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A vida e a arte quem imita quem?

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ENCARTE DO PROFESSOR
A nova Arte
A ref lexão de Ortega Y Gasset sobre o movimento 
que se afasta do realismo para sucumbir à 
sensibilidade e a menos seriedade
Sem codificação
A extrapolação do sentido e a falta de possibilidade 
de uma teoria para explicar a Arte Contemporânea 
Reflexão
e prática 66
Com a curadoria de Carolina Desoti e Victor Costa
Carolina Desoti é graduada em Filosofi a pela PUC-
Campinas e atua nas áreas da Filosofi a Política e 
Psicanálise pelo viés do Cinema.
Victor Costa (@costa_victor) é formado pela PUC-
Campinas e em roteiro pela EICTV (Cuba). Estudou 
Artes Visuais e Comunicação na Unicamp. É professor, 
roteirista, redator e produtor cultural.
Os exercícios são propostos pelo vice-presidente
da Aproffesp - Associação dos Professores de
Filosofi a e Filósofos do Estado de São Paulo –
Francisco Paulo Greter
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Os seres humanos se diferenciaram dos outros animais (dizem os humanos!) pela inteligência abstrata e linguagem simbólica de que são capazes. Tais ca-
pacidades possibilitam a criação de uma “segunda 
natureza”, a Cultura. E no contexto da Cultura, uma 
das grandes criações humanas chama-se “Arte”, esta 
forma especíŠ ca de conhecer, expressar e interpretar 
o mundo, mesmo o mundo que não existe, ou que 
“existe” apenas na imaginação do homem. Como 
disse o grande poeta português, Fernando Pessoa: 
“O poeta é um Š ngidor,
Finge tão completamente,
Que chega a Š ngir que é dor,
A dor que deveras sente”.
Mas o que é Arte? O que a Arte difere de outras 
técnicas inventadas pelo engenho humano? O que o 
canto dos homens, suas danças e cores diferem da plu-
magem, cantos e cores dos pássaros? A Arte conhe-
ceu diversas técnicas e expressões, que acompanham 
o momento histórico, como as grandes obras sacras do 
século XVIII e XIX, momento em que a igreja cató-
lica dominava o cenário social. Ou então, as obras de 
Andy Warhol, que reœ etiram a massiŠ cação e a repeti-
ção do século XX na pop art. O Š lósofo espanhol, Or-
tega y Gasset, que nunca formulou um tratado sobre 
estética, pensou sobre uma Arte que fugisse da mes-
mice, que não tivesse pretensões de explicar o mundo 
como a Ciência e a FilosoŠ a e que tirasse o homem do 
estado de seriedade. Vamos, neste caderno, conhecer 
um pouco mais de seu pensamento.
A VIDA E A ARTE: 
QUEM IMITA QUEM?
Hugo Allan Matos é mestre em Educação, Pós-graduado em FilosoŠ a e História Contemporâneas e Licenciado em FilosoŠ a (UMESP). Filósofo e professor de FilosoŠ a no Ensino 
Médio. Militante da APROFFESP e APEOESP; Francisco P. Greter é mestre em FilosoŠ a e História da Educação – FEUSP e vice-presidente da APROFFESP. www.aproffesp.
blogspot.com, fgretter@yahoo.com.br. IM
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Hugo Allan Matos e Francisco Paulo Greter
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ETAPA I: 
A VISÃO ESTÉTICA 
DO MUNDO
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ATIVIDADE I:
 A ARTE COMO FORMA 
DE CONHECIMENTO
 INTUITIVO
Os seres humanos, desde o 
início de sua história, que não se 
sabe exatamente quando começou, 
foram obrigados a conhecer a re-
alidade e a dominar técnicas na 
luta pela sobrevivência. Também 
os animais precisam conhecer e 
dominar o seu hábitat para sobre-
viver, mas nenhum deles conse-
guiu chegar onde o Homo sapiens 
já chegou, tanto nas ciências como 
nas técnicas. O homem tem trans-
formado o mundo e a si mesmo de 
forma fenomenal, principalmente 
a partir da época moderna, e seu 
conhecimento e poder técnico se 
multiplica, isso é inegável.
