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ANDRE VANONI DE GODOY A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE EDITORA A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL C O M O UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE i ANDRÉ VANONI DE GODOY A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE EDITORA Roberto Antonio Busato P re s id e n te da O A B e P res iden te H ono rá rio da O A B ED ITO R A Jefferson Luis Kravcfiychyn P re s id e n te E xecu tivo da O A B E D IT O R A Francisco José Pereira E d ito r Rodrigo Pereira C apa e P ro je to G ráfico Usina da Imagem D ia g ra m a çà o Potyra Vaiezin e Aguiar R evisão Aline Machado Costa Timm S ecre tária Execu tiva C onse lho E d ito ria l Jefferson Luis Kravchychyn (P res iden te ) Alberto de Pauia Machado Ana Maria Morais Cesar Luiz Pasoid Hermann Assis Baeta Oscar Otávio Coimbra Argoilo Paulo Bonavides Rubens Approbate (Machado Sergio Ferraz G589e Godoy, André Vanoni de A eficácia do licenciamento ambiental como um instrumento público de gesião do meio ambiente / André Vanoni de Godoy . - Brasília : OAB Editora, 2005. 80 p. 1. Direito Ambiental. I. Titulo 577.4 ISBN • 85-87260-59-6 EDITORA SAS Quadra 05 • Lote 01 • Bloco M Edifício Sede do Conselho Federal da OAB Brasília, DF - CEP 70070-050 Tel. (61) 316-9600 www.oab.org.br e-mail: oabeditora@oab.org.br jetterson@kravchychyn.com.br SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................7 C apítu lo 1 A POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE.....................9 1.1 A L e in “ 6 .9 3 8 /8 1 ....................................................... 9 1.2 A Resolução n “ 237 do CONAMA......................... 17 C apítu lo 2 O LICENCIAMENTO AMBIENTAL...........................................25 C apítu lo 3 A LÓGICA NORMATIVA DO ESTADO...................................33 3.1. O norm ativ ism o constitucional b ra s i le i ro 37 3.2. O parad igm a do conflito ........................................ 41 C apítu lo 4 A LÓGICA ECONÔMICA DO MERCADO NO USO DOS RECURSOS NATURAIS..................................49 C apítu lo 5 DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E UM MODELO MODERNO DE GESTÃO AMBIENTAL; O PARADIGMA DA COOPERAÇÃO........................................ 57 5.1 Os m ecan ism os de regulação e controle das a tiv idades p o lu id o ras .............................................. 61 5.2 Um modelo m odem o de gestão a m b ie n ta l 63 CONCLUSÃO.................................................................................71 BIBLIOGRAFIA.............................................................................75 A EFICACIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MElO AMBIENTE --------- 7 INTRODUÇÃO O in te resse pelo tem a surg iu , basicam ente , de d u a s ob servações p rá ticas . A prim eira, em que pese a s u a re la tiva nov idade no pa ís , é a r á p id a in te g ra ç ã o do D ireito A m biental aos a s su n to s da p a u ta d iária d a vida d a nação. A seg u n d a é a existência de um d istanciam ento m uito grande en tre os órgãos de controle do meio am bien te e os em preen dedores, o que tem causado a trasos no desenvolvim ento do país. E ste d istanciam ento , en tre ou tros fatores m enos rele vantes, é provocado pela existência de u m a visão preconcei tuosa . que impede que o licenciam ento am bien ta l seja u m a p rá tica eficaz de proteção e indução do desenvolvimento s u s tentado, tendo sido. a té agora, ao contrário do que se pode imaginar, u m pesado óbice jurídico-burocrático enfrentado pelas em presas n a concepção e aprovação de seu s em preendim en tos. Surge a constatação de que a variável ideológica tem im portância fundam ental pa ra o tema, já que é m otivadora de grande parte das discordãncias que pon tu am as d iscussões a respeito nos meios político, governam ental e em presarial. O que acontece então, é u m de dois resu ltados. Ou o meio am bien te segue preservado em detrim ento do desenvol vimento ou, contrario sensu , o desenvolvim ento avança em detrim ento do meio am biente, tal é a separação , n a prática, d as responsabilidades, e a falta de u m a visão in tegradora dos agen tes econôm icos e governam entais a respeito do tem a. A 8 ANDRE VANONIDE GODOV consciência de que esse problem a não é exclusivo de n en h u m agente iso ladam ente é vital p a ra o início do seu equaciona- m ento, pois é de tal relevância que seria im pensável a tr ibu ir s u a tu te la a u m a só responsabilidade. O es tudo foi desenvolvido com b ase n a análise d a legis lação p á tr ia sobre o tem a e em pesqu isa bibliográfica de a u to res e dou trinadores nacionais e estrangeiros, n u m a confron tação s is tem ática de su a s opiniões para . ao final, chegar à posição que parece se r a m ais adequada ao encam inham en to da questão do licenciam ento am biental no país. Nos capítulos iniciais (1 e 2) dá-se ênfase á análise d a legislação sobre o a ssu n to , fazendo-o com o auxílio dos au to res e dou trinadores pesquisados. No Capitulo 3 teoriza-se sobre a questão de como a no rm a é t ra ta d a form alm ente no o rdenam ento juríd ico uis- à-vis a s u a adequação ã realidade. A perspectiva em presarial sobre o uso dos recu rsos n a tu ra is como fator de p rodução foi t ra ta d a no Capítulo 4. no qual encon tra-se u m a pletora de a rgum en tos e con tra-a rgum en tos a respeito do tem a. F inal m ente. no Capítulo 5, faz-se a análise de u m a visão m oderna do gerenciam ento am biental, sendo o capítu lo de fecham en to, ao longo do qual é ap resen tad a u m a experiência p rá tica que coincide com a visão que p retende-se p a s sa r a favor da a tu ação sinérgica do Poder Público e d a iniciativa privada. C AP ÍTU LO 1 A POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE “Para nós, brasileiros, m eio a m b ien te e d e se n v o lv im e n to são a m esm a coisa. N ão p o d em o s m a is separar de um lado os que cu idam do m eio am bien te e do ou tro os que cu idam do desenvo lv im en to . N ão se tra ta m a is , com o no passado , de um a guerra entre os que queriam d esen vo l v im e n to e os que queriam preservação. H oje, é um a in te gração. É preservar para poder d esenvo lver em benefício da m aior ia e das gerações f u t u r a s " ' . 1.1 A Lei n° 6.938/81 A Política Nacional de Meio Ambiente foi In stitu ída pela Lei 6.938. de 31 de agosto de 1981. com fundam en to no a r t i go 23. incisos VI e VII, e artigo 235 da C onstitu ição Federal de 1988, com o objetivo de preservar, m elhorar e recu p e ra r a qualidade am bienta l propícia à vida. v isando asseg u ra r, no país. condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos in te resses da segu rança nacional e à proteção d a d ignidade da vida h u m a n a ^ . A despeito da existência an terio r de ou tros m an d a m e n tos legais sobre o tem a. a edição de ta l Diploma é tida por ' Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na comemoração da Semana do Meio Ambiente, ju nho de 1995, in http://www.mma.gov.br/se/agen21. ' Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, art 2-, caput. 1 0 ANDRÉ VANONiOe GODOV Leme Machado^ e Séguin'* como o m arco zero da consciência am bien ta l no Brasil. S u a im portância é tal que a p a rtir de su a edição p a ssa m a fazer parte do vocabulário ju ríd ico pátrio os conceitos de meio am biente, Direito Ambiental, desenvolvi m ento sustentável, equilíbrio ecológico, en tre ou tro s term os que surg irão ao longo des ta obra. Séguin chega m esm o a con siderar a edição d a Lei 6 .9 3 8 /8 1 como a "certidão d e nasci mento do Direito Am biental Brasileiro"^, ta m a n h a é a s u a im portânc ia p a ra a construção de u m a nova e necessá ria cons- ciência jurídico-econôm ica-social, cu ja influência u l tra p a s sa a s fronteiras a tu a is do Direito, dando origem a u m novo ramo, com alcance m ais amplo do que a s sim ples relações de direito até en tão conhecidas. Nesse sentido, o Direito Ambiental con grega um m osaico de vários ram os do Direito e é u m a área ju ríd ica que pene tra horizontalm ente vários ram os de d isc i p linas tradicionais® - é o viés juríd ico transd isc ip linar do Di reito Ambiental.^ Segundo Leme Machado®, o Direito Ambi en tal t ra ta de evitar o isolam ento dos tem as am b ien ta is e s u a abordagem antagônica; é um Direito s istem atizador. que faz a a rticu lação d a legislação, da dou trina e da ju r isp ru d ê n c ia concernen tes aos elem entos que in tegram o am biente , b u s cando in terligar esses tem as com os in s tru m en to s ju ríd icos de prevenção e de reparação, de informação, de m onito ra m ento e de participação. E e ssa nova visão m ultid iscip linar ^ Paulo Affonso Leme Machado, D ire ito Am biental Brasile iro , pág. 140. ' Elida Séguin, 0 D ire ito Am biental: Nossa Casa Planetária, pág. 51. ® Ibid., mesma página. ^José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala, Dire ito Am bienta l na Sociedade de Risco, pág. 54. ' Ibid., pág. 55. ® Paulo Affonso Leme Macfiado, op. cít., págs. 139/140. