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Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O1.doc
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DIREITO PENAL I 									AULA I
DIREITO = relação / interação / interpretação
	“Só quando a norma e a situação de vida, dever e ser, são postos em relação, em correspondência um com o outro, surge o direito real: o direito é a correspondência entre o dever e o ser” (Arthur Kaufmann).
	“O Direito deve ser entendido como uma prática dos homens, que se expressa em um discurso que é mais que palavras”. (Lênio Streack).
CRIME-------- é tudo aquilo que o legislador diz ser.
	
	Princípio da reserva legal (artigo 5º, inciso XXXIX da CF e artigo 1º do Cód. Penal) – Não há crime sem LEI anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
	
DIREITO PENAL (ou Direito Criminal)
	Conceito: é a parte ou ramo do Direito que define as infrações penais (crimes ou delitos e contravenções), cominando-lhes as sanções correspondentes (penas e medidas de segurança ou outra conseqüência legal) para a hipótese de descumprimento de seus preceitos (Paulo Queiroz).
	Objeto: condutas humanas descritas de forma positiva (ações) ou de forma negativa (omissão de ações) em tipos legais de condutas proibidas. O tipo legal descrito na forma positiva cria um dever de abstenção da ação. (ex: artigo 155 do CP – crime de furto). Já o tipo legal descrito na forma negativa cria um dever jurídico de ação (ex: artigo 135 do CP – omissão de socorro).
TIPOS OMISSIVOS – condutas punidas em virtude do agente não praticar a ação descrita como obrigatória.
TIPOS COMISSIVOS – condutas punidas em virtude do agente praticar a ação descrita no tipo penal.
	Objetivo: proteção aos bens jurídicos (ex: vida, honra, saúde pública, patrimônio). Apenas bens jurídicos de extrema relevância devem ser tutelados pelo Direito Penal. O Direito Penal deve ser usado como ultima ratio, ou seja, apenas quando os outros ramos do direito não forem eficientes.
CORRENTES:
DIREITO PENAL DO INIMIGO (tolerância zero) – para JACKOBS, o que se protege é a norma, o agente deve ser punido para que se afirme a vigência da norma penal. Toda e qualquer conduta criminosa deve ser punida, mesmo aquelas tidas como irrelevantes (política de tolerância zero)
ABOLICIONISMO – pensamento que entende ser desnecessária a existência do Direito Penal, posto que este em virtude de sua resposta violenta e ineficaz, tendo em vista que não acaba com o crime, traz apenas conseqüências danosas.
DIREITO PENAL MÍNIMO – linha de pensamento que defende a aplicação do Direito Penal apenas para as condutas mais relevantes (bens jurídicos mais importantes), evitando-se assim a banalização do direito penal (o Direito Penal em virtude de sua violência de ser utilizado como ultima ratio). Utopicamente, os “minimalistas” buscam sempre o abolicionismo.
CONCEPÇÃO GARANTISTA – Constituição como “norte”. A norma penal deve pautar-se sobre os ditames dispostos na Constituição (direitos e garantias individuais). Sempre a Constituição irá apontar as linhas mestras. É a norma penal que deve adequar-se aos preceitos constitucionais e nunca o contrário.
ESTADO PENAL X ESTADO SOCIAL
	Substitui-se o Estado Social, onde ao indivíduo são garantidos uma série de benéficos em prol do chamado “estado de bem estar social”, pelo Estado Penal, onde tenta-se oprimir os indivíduos através da ameaça da pena. Utiliza-se o Direito Penal como forma de controle social.
	O Direito Penal é a forma mais violenta de intervenção do Estado na vida do indivíduo. Em um primeiro estágio o Direito Penal protege a sociedade, mas praticada uma conduta considerada “crime”, ele serve como forma de limitar o direito de punir do Estado.
DIREITO PENAL / CRIMINOLOGIA / POLÍTICA CRIMINAL
CRIMINOLOGIA – ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento criminoso. Tem como objeto além do delito e do delinqüente, suas causas, o estudo da vítima e da reação e controle social. A criminologia é uma ciência do “SER”, empírica, baseada na análise e na investigação da realidade, servindo-se de um método indutivo e empírico, ao contrário do Direito Penal, que se utiliza de um método lógico, abstrato e dedutivo (conceito de Garcia Pablos Molina).
POLITICA CRIMINAL – constitui a sistematização das estratégias, táticas e meios de controle social da criminalidade.
CONCLUSÃO:
	A CRIMINOLOGIA deve incumbir-se de fornecer o substrato empírico do sistema, a POLITICA CRIMINAL de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas de controle da criminalidade e o DIREITO PENAL deve encarregar-se de converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias o saber criminológico esgrimido pela política criminal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, Parte Geral, vol. I. São Paulo: Atlas, 2001.
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006.
GRECO, Rogério. Direito Penal, Parte Geral, vol. I. Niterói: Impetus, 2007.
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O2.doc
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DIREITO PENAL I 									AULA II
SÍNTESE HISTÓRICA
1 – TEMPOS PRIMITIVOS
	Não havia um sistema para punir os infratores. O Direito Penal confundia-se com “religião”, posto que os eventos naturais maléficos eram muitas vezes confundidos com atos ou condutas dos indivíduos que causavam a fúria dos deuses.
	A pena (castigo) era o sacrifício da própria vida ou a oferta de bens valiosos aos deuses.
PENA = VINGANÇA (desproporcional e sem preocupação com justiça)
1.1 – VINGANÇA PENAL
a) vingança privada – cometido o crime, ocorreria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo em que vivia. Com a evolução social e para evitar a dizimação das tribos surge o TALIÃO (de talis = tal), que limita a reação a um mal idêntico ao praticado (sangue por sangue, olho por olho, dente por dente). Surge então o Código de Hamurábi (Babilônia), sendo o talião aplicado ainda no Êxodo (povo hebraico) e na Lei das XII Tábuas (Roma). O Talião surge como avanço pois limitou o poder punitivo.
	Ainda dentro da vingança privada surge a composição, onde o ofensor se livrava do castigo com a compra de sua liberdade. Foi adotada pelo Código de Hamurábi, pelo Pentateuco e pelo Código de Manu. Tal instituto é a origem das formas modernas de indenização do Direito Civil e da pena de multa no Direito Penal.
b) vingança divina – célebre influencia da religião no Direito Penal, principalmente porque a religião tinha muita influência na vida dos povos antigos. O “crime” deveria ser reprimido como forma de satisfazer os deuses pela ofensa praticada. O castigo e o julgamento eram feitos pelos sacerdotes, visando especialmente a intimidação. Exemplos: Código de Manu (Índia), Cinco Livros (Egito), Livros das Cinco Penas (China), Avesto (Pérsia) e Pentateuco (Israel).
c) vingança pública – surge com a maior organização social para dar maior estabilidade ao Estado. Ainda presente o caráter religioso, pois o soberano era interprete e mandatário da vontade divina. Com a evolução histórica, a responsabilidade do grupo se transforma em individual (do autor do fato), configurando-se a contribuição ao aperfeiçoamento da humanização das penas.
2 – DIREITO PENAL ROMANO / GERMÂNICO / CANÔNICO
2.1 – Direito Penal Romano
	Passada a fase da vingança (talião e composição) e da vingança divina, ocorre a separação entre Direito e Religião. Dividem-se os delitos em crimina publica (ou crimes majestatis) e delicta privata (infrações menos graves). A pena torna-se em regra pública e praticamente é abolida a pena de morte (ocorre sua substituição pelo exílio e pela deportação).
O Direito Penal Romano cria os princípios penais sobre o erro, culpa, dolo, imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuanates, legítima defesa etc.
2.2 – Direito Penal Germânico
	Originariamente não era composto por leis escritas, sendo constituído apenas pelos costumes. A princípio era ditado por características de vingança e posteriormente, com a influência de Roma e do Cristianismo, passou a adotar o talião. Aponta-se ainda a presença das ordálias (juízos de Deus) – prova de água fervente, ferro em brasa etc – e dos duelos judiciais, onde se decidiam os litígios pessoalmente ou através de lutadores profissionais.
2.3 – Direito Penal Canônico
	É o chamado Direito Penal da Igreja, com influência marcante do Cristianismo no Direito Penal. Assimilou as diretrizes do Direito Romano, contribuindo para o inicio da humanização do Direito Penal. Promoveu-se a mitigação das penas, que além da retribuição passaram a ter como fim a regeneração do criminoso pelo arrependimento, o que infelizmente acarretou nos excessos praticados pela Inquisição.
3 – ESCOLAS PENAIS – CLÁSSICA / POSITIVA
3.1 – Escola Clássica
	Principal expoente : Francesco CARRARA (primeira metade do séc. XIX) com a obra “Corso di diritto criminale” (1859). Para Carrara o delito é um “ente jurídico”, (vontade livre e consciente do criminoso somado ao dano), tendo o livre arbítrio como pressuposto da afirmação da responsabilidade e da aplicação da pena. É a infração da lei do Estado (em decorrência do princípio da reserva legal). A sanção não pode ser arbitrária, regula-se pelo dano sofrido, inclusive, e, embora retributiva, tem também finalidade de defesa social.
3.2 – Escola Positiva (período criminológico)
	Inicia-se em 1876 com os estudos de César LOMBROSO ao publicar a obra “O homem delinqüente”. Considerava o crime como manifestação da personalidade humana e produto de várias causas. Lombroso estuda o delinqüente do ponto de vista biológico, criando a figura do “delinqüente nato”. Apesar do pensamento criminológico ter-se iniciado com Lombroso, o maior exponte da Escola Positiva foi Enrico FERRI, que em seus estudos ressaltou a importância do trinômio causal do delito (fatores antropológicos, sociais e físicos. Ferri divide os criminosos em cinco categorias: o nato, o louco, o habitual (produto do meio social), o ocasional (indivíduo sem firmeza de caráter e versátil na prática do crime) e o passional (homem honesto mas de temperamento nervoso e sensibilidade exagerada).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, Parte Geral, vol. I. São Paulo: Atlas, 2001.
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006.
GRECO, Rogério. Direito Penal, Parte Geral, vol. I. Niterói: Impetus, 2007.
 
