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Relatório Experimental Determinação do campo magnético terrestre local Marcelo Aron Fetzner Keniger – 263018 Hugo Pinto Coelho Ribeiro Jardim – 210680 Nicholas Jaekel Lopes – 260680 Gabriel Ribeiro Brun – 263020 Raul Carlos Fadanelli Filho (Turma A) Introdução A origem do campo magnético da Terra ainda permanece um mistério para nós. Há quem acredite que ele surge do movimento das cargas presentes no manto derretido da Terra, mas são necessários estudos adicionais para chegarmos a uma resposta definitiva. Mesmo não sabendo sua origem, sabemos que o campo magnético terrestre existe e que ele é muito importante para nós. Sem ele, não teríamos proteção contra os perigosos ventos solares, rajadas contínuas de partículas carregadas oriundas do Sol que seriam letais se não fossem defletidas pelo campo magnético do nosso planeta. O conhecimento da existência do campo magnético da Terra não é recente, e sua utilidade vem sendo explorada para a navegação há séculos, com um equipamento chamado bússola. A bússola consiste em uma agulha magnetizada que aponta para o polo sul magnético, localizado relativamente perto do polo norte geográfico. Se aplicarmos algum campo magnético externo adicional próximo à bússola, sua orientação irá mudar e ela apontará para a direção resultante da soma vetorial entre a componente horizontal do campo magnético da Terra com o campo magnético adicional. Essa mudança na orientação pode ser usada para calcular o valor da componente horizontal do campo magnético terrestre em um certo local da Terra, e foi esse o conceito utilizado para obter um valor experimentalmente. Para produzir o campo magnético adicional, foi utilizada uma bobina de Helmholtz, que consiste em um par de bobinas comuns alinhadas paralelamente e com eixos coincidindo. Ambas possuem raio 𝑅 e 𝑁 espiras, e estão separadas por uma distância também igual a 𝑅. O valor do módulo do campo magnético �⃗� ao longo do eixo de uma espira de raio 𝑅 é dado pela seguinte expressão: 𝐵(𝑥) = 1 2 𝜇0𝑖𝑅 2 (𝑅2 + 𝑥2) 3 2⁄ , onde 𝜇0 = 4𝜋 × 10 −7𝑇𝑚/𝐴 é a constante conhecida como “permeabilidade do vácuo” e 𝑖 é a corrente que passa pelas bobinas. Colocamos uma bússola no centro geométrico dessas bobinas. O campo resultante na bússola é dado pela relação: (1) 𝐵𝐵 = 𝐵 (𝑥 + 𝑅 2 ) + 𝐵 (𝑥 − 𝑅 2 ) Colocando a origem do eixo 𝑥 na posição da bússola, essa expressão resulta em: 𝐵𝐵 = 8𝑁𝑖𝜇0 𝑅5√5 , onde 𝑁 é o número de espiras de cada bobina. Conhecendo o campo magnético produzido pelas bobinas, podemos encontrar o valor do campo magnético horizontal terrestre utilizando trigonometria: 𝑡𝑔𝜃 = 𝐵𝐵 𝐵𝑇 Essa relação só vale quando �⃗� 𝑇 e �⃗� 𝐵 são perpendiculares. Note que quando 𝜃 = 45°, 𝐵𝑇 = 𝐵𝐵. Com essas informações, é possível encontrar o campo magnético terrestre local, concluindo o objetivo do experimento. Experimento Como foi dito, utilizamos uma bobina de Helmholtz para produzir um campo magnético adicional e uma bússola no centro da bobina para encontrar a relação entre os dois campos magnéticos presentes. Para colocar o eixo das bobinas perpendicular à direção Norte- Sul, realizamos um processo bem delicado. Montamos um circuito para fazer uma corrente passar pelas bobinas, assim produzindo um campo magnético. Antes de ligar a corrente, alinhamos as bobinas com a direção Norte-Sul. Ligando a corrente, “prendemos” a agulha da bússola em uma direção (determinada pelos campos magnéticos) e giramos a bússola até ela marcar 90°. Desligamos a corrente novamente, e dessa vez