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P á g i n a | 1 INTRODUÇÃO: Este é um trabalho a respeito de uma metáfora dentro de outra, ou seja, a metáfora de se efetuar a “leitura da organização no sentido das prisões Psíquicas”. Procura mostrar de forma panorâmica o conhecimento das prisões psíquicas da teoria do conhecimento e das ideias platônicas sobre a alegoria da caverna. 1. As prisões psíquicas: O homem tem uma tendência para cair em armadinhas criadas por si mesmo e isto acontece através da noção de organizações como prisões psíquicas. As organizações são fenômenos psíquicos regidos por processos, conscientes e inconscientes que tornam as pessoas prisioneiras de suas próprias imagens. 1.1 As primeiras ideias das prisões psíquicas: Foi explorada pela primeira vez na Republica de Platão, através da famosa “Alegoria da Caverna” na qual Sócrates estabelece as relações entre aparência, realidade e conhecimento. “A caverna representa o mundo das aparências, enquanto a viagem ao exterior a conquista do conhecimento. As pessoas no dia a dia são enganadas por ilusões, já que pelo modo que compreendem a realidade limitada e imperfeita, reconhecendo esse fato e fazendo um esforço obstinado para enxergar além do superficial as pessoas adquirem habilidades de se libertarem do modo imperfeito de encarar as coisas, frequente mente, muitos de nos insistem resistem ou então ridicularizam os esforços de esclarecimento, preferindo permanecer na escuridão do que enfrentar os riscos de exposição de um novo mundo”. (MORGAN, Gareth 1996: p.205 e 206). 1.2 A Republica de Platão: A alegoria descreve uma caverna subterrânea, cuja entrada está voltada para a luz de uma fogueira crepitante. Dentro dela encontram-se pessoas acorrentadas de tal modo que não podem mover-se. Conseguem enxergar somente a parede da caverna diretamente a sua frente. Esta parede é iluminada pela claridade das chamas que nela projetam as sombras das pessoas e objetos. Os moradores da caverna tomam as sombras por realidades, atribuindo-lhes nomes, conversando com elas e até mesmo ligando sons de fora da P á g i n a | 2 caverna com os movimentos que observam na parede. Para estes prisioneiros, este universo sombrio constitui a verdade e a realidade, uma vez que não possuem conhecimento de nenhum outro. Entretanto, caso um dos habitantes fosse autorizado a deixar a caverna, este iria perceber que as sombras nada mais são que reflexos obscuros de uma realidade mais complexa e que o conhecimento e as percepções de seus antigos companheiros de caverna são imperfeitos e distorcidos. Se ele voltasse à caverna, não seria mais capaz de viver como antes, já que agora para ele o mundo seria um lugar bastante diferente. Sem dúvida, teria dificuldade em aceitar seu confinamento e sentiria pena do destino dos companheiros. E, se tentasse compartilhar com eles seu novo conhecimento, seria provavelmente ridícula rizado por suas ideias. Isto porque para os prisioneiros da caverna as imagens com as quais estão acostumados possuem muito mais significado do que um mundo que eles nunca viram. Além disso, já que a pessoa portadora desse novo conhecimento não seria mais capaz de agir com convicção em relação às sombras, seus companheiros de prisão começariam a ver o mundo exterior como um lugar perigoso, algo que deveria ser evitado. A experiência poderia na verdade leva-los a se apegar ainda mais a sua maneira habitual de encarar a realidade. (MORGAN, Gareth 1996: p. 206). Para explicar o movimento de passagem de um grau de conhecimento para o outro, que se encontra no inicio do Livro VII da República, Platão narra o Mito da Caverna, alegoria da teoria do conhecimento e da ideia platônicas. Para dar a entender ao jovem Glauco o que é e como se adquire o conhecimento verdadeiro, Sócrates começa estabelecendo uma analogia entre conhecer e ver. 1.3 As organizações vistas como prisões psíquicas: Ocorrem no dia-a- dia, onde somos acorrentados por ilusões que assimilam a realidade de forma limitada e imperfeita. E tal como na alegoria, temos uma tendência a resistir e ridicularizar esclarecimentos externos e divergentes, agarrando-nos à realidade vigente. P á g i n a | 3 1.4 Forças e limitações da metáfora das prisões psíquicas: Depois da crise do petróleo de 1973, a indústria de automóvel japonesa começou a fazer incursões maciças no mercado norte-americano. Presos no modo americano de produzir carros, os grandes fabricantes dos Estados Unidos estavam completamente mal equipados para enfrentar o desafio japonês. Durante anos, eles tinham considerado que a superioridade de seus recursos, sua competência técnica e suas capacidades de engenharia e marketing eram inquestionáveis. Orientadas para o atendimento do mercado de carros grandes e mantidas vivas por mudanças anuais de modelos, as grandes firmas ignoraram o potencial dos carros pequenos, de baixo consumo de combustível. A miopia permitiu que os japoneses conquistassem uma forte posição em seu mercado. Lançada no dia 17 de abril de 1961, pela administração Kennedy, a invasão frustrada nem cuba quase levou a uma guerra nuclear. "Como pudemos ser tão estúpidos?", comentou Kennedy mais tarde. Em retrospectiva, o plano parece completamente falho. No entanto, ele nunca tinha sido criticado ou questionado. Kennedy e seus assessores tinham inconscientemente desenvolvido ilusões e normas operacionais que interferiram em sua capacidade de pensa- mento crítico e de elaboração de teste