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O3 parte I.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA III (parte 1)
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1 – PERÍODO COLONIAL
	 A época do descobrimento eram vigentes em Portugal as Ordenações Afonsinas, que não chegaram a ter aplicação em virtude da ausência de uma organização Estatal no Brasil. A partir de 1521 passam a vigorar as Ordenações Manuelinas, que tiveram aplicação escassa na então colônia. No período colonial, em matéria criminal, foram as ORDENAÇÕES FILIPINAS, (que passaram a ter vigência em 1603), que efetivamente foram aplicadas no Brasil, encontrando-se a matéria criminal encontrava-se disposta no LIVRO V (codificação penal do Reino). Foram aplicadas com toda dureza durante o período colonial e depois deste até a edição e início de vigência do Código Criminal do Império, mesmo após a declaração da independência (1822).
	Nas Ordenações Filipinas não distinguia-se DIREITO da MORAL e da RELIGIÃO. Logo no inicio do Livro V há a previsão de penas para os hereges e para os apóstatas. Utilizava-se a pena de morte (ou outra bem rigorosa) para os atentados contra o Estado e o Rei, a repressão do “pecado” (a palavra é por diversas vezes citada no Livro V) e para os desvios das normas éticas e dos atos que produziam danos. O Livro V, em resumo, continha um Direito Penal de origem e conteúdo medievais, traduzido em uma legislação inconseqüente, injusta e cruel.
	Interessante ainda apontar as quatro formas como poderia ser executada a pena de morte (a depender da gravidade do delito): morte cruel (a vida era tirada lentamente, entremeada de suplícios), morte atroz (acrescentava-se a pena capital o confisco de bens, a queima do cadáver, o seu esquartejamento e até a proscrição de sua memória), morte simples (era a simples perda da vida, executada através da degola ou do enforcamento, este último reservado as classes mais humildes), morte civil (eliminavam-se a vida civil e os direitos de cidadania).
2 – PERÍODO IMPERIAL
	Proclamada a independência no ano de 1822 e com a outorga da Constituição do Império de 1824, se fazia indispensável uma nova codificação criminal, posto ainda estarem em vigência as velhas Ordenações Filipinas. Sem dúvida, a Constituição de 1824 sofrera fortes influências dos ideais iluministas liberais (norte-americano e francês). A Constituição de 1824, em seu artigo 179 estabeleceu princípios e regras que afirmaram sua concepção liberal, abolindo-se as penas cruéis (acoites, a tortura, a marca de ferro), o confisco, a pena infamante aos parentes do réu, determinando ainda que as cadeias deveriam ser “seguras, limpas e bem arejadas” obrigando ainda a separação dos apenados de acordo com a gravidade do delito praticado, devendo a codificação penal brasileira fundar-se nas sólidas bases da JUSTIÇA e EQUIDADE.
	Sob este prisma, tendo como base a Constituição liberal de 1824, em dezembro de 1830 é aprovado o Código Criminal do Império do Brasil, elaborado por José Clemente Pereira e Bernardo Pereira Vasconcelos, este último formado em Coimbra e aluno de Melo Freire, que por sua vez sofrera fortíssima influência dos ideais de Beccaria. A então legislação penal vigente no Brasil fora de tamanha importância que veio a influenciar a reforma dos códigos latino americanos e do Código espanhol de 1848.
	No Código de 1830, entre outras inovações, destacavam-se a incorporação ao Direito pátrio do PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE (art. 1º e 33), o reconhecimento da liberdade de informação e de opinião (art. 9º), a proibição de condenação baseada em mera presunção, por mais veemente que seja (art. 36), que somados aos princípios da Carta Magna de 1824 davam o quadro de evolução da nova legislação do Império.
	O Código de 1830 entretanto MANTEVE A PENA DE MORTE pela forca, com um ritual macabro que acompanhava o condenado e proibia um enterro com pompa (art. 38 a 42). Conservaram-se ainda a pena de galés, com calceta no pé e corrente de ferro, além do trabalho forçado (art. 44), o banimento do país (art. 50), o degredo para lugar determinado (art. 51) e o desterro (art. 52). Havia ainda no Código Criminal do Império uma exceção contra o réu escravo, permitindo sua condenação a pena de açoites quando incorresse empena que não fosse a capital ou de galés (art. 60), demonstrando-se assim a forte influencia da sociedade escravocrata que não abria mão de alguns instrumentos de repressão.
	Logo após o advento do Código, teceram-se duras críticas ao seu cunho liberal (principalmente por parte dos escravocratas), culpando a legislação liberal pelo aumento da criminalidade, surgindo então um movimento anti-liberal responsável pelo surgimento de algumas leis de cunho retrógrado, principalmente contra escravos.
3 – PERÍODO REPUBLICANO
	Com a abolição da escravidão (1888) e a proclamação da República (1889), tem-se novamente a necessidade de reforma da legislação penal. Desta forma, a pedido do então Ministro Campos Sales, é apresentado um projeto para a nova legislação penal que em 11/10/1890 acaba tornando-se o Código Penal do
Brasil (primeiro da República). Tal diploma sofreu duras críticas pelos juristas da época e já a partir de 1893 fora apresentado pelo então Deputado Vieira de Araújo o projeto de um novo Código. Ante toda controvérsia que surgiu em torno do primeiro código da República, várias alterações pontuais através de legislações especiais foram sendo feitas, até que em 1932 essa legislação é compilada na chamada Consolidação das Leis Penais (trabalho de Vicente Paragibe), que não configurava um novo diploma legal e sim “um trabalho de composição do Código de 1890 com a fragmentária legislação posterior” (conforme explanou Nelson HUNGRIA).
	Ante toda confusão legislativa que se tornara a legislação penal brasileira, e com o advento do Estado Novo, fora apresentado, em 1938 o projeto do atual Código Penal, com a participação de juristas como Nelson Hungria, Roberto Lyra, Vieira Braga e Narcélio de Queiroz, que passou a vigorar em virtude do Decreto-lei nº. 2.848 de 7 de dezembro de 1940.
	Cumpre apontar que o panorama político da época teve influencia marcante nos dispositivos alencados no Código, que sofrera forte influencia do Código Penal Italiano de 1930 (Código Rocco), fruto do regime fascista do então ditador Benito Mussolini e do regime ditatorial instituído pelo Estado novo de Getúlio Vargas. Não obstante a forte influencia fascista, o Código Penal de 1940 manteve em alguns pontos o caráter liberal, posto que não adotou a pena de morte nem a prisão perpétua, existentes no modelo italiano.
	Em linhas gerais, o Código de 1940 exprime a época histórica em que foi gerado, sendo apontado por Francisco ASSIS TOLEDO como “um estatuto de caráter nitidamente repressivo, construído sobre a crença da necessidade e suficiência da pena privativa de liberdade (pena de prisão) para o controle do fenômeno do crime”.
	 Com a evolução da sociedade, em 1980 percebeu-se a necessidade de reformas na legislação penal vigente, sendo então elaborada uma comissão composta por juristas de peso como Francisco Serrano Neves, Ricardo Antunes Andreucci, Miguel Reale Júnior, Rogério Lauria Tucci, René Ariel Dotti, Hélio Fonseca e Francisco Assis Toledo para elaborar as reformas necessárias à legislação penal, que culminaram nas reformas postas a termo pela Lei 7.209 de 11/07/1984.
	Existia à época todo um contexto de cunho liberal e nas reformas de 1984 ficara claro que o legislador apontava a ser indispensável a aplicação da pena apenas quando esta demonstrava-se “necessária”, a proteção do meio social, porém com a obrigatoriedade de preparar o infrator para a reintegração ao convívio social, a adequação da aplicação da medida de segurança etc.
	Tais reformas, como inicio do período democrático foram acentuadas pela Constituição Federal de 1988, que logo em seu artigo 5º, instituiu como cláusulas pétreas uma série de direitos e garantias penais e processuais penais.
	Infelizmente, na atualidade vivemos uma crise no Direito Penal, com o fortalecimento dos movimentos de Lei e Ordem (tolerância zero), que culminaram em uma série de Leis que buscam através do enrijecimento da norma uma pseudo segurança do meio social, além da banalização do Direito Penal.
	Vale lembrar os ensinamentos do Mestre ASSIS TOLEDO que bem cita Franz Von LISZT: “O Direito Penal moderno está moldado segundo princípios liberais, elaborados lenta e penosamente, através dos séculos. E, até hoje, não se conseguiu encontrar algo melhor para substituí-los. Tentativas e experiências nesse sentido, têm sido desastrosas”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
ASSIS TOLEDO, Francisco de.Princípios Básicos de Direito Penal. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
PIERANGELI, José Henrique. Códigos Penais do Brasil, Evolução histórica. São Paulo: RT, 2004.
ZAFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: RT, 2004.
 
