se 
afirmou o menor grau de intervenção nas relações econômicas como uma 
característica do Estado Liberal, não se disse, por óbvio, que tal intervenção era nula. 
Assim, mesmo no período liberal, o Estado interveio nas relações contratuais, contudo 
de modo menos acentuado (CARVALHO; PEREIRA JUNIOR, 2014, online). 
Mesmo com a presença dessas limitações, ocorre o respeito e a preservação da autonomia 
privada, até mesmo nos casos dos denominados contratos massificados ou de adesão, pois o 
indivíduo continua a exercer a sua liberdade de contratar ou não. (GAGLIANO; PAMPLONA 
FILHO, 2014a). Então não há o que se falar em desconsideração do princípio da liberdade 
contratual, pois o mesmo continua a existir, ainda que controlado em alguns aspectos. 
1.1.2 Princípio da força obrigatória dos contratos 
A razão lógica ao se celebrar um contrato, é que o seu conteúdo torne obrigatório o 
cumprimento do que foi ali estipulado entre as partes. A partir deste raciocínio conseguimos 
enxergar o princípio da força obrigatória dos contratos. Para Venosa (2014, p. 409) “ Essa 
obrigatoriedade forma a base do direito contratual. O ordenamento deve conferir à parte 
instrumentos judiciários para obrigar o contratante a cumprir o contrato ou a indenizar pelas 
perdas e danos”. 
Diante deste prisma, ocorre a impossibilidade da alteração do contrato por somente 
decisão de umas das partes, pois se fosse possível tais modificações, acarretaria em uma grande 
insegurança dentro das relações existentes no nosso ordenamento jurídico. 
O princípio da força obrigatória, denominado classicamente pacta sunt servanda, 
traduz a natural cogência que deve emanar do contrato, a fim de que se lhe possa 
reconhecer utilidade econômica e social. De nada valeria o negócio, se o acordo 
firmado entre os contraentes não tivesse força obrigatória. Seria mero protocolo de 
intenções, sem validade jurídica (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014a, p. 58). 
Devemos ressaltar que existe uma mitigação da força obrigatória dos contratos em 
relação a outros princípios, como o da função social do contrato, o que não nos permite dizer 
14 
 
 
que o mesmo não é mais valido no nosso ordenamento jurídico, pois sua aplicação continua 
válida. 
1.1.3 Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos 
Este princípio decorre do limite imposto aos efeitos dos contratos, sendo limite em relação 
aos sujeitos, ou seja, somente sofre os efeitos do que foi estipulado em contrato, as partes que 
o celebraram, não produzindo efeitos a terceiros. O outro limite faz referência ao objeto, e parte 
do mesmo raciocínio de que, se o contrato trata de objeto que não é de direito dos sujeitos, não 
produzirá nenhum efeito a terceiros. 
Segundo Venosa (2014, p. 409) “ A regra geral é que os contratos só ata aqueles que dele 
participaram. Seus efeitos não podem, em princípio, nem prejudicar, nem a aproveitar a 
terceiros. Daí dizemos que, com relação a terceiros, o contrato é res inter alios acta, aliis neque 
nocet neque potest”. 
Da mesma forma que em outros princípios, a relatividade dos efeitos do contrato não deve 
ser considerada uma verdade absoluta, pois comporta exceção, em alguns casos estes efeitos 
são estendidos a terceiros, como por exemplo nas situações que tratem sobre direitos coletivos 
ou na estipulação em favor de terceiro. 
1.2 Principiologia social 
O não intervencionismo do Estado nas relações privadas, resultado do ideal de liberalismo 
econômico, foi fundamental para que ocorresse o estímulo e o crescimento das relações 
econômicas, o grande problema é que essa abstenção, também foi favorável para práticas 
abusivas de pequenos grupos donos dos meios de produção, fazendo com que existissem 
diversos incidentes no contexto social. 
Logo após o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo iniciou uma nova forma de olhar 
o aspecto social das relações humanas, inclusive com a fundação da Organização das Nações 
Unidas (ONU), assim as constituições foram sofrendotransformações, para Carvalho e Pereira 
Junior (2014, online): 
15 
 
 
O individualismo foi paulatinamente substituído pelo solidarismo, o patrimonialismo 
pelo reconhecimento da primazia da condição humana e assim foi que se assistiu à 
promulgação de constituições intervencionistas, consagradoras dos direitos 
fundamentais de segunda dimensão ou geração (direitos sociais, econômicos e 
culturais), à semelhança daquelas promulgadas pelo México em 1917 e pela 
Alemanha em 1919, esta mais conhecida como a Constituição de Weimar. Tais 
Constituições traduziram os ideais de um Estado-Garantia, chamado a desempenhar 
papéis nos campos econômico e social, notadamente com vistas à reestruturação 
social, mediante a realização e a promoção do bem-estar da sociedade como um todo, 
motivo porque também foi definido como Estado-Providência. 
Os contratos começaram a ser visualizados através de uma visão social, em que existe 
uma relevante preocupação em como se comportam em relação a sociedade, dando uma atenção 
em especial para a tutela dos direitos difusos e coletivos, pois a amplitude de titulares destes 
direitos é grande, assim como o seu impacto social, como por exemplo nos casos de contratos 
que alcancem direitos ambientais ou trabalhistas. De acordo com Gagliano e Pamplona Filho 
(2014a, p. 62) “O contrato, portanto, para poder ser chancelado pelo Poder Judiciário deve 
respeitar regras formais de validade jurídica, mas, sobretudo, normas superiores de cunho moral 
e social, que, por serem valoradas pelo ordenamento como inestimáveis, são de inegável 
exigibilidade jurídica”. 
Esta denominada principiologia social do contrato, formada pelos princípios da boa-fé, 
da equivalência material e da função social do contrato, não eliminaram os princípios clássicos, 
os mesmos continuam vigentes, mas possuem sua abrangência restringida. 
1.2.1 Princípio da boa-fé objetiva 
A previsão em lei da boa-fé objetiva aconteceu através do nosso atual Código Civil, em 
seu art. 422, pelo qual “ Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do 
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. 
A boa-fé objetiva, por se tratar de um princípio social surgiu da superação da 
principiologia clássica, possuindo assim uma preocupação com os valores sociais, para 
Gagliano e Pamplona Filho (2014a, p. 79) “ [...] consiste em um princípio vinculado a uma 
imprescindível regra de comportamento, umbilicalmente ligada à eticidade que se espera seja 
observada em nossa ordem social”. 
Este princípio permite que o contrato obtenha os sentimentos de segurança e estabilidade, 
pois dele decorre a presunção de que as partes necessitam para que acreditem no cumprimento 
16 
 
