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Um conceito de Estetica a partir de Enrique Dussel

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UM CONCEITO DE ESTÉTICA 
A PARTIR DA FILOSOFIA DE ENRIQUE DUSSEL 
Hugo Allan Matos1 
RESUMO 
Mais uma vez me deparo com uma obviedade a ser confirmada. Desta vez, 
sobre o conceito de estética. Grande parte das pessoas sabem que é um ramo 
da filosofia que estuda o belo. Foi desafiante escolher um texto de meu gosto 
como referência, e a partir dele, descobrir que esta obviedade não se confirma, 
ou seja, não é nada óbvia esta afirmação. O conceito de Estética, na visão 
adotada, vai muito além do que o estudo do belo. Ela está enraizada na 
existência, não é mera abstração. Enrique Dussel, a partir de Heidegger, 
permitiu que eu conheça uma outra concepção sobre estética, que a mim, é 
muito mais concreta que a prenunciada. 
 
1. O QUE É ESTÉTICA? 
 
Parecem óbvias as afirmações de que “estética é o ramo do saber que 
estuda a beleza” e que “arte é o ato de expressar o belo”. Se arte é o que 
expressa o belo, como justificamos as obras de arte que não expressam o 
belo? Por exemplo, a imagem abaixo de Edvard Munch, O grito2: 
 
 
 
1
 Fiz este artigo como exigência do curso de pós-graduação em Filosofia e História contemporânea da 
Universidade Metodista de São Paulo. Email para contato: hugo.allan@gmail.com. 
2
 Nome original: SKRIK. Esta obra expressa o desespero, no grito, as linhas sinuosas, as cores e a composição criam 
uma tensão na obra, num contexto pós-guerra. 
 A palavra estética vem da palavra grega aísthesys, que significa 
sentido, sensibilidade. Portanto, estética é a filosofia da sensibilidade e não da 
beleza. 
Os entes todos configuram o cosmos. Sem os seres humanos, os 
habitantes do cosmos, seriam apagados, entregues à existência, pois 
repousam em sua essência. Mas, os seres humanos possuem a capacidade de 
compreender o ser e isso é o que lhes diferencia dos outros entes. Cosmos só 
passa a ser mundo, sob o horizonte humano, ganhando significado dentro 
deste horizonte. (HEIDEGGER comentado por DUSSEL, 1997, p.113.) 
Se este assunto for de seu interesse e já tiver entrado em contato com a 
filosofia sobre o belo antiga, sobretudo a platônica, contestará a afirmação, pois 
para Platão, as artes superiores manifestavam o belo. O problema que Enrique 
Dussel polemiza aqui é justamente o conceito de belo. Para Platão, o belo é a 
manifestação do eidos, que ao ser incorporada na matéria, se transforma na 
morfé. Ou seja, para falar na linguagem dusseliana, que é embasada em 
Heidegger, ao tratar do tema, “... A beleza da arte estava ligada à forma que 
permitia a presença da coisa na qual consistia o ser dos entes. A arte era 
então, imitação da idéia primigênia” (DUSSEL, 1997, p. 112.). A arte grega 
antiga, portanto, era a expressão do ser das coisas. Guardadas as proporções, 
é o mesmo que pensa Heidegger da arte e Dussel assume como ponto de 
partida para seu conceito de estética. 
 
2. A FUNÇÃO D(A)(O) ARTISTA 
 
Se o ser humano, ao compreender o ser das coisas, dos entes, vai além 
deles, transcendendo-os, instaurando uma nova ordem, que configura o mundo 
a função d(a)(o) artista, portanto, vai muito além de imitar as coisas do 
cotidiano. El(a)(e) deve reatualizar sua compreensão do ser dos entes, dentro 
de um mundo, o faz através de sua inspiração e intuição artística. Penetrar nas 
coisas até seu fundamento, ler nelas o mistério mais esquecido: intus-legere: 
entendê-las3. Ou ainda, revelar o oculto4. Portanto, (a) (o) artista deve 
compreender o ser dos entes que habitam o mundo, mundo este que é cultural, 
histórico. 
Porque isso é necessário? Justamente porque na vida cotidiana, os 
seres humanos esquecem-se do ser das coisas, tornando a vida opaca, trivial, 
 
3
 Aqui Dussel comenta Cornelio Fabro. (DUSSEL, 1997, p. 113.) 
 
4
 Dussel nos chama à atenção ao conceito de A-lethéia: desvelamento do oculto, voltar a si do esquecimento do ser: 
Die Kehre der Vergessenheit des sein, um desvelar (enthüllen) o velado. 
vivendo apenas pela mera utilidade, tudo fica inautêntico, impessoal, relativo, o 
mundo torna-se cosmos. 
Por isso é necessário que haja pessoas que possam desvelar o velado, 
mostrar o ser das coisas. Na idade média, era dito como entusiasmo, ou seja, 
ser habitado pelos deuses. O ser humano deve transcender-se, nunca 
esquecendo-se do ser dos entes5. 
Ainda sobre a função d(a)(o) artista, Dussel nos diz: 
Por isso, o artista deve ser antes de tudo um ser humano, que 
junto ao metafísico cumpre a missão suprema dentro de uma 
cultura: recuperar o sentido do ser de uma época. Sua função 
não é intuir a beleza, mas primeiramente o ser. A partir do ser, 
as coisas se mostram em sua beleza transcendental, nessa 
beleza ontológica que é perfeitamente compatível com o 
horrivelmente feio. A feiúra sensível da forma de um disforme, 
de um mutilado de guerra, pode resplandecer sob a beleza de 
seu ser oculto e agora manifestado. (DUSSEL, 1997, p.115). 
Um exemplo disso, além do grito que mostrei no início desta reflexão, 
pode ser A liberdade guiando o povo6: 
 
