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Meu caminho para Marx - George Lukács (revista Nova Escrita Ensaio. Ano V nº 11/12)

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2, 
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 1933, 
tendo 
sido 
reproduzido 
e
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G
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Lukács 
z
u
m
 
S
iebzigsten G
ebeertstag (Berlim
, A
ufban, 
1955)
.
 C
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tradução 
para 
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elli foi 
publicadO
 
e
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n
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 33, 
1958
_
 
O
 
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ostscriptum
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ensam
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editado 
n
o
 Japão 
s
ob 
o
 
título 
.
.
 Isvanam
i G
endai Schiso"
.
 E
m
 
1957 
fei 
editado 
e
m
 italiano. 
T
radução 
para 
o
 
português, 
a 
p
artu
 
do 
tex
to
 
integral 
traduzido 
por 
U
go G
em
m
elli, in M
a
rxism
o
 
e 
P
olitica C
ulturale (Torino, E
inaudi 
E
ditore, 
1977), de 
L
uiza L
.
 S. 
S
akam
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,
 
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arilene G
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evisão técnica d
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 Calv.~t de M
agalhães. N
otas da E
dição B
rasileira 
85 
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sse e
studo m
e
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o
n
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atidão de 
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e
n
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m
a
rxism
o
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~m pnm
elro lugar~ fiquei im
pressionado c
o
m
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lIa, 
c
o
m
 a 
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o
m
o
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e 
c
o
m
 
.a
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so
cied.ade 
e
m
 
classes. N
aquele 
m
o
m
e
nto, 
co
m
.o
 ~ obv~o 
n
o
 
c
a
so
 de 
u
m
 
m
telectual burguês, 
e
ssa
 influência 
se
 !ImI~U 
a ec~n~mia 
e 
s
obretudo à 
"so
ciologia". 
C
onsiderava 
a fIlosofIa m
aten
alISta 
-
não distinguia 
o
 
m
aterialism
o dialético 
do 
não. dialético 
-
c
o
m
pletam
ente 
s
uperada, 
e
nquanto teo
ria do 
"
 C
?nheC
Im
ento. A
 ~ese n
e
okantiana
1 da 
"im
anência da c
o
n
sciência" 
aJystava-se p~rfeItamente-
à 
m
inha posição de 
classe 
n
a
 
"época; 
n
a
o
 a 
s
ubm
etIa a qualquer ~xame 
c
rítico, m
a
s
 
a
c
eitava-a passiva-
m
e
n
te 
c
o
m
o
 p~mt;o. de partida de 
toda 
e qualquer 
c
olocação do 
problem
a gnoslO
logIco. 
N
a .verd~de, m
a
n
tinha u
m
a
 c
o
n
stan
te s
u
speita frente a
o
 e
xtre-
m
ado 
IdealIsm
o 
subjetivo 
(tanto 
o
 
da 
e
sc
ola 
n
e
okantiana 
de 
M
arburgo quanto o
 da teo
ria de M
ach) ,
 u
m
a
 v
e
z
 que não c
o
n
seguia 
co~~reender ~omo 
e
ra
 q1:le 
o
 
problem
a da 
re
alidade podia 
s
e
r 
defIm
do, consI~:ra~do-a SIm
plesm
ente 
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u
m
a
 
c
ategoria im
a-
n
e
n
te da 
_
c
o
n
sclencla
.
 M
as 
e
m
bora isso 
não 
m
e
 tenha c
o
nduzido 
a con~luso:s 
m
aterialistas, 
a
c
abou levando-m
e 
m
uito m
ais 
a 
u
m
a
 
aproxlm
açao c
o
m
 
aquelas e
sc
olas filosóficas que queriam
 
re
solver 
e
ste pro~le~a de 
.form
a irracionaiista 
e 
relativista 
e, 
até 
m
uitas 
v~.zes, mI~tIca (W
m
delband-Rickert, Sim
m
el, D
ilthey). A
 influên-
CIa 
?e SIm
m
el,2 de quem
 fui 
discípulo direto, 
deu-m
e 
ainda 
a 
possIbili?ade 
.de. 
"inserir" 
n
u
m
a
 tal 
c
o
n
c
epção de 
m
u
ndo tudo 
o
 
que ha,?a aSSIm
Ilado de. M
arx n
e
sse
 período. A F
ilosofia do D
inhei-
ro
 de SIm
m
el e 
o
s 
e
s
c
n
to
s sobre o
 protestantism
o de M
ax W
eber 
foram
 
o
s 
m
e
u
s
 
m
odel?s para 
u
m
a
 
"
so
ciologia da literatura", 
n
a
 
qual o
s 
elem
er:tos ?e~"lVados de M
arx e
stav
am
 
m
ais 
u
m
a
 v
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se
ntes, 
_
 m
.as 
tao dilm
dos 
e 
e
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palidecidos q 
p 
e
ra!!1 quase irra 
c
o
nhecIveIS
.
 
Seguind? 
o
 ex~~pl.o de. ~~mmel 
e
u
, de 
u
m
 lado, 
s
eparava 
o
 
quanto posslvel 
a 
so
clO
logla 
do fundam
ento 
e
c
o
nôm
ico 
c
o
n
c
e
-
bido de 
m
odo bastante 
abstrato, 
e, de 
o
u
tro
 lado 
via 
n
a
 
a
nálise 
"s~Cioló~ica:'. apenas 
o
 
e
stágio inicial da ve.rdad~ira 
e 
re
al pes-
qw
sa 
clentIfIca 
n
o
 
c
a
m
po da 
e
stética (História da E
volução do 
D
ram
a M
oderno, 
1909; 
M
etodologia 
da 
H
istória 
Literária 
1910 
a
m
bas 
e
m
 húngaro). O
s 
m
e
u
s
 
e
n
s
aios publicados 
e
n
tre Í907
~ 
1911 
o
scilavam
 e
n
tre e
ste m
étodo e 
u
m
 
subjetivismo 
m
ístico
.
 
E
ra n
atu
ral, ?om
 tal
_desenvolvim
ento da m
inha c
o
n
c
epção de 
m
u
ndo, 
que 
a
s 
m
Ipressoes 
que 
tivera 
da leitura de 
M
arx 
n
a
 
m
inha juventude, fossem
 e
m
palidecendo 
c
ada 
v
e
z
 
m
ais, 
e ac~bas­
se
m
 por desem
penhar u
m
 papel 
c
ada v
e
z
 
m
e
n
o
r 
n
a
 
m
inha ativi
-
dade 
científica
.
 C
onsiderava
,
 
não 
m
e
n
o
s
 do que 
a
n
teriorm
ente
,
 
86 
M
arx o
 
e
c
o
n
o
m
ista e 
o
 
"
so
ciólogo" 
m
ais 
c
o
m
petente; 
m
a
s
 a 
e
c
o
-
n
o
m
ia e 
a 
"
so
ciologia" o
c
upavam
 
n
e
ste período u
m
 papel insigni-
ficante n
e
sta atividade. A
o leitor não interessam
 a
s
 singularidades 
e 
a
s diferentes fases deste desenvolvim
ento, 
através do qual 
e
ste 
idealism
o s
ubjetivo m
e
 
c
o
nduziu 
a 
u
m
a
 c
rise filosófica. M
as e
sta 
c
rise 
-
s
e
m
 que de im
ediato 
e
u
 
o
 
so
ubesse 
-
foi determ
inada 
objetlvamente 
pela 
m
a
nifestação 
m
ais 
intensa das 
c
o
n
tradições 
im
perialistas e foi pre.cipitada c
o
m
 
a 
e
closão da G
uerra M
undial.3 
D
ecerto, e
sta c
rise se
 m
a
nifestou, de início, apenas n
a
 m
inha pas-
s
agem
 do 
idealism
o 
subjetivo 
a
o
 idealism
o 
objetivo (Teoria 
do 
R
om
ance, 
e
s
c
rita e
n
tre 1914-15), 
e, 
n
atu
ralm
ente, H
egel 
adquiriu 
para m
im
 u
m
a
 im
portância c
ada v
e
z
 m
aior, e
m
 p~rticular a F
eno-
m
e
n
ologia do E
spírito. O
 
m
e
u
 
s
egundo 
e
studo 
m
ten
so
 de M
arx 
c
o
m
eça 
c
o
m
 
a 
m
inha 
c
o
m
preensão, 
c
ada 
v
e
z
 
m
aior, do 
c
a
ráter 
im
perialista da G
uerra, 
c
o
m
 o
 
aprofundam
ento dos 
m
e
u
s
 e
studos 
de H
egel, 
n
o
 decorrer dos quais 
m
e
 
aproxim
ei tam
bém
 de F
euer-
bach, 
e
m
bora, 
n
aquele 
m
o
m
e
nto, 
m
e
 
interessasse 
apenas 
pelo 
a
specto a
ntropológico. O
s e
sc
ritos filosóficos da juventude de M
arx 
passaram
 
a 
se
r 
o
 ponto 
c
e
n
tral de 
m
e
u
 _
 in!ere~s~, 
e
m
bora ain~a 
e
studasse c
o
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 paixão a grande In
troduçao a
 C
ntu:a da
·
 E
conom
za 
P
olítica. D
esta v
ez, porém
, 
não se
 tratav
a m
ais de 
u
m
 M
arx visto 
da lente de Sim
m
el, 
m
a
s
 
através da perspectiva hegeliana. M
arx 
deixava de 
s
e
r 
o
 
"
e
m
inente e
specialista", 
o
 
"
e
c
o
n
o
m
ista 
e 
so
ció-
logo"; já c
o
m
eçava 
a delinear-se pa~a 
m
im
.o gr~de pensador,.o 
grande dialeta. N
o e
n
tan
to
, n
aquela epoca, aID
?a r:a
o
 co~:pree~dia 
o
 
significado do 
m
aterialism
o para 
a 
c
o
n
c
retIzaçao, 
u
niflcaçao 
e 
c
olocação c
o
e
re
nte das questões dialéticas. O
 
m
áxim
o qu~ cheguei 
a postular foi 
u
m
a
 prioridade 
-
hegeliana 
-
do ~onteu?-o s~bre 
a form
a e procurei, sobre base e
s
s
e
n
cialm
ente hegelIan.a, sIDtet~~ 
H
egel e M
arx n
u
m
a
 
"filosofia da história"
.
 E
~
a
 tentatIv~ adq~nu 
u
m
a
 to
n
alidade particular porque n
o
 m
e
u
 paIS, a H
ungna, a Ideo
-
logia 
"
-s
o
cialista àe 
e
s 
u
e
ràa" 
m
ais 
.
 
li 
L 
e
ra
 
.
 