 
do que foi contratado, resultando em uma justa expectativa, tanto para o contratante, como para 
o contratado, pois fora a obrigação principal, surgem outros deveres, como assegura Gagliano 
e Pamplona Filho (2014a, p. 79): 
Ladeando, pois, esse dever jurídico principal, a boa-fé objetiva impõe também a 
observância de deveres jurídicos anexos ou de proteção, não menos relevantes, a 
exemplo dos deveres de lealdade e confiança, assistência, confidencialidade ou sigilo, 
informação etc. Tais deveres – é importante registrar – são impostos tanto ao sujeito 
ativo quanto ao sujeito passivo da relação jurídica obrigacional, pois referem-se, em 
verdade, à exata satisfação dos interesses envolvidos na obrigação assumida, por força 
da boa-fé contratual. 
Os chamados deveres anexos acima citados, são resultados de uma das funções do 
princípio da boa-fé objetiva, a de criadora de deveres jurídicos, que são obrigações secundárias 
em relação objeto do contrato, mas que de acordo com Tartuce (2015, p. 94) “ A quebra desses 
deveres anexos gera a violação positiva do contrato, com responsabilização civil daquele que 
desrespeita a boa-fé objetiva”. 
Outra função do princípio estudado, é a de controle, que vem justamente para proteger e 
evitar o desrespeito a boa-fé, pois quem assim o faz comete abuso de direto, o art. 187 do nosso 
Código Civil diz “ Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes”. O controle aqui aplicado, busca evitar a abusividade de direitos. 
A última função a ser estudada é a interpretativa, que foi consagrada no Código Civil 
Brasileiro, forma literal no art. 113 “ Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme 
a boa-fé e os usos o lugar de sua celebração”. Como o seu próprio nome sugere, a boa-fé 
objetiva vem direcionar a análise interpretativa dos aplicadores do direito, serve como alicerce 
hermenêutico, para que o resultado seja o mais correto moralmente e útil para a sociedade 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014a). 
Diante de tudo o que foi apresentado, percebemos que a boa-fé objetiva não deve estar 
presente somente na execução do contrato, mas também nos atos anteriores a sua celebração e 
após a sua extinção, existindo uma considerável flexibilização dos princípios clássicos, onde 
ocorre a possibilidade de revisão ou até mesmo extinção do contrato, em face de uma agressão 
ao princípio da boa-fé objetiva, não existe mais assim aquela rigidez imposta pelos princípios 
da autonomia privada e do pacta sunt servanda. 
17 
 
 
1.2.2 Princípio da equivalência material 
O princípio da equivalência material busca a superação da igualdade formal, 
confrontando os desequilíbrios excessivos que possam existir, beneficiando exageradamente 
uma parte em função do prejuízo causado à outra. Essa visão de igualdade meramente formal 
era aquela defendida na principiologia clássica do Estado Liberal, onde não existia a 
preocupação com os possíveis abusos existentes, pois o contrato é lei entre as partes. 
O princípio da equivalência material busca realizar e preservar o equilíbrio real de 
direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização 
dos interesses. Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja 
para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os 
desequilíbrios supervenientes, pouco importando que as mudanças de circunstâncias 
pudessem ser previsíveis. O que interessa não é mais a exigência cega de cumprimento 
do contrato, da forma como foi assinado ou celebrado, mas se sua execução não 
acarreta vantagem excessiva para uma das partes e desvantagem excessiva para outra, 
aferível objetivamente, segundo as regras da experiência ordinária. O princípio 
clássico pacta sunt servanda passou a ser entendido no sentido de que o contrato 
obriga as partes contratantes nos limites do equilíbrio dos direitos e deveres entre elas. 
(LÔBO, 2002, online) 
É necessário salientar que o desequilíbrio ocasionado pela relação entre direitos e 
obrigações entre as partes, é proveniente da própria natureza contratual, afinal ao contratar as 
partes almejam sobre tudo a obtenção de resultados positivos, assim a desigualdade aqui 
combatida é aquela visivelmente excessiva e onerosa. 
1.2.3 Princípio da função social do contrato 
O princípio da função social do contrato, é fruto do reconhecimento do modelo de Estado 
Social, de que os efeitos relativos ao contrato, atingem não somente as partes, mas toda a 
coletividade, o que fundamenta a necessidade do seu caráter intervencionista nas relações entre 
os particulares. Conforme Gagliano e Pamplona Filho (2014a, p. 63) “A partir do momento em 
que o Estado passou a adotar uma postura mais intervencionista, abandonando o ultrapassado 
papel de mero expectador da ambiência econômica, a função social do contrato ganhou 
contornos mais específicos”. 
No período do Estadoliberal a inevitável dimensão social do contrato era 
desconsiderada para que não prejudicasse a realização individual, em 
conformidade com a ideologia constitucionalmente estabelecida; o interesse 
individual era o valor supremo, apenas admitindo-se limites negativos gerais 
18 
 
 
de ordem pública e bons costumes, não cabendo ao Estado e ao direito 
considerações de justiça social. A função exclusivamente individual do 
contrato é incompatível com o Estado social, caracterizado, sob o ponto de 
vista do direito, como já vimos, pela tutela explícita da ordem econômica e 
social na Constituição (LÔBO, 2002, online). 
O contrato não é somente um instrumento que proporciona a circulação de bens e 
serviços, é na verdade um importante mecanismo para o mercado e a sociedade, pois auxilia na 
evolução social, o que poderia justificar a superação do pensamento liberal. 
O nosso atual código civil faz referência a função social do contrato através do seu art. 
421 onde diz “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social 
do contrato”. Devemos interpretar com atenção este artigo, pois sua análise nos remete a dois 
critérios que caracterizam o princípio estudado, segundo Carvalho e Pereira Junior (2014a, 
online): 
É interessante observar que, nos termos em que foi positivada, a função social 
dos contratos assumiu duplo caráter. Um finalístico, perceptível a partir da 
expressão ‘em razão’ utilizada pelo legislador e outro limitativo já que, de 
acordo com o texto legal destacado, os sujeitos, ao contratar, devem fazê-lo 
nos limites da função social. 
Partindo destes dois critérios, o finalístico e o limitativo, fica entendido que o primeiro 
enfoca que a razão de ser do contrato é a sua própria função social, da mesma forma o segundo 
estipula que o seu limite é o interesse social, mitigando a liberdade contratual das partes. 
A função social dos contratos, como foi dito acima, impõe limites aos contratantes, para 
que a coletividade não seja prejudicada. Da mesma forma o efeito reverso deve acontecer, os 
terceiros, devem respeitar e não ferir os interesses estipulados contratualmente. 
Em razão do princípio ora estudado é que se verifica assim no Código Civil como na 
legislação civil extravagante, dispositivos que limitam a atuação contratual, em 
consideração aos aspectos mencionados ao longo do presente tópico, à semelhança 
daqueles que regulamentam a fraude contra credores (art. 158 e ss. CCB); os efeitos 
contratuais em relação a terceiros –dentre estes, a estipulação em favor de terceiros, 
promessa de fato de terceiro e contrato com pessoa a declarar –previstos nos arts. 436 
a 440 e 467 a 471, todos do CCB; a tutela da coação exercida por terceiro (art. 154, 
CCB); a ressalva aos direitos de terceiros de boa-fé e a punição das condutas 
praticadas por terceiros de má-fé (arts. 161; 167, §º; 172; 191; 298, 359; 380; 385; 
523; 563; 673; 814 etc.); a figura do terceiro interessado ou não interessado prevista 
na teoria geral do pagamento (art. 304 e seguintes do CCB); a tutela do terceiro 
prejudicado nos contratos de seguro (arts. 206, §1º, II, ae §3º, IX; 787, §§2º e 4º; 788, 
CCB); a possibilidade de responsabilização do fabricante e do fornecedor, não 
19 
 
 
obstante não tenha participado do negócio celebrado com o consumidor vítima de fato 
do produto ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC); além de outros tantos (CARVALHO; 
PEREIRA JUNIOR, 2014a, online). 
Diante do que foi apresentado, verificamos a relevância dada pelo ordenamento jurídico, 
ao princípio estudado, onde foi afastada a ótica individualista dos princípios clássicos, que 
priorizava a autonomia privada, agora, à luz do pensamento do Estado Social, os efeitos entre 
as partes e como eles alcançam a coletividade, devem atender a sua finalidade social. 
 
