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1 1 ANATOMIA GERAL A anatomia (ana: em partes; temnein: cortar, incisar) humana é a ciência que estuda macroscópica e microscopicamente a constituição e o desenvolvimento dos seres humanos. Divide-se em duas áreas de estudo distintas, sistêmica e topográfica. A anatomia sistêmica é o estudo analítico macro e microscópico das grandes partes constituintes do organismo reunidas segundo suas afinidades morfofuncionais: órgãos e sistemas. A anatomia topográfica estuda a situação e as relações entre estruturas de todos os sistemas orgânicos existentes em uma determinada área do corpo. Normalmente esse estudo é realizado no cadáver, conservado por líquidos fixadores, e é feito através da dissecação. Nas aulas de anatomia, também podem ser utilizados modelos anatômicos, constituídos de materiais como acrílico, pvc, borracha e outros. 1.1 Formas de estudo Inspeção – observação visual a olho desarmado (ectoscopia) ou por meio de instrumentos ópticos especiais (endoscopia). Palpação – exploração digital dos componentes das várias regiões do corpo, permitindo examinar estruturas superficiais bem como órgãos profundos. Percussão – baseia-se na variação do som produzido pelos batimentos digitais na superfície do corpo, permitindo determinar as áreas correspondentes dos órgãos profundos que apresentam características físicas diferentes. Auscultação – captação, através de instrumentos amplificadores de sinais, dos sons produzidos pelos diferentes órgãos em funcionamento. Mensuração – obtenção de medidas coletadas de partes simétricas do corpo com a finalidade de estabelecer as proporções do corpo e determinar o tipo morfológico constitucional. 2 Dissecção – exposição metódica das estruturas e órgãos do corpo, por meio de incisões adequadas, em ordem natural, isolando-as de maneira mais ou menos convencional, para estudá-las em particular, com a finalidade de estabelecer relação de dependência entre forma e função. Seccional – técnica de fatiamento do corpo humano em secções transversais, sagitais e coronais para estudo, em superfícies de corte, dos órgãos e suas relações. Radiológico – diagnóstico dos órgãos internos do ser humano vivo ou morto, através de equipamentos radiológicos computadorizados, que realizam o mapeamento de áreas ou secções do corpo, captadas e registradas em chapas radiológicas, tomográficas ou de ressonância magnética. Ultra-sonográfico – diagnóstico dos órgãos internos em funcionamento, através da varredura superficial do corpo, por meio de instrumentos radarizados de emissão e registro computadorizado. Plastinação – processo de impregnação de resinas, sob vácuo, em peças anatômicas preparadas por dissecação ou por cortes seccionais do corpo humano. 1.2 Divisão da anatomia humana (antropoanatomia ou antropotomia) Osteologia – estudo dos ossos Artrologia – estudo das junturas ou articulações Miologia – estudo dos músculos Esplancnologia – estuda as vísceras que se agrupam para desempenhar uma determinada função Angiologia – estudo do sistema de vasos que permitem a circulação do sangue e da linfa. Anatomia Cardíaca – estudo da estrutura do coração Neuroanatomia – estudo do sistema nervoso Endocrinologia – estuda as glândulas que secretam hormônios Estesiologia – estudo dos órgãos responsáveis pela percepção da sensibilidade e do tato 3 Tegumento comum – estuda a cútis (pele) e anexos (pêlos, unhas e glândulas) 1.3 Conceitos de variação anatômica e normal Variação são pequenas diferenças morfológicas congênitas que aparecem nos diferentes sistemas orgânicos, as quais não acarretam qualquer prejuízo ou distúrbio funcional para o indivíduo. Define-se como normal, numa conceituação estatística, o mais freqüente, ou seja, o que ocorre na maioria dos casos e serve de base para a descrição anatômica. 1.4 Conceitos de anomalia e monstruosidade A anomalia caracteriza-se quando o desvio da normalidade é mais acentuado, podendo acarretar prejuízos funcionais ao indivíduo, incluindo-se a invalidez. Como exemplos, pode-se citar: Craniossinostose – fechamento prematuro das suturas do crânio Fissura labial (lábio leporino) – fissura do lábio superior Cifose – curvatura exagerada do segmento torácico da coluna vertebral Escoliose – curvaturas laterais anormais da coluna vertebral Cifoescoliose – curvaturas laterais da coluna e curvatura exagerada do segmento torácico Lordose – curvatura acentuada do segmente lombar da coluna vertebral Ectromelia – ausência do membro Focomelia – mão fixada diretamente no tronco Hemimelia – ausência da mão e presença de dedos