Assim, os seres humanos de-
senvolveram, no decorrer da his-
tória, várias formas de conhecer, 
expressar, interpretar e dominar 
a realidade em que vivem. Além 
das ciências e das técnicas, ex-
pandiram o conhecimento míti-
co e religioso do mundo e de um 
provável além-mundo; criaram e 
aprofundaram a reœ exão Š losóŠ ca 
sobre todos os aspectos da exis-
tência. Todavia, se há uma coisa 
que diferencia sobremaneira o ser 
humano dos demais seres vivos é 
a sua capacidade artística, o senso 
estético da vida e do mundo. Já nas 
paredes das cavernas, no alvore-
cer da humanidade, os grupos não 
apenas lutaram pela sobrevivência 
ou Š zeram guerras, mas também 
desenvolveram a interpretação es-
tética do mundo, aquilo que veio a 
ser chamado de Arte. E o que vem 
a ser “Arte”?
Os teóricos deŠ nem que Arte 
surge do “conhecimento intuitivo 
do mundo”, o que envolve a cria-
tividade, a imaginação, a emoção 
e o sentimento, conceitos estes que 
dependem, para sua deŠ nição e/ou 
compreensão, de diferentes visões 
de Arte e concepções estéticas. Aí 
entramos no terreno da FilosoŠ a da 
Arte ou da Estética enquanto ten-
tativa de reœ exão sobre essa forma 
peculiar e fantástica de conhecer, 
expressar e sentir o mundo. 
O conhecimento do mundo não 
se dá somente por conceitos lógi-
cos, organizados de forma teórica, 
como faz a Ciência e a FilosoŠ a, 
cada uma dentro de suas especi-
Š cidades. O conhecimento tam-
bém se dá pela intuição, que é o 
conhecimento imediato da forma 
concreta e individual e se refere 
não diretamente à razão teórica, 
mas ao sentimento e à imaginação. 
“A Arte é um caso privilegiado de 
entendimento intuitivo do mundo, 
tanto para o artista que cria obras 
concretas e singulares quanto para 
o apreciador que se entrega a elas 
para penetrar-lhes o sentido”1.
A Arte, como forma intuitiva de 
apreensão/expressão humana do real 
através da criação de formas sensí-
veis (sons, imagens, formas etc.), 
proporciona uma forma de conheci-
mento sui generis, aquém e além da 
conceitualização abstrata e teórica 
do mundo e que possui familiarida-
de com a experiência afetiva. Nesse 
sentido, ela está mais próxima do 
mito do que da Ciência ou da Filo-
soŠ a, ainda que a “nova Arte” con-
temporânea busque novas maneiras 
de expressão e sua desvinculação 
com o cotidiano imediato e suas 
funções pragmáticas e utilitárias. 
1 cf. bibliograŠ a, n° 2, p. 373.
Ainda na época das cavernas, em que apenas se lutava pela sobrevivência, o 
homem encontrou uma forma entender e explicar seu mundo pelo meio da Arte
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38 • ciência&vida
EXERCÍCIO I: ANÁLISE E COMPARAÇÕES ENTRE AS 
DIFERENTES FUNÇÕES DA ARTE
Dividir a classe em três grupos e solicitar a cada um deles que pes-
quisem em obras especializadas e mesmo na internet alguns exemplos 
dos três diferentes tipos de obras de Arte, de acordo com a sua função. 
Pedir ajuda ao professor de Educação Artística. Os grupos deverão tra-
zer os exemplos (pintura, arquitetura, escultura etc.) para serem expos-
tos e analisados com a ajuda do professor. Selecionar alguns textos de 
FilosoŠ a da Arte que fazem análises a respeito. 
Depois de analisados, com a ajuda dos textos, as obras deverão ser expos-
tas em lugar público com as observações dos alunos para que toda a escola 
possa participar da atividade, cujo objetivo é aguçar o senso estético de todos.