 
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O3 parte II.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA III (parte 2)
DIREITO PENAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
1 – PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER DE PUNIR
1.1 – Direito Penal e Constituição
	Todo direito nasce e morre na Constituição Federal, fundamento que é de validade da ordem jurídica, já que as leis não formam um conjunto desordenado de disposições, mas sim, um sistema lógico (pretendidamente) e hierarquizado (piramidal), estando todas as normas subordinadas (vinculadas) ao texto constitucional (PAULO QUEIROZ).
	Em virtude desta hierarquização, os atos legislativos infraconstitucionais (leis complementares, leis ordinárias, medidas provisórias e decretos) devem guardar coerência com os princípios e regras constitucionais, sob pena de serem consideradas inválidas.
	Sendo assim, o legislador constituinte em 1988, logo no artigo 1º da Carta dispôs que:
Art 1ª . A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO e tem como fundamentos: ...
	Fora assim consagrado entre nós que o Brasil trata-se de um “Estado Democrático de Direito”, princípio fundamental que significa que o Estado deve realizar os postulados da democracia (na verdade reunião dos princípios do Estado de Direito e do Estado Democrático).
	O Estado Democrático se sustenta no pilar da soberania popular, pois a base do conceito de democracia está ligada à noção de governo do povo, pelo povo e para o povo. (DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR).
	Já o Estado de Direito tem como elemento básico a lei, não sendo esta mero enunciado formal do legislador, desprovida de conteúdo material ou substancial, para ser concebida e exigida como um ato de concretização dos valores humanos, morais e éticos fundamentais consagrados na Constituição, numa perspectiva democrática imposta pela soberania popular. (DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR).
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, PORTANTO, É ESTADO CONSTITUCIONAL SUBMETIDO À CONSTITUIÇÃO E AOS VALORES HUMANOS NELA CONSAGRADOS. 
	Entendido isso, resta claro que é a Constituição que delineia o perfil do Estado, assinalando os fundamentos, objetivos e princípios basilares (particularmente, arts. 1º ao 5º da CF) que vão governar a sua atuação. (PAULO QUEIROZ).
	Especificamente, a Constituição Federal de 1988, relacionou no artigo 5º (Direitos e Garantias Fundamentais) os princípios penais e processuais penais fundamentais limitadores do jus puniendi (legalidade, proporcionalidade, humanidade das penas, devido processo, estado de inocência, contraditório etc). 
1.2 – Princípios penais constitucionais
1.2.1 – Princípio da legalidade (nullum crimem, nulla poena sine lege) – é o mais importante instrumento constitucional de proteção individual no moderno Estado Democrático de Direito, proibindo:
a) retroatividade da norma para criminalizar ou agravar a pena de fato anterior;
b) o costume como fundamento ou agravação de crimes e penas;
c) a analogia como método de criminalização ou punição de condutas;
d) a indeterminação dos tipos legais e das sanções penais.
LEX PRAEVIA / LEX SCRIPTA / LEX STRICTA / LEX CERTA
1.2.2 – Princípio da culpabilidade – proíbe punir pessoas inimputáveis porque são incapazes de reconhecer a norma, mas não proíbe a aplicação de medidas de segurança fundada na periculosidade criminal dos autores inimputáveis de fatos puníveis.
1.2.3 – Princípio da lesividade – proíbe a cominação, a aplicação e a execução de penas e medidas de segurança em hipóteses de lesões irrelevantes, consumadas ou tentadas, contra bens jurídicos protegidos em tipos legais de crimes. O princípio da lesividade tem por objeto o bem jurídico determinante da criminalização, em dupla dimensão: do ponto de vista qualitativo (natureza do bem) e quantitativo (extensão da lesão).
	Este ainda comporta o chamado princípio da insignificância, que segundo
CLAUS ROXIN significa que o juiz, à vista da desproporção entre a ação (crime) e a reação(castigo), fará um juízo (valorativo) acerca da tipicidade material da conduta, recusando curso a comportamentos que, embora formalmente típicos (criminalizados), não o sejam materialmente dada sua irrelevância.
1.2.4 – Princípio da proporcionalidade – encontra-se implícito no artigo 5º, caput, da Constituição, proibindo penas excessivas ou desproporcionais em face do desvalor de ação ou do desvalor do resultado do fato punível.
1.2.5 – Princípio da humanidade – fora deduzido da dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito (artigo 1º, III da CF), excluindo a cominação, aplicação e execução de penas (art. 5º, XLVII da CF):
a) de morte;
b) perpétuas;
c) de trabalhos forçados;
e) de banimento;
f) cruéis (castrações, mutilações, esterilizações, ou qualquer outra pena infamante ou degradante).
1.2.6 – Princípio da responsabilidade penal pessoal – estampado no artigo 5º, XLV da CF, impede a responsabilidade penal objetiva (ou presumida) não permitindo a responsabilização de ninguém por fato de terceiro ou objetivamente, devendo-se apurar sempre, ter o autor agido com dolo ou culpa, ao menos. 
1.3 – Garantismo de Ferrajoli
pena / delito / lei / necessidade / ofensa / ação / culpabilidade / juízo / acusação / prova / defesa
	
	Cada um destes termos, excluído obviamente o primeiro, designa uma condição necessária para a atribuição de pena dentro de um sistema de garantias.
Requisitos (ou condições) penais: delito, lei, necessidade, ofensa, ação e culpabilidade = GARANTIAS PENAIS.
Requisitos (ou condições) processuais penais: juízo, acusação prova, defesa = GARANTIAS PROCESSUAIS.
 1.3.1 - Axiomas do garantismo – o sistema garantista SG
	Cada um dos princípios configura uma condição sine qua non para a responsabilização penal e para a aplicação da pena. Trata-se de um modelo-limite, apenas tendencialmente e jamais perfeitamente satisfatível. Resulta na adoção de dez axiomas ou princípios axiológicos fundamentais, não deriváveis entre si.
PENAIS:
A1 – Nulla poena sine crimine
A2 – Nullum crimen sine lege
A3 – Nulla lex (poenalis) sine necessitate
A4 – Nulla necessitas sine injuria
A5 – Nulla injuria sine actione
A6 – Nulla actio sine culpa
PROCESSUAIS:
A7 – Nulla culpa sine judicio
A8 – Nullum judicium sine accusatione
A9 – Nulla acusatio sine probatione
A10 – Nulla probatio sine defensione 
PENAIS:
A1 – Princípio da retributividade ou da conseqüencialidade da pena em relação ao delito;
A2 – Princípio da legalidade no sentido lato ou no sentido estrito;
A3 – Princípio da necessidade ou da economia do direito penal;
A4 – Princípio da lesividade ou da ofensividade do evento;
A5 – Princípio da materialidade ou da exterioridade da ação;
A6 – Princípio da culpabilidade ou da responsabilização pessoal;
PROCESSUAIS:
A7 – Princípio da jurisdicionariedade também no sentido lato ou no sentido estrito;
A8 – Princípio acusatório ou da separação entre juiz e acusação;
A9 – Princípio do ônus da prova ou da verificação;
A10 – Princípio do contraditório ou da defesa, ou da falseabilidade.
	Estes dez princípios, ordenados e conectados sistematicamente definem o modelo garantista de direito ou de responsabilidade penal, isto é, as regras do jogo fundamental do Direito Penal, sendo elaborados, sobretudo, pelo pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, que os concebera como princípios políticos, morais ou naturais de limitação do poder penal “absoluto”. Já foram incorporados mais ou menos na íntegra às constituições e codificações dos ordenamentos desenvolvidos, convertendo-se, assim, em princípios jurídicos do moderno Estado de Direito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal, Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006.
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal, Parte Geral. Curitiba: ICPC, Lumem Júris. 2007.
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Edições Jus Podivm. 2008.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão, Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT. 2006.
 