,
.
 
o
 
de E
rvin Szabó
. 4 O
s 
se
u
s 
e
sc
ritos 
sindicalistas, 
apesar de 
terem
 
influenciado o
s 
m
e
u
s
 
"
e
n
saios de filosofia da história" c
o
m
 vários 
elem
entos positivos (como, por 
e
x
e
m
plo, 
o
 fato de ter-m
e posto 
e
m
 
c
o
n
tato
 
c
o
m
 
a 
C
rítica 
a
o
 P
rogram
a de 
G
otha)
,
 deram
 
u
m
 
c
a
ráter 
a
c
e
n
tu
ado de 
subjetivismo 
abstrato 
e
, portanto, idealísti-
c
o
-ético 
a
o
s m
e
u
s
 
e
sc
ritos. Isolado, 
e
nquanto intelectual u
niversi-
tário, do m
o
vim
ento operário ilegal, não pude to
m
ar c
o
nhecim
ento, 
durante o
 
c
o
nflito, 
n
e
m
 dos 
e
sc
ritos dos 
e
spartaquistas, 
n
e
m
 dos 
e
n
saios de L
ênin sobre a guerra. Li, porém
, c
o
m
 efeitos profundos 
e duradouros, 
o
s 
e
sc
ritos
,
 a
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teriores a guerra, de R
osa de Lu~em­
burgo
.
 Li O
 E
stado 
e 
a
 R
evolução de L
ênin 
s
o
m
e
n
te 
n
o
 peno do 
re
v
olucionário de 1918-19. 
A
s re
v
oluções de 17 e 18 s
u
rpreenderam
-m
e ~o bojo dessa e!er-
v
e
scência ideológica
.
 E
m
 dezem
bro de 1918
,
 depO
IS de breve hesIta
-
37 
ção, ingressei n
o
 P
artido C
om
unista H
úngaro 
e
, desde 
e
n
tão, per
-
m
a
n
e
ci 
n
a
s
 fileiras do 
m
o
vim
ento 
operário re
v
olucionário
.
 O
 
tra-
balho prático logo m
e
 obrigou 
a dedicar-m
e 
a
o
s
 
e
sc
ritos 
e
c
o
nôm
i
-
c
o
s
 de M
arx, a 
u
m
 
e
studo m
ais profundo da história, da história 
e
c
o
nôm
ica, da história do 
m
o
vim
ento 
operário 
etc., 
e
m
penhan-
do-m
e, a
ssim
, 
n
u
m
a
 c
o
n
tínua re
visão dos fundam
entos filosóficos
.
 
T
odavia, e
s
s
a
 luta para dom
inar 
a dialética m
a
rxista prolongou-se 
por 
m
uito tem
po. A
s 
e
xperiências da 
re
v
olução húngaraS 
m
o
stra-
ra
m
-m
e
 claram
ente a fragilidade de todas 
a
s
 teo
rias 
sindicalistas 
(a função do partido n
a
 R
evolução), 
m
a
s
 persistiu 
e
m
 
m
im
, 
a
o
 
longo dos 
a
n
o
s, 
u
m
 
s
ubjetivismo 
ultra-esquerdista (por 
e
x
e
m
plo, 
m
inha posição 
n
o
s
 debates 
e
m
 1920,6 
s
obre 
a 
ação parlam
entar 
e 
a IIÚnha atitude e
m
 
relação 
a
o
 
m
o
vim
ento de 
m
a
rço de 1921).1 
T
udo isso 
m
e
 im
pedia de c
o
m
preender, de 
m
odo 
c
o
rreto
 
e 
v
e
rda
-
deiro, o
 
a
specto m
aterialista da dialética n
o
 s
e
u
 significado filosó
-
fico m
ais abrangente. O
 
m
e
u
 livro H
istória e C
onsciência de C
lasse 
(1923) 
m
o
stra m
uito claram
ente e
s
s
a
 tran
sição
.
 A
pesar da ten
ta-
tiva, já c
o
n
s
ciente, de s
uperar e 
"
elim
inar" H
egel através de M
arx
,
 
problem
as decisivos da dialética foram
 
re
solvidos 
n
e
sta 
obra de 
m
a
n
eira idealista (dialética da n
atu
reza, teo
ria do reflexo etc
.). A
 
teo
ria de R
osa de L
uxem
burgo 
s
obre 
a 
a
c
u
m
ulação do 
c
apital, à 
qual 
ainda 
m
e
 
atinha, 
se
 
m
isturava de 
m
odo 
não 
o
rgânico 
c
o
m
 
u
m
 
ativism
o 
s
ubjetivista de 
ultra-esquerda
.
 
S
om
ente 
a
 ín
tim
a
 
adesão 
a
o
 
m
o
vim
ento 
operano
,
 devida 
a
 
u
m
a
 prática de 
m
uitos
a
n
o
s
,
 
e 
a
 possibilidade que tive de 
e
studar 
a
s
 
obras de Lênin 
e pouco 
a
 
pouco 
c
o
m
preender 
s
e
u
 
significado 
fundam
ental, propiciaram
 o
 te
rceiro período de 
m
e
u
 interesse por 
M
a
rx
_
 Som
ente 
agora, depois de quase 
u
m
a
 década de 
trabalho 
prático e depois de m
ais de u
m
 decênio de e
sforço intelectual para 
c
o
m
preender M
arx, é que 
o
 
c
a
ráter 
to
tal 
e 
u
nitário da dialética 
m
aterialista se
 to
rn
o
u
 claro 
e
m
 term
o
s 
c
o
n
c
reto
s para 
.
 
M
as 
justam
ente e
ssa
 clareza tro
u
x
e tam
bém
 
c
o
n
sigo 
o
 
re
c
o
nhecim
ento 
de que o
 
v
e
rdadeiro e
studo do m
a
rxism
o só 
e
stá 
c
o
m
eçando 
agora 
e 
n
ão
 pode m
ais parar-
P
orque c
o
m
o
 disse L
ênin
,
 c
o
m
 toda 
ra
zão
,
 
"
o
 fenôm
eno é 
m
ais rico do que 
a lei
.
 
.
.
 
e por isso 
a lei
,
 qualquer 
que ela s
eja, é e
streita, incom
pleta, 
aproxim
ativa
"
.
 Isto quer dizer: 
quem
 tiver 
a ilusão de ter 
c
o
m
preendido, de 
u
m
a
 
v
e
z
 por 
todas
,
 
o
s fenôm
enos da 
n
atu
reza e da 
s
o
ciedade, baseado 
n
u
m
 
c
o
nheci
-
m
e
n
to
, por m
ais v
a
sto
 e profundo que s
eja, do 
m
aterialism
o dialé-
tico
·,
 
terá 
n
e
c
e
s
s
a
riam
ente 
s
e
 deslocado da dialética 
viva para 
a 
rigidez 
m
e
cânica, do 
m
aterialism
o 
abrangente para 
a 
u
nilaterali
-
dade do idealism
o
.
 O
 
m
a
te
rialism
o dialético
,
 
a
 doutrina de M
a
rx
,
 
deve s
e
r c
o
nquistada a
 
c
ada dia, 
a
s
sim
ilada a
 
c
ada hora, 
a
 p
a
rtir 
da práxis_ P
or o
u
tro
 lado, 
a doutrina de M
arx. 
e
m
 
s
u
a
 inatacável 
u
nidade e to
talidade, c
o
n
stitui a 
a
rm
a
 para a 
c
o
ndução da prática
,
 
p
ara o
 dom
ínio dos fenôm
enos 
e de 
s
u
a
s
 leis
.
 Se dessa to
talidade 
88 
fúr destacado (ou 
apenas 
s
ubestim
ado) 
u
m
 
só 
elem
ento 
c
o
n
stitu
-
tivo 
terem
o
s de 
n
o
v
o
 
a 
rigidez 
e 
a 
u
nilateralidade. B
asta que se
 
per~a 
a 
relação dos 
m
o
m
e
n
to
s 
u
n
s
 
c
o
m
 
o
s
 
o
u
tro
s, 
e lá 
se
 
v
ai 
o
 
o
 
chão da dialética 
m
a
rxista 
s
obre 
o
 qual 
apoiam
os 
o
s pés. 
"Pois 
qualquer 
v
e
rdade 
-
diz L
ênin 
-
s
e
 
a 
e
x
ageram
os, 
se
 ultrap~~­
s
a
rn
a
s
 o
s lim
ites de s
u
a
 v
alidade, pode to
rn
ar-se u
m
 absurdo
; 
alIas 
é inevitável que
,
 e
m
 tais circunstâncias, ela s
e
 to
rn
e u
m
 absurdo
.
"
 
P
assaram
-se 
m
ais de trinta 
a
n
o
s
 desde 
o
 dia 
e
m
 que, jovem 
ainda, li pela prim
eira 
v
e
z
 
o
 M
anifesto C
om
unista. O
 progressivo 
aprofundam
ento 
-
ainda que 
c
o
n
traditório 
e 
não linear 
-
das 
obras de M
a
rx tornou-se a
 h
istória do 
m
e
u
 desenvolvim
ento inte-
lectual e, portanto
,
 tm
'nou-se ta
m
bém
 
a
 histó?'ia de toda 
a
 
m
in
h
a
 
vida, n
a
 m
edida e
m
 que ela possa ter algum
 significado para a so
cie
-
dade
.
 P
arece-m
e que n
o
 período posterior a M
arx
,
 a to
m
ada de po
-
sicão 
e
m
 
relacão 
a
o
 
s
e
u
 pensam
ento deve 
c
o
n
stituir 
o
 problem
a 
c
elüral de tO
dó pensador que leve a sério a 
si próprio, e que o
 m
odo 
e 
o
 grau 
c
o
m
 que 
ele 
se
 
apropria do 
m
étodo 
e dos 
re
s
ultados de 
M
arx
,
 determ
inam
 
o
 
s
e
u
 lugar 
n
o
 desenvolvim
ento da 
hum
ani
-
dade
.
 
E
sse 
desenvolvim
ento 
e
stá 
determ
inado pela 
situação 
de 
classe
,
 s
e
 bem
 que 
e
s
s
a
 determ
inação 
não é 
rígida, 
m
a
s
 dialética
.
 