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE J J do Direito A m biental deverá estender-se a té m esm o à concep ção dos Regulam entos que visam o rien tar a execução da polí tica de meio am biente, u m a vez que se en tende não se r sufici en te a existência de m ecanism os de com ando e controle por p a rte do Estado, como parece ser a orien tação dom inan te n a Lei 6 .9 3 8 /9 1 . A Política Nacional de Meio Am biente b rasile ira privile gia o controle direto d as atividades econôm icas v isando à p ro teção do am biente pela restrição ao seu uso, m ais do que a s su m ir u m a a titude incentivadora de novos u so s dos recursos n a tu ra is e d a tecnologia como in stru m en to s de am pliação e proteção do meio am biente. Como bem apreendeu C arneiro^ , não h á u m a utilização em escala de m ecan ism os de n a tu reza econôm ica n a gestão am biental pública. E s ta tendênc ia da Lei pode se r facilmente consta tada pela enum eração dos in s tru m en to s da Política Nacional de Meio A m biente igrifos do autor): D o s In s t ru m e n to s (art. 9"): I - o estabelec im ento d e p a d rõ e s de q u a l id a d e am bien ta i; II - o z on eam en to am biental; ii i - a avaliação d e im pac tos am bienta is ; IV - o licenciam ento e a revisão d e a t iv id a d es efetiva ou po tenc ia lm en te po lu idoras ; V - os in cen tiv o s à p ro d u ção e in s ta lação d e e q u ip a m e n to s e a criação o u abso rção d e te cno log ia , v o ltados para a m e lh o r ia da q u a l id a d e am b ien ta l ; VI - a criação d e espaços territoria is espec ia lm en te p r o teg idos pelo P oder Piiblico federal, e s tad u a l e m u n ic i pal, tais com o áreas d e pro teção am bien ta l, d e re levan te in teresse ecológico e reservas extrativ is tas; ^ Ricardo Carneiro, D ire ito Am bienta l: Uma Abordagem Econômica, pág. 104. 12 ANDRÉ VANONI DE GODOY VII - O s is tem a nacional de in fo rm ações sobre o melo am biente; VIII - o C ad as t ro Técnico Federal d e A tiv id ad es e In s t ru m en to d e Defesa Am biental; IX - as p en a l id ad es d isc ip linares ou com pensa tó r ia s ao n ão -cu m p rim en to d a s m e d id a s necessárias à p re se rv a ção ou correção da d eg rad ação am biental; X - a ins ti tu ição do Relatório d e Q u a lid a d e do M eio A m bien te , a ser d iv u lg ad o an u a lm en te pe lo Ins titu to Brasi leiro d o M eio A m bien te e R ecursos N a tu ra is R enováveis - IBAMA; XI - a garan tia d a prestação de in form ações re lativas ao m eio am bien te , ob rigando-se o P o d e r Público a p roduz i- las, q u a n d o inexistentes; e XII - o C adas tro Técnico F edera l d e a t iv id a d es po tenc ia l m en te p o lu id o ra s e / o u u ti l izadoras do s recu rsos a m b i entais. Esse foco no controle do uso dos recursos n a tu ra is m ais do que n os m ecanism os de incentivo ao desenvolvim ento eco nômico não chega a su rpreender, Já que é princípio originário d a no rm a servir de balizadora das ações d a sociedade, e s ta belecendo os lim ites dentro dos qua is o in te resse coletivo m an tém -se integro. D essa forma, segundo C arneiro '° , "tais ínsírurnentos convergem para du a s fo rm a s de atuação do Po der Público na condução d a Política Nacional do Meio A m bien te: a d isc ip lin a d a s a tiv id a d e s e fe tiv a e p o ten c ia lm e n te poluidoras ou degradadoras e o planejam ento e a im plem enta ção de ações públicas de proteção e conservação dos recursos ambientais". Ricardo Carneiro, op. cit.. pág. 105. A EFICACIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE --------- J 3 Vê-se ao longo do es tudo que, a despeito d essas d u a s o rientações da Lei, j á h á iniciativas púb licas concre tas que am pliam e dinam izam a a tuação do Poder Público, como é o caso d a FEAM‘' , cujo modelo de gestão aproxim ou o Poder Público e a sociedade civil n u m gerenciam ento com partilhado do meio am biente, incorporando o enfoque do com prom eti m ento à s políticas de controle e incentivo ao desenvolvimento susten tável, indo n a direção daquela transd isc ip linariedade defendida pelos j á citados autores. No entan to , o m ais im portan te é o destaque p a ra o ca rá te r de divisor de ág u as que deve ser reservado á Lei 6 .9 3 8 / 81, responsável pela cristalização d a consciência ecológica n a sociedade civil brasileira. Sem ela. a sis tem atizaçáo dos p ro cedim entos, a b u sc a pela excelência em presarial sob o ponto de vista de “limpar" a s em presas e seu s s is tem as de p ro d u ção, bem como a crescente cobrança da sociedade p a ra os cu idados com o meio am biente es ta riam a inda em se u s p a s sos iniciais. Talvez es te seja u m caso em blem ático de como u m a lei bem concebida pode o rien tar a sociedade, m ostran- do-lhe o rum o correto p a ra que possa, então, de m ane ira re s ponsável. tr i lh a r o cam inho m ais adequado á realização de seu bem -estar. Sob este aspecto, merece des taq u e o e n s in a m ento de Paulo W eschenfelder'^ quando coloca que e s ta re s ponsabilidade não deve ser a tr ibu to exclusivo de u m ou o u tro. já que a Constitu ição Federal de 1988 consagrou a a tu a ção con jun ta do Poder Público e da coletividade n a defesa e preservação do meio am biente. É bem verdade que. como lem- ” Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais. Paulo Natalício Weschenfelder, Meio Ambiente: um Direito, um Bem e um Dever, in Revista da OAB/Caxias do Sul, pág. 7. 2 4 ANDRÉ VANONI DE GODOY b ra Séguin. a prim eira década de vigência d a Lei não foi sufi ciente p a ra q u eb ra r a inércia dos brasileiros q u an to ao seu com portam ento passivo d ian te d a questão am biental. Lemb ra com propriedade a au to ra '^ o relevante papel que a C on ferência d as Nações U nidas p a ra o Meio A m biente e D esen volvimento (CNUCED)*'*, conhecida como Rio-92, teve no d es p e rta r desse processo de evolução da consciência am biental nacional. É im portan te des taca r que a Política Nacional do Meio Am biente considera a questão am biental como a s su n to de segu rança nacional (art. 2", caput], e b uscou no terceiro p r in cípio constitucional (art. 1°, III, C onstitu ição Federal de 1988 - CF/88) a su a inspiração m ais nobre: a proteção da dignidade da vida hum ana . Este destaque tem im portância fundam ental pa ra o estudo do tem a proposto, u m a vez que a dignidade da vida h u m an a está vinculada de m aneira indissociável à qualida de do meio ambiente como repositório de todas as ações h u m a n as e seus efeitos sobre su a vltaliciedade. Não deve ser por outro motivo que es tá lá. elencada nos princípios da Política Nacional do Meio Am biente (art. 2°, X), a educação am bien ta l como m ecanism o de capacitação p a ra a participação ativa da co m un idade n a defesa do meio am biente e, conseqüen tem ente , de s u a dignidade. Diz a Lei, ín verbis (grifos do auíor): Art. 2" A Política N acional d o M eio A m bien te tem p o r objetivo a preservação , m elhoria e recuperação d a q ua l i d a d e am bien ta l p ropícia à vida, v isan d o assegu ra r , no ” Elida Séguin, op. cit., pág. 53. Conferência realizada na cidade do Rio de Janeiro, em junho de 1992, reunindo delegações de 179 países e que deu origem à Agenda 21, acordo que previu a reconversão da sociedade industrial pela reinterpretarão do conceito de progresso, contemplando maior harmonia e equilíbrio holístico entre o todo e as partes, e promovendo a qu a lida d e , não apenas a q u a n tid a d e do crescimento. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE --------- J 5 país , cond ições ao d e se n v o lv im e n to sócio -econôm ico , aos in teresses da segu rança nacional e à p ro teção da d ig n id a d e d a v id a h u m a n a , a te n d id o s os seg u in te s p r in c í pios: ( . . . ) X - educação a m b ie n ta l a to d o s os n ív e is d o e n s in o , in c l u s i v e a e d u c a ç ã o d a c o m u n i d a d e , o b j e t i v a n d o capac i tá - la p a ra p a r t ic ipação a t iv a n a de fe sa do m e io am b ien te . E ncon tra -se em C a p ra ‘S um forte aliado n a exegese do su p ra colacionado dispositivo. Assim, en tende-se apropriado fazer a equivalência do que o legislador t ra to u po r educação am biental com o que o físico cham ou de "educação ecológi- ca”"". ou seja, “a compreensão dos princípios d e organização que os ecossistem as desenvolveram para su sten ta r a teia da vida". P a ra Capra, a sobrevivência da h u m an id ad e vai depen der d essa educação ecológica, ou seja, da n o ssa capacidade de com preender os princípios básicos d a ecologia e viver de acordo com eles. Assim como revelado no princípio legal e n u n ciado, vale-se aqui de Friljof C apra p a ra en tender que a e d u cação d a com unidade deve se traduz ir n a “qualificação e s se n cial dos políticos, líderes empresariais e projissionais d e todas a s esferas, e tem de ser. em todos os níveis, a parte m ais im portante d a educação - d esd e a s escolas prim árias e secundá rias até a s facu ldades, a s universidades e os institutos d e edu cação continuada e deform ação projissional". Nesse sentido, a Política Nacional do Meio Ambiente prestou um inestimável ser- Fritjoí Capra, Uma Ciência Para a Vida Sustentávei, ECO-21 - Revista de Ecologia do Século 21, ed. 75. No original: ecoliteracy. 