ATIVIDADE II:
 FUNÇÕES DA ARTE
 
As artes, no decorrer da história, 
tiveram várias funções e que foram 
se modiŠ cando de acordo com as 
formas de organização social, eco-
nômica e política das diferentes so-
ciedades humanas, culturas e povos. 
No início da humanidade, quan-
do as explicações míticas e religiosas 
dominavam a visão de mundo, as ar-
tes tiveram uma função mágica por 
meio da qual os primeiros agrupa-
mentos humanos lidavam com seus 
medos e a necessidade de enfrentar 
os perigos de um mundo povoado 
por animais ferozes, “espíritos” do 
bem e do mal, pelo desconhecido. 
Assim eles faziam suas pinturas nas 
paredes das cavernas, sepintavam, 
marcando o próprio corpo como 
sinal de oferenda e sacrifício, canta-
vam e dançavam. 
Tais práticas ainda persistem em 
tribos e mesmo em “rituais” de “tri-
bos” modernas e “pós-modernas”. 
Basta assistir a um show de rock 
deste ou daquele estilo, ir a uma 
loja de tatuagem ou festa rave, onde 
podemos ver a mais alta tecnologia 
de sons e luzes misturada ao que há 
de mais primordial nos rituais pri-
mitivos. O que dizer, por exemplo, 
da Lady Gaga e seus visuais extra-
vagantes, ícone de uma geração tra-
vestida de sonhos, vazios e medos? 
Nesses rituais todos, a Arte está 
presente e desempenha funções es-
téticas, sociais, psíquicas, de entre-
tenimento etc.
Para que possamos nos ater a 
nosso objetivo didático, utilizemos 
aqui o esquema já estabelecido pelos 
teóricos para apresentar as funções 
principais das artes:
1. Função pragmática ou utilitá-
ria: aqui a Arte não vale por ela mes-
ma, mas desempenha uma função de 
utilidade prática ou mesmo para servir 
a interesses de grupos sociais domi-
nantes para transmitir aos “inferiores” 
a sua visão de mundo, crenças e ide-
ologias. Vimos isso na Idade Média, 
época que a pintura, a arquitetura, a 
escultura e a música serviram para 
transmitir ao povo iletrado, aos servos 
e aos que não eram nobres, os valores 
da cristandade católica. As catedrais 
góticas, com seus vitrais e colunas, 
são exemplos fantásticos dessa função 
educativa e religiosa. 
Mas também podemos usar a 
Arte para objetivos menos (!) nobres 
ou espirituais quando, numa festa de 
aniversário, casamento ou nas happy 
hours, a música é utilizada para ale-
grar os amigos e casais em seus mo-
mentos de prazer e felicidade, ainda 
que passageiros, mundanos, em que 
os deuses e espíritos já não são mais 
evocados e o barulho impede qual-
quer “gozo estético” mais profundo, 
embora embale outros gozos.
As artes também são e devem 
ser utilizadas na educação, inclusive 
nas aulas de FilosoŠ a, por que não? 
Assim elas desempenham suas fun-
ções pedagógicas, políticas, sociais, 
religiosas...
2. Função naturalista: refere-se 
diretamente ao conteúdo da obra de 
Arte, cuja função é retratar o mais 
Š el possível a realidade e seu objeto. 
É a função referencial em que a Arte 
“imita a realidade”, tenta copiá-la tal 
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ETAPA II: A ARTE DA VIDA 
E A “DESUMANIZAÇÃO” DA ARTE 
SEGUNDO A ESTÉTICA DE ORTEGA Y GASSET
qual é. É evidente que essa tentativa 
se tornou inútil quando a máquina 
fotogrአca foi inventada, superan-
do todo o realismo artístico. Então, 
a Arte vai ter de se reinventar e a 
própria fotograŠ a também se torna-
rá um meio de expressão do artista. 
Assim também outras expressões 
artísticas, como o teatro e a música, 
irão se modiŠ car com a chegada do 
Cinema, da indústria fonogrአca e 
do vídeo.