 
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O4.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA IV
TEORIA DA LEI PENAL
FONTES E INTERPRETAÇÃO
1 – Fontes do Direito Penal
FONTE = origem, lugar de procedência, de onde se origina algo.
1.1 – Fontes materiais: também são conhecidas como fontes substanciais ou de produção. A única fonte de produção do Direito é o Estado, conforme preceitua o artigo 22, inc. I da Constituição. Desta forma cabe tão somente a União ditar normas gerais de Direito Penal.
1.2 – Fontes formais: subdividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e fontes indiretas (ou mediatas ou subsidiárias).
a) fontes diretas - a princípio, a LEI é a única fonte direta do Direito Penal. A lei seria a única fonte de cognição ou de conhecimento do Direito Penal no que diz respeito à proibição ou imposição de condutas sob a ameaça de pena, respeitando o princípio da legalidade (ou da reserva legal), conforme artigo 5º inc, XXXIX da CF.
b) fontes indiretas – a primeira fonte indireta do Direito Penal são os COSTUMES, que nada mais são do que regras de condutas praticadas de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade (MIRABETE). O costume não pode criar ou revogar crimes (com base ainda no princípio da legalidade). Os costumes servem para ajudar o interprete a traduzir conceitos (ex: repouso noturno, honra, dignidade, decoro, inexperiência etc) permitindo assim um enquadramento correto do fato ao Direito Penal. Discute-se se os costumes têm o poder de revogar leis, ou se a prática reiterada de determinadas condutas teria o condão de afastar a aplicação da lei penal (ex: jogo do bicho). A posição majoritária é de que não se pode atribuir esta força aos costumes, tendo como base o artigo 2º da LICC que dispõe que: “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique”.
	Nos ordenamentos em que o costume é inferior a lei, não vale o costume ab-rogativo; a lei não pode ser revogada por um costume contrário (BOBBIO). COSTUME NÃO REVOGA LEI.
	Além dos costumes, como fontes indiretas do Direito Penal podemos citar os PRINCÍPIOS GERIAS DE DIREITO, que são premissas éticas extraídas da legislação e do ordenamento jurídico (MIRABETE). BOBBIO preleciona serem elas “normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais”. Para FREDERICO MARQUES, no campo da ilicitude do ato, há casos onde só os princípios de direito justificam, de maneira satisfatória e cabal, a inaplicabilidade das sanções punitivas. É o que sucede nas hipóteses onde a conduta de determinada pessoa, embora perfeitamente enquadrada nas definições legais da lei penal, não pode, ante a consciência ética e nas regras do bem comum, ser passível de punição. É isto que, por exemplo, impede a mãe de ser punida ao furar as orelhas da filha para colocar-lhe brincos, apesar de se tratar de lesão corporal.
1.3 – Analogia em Direito Penal: também contemplada no artigo 4º da LICC, é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina hipótese semelhante (MIRABETE). É INADMISSÍVEL o emprego de analogia para criar ilícitos penais ou sanções criminais. Entretanto, não há impedimento que se faça uso de analogia, na lacuna da lei, para favorecer o réu (analogia in bonam partem), não contrariando-se o principio da reserva legal. Só podem ser supridas as chamadas “lacunas legais involuntárias”, posto que onde a regra legal tenha caráter definitivo não há lugar para analogia (impossibilidade de aplicação contra legem). Exemplo prático é a exclusão da
pena, nos casos de aborto, que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao pudor (o artigo 128, II do CP se refere apenas ao crime de estupro).
2- Interpretação da Lei Penal
	É o processo lógico que procura estabelecer a vontade contida na norma jurídica (Magalhães NORONHA). Para Paulo QUEIROZ, a interpretação e a aplicação do direito formam um processo único e complexo que compreende a análise e a apreciação de fatos, provas e textos, de sorte que constitui o momento mais importante da reconstrução social da realidade, arbitrária e seletiva. Ainda segundo o mesmo autor, a aplicação da lei em cada caso particular requer, necessariamente, como todo e qualquer texto, interpretação do seu significado, com vistas a decidir casos concretos. Interpretar é, em realidade, argumentar corretamente num sistema aberto, argumentação de que participam, sobretudo, advogados, promotores e juízes e sendo múltiplas as possibilidades de argumentação, múltiplas também são as possibilidades de interpretação correta do texto.
	A doutrina, porém, em nome da chamada “segurança jurídica” defende a adoção de critérios e métodos no sentido de encontrar uma única resposta correta (daí o surgimento de metáforas como “o espírito da lei”).
	Dentro das espécies de interpretação, a doutrina a divide em:
1- Quanto ao SUJEITO
a) interpretação autêntica: é a que procede da mesma origem que a lei e tem força obrigatória. Quando vem inserida na lei é chamada de contextual (conceito de funcionário público – art. 327 do CP – e de casa – art. 150, § 4º e 5º do CP).
b) interpretação judicial (ou jurisprudencial): o conjunto de manifestações judiciais sobre determinado assunto legal, exaradas num sentido razoavelmente constante. É assim a interpretação que os juízos e Tribunais dão a norma, entretanto não tem força vinculativa, exceto se editada súmula pelo STF neste sentido (ver art. 103-A da CF). Exemplo, Súmula Vinculante 11 que dispõe: 
“SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTÊNCIA E DE FUNDADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL DO AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO”. 
c) interpretação doutrinária: constitui o entendimento dado aos dispositivos legais pelos escritores ou comentadores do Direito. Esta interpretação também não tem caráter obrigatório.
2 – Quanto ao MEIO
a) interpretação gramatical (ou literal): procura-se fixar o sentido das palavras ou expressões empregadas pelo legislador. Examina-se a “letra da lei”, em sua função gramatical, quanto ao seu significado no vernáculo.
 b) interpretação teleológica: quando insuficiente a interpretação literal, busca-se a “vontade da lei”, por meio de um confronto lógico entre seus dispositivos. Há que se indagar por vezes o sentido teleológico da lei, com vista na apuração do valor e finalidade do dispositivo. 
3 – Quanto ao RESULTADO
a) interpretação declarativa: ocorre quando o texto examinado não é ampliado nem restringido, encontrando-se apenas o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei. Exemplo o artigo 141, III do CP, conceito de “várias pessoas”, que significa mais de duas (se a lei fosse expressa diria duas).
b) interpretação restritiva: quando se reduz o alcance da lei para que se possa encontrar sua vontade exata. Exemplo: do conceito de “funcionário público” disposto no artigo 332 do CP deve ser excluído o juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha, referidos no crime de exploração de prestígio contra a administração da Justiça disposto no artigo 357 do CP.
c) interpretação extensiva: ocorre quando é necessário ampliar o sentido ou o alcance da lei. Por exemplo o artigo 235 do CP quando trata do crime de bigamia, que também engloba a poligamia, o artigo 130 do CP que trata não só o “perigo de contágio” como também o contágio da moléstia venérea. Parte da doutrina aponta que a interpretação extensiva comporta um outro gênero chamado de interpretação analógica, quando formulas causuísticas inscritas em um dispositivo penal são seguidas de espécies genéricas, abertas, utilizando-se a semelhança (analogia) para uma correta interpretação. Exemplos: “outro recurso” análogo a traição, emboscada ou dissimulação (art. 61, II, c do CP), substância de efeitos análogos ao álcool (art 28, II do CP), casa do “mesmo gênero” que a taberna ou a casa de jogo (art. 150, II do CP). Não se deve confundir a interpretação analógica com a analogia, posto que a última é forma de auto-integração da lei com a aplicação a um fato não regulado, e a primeira é a busca da vontade da norma por meio de semelhança com fórmulas usadas pelo legislador.
d) interpretação progressiva: é utilizada para englobar as novas concepções ditadas pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais. Exemplos são as mudanças na concepção de “doença mental” (art. 26 do CP), “inexperiência” da menor (art. 217 do CP) e “lugar destinado a encontros para fins libidinosos” (art. 229 do CP).
Interpretação conforme a Constituição
	Não esquecer que, no tocante a interpretação das normas penais, o intérprete SEMPRE deverá levar em conta que a interpretação deve se dar de acordo com os princípios informadores da Carta Constitucional, não podendo de modo algum afrontá-los, sob pena de ver judicialmente declarada a sua invalidade (GRECO). Assim, reconhece-se a supremacia da Constituição sobre todo o ordenamento jurídico, não só estabelecendo uma hierarquia de uma lei superior sobre outra de nível inferior, como também, exercendo uma vigilância da constitucionalidade das leis (Manoel Messias Peixinho). 
3 – Aplicação da lei penal no tempo
	De acordo com o princípio tempus regit actum, a lei rege, em geral os fatos praticados durante sua vigência. Sendo assim, em tese, a lei não pode alcançar fatos ocorridos em período anterior a sua vigência ou posteriores a sua revogação. Surgem conflitos quando a conduta é praticada na vigência de uma lei penal, que posteriormente é revogada ou alterada. Desta forma, o Direito Penal criou uma série de soluções para estes conflitos. 
	Via de regra, pelo princípio da anterioridade da lei penal, (art. 1º do CP) não há crime ou pena sem lei anterior, o que configura a IRRETROATIVIDADE da lei penal, salvo quando a nova lei for mais benigna (lex mitior), atingindo assim fato anterior a sua vigência, quando ocorre a RETROATIVIDADE da lei penal. Sendo assim, entrando em vigor lei mais severa (lex gravior), esta não alcança fato praticado anteriormente, conforme preceitua o artigo 5º, inc. XL da CF. Surgindo assim lei penal mais severa, para os fatos ocorridos na vigência da lei mais branda, aplica-se a lei anterior, configurando-se assim a ULTRATIVIDADE da lei penal. Neste sentido, dispõe a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica), em vigência no ordenamento pátrio por força do Decreto nº. 678/92, que dispõe no artigo 9º que: “Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser imposição de pena mais leve, o delinqüente será por isso beneficiado”. 
	Concluindo, segundo as lições de MIRABETE, será aplicada sempre a lei mais favorável, significando que a lei penal benigna tem EXTRATIVIDADE (é retroativa e ultrativa), ao contrário da lei mais severa.
	Surgem assim quatro alternativas para a solução do conflito de leis penais no tempo:
a) novatio legis incriminadora: lei nova torna típico fato anteriormente
não incriminado.
b) abolitio criminis: ocorre quando nova lei passa a não incriminar fato que anteriormente era considerado crime (ver artigo 2º do CP).
c) novatio legis in pejus: refere-se a nova lei mais severa que a anterior.
d) novatio legis in melius: refere-se a lei nova mais favorável que a anterior (ver art. 2ª, parágrafo único do CP).
4 – Normas penais em branco
	São aquelas em que há a necessidade de complementação para que se possa compreender o âmbito de aplicação de seu preceito primário. Isso significa que, embora haja uma descrição da conduta proibida, essa descrição requer, obrigatoriamente, um complemento extraído de um outro diploma – leis, decretos, regulamentos etc – para que possam, efetivamente, ser entendidos os limites da proibição ou imposição feitos pela lei penal, uma vez que sem esse complemento, torna-se impossível sua aplicação (GRECO). Francisco Assis Toledo aponta que as normas penais em branco “são aquelas que estabelecem a cominação penal, ou seja, a sanção penal, mas remetem a complementação da descrição da conduta proibida para outras normas legais, regulamentares ou administrativas”.
	Exemplo é o artigo 28 da Lei 11.343/2006 (Lei Antidrogas), onde somente após a leitura da Portaria expedida pela ANVISA é que podemos saber se a substância pode ou não ser considerada entorpecente.
	
