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Indicadores imunológicos e de produção de bem estar animal

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Módulo 5 
Indicadores imunológicos e de produção de bem-estar animal 
 
Objetivos de aprendizagem 
• Entender a relação entre bem-estar e doença 
• Entender a relação entre bem-estar e desempenho de produção 
• Avaliar os níveis de doença e produção 
Sumário do conteúdo 
• Efeito da doença sobre o bem-estar 
• Efeito do bem-estar sobre a doença 
• Efeito do bem-estar sobre a produção 
• Quantificação de doença e produção 
Doença e as Cinco Liberdades 
• Livre de fome e sede 
• Livre de desconforto 
• Livre de dor, lesões e doenças 
• Livre para expressar comportamento normal 
• Livre de medo e estresse 
Uma doença pode afetar muitos aspectos diferentes do bem-estar, podendo 
interferir com todas as Cinco Liberdades. 
 
Um animal com um abscesso cutâneo crônico, por exemplo, pode não estar em 
condições de disputar alimento e água com outros animais. O abscesso pode 
impedir que o animal se deite em posição confortável ou que dispute um local 
confortável para descansar. O abscesso causará dor. O comportamento normal 
ficará afetado, pois o animal tentará evitar ferimentos adicionais e, em geral, ficará 
apático e inativo. Animais doentes muitas vezes têm mais medo de outros animais, 
pois são mais susceptíveis a predadores. 
 
É importante reconhecer o valor tanto da prevenção de doenças como do seu 
tratamento. 
 
A prevenção pode envolver programas de vacinação ou a melhoria do sistema de 
criação. 
O tratamento envolve diagnóstico e tratamento apropriados. A demora no 
tratamento aumenta as conseqüências da doença em relação ao bem-estar. 
 
Doença e dor 
• A dor é provavelmente a conseqüência mais importante da doença 
• Entretanto, a dor pode persistir por mais tempo que os sinais clínicos 
• A sensibilização do sistema nervoso central em resposta a uma doença 
aguda pode persistir por vários meses 
Doença está muitas vezes intimamente relacionada com dor. 
 
É importante lembrar que a dor induzida por uma doença pode persistir por mais tempo 
que os sinais originais. 
 
A dor pode persistir por meses 
 
Neste estudo examinou-se a sensibilidade aumentada do sistema nervoso central em 
ovinos após um período de claudicação (também apresentado no módulo 2). 
 
O “estímulo limiar” é a força com que uma agulha romba é pressionada contra a perna 
de um carneiro para que o mesmo levante a perna. 
 
Um carneiro normal responderá a uma força de cerca de 5 N. Um carneiro manco, no 
entanto, estará sensibilizado a este estímulo e responderá a uma pressão menor. Esta 
sensibilidade aumentada à dor ainda persistirá três meses depois, apesar do 
tratamento efetivo da claudicação. 
 
Portanto, ovinos estarão mais suscetíveis a incidentes dolorosos após um período de 
claudicação, mesmo após a cura. 
 
Doença e bem-estar 
Doença está intimamente relacionada com bem-estar. Um animal doente pode ter 
várias das Cinco Liberdades comprometidas. Conforme vemos no diagrama acima, a 
doença pode causar diminuição do bem-estar, que por sua vez pode contribuir com a 
doença, em um círculo vicioso. 
 
Além disso, um animal com o bem-estar comprometido devido a um agente 
estressante isolado, tal como exaustão crônica, estará mais suscetível à doença, uma 
vez que seu sistema imunológico está suprimido. 
 
5 
2,5 
0 
Estímulo 
limiar (N) 
Normal 
 
Manco 
Bem-estar pobre causa doença 
 
Este gráfico é uma representação esquemática da resposta do organismo a um agente 
estressante persistente. 
 
A resposta inicial do organismo (vermelho) é extrema, passando a seguir a uma condição 
estável (verde). Se o agente estressante persistir por tempo suficiente, a energia necessária 
para manter essa resposta levará à exaustão (amarelo), o que pode resultar em doença ou 
morte. 
 