3. Função formalista: como a 
própria palavra diz, a preocupação 
aqui é com a forma de apresenta-
ção da obra de Arte, seja pictórica, 
escultórica, arquitetônica, musical, 
teatral etc. O que importa é a orga-
nização interna, a estruturação dos 
signos selecionados de acordo com 
uma lógica especíŠ ca. Há uma pre-
ocupação com a experiência estética 
em si mesma e sua fruição depende 
de um público educado e maduro 
para entender o signiŠ cado intrín-
seco proposto pelo artista. Como 
exemplo de função formalista, po-
demos citar a Arte da caricatura 
que deforma o objeto – a pessoa – 
e ao mesmo tempo capta e realça a 
sua essência.
Aprofundaremos melhor a 
análise dessa função na próxima 
etapa ao abordarmos a obra de 
Ortega e Gasset, A desumaniza-
ção da Arte. Nessa obra, o f ilósofo 
espanhol, que é um dos maiores 
do século XX, faz uma análise da 
“nova Arte” que surgiu na Europa 
a partir do f inal do século XIX e 
até hoje causa perplexidade, pois 
não fala mais ao homem comum, 
ao povo.
Enquanto isso, a Arte natura-
lista, realista ou surrealista, im-
pressionista, expressionista, ro-
mântica ou engajada (nomes que 
se dão aos devaneios humanos) 
continua a embalar os sonhos, as 
emoções, os ideais e as loucuras 
da maioria da população. 
O Š lósofo espanhol José Ortega 
y Gasset (1883-1955) foi um amante 
da Arte e suas reœ exões estéticas são 
muitas, apesar de não sistematiza-
das. Talvez de propósito, pois, como 
veremos, para ele a Arte é inŠ ndá-
vel, tal como deve ser a reœ exão so-
bre ela. Tomarei como base seu texto 
mais conhecido: A desumanização 
da Arte, porém em uma perspectiva 
incomum, não da distância metodo-
lógica do espectador2, mas da impli-
cação do escritor de O que é Filoso a? 
O termo “desumanização”, uti-
lizada por este autor, gera inúmeras 
polêmicas e perspectivas. Esse ter-
mo tem uma forte inœ uência – ad-
vertida pelo autor – da Fenomeno-
logia. Ao utilizar-se dele, Gasset 
quer especiŠ car uma intranscen-
dência da Arte em relação à vida 
cotidiana, ou mundo da vida3, que 
Gasset chama realidade humana4. 
2Método orteguiano utilizado na escrita de sua obra 
de mesmo nome: El espectador, em oito volumes.
3 Lenbeswelt para Husserl.
4 GASSET, p. 57. 
O inumano, portanto, é aquilo que 
não faz parte do cotidiano, do que é 
natural. A Arte não pode estar rela-
cionada com o cotidiano, não pode 
ser uma transcendência deste. 
Devemos levar em conside-
ração que sua produção estética 
mais intensa foi justamente no 
nascimento da “nova Arte”, com 
o advento da modernidade. A 
passagem da antiga para a nova 
Arte se dá, na visão do f ilósofo, 
quando as várias formas de Arte 
– pintura, música etc. – defendem 
os mesmos valores, ainda que não 
seja conscientemente. 
Enquanto no realismo do sécu-
lo XIX – a velha Arte – os artistas 
reproduziam a realidade, caindo da 
mesmice, no enfadonho, habitual, o 
que mais importa para Gasset é essa 
nova sensibilidade estética surgente, 
que traz ao mundo velho um ar jo-
vial. Com o humano, Arte velha era 
fácil conviver, pois havia uma identi-
Š cação. Já com a Arte nova, é neces-
sária uma nova forma de relação com 
a Arte, há que inventá-la, criar. O 
artista deve criar um estilo, estilizar 
é deformar o real, desumanizar. A 
tentativa de compreensão dessa nova 
realidade que traz o gozo artístico.
Ortega y Gasset refletiu sobre a nova Arte, que foge do real, onde o que importa é a 
sensibilidade e que não pretende seriedade
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maior peso nesta obra de Gasset. 