A 
n
o
s
s
a
 posicão n
a
 lu
ta
 de classes determ
ina 
a
m
plam
ente o
 
m
odo 
e 
o
 grau qué 
a
s
s
u
m
im
os 
o
 
m
a
rxism
o
,
 
m
a
s
,
 
p
O
l
' 
o
u
tro
 lado, 
todo 
pTog?'esso 
n
e
ssa
 
adoção 
n
c
s
 fa
z 
aderi?' 
c
ada 
ve
z 
m
ais à 
vida 
e à 
práxis do 
V
1'O
letariado 
e 
redunda 
beneficam
ente 
n
o
 
ap7'O
tunda
-
m
e
n
to
 da 
n
o
s
s
a
 
relação c
o
m
 
a
 d
o
u
trin
a
 m
aT
xista (1933)
.
 
P
ostscriptum
 1957 
A
s linhas precedentes foram
 e
s
c
ritas, c
o
m
o
 todos podem
 perce
-
ber
,
 n
u
m
 e
stado de e
x
trem
a ten
são
,
 que 
não 
e
ra
 decorrência, 
ape-
n
a
s, d 
fate d
e 
que 
e
u
, d
-epois d
e 
tan
tas 
a
v
e
nturas intelectuais, 
finalm
ente 
s
e
n
tia, 
c
o
m
 quase 
cinqüenta 
a
n
o
s
 de idade, 
o
 
terren
o
 
firm
e sob o
s m
e
u
s
 pés: 
o
s a
c
o
n
tecim
entos dos últim
os quinze 
a
n
o
s
 
tam
bém
 
c
o
n
tribuíram
 fortem
ente para 
tal 
e
stado de 
ânim
o
.
 Já 
falei dos prim
eiros 
a
n
o
s da 
re
v
olução, 
m
a
s
 
não dos 
a
n
o
s
 que 
se
 
s
eguiram
 à 
m
o
rte de L
ênin
.
 C
om
o c
o
m
panheiro de luta, 
vivenciei 
a 
ação d
e S
talin para s
al v
a
r 
a 
v
e
rdadeira herança de L
ênin 
c
o
n
-
tra
 
T
rotsky, 
Z
inó\'ie
v
 
etc
.,
 
e 
vi 
que 
desse 
m
odo 
a
s
 
c
o
nquistas 
tran
sm
itidas por L
énin foram
 preservadas 
e 
adaptadas 
a
o
 próprio 
desenvolvim
ento posterior. (Sobre 
o
 período de 24 
a 
30
,
 
o
s 
a
n
o
s
 
tran
sco
rridos 
e 
a
s
 
e
xperiências 
c
o
rre
spondentes 
não 
m
udaram
 
a 
m
inh
a 
opinião 
e
m
 
n
ada de 
e
s
s
e
n
cial)
.8 A
crescente
-se 
a isso
 que 
o
 
debate filosófico de 29 
a 30
9 deu-m
e 
a 
e
sperança de que a 
elucida
-
ção das 
relações 
H
eg
el-M
arx
,
 
F
euerbach-M
arx
,
 
M
arx
-L
ênin 
e 
o
 
afrouxam
ento 
de 
u
m
a
 
a
s
sim
 
cham
ada 
o
rtodoxia 
plekh
a
n
o
vista
,
 
abririam
 
n
o
v
o
s horiz
o
n
tes à 
pesquisa filosófica
.
 A
lém
 disso
, 
a dis
-
89 
soh:;ção da R
:A
.P
.P. (1932) 
,10 
a
sso
ciação à 
qual 
s
e
m
pre 
m
e
 
opus 
abnu para m
Im
 e p~ra m
uitos u
m
a
 grande perspectiva: 
a de um~ 
reto
m
ada, 
.se
m
 obstaculos burocráticos, da literatura so
cialista 
da 
m
etodologIa e da c
r.ítica literária m
a
rxista. É 
n
e
c
e
ssário salie~tar 
que 
n
e
s
s
a
 
eX
I:ect
.atlva ~av.ia dois 
c
o
m
ponentes igualm
ente 
rele
-
v
a
n
,tes
: 
a 
a
u
se
nC
Ia de lIm
ites im
postos por 
u
m
a
 burocracia 
e 
o
 
c
a
rater m
a
rxista-Ieninista
.
 Se 
.se
a
c
re
s
c
e
n
tar qu
e 
nós m~smos, 
n
a
-
queles 
a
n
o
s
,
 conhece~os 
a
s 
obras fundam
entais do jovem M
arx 
s
obretudo o~ M
Cf',,!uscrztos E
conôm
ico
-Filosóficos 
c
o
m
o
 tam
bém
 o~ 
C
adernos FtlosoftcoS 
de Lénin 
terei 
apontado 
aqueles fatos 
que 
tro
u
x
eram
 grandes e
speranças n
o
 início da década de trinta
'.
 
E
ssas e
speranç
a
s foram
 perdendo-se pouco a pouco n
a
 m
edida 
e~ que, 
n
aquele ~omen~o tam
bém
, qualquer idéia (para 
se
rm
o
s 
o
tlIm
stas) que ~e dIst~nC!as~e do m
odelo im
posto
,
 e
sbarrava n
u
m
a
 
su
rda. ~ 
agressIva 
re
slStencIa
.
 N
o 
princípio, 
e
u
 
e 
m
uitos 
o
u
tro
s 
a
c
redItavam
os 
e
star diante dos 
re
sto
s de 
u
m
 passado 
não to
tal
-
m
e
n
te s
uperado
: adeptos da R
.A
.P
.P., so
ciólogos v
ulgares etc
.
 M
ais 
tarde, 
c
o
m
preendem
os Que 
todas 
e
stas 
tendências 
c
o
n
trárias 
a
o
 
progresso do
.
 pensam
ento, tinham
 sólido apoio burocrático
.
 E
ntre
-
tan
to
,
 acre?Itam~s, por 
algum
 tem
po, que 
e
ste sistem
a de defesa 
do .dogmatIs~o 
tivesse
,
 
n
o
 final das 
c
o
n
tas, 
u
m
 
c
a
ráter 
c
a
s
u
al; 
~UltO~ de n~s, algu~~~ veze~, 
s
u
spirávam
os pensando 
e
m
 Stalin: 
A
h, s~ le r?IJe s
a
v
alt 
.1
1 ~Vldent~mente, 
e
ssa
 situação não podia 
durar m
deflm
dam
ente. FOI neces~ario 
re
c
o
nhecer que 
a 
o
rigem
 do 
confr~mto das 
c
o
rre
n
tes progressIstas, que 
e
n
riqueciam
 
a 
c
ultura 
m
a
rxIsta
,
 
c
o
m
 
a 
opressão dogm
ática de 
u
m
a
 burocracia tirânica 
sob~e todo o
 pe?sam
ento a
utônom
o, deveria s
e
r buscada n
o
 próprio 
regIm
e de Stalm
 
e, portanto
,
 tam
bém
, 
n
a
 s
u
a
 pessoa
.
 
N
o 
e
n
tan
to
: quando 
se tratav
a de to
m
ar posição 
e
m
 
relação 
a 
e
ss
.e
s ac.?nte~lII~e~tos, 
toda pessoa 
c
o
n
sciente tinha que partir 
da 
s]tua~ao 
hístorl 
a
 
n
n
 
m
o
m
e
n
to
: 
a. 
a
.scen
são 
d
e 
H
itler 
e 
a
 
pr
.eparaçao de su
:;t guerra de a
niquilam
ento do so
cialism
o. Sem
pre 
~OI cl~o. para 
m
Im
 que .e~ deveria 
s
ubordinar 
tudo
,
 de 
m
a
n
eira 
mc~ndIclOnal, 
a toda decIsao que e
s
s
a
 situação im
punha
,
 inclusive 
a~uilo 
q,:e pessoalx:nente 
m
e
 
e
ra
 
m
ais 
c
a
ro
: 
a 
própria 
obra de 
~
m
h
a
 
vI<;la 
..
 A
crechtava que 
o
 principal 
c
o
m
prom
isso de 
m
inha 
vId~ 
.c
o
n
sIstIa
,
 e
m
 
e
m
pregar 
c
o
rretam
en
te 
a 
c
o
n
c
epção 
m
a
rxista
-
len~lSta 
n
a
s
 
a
re
a
s
 de 
m
e
u
 c
o
nhecim
ento
,
 
e
m
 fazê-la 
a
v
a
nçar 
n
a
 
m
e
~
d
a
 
e
m
 que a descob:rta de 
n
o
v
o
s dados a
s
sim
 
o
 
e
xigisse. N
a 
medId~ 
e
m
 q,:e
.
 a 
questao 
c
e
n
tral, do período histórico 
e
m
 que 
e~t~ ~
m
h
a
 a,tl~Idade se
 dese~v~lveu, 
c
o
n
sistia n
a
 'luta peJa sobre
-
v
. IvencIa do ~ICO 
e
stado SO
CIalIsta 
e
,
 porta
n
to
,
 do
' próprio 
so
cia
-
lIsm
o
,
 e
u
 _obVlam~nte su~or~inava c
ada to
m
ada de, posição
,
 m
e
s
m
o
 
e
m
 
relaçao ~ ~
m
h
a
 propna 
obra
,
 às 
n
e
c
e
ssidad
e
s do 
m
o
m
e
n
to
.
 
Isso n
w
:c
a
 sIg
m
ficou tod
a
via u
m
a
 c
apitulação dia
n
te d
e todas 
a
s 
tendê
n
cIa
s id
eológic
a
s qu
e 
se
 fo
rm
a
ra
m
,
 
se
 prop
agara
m
 
e 
e
nfim
 
90 
se
 dissolvtram
 a
o
 longo dessa luta
.
 A
o 
m
e
s
m
o
 tem
po 
e
stav
a c
e
rto
 
não 
apena
s 
da im
possibilidade física de 
u
m
a
 
oposição 
n
aquele 
m
o
m
e
n
to
, 
m
a
s
 tam
bém
 que 
e
ssa 
oposição poderia, facilm
ente, 
se 
to
rn
ar 
n
u
m
 apoio intelectual 
e 
m
o
ral 
a
o
 inim
igo 
m
o
rtal
,
 
a
o
 d
es
·
 
truidor de toda a 
civilização
.
 