Exemplo 1: Desconforto prolongado pode causar doença 
• Privar um animal de um lugar confortável para se deitar pode ter 
implicações mais significativas sobre seu bem-estar que simplesmente 
limitar suas opções 
• Desconforto prolongado pode causar lesões nos membros (ex.: bursite 
em suínos) ou claudicação (ex.: bovinos de leite) 
 
Prover ao animal uma área confortável para se deitar não é essencial para sua 
sobrevivência a curto prazo e pode ser considerado um item luxuoso/desnecessário. 
 
Privação prolongada de uma área de descanso confortável pode causar doenças. 
 
As projeções seguintes tratarão do efeito deste desconforto sobre bursite em porcos e 
claudicação em gado de leite. 
RReessppoossttaa 
ddoo 
oorrggaanniissmmoo 
 
TTeemmppoo 
A prevalência da bursite está relacionada
com o conforto do local de descanso
Condições de manutenção Prevalência de
lesões (%)
Palha espessa + piso sólido 42
Palha pouco espessa + piso sólido 44
Piso parcialmente ripado 52
Sem palha + piso sólido 54
Piso totalmente ripado 84
 
 
 
Este estudo avaliou a prevalência de bursite em relação ao conforto da área de descanso. 
 
 As condições mais confortáveis (palha espessa) causaram o menor número de casos 
de bursite (42%). 
 Na ausência de palha, a prevalência de bursite aumenta drasticamente, culminando em 
84% no caso do piso totalmente ripado. 
 Em outras palavras, existe uma relação entre conforto a longo prazo e nível de 
doenças. 
MOUTTOTOU, N., HATCHELL, F. M. & GREEN, L. E., 1998: “Adventitious bursitis of the hock 
in finishing pigs: prevalence, distribution and association with floor type and foot lesions”. 
Veterinary Record 142, 109-114 
 
Superfície do piso e vontade de 
deitar
100
80
60
40
20
0
Cama
macia
Cama de
borracha
Concreto
% tempo
deitado
 
Conforme vimos antes (módulo 2), uma situação parecida ocorre em gado. 
 
Este estudo avaliou o tempo durante o qual as vacas ficaram deitadas, em um período 
de 24 horas, sobre diferentes superfícies em um curral com baias. Vacas que 
dispuseram de uma cama macia e maleável ficaram deitadas por aproximadamente 
70% do tempo, tempo parecido com o que ocorre no pasto. Entretanto, este tempo foi 
reduzido com uma cama menos macia, de borracha ou com concreto. 
 
Portanto, superfícies mais duras restringem o comportamento normal. Além disso, esta 
restrição do comportamento de descanso tem implicações para a saúde. Um maior 
número de casos de claudicação está relacionado a uma menor quantidade de tempo 
deitado. 
Exemplo 2: Estresse por transporte mais infecção por orf 
• Transporte implica vários agentes estressantes 
• Doenças podem ter contágio rápido 
• A resistência contra doenças está reduzida 
• O exemplo a seguir se refere à transmissão do vírus orf durante o 
transporte 
Transporte implica diferentes agentes estressantes, tais como medo, exaustão física, fome 
e sede. 
Doenças podem se espalhar rapidamente em virtude da proximidade entre os animais. 
Uma combinação desses agentes estressantes pode reduzir a capacidade do animal de 
combater doenças. 
 
Estimulação crônica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) leva ao aumento de cortisol 
e à supressão da resposta imune (mais detalhes sobre o eixo HHA e suas ações estão 
disponíveis no módulo 4: Indicadores fisiológicos do bem-estar – parte 2). 
 
O orf é um vírus que causa lesões cutâneas ao redor da boca em cordeiros e nas 
glândulas mamárias de ovelhas. Grandes proporções de um rebanho ovino são 
freqüentemente afetadas, mas a infecção costuma curar espontaneamente e normalmente 
não leva os animais ao óbito. 
 
Portanto, o vírus orf causa, na maioria das vezes, uma infecção relativamente leve, com a 
qual a maioria dos animais é capaz de lidar = autocura. Isso, no entanto, pode não ser o 
caso quando os animais são expostos a mais um agente estressante, como o transporte. 
 