20 
 
 
 
2 O CONTRATO DE SEGURO 
De acordo com Tartuce (2015, p. 639): “Sem dúvidas, trata-se de um dos contratos mais 
complexos e importantes do Direito Privado Brasileiro, uma vez que viver tornou-se algo 
arriscado. Na prática, o contrato representa instrumento de socialização dos riscos”. 
O código civil faz referência ao contrato de seguro em seu art. 757: “Pelo contrato de 
seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo 
do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”. Através deste 
enunciado, o legislador informa que o contrato de seguro é firmado por intermédio do segurador 
e do segurado, no qual este último deve realizar o pagamento do prêmio para que o segurador 
esteja obrigado a cumprir o que foi estabelecido sobre o risco, previamente determinado. 
Diante do texto legal, pode-se observar uma divisão de elementos específicos do contrato 
estudado, o segurado e o segurador são as partes, o interesse segurável é o objeto e o prêmio, é 
a remuneração, ou seja, o pagamento realizado pelo segurado. No decorrer do capítulo serão 
desenvolvidos tais elementos e demais fatores que devem ser apresentados, para um melhor 
entendimento do tema. 
2.1 Natureza jurídica 
Em relação à natureza jurídica, verificamos algumas características do contrato de seguro. 
Inicialmente trata-se de contrato bilateral, pois ambas as partes assumem obrigações. É típico 
ou nominado, pois como já vimos a sua previsão é tipificada no Código Civil. É contrato 
aleatório, devido ao fato de que a prestação de umas das partes, depende de um uso futuro e 
incerto, ou seja, casual. O dispositivo que melhor reflete essa característica é o art. 764 do CCB 
“Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o 
seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio”. 
Existem doutrinadores que acreditam que na verdade o contrato de seguro seria 
comutativo, o que seria bastante preocupante, segundo Tartuce (2015, p. 641): 
21 
 
 
[...] Parece temerário afirmar que o seguro é contrato comutativo. Isso principalmente 
por que o argumento da comutatividade pode servir a interesses escusos de 
seguradoras. Imagine-se, por exemplo, que a seguradora, pode alegar que o contrato 
é comutativo para resolver ou rever o negócio que foi pago anos a fio pelo segurado, 
com base na imprevisibilidade e na onerosidade excessiva. Nesse contexto, a tese de 
comutatividade, parecer ser antifuncional, ou mesmo antissocial, em conflito com o 
que consta nos arts. 421 e 2.035, parágrafo único, do Código Civil. Ademais, a tese 
de que o contrato de seguro é comutativo pode ser alegada por empresas seguradoras 
para auferir vantagens excessivas frente aos consumidores, particularmente com o 
intuito de obter a rescisão unilateral do contrato. 
É oneroso, pois existe sacrifício patrimonial do segurado, para que obtenha o benefício 
oferecido pela seguradora. É contrato evolutivo, que segundo Gagliano e Pamplona Filho 
(2014), tais contratos possuem cláusulas que impõem a compensação de eventuais alterações 
sofridas no curso do contrato. São constituídos, assim, por cláusulas estáticas, bem como por 
outras ditas dinâmicas. 
É considerado contrato de duração, com execução continuada, uma vez que se executa 
durante todo o período de vigência estipulado entre as partes, sendo, inclusive, permitida a sua 
renovação de forma de tácita, respeitando o disposto no art.774 do CCB “ A recondução tácita 
do contrato pelo mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual, não poderá operar mais 
de uma vez”. 
O contrato de seguro é consensual, dependendo do acordo de vontades entre as partes e 
não solene, pois de acordo com o art. 758 do CCB “O contrato de seguro prova-se com a 
exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do 
pagamento do respectivo prêmio”. 
Finalmente,é típico contrato de consumo, assim é justificada à aplicação do Código de 
Defesa do Consumidor (CDC), nas causas que tratam de conflitos entre o segurador e o 
segurado. Na atualidade os contratos de seguro, em sua grande maioria, aderiram ao 
denominado contrato de adesão, em que o proponente somente escolhe qual companhia 
seguradora contratar, pois suas cláusulas já estão estipuladas nas condições gerais de cada 
seguradora. 
Em tal técnica de formação no contrato de seguro, não se tem, pois, ampla liberdade 
na estipulação do conteúdo do negócio, uma vez que o segurado, ao optar por 
determinada companhia de seguro — e a esta ‘opção’, basicamente, está reservada a 
sua liberdade! — Adere à proposta de contratar que lhe é apresentada, sem a 
possibilidade de mudança de fundo das cláusulas contratuais. Ou aceita, ou não 
contrata! E, tamanha é a vulnerabilidade do segurado, no momento desta contratação, 
22 
 
 
por conta da limitação em sua manifestação volitiva, que, atualmente, é possível 
pactuar-se o seguro, simplesmente, anuindo a uma cartilha apresentada (formulário), 
pela via impressa ou eletrônica, ou, até mesmo, por telefone ou fax. Em verdade, 
consoante dissemos acima, esta desoxigenação de sua autonomia negocial justifica-se 
pela própria necessidade social de contratação em massa, impeditiva da celebração 
paritária de contratos deste matiz. No entanto, isso não significa, obviamente, a 
legitimação do abuso de poder econômico, rechaçado pelo próprio sistema, que 
cuidou de consagrar princípios supranegociais, a exemplo da função social do contrato 
e da boa-fé objetiva, insculpidos não apenas no Código Civil, mas também no Código 
de Defesa do Consumidor, e umbilicalmente conectados ao superior (e matricial) 
princípio da dignidade da pessoa humana, com assento constitucional (GAGLIANO; 
PAMPLONA FILHO, 2014b, p.355). 
Conclui-se aqui a natureza jurídica do contrato aqui estudado, havendo sido analisadas 
suas características. Verifica-se que no atual contexto histórico, as seguradoras se utilizam da 
modalidade de contrato de adesão, diante da necessidade do mercado e que embora ocorra uma 
certa limitação negocial em relação às cláusulas por parte do segurado, o ordenamento jurídico 
intervém através dos princípios sociais, estudados ao longo do primeiro capítulo, extraídos da 
Constituição Federal (CF), do CDC e do CCB. 
2.2 Sujeitos e Objeto 
Os sujeitos existentes no contrato de seguro são o segurado e o segurador, sendo possível 
à presença de um terceiro sujeito, estipulado em contrato, como beneficiário. O segurado é, de 
acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2014b, p.358), “[...] pessoa física ou jurídica, 
consumidora da prestação de serviço da companhia seguradora, e que tem a precípua obrigação 
de pagar-lhe uma obrigação pecuniária denominada prêmio, visando a acautelar interesse 
legítimo seu”. 
O segurador deve obedecer ao parágrafo único do art.757 do CCB, segundo o qual 
“Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim 
legalmente autorizada”. O legislador assim exige que para ser uma seguradora, deve existir uma 
autorização legal para tal, que é realizada por uma autarquia, vinculada ao Ministério da 
Fazenda, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), que monitora as atividades 
relacionadas ao seguro no país. 
O segurador, por sua vez, é, necessariamente, pessoa jurídica sob a forma de sociedade 
anônima, cooperativa ou sociedade mútua, devidamente autorizada pelo Poder 
Executivo. Trata-se, portanto, de uma pessoa jurídica que, para ter existência legal, e 
validamente funcionar, exige, além do registro público, autorização específica do 
23 
 