de realidade. O carisma do presidente e um sentimento de invulnerabilidade criaram o impulso para todos os tipos de processos de autoafirmação que produziram a conformidade entre os tomadores de decisões e assessores-chaves. Fortes tendências racionalizadoras mobilizaram apoio para as opiniões aprovadas. Um forte sentido de "consenso assumido" inibiu as pessoas de expressar suas dúvidas. Alguns se atribuíram espontaneamente a missão de trabalhar informalmente no sentido de proteger o presidente de informações que pudessem minar sua confiança. Com isso, a invasão planejada pela CIA foi em frente com um mínimo de debate sobre as suposições básicas das quais dependia o sucesso da invasão. O fenômeno do pensamento grupal tem sido reproduzido em milhares de situações de tomada de decisões em organizações de todos os tipos. Pode parecer dramático demais descrever o fenômeno como reflexo de um tipo de prisão psíquica. Muitas pessoas prefeririam descrevê-lo por meio da metáfora da cultura, vendo a patologia descrita em todos os exemplos apresentados como produto de P á g i n a | 4 determinadas crenças e normas culturais. Mas, existe um grande mérito em se reconhecer o caráter de prisão da cultura. (MORGAN, Gareth 1996: p. 206). É verdade que a cultura dá-nos nosso mundo, mas ela aprisiona-nos nesse mundo! A metáfora da prisão psíquica alerta-nos sobre as patologias que podem acompanhar nossas maneiras de pensar e encoraja-nos a questionar as premissas fundamentais sobre as quais representamos a realidade diária. A alegoria de Platão chama atenção para pontos cegos na percepção consciente. Mas, como veremos, a maneira como construímos a realidade da vida organizacional também tem muitas dimensões inconscientes. Quando exploramos este reino, a imagem de uma prisão psíquica assume um novo caráter. 1.5 A organização e a sexualidade reprimida: Frederick Taylor é o pai da Administração Cientifica, como um homem bastante e constantemente preocupado, com a ideia de controlo, onde tudo o que faziaera programado e planejado, ao íntimo pormenor. Desta forma, a vida que Taylor levou, veio fornecer uma ilustração esplêndida, de como as apreensões e inquietudes, inconscientes ou conscientes, podem ter efeitos na organização. Numa perspectiva Freudiana, “o caso Taylor representa uma ilustração clássica do tipo de personalidade anal-compulsiva” (MORGAN, Gareth 1996: p. 210). Não obstante, o Taylorismo ter tido impacto, uma vez que as suas ideias preconizaram perfeitamente aos interesses das organizações da época, em que postura perante estas, resultou em “uma inovação nos meios de produção que tiveram impacto social mais amplo” (MORGAN, Gareth 1996: p. 211). Morgan recorre a Freud para justificar os seus estudos e afirmações. Freud acreditava que as crianças tipicamente se desenvolvem através de diferentes fases da sexualidade e que experiências difíceis poderiam levar a variadas formas de repressão que ressurgiriam disfarçadas mais tarde na vida adulta, em que este, tinha uma visão sobre a sexualidade bastante abrangente, envolvendo todos os tipos de desejos e de apreciações libidinais, como por exemplo, orais, anais, fálicas ou genitais. Tal como se observa no mundo das organizações, cada vez mais se torna possível reconhecer as variadas maneiras pelas quais a sexualidade reprimida pode determinar as atividades do dia-a-dia. Vários são os exemplos destes mecanismos de defesa Freudianos, como por exemplo, repressão, negação, fixação P á g i n a | 5 deslocamento, entre outros. Impulsos sexuais e fantasias influem as organizações e as suas políticas, em que comportamentos neuróticos determinam atos compulsivos e outras formas de representação paranoicas, masoquistas e compulsivas do ambiente e relações de trabalho. Estas influências inconscientes são e estão diretamente ligadas às personalidades dos indivíduos que fazem de cada uma das organizações. Importante, porém é reconhecer que o sentido e os efeitos da sexualidade reprimida vão além do carácter do indivíduo. As organizações não são condicionadas somente pelos seus respectivos ambientes, são também adaptadas pelos interesses inconscientes dos seus membros e pelas forças inconscientes que determinam as sociedades nas quais elas existem. Interessante será a ideia de que a organização é uma forma de sexualidade reprimida, uma vez, e de acordo com a perspectiva de Freud, a ordem social desenvolve-se ao longo da repressão da libido. 1.6 Como as pessoas tornam-se prisioneiras de suas próprias prisões: Através da resistência de buscar o novo, preferindo permanecer nas mesmas atitudes e hábitos. Resistindo ao enfrentamento dos novos riscos, pois desta forma estarão saindo da rotina do seu dia a dia; E isso ocorre frequente mente nas organizações. CONCLUSÃO: em particular MORGAN (1996); considera que a metáfora das prisões psíquicas é uma cilada que os homens criam para si mesmos, também ocorrendo nas organizações em que as pessoas se tornam prisioneiras das ideias, imagens, pensamentos e ações que são considerados como fenômenos psíquicos, processo estes que são considerados pelo consciente e inconsciente. REFÊRENCIAS MORGAN, Gareth; Imagens da Organização, editora Atlas, 1996. SALGADO, Alana da Mota; SERIQUE, Elias Leopoldo; ARRUDA, Etiane Maria Borges; MACÊDO, Maria de Fátima de Alencar. As Organizações sob a Metáfora das Prisões Psíquicas; Adcontar, Belém, V.2, nº 1, p. 37-40, maio 2001.
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