rudimentares Polidactilia – presença de dedos supranumerários Ectrodatilia – menor número de dedos Sindactilia – dedos fundidos 4 Braquidactilia – dedos muito curtos Macrodactilia – dedos muito grandes Joelho valgo – joelho em X; deformidade caracterizada por abdução da perna em relação à coxa Joelho varo – deformidade caracterizada por abaulamento para fora das pernas Pé eqüino – pé fixado em flexão plantar Pé calcâneo – pé fixado em dorsiflexão Pé varo – pé fixado em inversão Pé valgo – pé fixado em eversão Pé eqüinovaro – pé fixado na parte anterior da margem lateral do pé Mongolismo – indivíduo com deficiência mental associada com malformações físicas Albinismo – ausência de melanina na pele A monstruosidade é uma deformação que altera profundamente a construção do organismo, sendo muitas incompatíveis com a vida. Como exemplos, pode-se citar: Ciclope – indivíduo portador de um único olho central na face Craniópagos – gêmeos unidos pelas cabeças Toracópagos – gêmeos unidos pelo tórax Xifópagos – gêmeos unidos pelo abdome Cefalotoracópagos – gêmeos unidos da cabeça ao tórax 1.5 Fatores gerais de variação anatômica Idade – é o tempo decorrido ou a duração da vida. Fases da vida intra-uterina Ovo ou germe – 15 primeiros dias Embrião – até o fim do segundo mês Feto – do terceiro até o nono mês 5 Fases da vida extra-uterina Recém-nascido e primeira quinzena após o nascimento Infância – até o fim do primeiro ano Meninice – dos 2 aos 5 anos Pequena puberdade – dos 6 aos 10 anos Pré-puberdade – dos 10 anos à puberdade Puberdade – dos 12 aos 14 anos, correspondendo ao início da maturidade sexual, variável nos seus limites e nos sexos Pós-puberdade – até 21 anos nas mulheres e 25 anos nos homens Virilidade – o indivíduo atinge a maturidade que se prolonga até a menopausa (castração fisiológica natural), aproximadamente aos 50 anos na mulher e aos 60 anos no homem Velhice – até aproximadamente os 80 anos Senilidade – a partir dos 80 anos Sexo – caráter morfofuncional que distingue o homem da mulher. O dimorfismo sexual caracteriza-se por várias diferenças anatômicas, entre as quais se destacam aquelas associadas ao sistema genital e aos caracteres sexuais secundários, personalizados para cada sexo. Grupo étnico – compreende os diferentes grupos raciais (branco, negro, amarelo) e seus graus intermediários de mestiçagem. Biótipo – é resultante da soma dos caracteres herdados e dos caracteres adquiridos por influência do meio e de sua inter-relação. Existem dois tipos extremos, o longilíneo e o brevilíneo, e um intermediário – o normolíneo, mais freqüente. Evolução – influencia o aparecimento de diferenças morfológicas, no decorrer dos tempos, como foi demonstrado pela paleontologia. 1.6 Nomenclatura anatômica Ao final do século XIX, estavam em uso cerca de 50.000 nomes designando aproximadamente 5.000 estruturas anatômicas constituintes do corpo humano. 6 Durante séculos, foram elaborados termos para designar partes do corpo humano. Entretanto, com freqüência, as mesmas estruturas tinham denominaçõesdiferentes, refletindo em equívocos conceituais. Numa tentativa de dirimir-se o problema, em 1895, a nomenclatura anatômica foi adotada pela primeira vez, em um Congresso de Anatomia, sendo conhecida pela sigla BNA (Basle Nomina Anatomica), uma vez que o mesmo se realizou em Basiléia, na Suíça. Em 1955, no VI Congresso Internacional de Anatomia, em Paris, foi aprovada uma das mais importantes revisões de nomenclatura anatômica, conhecida como PNA (Parisiensia Nomina Anatomica). A última revisão da nomenclatura anatômica ocorreu em Londres, em 1985, durante o XII Congresso Internacional de Anatomia, dando origem à 6.a edição da Nomina Anatomica, publicada em 1989. A International Federation on Anatomical Associations (IFAA) aprovou e autorizou a publicação de uma nova edição da nomenclatura anatômica – a Terminologia Anatomica, tarefa delegada ao Federative Committee on the Anatomical Terminology (FCAT) e que foi efetivada em 1998. A Terminologia Anatomica oficial é publicada em latim, acompanhada não pela tradução inglesa, mas por termos equivalentes em inglês, como orientação para os que não sabem ou não se lembram do latim. A mesma foi traduzida para o português, pela Sociedade Brasileira de Anatomia, sob a denominação Terminologia Anatômica, substituindo e invalidando todas as listas anteriores. A nomenclatura da estrutura do organismo informa ou descreve esta estrutura. Forma – m. trapézio Posição – n. mediano Trajeto – a. circunflexa da escápula Conexões ou inter-relações – lig. sacro-ilíaco Relação com uma parte do