 
governo, sob pena de se reputar inexistente a sua constituição constitucional 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014b, p.358). 
Em relação ao objeto do contrato de seguro, para Gonçalves (2016, p.501) “O risco é o 
objeto do contrato e está sempre presente, mas o sinistro é eventual: pode, ou não, ocorrer. Se 
incorrer, o segurador recebe o prêmio sem efetuar nenhum reembolso e sem pagar indenização”. 
Existe divergência doutrinária acerca do assunto, afirmando que na verdade, o objeto seria o 
interesse segurável. 
Segundo o que observamos modernamente, o seguro dirige-se a proteger a coisa, o 
risco ou um interesse segurável, como mais propriamente hoje se coloca. Melhor 
concluir que esse contrato não possui como objeto exatamente um risco ou proteção 
da coisa, porém mais apropriadamente o que a doutrina denomina a garantia de 
interesse segurável. Esse interesse representa uma relação econômica ameaçada ou 
posta em risco, sendo essencial para a contratação. Nesse diapasão, qualquer conteúdo 
do patrimônio ou atividade humana pode ser objeto de seguro. Sobre a mesma coisa 
podem incidir vários interesses econômicos: sobre um veículo, por exemplo, pode ser 
pactuado seguro contra per- da ou deterioração da coisa, bem como contra danos 
ocasionados a terceiros. Falta interesse, por outro lado, de contratar seguro sobre bem 
alheio, ou interesse de terceiro, porque equivaleria a uma aposta. O interesse deve ser 
próprio do contratante, o que avulta de importância no seguro de vida com relação à 
morte de terceiros (VENOSA, 2014, p. 411). 
O art. 779 do CCB nos diz “O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes 
ou consequentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, 
ou salvar a coisa”. Dessa forma o segurador é responsável também pelo ressarcimento dos 
gastos do segurado ao cumprir o seu dever anexo de colaboração, que está associado ao 
princípio da boa-fé objetiva. 
Ainda em relação ao objeto do seguro, o art.762 do CCB faz referência a hipótese de 
nulidade do contrato, nos casos de fraude no seguro “Nulo será o contrato para garantia de risco 
proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro”. 
Além da nulidade contratual, a conduta descrita é tipificada como crime de estelionato pelo 
Código Penal Brasileiro (CPB): 
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, 
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro 
meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 
§ 1.º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a 
pena conforme o disposto no art. 155, § 2.º. 
 § 2.º Nas mesmas penas incorre quem: 
[...] V - Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo 
ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver 
indenização ou valor de seguro. 
24 
 
 
 
Essa vedação do legislador ao conhecido golpe do seguro é de vital importância para 
manutenção dos seguros, pois se isso não ocorresse a atividade das seguradoras se tornaria 
inviável, devido ao número de indenizações pagas, decorrentes de fraude. Ademais, o aspecto 
aleatório do contrato de seguro, estaria falido. 
2.3 Espécies de seguro 
Inicialmente podemos verificar a distinção entre seguros sociais e seguros privados 
realizada por Gonçalves (2016, p.508) “Podem-se distinguir, os seguros sociais dos seguros 
privados. Estes são, em regra, facultativos e dizem respeito a coisas e pessoas. Aqueles, de 
cunho obrigatório, tutelam determinadas classes de pessoas, como os idosos, os inválidos, os 
acidentados no trabalho [...]”. 
Como o objeto do estudo são os chamados seguros privados, analisaremos as suas 
espécies, que são os seguros de dano e o seguro de pessoas. O primeiro é referente ao seguro 
de responsabilidade civil e ao seguro de coisas, enquanto o segundo trata do seguro de vida e 
do seguro de acidentes pessoais. 
2.3.1 Seguro de dano 
O seguro de dano possui claramentenatureza indenizatória, isto é não tem caráter 
especulativo, objetivando a reparação do dano sofrido, motivo pelo qual o valor da cobertura 
contratada não pode ultrapassar o valor do bem segurado. O CCB trata dessa regra no art. 778 
“Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado 
no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação 
penal que no caso couber”. 
Essa regra visa coibir o enriquecimento sem causa por parte do segurado, à semelhança 
do art.781 também do CCB, que diz “A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse 
segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado 
na apólice, salvo em caso de mora do segurador”. Aqui verifica-se a possibilidade de 
25 
 
 
depreciação do valor do bem segurado em relação ao que foi estipulado na apólice, sobre essa 
possibilidade Gonçalves (2016, p. 512): 
Pode ocorrer variação do valor do interesse segurado. Tal circunstância deve ser 
considerada, para que o sinistro não resulte em fonte de lucro para o segurado, ou, ao 
contrário, em fonte de prejuízo, quando, por exemplo, o pagamento do prêmio foi feito 
com base no valor fixado inicialmente na apólice. A rigor o montante do prêmio é 
fixado com base na indenização estimada em função do valor do interesse segurado. 
Se a coisa se desvaloriza, a indenização não pode ultrapassar o valor que possuía no 
momento do sinistro. 
O CCB também prevê a possibilidade da contratação de mais de um seguro sobre a mesma 
coisa, desde que o segurado comunique previamente a seguradora sobre sua intenção e o valor 
a ser contratado, a fim de que se possa adequar o contrato as regras acima, conforme orientação 
do art. 782: 
O segurado que, na vigência do contrato, pretender obter novo seguro sobre o mesmo 
interesse, e contra o mesmo risco junto a outro segurador, deve previamente 
comunicar sua intenção por escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende 
segurar-se, a fim de se comprovar a obediência ao disposto no art. 778. 
Existe também a possibilidade da contratação de um valor abaixo do valor real da coisa, 
de acordo com o art. 783 do mesmo CCB “Salvo disposição em contrário, o seguro de um 
interesse por menos do que valha acarreta a redução proporcional da indenização, no caso de 
sinistro parcial”. A afirmativa no início do artigo, salvo disposição em contrário, permite que 
os sujeitos do seguro possam acordar sobre a matéria. 
A outra modalidade referente ao seguro de dano é o seguro de responsabilidade civil, que, 
como o próprio nome sugere, é referente à cobertura sobre a responsabilidade civil do segurado 
perante terceiros. O art. 787 do CCB, informa que: 
No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e 
danos devidos pelo segurado a terceiro. 
§1º. Tão logo saiba o segurado das consequências de ato seu, suscetível de lhe 
acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador. 
§ 2o É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem 
como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência 
expressa do segurador. 
§ 3o Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador. 
§ 4o Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for 
insolvente. 
O §1º, fala sobre a obrigação do segurado em comunicar ao segurador a ocorrência de 
sinistro, esta obrigação é reflexo do dever anexo de informação, relacionado ao princípio da 
26 
 
