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Aula_10

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OFICINA LITERÁRIA 
AULA 10 
CURSO DE LETRAS - PROF. Me. CLÁUDIA SOARES
Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2012
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Minhas Leituras II
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LUÍS DE CAMÕES
“Ao desconcerto do Mundo”
Os bons vi sempre passar
no Mundo grandes tormentos;
e pera mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
assim que, só pera mim,
anda o Mundo concertado.
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Vós sois ua dama
Das feias do mundo,
De toda a má fama
Sois cabo profundo.
 A  vossa figura
Não é para ver;
Em vosso poder
Não há fermosura.
Vós fostes dotada
De toda maldade;
Perfeita beldade
De vós é tirada.
Sois muito acabada
De tacha e de glosa ;
Pois, quanto a fermosa
Em vós não há nada 
Do grão merecer
Sois bem apartada;
Andais alongada
Do bem-parecer.
Bem claro mostrais
Em vós fealdade;
Não há i maldade
Que não precedais.
De fresco carão
Vos vejo ausente;
Em vós é presente,
A má condição.
De ter perfeição
Mui alheia estais;
Mui muito alcançais
De pouca razão. 
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Estâncias na medida antiga, que tem duas contrariedades: louvando e deslouvando a dama 
Esquema rimático: 
4 estrofes com 8versos
ababcddc
Rima cruzada - versos 1 a 5;
Rima emparelhada -versos 6 e 7;
Rima interpolada noverso 8;
Quanto à escansão (nº sílabas métricas) encontramos a medida velha; isto é,verso de redondilha menor (5)
Retrato de Mulher – Da Vinci
1452 - 1519
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O tema é a mulher. 
Nesta composição poética Camões materializa a dualidade da dama pela leitura múltipla:
Nahorizontal,apresenta- se louvada, as suas qualidades positivas são realçadas;
Navertical, o poeta deslouva-a, mostrando qualidades negativas. É ainda o gosto do trivial e do lúdico que inspiram estas trovas.
Eleonora – Bronzino
1503 - 1572
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A dona Francisca de Aragão, mandando-lhe esta regra que lha glosasse
MOTE Mas porém a que cuidados? 
 VOLTA Tanto maiores tormentos foram sempre os que sofri daquilo que cabe em mi, que não sei que pensamentos são os para que naci. Quando vejo este meu peito a perigos arriscados inclinado, bem suspeito que a cuidadas sou sujeito: mas porém a que cuidados? 
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OUTRA AO MESMO Que vindes em mi buscar, cuidados, que sou cativo e não tenho que vos dar? Se vindes a me matar, já há muito que não vivo; se vindes, porque me dais tormentos desesperados, eu, que sempre sofri mais, não digo que não venhais: mas porém a quê, cuidados? 
Botticelli (1445 – 1510)
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OUTRA AO MESMO Se as penas que Amor me deu vêm por tão suaves meios, não há que temer receios, que val um cuidado meu por mil descansos alheios. Ter nuns olhos tão fermosos os sentidos enlevados bem sei que, em baixos estados, são cuidados perigosos. Mas porém, ah! que cuidados!
Jean-Baptiste Corot (1796 – 1875)
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Casamento- Adélia Prado
Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinho na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
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O casamento do diabo
Machado de Assis
Satã teve um dia a idéia
De casar. Que original!
Queria mulher não feia,
Virgem corpo, alma leal.
 
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
 
Resolvido no projeto,
Para vê-lo realizar,
Quis procurar objeto
Próprio do seu paladar.
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Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
 
Cortou unhas, cortou rabo,
Cortou as pontas, e após
Saiu o nosso diabo
Como o herói dos heróis.
 
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.
Carolina Augusta Xavier de Novais 
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Casar era a sua dita;
 
Correu por terra e por mar,
Encontrou mulher bonita
E tratou de a requestar.
 
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
 
Ele quis, ela queria,
Puseram mão sobre mão,
E na melhor harmonia
Verificou-se a união.
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Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
 
Passou-se um ano, e ao diabo,
Não lhe cresceram por fim,
Nem as unhas, nem o rabo ...
Mas as pontas, essas sim.
 