P
or isso
 fui 
obrigado 
a 
c
o
nduzir 
u
m
a
 
e
spécie d
e gu
e
rr
a 
d
e 
guerrilha p
elas m
inhas idéias científicas
,
 o
u
 s
eja
,
 através d
e 
cita-
ções de S
talin etc
.
 to
rn
ar possível a publicação de m
e
u
s
 trabalhos 
e de 
e
xpre
s<;a
r 
n
eles, 
c
o
m
 
a 
c
a
u
tela 
n
e
c
e
s
sária
,
 
a 
m
inha 
opinião 
dissidente
,
 
tan
to
 quanto 
o
s lim
ites do 
m
o
vim
ento histórico 
a
o
s 
poucos 
o
 p
e
rm
itisse
.
 C
onseqüentem
ente
,
 às 
v
e
z
e
s
,
 
e
ra
 im
perativo 
c
alar-se. P
or 
e
x
e
m
plo
,
 
sabe
-s
e
 que durante 
a 
guerra foi decidid
o
 
declarar 
;H
egel 
ideólogo 
da 
re
ação 
feudal 
c
o
n
tra 
a 
R
evolução 
F
rancesa
; 
n
atu
ralm
ente 
não pude publicar 
m
e
u
 livro 
sobre 
o
 jo-
v
e
m
 H
egel. P
e
n
s
a
v
a
 que c
e
rtam
en
te 
a guerra poderia s
e
r 
v
e
n
cida 
m
e
s
m
o
 não se 
re
c
o
rre
ndo 
a 
s
e
m
elhantes tolices (Dum
m
heit) 
se
m
 
bases 
científic
a
s
,
 
m
a
s
 
u
m
a
 
v
e
z
 que 
a propaganda 
a
n
ti
-hitleriana 
e
stav
a o
c
upando-se justam
ente disso
,
 e
ra
 m
ais im
portante n
o
 m
o
-
m
e
n
to
 v
e
n
c
e
r 
a guerra do que questionar s
obre a justa c
o
n
c
epção 
de H
egel. Sab
e-se
 que 
e
sta tes
e 
e
rrônea foi 
m
a
n
tida por 
m
uito 
tem
po, 
m
e
s
m
o
 depois da guerra, 
m
a
s
 é 
igualm
ente 
sabido 
qu
e 
depois pud
e publicar 
o
 
m
e
u
 livro 
sobre H
egel 
s
e
m
 
m
udar 
u
m
a
 
só linha. 
T
ratavam
-s
e porém
 de problem
as 
so
ciais 
m
uito 
m
ais graves 
do que e
ste
,
 que 
n
aquele m
o
m
e
n
to
 e
videnciavam
 c
ada v
e
z
 
m
ais o
 
a
specto n
egativo dos 
m
étodos stalinistas
.
 R
efiro-m
e 
n
atu
ralm
ente 
a
o
s grandes proc
esso
s
,
 
c
uja legalidade, desde 
o
 
início
,
 
via 
c
o
m
 
c
eticism
o, à 
s
e
m
elhança, 
por 
e
x
e
m
plo
,
 dos processos 
c
o
n
tra 
o
s 
girondinos
,
 
o
s dantonianos 
etc
., 
n
a
 grande R
e
v
olução F
rancesa; 
o
u
 
se
' a
,
 
re
c
o
nhecia 
s
u
a
 
n
e
c
e
ssidade histórica 
s
e
m
 preo
c
up
a
r
·m
e 
dem
ais c
o
m
 a questão de s
u
a
 legalidade
.
 (Hoje penso qu
e 
ru
schev 
tinha ra
zão 
a
o
 s
alientar e
n
e
rgicam
ente 
a 
s
uperficialidade polític
a 
desses proc
e
sso
s)
.
 M
inha posição 
m
udou 
radicalm
ente quando 
se 
difundiu a palavra d
e o
rdem
 de e
x
tirpar pela raiz o
 tro
tskism
o etc
.
 
C
om
preendi desde 
o
 princípio que 
a 
c
o
n
s
eqüência disso 
não 
s
e
ria 
m
ais do que 
a 
c
o
nd
e
n
ação 
e
m
 
m
a
s
s
a
 de pessoas 
n
a
 s
u
a
 
m
aioria 
to
talm
ente In
o
c
e
n
tes
.
 E s
e
 hoje 
m
e
 perguntassem
 por que não m
e 
posicionei publicam
ente c
o
n
tra
,
 não c
olocaria 
e
m
 primeiro_pl~no, 
n
e
m
 
m
e
sm
o
 desta 
v
ez
,
 
a im
possibilidade física (vivia 
n
a
 U
niã
o
 
Soviética c
o
m
o
 e
xilado político)
,
 12 
m
a
s
 a im
possibilidade m
o
ral: 
a 
U
nião Soviética e
n
c
o
n
trav
a
-se n
a
 im
inê
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cia da luta decisiva c
o
n
tra 
o
 fascisl-lo
.
 U
m
 c
o
m
u
nista c
o
n
victo podia 
ap
e
n
a
s
 dizer
: 
"
right 
o
r 
w
ro
ng, 
m
y party
"
.13 E
u 
e 
m
uitos 
c
o
m
panheiros p
e
n
sá
v
a
m
o
s qu
e, 
diante de qualquer 
coisa qu
e fo
sse
 feitR
 n
e
ss
a situ~ção pe.l~ par
-
tido dirigido por Stalin
,
 e
ra 
n
e
c
e
ssário p
e
r
m
a
n
e
c
e
r mcondH~lOnal-91 
m
.'n
te 
solidário 
n
e
s
s
a
 luta, 
c
olocando 
e
sta 
s
olidariedade 
a
cim
a 
d
c
' 
tudo
.
 
O
 final 
vitorioso da guerra m
udou 
radicalm
ente toda a 
situa-
çã
o. 
D
epois de 
u
m
 
e
xílio de 
vinte 
e 
seis 
a
n
o
s, 
pude 
reto
rn
ar à 
pãtria. Parecia-m
e que e
stávam
os e
n
trando n
u
m
 
n
o
v
o
 período, 
n
o
 
qual havia-se to
rn
ado possível, c
o
m
o
 durante a guerra, 
u
m
a
 alian-
ç
a de todas a
s forças dem
ocráticas, so
cialistas e burguesas 
c
o
n
tra 
a 
re
ação. O
 
m
e
u
 discurso 
n
o
s 
E
ncontros Internacionais de G
e-
n
ebra e
m
 1946 14 e
xpressou claram
ente e
ste e
stado de ânim
o. E
sta-
ria 
c
e
rtam
en
te 
c
ego, 
se
 
não tivesse 
visto, 
a partir do discurso de 
C
hurchill 
e
m
 F
ulton, 
c
o
m
o
 
e
ra
m
 fortes 
a
s
 tendências 
c
o
n
trárias 
n
o
 
m
u
ndo 
c
apitalista, 
e quanto 
e
sforço 
c
e
rto
s grupos influentes 
do O
cidente faziam
 para liquidar 
a 
a
n
tiga aliança e 
se
 
aproxim
a-
re
m
 política 
e ideologicam
ente dos 
e
x
-inim
igos. Já 
e
m
 G
enebra
,
 
Jean-R
. de Salis 
e D
enis de R
ougem
ont 
apresentaram
 idéias que 
tendiam
 
a 
e
x
cluir 
a 
R
ússia da 
c
ultura 
e
u
ropéia
.
 
E
staria igual-
m
e
n
te c
ego se
 ignorasse que a 
re
ação 
a isso
,
 n
o
 
c
a
m
po 
so
cialista, 
fez aflorar m
uitos traços daquela ideologia que e
u
, e m
uitos o
u
tro
s
,
 
e
sperávam
os que s
e
 e
xtinguisse 
c
o
m
 
a paz e 
o
 
reforço do so
cialis-
m
o
, que o
c
o
rre
u
 
c
o
m
 o
 
s
u
rgim
ento das dem
ocracias populares da 
E
urcpa C
entral. E
xatam
ente porque e
u
 insistia 
n
e
ste 
e
sforço, im
-
posto pela 
n
o
v
a
 
situação internacional (como 
s
u
sten
tei 
e 
ainda 
s
u
sten
to)
,
 
quis 
aderir 
a
o
 
C
ongresso 
de 
W
roclaw
 
(1948) 15 
e 
a
o
 
M
ovim
ento pela paz, do qual 
s
o
u
 
seguidor 
c
o
n
victo 
até hoje
.
 É 
sin!-om
ático que o
 tem
a que tratei e
m
 W
roclaw
 tenha sido 
a 
u
ni-
dade e a distinção dialética do adversário de o
n
tem
 e de hoje, isto é, 
a 
re
ação im
perialista. 
O
 
a
n
o
 de 1948 
a
s
sinalou
,
 talvez, 
a 
m
ais im
portante m
udança 
histórica desde 1917
: 
a 
vitória da 
re
v
olução proletária 
n
a
 C
hina
.
 
Justam
ente e
m
 c
o
n
s
eqüência dela se
 e
videnciaram
 a
s
 c
o
n
tradições 
decisivas 
n
a
 
teo
ria 
e 
n
a
 prática 
de Stalin 
.lá que 
e
sta 
vitória 
significava
,
 
objetivamente. que 
o
 
período do 
so
cialism
o 
n
u
m
 
só 
país 
-
tal 
c
o
m
o
 fora defendido
,
 
c
o
m
 
ra
zão, 
por Stalin 
c
o
n
tra 
T
rotsky 
-
pertencia definitivam
ente a
o
 passado; 
o
 s
u
rgim
ento das 
dem
ocracias populares 
n
a
 E
uropa C
entral já 
representava 
u
m
a
 
passagem
 
a 
u
m
a
 
n
o
v
a
 
re
alidade
.
 M
as
,
 
n
o
 
plano 
s
ubjetivo
,
 ficou 
e
vidente que Stalin 
e 
se
u
s 
seguidores 
não queriam
 
n
e
m
 podiam
 
e
x
trair 
a
s c
o
n
seqüências teóricas 
e, portanto
,
 prática13 da situação 
internacional
,
 que se
 e
n
c
o
n
trav
a radicalm
ente 
m
odificada. O
 pró
-
prio Stalin, 
cn
m
o
 hom
em
 
m
uito 
s
agaz que 
e
ra
, levou 
e
m
 
c
o
n
ta, 
é 
claro
,
 
n
a
 
s
u
a
 
atu
ação 
alguns 
sintom
as 
e 
m
o
m
e
n
to
s da 
n
o
v
a
 
situação
.
 N
o 
e
n
tan
to
,
 
n
u
n
c
a
 o
 fez 
c
o
m
 
v
e
rdadeira 
c
o
e
rê
n
cia, p
ois 
a idéia de qu
e e
sta n
o
v
a
 situação pudesse 
significa
r 
u
m
a
 
ruptura 
c
o
m
 o
s 
m
étodos do período do 
so
cialis
m
o
 
e
m
 
u
m
 
só pais 
-
m
é
-
to dos 
objetivam
ente d
e
rivados d
o
 
c
o
n
stan
te 
estado de 
p
e
rigo d
e. 
u
m
a
 R
ússia industrialm
e
n
te 
a
tr
a
s
ad
a
,
 
m
a
s qu
e 
ele próprio
 tinh
a 
92 
levado m
uito além
 do quadro desta e
xigência 
-
e
stav
a to
talm
ente 
fora 
de 
s
e
u
 horizonte. 
AI
.:o
nteceu, 
e
n
tão, 
que 
a 
n
o
v
a
 
situação 
m
u
ndial, que 
e
xigia c
ategoricam
ente 
u
m
a
 n
o
v
a
 
e
stratégia 
e 
u
m
a
 
n
o
v
a
 tática, foi 
e
nfrentada 
através de 
u
m
a
 
ação 
e
m
 que, fatal
-
m
e
n
te, 
se
 s
o
m
a
v
a
m
 
e 
se
 ag-udizavam
 
a 
v
elha 
e
stratégia e 
a 
v
elha 
tática
: 
a 
ruptura da U
niál) Soviética 
c
o
m
 
a Iugoslávia
.
 Seguiu-se 
n
e
c
e
s
s
a
riam
ente 
a 
e
sta aç
.lO
,
 o
 
reto
rn
o
 a
o
s 
m
étodos da época dos 
grandes processos
.
 