realizamos uma rotação em toda a bobina, de modo que a bússola passasse a indicar 0°. Finalmente, o eixo das bobinas estará perpendicular à direção Norte-Sul. Agora, quando ligamos a corrente, a agulha passará a marcar um determinado ângulo, que dependerá do valor da corrente. Uma ilustração da montagem do experimento está exposta abaixo: �⃗� 𝑇 �⃗� 𝐵 �⃗� 𝑟𝑒𝑠 𝜃 �⃗� 𝑇 N S Figura 1: Representação do efeito do campo magnético terrestre em uma bússola sem e com outro campo magnético atuando. (3) (2) Com a ajuda de uma fonte, variávamos a corrente que passava pelas bobinas, assim mudando o campo magnético que elas geravam e consequentemente a orientação da bússola. Cada ângulo correspondia a uma corrente, e para encontrar a incerteza nessa medida da corrente, medíamos a corrente para dois graus a menos (um grau, no caso da medida de 45°), que era a precisão máxima da marcação da bússola. Resultados e Discussão Foram medidas as correntes que passavam pelas bobinas para oito ângulos diferentes, cada um com uma incerteza associada. Essa incerteza foi encontrada medindo o valor da corrente para um ângulo menor próximo e era igual à subtração dos valores das correntes dividida pela diferença entre os ângulos: 𝑢(𝑖) = 𝑖(𝜃) − 𝑖(𝜑) 𝜃 − 𝜑 O valor de 𝑅 utilizado foi a média entre o raio externo e o raio interno das bobinas, que vale 𝑅 = 10,55𝑐𝑚 (para facilitar os cálculos, não foi considerada nenhuma incerteza nessa medida), e o número de espiras em cada bobina foi fornecido pelo fabricante e vale 𝑁 = 120 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠. Abaixo está a tabela com os valores experimentais encontrados: Figura 2: Esquema da montagem usada em sala de aula, fora de escala. Girávamos somente a bússola e depois as bobinas para atingir o alinhamento desejado. À direita, uma vista de cima, mostrando os campos magnéticos presentes, que fazem a bússola mudar a sua orientação. As setas na figura da esquerda representam o circuito montado para gerar uma corrente nas bobinas, que foi omitido no desenho. �⃗� 𝑇 �⃗� 𝐵 𝑖 𝑖 R R R (4) Ângulo θ i (mA) Ângulo ϕ i (mA) 20° 8,32 18° 7,93 30° 11,60 28° 10,01 40° 15,73 38° 14,45 45° 17,86 44° 17,14 50° 21,90 48° 19,79 60° 31,47 58° 29,25 70° 50,9 68° 45,6 78° 100,3 76° 83,6 Tabela 1: Tabela com os valores medidos do ângulo da bússola e da corrente elétrica nas bobinas. Utilizando a equação (2), calculamos o campo magnético produzido pelas bobinas para uma dada corrente elétrica. A incerteza desse valor foi propagada utilizando uma expressão tabelada para a propagação de incerteza do material “Laboratório de Física – subsídios para o ensino de física experimental”, de autoria de professores da UFRGS: 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑋 = 𝑛𝐴, 𝐵𝐵⏟ 𝑋 = 8𝑁𝜇0 𝑅5√5⏟ 𝑛 . 𝑖⏟ 𝐴 𝑢(𝑋) = |𝑛|. 𝑢(𝐴) A equação (3) foi aplicada para encontrar o valor da componente horizontal do campo magnético terrestre associado a cada medida. Utilizando a equação (4) para calcular a incerteza das correntes e a equação (5) para calcular a incerteza dos campos magnéticos, montamos outra tabela com os valores calculados: Ângulo θ 𝐵𝐵(𝜇𝑇) 𝐵𝑇(𝜇𝑇) 20° 8,5 ± 0,2 23,4 ± 0,2 30° 11,9 ± 0,8 20,6 ± 0,8 40° 16,1 ± 0,6 19,2 ± 0,6 45° 18,3 ± 0,7 18,3 ± 0,7 50° 22 ± 1 18 ± 1 60° 32 ± 1 18 ± 1 70° 52 ± 3 19 ± 3 78° 103 ± 8 22 ± 8 Tabela 2: Tabela com os valores calculados para os campos magnéticos das bobinas e da Terra e seus respectivos ângulos. A fim de encontrar um valor mais confiável para o campo magnético terrestre, foi feita a média dos valores da tabela, cuja