Estresse devido ao transporte pode ocasionar doença 
Quinhentos e cinqüenta
carneiros foram transportados do sul da Inglaterra para a Escócia. A 
viagem durou 23 horas em função de uma pane do caminhão (a viagem normalmente duraria 6 
horas). 
Três dias após a viagem houve uma epidemia grave de orf, que resultou na morte de 55 
carneiros. 
A resposta imune dos animais estava baixa, por causa do estresse do transporte, o que 
agravou os sintomas e piorou o desfecho da doença. 
 
Bem-estar comprometido também reduz produção 
Conforme vimos antes, o organismo é incapaz de manter uma resposta a um agente 
estressante grave e persistente. Além de tornar o animal mais suscetível a doenças, 
este processo exaustivo reduzirá a energia disponível para a produção, isto é, 
diminuirá a taxa de crescimento, a produção de leite ou a taxa de fertilidade. 
 
Nos exemplos a seguir, veremos o efeito de dois agentes estressantes sobre a taxa de 
crescimento de porcos. 
Esses agentes estressantes são: 
• Mistura de porcos não familiarizados 
• Interação negativa com humanos 
 
Exemplo1: Mistura de porcos 
• Mistura de porcos não familiarizados muitas vezes resulta em brigas e 
lesões cutâneas 
• Além disso, brigas contínuas reduzirão o desempenho de produção 
Porcos são animais sociais. No entanto, se porcos não familiarizados são colocados juntos 
em um espaço pequeno, haverá muitas brigas, especialmente quando um dos porcos for 
mais agressivo do que o outro. As brigas ocorrem porque os animais não estabeleceram 
uma hierarquia de dominância (um sistema de nivelamento social, baseado na dominância 
relativa de animais dentro de um grupo social). Tal hierarquia precisa de um determinado 
tempo para ser desenvolvida, não podendo acontecer quando os suínos não são familiares 
uns aos outros. 
 
A foto acima mostra lesões cutâneas, que são visíveis ao abate, se os animais são 
misturados durante o transporte. 
 
Medo e ansiedade
persistentes: estresse
Posição
alta
Posição
baixa
(Mendl et al, 1992)
4
3
2
1
0
“ESTRESSE”
Cortisol no 
plasma
nmol/L
 
Neste estudo, porcas gestantes com alta posição social (ou seja, aquelas com tendência à 
posição mais alta na hierarquia social) foram misturadas com porcas com tendência à posição 
baixa. 
 
Os animais menos dominantes (vermelho) apresentaram um nível mais alto de cortisol no 
plasma, ou seja, estavam mais estressados por causa de sua condição de vítimas nas brigas. 
 
Medo e ansiedade persistentes: 
produção
Posição
alta
Posição
baixa
(Mendl et al, 1992)
20
15
10
5
0
Peso total 
dos bácoros
(kg)
 
Se as brigas persistirem, a produção será afetada. 
 
As porcas usadas no estudo ilustrado nesta projeção e na anterior estavam gestantes. Isto 
significa que a energia disponível para a leitegada ficou reduzida para as porcas com posição 
mais baixa/menos agressivas (vermelho). 
 
As brigas, portanto, resultaram em queda de produção – o peso total dos bácoros estava mais 
baixo. 
 
Exemplo 2: Interações negativas com pessoas 
• Interações táteis (tapas ou choques elétricos breves) durante 15 a 30 
segundos diariamente 
• Porcos estão menos dispostos a se aproximar de pessoas paradas 
Interações com o tratador também podem ser uma fonte de medo e estresse persistente, 
capaz de interferir na produção. 
 
Neste exemplo, veremos o efeito exercido por tapas ou exposição a breves choques 
elétricos durante 15 a 30 segundos. 
 
A primeira reação é que os animais não querem se aproximar de pessoas. 
 
Esta interação negativa também tem implicações para a produção. 
Interação do porco com o 
tratador
0 50 100 150Tempo para
interação (s) 
(Gonyou et al., 1986)
negativa
nenhuma
positiva
 
Neste estudo foi medido o tempo (em segundos) que porcos levaram para interagir com uma 
pessoa. A barra vermelha indica o tempo que porcos que foram golpeados pelo tratador 
levaram para interagir. A barra amarela mostra a demora para interagir com o tratador de 
porcos não submetidos a experiências, positivas ou negativas. A barra verde indica o tempo 
decorrido até a interação de porcos tratados de maneira positiva. 
 