O
 
que 
m
e
 
ajudou, p
"s
s
o
alm
ente, 
a 
perceber 
a 
c
o
n
tradição 
e
n
tre o
 
n
o
v
o
 fundam
ento 
e 
a 
v
elha ideologia foi 
a discussão que 
s
e
 desenvolveu 
n
a
 H
ungri.-l 
e
m
 to
rn
o
 do 
m
e
u
 livro L
ite
ra
tu
ra
 
e 
D
em
ocrucia.'6 A
pós 
a 
m
inlla v
olta 
e
m
 1945
,
 
e
m
bora 
n
u
n
c
a
 tenha 
sido dirigente do partido 
n
') s
e
n
tido o
rganizativo, e
sforcei-m
e c
o
n
-
tinuam
ente e
m
 e
x
trair c
o
n
:;eqüências da n
o
v
a
 situação
,
 e
m
 buscar 
a passagem
 
a
o
 
so
cialism
o de 
u
m
 
n
o
v
o
 
m
odo, gradual 
e 
n
a
 base 
da c
o
n
vicção. O
s a
rtigos e discursos c
o
n
tidos 
n
o
 livro a que a
c
abo
de referir
' e
ra
m
 dedicados a 
e
ste fim
 e, 
e
m
bora o
s c
c
n
sidere
,
 hoje, 
e
m
 divers~ a
spectos, deficil
.'n
tes
,
 pouco claros e c
o
n
seqüentes, v
ejo 
que 
se
 
m
o
viam
 
n
a
 direção 
c
o
rreta
.
 A
 discussão
.
 m
.o
strou 
a 
to
tal 
im
possibilidade de 
u
m
 diálogo fecundo 
c
o
m
 
o
s ldeologos do dog-
m
atism
o
.
 
E
ssa discussão 
e 
m
e
u
 
afastam
ento tático, 
o
c
o
rrido 
n
a
 época 
dO' processo R
ajk,17 proporcionaram
-m
e 
a pr.i~eira grande vaI?t~­
gem
 de pcder abandonar m
inha c
o
m
plexa atIV
Idade de func~onano 
e dedicar
-m
e
 e
x
clusivam
ente aO' trabalho intelectual. E
sta C
lrcuns-
•
 tâ
n
cia e a 
e
xperiência da discussão sobre o
s grandes 
a
c
o
n
tecim
en-
to
s da época lev'aram
-m
e 
a
o
 
re
e
x
a
m
e
 prO
'fundo dos problem
as do 
m
a
rxism
o-Ieninism
o 
e
m
 
relacão 
a
o
s 
m
étodos de Stalin 
e de 
s
e
u
s
 
seguidores. A
 
c
o
n
vicção, 
c
ada' v
e
z
 
m
aior, de que Stalin 
não ~avia 
c
o
m
preendido 
aquilo que havia de decisiv~mente 
n
o
v
o
 
n
a
 ~ltua­
ção, to
rn
av
a-se 
c
ada 
v
e
z
 
m
ais 
a
m
pla 
e 
m
aIS geral, 
e
m
 funçao de 
u
.m
a 
c
o
n
sciência 
m
ais 
profunda do passado
.
 
D
a 
m
e
s
m
a
 form
a, 
fic
o
u
 
e
vidente para 
m
im
 que, 
e
m
bora 
a 
luta 
c
o
n
tra 
o
 
fascism
o 
te
nha-se 
to
rn
ado 
o
 problem
a 
c
e
n
tral, já 
n
a
 
s
egunda m~tade ~a 
década de vinte, se
u
 significado não foi percebido por Stalm
,
 ~enao 
c
e
rc
a
 de 
u
m
a
 década depois
.
 N
um
a época 
e
m
 que 
a form
açao de 
u
m
a
 frente 
u
nitária dos 
trabalhadores, 
a
s
sim
 
c
o
m
o
 de 
todos 
o
s 
e lem
entos dem
ocráticos, havia-se to
rn
ado 
u
m
a
 questão 
vital para 
J. 
civilização hum
ana, 
a 
tese de Stalin da social~democ:acia 
c
o
m
o
 
'irm
ã gêm
ea" do fascism
o, 
to
rn
o
u
 
e
sta frente Impos~l:reL Ele 
se
 
\
.trendeu a 
u
m
a
 
e
stratégia 
e 
a 
u
m
a
 tática que 
s
e
 JustIfIcavam
 
n
a
 
;,
.:m
pestade 
re
v
olucionária de 1917 
e logo 
e
m
 
s
eguida
,
 
m
a
s
 que, 
.:
')m
 
se
u
 
abrandam
ento 
e 
c
o
m
 
o
 desdobram
ento da gr~nde of~n­
;;iv
a
 do 
c
apitalism
o 
m
o
n
opolista 
m
ais 
re
a
cionár.io
,
 havl~m,. obJe-
t iva
m
e
nte, 
e
n
v
elhecido 
c
o
m
o
 
u
m
 
todo. 
C
cm
ecel 
a 
c
o
n
sldel a
r
,
 
o
 
93 
que acontece~, depois de 1948, 
c
o
m
o
 a 
repetição histórica do 
e
rro
 
fundam
ental da década de 
vinte
.
 
.
 
N
este 
a
rtigo, 
o
nde 
o
 tem
a próprio 
e 
v
e
rdadeiro é 
c
o
n
stituído 
pelo desenvolvim
ento interno das 
m
inhas id
'éias, é~ im
possível 
até 
m
e
sm
o
 
apenas indicar 
o
 
sistem
a de pensam
ento que deu 
o
rigem
 
a 
e
stas c
o
n
c
epções e
rrôneas; 
n
ote-se s
o
m
e
n
te que a trágica dissen-
ção n
o
 pe.nsam
ento de Stalin e
ra
 c
ada v
e
z
 m
ais e
vidente para m
im
. 
L
ênin, pal tindo da doutrina dos clássicos, e
videnciou n
o
 início do 
período im
perialista, a im
portância do fator subjetivo
.
 Stalin c
o
n
s-
truiu c
o
m
 isso 
·u
m
 sistem
a de dogm
as subjetivistas
.
 A
 trágica dis-
se
nção 
c
o
n
siste 
n
o
 fato 
de 
que 
se
u
 grande 
talento, 
s
u
a
s
 
ricas 
e
xperiêneias e a s
u
a
 n
otável sagacidade, c
o
nduziram
-no, não ra
ra
s
 
v
e
z
e
s, 
a 
ro
m
per 
o
 
círculo 
m
ágico do 
subjetivismo, 
o
u
 
m
elhor, 
a 
perceber claram
ente o
 e
rro
 aí c
o
ntido
.
 Portanto, parece-m
e trágico 
que ele inicie s
u
a
 últim
a obra c
o
m
 u
m
a
 c
rítica c
o
rreta a
o
 subjeti-
vism
o e
c
o
nôm
ico, m
a
s
 se
m
 m
a
nifestar a m
e
n
o
r s
u
speita de ter sido 
ele próprio s
e
u
 pai e
spiritual e 
c
o
n
stan
te im
pulsionador. Por o
u
tro
 
lado, podem
 
c
o
e
xistir pacificam
ente, 
n
u
m
 
tal 
sistem
a de pensa-
m
e
n
to
,
 
c
o
n
c
epções decisivam
ente 
c
o
ntraditórias. 
Por 
e
x
e
m
plo, 
a 
teo
ria das 
c
o
n
stan
tes c
o
ntradições de 
classe, que 
n
e
c
e
ssa
riam
ente 
se
 
aguçam
, 
c
o
e
xiste 
c
o
m
 a 
presença tangível do 
c
o
m
u
nism
o, 
se
-
gunda
.
 e s
uperior etapa do so
cialism
o. 
D
a fusão destas 
afirm
ações, 
re
ciprocam
ente 
e
x
cludentes
,
 su
r-
giu 
s
u
a
 
apreensão de 
u
m
a
 
so
ciedade 
c
o
m
u
nista 
n
a
 qual 
o
 prin-
cípio libertador de 
"
c
ada u
m
 s
egundo s
u
a
 c
apacidade, 
a 
c
ada u
m
 
segulldo 
a
s 
s
u
a
s
 
n
e
c
e
ssidades"
,
 se
 re
aliza 
e
m
 
u
m
 E
stado policial
,
 
regulado de. form
a 
a
u
to
crática 
etc
.
 
etc
.
 
Stalin, 
a quem
 
se
 deve 
re
c
o
nhecer 
o
 grande 
m
érito de 
ter 
defendido, c
o
n
tra T
rotsky, o
 princípio leninista do so
cialism
o n
u
m
 
só país, e a
ssim
 ter salvo o
 so
cialism
o n
u
m
 período de c
rises inter-
n
a
s
,
 teve quase a 
m
e
s
m
a
 incom
preensão, n
o
 período que se
 iniciou 
e
m
 1!:J48, que T
rotsky teve e
m
 s
e
u
 tem
po e
m
 relação às n
e
c
e
ssidades 
de desenvolvim
ento da U
nião Soviética. Que e
ste retrocesso 
e 
e
sta 
incom
preensão por parte de Stalin tenham
 facilitado 
a 
c
o
ndução 
da G
uerra F
ria c
o
n
tra o
s adversários do im
perialism
o é 
c
oisa que 
hoj e 
não poucos 
re
c
o
nhecem
.
 