As normas penais em branco podem ainda ser classificadas como:
a) normas penais em branco homogêneas (em sentido amplo): quando o seu complemento é oriundo da mesma fonte legislativa que editou a norma que precisa desse complemento. Exemplo: o art. 237 do CP, pois os “impedimentos” para o casamento estão dispostos no art. 1.521, I a IV do CC. Elas são chamadas de homogêneas porque a fonte de produção do Código Civil (de onde extraímos o complemento) é a mesma do Código Penal, ou seja, ambas foram produzidas pelo Congresso Nacional.
b) normas penais em branco heterogêneas (ou em sentido estrito): quando o seu complemento é oriundo de fonte diversa daquela que a editou. Exemplo o art. 28 da Lei Antidrogas, onde o complemento foi produzido por uma Portaria da ANVISA.
	Questão controvertida surge no tocante a ofensa ao princípio da legalidade pelas normas penais em branco heterogêneas, tendo em vista que seu complemento é oriundo de outra fonte que não a lei em sentido estrito. Alguns autores, a exemplo de Rogério GRECO, entendem que existe uma ofensa ao princípio da legalidade, visto que o conteúdo da norma penal poderá ser modificado sem que haja uma discussão amadurecida da sociedade a seu respeito, como ocorre quando os projetos de lei são submetidos a apreciações por ambas as Casas do Congresso Nacional. O que se opera é uma renúncia do legislador penal a sua função programadora de criminalização primária, assim transferida a funcionários e órgãos do Poder Executivo. (neste sentido, NILO BATISTA, ZAFFARONI, ALAGIA E SLOKAR). Entretanto, tem prevalecido como posição majoritária junto a doutrina o entendimento que não há ofensa ao princípio da legalidade. Neste sentido, nos parece ser mais certa a lição de CARBONELL MATEU (apud Rogério Greco):
“A técnica das leis penais em branco pode ser indesejável, mas não se pode ignorar que é absolutamente necessária em nossos dias. A amplitude das regulamentações jurídicas que dizem respeito sobre as mais diversas matérias, sobre as que pode e deve pronunciar-se o Direito Penal, impossibilita manter o grau de exigência de legalidade que se podia contemplar no século passado ou inclusive a princípio do presente. Hoje, cabe dizer que desgraçada mas necessariamente, temos de nos conformar com que a lei contemple o núcleo essencial da conduta”.
5 – Leis temporárias e excepcionais
	Leis temporárias são as que possuem vigência previamente fixada pelo legislador e leis excepcionais as que vigem durante situações de emergência. Tem previsão no artigo 3º do CP, e segundo este dispositivo, têm ultratividade, ou seja, aplicam-se aos fatos ocorridos sob seu império, mesmo depois de sua revogação pelo decurso do tempo ou pela cessação da situação excepcional. 
 
6 – Tempo do crime
	Configuram-se três teorias a respeito do tempo do crime:
a) teoria da atividade (ou da ação): considera que o tempo do crime será o da ação ou da omissão, ainda que seja outro o momento do resultado. Para essa teoria o que importa é o momento da conduta, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo.
b) teoria do resultado: considera o tempo do crime o da ocorrência do resultado. 
 
c) teoria mista ou da ubiqüidade: considera como tempo do crime tanto o momento da ação como o do resultado, indiferentemente.
	O Código Penal, conforme preceitua o artigo 4º, adotou a teoria da atividade. Desta forma, o momento da conduta omissiva ou comissiva será o marco inicial para todo tipo de raciocínio a respeito do tempo do crime. Tendo como base a teoria da atividade, podemos concluir que por exemplo, um agente que, sendo menor de idade profere disparos de arma de fogo com o intuito de ceifar a vida da vitima, não responde pelo ilícito penal, mesmo que a vítima venha a falecer em virtude de sua conduta quando o autor já tiver completado a maioridade.
	Tratando-se de crimes permanentes, cuja consumação se prolonga no tempo enquanto perdurar a ofensa ao bem jurídico (ex: extorsão mediante seqüestro – art. 159 do CP), o tempo do crime se dilata pelo período de permanência. Assim sendo, se o agente, quando se inicia o crime era menor de idade, porém durante a fase de execução atinge a maioridade, responderá segundo os ditames do Código Penal e não pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Neste sentido, o STF editou a Súmula 711 que assim preceitua: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou permanente, se sua vigência é anterior a cessação da continuidade ou da permanência”.
7 – Lei penal no espaço
	O Código Penal no artigo 5º, caput trata do princípio da territorialidade, segundo o qual cabe ao Estado brasileiro processar e julgar todas as infrações penais ocorridas em território nacional, independentemente da nacionalidade dos envolvidos. Desta forma, o dispositivo legal em comento determina a aplicação da lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional ao crime cometido no território nacional. Assim, conforme entendimento da doutrina, adotou o legislador a teoria conhecida como temperada, posto que o Estado, mesmo sendo soberano, em certas situações pode abrir mão da aplicação da legislação nacional.
	Dentro deste conceito, essencial se faz a definição de território, cujo conceito jurídico difere do conceito geográfico. Território para fins jurídicos abrange todo o espaço – terrestre, fluvial, marítimo e aéreo – onde o Estado brasileiro é soberano. Da mesma forma, são também território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, desde que se achem, respectivamente, no espaço aéreo ou em alto-mar (art. 5º, §1º). Esta segunda parte significa que onde não houver soberania de qualquer país, como é o caso do alto-mar e o espaço aéreo a ele correspondente, se houver infração penal a bordo de uma aeronave ou embarcação mercante ou de propriedade privada, de bandeira nacional, será aplicada a legislação brasileira.
	Já o § 2º do artigo 5º do CP determinou também a aplicação da lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se as aeronaves em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e as embarcações em porto ou mar territorial do Brasil. Perceba-se que o legislador deu tratamento diferenciado as aeronaves e embarcações públicas ou a serviço de governo estrangeiro, que são da mesma forma que as brasileiras, consideradas
extensão do território correspondente a sua bandeira.
8 – Lugar do crime
	Como no “tempo do crime”, existem três teorias a respeito do “lugar do crime”:
a) teoria da atividade: o lugar do crime seria o da ação ou da omissão, ainda que fosse outro o da ocorrência do resultado;
b) teoria do resultado: despreza o lugar da conduta e defende a tese de que o lugar do crime será tão somente, aquele em que ocorrer o resultado;
c) teoria mista ou da ubiqüidade: aduz que o lugar do crime será o da ação ou da omissão, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
	Adotou o Código Penal a teoria mista ou da ubiqüidade, posto que o artigo 6º considera praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado, resolvendo assim problemas do Direito Penal Internacional relacionados com os crimes praticados a distância.
9 – Extraterritorialidade
	Este princípio preocupa-se com a aplicação da lei brasileira às infrações penais cometidas em países estrangeiros. A extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada.
	Será incondicionada quando ocorridos os fatos dispostos no artigo 7º, inc.I do CP, aplicando-se a lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, seja necessário o concurso de qualquer condição, sendo o agente em qualquer hipótese punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido no estrangeiro. Em caso de condenação será aplicada a regra do artigo 8º do CP, evitando-se bis in idem, ou seja, que o agente seja punido duas vezes pelo mesmo fato.
	Já a extraterritorialidade condicionada encontra-se prevista no artigo 7º, inc. II do CP, que dispõe os casos sujeitos a lei brasileira mesmo que cometidos no estrangeiro. É chamada de condicionada porque o § 2º do art. 7º as tornou-as obrigatórias para a aplicação da lei penal brasileira.
	Por fim, a lei brasileira aplica-se ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil se, além de atendidas as condições, não foi pedida ou negada a extradição e houve requisição do Ministro da Justiça (§ 3º do art. 7º do CP).
	Nos casos de extraterritorialidade, por força do artigo 109, inc. V e IX , cabe à Justiça Federal o julgamento do agente.
10 – Contagem de prazo
 