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
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Loucura - Florbela Espanca
Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada
Pavorosa! Não sei onde era dantes.
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!...
Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!...
Pesadelos de insônia, ébrios de anseio!
Loucura de esboçar-se, a enegrecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!
Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro de mim! 
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PAIS E FILHOS – Legião Urbana
Estátuas e cofres e paredes pintadas Ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar Nada é fácil de entender.
Dorme agora, é só o vento lá fora.
Quero colo! Vou fugir de casa! Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo, tive um pesadelo Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome de santo Quero o nome mais bonito.
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É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar Na verdade não há.
Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo São meus filhos Que tomam conta de mim.
Eu moro com a minha mãe Mas meu pai vem me visitar Eu moro na rua, não tenho ninguém Eu moro em qualquer lugar.
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Já morei em tanta casa Que nem me lembro mais Eu moro com os meus pais.
É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar Na verdade não há.
Sou uma gota d'água, sou um grão de areia Você me diz que seus pais não te entendem, Mas você não entende seus pais.
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Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo São crianças como você O que você vai ser, Quando você crescer?
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ASA BRANCA – LUIZ GONZAGA
Quando "oiei" a terra ardendo Qual a fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia Nem um pé de "prantação" Por farta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão
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Inté mesmo a asa branca Bateu asas do sertão "Intonce" eu disse, adeus Rosinha Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua Numa triste solidão Espero a chuva cair de novo Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo Pra mim vortar pro meu sertão
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Quando o verde dos teus "óio" Se "espaiar" na prantação Eu te asseguro não chore não, viu Que eu vortarei, viu Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu Que eu vortarei, viu Meu coração
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A arte não se limita à expressão estética em forma de poesia, quadro, escultura ou música; a arte é a expressão simbólica de uma emoção, um sentimento, uma ideologia.
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A MÚSICA E A POESIA
Música e literatura têm muito em comum por serem manifestações artísticas infinitamente ricas. Sua distinção se dá, principalmente, pela forma como conduzem as criações humanas: uma pelo jogo de sons, a outra pelo jogo de palavras.
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As relações entre
a música e a literatura são tão antigas quanto essas duas formas de expressão artística. Desde a Antiguidade o texto literário adapta-se à música, bem como a música adapta-se ao texto literário, mais precisamente, ao poema. Se pensarmos, por exemplo, no Cântico dos Cânticos ou nos Salmos, percebemos com nitidez que foram textos escritos com a finalidade de serem recitados ou cantados ao som de instrumentos musicais; nos Salmos, em especial, encontramos inúmeras indicações destinadas aos músicos, tais como no Salmo 4, onde consta: "Ao mestre de canto. Com instrumentos de cordas". Outras vezes consta "Com flautas" e, em certa ocasiões, indicações bem precisas de técnica, como: "Uma oitava abaixo". São célebres as ilustrações que mostram Davi empunhando uma harpa. 
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Na Antiguidade grega e romana era quase inadmissível que um poema fosse dito sem que se fizesse acompanhar de música: para tanto, o poema materializava-se em frases de cadência favorável ao canto, e mediante regras mais ou menos uniformes. Não esqueçamos também a imagem do imperador Nero, empunhando uma harpa enquanto incendiava Roma: não apenas uma melodia, mas uma elegia literária à cidade que perecia nas cinzas. Procurava-se, como se percebe, captar o ouvinte pela palavra e pela música ao mesmo tempo. 
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Da Idade Média, passou ao nosso imaginário cultural a figura do trovador, simultaneamente poeta e músico, perambulando pelas aldeias com seu alaúde e seus poemas. Rarissimamente a música era meramente instrumental: exceto no caso das danças, a melodia conjugava-se à palavra. Poucos foram os nomes desses poetas-músicos que chegaram até nós.
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Durante várias décadas do século XX, por exemplo, as contradições e crises sociais embricaram-se à literatura e à canção, tornando-se estas parte do nosso legado histórico. Em 1930,enquanto Getúlio Vargas tomava posse com o apoio da burguesia e de militares ligados ao tenentismo, grandes mudanças ocorriam no país, desencadeando o crescimento das zonas urbanas,da industrialização e da burguesia, em detrimento do governo oligárquico da República Velha, o qual privilegiava os grandes proprietários de terras. Noel Rosa, nesse ano, lançava Com que roupa, carregando em seu samba uma crítica explícita à pobreza do país, e saía O Quinze, de Rachel de Queirós. 
As composições, na década de 40, de Gonzagão, acrescentam à canção elementos típicos de sua região..
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O autor brasileiro que fez a grande travessia da poesia canônica para a canção popular foi Vinicius de Moraes. Pode-se dizer que sua contribuição ao cancioneiro nacional foi mais determinante do que ao universo poético propriamente dito. O “poetinha” acabou se tornando um dos pais da Bossa Nova. O movimento mudaria para sempre os rumos da canção popular, influenciando músicos em vários países. Herdeiros da arte de Vinicius, compositores como Aldir Blanc, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fernando Brant, José Miguel Wisnik e Paulo César Pinheiro – também sob a influência de Guimarães Rosa – se renderam ao fascínio das letras, passando a escrever crônicas, ensaios, ficção e poesia, confirmando a vocação múltipla dos autores nacionais.
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A música é uma forma de lirismo. Existe, nela, um olhar muito particular, uma forma única de sentir o mundo. Além disso, assim como a literatura, é um veículo de denúncia de grandes questões sociais.
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