esqueleto – a. radial Função – m. levantador da escápula Critério misto – m. flexor superficial dos dedos – função e situação 7 Abreviaturas – simplificação de termos anatômicos e utilizados correntemente em descrições: A. = artéria Aa. = artérias Fasc. = fascículo Gl. = glândula Lig. = ligamento Ligg. = ligamentos M. = músculo Mm. = músculos N. = nervo Nn. = nervos R. = ramo Rr. = ramos V. = veia Vv. = veias 1.7 Partes do corpo humano O corpo humano divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça corresponde à extremidade superior do corpo, estando unida ao tronco por uma porção estreitada – o pescoço. O tronco corresponde ao tórax e abdome, com as respectivas cavidades torácica e abdominal. A cavidade abdominal prolonga-se inferiormente na cavidade pélvica. Dos membros, dois são superiores ou torácicos e dois são inferiores ou pélvicos, cada um apresentando um cíngulo, ou raiz, pela qual está ligado ao tronco, e uma parte livre. Cabeça Fronte Occipital 8 Têmpora Orelha Face Olho Bochecha Nariz Boca Mento Pescoço Tronco Tórax Peito Abdome Pelve Dorso Membro superior Cíngulo do membro superior Axila Braço Cotovelo Antebraço Mão Carpo Metacarpo Palma Dorso da mão Dedos da mão Membro inferior Cíngulo do membro inferior Nádegas Quadril 9 Coxa Joelho Região poplítea Perna Sura Pé Tarso Calcanhar Metatarso Planta Dorso do pé Dedos do pé Cavidades Cavidade do crânio Cavidade torácica Cavidade abdominopélvica Cavidade abdominal Cavidade pélvica 1.8 Posição anatômica ou ortostática A descrição anatômica do corpo humano é baseada no indivíduo adulto disposto em posição anatômica ou ortostática, ou seja, em pé, ereto e estático, com a cabeça e olhos dirigidos anteriormente, os membros superiores pendentes aos lados do tronco, com as palmas das mãos dirigidas para frente e os membros inferiores justapostos, com os pés e dedos voltados anteriormente. Nesta posição, a cabeça está orientada de acordo com o plano horizontal de Francfort (cidade de Francfort, 1884) ou plano orbitomeático. O plano horizontal de Francfort também é conhecido como linha de Francfort ou linha horizontal alemã de Wirchow. 1.9 Planos limitantes (tangenciais) 10 Na posição anatômica, o corpo humano pode ser delimitado por planos tangentes à sua superfície, os quais, com suas intersecções, determinam a formação de um sólido geométrico – um paralelepípedo. Tem-se assim, para as faces desse sólido, os seguintes planos: Planos laterais direito e esquerdo – planos verticais tangentes aos lados do corpo. Planos anterior (ventral) e posterior (dorsal) – planos verticais tangentes ao ventre e ao dorso do tronco, respectivamente. No tronco, os planos são designados de ventral e dorsal, enquanto nos membros, de anterior e posterior. Plano superior (cranial ou cefálico) e inferior (podálico) – planos horizontais tangentes à cabeça e à planta dos pés, respectivamente. O tronco isolado é limitado inferiormente pelo plano que passa pelo vértice do cóccix (plano caudal). 1.10 Planos de secção do corpo humano São os planos convencionais de secção do corpo humano. As secções básicas são paralelas aos correspondentes planos limitantes. Plano sagital mediano – plano mediano vertical, de direção ântero-posterior, que divide o corpo humano em metades simétricas, direita e esquerda. É denominado sagital porque passa pela sagitta, figura em forma de seta ou flecha delineada pelos fontículos bregmático e lambdóideo e suturas da calota craniana do recém-nascido. Plano frontal ou coronal – plano vertical que divide o corpo em duas partes, anterior e posterior. É perpendicular ao plano sagital mediano. Plano transverso médio – plano horizontal que divide o corpo em partes superior e inferior. 1.11 Eixos do corpo humano 11 São linhas imaginárias traçadas no indivíduo considerado incluído no paralelepípedo. Eixo longitudinal – estende-se do centro do plano superior ou cranial até o centro do plano inferior ou podálico. Eixo transversal – estende-se do centro do plano lateral direito ao centro do plano lateral esquerdo. Eixo sagital – estende-se do centro do plano ventral ao centro do plano dorsal. 