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Humanismo Carolina Lisboa A Psicologia Humanista ou Terceira Força, como também foi cha- mada, surge na década de 60 com o in tu i to de subst i tu i r o Comportamentalismo e a Psicanálise, duas correntes teóricas muito im- portantes e influentes na época. Os psicólogos que fundaram esta linha de pensamento acreditavam em quatro pontos cruciais a respeito dos seres humanos: 1.Ênfase na experiência consciente como foco da compreensão do ser humano 2.Crença na integralidade das forças ad natureza e do comportamento humano; 3.Valorização do livre arbítrio, espontaneidade e criatividade; 4.Estudo de tudo que seja importante para a condição humana. O foco no homem é que justifica o nome desta linha teórica. Os psicólogos humanistas não acreditam que as pessoas são go- vernadas por forças inconscientes que determinam o curso de seus com- portamentos. Para os humanistas, as pessoas são seres conscientes, es- pontâneos e livres e são igualmente influenciadas pelo seu futuro e seu presente tanto quanto pelo seu passado. Os humanistas eram psicólogos essencialmente "otimistas" que creditavam à personalidade humana o poder criativo de se "criar e recriar-se" (Schultz & Schultz, 1999). Todos os aspectos da experiência humana são levados em consi- deração pelo Humanismo. Os psicólogos humanistas trabalhavam com o ódio, a raiva, o medo, a esperança, o bom humor, a responsabilidade, etc. Estes aspectos não eram tratados por muitos manuais de Psicologia na época por não serem passíveis de mensuração e quantificação operacional. Os críticos do referencial teórico Humanista afirmavam que os temas propostos eram "vagos" e pouco científicos. Talvez por esta razão, os psicólogos humanistas tenham escrito pouco e também realizado poucas pesquisas. Estes, na sua maioria, se concentraram em consultórios ou clínicas particulares realizando trabalhos individuais ou em grupos (Schultz & Schultz, 1999). Ao contrário da corrente psicanalítica, o Humanismo se centra em pessoas psicologicamente saudáveis mais do que em pessoas emoci- onalmente perturbadas. O método terapêutico também era diferente. A terapia era considerada um processo de crescimento, no qual trabalha- se com o momento presente (o "aqui e agora"), a experiência consciente e, sobretudo, a crença no potencial saudável do ser humano. O modelo terapêutico utilizado pelo referencial humanista tem in- fluência do trabalho de Kurt Lewin e de teóricos da Psicologia Social. Esta área e teoria utilizava as chamadas teorias de crescimento com pessoas de saúde mental comprometida para elevar seus estados de consciência, aprimorar os relacionamentos interpessoais, desenvolvimento da criatividade e autonomia pessoal (Fadiman & Frager, 1986). A seguir serão destacados dois nomes importantes que realizaram um trabalho sério referente ao estudo da natureza e da conduta humana e que são considerados "pais" e representantes do Humanismo. Abraham Maslow (1908-1970) Pesquisadores e historiadores acreditam que Abraham Maslow foi responsável por difundir o movimento humanista e conferir-lhe certo grau de respeitabilidade acadêmica. Seu objetivo era compreender as potencialidades máximas dos seres humanos. A partir disto, desenvolveu uma teoria da personalidade que se concentra na motivação individual para o crescimento. Ele acredita que os seres humanos podiam se desenvolver e realizar seu "eu" e concretizar de modo pleno todas suas capacidades. Maslow nasceu no Brooklyn , em Nova York. Seu pai era alcoólatra e desaparecia por longos períodos de tempo. A mãe era muito rígida com ele, punindo-o por qualquer comportamento que considerava incorreto. Também era nítida a diferença afetiva que esta fazia com relação aos dois filhos mais novos. Para Maslow, suas experiências na família tiveram importante influência durante toda sua vida, considerando este que o ódio e a revolta que sentia impulsionaram a construção da sua filosofia de vida (Fadiman & Frager, 1986). Maslow estudou na Universidade de Cornell, onde, segundo ele, suas primeiras aulas foram repugnantes. Os professores eram Wundt, Titchener e as correntes teóricas dominantes eram o Estruturalismo e a Psicologia realizada nos laboratórios (ver capítulo Hist - ria da Psicologia). Maslow se transferiu para a Universidade de Winsconsin e terminou sua formação (Doutorado) em 1934. O nascimento de seu primeiro filho, sua experiência na II Guerra e o contato com a Psicologia da Gestalt, a filosofia e a psicanálise freudiana o fizeram repensar as teorias mecanicistas (como comportamentalismo) que havia visto largamente durante seus anos de formação acadêmica (Schultz & Schultz, 1999). Segundo a perspectiva teórica de Abraham Maslow, considerado um psicólogo humanista, cada pessoa traz em si uma tendência inata para se auto