O diagrama acima mostra que os porcos que foram golpeados (reações negativas – barra 
vermelha) levaram muito mais tempo para se aproximar e interagir com o tratador do que os 
que não tiveram interação com o tratador (barra amarela) ou aqueles que tiveram interação 
positiva (barra verde). 
 
Taxa de crescimento de porcos
800 850 900
Taxa de 
crescimento
(g/dia)
(Gonyou et al., 1986)
negativa
nenhuma
positiva
 
Mediu-se também a taxa de crescimento de porcos de terminação. 
 
Os porcos que sofreram interações negativas repetidamente (barra vermelha) cresceram muito 
mais lentamente que aqueles que não tiveram nenhuma interação (barra amarela) ou interação 
positiva (barra verde). 
 
Quantificação de doença e produção 
• Observação a campo 
• Registros médicos 
• Registros de mortalidade 
• Registros de produção 
• Achados de abatedouro 
Existem várias fontes de informação sobre doenças e produção em uma fazenda. 
 
Estas relacionam-se à observação das condições de saúde a campo. A prevalência de 
claudicação, por exemplo, pode ser avaliada por simples observação de um grupo 
representativo de animais caminhando perto do observador. 
 
A disponibilidade de registros médicos obviamente varia, mas podem existir registros dos 
medicamentos usados em animais doentes ou registros de óbito. Podem existir registros do 
desempenho de produção, tais como taxas de crescimento e de fertilidade ou de produção 
de leite. 
 
Observações feitas no abatedouro podem fornecer informações sobre as condições de 
criação. Prevalência de fraturas antigas em galinhas poedeiras, por exemplo, tem relação 
com as condições de criação no aviário. 
 
Quantificação da resposta humana à doença 
• A avaliação de baixa produção e doenças é um bom indicador do bem-
estar 
 
• No entanto, é igualmente importante avaliar a resposta do tratador à 
doença ou baixa produção 
Conforme discutido no início, é importante levar em consideração tanto a 
prevenção quanto o tratamento de doenças, ou seja, o gerenciamento da doença 
pelo homem. 
 
As ações do tratador em relação à prevenção e ao tratamento de doenças e as 
providências para o combate da baixa produção precisam ser avaliadas. 
 
Gerenciamento da claudicação 
• Percepção 
– O fazendeiro sabe quantas vacas mancas tem na sua fazenda? 
• Avaliação 
– O fazendeiro conhece a causa principal da claudicação em sua 
fazenda? 
• Ação 
– Quão rápido ele trata os animais? 
– Existe um plano de ação para melhoria? 
– Foi procurado conselho profissional? 
– O plano de ação está sendo seguido? 
O desempenho do tratador de animais em relação a altos níveis de claudicação, 
por exemplo, pode ser avaliado pelo nível de percepção, avaliação e ação do 
fazendeiro. As perguntas acima são úteis na avaliação do desempenho do tratador. 
 
Percepção de claudicação em vacas
de leite
Número
observado
Estimativa do 
fazendeiro
30
20
10
0
%
Whay et al., (2001)
 
O estudo acima destacou a diferença entre a quantidade de animais mancos (22%), observada 
em rebanhos leiteiros no Reino Unido, em comparação à estimativa dos fazendeiros (6%) no 
mesmo dia. 
 
Em outras palavras, os fazendeiros não tinham noção do nível de claudicação nas suas 
próprias fazendas. É improvável que tomem medidas de prevenção ou providenciem 
tratamento se não têm sequer conhecimento dos níveis da doença. 
 
Conclusões/Resumo 
• Doenças podem afetar todas as Cinco Liberdades 
• Exposição contínua a agentes estressantes pode causar doença e 
resultar em baixo desempenho de produção 
• Mudanças nos níveis de doença e produção devidas a um 
comprometimento
do bem-estar podem ser avaliadas 
• As ações humanas (prevenção e tratamento) também podem ser 
avaliadas

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