1.12 Termos gerais em anatomia, referentes à posição anatômica Anterior – estrutura ou órgão situado mais próximo do plano anterior Antímero direito – lado ou parte direita do corpo Antímero esquerdo – lado ou parte esquerda do corpo Ascendente – trajeto no sentido ínfero-superior Contralateral ou heterolateral – do lado oposto Decúbito – posição de quem está deitado Decúbito dorsal – deitado de costas Decúbito ventral – deitado de frente Descendente – trajeto no sentido súpero-inferior Distal – posição mais distante da raiz dos membros superior e inferior Homolateral ou ipsilateral – do mesmo lado Inferior – estrutura ou órgão situado mais próximo do plano inferior Infrajacente – abaixo ou sob a Intermédio – estrutura ou órgão situado entre uma porção ou região medial e uma lateral Lateral – estrutura ou órgão mais próximo dos planos laterais direito ou esquerdo Látero-lateral – de um lado ao outro Medial – estrutura ou órgão mais próximo do plano sagital mediano Mediano – estrutura ou órgão situado no plano sagital mediano 12 Médio – estrutura ou órgão interposto entre um superior e um inferior ou entre um anterior e outro posterior Paquímero anterior – parte anterior do corpo Paquímero posterior – parte posterior do corpo Parietal – relativo a uma parede Posterior – estrutura ou órgão situado mais próximo do plano posterior Proximal – posição mais próxima da raiz dos membros superior e inferior Superior – estrutura ou órgão situado mais próximo do plano superior Suprajacente – acima ou sobre a Visceral – relativo a um órgão 1.13 Cavidades do corpo São espaços dentro do corpo que contêm os órgãos internos, ajudando a protegê-los, isolá-los e sustentá-los. Cavidade dorsal – localizada próxima à porção posterior ou dorsal do corpo Cavidade do crânio – ossos cranianos (encéfalo esuas membranas) Canal vertebral – vértebras da coluna vertebral (a medula espinhal, suas membranas e raízes dos nervos espinhais) Cavidade ventral – localizada na porção anterior e contém as vísceras; o diafragma divide a cavidade ventral em torácica e abdominopélvica Cavidade torácica – porção superior Duas cavidades pleurais – em torno de cada pulmão Cavidade pericárdia – em torno do coração Mediastino – região entre os pulmões, desde o esterno até a coluna vertebral, contendo o coração, o timo, o esôfago, a traquéia, os brônquios e grandes vasos sangüíneos e linfáticos Cavidade abdominopélvica – porção inferior 13 Cavidade abdominal – contém o estômago, o baço, o fígado, a vesícula biliar, o pâncreas, o intestino delgado e a maior parte do intestino grosso Cavidade pélvica – contém a bexiga urinária, porções do intestino grosso e os órgãos genitais internos femininos e masculinos 1.14 Regiões e quadrantes abdominopélvicos A cavidade abdominopélvica, para fins de localização de órgãos, é dividida em 9 regiões: Região hipocondríaca direita Região epigástrica Região hipocondríaca esquerda Região lombar direita Região umbilical Região lombar esquerda Região inguinal direita Região hipogástrica Região inguinal esquerda Para a localização de sítios de dor, tumores e outras anormalidades, a cavidade abdominopélvica pode ser dividida em quadrantes, imaginando-se uma linha horizontal e uma linha vertical atravessando o umbigo: Quadrante superior direito Quadrante superior esquerdo Quadrante inferior direito Quadrante inferior esquerdo 1.15 Princípios gerais de construção corpórea nos vertebrados Antimeria – o homem é construído segundo o princípio de simetria bilateral. O plano mediano divide o corpo do indivíduo em duas metades, direita e 14 esquerda, denominadas antímeros, sendo semelhantes morfológica e funcionalmente. Contudo, não há simetria perfeita, porque não existe correspondência exata de todos os órgãos. Ela é mais notável no início do desenvolvimento e se perde, surgindo secundariamente a assimetria. Metameria – entende-se a superposição, no sentido longitudinal, de segmentos semelhantes, cada segmento corresponde a um metâmero. Mais ainda que a antimeria, a metameria é evidente na fase embrionária, conservando-se no adulto apenas em algumas estruturas, como por exemplo, na coluna vertebral (superposição de vértebras) e caixa torácica (as costelas estão superpostas em série longitudinal, deixando entre elas os chamados espaços intercostais). Paquimeria – é o princípio segundo o qual o segmento axial do corpo do indivíduo é constituído, esquematicamente, por dois tubos. Os tubos denominados paquímeros são, respectivamente, ventral e dorsal. O paquímero ventral, maior, contém a maioria das vísceras – paquímero visceral. O paquímero dorsal compreende a cavidade crânica e o canal vertebral (situado dentro da coluna vertebral) e aloja o sistema nervoso central: o encéfalo na cavidade craniana e a medula no canal vertebral da coluna; esta é a razão pela qual ele também denominado paquímero neural. Estratificação – o corpo humano é constituído de camadas (estratos) que se superpõem, reconhecendo-se, portanto uma estratimeria ou estratificação.
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