	Conforme preceitua o artigo 10 do CP (1ª parte), o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Este dispositivo trata da contagem do chamado prazo penal, que difere da regra disposta no artigo 798, § 1º do Código de Processo Penal, que trata dos chamados prazos processuais penais. Assim, caso ocorra um conflito entre as regras de contagem de prazo, deve prevalecer a regra penal, posto ser esta mais benéfica ao autor do crime. Rogério GRECO defende ainda que em se tratando de réu preso, mesmo os prazos que a primeira vista seriam processuais passariam a ser penais por serem mais benéficos ao autor do delito.
	O artigo 10 do CP ainda determina, em sua segunda parte, que os dias, os meses e os anos sejam contados pelo calendário comum, isto é, pelo calendário conhecido como gregoriano.
11 – Conflito aparente de normas
	Não comum são os casos onde ocorre um conflito aparente de normas – ou concurso de normas – onde sobre determinado comportamento incide simultaneamente, mais de uma norma penal incriminadora, embora só uma possa ser aplicada. Desta forma, deverá o juiz, considerando as singularidades que envolvem o caso bem como os elementos que integram cada tipo penal, declarar a norma a ser aplicada à situação dada, sob pena de violação aos princípios da legalidade e proporcionalidade. Exemplo clássico ocorre sobre a conduta de eliminar a vida de alguém, que em tese pode ocorrer através de um homicídio (art. 121 do CP), infanticídio (art. 123 do CP), lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), latrocínio (art. 157, § 3º) etc.
	Além da aplicação dos princípios penais, salutar se faz para dirimir o conflito aparente de normas conhecer-se no caso concreto a intenção (o dolo) do agente (é o que diferencia, por exemplo, a prática do crime de homicídio qualificado pela tortura – art. 121, § 2º do CP – do crime de tortura qualificado pelo resultado morte do art. 1º, § 3º da Lei 9455/97 ou até mesmo eventual concurso material) e o bem jurídico tutelado pelas normas em conflito (tratando-se do mesmo bem jurídico, em principio, haverá conflito aparente de normas e em caso negativo ocorrerá normalmente concurso de crimes).
	Admitem-se três princípios para solução do conflito aparente de normas:
a) princípio da especialidade: diz-se que uma norma é especial em relação a outra, dita geral, quando além dos requisitos que esta prevê, contém ela outros elementos chamados especializantes, ausentes na descrição do tipo penal genérico (Paulo QUEIROZ). É o que acontece, por exemplo, no crime de infanticídio (art. 123 do CP) – norma especial – onde este além de conter o “matar alguém”, ainda elenca normas especializantes (próprio filho, sob a influência do estado puerperal etc) que engloba o disposto no art. 121 do CP (homicídio).
b) princípio da subsidiariedade: ocorre quando entre os vários tipos penais, há disposição de lei visando proteger um mesmo bem jurídico (vida, honra), descreve graus distintos de violação, ou seja, uma é auxiliar ou subsidiária em face da outra, dita principal. Há assim diferentes posições penais protegendo o mesmo bem jurídico em diferentes fases de ataque, razão porque a norma subsidiária somente será aplicada quando não couber a aplicação da norma principal (QUEIROZ). Exemplos: há relação de subsidiariedade entre os crimes tentados e os consumados, entre os dolosos e os culposos.
c) princípio da consunção ou absorção: há relação de consunção ou absorção entre os tipos penais quando o conteúdo de um já se acha inserido noutro, de modo que o crime “absorvido” constitui em verdade, parte da realização do tipo “total” (QUEIROZ). Exemplos: a relação do crime de homicídio com o de lesão corporal (o homicídio “absorve” a lesão), entre o seqüestro e a extorsão mediante seqüestro (a extorsão “absolve” o seqüestro). 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, Parte Geral, vol. I. São Paulo: Atlas, 2001.
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006.
GRECO, Rogério. Direito Penal, Parte Geral, vol. I. Niterói: Impetus, 2007.
 
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O5.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA V
TEORIA GERAL DO DELITO
	Ocupa-se dos pressupostos gerais – formais e materiais – que devem concorrer para que determinado comportamento humano possa ensejar a aplicação de uma sanção penal (pena ou medida de segurança). (QUEIROZ).
	Para ZAFFARONI, a teoria do delito é “a parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o delito em geral, quer dizer, quais são as características que devem ter qualquer delito”.
	MIRABETE, citando Battaglini, aponta que “o delito é um todo unitário, porém por razões práticas decompõe-se em elementos, definindo-o como o fato humano descrito no tipo legal e cometido com culpa, ao qual é aplicável a pena”.
	Mesmo sendo o crime “um todo unitário”, existem portando elementos fundamentais que devem ser analisados para que configure-se o crime, quais sejam: TIPICIDADE, ILICITUDE (ou ANTIJURIDICIDADE) e CULPABILIDADE.
	Como bem leciona GRECO, “podemos dizer que cada um desses elementos, na ordem em que foram apresentados, é um antecedente lógico e necessário à apreciação do elemento seguinte”. Citando WELZEL, ainda complementa:
“A tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade são três elementos que convertem uma ação em um delito. A culpabilidade – a responsabilidade pessoal por um fato antijurídico – pressupõe a antijuridicidade do fato, do mesmo modo que a antijuridicidade,
por sua vez, tem de estar concretizada em tipos legais. A tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade estão relacionadas logicamente de tal modo que cada elemento posterior de delito pressupõe o anterior”.
	Inicialmente se faz necessário definir o que seja crime e o que seja contravenção penal.
a) crime: o artigo 1º, primeira parte, da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914 de 09/12/41) traz a seguinte definição:
“Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa”.
b) contravenção penal: encontram-se dispostas no Decreto-Lei nº 3.688/41 e o artigo 1º, segunda parte, da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914 de 09/12/41) traz a seguinte definição:
“Contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente”.
	Sendo assim, dispõe o referido diploma legal que tanto os crimes (sinônimo de delitos), quanto as contravenções penais, são consideradas INFRAÇÕES PENAIS.
	Para Nelson HUNGRIA, as contravenções penais são consideradas “delitos-anões” e devem, em geral, tocar as infrações consideradas menos graves, ou seja, aquelas que ofendam bens jurídicos não tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um delito.
	Na verdade, a distinção entre crime e contravenção se faz em virtude do bem jurídico tutelado e do grau de proteção que a sociedade entende que este deva ter, o que nos leva a caracterizar uma conduta como criminosa ou contravencional. Desta forma, o que hoje é tido como contravenção, amanhã pode passar a ser crime, se o legislador assim decidir. Exemplo foi a mobilização para tornar a contravenção penal de porte de arma de fogo (art. 19 do Decreto-lei nº 3.688/41) em crime, o que ocorreu com a Lei 9.437/97 (art. 10), sendo a conduta posteriormente agravada com o advento da Lei nº 10.826/2003, que criou outros tipos penais (art. 12, 14 e 16).
CONCEITO DE CRIME
	Não existe um conceito de crime disposto pelo legislador, existindo apenas um conceito jurídico formado pela doutrina, que durante anos vem desenvolvendo o conceito de crime. Desta forma, desenvolveram-se três conceitos a respeito do crime:
a) conceito formal: crime é toda conduta que atentasse, que colidisse frontalmente contra a lei penal editada pelo Estado. “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena”. (FRAGOSO).
b) conceito material: crime seria aquela conduta que viola os bens jurídicos mais importantes. “Crime é a ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou se considere afastável somente através de sanção penal”. (FRAGOSO).
	Como aponta GRECO, os conceitos formal e material não traduzem com precisão o que seja crime, posto que não conseguem defini-lo. Assim, a primeira aponta que se existe uma lei penal, editada pelo Estado e o agente a viola, sem estarem presentes umas das cláusulas excludentes de ilicitude ou culpabilidade, haverá crime. Já a outra aponta que só haverá crime quando a conduta afrontar bens jurídicos relevantes (observe-se que mesmo no conceito material deve ser respeitado o princípio da legalidade).
CONCEITO ANALÍTICO
	Surge em virtude dos conceitos formal e material não definirem o que seja o crime, analisando as características (ou elementos) que o compõe. A função do conceito analítico é de analisar todos os elementos ou características que integram o conceito de infração penal sem que com isso se queira fragmentá-lo (GRECO). Ou o agente comete o delito (fato típico, ilícito e culpável) ou o fato por ele praticado será penalmente irrelevante. Este estudo estratificado, como bem lembra GRECO é o que nos permite, com clareza, verificar a existência ou não de infração penal.
	Temos assim o seguinte quadro, proposto por GRECO:
CRIME
		FATO TÍPICO
		ANTIJURÍDICO
		CULPÁVEL
		Conduta – dolosa/culposa
 comissiva/omissiva
		Obs.: quando o agente não atua em:
		Imputabilidade
		Resultado
		Estado de necessidade
		Potencial consciência sobre a ilicitude do fato. 
		Nexo de causalidade
		Legítima defesa
		Exigibilidade de conduta diversa
		Tipicidade – formal
 conglobante
		Estrito cumprimento do dever legal
		