16 ANDRÉ VANONI DE GODOY Viço ao país. cujo alcance se rá sentido pelas próxim as gera ções de brasileiros. Ao estabelecer a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei 6 .9 3 8 /8 1 constitu iu o S istem a Nacional do Meio A m bien te - SISNAMA (art. 6°), composto pelos órgãos e en tidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos territó rios e dos m unicípios, bem como as fundações in stitu ídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e m elhoria d a qualidade am biental, e d as qua is faz p arte o CONAMA- Conselho Naci onal do Meio Am biente (art. 6®, II), responsável pela edição da R eso lu ção n° 237 , q u e re g u la m e n to u o L ic en c ia m e n to Am biental, objeto des ta monografia. O CONAMA é o órgão consu ltivo e de libera tivo do SISNAMA. e tem a finalidade de a ssesso ra r, e s tu d a r e propor a s diretrizes de políticas governam entais p a ra o meio am bi en te e os recu rsos n a tu ra is , além de deliberar, no âm bito de s u a com petência, sobre norm as e padrões com patíveis com o meio am biente ecologicamente equilibrado e essencial à sad ia qualidade de vida. D entre as com petências do CONAMA, e s tá aquela que in te ressa d ire tam ente à p resen te obra, e e s tá assim definida no art. 8 “. I, d a Lei 6 .9 3 8 /8 1 [grifo do autor]: Art. 8“ Com pete ao CONAMA: I - estabelecer, m e d ian te p ro p o s ta do IBAMA*^, no rm as e critérios p a ra o l ic en c iam en to de a t iv id a d e s efetiva ou po tenc ia lm en te po lu idoras , a ser conced ido pe los Esta do s c sup e rv is io n ad o pe lo IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis, órgão do SISNAMA, cuja fina lidade é a execução e o controle, como órgão federal, da política e das diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente. A EFICACIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO DO MElO AMBlENTE --------- J 7 Im portan te fazer ver que não cabe ao CONAMA licenciar a s atividades, m as tão som ente estabelecer a s normas pa ra que a licença seja concedida. Veremos, logo ad ian te , que a responsab ilidade de licenciar com pete aos E stados e m un ic í pios, a depender d a localização do em preendim ento ou ativi dade do requeren te d a licença. 1.2 A Resolução n° 237 do CONAMA Como supracitado , o CONAMA é o órgão do SISNAMA responsável, en tre ou tras atribuições, pela proposição e deli beração sobre n o rm as e padrões compatíveis com o meio a m biente equilibrado. Fruto destas com petências, editou a Re solução n° 237. em 19 de dezem bro de 1997, com os objetivos de regu lam en tar o licenciam ento am bienta l - com preendendo aí a in tegração deste in strum en to ao sis tem a de licenciam en to am bien ta l criar regras de in tegração p a ra a a tu ação con ju n ta dos órgãos com petentes do SISNAMA n a execução da Política Nacional do Meio Ambiente e estabelecer os critérios de com petência territorial pa ra o licenciam ento d as a tiv ida des a que se refere o artigo 10 da Lei 6 .9 3 8 /8 1 . Sobre este últim o aspecto, Leme Machado*® faz u m a advertência sobre a inconstitucionalidade dos artigos 4° a 7° da Resolução, que tra tam exatam ente d a p a rtilha da com pe tência am bienta l adm inistrativa. O artigo 4° dispõe que o li cenciam ento am bien ta l deve ser feito pelo IBAMA; o artigo 5° estabeleceu a s com petências dos E stados e Distrito Federal: o artigo 6° determ inou a á rea de com petência dos m unicípios: e o artigo 7° estabeleceu que “os em preend im entos e a tiv ida des serão licenciados em u m nível dc com petência". Segundo Paulo Atfonso Leme Machado, op. cit., págs. 99/101. 18 ANDRÉ VANONI DE GODOY O au tor, a a lud ida inconstitucionalidade nasce do fato de que não caberia ao CONAMA e s ta partilha , já que a s regras p a raa concessão do licenciam ento estão e lencadas nos artigos 8° e 10° da Lei 6 .9 3 8 /8 1 . e de term inam a com petência p a ra licen c iar aos E stados e aos órgãos es tadua is , som ado ao fato de que a com petência do CONAMA. pela m esm a Lei, restringe-se à institu ição de norm as e critérios p a ra o licenciam ento, não se confundindo e s ta prerrogativa com a a tribu ição de com pe tência p a ra os en tes federativos licenciarem, como faz a Reso lução em tela. Para M achado, u m a resolução federal não pode a lte ra r u m a lei federal. Não o b s ta n te a a lu d id a inconstituc iona lidade . Leme M achado acab a por adm itir, conquan to não expressam ente, que o seu resu ltado não é de todo nefasto, pois a s reg ras con tid a s n a Resolução convergem p a ra o “princípio d a subsid ia- riedade" por ele defendido p a ra a redução dos conflitos no licenciam ento am biental, pelo qual quem deve resolver o p ro b lem a in icialm ente é quem e s tá perto dele, que é exatam ente o que de te rm inam aqueles artigos da Resolução. Sobre este aspecto da repartição d as com petências ta m bém se deteve Séguin, quando faz considerações sobre a com petência concorren te dos en tes federativos p a ra d ispor sobre a s questões am bientais'® , afirm ando que a com petência fede ral não exclui a com petência dos E stados e m unicípios sobre o m esm o tem a. Mas este entendim ento não é unân im e, e sp e cialm ente se considerados os conflitos em anados da in te rp re tação da C F /8 8 uis-à-uis o disposto n a Resolução do CONAMA. Além d as d isco rdâncias q u an to à constituc iona lidade dos su p rac itad o s artigos d a Resolução, como a bordado por Leme Elida Séguin, op. cit., pág. 213. A EFICÁCIA 0 0 LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MElO AMBIENTE ----------- ] 9 M achado. Francisco Sampaio^® apon ta u m a o u tra inconsis tência da n o rm a infraconstitucional, en tendendo que a com petência concorren te em m atéria am bien ta l como co n sta n a Resolução n"" 237 res ta inviabilizada pela a u sên c ia d a regu la m en tação prevista no parágrafo único do artigo 23 da C F /88 , onde se lê que "Lei complementarjbcará norm as para a coope ração entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os m uni cípios. tendo em vista o equilíbrio do desenvolvim ento e do bem- estar em âmbito nacional". A falta daquela regu lam entação im possibilita o licenciam ento único previsto no artigo 7° da Resolução do CONAMA, pois não é com petência d a R esolu ção. e sim de lei com plem entar, a fixação d as no rm as p a ra a cooperação en tre os en tes federativos, como crista liza o d is positivo constitucional ínsito no citado parágrafo do artigo 23 da C F /88 . No âm bito d essa d iscussão acerca da de term inação das com petências, d ada a complexidade do tem a am bien ta l cola- cíonam -se dois quadros sitem atizadores d as n o rm as consti tucionais sobre o tem a elaborados por Sêguin, não com o fito de esgo tar a divergência - o que não é objetivo deste estudo , m as a p en as p a ra m apear os com andos fu n d am en ta is a p a rt ir dos qua is deverão pa rtir os estudos v isando so lucionar tais controvérsias. Para facilitar seu entendim ento , é preciso que se des taquem os conceitos de com petência m aterial, ou adm i nistrativa, e de com petência legislativa. O prim eiro confere ao Poder Público o exercício de dete rm inadas atividades, to rn a n do-o responsável pelas ações e om issões, e lhe a tr ibu i a p rá ti ca de a tos adm inistrativos e de atividades am bien ta is , seja de form a exclusiva ou com um a todos os en tes d a Federação. O ^ in Elida Séguin, op. cit., pág. 213. 20 ANDRE VANOM DE GODOY segundo confere com petência legislativa aos en tes d a Federa ção, em razão do a to de legislar, com limites im postos a todos eles, consistindo n a capacidade de ed itar n o rm as de m ane ira privativa ou concorrente. Por e s ta últim a, a União enuncia no rm as gerais, cabendo aos E stados com plem entar e ssa s leis, de ta lhando o caso genérico ãs peculiaridades regionais. S u b divide-se em com plem entar, quando a União legislou a s n o r m as gerais, e sup lem entar, quando cabe aos E stados e m u n i cípios suprir , den tro de su a com petência, as lacu n as ex isten tes. Então, os q u a d ro s^ ': COMPETÊNCIA MATERIAL LEGISLATIVA E xc lus iva - A rt. 21, XII, “ b", C F /88 P r iv a t iv a - A r t . 22, C F /88 Art. 21. X III e X IX , C F /88 C o m u m - A r t . 23 , VII, C F /88 Exc lus iva - A rt. 25. §§ 1 - e 2 - , C F /88 C onco rre n te - Art. 24 , V I, C F /88 Ou, tendo como referencial de correlação o en te federa tivo e o tipo de competência: ENTE LEGISLATIVA PRIVATIVA LEGISLATIVA CONCORRENTE EXECUTIVA COMUM U N Ià O Arts. 21, 22 e 225, § 6 ^ Art. 24, § 1 ^ Arts . 23 e 225, in c iso s e § 4° ESTA D O S Art. 25, § 1 ^ Art. 24 Arts. 23 e 225, sa lv o § 6° M U N IC ÍP IO S Art. 30,1 S up le t iva art. 30, II A rts . 2 3 e 225, sa lv o § 6° Elida Séguin, op. cit., pág. 216. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MElO AMBIENTE --------- 2 1 Ao p resen te e s tudo in te ressa d a r des taq u e à questão da com petência en tre os en tes federativos, que e s tá c o n su b s ta n c iada n a p arte a inda vigente do Decreto-Lei n'^ 2 0 0 /1 9 6 7 , e s pecificam ente q uan to à com petência executiva com um . Lá. segundo Séguin, “a delegação de competência/oi utilizada como instrum ento de descentralização administrativa, com o objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade à s decisões, situ - an d o -a s n a p r o x im id a d e d o s f a to s , p esso a s ou problem as a atender"^^ [grifos do autor^. Algum as definições ado tadas pelo CONAMA n a Resolu ção em com ento (art. 1°, 1. II, III e IV} m erecem serem d e s ta cad as aqui, pois facilitam a com preensão do tema: L icen ciam en to am biental; procedim ento ad m in is tra tivo pelo qua l o órgão am bienta l com petente licencia a locali zação, instalação, am pliação e operação de em preend im entos e a tiv idades utilizadores de recu rsos am bien ta is considera dos efetiva ou potencialm ente poluidores ou daqueles que, sob qu a lq u er forma, possam c a u sa r degradação am biental, considerando as disposições legais e regu lam entares e a s nor m as técn icas aplicáveis ao caso. L icença am biental: a to adm inistrativo pelo qual o ó r gão am bienta l com petente estabelece a s condições, restrições e m edidas de controle am biental que deverão ser obedecidas pelo em preendedor, pessoa física ou ju ríd ica , p a ra localizar, insta la r , am pliar e operar em preend im entos ou atividades utilizadores dos recu rsos am bien ta is considerados efetiva ou po tencialm ente poluidores ou aqueles que, sob qua lquer for m a. possam c a u sa r degradação am biental. Elida Séguin, op. cif., pág. 216. 2 2 ANDRE VANONI DE GODOY L icença Prévia (LP) - concedida n a fase p relim inar do planejam ento do em preendim ento ou atividade, aprovando su a localização e concepção, a tes tando a viabilidade am bien ta l e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atend idos n a s próxim as fases de s u a im plem entação. L icença de Instalação (LI) - au to riza a insta lação do em preendim ento ou atividade de acordo com as especificações con s tan tes dos p lanos, p rogram as e projetos aprovados, in cluindo a s m edidas de controle am bienta l e dem ais condicio n antes , d a qual constituem motivo determ inante . L icença de O peração (LO) - au to riza a operação da a ti vidade ou em preendim ento, após a verificação do efetivo c u m prim ento do que c onsta d as licenças an teriores, com a s m edi das de controle am biental e condicionantes determ inados para a operação. Até a concessão final da Licença Ambiental, existem e ta pas a serem vencidas, conforme determ ina o artigo 10 d a Re solução. a saber: I - Definição pe lo ó rgão am bien ta l co m p e ten te , com a part ic ipação do em p reen d ed o r , do s do cu m en to s , p ro je tos e e s tu d o s am bien ta is , necessários ao início d o p ro c e s so d e l ic e n c ia m e n to c o r r e s p o n d e n te à l ic en ça a s e r requer ida ; II - R equerim en to d a licença am bien ta l pe lo e m p re e n d e d o r , a co m p a n h a d o do s docum en tos , p ro je tos e e s tudos am b ien ta is pert inen tes , dan d o -se a d ev id a pub lic idade ; I I I ' Análise pelo ó rgão am bien ta l com peten te , in teg ran te d o SISNAM A, d o s d o c u m e n to s , p ro je to s e e s tu d o s am b ien ta is ap re sen tad o s e a realização d e v is to r ias téc nicas, q u a n d o necessárias; A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE ----------- 2 3 IV - Solicitação d e esclarec im entos e com p lem en tações pelo órgão ambiental competente, in tegrante d o SISN AMA, u m a única vez, em decorrência d a aná l ise do s d o c u m e n tos, p rojetos e e s tu d o s am bien ta is a p re sen tad o s , q u a n d o couber, p o d e n d o haver a re iteração d a m e sm a solic ita ção caso o s esclarec im entos e com p lem en tações n ão te n h a m sido satisfatórios; V - A ud iênc ia pública , q u a n d o couber, d e aco rd o com a regu lam en tação pertinen te ; VI - Solicitação d e esc larec im entos e com p lem en tações pe lo ó rgão am bien ta l com peten te , d eco rren tes de a u d i ências públicas, q u a n d o couber, p o d e n d o h a v e r re i te ra ção d a solicitação q u a n d o os esc larec im entos e co m p le m en tações n ão te n h am s ido satisfatórios; VII - E m issão dc pa rece r técnico conc lus ivo e, q u a n d o couber, pa rece r jurídico; VIII - D eferim ento ou inde fer im en to do p e d id o de licen ça, d an d o -se a dev ida public idade , Um outro aspecto da Resolução n"* 237 que se quer d es tac a r por e s ta r estr itam en te relacionado ao tem a cen tra l do es tudo encon tra -se no parágrafo S'* do artigo 12, onde lê-se que “deuerdo se r estabelecidos critérios para agilizar e sim pli fica r os procedimentos d e licenciamento am biental d a s a tivida d es e em preendim entos que im plem entem p lanos e program as voluntários d e gestão am bien ta l visando a melhoria contínua e o aprimoramento do desem penho am biental". Isto porque é objetivo d e s ta obra sugerir cam inhos e abo rdagens que indi quem a superação do conflito ex istente en tre os agen tes p ri vados e governam entais no tra to d a q uestão am bienta l, como parece se r a orientação contida no parágrafo 3° supracitado , que ap o n ta a cooperação como um in s tru m e n to eleito pelo 24 ANORÉVANONI DEGOOOY legislador p a ra to m a r m ais próspero o relacionam ento en tre os agen tes governam entais de controle do meio am bien te e os em preendedores. Por fim. um registro sobre o artigo 20 da Resolução em comento, p a ra enfatizar que a com petência licenclatória dos en tes da Federação deve ser exercida a través dos Conselhos de Meio Ambiente, os quais devem ser por eles im plem entados e con ta r com a participação social em s u a composição. Vê-se aqu i novam ente a p reocupação do legislador com o ca rá te r com partilhado do gerenciam ento am biental, prevendo, como bem lem brado por W eschenfelder, a som a de responsab ilida des en tre os vários segm entos da sociedade no desenho das ações de controle e proteção do meio am biente. C APÍTU LO 2 O LICENCIAMENTO AMBIENTAL Nos term os do artigo 10 da Lei n° 6 .9 3 8 /8 1 , o licencia m ento am bienta l é o procedim ento adm inistrativo pelo qual o órgão am bien ta l com petente licencia a construção , in s ta la ção, am pliação e funcionam ento de es tabelecim entos e ativi dades u tilizadores de recu rsos am bientais, considerados efe tiva e potencialm ente poluidores e daqueles que, sob q u a l quer forma, possam c a u sa r degradação am bienta l, conside rando as d isposições legais c regu lam entares e a s no rm as téc n icas aplicáveis ao caso. É um meio de controle preventivo de atividades potencialm ente poluidoras que condicionou a ex ploração ou uso de um bem am biental ao cum prim ento de requisitos de proteção do meio am biente. O licenciam ento am biental é assim , u m a m anifestação do Poder de Policia Adm inistrativa, cujo principal sen tido é o d a prevenção do dano am biental, represen tando , por isso, um dos principais in s trum en tos d as políticas p iib licas de meio am biente. S u a im portância é ta m a n h a que, como bem lem brado por Leme Machado^^, o artigo 225 da C F /8 8 conside rou a defesa do meio am biente pelo Poder Público como um dever constitucional, m uito além de u m a m era faculdade. O licenciam ento am bien ta l e n q u a n to p roced im en to adm inistrativo não tem eficácia imediata, a qual se opera a t r a " Paulo Affonso Leme Machado, op. cit., pág. 258. 2 6 ANDRÉ VANOM OE GODOV vés do ato adm inistrativo do órgão com petente c o n su b stan c i ado n a licença am biental, que estabelece a s condições, res tr i ções e m edidas de controle am bienta l que deverão se r obede cidas pelo em preendedor p a ra localizar, insta la r , am pliar ou operar em preend im entos ou atividades u tilizadoras dos re c u rs o s a m b ie n ta is conside rados efetiva e po ten c ia lm en te polu idoras ou a que las que. sob qualquer forma, po ssam c a u s a r degradação am biental. Q u an to à n a tu reza ju ríd ica da licença, h á a lgum as d i vergências do u trin á ria s e ju risp rudenc ia is que a confundem ora como autorização, ora como licença. Elida Séguin d es taca que “a maioria d a doutrina atribui à licença am biental a natu- reza juríd ica d e licença, ‘implicitamente dotada de um a verda deira cláusula reb u s sic s ta n t ib u s ’, afastando o tratam ento de autorização ou d e permissão"'^'^. Segundo ela. a diferença e s tá em que a licença é ato vinculado à preexistência de u m direito subjetivo ao exercício d a atividade, condicionada ao a ten d i m ento de d e te rm inadas exigências p rev istas em lei, enquan to que a autorização é ato precário e discricionário. Por e s ta ló gica. a revogação da licença quando s u a motivação não é de responsab ilidade do em preendedor enseja indenização do in vestim ento feito, lucro cessan te e pe rdas e danos. Ou seja, o em preendedor tem direito de exercer s u a a tividade d u ra n te o prazo de vigência d a licença, desde que obedecidas a s condi ções de funcionam ento que lhe foram im postas. Contrario sensu, a autorização daria perm issão a que o órgão concedente a revogasse quando assim en tendesse adequado, a fron tando de form a a rb itrá r ia o direito do em preendedor ao pleno exer cício de s u a atividade. Elida Séguin. op. cit., pág. 279, A EFICÁCIA 0 0 LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO 0 0 MEIO AMBIENTE -----------2 7 N esta d ireçãotam bém vai a opinião de Ricardo C arnei ro. quando afirm a que o licenciam ento am bienta l, concretiza do n a expedição d a respectiva licença, “é um ato adm inistrati vo p lenam ente vinculado, pelo qual a Adm inistração Pública fa cu lta a um em preendedor o exercício d e um a determ inada atividade, um a vez dem onstrado pelo in teressado o preenchi mento d e todos os requisitos exigidos, d e s c a b e n d o a o P oder P úblico n e g a r a e x p e d iç ã o d a licença , caso cum pridas inte gralm ente a s exigências legais” [grifos do autor]^^. E s sa pro te ção ao direito subjetivo do em preendedor, a inda segundo C ar neiro, não ob s tan te se encontre ele ao abrigo do direito de propriedade e sob a égide do princípio constituc ional d a livre iniciativa, não afigura risco ao meio am biente , j á que p re s s u põe que a licença só se rá concedida após o cum prim en to de condicionantes sociais e am bien ta is im postas pela C onstitu i ção e pela legislação ordinária. Do outro lado. Paulo Affonso Leme Machado^®, em basa- do em decisão exarada pelo TJSP, prefere u tilizar a expressão “licenciam ento am biental" como equivalente a "autorização am bien ta l”, m esm o quando o term o utilizado se ja sim ples m ente “licença”: ”0 exam e d e ssa lei (6 .938 /81) revela que a licença em tela tem natureza juridica de autorização, tanto que o § 10 de se u art. 10 fa la em pedido de renovação de licença, indicando, assim , que se trata de autorização, pois. se fo s s e jurid icam ente licença, seria ato definitivo, se m necessidade de renovação. A alteração é ato precário e não vinculado, sujeito sem pre à s alterações d itadas pelo in teresse público. Querer o contrário é postu lar que o Judiciário confira à em presa um che- 25 Ricardo Carneiro, op. cii., pág. 113/114. ^ Op. cit., pág. 258. 28 ANDRE VANONI DÊ GOOOY que em branco, permitindo-lhe que, com base em licenças con c e d id a s a n o s a trá s , c a u se toda e q u a lq u er d eg ra d a çã o ambiental . A reforçar e sse entendim ento, a inda segundo Leme M a chado. e s tá a redação do inciso IV do artigo 9° da Lei 6 .9 3 8 / 81, que prevê a revisão de atividades efetiva ou potencia lm en te poluidoras, a indicar que a A dm inistração Pública pode intervir periodicam ente p a ra contro lar a qualidade am bienta l d a atividade licenciada. Assim, não h á como e n co n tra r c a rá ter de ato adm inistrativo definitivo no conteúdo da licença am biental, o que a fas ta o conceito de “licença” tal como co nhecido no Direito Administrativo brasileiro. É possível en con tra r razões em am b as a s correntes. A reforçar a tese de que a licença tem na tu reza autorizatória , e s tá tam bém o art. 19 d a Resolução n° 237 do CONAMA. que perm ite ao órgão com petente su sp en d e r ou cancelar u m a li cença am biental expedida m ediante decisão m otivada, q u a n do houver violação ou inadequação de qua isquer condicio- n a n te s ou no rm as legais, om issão ou falsa descrição de infor m ações relevantes que subsid ia ram a expedição da licença e n a superveniência de graves riscos am bien ta is e de saúde. De o u tra parte , é razoável crer que o em preendedor não possa se r a rb itra r iam en te onerado pela cassação de u m direito a d quirido sem que s u a a tuação te n h a dado c a u sa a prejuízos advindos do exercício d a atividade licenciada, m orm ente con siderando que a expedição da licença decorreu de um p roces so de análise criterioso por parte do Órgão competente^®. TJSP, 7^ C., AR de Ação Civil Pública 178.554-1-6, rei. Des. Leite Cintra, j. 12.5.1993 (Revista de Direito Ambiental 1/200-203, janeiro-março de 1996). Em nosso en\eritiimen\o, a conenie que delende te i o licenciamenlo caráter de licença é mais A EFICÁCIA 00 LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE -----------2 9 A institu ição do licenciam ento am bien ta l deve ser a n a lisada sob o abrigo do parágrafo único do artigo 170 d a C ons titu ição Federal de 1988, pelo qual o exercício d a s atividades econôm icas no Brasil é livre, independen tem ente de au to riza ção de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. E é este princípio que determ ina que a in tervenção do Poder Pú blico não deve reger-se pelo sistem a d a p resunção , o que re força a idéia an terio rm ente defendida de que o licenciam ento deve se r encarado como licença, e não autorização. Razoável concluir-se, então , que as licenças só p o ssam ser c riadas por lei ou a lei deverá prever a s u a institu ição por outro meio infralegal. Daí que os en tes federativos som ente poderão criar u m a licença am bienta l se a lei an terior e xpressam en te com e ter-lhe ta l tarefa. Este tam bém é o en tend im ento de Ricardo Carneiro, quando, baseado no m esm o princípio constituc io nal em comento, afirm a que "em princípio, o exercício de ativi dades industriais e comerciais som ente poderá ser disciplina do, ou por algum modo restringido, se a ss im expressam ente o previr a . adequada, muito especialmente porque preserva um dos pilares do Estado Democrático de Direito consubstanciado na segurança jurídica. Conforme Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Bra sileiro, pág. 170), “ a l icença resu lta de u m d ire ito sub je dvo d o in te re ssa d o , ra z ã o p e la q u a l a Admirais- t raçã o n ã o p o d e negá - la q u a n d o o req u e ren te sa t is fa z to d os os req u is ito s le g a is p a ra s u a ob tenção , e. u m a vez e xped ida , t raz a p r e s u n ç ã o d e d e f in i t i v id a d e . S u a in v a lid a ç ã o s ó p o d e o c o rre r p o r i lega lid ad e na e x p e d iç ã o do a lva rá , p o r d e s c u m p r im e n to d o t i tu la r na e x e c u ç ã o da a t iv id a d e ou p o r in te re sse p ú b l ic o s u p e rve n ie n te , ca s o e m que s e im p õe a c o r re s p o n d e n te in d e n iza çã o . A l ic e n ç a n ã o s e c o n tu n d e c o m a a u to r iz a ç ã o , n e m c o m a adm issão , n e m c o m a a u lo r iz a ç ã ó ’. Assim, por um lado, a licença preserva o direito do empreendedor, garantindo-lhe a certeza òa reparação em caso de perda ou retirada Qe seu direito e, por outro, enseja a revisão da licença por parte do órgão concedente, preservando também o interesse público. Querer dar ao licenciamento caráter de auto rização introduz um fator de incerteza muito grande ao processo, inibindo o investimento a ser feito por receio de que o Estado se aproprie dele e dos recursos investidos para o desenvolvimento do empreendimento já concebido e implantado (grifos do autor). Ricardo Carneiro, op. cit., pág. 113. 30 ANDRÉ VANONI DE GODOY J á se falou que a Política Nacional de Meio Ambiente considerou a questão am bienta l como de seg u ran ça nacional, tal é a s u a im portância p a ra o fu turo do país. Por isso o p ro cedim ento do licenciam ento am biental, ou a s u a renovação, é de ex trem a relevância, e a intervenção do Poder Público na atividade p rivada a través dele só é admissível pela C onstitu i ção Federal em razão do in teresse geral. Os reflexos n a vida d a nação são evidentes: “se houver relaxamento d a parte do Poder Público o licenciamento am biental transform a-se num a impostura - d e um lado. subm ete o empresário honesto a um a d esp esa inócua e. d e outro lado, acaireta iryustificável prejuízo para um uasto número de pessoas, que é a população que paga tributos"^^. Sob este aspecto, é conveniente nos determ os n a ques tão do prazo de validade do licenciamento concedido,s u a de cadência e revogação. A Lei 6 .9 3 8 /8 1 previu, como já visto, a possibilidade de revisão da licença, indicando que a m esm a não é válida por prazo indeterm inado. E ste dispositivo a p re sen ta van tagens tan to p a ra o em preendedor q u an to p a ra o Poder Público. Pa ra o primeiro, a validade tem poral é u m a seg u ran ça de que, d u ran te a s u a vigência, e s ta rá seguro de poder exercer seu direito de form a plena, pois, ã exceção de motivo grave, não poderá o ó rg ão Público revogá-la ao seu livre arbítrio e discricionariedade. Para o segundo, é garan tia de que n ão te rá seu poder m anietado frente ãs m u d an ç a s nas condições de funcionam ento da atividade que a revele danosa ao ambiente, dando-lhe a possibilidade de corrigir essa distorção no m o m en to d a renovação d a licença. Ê o que se lê no “ Paulo Leme Machado, op. cif., pág. 261. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO 0 0 MEIO AMBIENTE -----------3 í ensinam ento de Paulo de B essa Antunes^*: "quando um a licen ça fo r vigente, a eventual m o d ^ a ç ã o de padrões ambientais não pode ser obrigatória: e uma vez encerrado o prazo de vali dade da licença ambiental os novos padrões são imediatamente exigiveis". A validade da licença es tá prevista no artigo 18 d a Re solução n° 237 do CONAMA, cujos p razos são a tr ibu ídos pa ra cada fase do licenciam ento, a saber: a) O p ra zo d e vaJidade d a Licença P rév ia (LP) deverá ser, n o m ín im o, o estabelecido pelo c ro n o g ram a d e ela b o ração do s planos, p ro g ram as e projetos re lativos ao e m p re e n d im e n to o u a t iv idade, n ão p o d e n d o ser su p e r io r a 5 (cinco) anos. b) O p ra z o d e v a l id ad e d a Licença d e In s ta laç ão (LI) d e v erá ser, no m ín im o, o estabelec ido p e lo c ro n o g ra m a de instalação d o em p re e n d im e n to o u a t iv idade , n ã o p o d e n d o ser su pe r io r a 6 (seis) anos. c) O p ra z o d e v a l id ad e d a Licença d e O p e ra ç ã o (LO) d e verá co n s ide ra r os p la n o s de contro le am b ie n ta l e será de, n o m ín im o, 4 (quatro) anos e, no m áx im o , 10 (dez) anos. A seguir é ap resen tado um quadro resu m o elaborado por Elida Séguín sobre a validade d as d iversas fases do licen- ciamento^^: In Paulo Leme Machado, op. cit., pág. 266. “ E lida Séguín, op. d r , pág. 282. 