 
 
5
 Aqui achei pertinente copiar a nota que DUSSEL,1997,p.114, faz: “Quando Nietzsche expressou que "o homem é 
como uma corda estendida entre o animal e o homem que se transcende (traduzido corretamente do termo 
Uebermensch), uma corda sobre um abismo" (Also sprach Zarathustra, Stuttgart, Raclem, 1962, p. 8), apontou o que 
anotamos aqui. Quando o homem não transcende a “situação dada", perde-se nela; quando não compreende o ser, 
esquece-o e, esquecendo-o, perde por fim o último fundamento e o sentido de todo o seu mundo”. 
6
 La Liberté guidant le peuple foi pintada por Eugène Delacroix para comemorar a Revolução em Julho 
de 1830. 
Não é uma obra bela, agradável aos olhos. É chocante, provoca 
espanto, as cores escuras, os corpos sendo pisoteados pelos vencedores, as 
nuvens escuras cobrindo-os... Expressam o ser dos entes. 
Chegando ao conceito de estética e a primeira função que (a)(o) artista 
tem, de compreender o ser dos entes, em sua época, passamos para a 
expressão destes seres, como deve ser, nesta compreensão de estética? 
 
3. A EXPRESSÃO DO SER COMPREENDIDO 
 
A segunda tarefa d(a)(o) artista é expressar o ser compreendido. 
Enquanto para compreender o ser dos entes, precisa do metafísico, da 
dimensão do transcender-se, na expressão deste ser, deve abandoná-lo. 
(A)(O) artista expressa sua compreensão do ser dos entes, antes de 
qualquer ideação ou projeto. Desvela o ser, mostra-o como é7. Quando desvela 
este ser, os entes já não podem mais serem trivializados pelo utilitarismo, pois 
a grandeza de seu ser está posta, expressa, “... A obra de arte retira do mundo 
cotidiano o ente descoberto em seu ser, tornando-o inutilizável, retira-o do 
círculo desgastador de coisa pragmática”. (MERLEAU-PONTY citado por 
DUSSEL,1997,p.116)8. Ao contemplarmos uma obra de arte genial9, apesar de 
estarmos vendo um recorte, uma realidade específica, somos remetidos à 
condição humana, à essência do mundo atual: 
 
7 Na sua percepção, é claro. 
8 Tirar a arte do ciclo do utilitarismo pragmático, não quer dizer que ela não tenha uma finalidade, como 
veremos. 
9
 Alusão ao conceito de gênio: que ao contrário do que se pensa, não é exuberante, extraordinário, por 
ser alguém além do normal. Mas a palavra gênio vêm de genética, de gens, ou seja, o gênio o é, porque 
assumi-se enquanto diferente, enquanto ele mesmo. A dimensão poiética do ser humano, em sua 
alteridade, vem justamente desta reflexão,que farei em outro momento. 
 
Artista brasileira Nele Azevedo
10
 
Para Dussel (a) (o) artista é profeta. Porque traz a conhecer os 
fundamentos da sociedade atual. Através de sua sensibilidade, desvela o ser 
dos entes, que estava ocultado. Faz com que o espectador reflita sobre sua 
condição, frente ao mundo no qual vive. 
É necessário, que por honestidade com você leitor(a), aponte uma 
discussão que é suscitada a partir desta compreensão: E (a)os artistas que não 
fazem isso? Minha interpretação é que não o são de fato. O sentido pelo qual 
fazem arte, é outro que não o de desvelar o ser oculto. E aqui, Dussel, a meu 
ver, poderia se dedicar mais a este conceito de estética. Mas não o fez, até 
hoje, pois não é o foco de sua filosofia. Ele mesmo aponta as limitações deste 
texto, como uma breve explanação, carente de aprofundamento. 
Todavia, o conceito que nos traz, a cerca da estética, é consonante com 
sua filosofia. Num país miserável como o nosso, onde grande parte das 
pessoas não têm tempo para apropriar-se de sua cultura, por estarem 
submetidas a diversas situações de opressões e misérias, alienadas do 
fundamento da sociedade, de sua condição humana, apenas sobrevivendo no 
cosmos, àquelas pessoas que dão um passo no sentido de compreender o ser 
das coisas, sobretudo, as que se propõe a fazer arte, tem um dever, enquanto 
se humano. 
O que diz a arte abstrata a quem passa fome? O que a Monalisa pode 
significar para a mulher violentada, em sua dignidade? Apenas quis trazer a 
questão a ser conhecida. Sinceramente, não sei se voltarei a refleti-la 
sistematicamente. Aqui exemplifiquei apenas com obras de arte mas por tratar-
se de estética, o conceito aqui exposto, aplica-se a música, teatro, cinema... 
 
10 A artista fez cerca de mil esculturas de gelo para protestar contra a falta de políticas ambientais no 
encontro da WWF (Word Wide Fund for Nature). Foto de Maya Hitij, acessada em: 
http://twixar.com/nygv, Janeiro de 2010. 
todas as formas de expressões artísticas. Com o agravante de que arte é arte. 
Não há fragmentação ou status de uma mais importante que a outra. 
Para terminar, trago um grafite11, que é uma das pinturas mais 
significativas que vi nos últimos dias. Justamente, discutindo esta questão do 
conceito de estética e para sintetizar todo este artigo, bastaria ela: 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
DUSSEL, ENRIQUE D. OITO ENSAIOS SOBRE CULTURA LATINO-AMERICANA E 
LIBERTAÇÃO. PAULINAS, SP.1997. 
 
 
 
11 http://innfoco.blogspot.com/2009/10/grafite.html, acessado em Janeiro, 2010.

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