		
		Exercício regular de direito
		
		
		Quando não houver consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão de ilicitude
		
 
	Assim, de acordo com o conceito analítico (FINALISTA), CRIME É TODO FATO TÍPICO, ILÍCITO (ou ANTIJURÍDICO) e CULPÁVEL (CONCEITO TRI-PARTIDO DE CRIME). 
	Cumpre ainda apontar que, anterior a formulação da teoria finalista, prevalecia a TEORIA DA CAUSALIDADE, que colocava o dolo e a culpa como elementos da culpabilidade. Passou-se a analisar dolo/culpa dentro da tipicidade, posto que, para os finalistas, estes são elementos psicológicos que animam a conduta, ligando o agente a seu fato. Esses elementos, portanto, não são a causa de reprovabilidade da conduta, situando-se no terreno da tipicidade e não da culpabilidade (Manoel Pedro PIMENTEL).
	Para os finalistas, o FATO TÍPICO seria composto dos seguintes elementos:
a) conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva;
b) resultado;
c) nexo de causalidade entre conduta e resultado;
d) tipicidade (formal e conglobante).
	Já ILICITUDE é a relação de contrariedade, de antagonismo, que se estabelece entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. A conduta sendo típica, apenas será lícita, se o agente agir amparado sob uma das cláusulas excludentes de ilicitude previstas no art. 23 do CP (cláusulas legais). Além das legais, a doutrina aponta como cláusula supralegal o consentimento do ofendido, desde que este tenha capacidade para consentir, que o bem jurídico sobre o qual recaia a conduta seja disponível e que este consentimento seja prévio à conduta do agente.
	Por último, CULPABILIDADE é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. Seus elementos integrantes são: imputabilidade, potencial consciência sobre a ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa.
	
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, Parte Geral, vol. I. São Paulo: Atlas, 2001.
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006.
GRECO, Rogério. Direito Penal, Parte Geral, vol. I. Niterói: Impetus, 2007.
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O6.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA VI
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO
CONDUTA
	Estudando o conceito analítico de crime, é essencial analisar separadamente cada elemento que compõe o conceito de “crime”. Conforme já apontado, a conduta do agente somente poderá ser classificada como crime se presentes todos os elementos integrantes do conceito analítico de crime, FATO TÍPICO, ILÍCITO e CULPÁVEL.
	Relativamente ao fato típico, apresentam-se as seguintes elementares:
1 – conduta;
2 – resultado;
3 – nexo de causalidade;
4 – tipicidade.
	CONDUTA, como primeiro elemento integrante do fato típico, significa ação ou comportamento (humano), podendo ser esta comissiva (positiva), omissiva (negativa), dolosa (quando o agente assume o risco de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe seu dever e cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia). (GRECO)
	Como bem afirma MIRABETE, é sobre o conceito de ação que repousa a divergência mais expressiva entre os penalistas, surgindo assim as TEORIAS CAUSALISTA ou CLÁSSICA, a FINALISTA e a TEORIA SOCIAL
DA AÇÃO.
1 – TEORIA CAUSALISTA (ou CLÁSSICA)
	Segundo esta concepção, devemos analisar o conceito de ação em dois momentos diferentes. Em um primeiro momento, havia uma concepção causal-naturalista, criada por LISZT e BELING, onde a conduta é um comportamento humano voluntário no mundo exterior, que consiste em fazer ou não fazer (MIRABETE), é a ação, o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior (GRECO).
	Para FRANZ VON LISZT “ação é pois o fato que repousa sobre a vontade humana, a mudança do mundo exterior referível à vontade do homem. Sem ato de vontade não há ação, não há injusto, não há crime: cogitationis poenam nemo patitur. Mas também não há ação, não há injusto, não há crime sem uma mudança operada no mundo exterior, sem um resultado”. 
	Sendo assim, para aqueles que adotam a teoria clássica (Liszt, Beling, Basileu Garcia, Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Aníbal Bruno) a conduta é um processo mecânico, muscular e voluntário (porque não é um ato reflexo), em que se prescinde do fim a que essa vontade se dirige, bastando a certeza de que tenha o agente agido voluntariamente, sendo irrelevante o que queria, para se afirmar que praticou a ação típica. Para os causalistas, para se concluir pela existência da ação típica, deve-se apreciar o comportamento sem qualquer indagação a respeito de sua ilicitude ou de sua culpabilidade, ou seja, consideram que a ação é a manifestação da vontade sem conteúdo finalistíco, devendo esse conteúdo (fim da conduta) ser apreciado na culpabilidade, como elemento dela. (MIRABETE)
	A crítica que se faz a teoria clássica diz respeito ao “conceito jurídico penal” da conduta humana, diferente do “conceito real”, posto que cindi-se um fenômeno real, separando-se a ação voluntária de seu conteúdo (o fim do agente ao praticar a ação) e ignorando-se que toda ação humana tem um fim, o que explica a dificuldade na conceituação da tentativa, pois a tipicidade desta exige que se verifique de imediato a finalidade da ação. (MIRABETE)
2 – TEORIA FINALISTA
	Para esta, como todo comportamento humano tem uma finalidade, a conduta é uma atividade final humana, e não um comportamento simplesmente causal. (MIRABETE) É a ação, portanto, um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer (GRECO). Como a conduta é um fazer (ação) ou não fazer (omissão) voluntário, via de regra implica em uma finalidade, não se concebendo vontade de nada ou para nada e sim dirigida para um fim.
	Com esta teoria, formulada por HANS WELZEL, a ação passou a ser concebida como “o exercício de uma atividade final”, que pode ser ilícita (quando há dolo) ou lícita (quando há culpa). Desta forma, para os finalistas, somente terá praticado o fato típico o agente que agir com a intenção de produzir o resultado (dolo) ou que age sem o respeito das cautelas exigíveis (culpa).
3 – TEORIA DA AÇÃO SOCIAL
	Também chamada de teoria da ação socialmente adequada, aponta que a ação é a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela vontade humana. Desta forma, só haverá fato típico se a conduta for “socialmente relevante”. Como aponta WESSELS “o conceito de ação, comum a todas as formas de conduta, reside na relevância social da ação ou da omissão. Interpreta a ação como fator estruturante conforme o sentido da realidade social, como todos seus aspectos pessoais, finalistas, causais e normativos”.
	As críticas a essa teoria dizem respeito a dificuldade de conceituar-se o que seja “relevância social da conduta”, pois tal exigiria um juízo de valor ético. Tratar-se-ia de um critério vago e impreciso que, inclusive, influiria nos limites da antijuridicidade, tornando também indeterminada a tipicidade (MIRABETE). 
	
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, Parte Geral, vol. I. São Paulo: Atlas, 2001.
GRECO, Rogério. Direito Penal, Parte Geral, vol. I. Niterói: Impetus, 2007.
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O7.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA VII
ELEMENTO SUBJETIVO
DOLO – é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador (GRECO). O dolo (conduta), como pressuposto do delito, aparece pela primeira vez no Direito romano, onde foi concebido com perfis muito nítidos e definidos, identificando-o como a intenção ou, melhor ainda, com a má intenção, ou malícia na realização do fato ilícito.Deste modo ficava superada a primitiva concepção do ilícito penal como mera causação objetiva de resultados, exigindo-se a intenção imoral dirigida a um fim antijurídico – o dolus malus – como fundamento para a aplicação da pena pública (definição de Patrícia Laurenzo Copello, apud GRECO).
	Desta forma, dispõe o artigo 18 do Código Penal:
				Art. 18. Diz-se o crime:
				I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
	WELZEL dispõe que “toda ação consciente é produzida pela decisão da ação, quer dizer, pela consciência do que se quer – o momento intelectual – e pela decisão a respeito de querer realizá-lo – o momento volitivo. Ambos os momentos, conjuntamente, como fatores configuradores de uma ação típica real, formam o dolo (= dolo do tipo)”.
	ZAFFARONI dispõe que “o dolo é uma vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado”.
	Isto posto, como bem aponta GRECO, faz com que o dolo seja formado por um elemento intelectual (consciência do que se quer) e por um elemento volitivo (decisão a respeito do querer realizá-lo).
	MIRABETE dispõe que “o dolo é a consciência e a vontade na realização da conduta típica ou a vontade da ação orientada para a realização do tipo”.
	No tocante a consciência (momento intelectual do dolo) analisamos a situação fática em que se encontra o agente. Desta forma é essencial que o agente tenha “consciência” (saber o que faz) para que possamos lhe atribuir o resultado lesivo a título de dolo.
	No que tanga a vontade, resta claro que esta deve ser espontânea, não se admitindo qualquer forma de coação. Para MIRABETE “vontade é querer alguma coisa e o dolo é a vontade dirigida à realização de um tipo penal”.
	