 
boa-fé objetiva. O §2º, fala sobre a possibilidade de o segurado celebrar acordo, reconhecendo 
sua culpa, mas tal acordo deve ser acompanhado de um representante da seguradora, pois é 
parte interessada. 
O §3º, também é resultado do dever de informação. O §4º, explica que não hipótese de 
insolvência da seguradora, a responsabilidade do segurado perante o terceiro permanecerá, 
nessa situação o segurado pode posteriormente entrar com ação regressiva contra a companhia 
seguradora. 
2.3.2 Seguro de pessoas 
O seguro de pessoas possui características próprias. Para Tartuce (2015, p.672) “Esse 
contrato de seguro visa à pessoa humana, protegendo-a contra riscos de morte, 
comprometimentos da sua saúde, incapacidades em geral e acidentes que podem atingi-la”. 
Gagliano e Pamplona Filho (2014b, p. 399) explicam que: 
O seguro de pessoa, já comentado, escapa da natureza compensatória dos seguros em 
geral, consistindo em obrigações especiais acautelatórias de eventuais violações a 
direitos da personalidade. Desdobra-se tal espécie contratual em outras duas 
específicas, a saber, o seguro de vida e o seguro de acidentes pessoais, ambas 
modalidades negociais especiais, que visam a cobrir riscos de lesões a bens 
extrapatrimoniais insuscetíveis de valoração, o que justifica o tratamento diferenciado 
por parte do legislador. 
Portanto, diferente do seguro de dano, sua natureza não é meramente indenizatória, não 
existindo aquela proibição sobre o limite a ser contratado, pois o bem a ser valorado é a vida. 
Segundo Tartuce (2015, p.672) “[...] Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente 
estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, 
com o mesmo ou diversos seguradores”. 
Diante das modalidades de seguro de pessoas, o seguro de vida pode ser considerado o 
de maior relevância. Gonçalves (2016, p. 520), explica: 
Na sua constituição, a duração da vida humana atua como parâmetro para o cálculo 
do prêmio devido ao segurador, que se obriga a pagar ao beneficiário um capital ou 
uma renda, por morte do segurado ou para a hipótese de sobreviver por um prazo 
determinado. O seguro de vida tem por objeto garantir, mediante o prêmio que se 
ajustar, o pagamento de certa soma a determinada ou determinadas pessoas, por morte 
do segurado, sendo considerado, neste caso, seguro de vida propriamente dito. 
27 
 
 
Em relação à natureza do seguro de vida, podemos ver claramente que tratamos de 
estipulação em favor de terceiros, uma vez que o pagamento da indenização, decorrente da 
morte do estipulante, será realizado ao beneficiário indicado no contrato, ou aos herdeiros 
legais. Sobre o assunto o art.792 do CCB nos diz: 
Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não 
prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não 
separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da 
vocação hereditária. Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, 
serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios 
necessários à subsistência. 
O legislador permitiu através do art.797 do CCB, que a seguradora pode estipular um 
chamado período de carência, dessa forma ocorrendo um sinistro dentro do respectivo período 
a o segurador não teria a responsabilidade de indenizar, mas terá que devolver o valor 
constituído como reserva técnica até o momento da ocorrência do fato, ao beneficiário. 
2.4 Instrumentos contratuais 
Os instrumentos do contrato estudado são à apólice e o bilhete de seguro. O primeiro deve 
respeitar a forma expressa e conter todas as cláusulas acordadas entre as partes. O segundo, 
referente a alguns casos específicos, são efetuados por bilhetes, documento mais simples. O 
principal exemplo de bilhete, é o caso do seguro obrigatório de danos pessoais causados por 
veículos automotores de vias terrestres (DPVAT). 
É importante ressaltar que a apólice não deve ser confundida com o próprio contrato de 
seguro, de acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2014b, p. 372): 
A apólice tem dimensão menor: trata-se, simplesmente,do instrumento que 
consubstancia e descreve os limites de incidência do seguro pactuado. Por meio da 
apólice, portanto, descreve-se o risco e delimita-se o período de vigência do seguro, 
em dias e horas, visando, com isso, a tornar clara e precisa a assunção do risco pelo 
segurador, permitindo, em contrapartida, ao segurado, ter a exata noção da 
abrangência do seu direito. 
Em relação à forma, tanto a apólice quanto o bilhete de seguro podem ser nominativas, à 
ordem ou ao portador. A forma nominativa, quer dizer que pode ser transferida através de 
cessão civil; à ordem, significa dizer que é transmissível através de endosso; e ao portador, 
significa que sua transmissão pode ocorrer através de simples tradição ao detentor da apólice. 
O CCB fala sobre o assunto em seu art.760: 
28 
 