realizar. Ou seja, alcançar um nível superior da experiência humana, conseguir usar todas suas qualidades e capacidades, atualizando seu potencial. Entretanto, ele também afirmou que para chegar a este estágio, para se auto realizar a pessoa precisava satisfazer as suas necessidades que estão na escala mais baixa da pirâmide das necessidades ou hierarquia das necessidades. Para Maslow, estas necessidades são inatas e cada uma delas deve ser satisfeita para que a próxima necessidade surja. A motivação interna é que determina a necessidade das pessoas para "avançar" nesta pirâmide. Na ordem como aparecem na pirâmide, para Maslow, as necessidades humanas são separadas em grupos: Necessidades Fisiológicas: são todas as necessidades determinadas essencialmente pelo aspecto biológico: fome, sono, desejo sexual, etc. Estas necessidades estão relacionadas à sobrevivência imediata dos homens, representando demandas fisiológicas que fazem a pessoa buscar sua satisfação. Necessidades de Segurança: são as necessidades que a pessoa tem de defender-se de perigos (reais ou imaginários). A busca pela segurança, pela estabilidade, previsibilidade, fuga do perigo encontram- se listadas neste grupo de necessidades. Como as necessidades abordadas acima, este grupo também se relaciona à sobrevivência do indivíduo. Necessidades Sociais: relacionadas, basicamente, às experiências interpessoais. A satisfação destas necessidades está relacionada ao exercício pleno da cidadania e envolve, conseqüentemente, o desen- volvimento das habilidades de viver em grupo. Necessidades de Auto-Realização: para Maslow este grupo está no final da pirâmide e significa a realização plena do indivíduo, o que denominamos anteriormente de auto-realização. Para este teórico, ao chegar esta etapa da pirâmide ou hierarquia das necessidades, o indiví- duo desejaria transcender, atualizando seu potencial saudável e criativo. São exemplos de atividades que representam a satisfação destas neces- sidades: acreditar em uma filosofia de vida, realizar cursos de complementação profissional, realizar projetos sociais, etc. A maioria de pesquisas realizadas por Maslow concentrou-se em pessoas consideradas psicologicamente saudáveis. Este teórico concluiu que estas pessoas não representavam nem 1% da população. O perfil delas, segundo ela, era pessoas livres de neuroses e psicoses e que, em geral, possuíam mais de 50 anos. As pessoas saudáveis na perspectiva de Maslow seriam aquelas que: (1) percebem a realidade de forma consciente e objetiva; (2) aceitam sua própria natureza e condição humana; (3) comprometem-se e dedicam-se a algum tipo de trabalho; (4) são espontâneas para expressar seus comportamentos; (5) apresentam ne- cessidade de terautonomia, iniciativa e privacidade; (6) resistem ao con- formismo; (7) são pessoas justas e democráticas; (8) são criativas; (9) possuem interesse em causas e questões sociais; e (10) passaram, já uma o mais vezes, por uma experiência mística ou culminante (momento de êxtase, deleite, alegria intensa; (Fadiman & Frager, 1986). Fica claro, nesta descrição, a posição otimista e valorativa da condição humana preconizada por Maslow e por todo o movimento humanista. Para muitas pessoas pode ser tranqüilizador pensar que todos nós somos capazes de alcançar o estado próximo da perfeição. Para outras pode ser considerada uma visão ingênua e fantasiosa acerca dos homens. Os críticos ainda salientam que Maslow realizava pesquisas com amostra pequenas da população o que prejudica a generalização de seus resultados. A teoria de Maslow, portanto, tem um baixo grau de validade cientifica, mas é muito aplicada ao mundo do trabalho (empresas), na psicoterapia e na educação. Cari Rogers (1902-1987) Cari Rogers é considerado um psicólogo humanista, mas é também ou principalmente o fundador da Terapia Centrada no Cliente ou Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Para Rogers, assim como Maslow, as pessoas possuem uma motivação interna para atualizar suas capacidades e potenciais. Entretanto, Rogers não estudou corno Maslow pessoas saudáveis, mas indivíduos emocionalmente perturbados corno ele próprio definiu. Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) recebe este nome porque considera que o ser humano pode alterar consciente e racionalmente seus comportamentos e pensamentos desagradáveis ou não saudáveis. Esta terapia ou abordagem não acredita que as pessoas possam ser determinadas por forças inconscientes e pelo passado. A ACP acredita que a personalidade é determinada pelo momento presente e pela maneira como o percebemos conscientemente (Justo, 1978; Schultz & Schultz, 1999). Cari Rogers nasceu nos arredores da cidade de Chicago em 1902. Tinha cinco irmãos e fazia parte de uma comunidade protestante. Seus pais valorizavam uma educação moral, conservadora e muito religiosa. Cari Rogers sempre foi um aluno brilhante. Em 1946 foi presidente da Associação Americana de Psicologia e em 1956 presidiu a Academia, Americana de Psicoterapia. Seu nome ainda fez parte da lista de indicações ao Prêmio Nobel da Paz, mas este veio a falecer antes mesmo de recebê-lo. Rogers faleceu em 1987 na Califórnia. Quando tinha vinte e dois anos de idade e assistia uma conferência de estudantes cristãos na China, começou a questionar as crenças religiosas fundamentalistas dos seus pais e passou a desenvolver uma filosofia de vida mais liberal. A partir desta filosofia, acreditava que as pessoas devem confiar na sua interpretação dos fatos da vida e nas suas reais experiências. Juntamente com a crença de que as pessoas podem melhorar a si mesma de forma consciente temos os dois pilares da teoria da personalidade de Carl Rogers (Fadiman Frager, 1986; Schultz 8z, Schultz, 1999). Rogers adota a palavra cliente ao invés do tradicional termo pa- ciente. Para ele, paciente é uma pessoa que em geral está doente e precisa de ajuda. Um cliente e aquele que vai buscar por um serviço que julga não poder realizar sozinho. O cliente pode ter problemas, mas é ainda uma pessoa capaz de entender e mudar sua situação. Já o paciente remonta à idéia de passividade à espera de "cura" (Justo, 1978; Rogers, 1999). A condição básica para sucesso ou êxito em um processo de psicoterapia é estima positiva incondicional ou aceitação positiva incondicional. Ou seja, o terapeuta deve demonstrar sua aceitação ao cliente, sem julgar o comportamento do mesmo. Aceitar o cliente como este é, estimulando-o a auto-atualizar-se, buscar sua saúde interna, sem oferecer-lhe a "cura" ou orientações específicas de modificação do comportamento que o terapeuta julgue adequadas. O cliente que percebe esta aceitação positiva incondicional não desenvolve condições de valor e não terá de reprimir nenhum aspecto emergente do seu eu (Rogers, 1999). Existem conceitos teóricos e vivenciais importantes da ACP que precisam ser especificados nas suas definições: -Self: Para Rogers, self é o "eu" organizado e consciente em um processo constante de formar-se e reformar-se à medida que as situações se modificam a vida. É um campo vivencial, é dinâmico. -Self ideal: è o conjunto de características que o indivíduo gostaria de poder reclamar como descritivas de si mesmo. Um abismo entre o self e o self ideal pode causar sofrimento ao ser humano. -Congruência: É o grau de exatidão entre a comunicação e a tomada de consciência. O indivíduo congruente é aquele que expressa de forma fidedigna seus sentimentos verdadeiros. -Incongruência: Observa-se quando existem diferenças entre a tomada de consciência, a experiência e a comunicação. Para Cari Rogers, todas as pessoas possuem a tendência a auto- atualização. Esta auto-atualização seria o nível mais alto de saúde psicológica, alcançada por meio do funcionamento pleno. Este termo ou princípio é muito semelhante ao proposto por Abraham Maslow (Fadiman & Frager, 1986; Rogers, 1999). A ACP teve grande impacto sobre a psicologia e sobre o público em geral. Esta abordagem foi muito utilizada em clínicas e também na área da educação. A ênfase na importância do eu e da experiência consciente foram bem recebidas na Psicologia. As críticas a este modelo teórico residem no falta de especificidade no conceito de auto-atualização inata, bem como a exclusão de possíveis influências inconscientes. Apesar de todas estas características, alguns teóricos ressaltam que a Psicologia Humanista não chega a caracterizar-se uma escola de pensamento. Uma das razões para que este julgamento aconteça é que a maioria dos psicólogos humanistas sempre trabalharam em consultórios particulares e muito pouco dentro das universidades. Ao contrário de psicólogos acadêmicos, os humanistas não fizeram um vasto número de pesquisas e publicações, treinando novas gerações de alunos à continuidade e tradição (Schultz & Schultz, 1999). Mesmo que alguns pesquisadores e historiadores discordem que a Psicologia Humanista seja uma escola teórica, esta corrente de pensamento reforça a idéia de que podemos livremente preferir e moldar nossa própria vida. Os humanistas desenvolveram tratamentos terapêuticos que favorecem a auto-atualização, a responsabilidade pessoal e a liberdade de escolha, promovendo dentre outras coisas, o exercício da cidadania. Referências Bibliográficas FADIMAN, J. & FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 1986. JUSTO, H. Cari Rogers: Teoria da Personalidade, aprendizagem centrada no aluno. Porto Alegre: Livraria Santo Antônio, 1978. ROGERS, C. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1999. SCHULTZ, D.; SCHULTZ, S. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 1999.
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