A ironia é a máxima categoria 
estética, aŠ rma, citando o grupo 
de Schlegel, diretor de um grupo 
de alemães românticos do século 
XIX: “Ser artista é não levar a sé-
rio o homem tão sério que somos, 
quando não somos artistas”5. Ape-
sar disso, a crítica contra a Cultura 
do século XIX é veemente. Gasset 
acentua a crítica que a Arte nova 
traz contra a Política, pois, para 
ele, esse serviço tornou-se sinôni-
mo da mentira. As inúmeras críti-
cas contra a Arte e contra o Posi-
tivismo também devem ser citadas 
aqui, pois o Positivismo – na visão 
dos novos artistas – renunciava às 
essências por ser culturade meios 
e não de Š ns. 
O homem do século XX perdeu 
a fé na Ciência, devido às caracte-
rísticas apontadas, e contentou-se 
com um ilusionado viver. Portanto, 
aqui se mostra a importância de a 
Arte dar conta do que a Ciência não 
pode explicar. 
Como novo estilo, a crítica ao 
antigo é inevitável, mas Gasset 
reconhece que um tom monótono 
era necessário para despertar os 
mais pacientes. Essa era uma con-
tradição de amor e ódio clamada 
pela Arte nova que, em seu riso, 
formou sua identidade para além 
do cotidiano e da Ciência, abrin-
do novos horizontes. 
• (In)transcendência da Arte 
Ao contrário da Arte clássi-
ca, a nova Arte não quer assumir 
a tarefa de salvar a humanidade 
– da falência das religiões e da 
Ciência – de discutir os graves 
problemas de sua época, ou se-
quer precisar dar satisfações do 
que faz a alguém. “...a Arte salva 
o homem, é só porque o salva da 
seriedade da vida e suscita nele 
inesperada infância...”6.
Podemos perceber na estética or-
teguiana uma ontologia e uma Ética 
implícitas. Ao passo que a Cultura 
de sua sociedade impunha um con-
5 GASSET, p. 80.
6 GASSET, p. 82.A nova Arte não pretende explicar o mundo e é algo que a Ciência não pode alcançar
Essa nova Arte tem três princi-
pais características que a deŠ nem e 
veremos agora: 
• O riso da Arte
O principal mecanismo da 
eliminação das formas vivas são 
as metáforas, na pintura, as ico-
noclastias, nas quais as Š guras já 
não correspondem totalmente à 
realidade. A fabricação de ícones, 
a propósito, foi muito perseguida 
e até proibida na história europeia. 
Não encontrei fontes relevantes 
para aŠ rmar que – além da possível 
associação das Š guras com o isla-
mismo e judaísmo – pode ter sido, 
por seu caráter eliminador das for-
mas vivas, que já imprime por si 
um tom de não transcendência na 
Arte, bem como de possibilidade 
da alteridade artística. 
Surge uma questão habitual: 
por que essa ânsia na eliminação 
das formas vivas? Ou indo além, 
de novidade, de superação? Para 
Gasset é justamente por causa do 
gozo estético. A tradição sempre se 
torna humanizada – no sentido de 
cotidiana que aqui estamos tra-
balhando –, assim, tanto o artista 
quanto as pessoas que contemplam 
a Arte, na história, sentem vontade 
do novo. Aqui poderíamos entrar 
numa discussão sobre o conceito já 
citado de alteridade, que explicaria 
de forma mais lógica essa neces-
sidade do novo, mas deixarei para 
outra oportunidade. 
Portanto, a Arte tradicional do 
século XIX fazia questão de exibir 
a forma viva, e é buscando privile-
giar o gozo estético que a nova Arte 
o elimina. Para admiradores e de-
fensores da Arte velha, a nova Arte 
parece uma farsa. E para Gasset, 
esta acusação é, em parte, verdadei-
ra: esse novo estilo quer falsear, rir 
do velho. “Seria uma farsa – nesse 
sentido negativo – se quisesse cla-
mar o mesmo tipo de contempla-
ção patética, quase religiosa...” que 
o estilo clássico. Mas não. Quer ir 
além, eliminando as formas vivas, 
quer rir da Arte em geral. 
• É só Arte!