 
A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e 
mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia 
e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. 
Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não podem ser ao 
portador. 
O parágrafo único conforme pode ser observado faz uma ressalva em relação a forma do 
seguro de pessoas, segundo Gagliano e Pamplona Filho (2014b, p.373) “ No seguro de pessoas, 
a exemplo do seguro de vida, a apólice ou o bilhete não podem ser ao portador”. 
2.5 Prescrição 
Na concepção de Gagliano e Pamplona Filho (2014b, p.408) “[...] É a perda da pretensão 
de reparação do direito violado, em virtude da inércia do seu titular no prazo previsto pela lei. ” 
Dessa forma o que acontece é que o detentor do direito, perde a possibilidade de acionar 
judicialmente aquele a quem o violou. 
Neste caso, a obrigação jurídica prescrita converte-se em obrigação natural, que é 
aquela que não confere o direito de exigir seu cumprimento, mas, se cumprida 
espontaneamente, autoriza a retenção do que foi pago. Tem por objeto direitos 
subjetivos patrimoniais e disponíveis, não afetando, por isso, direitos sem conteúdo 
patrimonial direto como os direitos personalíssimos, de estado ou de família, que são 
irrenunciáveis e indisponíveis. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,2014b, p.408) 
 A regulação dos prazos prescricionais relacionados aos seguros está prevista no CCB, 
através do art.206, § 1º, II, alíneas a e b, e § 3º, IX., assim vamos primordialmente analisar o 
parágrafo primeiro: 
Prescreve: 
§ 1º. Em um ano: [...] 
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o 
prazo: 
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é 
citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da 
data que a este indeniza, com a anuência do segurador 
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão. 
É interessante observar na leitura deste dispositivo, que o legislador estabelece o prazo 
prescricional de um ano, para que o segurado acione judicialmente a companhia seguradora e 
mantém esse mesmo prazo, para a hipótese da seguradora através da sub-rogação de direitos, 
acionar o terceiro causador do dano. Sobre o assunto possuímos decisão do STJ: 
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RECURSO ESPECIAL Nº 77.397 – RJ (95.0054269-9). RELATOR: MINISTRO 
EDUARDO RIBEIRO. RECORRENTE: GENERAL ACCIDENT COMPANHIA 
DE SEGUROS. ADVOGADOS: MARCOS ANTONIO FERREIRA DA COSTA E 
OUTROS; SERGIO DE SA MENDES E OUTROS. RECORRIDO: AUTO VIAÇÃO 
JABOUR LTDA PRESCRIÇÃO. EMENTA: AÇÃO REGRESSIVA. 
SEGURADOR. SUB-ROGANDO-SE O SEGURADOR NOS DIREITOS DO 
SEGURADO, O PRAZO DE PRESCRIÇÃO DA AÇÃO CONTRA O CAUSADOR 
DO DANO SERA O MESMO ESTABELECIDO PARA AQUELA QUE PODERIA 
SER MOVIMENTADA PELO TITULAR ORIGINARIO DOS DIREITOS. 
Já o parágrafo terceiro faz referência ao prazo prescricional de três anos no seguinte caso 
“ [...] IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso 
de seguro de responsabilidade civil obrigatório”. Nota-se que a parte referente à pretensão do 
beneficiário, trata claramente sobre o seguro de pessoas, onde este é a pessoa indicada pelo 
próprio segurado para receber a indenização. Já na segunda parte é citada a figura do terceiro 
prejudicado, em seguros de responsabilidade civil obrigatório, como é o caso do DPVAT. 
Como o legislador não foi específico para os casos de seguro de responsabilidade civil 
facultativo, o prazo prescricional para terceiros nessa possibilidade é de três anos, obedecendo 
o art.206 §3º, V, do CCB, que trata sobre a pretensão de reparação civil. As demais hipóteses 
obedecem ao prazo de prescrição geral de 10 anos, de acordo com o art.205 do CCB “A 
prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. 
 
 
 
 
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3 POSSIBILIDADE DO TERCEIRO PREJUDICADO AJUIZAR 
AÇÃO DIRETA E EXCLUSIVAMENTE EM FACE DA 
SEGURADORA CONTRATADA PELO CAUSADOR DO DANO 
Diante do que estudamos no decorrer deste trabalho, verificamos que os contratos de 
seguro são utilizados para mitigar possíveis danos, objetivando um risco previamente acordado 
entre o segurado e o segurador. Neste capítulo vamos analisar a possibilidade de um terceiro 
demandar judicialmente, de forma exclusiva, contra a companhia seguradora do possível agente 
causador do dano, nos casos de seguro facultativo de responsabilidade civil. 
Conforme explicado no segundo capítulo, o art. 787 do CCB dispõe “No seguro de 
responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo 
segurado a terceiro”. Diniz (2014, online) esclarece que “O dever de indenizar o terceiro surge 
somente após a certeza de que o dano fora causado por conduta do segurado”. Portanto, é 
necessária a comprovação do nexo de causalidade, entre a conduta e o dano causado, por parte 
do terceiro. 
Na ocasião de um sinistro, muitas vezes o segurado não possui pretensão de acionar a 
seguradora, pois, comercialmente, quem não apresenta ocorrências durante a vigência do 
contrato, é beneficiado em sua renovação através de uma bonificação, fazendo com que o valor 
do prêmio a ser pago seja reduzido. Se o segurado entender que financeiramente é melhor para 
ele realizar o pagamento sem acionar o seguro, é uma faculdade sua, sendo legítimo o seu 
direito. 
É necessário o aprofundamento desta temática por parte dos operadores do direito, para 
que ocorra uma aplicação processual correta, preservando nossa segurança jurídica. Iremos 
analisar em seguida, o conflito de princípios e o posicionamento do tribunal superior sobre o 
caso. 
 
31 
 
 
3.1 Análise principiológica 
De acordo com o que foi estudo no nosso primeiro capítulo, os contratos possuem 
princípios que devem ser respeitados, quando analisamos a possibilidade de um terceiro acionar 
diretamente a seguradora, estaríamos diante de lesão por exemplo aos princípios da relatividade 
dos efeitos dos contratos e do pacta sunt servanda. 
A relatividade dos efeitos dos contratos, trata justamente sobre o limite em relação aos 
seus efeitos, não devendo alcançar terceiros. 
Também consectário lógico da autonomia privada negocial, o princípio da 
relatividade dos efeitos do contrato significa que o contrato apenas obriga e vincula 
suas próprias partes, não podendo ser oponível a terceiros. Na organização clássica do 
direito privado, o princípio ancora na concepção de direitos pessoais, que são relativos 
aos figurantes determinados, oponibilidade às próprias partes (LÔBO, 2014, p.62). 
Como então a seguradora poderia ser acionada diretamente por um terceiro, se os efeitos 
do contrato celebrado por ela, não alcançam esse terceiro e se o pacta sunt servanda, estabelece 
que a força obrigatória do contrato existe entre as partes? Lôbo (2014,p. 60) nos lembra que: 
O contrato obriga as partes contratantes, como se fosse lei entre elas. Seu não 
cumprimento enseja ao prejudicado a execução forçada pelo Poder Judiciário, quando 
possível, ou o equivalente em perdas e danos. A força obrigatória é assegurada pelo 
Estado, ainda que as cláusulas e condições do contrato não sejam normas jurídicas por 
ele editadas. O princípio é consectário natural da autonomia privada negocial. Sua 
mais antiga formulação foi expressa no art. 1.134 do Código Civil francês de 1804: 
‘As convenções legalmente formadas têm força de lei para os que as contraírem’. 
O que ocorre é que existe corrente doutrinária, que entende que estes princípios devem 
ser mitigados, devido ao princípio da função social do contrato, explícito através do art. 421 do 
CCB “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do 
contrato”. Lôbo (2014, p.62), acredita que o princípio da função social do contrato: 
[...] criou profunda contenção ao princípio da relatividade dos efeitos do contrato, 
porque os terceiros integram necessariamente o âmbito social do contrato, que não 
apenas têm o dever de respeitá‐lo, mas também de não serem por ele prejudicados. 
Nesse caso, emergem os deveres de proteção dos terceiros, oponíveis às partes 
contratantes. Quando o contrato puder produzir impactos em interesses difusos e 
coletivos, como os do meio ambiente, os do patrimônio histórico e os dos 
consumidores, então terceiros são ‘todos’, segundo termo significativo utilizado pelo 
art. 225 da Constituição Federal. 
32 
 