R
epito, 
aqui se
 tratav
a de descrever so
m
e
nte o
 desenvolvim
en-
to das 
m
inhas idéias, 
e 
s
obretudo destas idéias 
e
m
 
relação 
a
o
s 
problem
as do 
m
a
rxism
o
.
 O
 
que 
até 
agora foi dito 
sobre Stalin 
se
rviu so
m
e
nte para 
c
riar 
o
 pano de fundo 
e 
a 
atm
o
sfera para 
u
m
a
 c
olocação c
o
rreta dos problem
as
.
 Se pensarm
os 
n
o
 
e
n
tu
sias
-
m
o
 de u
m
a
 parte c
o
n
siderável dos intelectuais; n
o
s prim
eiros a
n
o
s 
da 
re
v
olução 
so
cialista, é 
n
e
c
e
ssário 
re
c
o
nhecer 
que 
e
n
tre 
s
u
a
s
 
c
a
u
s
a
s
 fundam
entais e
stav
a 
a 
obra duplam
ente genial de 
re
n
o
v
a
-
ção do 
m
a
rxism
o por parte d
e Lê
nin
.
 D
e 
u
m
 lado, 
ele 
e
xpurgou 
94 
o
s preconceitos relativos a
o
s 
clássicos do 
m
a
rxism
o que se
 desen-
v
olveram
 vigorosam
ente durante d~cadas. E~te tra~alho 
.de deI?ura-
ção m
o
stro
u
 a 
riqueza das c
o
n
c
epçoes que
n
a
o
 haV
Iam
 SIdo eV
Iden-
ciadas até o
 m
o
m
e
n
to
 n
a
 obra de M
arx e de E
ngels. D
e o
u
tro
 lado
,
 
e
nfatizou, 
a
o
 
m
e
sm
o
 
tem
po, 
c
o
m
 inexorável 
se
n
so
 ~e rea~idade 
que, para e
nfrentar o
s 
n
o
v
o
s problem
as postos pel~ 
":lda, 
n
a
o
 po-
díam
os 
n
o
s 
apoiar 
n
a
s
 
"infalíveis" 
citações dos 
clasSlCos
.
 N
o 
m
o
-
m
e
n
to
 
e
m
 que 
a 
N
E
P foi introduzida, 
ele 
re
spondeu, 
c
o
m
 
u
m
a
 
ironia m
o
rdaz 
a 
u
m
 
c
e
rto tipo de 
c
rítico 
m
a
rxista: 
"N
unca pas-
so
u
 pela c
abeça de M
arx e
sc
re
v
e
r u
m
a
 só palavra
.
 s
ob:e ? 
a
ssu
r:to; 
m
o
rre
u
 s
e
m
 deixar n
e
nhum
a citação e
x
ata o
u
 indlcaçao lrrefutavel 
a 
e
sse
 propósito
.
 P
ortanto, é 
n
e
c
e
ssário 
s
airm
os dessa 
so
zinhos
.
"
 
C
om
o já disse 
aqui, 
n
o
s prim
eiros 
a
n
o
s
 qu~. s
e
 .:>eguir~~ à 
m
o
rte de L
ênin, 
e
u
 
n
u
tria 
e
speranças 
n
u
m
a
 
edlflcaçao
.
 lem
m
sta 
do 
m
a
rxism
o. T
am
bém
 já descrevi exaustivament~ 
a m~nha
, c
o
n
-
tínua 
e 
c
re
sc
e
nte desilusão. C
oncluindo e
stas 
c
o
n
slderaçoes, e 
n
e
-
c
e
ssário sintetizar rapidam
ente o
 que há de essenci~l 
n
e
sta situa-
ção do ponto de 
vista da teo~ia <:.ie~tífica. N
a m
edIda
.
 e
m
 que 
se
 
reforçou e se
 e
n
rijeceu a dom
m
açao m
telectual de Stalm
,
 n
o
 c
ulto 
à personalidade, a pesquisa m
a
rxista degenerou largaIll:er:t~ 
n
u
m
a
 
e
xposição, n
u
m
a
 a
m
pliação e difusão de 
"
v
e
rdades .defIm~lVas". ~ 
re
sposta da vida e da 
ciência e
stava, s
egundo 
a 
o
rIentaçao dom
I-
n
a
n
te, 
a
s
s
e
n
tada 
n
a
s
 
obras dos 
clássicos
,
 principalm
ente 
n
a
s
 ~e 
Stalin. Inicialm
ente M
arx e E
ngels foram
 
relegados c
ada v
e
z
 m
aIS 
fortem
ente a u
m
 segundo plano e
m
 relação a L
ênin
,
 e depois L
ênin 
e
m
 
relação 
a 
Stalin. 
L
em
bro-m
e bem
, por 
e
x
e
m
plo
,
 ~o c~so 
de 
u
m
 filósofo que foi 
c
riticado porque tratav
a ,a~ determlI~a~oes d~ 
dialética de 
a
c
o
rdo 
c
o
m
 
o
s 
C
adernos 
Filosofzcos 
de 
L
enm
.
 FOI 
lem
brado 
a 
ele que Stalin havia 
a
rrolado, 
n
o
 qUtl~to 
_
 
capítul~ d
,a 
H
istória do P
artido 
u
m
 núm
ero m
e
n
o
r de diferenclaçoes da dlale-
tica 
e portanto ha:via fixado definitivam
ente 
s
e
u
 
núm
ero 
e 
s
u
a
 
n
atu
reza
.
 T
ratava-se 
e
n
tão 
de 
e
n
c
o
n
trar para 
c
ada problem
a 
a 
citação m
ais apropri~da de' 
talm
.
·
·
 
que é 
u
m
a
 íd~laT7 pergun-
to
u
 u
m
a
 v
ez 
u
m
 c
o
m
panheiro alem
ão. 
"É
 u
m
a
 ligaç
a
o
 
e
n
tre duas 
citações
"
.
 Seria v
e
rdadeiram
ente injusto 
afirm
ar
,
 e:ntretan~o,. que 
a porta para
·u
m
 desenvolvim
ento posterior d,o man~l~~o:lemmsm.o 
tivesse sido to
talm
ente fechada. Stalin possU
la o
 prIV
IlegIO
 de e
n
rI-
quecer u
 tê.5vü.~::: 
::!:!!: ,,~rr!~np.s 
etern
as c
o
m
 no~~s 
v;.:dades 
.eternas 
e de c
olocar fora de circulação u
m
a
 v
e
rdaae aLe ên~ao c
o
nSIderada 
irrefutável. 
N
ão é 
n
e
c
e
ssário dem
onstrar Que 
n
e
ste 
sistem
a 
a 
vida 
cien
-
tífica 
sofria gravem
ente
.
 B
asta indicar, 
apenas, que 
a
s ciênci~s 
m
ais im
portantes do ponto de 
vista teo
rétic? par
.a 
o
 desenvolvI-
m
e
n
to
 do m
a
rxism
o 
a 
e
c
o
n
o
m
ia política e a fIlosofIa
,
 foram
 quase 
c
o
m
pletam
ente par~lisada!!. O
 desenvolvim
ento da~ ciência~ 
n
atu
-
rais foi m
e
n
o
s prejudicado
; 
apesar de terem
 o
c
o
rndo 
c
o
nflItos 
o
u
 
95 
a
,té c
rises, o
 se
u
 a
v
a
nço prático e
ra
 questão vital que não e
ra
 1-I0s-
slvel de m
od
.o
 al~um ?~or-Ihe obstáculos, 
ao
 
c
o
ntrário, 
n
o
 
c
a
m
po 
da m
e
ra
 apl~ca~a? pratIca, e
ra
 até 
m
e
sm
o
 fortem
ente prom
ovido 
P
ara e
ssa
s dlsclplm
as, a
s perigosas c
o
n
seqüências da e
stéril 
"
cita-
tologia" 
n
a
s questões 
m
etodológicas 
o
u
 
n
o
s 
c
o
n
c
eitos básicos 
se 
m
a
nifestavam
 
m
ais 
m
a
rginalm
ente. 
E
u ~ão e
ra
, d~ m
odo algum
, o
 único que c
o
nduzia u
m
a
 guerra 
de guernlha c
o
ntm
ua c
o
ntra 
e
ste 
e
spírito de 
e
n
rijecimento
.
 M
as 
a partir da m
o
rte de Stalin 
e, 
e
specialm
ente, depois do X
X
 C
on
-
gresso, e
ste co~plexo de problem
as e
n
tro
u
 n
u
m
 e
stágio qualitativa-
m
e
nte 
n
o
v
o; fm
alm
ente todos 
e
stes problem
as foram
 discutidos 
abertam
ente 
e 
o
s 
cientistas 
c
o
m
eçaram
 
a 
e
xpressar-se 
publica-
m
e
nte de 
m
odo m
ais o
u
 m
e
n
o
s claro
.
 T
am
bém
 c
o
m
 relação a isso, 
n
e
ste esboço de a
utobiografia intelectual, é im
possível sequer a
c
e
-
n
a
r às discussões 
e às 
tendências que lá 
se 
m
a
nifestaram
' devo 
por isso, lim
itar-m
e 
a 
re
su
m
ir 
m
inha própria 
opinião
.
 A~redit~ 
que I;0j~ o
 m~i?r ~erigo para o
 m
a
rxism
o e
steja representado pela 
tendencla 
revlSlO
m
sta
.
 E
xatam
ente porque durante décadas tudo 
que St~lin a~irmava 
e
ra
 identificado c
o
m
 o
 m
a
rxism
o, proclam
an-
do-se, 
m
cluslve, 
o
 
c
o
ro
a
m
e
nto definitivo deste, 
o
s 
ideólogos bur
-
gueses se
 
apressaram
 e
m
 
utilizar 
a incorreção, 
agora e
vidente, de 
algum
as teses de Stalin e de 
a
spectos 
e
sse
n
ciais de 
s
u
a
 
m
etodo-
logia, 
c
o
m
 o
 objetivo de 
re
visar tam
bém
 o
s produtos dos 
clássicos 
do 
m
a
rxism
o, 
postos 
n
o
 
m
e
sm
o
 
nível 
de 
Stalin
.
 É 
o
 
c
a
so
 
de 
apontar-.se para 
u
m
 perigo 
m
uito 
sério, 
n
a
 
m
edida 
e
m
 que 
e
sta 
perspectiva de pensam
ento c
a
rrega c
o
n
sigo 
m
ais de 
u
m
 c
o
m
u
nis
-
ta
"
 r~lUitas veze~, ?esarm
ado intelectualm
ente pela educação e
sque-
m
atIca
.
 e do.gm
atIca. Entr~tanto, 
e
nquanto o
s dogm
áticos 
vincula
-
re
m
 a Identidade substancIal de Stalin c
o
m
 o
s clássicos do m
a
rxis
-
m
o
, 
e
starão tão desarm
ados intelectualm
ente frente àquelas 
c
o
r
-
re
ntes (com 
sinal 
c
o
ntrário), quanto 
o
s 
re
visionistas de boa fé
.
 