Esta af irmação da Arte como 
Arte, para fazer jus à comicidade 
do estilo, trata-se de dúbia af ir-
mação. Como a Arte desumani-
za-se, não quer imitar a realida-
de, pois desta a Ciência tem que 
dar conta. E o campo da Arte é 
justamente aquele que a Ciência 
não consegue alcançar. E o se-
gundo sentido é o da Arte como 
cômica, como jogo, que não pre-
tende seriedade. 
O segundo sentido ganha 
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EXERCÍCIO II: QUESTÕES PARA COMPREENSÃO DO TEXTO
Após a leitura do texto com os alunos e antes de iniciar qual-
quer debate, o professor deverá veriŠ car e esclarecer o vocabulário 
desconhecido pelos alunos, identiŠ cando os conceitos tratados pelo 
autor. Depois disso, sugerir essas questões aos alunos:
01) O que signiŠ ca o termo “desumanização” para Ortega y 
Gasset?
02) O que pretendeu a “nova Arte” em relação à Arte tradicio-
nal, segundo a análise de Ortega y Gasset?
03) Em que sentido, para os defensores da velha Arte (naturalis-
ta), a “nova Arte” é uma farsa? E por que essa aŠ rmação, em parte, 
é verdadeira? 
04) Comente a aŠ rmação: “...o campo da Arte é justamente 
aquele que a Ciência não pode alcançar”. Que campo é esse que a 
Arte atinge e que a Ciência não consegue chegar?
05) O autor aŠ rma que a ironia, objeto da nova Arte, é a cate-
goria estética maior. Qual é seu emprego com relação à Política?*
06) O que signiŠ ca aŠ rmar que a “nova Arte” não está preo-
cupada em salvar a humanidade, tarefa esta a que as religiões e a 
Ciência se dedicam e sem muita eŠ cácia? A Arte, segundo o autor, 
se pode salvar de alguma coisa, nos salva da “seriedade da vida”. 
Explique.
*Sugerimos ao professor que peça aos alunos um trabalho de pesquisa 
sobre a IRONIA expressa nas tiras de jornais e revistas com relação aos 
políticos e à Política. Os grupos (quatro componentes) poderão trazer 
certa quantidade de tiras que serão selecionadas e sobre as quais farão co-
mentários e uma análise crítica. Para isso, utilizar o “Encarte” número 
64, revista Filosofia, n° 75 – outubro/2012, que tratou justamente da 
questão política e dos partidos políticos no Brasil.
Os alunos deverão analisar até que ponto os quadrinhos (tiras) pu-
blicados pelos jornais e revistas suscitam o gozo estético a que Ortega y 
Gasset se refere, ou também expressam preconceitos e ideologias partidá-
rias, negando o próprio sentido da “nova Arte”.
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formismo com a derrota da Ciência 
– enquanto salvadora da humanida-
de, caindo no relativismo –, frente ao 
fracasso das religiões, apoiar a Arte 
nova ressaltando seu caráter cômico, 
como possibilidade de as pessoas 
vencerem esse comodismo, parece 
algo revolucionário. Contudo, é ne-
cessário um estudo aprofundado das 
implicações éticas e políticas; uma 
leitura do livro A rebelião das massas 
é essencial para compreender sua 
proposição estética. 
Além disso, a noção antropo-
lógica de incompletude humana 
é necessária, pois, para Gasset, o 
homem deve estar sempre vivendo 
e reelaborando seu projeto de vida, 
ou seja, viver o presente sempre 
construindo seu futuro. 
Já no início do século XX ha-
via a massif icação do ser humano. 
Para Gasset, o homem não supor-
ta nada que não lhe seja familiar. 
É por isso que a maioria repudiava 
a nova Arte. O homem-massa não 
teria, a princípio, condições de 
compreender a Arte que se apre-
sentava. Por isso era legítimo o 
enfrentamento que esta fazia con-
tra a tradição. E o fato de o f ilóso-
fo nunca ter escrito uma estética, 
em minha leitura, é porque nunca 
pretendeu escrever uma. Escreveu 
sobre as estéticas de acordo com 
que estas interessavam à sua con-
cepção política. 