 
Inclusive, este entendimento foi afirmado na VI Jornada de Direito Civil, realizada pelo 
Centro de Estudos Judiciários do CJF, através do enunciado nº 544. Abaixo segue a sua 
justificativa: 
Embora o art. 421 do Código Civil faça menção expressa à função social do contrato, 
ainda persiste, em relação ao contrato de seguro de responsabilidade civil facultativo, 
no art. 787 do mesmo diploma, a visão tradicional do princípio da relatividade dos 
contratos. Na linha interpretativa clássica, no seguro de responsabilidade civil, a 
seguradora só é obrigada a indenizar a vítima por ato do segurado senão depois de 
reconhecida a responsabilidade deste. Como não há relação jurídica com a seguradora, 
o terceiro não pode acioná-la para o recebimento da indenização. Pela teoria do 
reembolso, aplicável neste caso, o segurador garante o pagamento das perdas e danos 
devidos a terceiro pelo segurado a terceiro quando este for condenado em caráter 
definitivo. Por conseguinte, assume a seguradora a obrigação contratual de reembolsar 
o segurado das quantias que ele efetivamente vier a pagar em virtude da imputação de 
responsabilidade civil que o atingir. A regra acima, omissa no Código Civil de 1916, 
ao invés de representar a evolução na concepção do contrato de seguro, dotado de 
função social, corresponde ao paradigma de que o contrato não pode atingir - seja para 
beneficiar ou prejudicar - terceiros que dele não participaram. No seguro de 
responsabilidade civil, o segurado paga o prêmio à seguradora a fim de garantir 
eventual indenização a terceiro por danos causados. De tal sorte, a vítima tem 
legitimidade para pleitear diretamente do segurador o pagamento da indenização ou 
concomitantemente com o segurado. Há, portanto, uma estipulação em favor de 
terceiro, que somente será determinado se ocorrer o sinistro, tendo em vista a álea 
presente nesse contrato. Permite-se concluir que o seguro de responsabilidade civil 
facultativo garante dois interesses, o do segurado contra os efeitos patrimoniais da 
imputação de responsabilidade e o da vítima à indenização, ambos destinatários da 
garantia, com pretensão própria e independente contra a seguradora. 
Outro princípio que devemos questionar se seria respeitado, é o da ampla defesa, já que 
o segurado não faz parte do processo, a seguradora muito provavelmente não conseguirá 
constituir provas para exclusão de ilicitude ou até mesmo a inexistência do fato, alegado pelo 
terceiro. Onde o segurado, é o mais apto para atender o ônus da prova, conforme o art. 373, 
inciso II, do CPC “O ônus da prova incumbe: II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, 
modificativo ou extintivo do direito do autor”. 
De acordo com Diniz (2014, online), não seria somente a companhia seguradora a 
prejudicada: 
A referida ação direta também prejudica o direito à ampla defesa do próprio terceiro, 
pois, processualmente, este não teria condições e legitimidade para afastar as 
alegações da seguradora, referentes ao contrato de seguro, do qual ele não é parte. 
Responsabilizar apenas o segurador tornará processualmente inviável a sustentação 
eficaz da ausência de culpa do segurado, o que prejudicará uma coletividade de 
segurados. Não é demasiado lembrar que a seguradora, na qualidade de gestora de um 
fundo comum, administra grupos que possuem os mesmos riscos futuros e incertos, 
baseados em cálculos atuariais, que proverão os prejuízos de alguns. 
33 
 
 
Podemos citar outra decisão do mesmo Tribunal Superior, onde o Ministro Relator, Aldir 
Passarinho Junior, faz referência a questão do possível cerceamento de defesa da seguradora, 
caso fosse possível a hipótese debatida. 
RECURSO ESPECIAL Nº 256.424 – SE (2000/0039923-0). RELATOR: MINISTRO 
ALDIR PASSARINHO JUNIOR. RECORRENTE: JOSEFA DE JESUS 
SANTANA. ADVOGADO: ANTONIO FERNANDO VALERIANO E OUTROS. 
RECORRIDO: MARITMA SEGUROS S/A. ADVOGADO: JACO CARLOS SILVA 
COELHO E OUTROS.CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. AÇAO DIRETA 
MOVIDA POR VÍTIMA CONTRA A SEGURADORA SEM A PRESENÇA DO 
SEGURADO NA LIDE. IMPOSSIBILIDADE. I. Diversamente do DPVAT, o seguro 
voluntário é contratado em favor do segurado, não de terceiro, de sorte que sem a sua 
presença concomitante no pólo passivo da lide, não se afigura possível a demanda 
intentada diretamente pela vítima contra a seguradora. II. A condenação da seguradora 
somente surgirá se comprovado que o segurado agiu com culpa ou dolo no acidente, 
daí a necessidade de integração do contratante, sob pena, inclusive, de cerceamento 
de defesa. III. Recurso especial não conhecido. 
Verificamos um embate em relação aos princípios aplicados no contrato de seguro, 
inclusive como foi citado acima, com decisões conflituosas sobre o tema. A diante iremos 
verificar o atual posicionamento jurisprudencial. 
3.2 Análise jurisprudencial 
Existe decisão do STJ, proferida no ano de 2011, reconhecendo a legitimidade de terceiro, 
tendo como base a função e o aspecto social do contrato de seguro: 
RECURSO ESPECIAL Nº 1.245.618 – RS (2011/0065463-7) 
RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI 
RECORRENTE: REAL SEGUROS S/A 
ADVOGADO: SIRLEI MARIA RAMA VIEIRA SILVEIRA E OUTRO (S) 
RECORRIDO: RENATO NEUMANN – ESPÓLIO 
REPR. POR: IRIA NAIR METZ NEUMANN – INVENTARIANTE 
ADVOGADO: LENY CAMARGO FISCH E OUTRO (S) 
EMENTA CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO 
SECURITÁRIA. AÇÃO PROPOSTA DIRETAMENTE EM FACE DA 
SEGURADORA SEM QUE O SEGURADO FOSSE INCLUÍDO NO POLO 
PASSIVO. LEGITIMIDADE. 1. A interpretação de cláusula contratual em recurso 
especial é inadmissível. Incidência da Súmula 5/STJ. 2. Inexiste ofensa ao art. 535 
do CPC, quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a 
questão posta nos autos. 3. A interpretação do contrato de seguro dentro de uma 
perspectiva social autoriza e recomenda que a indenização prevista para reparar os 
danos causados pelo segurado a terceiro seja por este diretamente reclamada da 
seguradora. 4. Não obstante o contrato de seguro ter sido celebrado apenas entre o 
segurado e a seguradora, dele não fazendo parte o recorrido, ele contém uma 
estipulação em favor de terceiro. E é em favor desse terceiro na hipótese, o recorrido 
que a importância segurada será paga. Daí a possibilidade de ele requererdiretamente 
da seguradora o referido pagamento.5. O fato de o segurado não integrar o polo 
passivo da ação não retira da seguradora a possibilidade de demonstrar a inexistência 
34 
 