3 2 ANDRÉ VANONI DE GODOY TIPOS DE LICENÇA PRÉVIA INSTALAÇÃO A té se is anos OPERAÇÃO Prazo A té c inco anos S e foi con ced ida M ín im o de q u a tro anos; m á x im o de dez anos P oss ib ilidade d e re novaçã o S e fo i con ced ida no p razo m áx im o não po de haver renovação no p razo m áx im o não po de haver renovação O b ra s ne ce ssá ri N a re novaçã o p o dem se r fo rm u la d a s e x ig ê n c i as não p re v is ta s na LO an te r io r A tiv idade s pe rm itida s / ex ig id as E labo ração de es tudos , E P IA / R IM A , aud iênc ias púb licas as ao fu n c io n a m e n to do em pree nd im e n to In íc io d a s a tiv ida des — 3 3 C APÍTU LO S A LÓGICA NORMATIVA DO ESTADO I A n a tu reza adm inistra tiva d a A dm inistração Pública, segundo Hely Lopes Meirelles^^, é a de “um m im us público para quem a exerce, isto é. a de um encargo d e defesa , conser vação e aprimoramento dos bens. serviços e in teresses d a cole tividade". Partindo d essa prem issa, o ad m in is trado r público só pode agir segundo o que lhe d e term inam as leis, os regu la m entos e a tos especiais, dentro do Direito e d a m oral adm i n istra tiva que regem a s u a atuação , pois ta is são os preceitos que expressam a vontade do t itu la r dos direitos ad m in is tra ti vos - o povo e condicionam os a tos a serem p ra ticados no desem penho do múrius público que lhe é confiado. Portanto é o fim, e não a vontade do adm in istrador, que dom ina todas as form as de adm inistração , que, por s u a vez, com o j á m e n c io n a d o a n te r io rm e n te , só é poss ív e l pe la preexistência de u m a regra ju ríd ica que lhe reconhece um a finahdade própria. C onseqüentem ente , a adm in istração jaz sob a legislação, que deve enunciar e d e te rm inar a regra de Direito a se r seguida e aplicada. Sob e s ta ótica, é im portan te re lem brar os princípios básicos que regem a adm in istração pública, cu jas regras são de observância pe rm anen te e obrigatória p a ra o bom adm i n istrador. conforme determ inado pelo artigo 37 da C F /88: Hely Lopes Meirelles, D ire ito Adm in is tra tivo Brasileiro, pág. 80. 34 ANDRÉ VANONI DE GODOY legalidade, im pessoalidade, m oralidade, publicidade e efi ciência . Nesse contexto, faz-se pertinen te u m a aná lise d a voca ção norm ativa do E stado no âmbito d a sociedade dem ocrática de direito. Para tan to , h á exposta u m a sín tese da teoria d e senvolvida por Konrad Hesse^“ sobre a força norm ativa da C o n s t i tu iç ã o , em r e s p o s ta a p r o n u n c ia m e n to feito po r Ferdinand Lassale^'" sobre a essência d a Constituição. Há a in da reflexões de Jü rg e n Habermas^® sobre o m esm o tem a, fu n dam en ta lm en te relacionado ã form ação d a no rm a e a su a in tegração à vida da sociedade. Segundo Hesse, a no rm a constitucional não tem exis tência au tônom a em face da realidade, u m a vez que s u a e s sência reside n a própria vigência d a norm a, den tro da idéia da pretensão d e ejicácia nela contida. Tal p re tensão só se con cretiza n u m a relação de in terdependência d a n o rm a em si com as condições h istóricas de s u a realização, a s q ua is criam reg ras p róprias que não podem ser d esconside radas . Não obstan te e ssa ligação de in terdependência, a p re tensão de efi cácia d a no rm a não se confunde com as condições de su a realização, m as a elas se associa como elem ento autônom o, não sendo ela a p en as u m a expressão de u m ser, m as tam bém de um dever ser. A no rm a significa, assim , m ais do que o sim ples reflexo d as condições fáticas de s u a vigência, p a rt i cu la rm en te as forças políticas e sociais - aqui a g rande diver gência de Hesse com Ferd inand Lassale, p a ra quem a C onsti tu ição real é a que traduz a norm a efetiva, pois n ão é possível Konrad Hesse. A Força Normativa da Constitu ição. Ferdinand Lassale, A Essência da Constitu ição. Jürgen Habermas, D ire ito e Democracia: Entre Faticidade e Validade, voi i, pág. 211 e ss. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE -----------3 5 im aginar u m a nação onde não existam os Jatores reais de poder, quaisquer que eles sejam, sendo estes os únicos vetores influenciadores d a p retensão de eficácia d a n o rm a como des c rita por Hesse. Hesse, conquan to considere os fatores reais de poder n a formação da norm a, não os considera, como faz Lassale. os únicos fatores de term inantes de s u a validade. Para ele. a n o rm a é de te rm inada pela realidade social e, ao mesmo tempo, é determ inante em relação a ela, não sendo possível se definir como fundam ental nem a p u ra normatividade, nem a simples eficácia das condições sócio-políticas e econômicas. Essa noção de in terdependência do direito norm alizado com as con dições fáticas que o geram é partilhada por Haberm as, quando afirm a que a idéia do Estado de Direito exige, em con trap a rti da, u m a organização do poder público que obriga o poder po lítico. constitu ído conforme o Direito, a se legitimar, por seu tu rno , pelo Direito legitim amente instituído. Com base n e s sa idéia é que Konrad Hesse s u s te n ta que a p e n as a C onstitu ição que se v incula a u m a s ituação h istó ri ca concre ta e s u a s condicionantes, do tada de u m a ordenação ju ríd ica o rien tada pelos parâm etros da razão, pode, efetiva m ente, desenvolver-se. No en tan to , é preciso a ten ta r-se a que a razão por si só, a inda que capaz de d a r form a ã m atéria disponível, não dispõe de força p a ra produzir su b s tâ n c ia s novas. Assim, “ioda Consíiíuição, ainda que considerada como sim ples construção teórica, deve encontrar um germ e material d e su a força vital no tempo, nas circunstâncias, no caráter n a cional necessitando apenas de desenvolvim ento”. É especialm ente im portante p a ra este e s tudo a com pre ensão de que se a norm a pretende ser algo m ais do que e te r nam ente estéril, não deve procurar constru ir o E stado e balizar 3 6 ANDRÉ VANONI DEGODOY su a s relações com a sociedade de form a a b s tra ta e teórica, pois ela n ão logra p roduzir n ad a que já n ão esteja a sse n te na n a tu reza s ingu lar do presente. Faltando-lhe ta is p re s su p o s tos. a no rm a não tem força p a ra conform ar a realidade, tor- nando-se im potente p a ra em prestar-lhe direção. Assim dito. se as “leis" culturais, sociais, políticas e econômicas im perantes são ignoradas pela norm a, carece ela do im prescindível ger me de s u a força vital. Como conseqüência disso, a disciplina norm ativa con trá ria a essas “leis" não logra concretizar-se. Não se pode olvidar, no entanto , como j á defendido por Hesse. que não b a s ta rá que a norm a seja gerada a p a rtir da leitura da realidade, dos fatores reais dc poder de Lassale. da üonta- d e de poder de Hesse, m as deverá ela m esm a converter-se em força ativa, o que só se rá possível d ian te daquela que Hesse cham ou de a vontade de Constituição, que aqui reduziu-se p a ra a vontade de nonnatizaçáo, no sentido de que a socieda de p rec isa e s ta r d isposta a d a r legitimidade ã norm a, m uito além do seu reconhecim ento teórico. E s ta é a concepção de fendida por H aberm as quando ana lisa a d inâm ica da ad m i n istração pública den tro da com preensão de s u a necessá ria in teg ração com a sociedade, a fim de leg itim ar-se como condicionante das ações socia is^ ': "N o en tan to , essas relações de troca a lim entam -se de um a norm atização legítima d o Direito, a qual (...) tem p a re n tesco com a formação do p o d e r com unicativo , C o m isso, o conceito d e p o d e r político se diferencia, N o s is tem a da ad m in is tração pública concentra-se u m p o d e r q u e p rec i sa regenerar-se a cada passo a p a r t i r d o p o d e r c o m u n ic a tivo. Por esta razão, o Direito n ã o é a p e n a s const i tu tivo Jürgen Habermas, op. cil., pág. 212. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE -----------3 7 p a ra o código d o p o d e r que d ir ige o p ro cesso d e a d m i nistração: ele (sic) fo rm a s im u l tan e am e n te o medium p a ra a transfo rm ação d o p o d e r com unica t ivo e m a d m in is t ra tivo. Por isso, é possível desen v o lve r a idcia d o Estado de Direito com o auxílio de p rinc íp ios s e g u n d o os quais o D ireito legítimo é p ro d u z id o a p a rt ir d o p o d e r co m u n i cativo e este ú lt im o é no \ a m en te t ran sfo rm ad o em p o d e r adm in is tra t iv o pelo cam inho d o Direito le g it im am ente n o rm a tizado". Para os objeüvos des ta obra. tal explanação é conside ra d a suficiente p a ra os fins a que se destina . Im portante, destarte , fixar a essência do raciocínio que se quer aqui d e senvolver. consu b stan c iad a n a com preensão de que a p rese r vação d a d inâm ica existente n a in terp re tação constru tiva da no rm a constitu i condição fundam enta l d a s u a força n o rm ati va e, por conseguinte, de su a estabilidade juríd ica. 3.1. O normativismo constitucional brasileiro A orientação estabelecida na C F /8 8 com relação aos princípios gerais da atividade econômica no Brasil foi toda no sentido de d a r liberdade aos agentes econômicos de em preen der segundo su a s conveniências e in teresses, privilegiando a livre iniciativa. É o que se lê no artigo 170, caput, e seu p a rá grafo único, do Diploma C onstitucional [grifos do autor): Art- 170. A o rd e m econôm ica, f u n d a d a na valorização d o traba lho h u m a n o e n a l iv re in ic ia tiva , tem p o r fim asseg u ra r a todos existência d igna , confo rm e os d itam es da justiça social (...) Parágrafo único. É a sseg u ra d o a to d os o l iv re exercício d e q u a l q u e r a t iv id a d e econôm ica , in d e p e n d e n te m e n te ANDRÉ VANONI DEGODOY d e au to rização d e órgãos públicos, salvo n o s casos p r e v is tos e m lei. Mas e s ta orientação não significa que o legislador, ao op tar pelo regime da livre iniciativa, ten h a deixado o E stado à deriva, sem n e n h u m meio de controle sobre as ações dos em preendedores. A lógica de controle e s ta ta l ficou protegida na reserva de poder conferida ao Estado p a ra regu lar e contro lar a atividade econômica, fiscalizando as ações do se to r privado n a preservação do in teresse d a coletividade. Assim o caputáo artigo 174 da C F /8 8 estabeleceu: Art. 174. C om o agen te n o rm ativ o e reg u lad o r d a a t iv id a d e econôm ica, o Estado exercerá, n a fo rm a d a lei, as fu n ções d e fiscalização, incentivo e p lane jam en to , sen d o este d e te rm in an te p a ra o setor p úb lico e ind icat ivo p a ra o se tor p rivado . Igualm ente a atividade norm ativa e regulatória do E s ta do não e s tá so lta no o rdenam ento juríd ico pátrio, já que ta m bém o governo e s tá limitado em seu agir, só podendo se movi m en ta r den tro dos limites e dos poderes que a lei ex p ressa m en te lhe confere. E s ta tam bém é a lógica do agir ad m in is trativo do Estado, n a in terpre tação d a “Teoria dos Motivos D e term inan tes”, como ensina Hely Lopes Meirelles^®, fu n d a da n a consideração de que os a tos adm inistrativos, quando tiverem s u a p rá tica motivada, ficam vinculados aos motivos expostos p a ra todos os efeitos jurídicos. '"Tais motivos é que determ inam eJustificam a realização do ato. e, por isso mesmo, deve haver perjeita correspondência entre eles e a realidade. Op. cit,, pág. 181. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE -----------3 9 (...) H avendo desconform idade entre os motivos determ inantes e a realidade, o ato é inválido". Neste estágio de nosso estudo, j á deve ter ficado claro que den tre a s funções do E stado , a s que m ais n o s in te re s sa m são a s m issões de intervir e fom entar a a tiv idade econô mica, a saber, funções adm in istra tivas do Estado. Nesse se n tido é que se d e s ta c a a relevância d a lei n a m an u te n ç ã o do E stado D em ocrático de Direito, pois é só m ed ian te e la que o E stado tem condições de realizar in tervenções que resu ltem em u m a a lte ração n a s ituação da com unidade. Isso implica, segundo J o s é Afonso da Silva^®, dizer que a lei não deve fi ca r n u m a esfe ra p u ram e n tenorm ativa, não pode ser a p e n as lei de arb itragem , pois p rec isa influ ir n a rea lidade social, aos m oldes do que defendem Konrad H esse e J . H aberm as n a s s u a s o b ras a n te s ana lisadas . Assim, a in d a segundo Jo sé Afonso d a Silva: "Se a C onsti tu ição se abre p a ra as t ran sfo rm ações po lí t i cas, econôm icas e sociais q ue a soc iedade b ras ile ira re quer , a lei se e levará de im portância , n a m e d id a e m que, sen d o fu n d a m en ta l expressão d o d ire ito positivo , ca rac teriza-se com o d esd o b ra m e n to necessário d o co n teú do d a C on s ti tu ição e aí exerce função tr a n s fo rm a d o ra da sociedade, im p o n d o m u d a n ça s sociais dem ocrá ticas , a in d a q ue p ossa co n t in u a r a d esem p en lia r u m a função c on se rvado ra , g a ra n t in d o a sobrev ivência de va lo res social m e n te aceitos". Especificam ente quan to ao tem a d e s ta m onografia, en con tram -se no artigo 225 d a C F /8 8 as reg ras de convivência José Afonso da Silva, Curso de D ireito C onstitucional Positivo, pág. 125. 40 ANDRÉ VANONI DEGODOY do Poder Público e da iniciativa privada. E s tá lá, no caput do artigo: Art. 225- Todos têm direito ao m e io am b ien te ecologica m en te equilib rado , bem de u so c om u m d o p o v o e e s sen cial à sadia q u a l id a d e de vida, im p o n do -se ao P o d e r P ú blico e à co le tiv idade o d ev e r de defendê- lo e p rcser\ 'á -lo p a ra a s p resen tes e fu tu ras gerações. In te ressa -nos especialm ente o d isposto do parágrafo primeiro, inciso IV {grifo do autor): § 1" Para a ssegu ra r a e fe t iv idade desse direito , incum be ao P o d e r Público: ( . . . ) IV - exigir, na forma de lei, pa ra ins ta lação d e obra ou a t iv id a d e p o tenc ia lm en te c au sad o ra d e s ig n if ic a t iv a d e g radação d o m eio am bien te , e s tu d o p rév io de im pac to am bien ta l , a q ue se d a rá publicidade;(.-.) Q uer-se aqui ch a m a r a a tenção p a ra u m a fragilidade con tida no inciso su p ra , motivo do des taq u e feito, quando ressa lva que a a tividade deve se r p o tencia lm ente c a u sa d o ra de s i g n ^ c a t i v a ag ressão ao meio am biente . A m eu ver. tra- ta -se de u m a am pliação perigosa das possib ilidades de in te rp re tação da gravidade do dano - porque o em preendedor pode t ra n s i ta r den tro do espectro do signiflcante, esg rim in do d ian te da nebu losidade decorren te d a am plitude do te r mo, d ificultando s u a responsabilização, e porque concede ã adm inistração u m poder discricionário desmedido, o que tam bém não é saudáve l e nem con tribu i p a ra o equilíbrio da relação. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMB-ENTE 4J Ainda sobre este aspecto, percebe-se n a orientação cons titucional um c a rá te r preventivo d a a tu a ç ã o da a d m in is t ra ção, concretizado n a legislação in fraconstituc iona l, espec i a lm e n te n a Lei n° 6 .9 3 8 /8 1 e n a R eso lução n ‘" 2 3 7 do CONAMA, am b a s j á a n a lisad as an te rio rm en te . T am bém c u i dou o legislador de es tabelecer no rm a pun itiv a ao exigir a recuperação do meio am bien te degradado por a tiv idades re- gu lares. e especia lm ente ao su je ita r as c o n d u ta s e a tiv ida des lesivas ao meio am biente a sanções p en a is e a d m in is tra tivas. sem prejuízo d a obrigação de rep a ra r os d a n o s c a u s a dos. A b a se de tal m ecanism o reparador e n c o n tra -se no a r t i go 173. § 5" d a C F /8 8 , que prevê a possib ilidade de re s p o n sabilização d as pessoas juríd icas, independen tem ente da re s ponsab ilidade de se u s dirigentes, su je itando -se à s pun ições com patíveis com s u a n a tu re z a nos a to s p ra ticad o s co n tra a ordem econômica, que tem como um de s e u s princíp ios a defesa do meio am biente . 3.2. O paradigma do conflito Em que pese a orientação do diplom a constituc ional em favor da livre iniciativa como base do s is tem a econômico e s colhido pelo legislador, não podem os ignorar a existência do parad igm a do conflito, que contrapõe o que se en tende como o fim últim o do Estado - a ssegu ra r a todos ex istência digna, conforme os d itam es da ju stiça social - com o objetivo de qua l quer atividade em preendedora privada - o lucro. D essa forma, a eficácia do licen c ia m en to am biental com o um in stru m en to público de gestão do m eio am bien te - exatam ente o tem a des ta obra - tem padecido pelas p rá ticas d iscricionárias dos órgãos responsáveis, cu ja inclinação 4 2 ANDRE VANONIOE GODOY predom inan tem ente punitiva tem , se n ão impedido, provoca do a tra so s no desenvolvimento econômico do país. A ex istên cia de u m a visão p reconceituosa impede que o licenciam ento am bien ta l seja u m a p rá tica eficaz de proteção e indução do desenvolvimento susten tado , sendo a n te s d isso u m pesado óbice juríd ico-burocrático enfrentado pelas e m presas n a con cepção e aprovação de seu s em preendim entos. Ê claro que tal preconceito não nasce e se localiza na questão am bienta l m as, an tes disso, e s tá im pregnado nas concepções relativas ao sis tem a econômico adotado pelo B ra sil, d a s qua is emergem as distorções filosóficas que con tam i n a m g rande parte do se tor público nacional. O s is tem a cap i ta lista , com s u a lógica de m áxim a eficiência e apropriação privada dos fatores de produção, tem sido apontado como p rin cipal responsável pelas m azelas decorren tes do desenvolvi m ento desigual da nação e, sobretudo, d as distorções n a d is tribuição da renda entre a população. Esse paradigm a se t ra n s fere p a ra todas as ações privadas no cam po do desenvolvi m ento econômico, m om ento em que, então, acon tecem os ab u so s decorren tes de u m poder discricionário excessivo con cen trado n a s m ãos dos agentes governam entais quan d o t r a tam de cu idar da regulação das iniciativas privadas. Visões como a ex te rnada por Jo sé Afonso da Silva, n a qual “a histó ria mostra que a injustiça é inerente ao modo de produção capi talista. morm ente o capitalismo periférico"‘^ °, a ju d am n a for m ação de u m am biente hostil à iniciativa privada, especial m en te em tem as delicados como o são as questões ligadas ao meio am biente. E m uito particu la rm en te porque, ao lado da execração do capitalismo, co s tum a se estabelecer u m a rela- Op, cit,, pág. 763. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PÚBLICO DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE ----------- 4 3 ção absolu tam ente in justa e p e n ersa ao se com parar um siste m a ideal de coletivismo - n u n c a alcançado em n e n h u m m o m ento d a h isto ria d a hum an idade e u m capita lism o pre sente. cujos benefícios sobejam em detrim ento d as inevitá veis d isparidades ineren tes à lim itada oferta de b e n s à d ispo sição de todos os cidadãos. E, conquan to a C onstitu ição da República Brasileira de 1988 ten h a estabelecido de m aneira precisa os d itam es necessários d a ju s t iç a social p a ra a sse g u ra r a todos u m a existência digna, o complexo de inferioridade nacional dificulta a inafastável e Imprescindível In tegração en tre os agen tes privados e públicos p a ra perm itir a rea liza ção da possib ilidade de u m desenvolvim ento m ais h a rm ô n i co do país. E s sao rien tação fica m uito c la ra n o s próprios princíp ios d a ordem econôm ica, en tre eles a defesa do meio am biente . Uma d as conseqüências m ais d a n o sas adv indas desse an tagon ism o atávico en tre a desejada ju s t iç a social e o nefas to capitalism o, é que os agentes econômicos são alienados do p rocesso de form ulação das políticas am bien ta is , cabendo- lhes exclusivam ente o ôn u s de ter que a elas se sub m ete r ou deixar de em preender, fato que. m ais do que p re jud ica r o p ró prio em preendedor, c a u sa prejuízos m uito m aiores ao d e sen volvimento do país. Como escreveu o p rofessor d a UFRJ. Fernando Almeida'” . presidente executivo do CEBDS - Con selho E m presaria l Brasileiro pa ra o Desenvolvimento S u s te n tável: “ao m esm o tempo em que o pa ís se conscientiza d a ne cessidade d e fa ze r fre n te à situação dos se u s 5 0 milhões de miseráveis e cria programas como o Fome Zero. o emperramento dos s is tem as de licenciamento conduz à fo m e . (...) Os empre- Fernando Almeida, Quando o L icenciam ento Ambiental é Instrum ento da Fome. 44 ANDRE VANONl DE GODOY endedores. em muitos casos, desistem ou m udam d e local e até de pais. Limita-se assim a geração de emprego e renda, indispensável para tom ar susten táveis os programas sociais de combate à miséria". É grave perceber que m uito desse alijam ento imposto aos em preendedores ê fruto do preconceito ex isten te quan to à s s u a s reais motivações n a concepção de novos projetos. Mas tam bém é resu ltado de falta de visão do processo de evolução como um todo, que c a u sa tem ores quan to ao fu turo d a h u m anidade pelo avanço do desenvolvimento econômico, cienti fico e tecnológico [grijbs do autor): "D esde os (...) p r im órd io s d a R evolução Indus tr ia l a té os am bien ta lis tas ex trem ados d e hoje, a oposição à in t ro d u ção de q u a lq u e r coisa no v a sem p re foi um a m a ne ira de d e fen d er o s ta tus quo. As vezes, a op o s ição v e m d a q u e le s cu ja v id a v a i se r a f e t a d a - c o m o foi o caso d os Saboteurs , cujo n o m e deriva da lática d e jogar seus ta m an co s (sabots) nas m áq u inas q u e os e s tav am su b s t i tu indo. O u tra s vezes, a oposição le m o r ig em n o m e d o do d e sco n h e c id o , n o m e d o d o q u e p o d e acontecer. Isto ta l vez exp lique a crença, la rgam ente aceita no início deste século no m elo ru ra l am ericano, de q u e o uso do telefone d u ra n te u m a tem p es tad e era m u i to per ig oso p o rq u e o apa re lh o funcionaria com o c o n d u to r de raios e poderia a r re m e ssa r longe o u su á r io "^ \ E ainda: "M u ita s so luções conservacion istas e s ten d er iam o con trole g o ve rn am en ta l n ão ap enas às em presas , m a s tam- Dixy Lee Ray, e Lou Guzzo, Sucateando o Planeta, pág. XI. A EFICÁCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÁO DO MEIO AMBIENTE -----------4 5 b ém aos estilos de v idas in d iv id u a is e às decisões d e con sum o. Essas m u d a n ç as não são necessárias (em sen tido técnico), nem desejáveis (para nós, em sen t id o n o rm a t i vo). Políticas ambientais racionais não precisam redu z ir o âm bito da economia de mercado. E possível q ue os defensores d o conservacion ism o te n ham -se a p e g a d o às ques tões am bien ta is com o u m pre tex to p a ra a u m e n ta r o controle estatal sobre a economia, algo q ue d e fend em com base cm razões ideolc3gicas"-*\ A percepção do cunho ideológico é partilhada por F ernan do A]meida‘‘^ , quando afirma que {grijbs do autor): " A o m e sm o tem po em que, a cada d ia , a p a re ce m novos a s su n to s de m anejo técnico-científico d esco n h ec id os ou de l icados em te rm os de resposta , u m no v o a to r ap a receu n o cenário a p a r t i r d a C onsti tu ição de 1988, c o m o fo r ta lecim ento e a im portânc ia q u e g a n h o u o M inistério P ú blico. Este tem a p ro fu n d a d o o exercício d a d em ocrac ia e d a c id ad an ia em vários setores, mas na área ambiental, em m uitos casos, prim am suas decisões mais pelo viés ideológico que pela base científ ica" . A serviço da questão ideológica surge esse g rande p ro blema, típico d as sociedades b asead as n a ciuü como é o caso d a brasileira , consubstanciado n u m outro tipo de confli to, qual seja, aquele emergente da confrontação da norm a com a realidade, gerado pelo descom passo tem poral en tre os avanços da sociedade e o momento em que a norm a foi redigida. " Donald G. McFetridge et al.. Economia e Meio Ambiente: a Reconciliação, pág. 119. " Op. cit. Civil law; expressão em língua inglesa que identifica a doutrina jurídica que estabelece a cogéncia da norma codificada em detrimento dos costumes como reguladora das relações juridicas em uma determinada sociedade. 4 6 ANDRE VANONi DE GODOV Sob ta l aspecto, a form ulação do m andam en to legal traz con sigo, sem pre, dois vícios de origem talvez insanáveis do ponto de v ista d a elaboração das leis. O primeiro é que, em u m a sociedade em movimento acelerado como a a tual, o legislador não poderá, como jam a is pôde, elaborar no rm a fechada pe re ne, u m a v e z que p a r a isso se r ia n e c e s sá r io te r c a rá te r a tem poral, o que náo é possível senão que idealm ente. E se gundo que. p a ra ten ta r m inim izar e ssa impossibilidade, um dos c a m in h o s persegu idos - o qua l recom enda a técn ica legislativa - é p ro cu ra r do tar a norm a de um ca rá te r genérico e universal, como forma de que v enha a incidir sobre o m aior núm ero de casos concretos que o seu alcance perm ita - m as como conseqüência tem -se o prejuízo ao particu lar. E por isso diz-se e s ta r e s ta a serviço daquela: a generalidade d a no rm a a serviço d a s u a ideologízação. O problema do conflito da norm a “congelada” pelo texto legal é tão proeminente que não se restringe ã legislação infra- constitucional. O próprio texto constitucional enfrenta tal difi culdade. Konrad Hesse^® abordou esta questão (gnfos do autor]: "(...) A ques tão q ue se a p resen ta d iz respe ito à força n o r m a tiv a d a Constituição. Existiria, ao lado d o p o d e r d e te rm in a n te d a s re lações fáticas, expressas p e las forças polí ticas e sociais, tam b ém u m a força d e te rm in a n te do Direito C onsti tuc ional? Q u a l o fu n d a m e n to e o alcance dessa força d o Direito Consti tucional? Não seria essa fo r ça uma ficção necessária para o constitucionalista, que tenta criar a suposição de que o d ire ito dom ina a vida do Estado, quando, na realidade, outras forças mostram- se determinantes? Konrad Hesse, op. cit., pág. 11. A EFiCACiA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL COMO UM INSTRUMENTO PUBLICO DE GESTÃO DO MElO AMBIENTE -----------4 7 Aceitemos que o tem a am biental é m ulto apaixonante, e que com e s ta tonalidade tem evoluído m uito rap idam en te , servindo de a rgum en to p a ra m uitos d isc u rso s reacionários. E é ques tão de difícil encam inham en to , posto que carrega em si o inatacável ideal da preservação d a vida, to rn an d o qua lq u e r a rg u m en to que “p a re ç a ” a tacá-lo difícil de se r d e fendido. Chega-se assim a u m a encruzilhada, m arcad a por um falso dilema: é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação do melo am biente? Não h á dúv idas que sim, e este é o enfoque principal deste trabalho . É preciso, no
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