incerteza é o desvio padrão das medidas: �̅�𝑇1 = 20 ± 2 𝜇𝑇 Vale notar que um outro valor que poderia ser usado como a componente horizontal do campo magnético terrestre é o valor experimental encontrado quando a bússola marcou 45°, que, pela relação (3), diz que o campo da bobina é igual ao campo da Terra: 𝐵𝐵(𝜃= 45°) = 𝐵𝑇2 = 18,3 ± 0,7 𝜇𝑇 (5) Para visualizar a relação entre a tangente do ângulo e o campo magnético das bobinas, o software “SciDavis” foi utilizado para plotar um gráfico com esses eixos: Gráfico 1: Gráfico do campo magnético das bobinas em função da tangente dos ângulos que a bússola marcava. As incertezas no gráfico foram tiradas da Tabela 2. Com o software, traçamos um ajuste linear para os pontos e adquirimos uma equação para a reta, que corresponderia à equação (3) com 𝐵𝐵 isolado. Os parâmetros encontrados foram: 𝑎 = 17,1 ± 0,5 𝑏 = 2,1 ± 0,3 Esperava-se que o parâmetro 𝑏 fosse igual à zero, mas essa diferença provavelmente existe devido aos erros experimentais. O parâmetro 𝑎, no entanto, nos dá outro valor para o campo magnético terrestre: 𝐵𝑇3 = 17,1 ± 0,5 𝜇𝑇 Ao término dos cálculos, nos deparamos com três valores para o campo magnético terrestre horizontal local. Todos eles estão na mesma ordem de grandeza, diferindo em algumas unidades. Cabe ao experimentador decidir qual é o melhor valor a ser usado. 𝐵𝑇2 provavelmente não é a melhor opção, pois trata apenas de um único valor experimental. Entre 𝐵𝑇1 e 𝐵𝑇3, talvez seja melhor usarmos o valor obtido pela reta de tendência, mesmo com o último valor fora da reta, pois a média dos valores apresenta uma incerteza muito maior, acarretando menos precisão ao valor encontrado. Conclusão O fato de não conhecermos muito bem o campo magnético da Terra não afeta na nossa capacidade de explorarmos suas utilidades. Seu uso para navegação através de bússolas data do século 11 D.C, quando Shen Kuo registrou no seu livro “Dream Pool Essays” suas realizações com uma agulha que apontava para o Norte quando antes se movia livremente. As bússolas não mudaram muito desde essa época, e foi com a ajuda de uma que conseguimos calcular a componente horizontal do campo magnético terrestre em sala de aula. O experimento realizado permitia encontrar um valor para o campo magnético da Terra de diversas maneiras. No entanto, muitas opções teóricas não valem de nada se a prática não é executada adequadamente. Os três valores encontrados possuem incertezas relativamente altas e inúmeras outras fontes de erro que não foram consideradas no cálculo. Qualquer perturbação que o sistema sofresse durante a realização do experimento poderia comprometer seriamente os dados, e a precisão humana pode ser muito limitada para medições tão delicadas. Independente de tudo isso, foi possível efetuar o experimento completo e, no final, foram encontrados valores para o campo magnético horizontal terrestre que se encontram dentro do limite esperado, assim atingindo o objetivo da atividade. Referências WALKER, Jearl. HALLIDAY. RESNICK. Fundamentos de Física – Eletromagnetismo. Volume 3. 9ª edição. Editora LTC. LIMA JUNIOR, P; SILVA, M.T.X.; SILVEIRA, F.L.; VEIT, E.A. Laboratório de Mecânica: subsídios para o ensino de física experimental. Porto Alegre: IF-UFRGS, 2013. https://pt.wikipedia.org. Último acesso em 31/05/2016. JACKSON, Tom. Physics – an illustrated history of the foundations of Science. 2013. Shelter Harbor Press. Nova York. HEWITT, Paul G. Física Conceitual. 11ª edição. 2001. Bookman. São Paulo.
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