P
ara 
a 
m
a
n
utenção 
e 
o
 
progresso 
do 
m
a
rxism
o-Ieninism
o 
é 
n
e
c
e
ssário 
que 
se 
e
n
c
o
ntre 
u
m
 
"tertium
 datur" 
c
o
m
o
 
solução 
para e~te 
beco 
se
m
 
saída; 
é 
n
e
c
e
ssário, 
portanto, 
e
xtirpar 
o
 
dcgm
atlsm
o para 
c
o
m
bater 
o
 
re
vlslom
sm
o. 
Lênin foi 
o
 prim
eiro a indicar claram
ente o
 
"ponto 
a
rquim
é-
dico
"
 de 
apoio para 
e
sta 
n
e
c
e
ssária tom
ada de posição
.
 SO
lnente 
se e
stiverm
os c
o
n
scientes de que o
 m
a
rxism
o n
o
s legou u
m
 m
étod
o
 
s~guro, 
u
m
 núm
ero e
xtraordinário de v
e
rdades sólidas, 
u
m
a
 quan-
udade de pontos de partida, tan
to
 
m
ais seguros quanto liJQis fo
-
re
m
 desenvolvidos, de que 
não podem
os fazer 
n
e
nhum
 progresso 
re
al n
o
 c
a
m
inho da ciência se
m
 u
m
a
 a
ssim
ilação e aplicação apro
-
f~?d~da de
.sses I?rincípios; 
de que, 
n
o
 
e
ntanto, 
a 
elaboração de 
ClenClas 
u
m
v
e
rsalS sobre 
a base do 
m
a
rxism
o é 
algo 
a 
se
r d
e
se
n
-
v
olvido 
e 
não 
algum
a 
c
oisa já 
alcançada; 
se tudo isso for 
clara
-
m
e
nte 
c
o
m
preendido ter-se-á 
u
m
a
 
retom
ada da pesquisa 
m
a
rxis
-
t 
ta. Engels, a
ntes de s
u
a
 m
o
rte
,
 indicou e
sta tarefa para o
s futuros 
m
a
rxistas; 
Lênin fez 
vários 
apelos 
n
e
sta direção
.
 A
credito que 
chegou o
 m
o
m
e
nto de c
u
m
prir c
o
m
 e
sta solicitação. Quando dize-
m
o
s: 
não
' tem
os ainda u
m
a
 lógica, 
u
m
a
 e
stética, 
u
m
a
 ética, u
m
a
 
psicologia m
a
rxistas, não dizem
os c
o
m
 iSs?-~ada que deva desen-
c
o
rajar. Pelo c
o
ntrário, falam
os 
c
o
m
 a paIxao plena de e
sperança 
dos grandes e e
ntusiásticos deveres científicos que poderão preen-
,:her fecundam
ente 
a 
vida de gerações inteiras. 
N
aturalm
ente, é im
possível 
n
e
stas 
rápidas linhas falar 
c
o
n
-
c
r etam
ente, m
e
sm
o
 apenas da possibilidade destes e
m
preendim
en-
to!:=-
.
 N
ão 
m
e
 re
sta m
uito e
spaço
,
 n
e
m
 m
e
sm
o
 para tratar de m
e
u
 
próprio trabalho
.
 Posso 
apenas dizer g.ue
.
 o
 
m
e
u
 con~ato 
.c
o
m
 ~s 
clá!;sicos do m
a
rxism
o m
e
 deu, pela pnm
eIra v
ez 
n
a
 V
Ida, 
a POSSI-
bilidade de c
o
m
preender e a
v
aliar o
s 
objetivos para o
s quais m
e
u
s 
esfon;o
s se
m
pre e
stiveram
 dirigidos: de apanhar c
o
m
 e
x
atidão, de 
descrrv
er fielm
ente 
e de 
e
xprim
ir 
v
e
rdadeiram
ente, 
c
o
m
o
 
re
al-
m
e
nte são, o
s traços histórico-sistem
áticos dos fenôm
enos da vida 
do e
spírito. A
 luta c
o
n
tra o
 dogm
atism
o foi, 
ainda deste ponto de 
vista, u
m
a
 a
utodefesa
.
 Estes fenôm
enos foram
, 
c
e
rtam
ente, defor-
m
ados, n
a
 m
edida e
m
 que iniciei m
inha
.
 atividade sob a influência 
da ideologia burguesa. E
ntretanto, 
o
 dogm
atism
o n
o
 se
u
 e
vidente 
subjetivismo 
e
ra
 
c
o
n
tra 
todo 
aprofundam
ento do 
objeto, 
c
o
n
tra 
toda generalização que partisse desse 
objeto. A
quele que tolera 
se
m
elhante paradoxo n
a
 s
u
a
 vida intelectual poderá so
m
e
nte ofe-
re
c
e
r belos dogm
as e fatos totalm
ente desvinculados da re
alidade. 
A
 
m
inha guerra de guerrilha 
c
o
n
tra 
o
 dogm
atism
o 
não 
apenas 
preservou 
a 
m
inha 
relação 
c
o
m
 
a 
vida 
e 
c
o
m
 se
u
s objetos, 
c
o
m
o
 
tam
bém
;:" prom
oveu
.
 Se hoje posso trabalhar n
u
m
a
 e
stética e posso 
so
nhar c
o
m
 a realizi:l.~geQ de 
u
m
a
 ética, 
O
' devo 
a 
e
sta luta. 
Justam
ente por isso 
escrev
o
 tam
bém
 e
stas linhas n
u
m
 e
stado 
de ânim
o 
cheio de tensão; 
sei bem
 que 
a luta por e
sse
 
n
o
v
o
 
c
a
-
m
inho 
e
stá bem
 distante de 
se
r 
c
o
n
cluída; 
aliás 
vim
os, 
e 
ainda 
hoje v
e
m
o
s
,
 diversas 
re
c
aídas 
n
o
 dogm
atism
o, 
co
m
. 
o
 
c
o
rre
spon-
ciente 
eforco do re
visionism
o
.
 Pessoalm
ente 
-
e aqU
I falo so
m
e
nte 
e
m
 
m
e
u
 
nôm
e 
n
o
 
m
e
u
 
trabalho 
-
e
stou 
c
o
n
v
e
n
cido de que--
O
 
esforço 
sério n~ direção de 
u
m
a
 
ciência 
m
a
rxista 
u
niversal pode 
dar à 
m
inha vida 
u
m
 
c
o
nteúdo indestrutível. (A história julgará 
qual c 
v
alor objetivo da m
inha c
o
ntribuição para e
sta obra. N~o 
tenho 
a
utoridade para 
m
e
 
pronunciar 
sobre isto.) Ain~a 
·hoJe .
.
 
e
xistem
 diversos obstáculos n
e
ste c
a
m
inho. D
esde se
u
 su
rglID
ento, 
o
 
m
o
vim
ento 
operário 
re
v
olucionário 
teve. que sup~rar 
o
s I?ais 
diversos descam
inhos ideológicos; 
até 
agora 
co
n
segU
Iu supera-l~s 
e 
e
stou 
c
o
n
v
e
n
cido de que 
o
 
m
e
sm
o
 
o
c
o
rre
rá 
n
o
 ~uturo. ~~rml­
tam
-m
e
, por isso
,
 c
o
n
cluir c
o
m
 
u
m
a
 frase 
u
m
 po,!co 
m
?dlflcada 
de Z(lla: 
"L
a 
v
e
rité 
e
st lentem
ent 
e
n
 
m
a
rche 
et 
a la fm
 de les 
fins 
rien 
n
e
 l'arrêtera
.
 "18 
97 
NO
TAS 
1. 
N
aquele período, o
 
n
e
okantism
o 
se
 
c
o
n
stituía n
a
 tendência filosófica 
dom
inante n
o
 m
u
ndo de língua 
alem
ã; duas 
e
sc
olas príncipais 
c
o
m
punham
 
e
sta t.endência
: 
a e
scola de M
arburgo
,
 da qual faziam
 parte C
ohen e N
atorp
,
 
e 
a 
e
s
c
ola de H
eidelberg
,
 
c
ujos principais 
e
xponentes 
e
ra
m
 W
indelband 
e 
R
ickert
.
 
2
.
 
L
ukács foi 
aluno de Sim
m
el e
m
 B
erlim
,
 durante 
o
s 
a
n
o
s de 1909
·10
,
 
a
ssim
 
c
o
m
o
 teve 
a
ulas 
e
m
 H
eidelberg
,
 
n
o
 
a
n
o
 de 
1913 
c
o
m
 W
índelband 
e 
R
ickert, o
nde travou 
c
o
nhecim
ento 
c
o
m
 E
m
il L
ask 
e M
ax W
eber
.
 
3. 
L
ukács refere-se aqui a
o
 e
stado de desespero produzido pela Prim
eira:
' 
G
uerra M
undial, à qual 
repudiou de 
m
a
n
eira 
v
e
e
m
e
nte 
e global; 
a perspec
·
 
tiva de 
u
m
a
 
vitória da A
lem
anha 
tinha 
o
 
efeito de 
u
m
 
pesadelo
.
 
V
ivia 
e
m
 
perm
anente 
tensão 
diante 
da 
situação 
m
u
ndial. 
Só 
o
 
a
n
o
 
de 
1917 
traria 
a 
solução de problem
as que 
até 
e
ntão 
c
o
n
siderava insolúveis, 
c
o
n
-
form
e 
ele 
m
e
sm
o
 
e
xplicita 
n
o
 
Prefácio 
de 
1962 
à 
Teoria 
do 
R
om
ance
.
 
,
 
4
.
 
O
 
c
o
ntato de L
ukács 
c
o
m
 E
rw
in Szábo data de 
1902
.
 N
aquele 
a
n
o
 
L
ukács s
e
 inscreve n
a
 o
rganização E
studantes Socialistas R
evolucionários de 
B
udapest
,
 
o
rganizada 
por 
Szábio
,
 
influente 
a
n
a
rc
o
-.sindicalista 
húngaro. 
5
.
 