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42 • ciência&vida
ETAPA III: 
INTERDISCIPLINARIDADE
POESIA, MÚSICA E 
EXPERIÊNCIA ESTÉTICA
IM
A
G
EN
S:
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Qualquer coisa (Caetano Veloso)
“Esse papo já tá qualquer coisa,
Você já tá pra lá de Marrakech.
Mexe qualquer coisa dentro doida,
Já qualquer coisa doida dentro mexe.
Não se avexe, não, baião de dois,
Deixede manha, deixe de manha,
Pois sem essa aranha,
Sem essa aranha, sem essa aranha,
Nem a sanha arranha o carro,
Nem o carro arranha a Espanha.
Nessa tamanha, meça tamanha,
Esse papo seu já tá de manhã.
Berro pelo aterro, pelo desterro,
Berro pro seu berro, pelo seu erro.
Quero que você ganhe, 
que você me apanhe,
Sou o seu bezerro gritando mamãe.
Esse papo meu tá qualquer coisa
E você tá prá lá de Teerã.
Qualq uer coisa,
Você já tá prá lá de Marrakech.”
Nádia (Chico Gretter)
“Nada nada como Nádia,
Nada nadar como Nádia nada,
Nada como olhar Nádia nadando,
Seminua boiando seu corpo nas 
águas,
Prateadas de lua, 
sem nada, na sua!
Mas Nádia só nada em águas de sono,
Num lago de sonho,
Sem água e sem nada,
Sem Nádia nadando,
Seminua boiando seu corpo nas águas,
Prateadas de lua,
Sem nada, na sua!
E assim no meu nada,
Eu nado sem Nádia
Em águas de sono,
Num lago de sonho,
Afogado na insônia. 
Sem Nádia eu sou nada!”
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ALAMBERT, F. A Semana de 22: a 
aventura modernista no Brasil. São Paulo: 
Scipione. 
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. 
P. Filosofando: introdução à FilosoŠ a. 3a ed. 
revista. São Paulo: Moderna, 2003.
COLI, J. O que é Arte. São Paulo: 
Brasiliense, 1981. 
KUJAWSKI, G. M. Ortega y Gasset: a 
aventura da razão. São Paulo: Moderna, 1994 
(Coleção Logos). 
ORTEGA Y GASSET, J. A desumanização 
da Arte. Tradução de Ricardo Araújo. 4a ed. 
São Paulo: Cortez, 2003.
FACIOLI, V. (Org.). Breton-Trotski: por 
uma Arte revolucionária independente. São 
Paulo: Paz e Terra, 1985.R
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EXERCÍCIO: 
PARA SENTIR E PENSAR:
1) Fazer a leitura das poesias 
acima (individual ou em grupo). 
Tire dúvidas de vocabulário, co-
mente os signiŠ cados das Š guras 
de linguagem, das metáforas...
2) Comparar as duas poesias e 
analisar suas semelhanças e dife-
renças formais. Como poderiam 
ser classiŠ cadas esteticamente?
3) Em seguida, leia o texto a 
seguir e releia as poesias acima:
“A poesia, em rigor, não é lin-
guagem. Faz uso desta como mero 
material para transcendê-la e se 
propõe expressar o que a lingua-
gem, em sentido estrito, não pode 
dizer. A poesia começa onde a eŠ -
cácia da fala termina. Surge como 
nova potência da palavra irredutí-
vel ao que esta propriamente é”1.
4) Volte a conversar com os 
alunos e deixe que eles manifestem 
livremente suas impressões sobre 
as poesias e o texto: o que sentiram, 
o que entenderam, o que os autores 
quiseram dizer etc.
5) Peça aos alunos que ten-
tem fazer uma poesia utilizan-
do os mesmos recursos das que 
leram e reœ etiram. As criações 
deverão ser trazidas na próxi-
ma aula para serem lidas em 
classe e “curtidas” por todos!
1ORTEGA Y GASSET, La reviviscencia de lós 
cuadros, VIII, p. 491.
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