TEORIAS SOBRE O DOLO
a) Teoria da vontade: age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente (MIRABETE), ou, “a vontade livre e consciente de querer praticar a infração penal, isto é, querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal incriminador”. (GRECO).
b) Teoria do assentimento (ou do consentimento): atua com dolo aquele que, antevendo como possível o resultado lesivo com a prática de sua conduta, mesmo que não o querendo de forma direta, não se importa com sua ocorrência, assumindo o risco de produzi-lo. O agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo. Aponta MIRABETE que segundo esta teoria existiria dolo simplesmente quando o agente consente em causar o resultado e praticar a conduta.
c) Teoria da representação: fala-se em dolo toda vez que o agente tiver tão-somente a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decidir pela continuidade de sua conduta (GRECO). Para esta teoria não há distinção entre dolo eventual e culpa consciente, pois a antevisão do resultado leva a responsabilização do agente a título de dolo.
d) Teoria da probabilidade: aqui, se o sujeito considera provável a produção do resultado, estaremos diante do dolo eventual. Se considerava que a produção do resultado era meramente possível, se daria a imprudência consciente ou com representação. Esta teoria trabalha com dados estatísticos, ou seja, se de acordo com determinado comportamento praticado pelo agente, estatisticamente, houvesse grande probabilidade de ocorrência do resultado, estaríamos diante do dolo eventual.
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL
BRASILEIRO: pela redação do artigo 18, I do Código Penal, podemos concluir que nossa legislação adotou as teorias da vontade e do consentimento. Para nossa legislação penal, age dolosamente aquele que, diretamente, quer a produção do resultado, bem como aquele que, mesmo não o desejando de forma direta, assume o risco de produzi-lo.
	A primeira parte do artigo em comento diz respeito ao chamado dolo direto (aquele onde o agente realiza a conduta com o fim de obter o resultado). Já a segunda parte do artigo 18, I do CP trata do chamado dolo eventual (quando a vontade do agente não está direcionada para a obtenção do resultado, onde ele quer evento diverso, mas, prevendo que este possa ocorrer, assume assim o risco de causá-lo).
 
ESPÉCIES DE DOLO
1) DOLO DIRETO
	Disposto na primeira parte do artigo 18, I do CP, representa a vontade (finalistica) do agente em praticar a conduta descrita no tipo penal. Como bem aponta JUAREZ CIRINO “a intenção designa o que o autor pretende realizar, o propósito direto abrange as conseqüências típicas previstas como certas ou necessárias e o propósito condicionado (dolo eventual) indica a aceitação das ou conformação com conseqüências típicas previstas como possíveis”.
	No que tange ao dolo direto, este pode ser dividido em duas situações:
a) dolo direto de 1º grau: tem por conteúdo o fim proposto pelo autor, que pode ser entendido como pretensão dirigida ao fim ou ao resultado típico, ou como pretensão de realizar a ação ou o resultado típico (CIRINO). Neste caso, o autor quer precisamente o resultado.
b) dolo direto de 2º grau: compreende os meios de ação escolhidos para realizar o fim e, de modo especial, os efeitos secundários representados como certos ou necessários, independentemente de serem esses efeitos ou resultados desejados ou indesejados pelo autor (CIRINO). No dolo direto de segundo grau, o autor não quer diretamente o resultado, mas o admite como necessariamente unido ao resultado que busca (MIRABETE).
2) DOLO INDIRETO
	Encontra-se disposto na segunda parte do artigo 18, II do CP, podendo ser dividido de duas formas:
a) dolo indireto alternativo: apresenta-se quando o aspecto volitivo do agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa contra qual o crime é cometido (Fernando Galvão, apud GRECO). Ele pode ter como base o resultado (exemplo quando o autor efetua disparos querendo machucar ou matar a vítima), ou a pessoa (quando efetuando disparos contra uma multidão,o agente não se importa em atingir uma ou outra vítima). O dolo alternativo, como aponta GRECO, é uma mistura entre dolo direto e dolo eventual.
b) dolo indireto eventual: ocorre quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito (GRECO). CIRINO aponta que o dolo eventual se caracteriza, no nível intelectual, por levar a sério a possível produção do resultado típico e, no nível de atitude emocional, por conformar-se com a eventual produção deste resultado. Seguindo as lições de Francisco Muñoz Conde, “no dolo eventual, o sujeito representa o resultado como de produção provável, e embora não queira produzi-lo, continua agindo e admitindo a sua eventual produção. O sujeito não quer o resultado, mas conta com ele, admite sua produção, assume o risco, etc”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal, Parte Geral, vol. I. São Paulo: Atlas, 2001.
GRECO, Rogério. Direito Penal, Parte Geral, vol. I. Niterói: Impetus, 2007.
Teoria Geral do Crime /DIREITO PENAL I AULA O8.doc
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DIREITO PENAL I 							AULA VIII
TIPO CULPOSO
CULPA – é a conduta humana voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado (MIRABETE).
	Desta forma, dispõe o artigo 18 do Código Penal:
				Art. 18. Diz-se o crime:
				II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
				Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
	Analisando o disposto no parágrafo único do art. 18 do CP, podemos constatar que via de regra, todos os delitos dispostos na legislação penal são dolosos, exceto quando o legislador apontar expressamente que o delito será punido a título culpa (exemplo art. 163 do CP – crime de dano).
ELEMENTOS DO TIPO CULPOSO
	Para a configuração do delito culposo, é necessária a presença dos seguintes elementos:
a) conduta humana voluntária, omissiva ou comissiva – é o ato humano voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que, por imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter o agente observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal (GRECO).
	Note-se que a diferença essencial entre conduta dolosa e culposa encontra-se no fato de que na conduta dolosa o agente tem uma finalidade ilícita, já na conduta culposa, os meios que levam o agente a praticar o crime são lícitos, não sendo observados no decorrer do ato o chamado”dever de cuidado”.
b) inobservância de um dever objetivo de cuidado – o homem, em suas relações, não pode fazer tudo aquilo que bem entende, pois que, assim agindo, poderá causar lesões a terceiros. A vida em sociedade impõe- nos determinadas regras de conduta que devem ser obedecidas por todos, sob pena de gerar o caos social. Esse dever de cuidado objetivo, dirigido a todos nós, faz com que atentamos a determinadas regras de comportamento, mesmo que não escritas ou expressas a fim de convivermos harmoniosamente em sociedade (GRECO). Segundo JUAREZ TAVARES, a lesão ao dever de cuidado resulta da omissão da ação cuidadosa, imposta pela norma, no sentido de atender às funções protetivas a que se propõe.
	Tal infringência ao dever de cuidado objetivo pode ocorrer nas hipóteses de imprudência, imperícia e negligência.
c) resultado lesivo não querido, tampouco assumido pelo agente – embora tenha o agente deixado de observar o seu dever de cuidado, pode haver situações em que seu comportamento não cause danos aos bens juridicamente tutelados pelo Direito Penal. Nestes casos, o agente não responderá pela prática de um delito culposo, uma vez que não ocorrera um resultado naturalístico (exigência expressa no art. 18, inc. II do CP).
d) nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado dele advindo – resta claro que somente pode-se falar em conduta culposa, quando conduta e resultado estiverem ligadas, ou seja, a conduta praticada pelo agente deve necessariamente ser o motivo que acarretou no resultado lesivo ao bem jurídico.
e) previsibilidade – diz-se que no crime culposo o agente não prevê aquilo que lhe era previsível (tal elementar é essencial para explicar a chamada culpa inconsciente ou comum). Se o fato escapar totalmente a previsibilidade do agente, o resultado não poderá ser atribuído, mas sim ao caso fortuito ou a força maior. Esta previsibilidade condiciona a dever de cuidado. (GRECO). Como afirma ZAFFARONI, “Quem não pode prever não tem a seu cargo o dever de cuidado e não pode violá-lo”. 
	Em virtude da previsibilidade, a doutrina aponta duas correntes:
1) Previsibilidade objetiva – conceituada por HUNGRIA, é aquela onde o agente, no caso concreto, deve ser substituído pelo chamado HOMEM MÉDIO, de prudência normal. Se mesmo substituído, o resultado persistir, é sinal de que o fato teria escapado ao âmbito da previsibilidade do agente, porque

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