A
 R
epública Soviética da H
ungria, proclam
ada 
e
m
 
m
a
rço de 1919 
e
liderada por B
éla K
un, durou 
apenas 
alguns 
m
e
se
s
,
 
até 
agosto do 
m
e
sm
o
 
a
n
o
.
 L
ukács participou 
ativam
ente deste processo, 
tornando
·se
 
vice·com
is· 
sário do povo pare, a área de educação
,
 e depois da dem
issão 
e
m
 junho do 
so
cial-dem
ocrata Zsigrnolld KU.!lfi, 
o
c
upa 
o
 
se
u
 lugar à frente do 
m
inistério
.
 
6
.
 
L
ukács 
refere-se 
aqui por 
c
e
rto
,
 
e
m
 
e
special, 
a
o
 
a
rtigo 
"Z
ur Frage 
des Parlam
entarism
us" ("Sobre 
a Questão do Parlam
entarism
o
")
,
 de 1920
,
 
publicado pe
.la I?rim
eira 
v
ez 
n
a
 
re
vista 
K
om
m
unism
us
,
 
e
m
 V
iena, de 
c
ujo 
C
onselho E
ditonal e
ra
 m
e
m
bro
.
 N
este texto L
ukács defendia a 
ruptura total 
c
o
m
 
todas 
a
s
 instituições burguesa
s
,
 inviabilizando, 
a
ssim
.
 qualquer 
ação 
política legal-
.
 Lênin 
c
riticou 
violentam
ente
.
 e
ste 
ar-tigo
.
 
7
.
 
T
rata
·s
e
 da insurreição 
d
a direção 
e
squerdisla
,
 
e
m
 
m
a
rço de 
1921
,
 
do Partido C
om
unista A
lem
ão que 
redundou n
u
m
a
 sa
ngrenta e 
violenta der
·
 
ro
ta do m
?vinlento operário. 
8
.
 
A
 
c
ritica lukacsiana 
a
o
 
stalinism
o 
e
xpôs 
se
u
 
a
utor 
a 
toda 
so
rte de 
im
putações, tanto dos 3.Ilti·stalinistas fervorosos
,
 quanto dos defensores 
a
r
·
 
dorosos de Stalin
.
 Isto porque L
ukács buscou se
m
pre c
e
n
trar su
a
 
a
nálise do 
staliní.sm
o 
n
u
m
 âm
bito teórico
-m
etodológico preeiso, 
chegando 
a preservar
,
 
e
m
 alguns 
ra
ro
s m
o
m
e
ntos
.
 a
spectos da figura de Stalin, principalm
ente 
n
o
 
que diz 
re
speito 
à 
su
a
 defesa do 
"
so
cialism
o 
n
u
m
 
só país
"
,
 
o
 
que
,
 
se
m
 
dúvida, é 
genuinam
ente discutível. 
adem
ais 
el.e 
ilustrar
,
 
c
o
m
 
u
m
 grande 
e
x
e
m
plo, 
c
o
m
o
 pôde 
s
e
r 
c
o
m
plexa
,
 para 
gerações
,
 
toda 
e
ssa
 questão. 
O
 
a
u
to
r desenvolve 
m
ais 
a
m
plam
ente s
u
a
 
c
rítica do 
stalinism
o, por 
e
x
e
m
plo
,
 
n
a
 
"C
arta s
obre 
o
 
.
,talinism
o" (1963)
: 
"
n
o
 
c
a
so
 de Stalin 
não 
se
 trata de 
e
rro
s
 particulares e 
o
c
a
sionais (cn:-l\O 
alguns ten
taram
 
apresentá
-los) 
e 
sim
 
de 
u
m
 falso 
sistem
a de idéias gL.Ldualm
ente 
m
o
ntado, 
u
m
 
sistem
a 
c
ujos 
efeitos n
o
civos se
 fazem
 
se
ntir tan
to
 
m
ais dolorosam
ente quanto 
m
e
n
o
s 
a
s 
c
o
ndições so
ciais são 
se
m
elhantes às 
c
o
ndições 
e
m
 que 
apareceu 
o
 
sistem
a 
stalínista 
e 
das quais 
o
 
m
e
sm
o
 foi 
reflexo deform
ado 
e deform
ante
"
,
 in 
Tem
as de C
iencias 
H
um
anas
,
 
n
.o
 1 (São Paulo, G
rijalbo, 
1977)
,
 p
.
 13
.
 
9. 
N
o 
a
n
o
 de 
1928 
.iníciam
·s
e
 dentro 
do 
Partido C
om
unista 
H
úngaro 
(KPU), 
o
s debates para 
a 
re
alização do II C
ongresso do partido
.
 N
aquele 
m
o
m
e
nto 
o
 K
PU
 se
 e
n
c
o
ntrava dividido 
e
m
 duas grande
s frações, 
a 
oficial 
liderada por B
éla K
un e 
a de L
andler
,
 à 
qual L
ukács 
e
stava intim
am
ente 
t 
ligado
.
 C
om
 a 
m
o
rte de L
andler
,
 n
e
ste m
e
sm
o
 a
n
o, L
ukács a
ssu
m
e
 a direção 
da fração e a 
re
sponsabilidade de elaborar 
.u
m
a
 p
olítica alternativa à de B
éla 
K
un
.
 A
S teses apresentaC
las por L
ukács ficaram
 
cG
nhecidas 
c
o
m
o
 
"Teses de 
B
lum
"
,
 pseudônim
o 
utilizado pelo 
a
u
to
r 
n
o
 interio
r do K
PU
, 
o
nde defendia 
a D
itadura D
em
ocrática dos 
Trabalhadores
.
 E
sta
s 
teses 
c
o
ntrariavam
 pro
·
 
fundam
ente a direção da IC
 n
aquele período
,
 que 
repudiava toda e qualquer 
aliança 
c
o
m
 
a 
so
cial
·à
.e
m
o
c
ra
cia
.
.
 
A
s 
c
ríticas 
a 
B
lum
 foram
 
violentas
: 
n
o
 
e
ntanto, a 
c
e
rteza de su
a
 justeza. fez 
o
 
a
utor afirm
ar a
n
o
s 
m
ais tarde
: 
"Pode
·
 
se 
c
o
n
siderar que 
m
e
u
s a
n
o
s de 
aprendizagem
 do 
m
a
rxism
o term
inaram
 
n
o
 
m
o
m
e
nto 
e
m
 Q.ue 
c
o
m
e
c
ei 
a 
s
uperar definitivam
ente 
-
a 
partir de 
u
m
a
 
questão 
c
o
n
c
reta 
e im
portante
,
 
n
a
 qual 
c
o
nfluíam
 
o
s 
m
ais diversos proble
·
 
m
a
s 
e determ
inações 
-
aquele 
c
o
m
plexo dualism
o 
c
o
ntraditório que 
c
a
ra
c
·
 
terizava 
m
e
u
 pensam
ento desde 
o
s últim
os 
a
n
o
s da guerra." A
 grande in
·
 
flexão do 
se
u
 pensam
ento produziu-se 
e
m
 1929 
c
o
m
 
a 
elaboração das teses
.
 
(Prólogo de 1967 à 
edição de H
istória 
e C
onsciência de 
Classe
.) E
ste 
salto 
qualitativo perm
itiu
·
 lhe
,
 
ainda
,
 
aprofundar 
se
u
 
e
studo das 
obras do jovem 
M
arx, 
quando 
e
m
 
1930 
foi 
n
o
m
e
ado 
c
olaborador 
científico 
do 
Instituto 
M
arx·Engels de M
oscou
.
 N
esta.s 
c
o
ndições
,
 L
ukács 
e
n
tra 
e
m
 
c
o
ntato 
c
o
m
 
o
s M
anuscritos 
E
con6m
ico
·Filosóficos 
de 1844
.
 A
s palavras de M
arx 
sobre 
a 
objetividade 
c
o
m
o
 propriedade 
m
aterial prim
ária de 
todas 
a.s 
c
oisas 
e 
relaçôes geraram
 
e
m
 L
ukács 
u
m
a
 
"im
pressão 
transform
adora"
.
 
10
.
 
R
.
 A
.
 P
.
 P
.
 
-
Associação dos Esc1"itores R
ussos
,
 o
riginária do P
rolet
·
 
kult d03 a
n
o
s 20 
e dissolvida e
m
 32 pelo C
om
itê C
entral do Partido C
om
u
·
 
nista B
olchevique. 
11. 
E
m
 
francês 
n
o
 
próprio 
texto
: 
"A
h
,
 
se
 
o
 
rei 
o
 
so
ubesse]" 
12
.
 
L
ukács 
e
m
 1933 
v
olta 
a M
oscou 
n
a
 
c
o
ndição de 
e
xilado politico 
e 
lá perm
anece 
até 
agosto de l:l45, quando 
reto
rn
a 
a H
ungria
.
 
13
.
 
E
m
 inglês 
n
o
 texto
: 
"C
erto 
o
u
 
e
rrado
,
 
m
e
u
 partido
"
.
 
14
.
 
E
ncontros 
Internacionais
,
 G
enebra, 
1946 
-
C
ongresso d
e 
filósofos 
ClljO 
te
m
a
 foi 
o
 E
spírito 
E
uropeu
.
 L
ukács polem
iza duram
ente 
c
o
m
 K
arl 
Jaspen 
e trata da c
rise do liberalism
o 
e da filosofia burguesa, publicando
,
 
c
o
m
o
 
e
n
saio
,
 a 
su
a
 
cO
!lferência 
.
.
 A
 V
isão A
ristocrática e D
em
ocrática
"
.
 
15
.
 
C
ongresso de W
roclaw
, Polônia, 
agosto de 1948
; L
ukács foi 
u
m
 dos 
fundadores do C
ongresso
M
updial da Paz
.
 
16
.
 
O
 
a
u
to
r 
refere·se às 
su
c
e
ssivas 
c
ríticas que 
partiram
 dos óreãos 
governam
entais húngaros c
o
n
tra o
 
se
u
 texto Literatura e D
em
ocracia (Iroda
·
 
lom
 
és 
dem
okrácia
,
 
B
udapest, 
Szikra
,
 
1947)
.
 
17. 
PoZ" 
o
ca
siãu da G
u
e
rra
 Fria
 
e do 
.
 fortalecim
e
nto do
s 
aparelho
s 
e
s 
tatais dos países 30cialistas. R
ajk 
e
x
·se
c
retário
·geral do K
PU
.
 sob 
a 
a
c
u
sa· 
ção de 
"
titoísm
o
"
,
 foi 
c
o
ndenado à 
m
o
rte 
e
m
 1949
.
 
18
.
 
E
m
 francês n
o
 texto
: 
"A
 v
e
rdade 
c
a
m
inha lentam
pnte
,
 e 
n
o
 fim
 dos 
fins 
n
ada poderá detê-la
.
 ,. 
99

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