 
do dever de indenizar. 6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não 
provido. 
A ministra relatora cita o princípio da função social e também o princípio constitucional 
da solidariedade, que está disposto no art. 3º, inciso I, da Constituição Federal (CF) “Constituem 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, 
justa e solidária”. 
É importante relembrar aqui que os sujeitos dentro da relação contratual, são o segurado 
e a seguradora, onde: 
[...] O terceiro será sempre figura estranha ao contrato de seguro facultativo de 
responsabilidade civil, posto que a seguradora não firmou qualquer pacto, bem como 
não praticou qualquer ato ilícito contra o mesmo. O segurado é quem possui a 
faculdade de acionar a seguradora, em razão de seu vínculo contratual e os respectivos 
limites, nos casos em que se vê diante da hipótese de reparar dano causado a terceiro 
(DINIZ, 2014, online). 
Devido a diversos recursos que tramitavam dentro do STJ, sobre esta mesma matéria, 
ficou diagnosticada sua relevância geral, para que o tribunal não tivesse que julgar 
individualmente esses recursos, respeitando o princípio da celeridade processual e evitando que 
fossem tomadas decisões controvérsias, que afetariam nossa segurança jurídica. Art. 1.036 do 
CPC: 
Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com 
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo 
com as disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do 
Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça. 
Assim, o STJ, se manifestou de forma definitiva sobre o assunto, através do julgamento 
de recurso repetitivo, estabelecendo que não é possível o acionamento da seguradora, direta e 
exclusivamente por terceiro, pois não existe relação de direito material entre os mesmos, como 
pode ser verificado através da ementa abaixo: 
RECURSO ESPECIAL Nº 962.230 - RS (2007/0140983-5) RELATOR: MINISTRO 
LUIS FELIPE SALOMÃO. RECORRENTE: IRMÃOS CASTRO LTDA. 
ADVOGADO: SÉRGIO PEREIRA DA SILVA E OUTRO (S). RECORRIDA: 
BRADESCO AUTO/RE COMPANHIA DE SEGUROS. ADVOGADA: CARMEN 
SUZANA LAGRANHA ADEMIRES E OUTRO (S). DESPACHO. 1. Cuida-se de 
recurso especial interposto contra acórdão assim ementado: Apelação cível. 
Responsabilidade cível em Acidente de trânsito. Ação de indenização. Ação direta 
contra a seguradora. Carência de ação reconhecida em primeiro grau. Não havendo 
relação de direito material entre a demandante e a seguradora ré, mantém-se a sentença 
de carência de ação por ilegitimidade passiva. Apelo não provido. (fl. 132, e-STJ) Às 
35 
 
 
razões do recurso especial, fundado nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, 
o recorrente sustenta, em síntese, a possibilidade de a vítima de sinistro ajuizar ação 
indenizatória diretamente contra a seguradora do pretenso causador do dano, ainda 
que não tenha feito parte do contrato de seguro. 2. Verifico que há multiplicidade de 
recursos que ascendem a esta Corte a versar sobre o tema. Por isso, afeto o julgamento 
do presente recurso especial à e. Segunda Seção, nos termos do art. 543-C do CPC, 
bem como da Resolução n. 08/2008. 
Sobre a ação que deu origem a este recurso, o recorrente alegou que se envolveu em um 
sinistro com um veículo segurado através da recorrente e dessa forma iniciou os reparos de 
forma particular, sem nenhuma comunicação a seguradora. Cobrando da ré, indenização pelos 
danos materiais sofridos. 
Inicialmente nós já visualizamos que não foi cumprida a obrigação de comunicar a 
seguradora a ocorrência do sinistro, decorrente do dever anexo de informação e prevista no 
art.787 do CCB. Pois o processo de indenização por parte da seguradora é realizado, 
obedecendo as diretrizes da SUSEP, onde é realizada vistoria de constatação dos danos, para 
verificação do nexo de causalidade, onde após constatada a culpa do segurado, a seguradora irá 
providenciar o conserto ou caso necessário, o pagamento do valor de mercado do veículo, 
conforme tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Não podendo assim o 
terceiro, simplesmente consertar o veículo e posteriormente cobrar da seguradora. 
Sobre a ilegitimidade da seguradora de figurar no pólo passivo, o Ministro Relator, Luís 
Felipe Salomão, afirma que: 
[...] não parece cabível o ajuizamento de ação de indenização direta e exclusivamente 
contra a seguradora do suposto causador do acidente, sem a participação desse no 
processo [...] não há propriamente uma relação jurídica de direito material entre o 
terceiro e seguradora, sendo que a solidariedade nasce somente por força de relação 
de direito processual, entre vítima e seguradora, e de uma obrigação aquilina 
reconhecida judicialmente, entre o segurado e a vítima, sem a qual não haveria 
responsabilidade da seguradora de indenizar os danos sofridos por terceiros. O traço 
que caracteriza e conceitua o seguro de responsabilidade civil facultativo, qual seja, o 
de neutralizar a obrigação do segurado em indenizar danos causados a terceiros, nos 
limites dos valores contratados, razão pela qual não se dispensa, para exigir-se a 
cobertura securitária, a verificação da responsabilidade civil do segurado do sinistro. 
Dessa forma o segurador somente participa do processo, em conjunto com o segurado, 
através de litisconsórcio passivo, não ocorrendo o reconhecimento de relação jurídica entre a 
seguradora e o terceiro, ainda mais devido à natureza do seguro de responsabilidade civil 
facultativo, pois deve ser comprovada a responsabilidade do segurado, para que a seguradora 
36 
 
 
possa indenizar, mediante aos valores estipulados na apólice. Ocorreria uma violação do devido 
processo legal, uma vez que o segurado não estaria presente. 
A forma de chamamento ao processo em relação a seguradora, deve ser através da 
denunciação da lide, prevista no art. 125 do Código de Processo Civil (CPC) “É admissível a 
denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: [...] II - àquele que estiver obrigado, 
por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no 
processo”. Sobre o tema Didier Júnior (2010, p.338), esclarece que a denunciação da lide não 
é obrigatória, onde “[...] na verdade, é um ônus processual: conquanto diga a lei que a 
denunciação da lide é obrigatória, na verdade é facultativa”. 
Em 2015, foi publicada a Súmula 529 do STJ, encerrando a discussão sobre o assunto, 
afirmando que: “No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de 
ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado 
causador do dano". 
Assim sendo, diferentemente dos casos do seguro de responsabilidade civil obrigatório, 
de acordo com o art. 788 do CCB “Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a 
indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado”, nos 
casos do seguro de responsabilidade civil facultativa a seguradora não poderá ser acionada 
diretamente pelo terceiro, pois o detentor deste direito é o próprio segurado. 
[...] o nosso Código adotou, para o facultativo, o modelo de reembolso, pelo qual o 
interesse primordialmente amparado seria a reposição do patrimônio do segurado, 
diminuído pelo cumprimento de obrigação, fruto de responsabilidade por evento 
traçado contratualmente. Enquanto que, para o obrigatório, retirou-lhe a característica 
de seguro de reembolso e, por isso mesmo, deu a este a titularidade e legitimidade 
processual para

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