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DESPESA PUBLICA

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AULA_6_7 
DESPESA PÚBLICA, A EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO E RESPONSABILIDADE 
FISCAL. Texto adaptado 
A Despesa pressupõe autorização legislativa (prévia ou não), renovada anualmente, a qual fixe, 
monetariamente, o limite de crédito conferido aos executores do orçamento, por meio da denominada 
dotação orçamentária. 
A definição da despesa e do montante de gastos, decorrem de uma decisão política, a qual, considerando 
diversos fatores de natureza econômica, social, cultural e histórica, delineia as funções e determina o modelo 
de atuação estatal. De fato, a despesa pública é o instrumento de que se vale o Poder Público moderno para 
realizar os serviços públicos tendentes a satisfazer as necessidades coletivas, fixadas pelo processo político 
como finalidades do Estado (ex: saúde, segurança, educação etc). Corresponde à aplicação de certa quantia 
em dinheiro por parte da autoridade ou agente público competente. 
1 AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA 
A realização da despesa orçamentária perpassa e se estende, em termos gerais, pelas seguintes fases: 
1) planejamento da despesa e a previsão no orçamento ou em créditos adicionais, consignado dotação 
orçamentária própria; 
2) a realização do procedimento licitatório nas hipóteses determinadas em lei, ressalvados os casos de sua 
inexigibilidade, dispensa ou inaplicabilidade (matéria pertinente aos atos administrativos); 
3) o empenho; 
4) a liquidação; 
5) o pagamento e o 
6) controle e a avaliação. 
 
1.1 O empenho da despesa 
O empenho consiste na reserva de dotação orçamentária para um fim específico, ou seja, é o “ato emanado 
de autoridade competente que cria para o Estado a obrigação de pagamento pendente ou não de implemento 
de condição” (artigo 58 da Lei n° 4.320/64). 
Consoante o disposto no artigo 60 da Lei n° 4.320/64, é vedada a realização de despesa sem prévio 
empenho, o qual não pode exceder o limite dos créditos concedidos e as dotações disponíveis. Ressalte-se, 
entretanto, a possibilidade do empenho ser contemporâneo à realização de despesa, e não prévio, na 
hipótese de urgência, conforme previsto no parágrafo único do artigo 24 do Decreto Federal n° 93.872/86. 
Do empenho extrai-se a denominada Nota de Empenho, a qual indicará o nome do credor, a representação 
e a importância da despesa, simbolizando, também, o ato que formaliza a dedução do gasto do saldo 
existente da respectiva dotação. Ou seja, ao realizar o empenho já é abatido o montante da despesa da 
dotação orçamentária própria (prevista no orçamento), tornando-o indisponível à nova utilização. Saliente-
se, entretanto, ser possível o reforço de empenho já realizado, em face de sua eventual insuficiência. Ele 
pode ainda ser anulado, total ou parcialmente, hipótese em que o montante respectivo é revertido à dotação 
disponível. Conforme será analisado abaixo, a despesa pode ser ou não liquidada e paga no mesmo 
exercício financeiro no qual ocorre o empenho a ela relacionado. 
A legislação, em casos especiais, pode dispensar a emissão da nota de empenho — mas não o empenho em 
si —, como no caso das despesas de caráter continuado, o que ocorre com as despesas de pessoal, encargos 
sociais e, ainda, de sentenças judiciais, juros e encargos da dívida, etc. 
Esse estágio da despesa pode ser subdividido em três etapas: 
1) a autorização, na qual o ordenador manifesta a aquiescência com a despesa, ou seja, é o ato formal da 
autoridade competente que permite a realização do gasto, em função do reconhecimento de dívida, do 
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suprimento de fundo ou da autorização de pagamento; 
2) a indicação da modalidade de licitação, sua inaplicabilidade, dispensa ou inexigibilidade; e 
3) a emissão da nota de empenho, ato pelo qual é formalizada a sua realização e comprovada a dedução do 
valor da despesa do saldo disponível na dotação orçamentária respectiva, nos termos já salientados. 
Considerando, ainda, a adoção do sistema informatizado de administração financeira pela União e diversas 
unidades federadas, pode-se apontar em algumas circunstâncias, também, uma fase antecedente ao próprio 
empenho, momento no qual é extraído um documento designado de pré-empenho, por meio do qual o gestor 
público reserva determinada dotação e registra o compromisso assumido. 
Diversos dispositivos da citada Lei de Responsabilidade Fiscal tratam do empenho e da sua limitação, tais 
como: 
a) o artigo 4°, o qual estabelece que lei de diretrizes orçamentárias deve dispor, também, sobre critérios e 
forma de limitação de empenho; 
b) o artigo 9°, que trata da hipótese da realização da receita não comportar o cumprimento das metas de 
resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, caso em que os Poderes e o 
Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, 
limitação de empenho e movimentação financeira; 
c) o artigo 42, que veda ao titular de Poder ou órgão referidos na lei, nos últimos dois quadrimestres do seu 
mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha 
parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este 
efeito; 
d) o artigo 65, que estabelece a dispensa de limitação de empenho e do atingimento dos resultados fiscais, 
no caso de ocorrência de calamidade pública, enquanto perdurar a situação, assim reconhecida pelo 
Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas Casas Legislativas, na hipótese dos Estados (Assembleias 
Legislativas) e Municípios (Câmaras Municipais). Saliente-se, ainda, que o empenho e a licitação de 
serviços, o fornecimento de bens ou a execução de obras têm como requisito necessário, na hipótese da 
criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental, que acarrete aumento da despesa: a 
apresentação da estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e 
nos dois subsequentes; e de declaração do ordenador da despesa no sentido de que o aumento tem adequação 
orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei 
de diretrizes orçamentárias (artigo da 16 LRF). Também se submete à limitação de empenho o ente da 
Federação que possuir dívida consolidada maior do que o respectivo limite nos termos fixados na Resolução 
n° 40/2001 do Senado Federal e no artigo 31 da LRF, matéria que será estudada na aula pertinente ao 
Crédito e a Dívida Pública. 
Efetivado o empenho da despesa, por meio do qual é reservado e deduzido o montante necessário da dotação 
orçamentária, é assumida a obrigação por parte do Estado. 
1.2 A liquidação 
Realizada a entrega do bem, ou prestado o serviço pelo contratado, processa-se a denominada liquidação, 
aqui qualificada como a segunda etapa da realização da despesa, a qual consiste na verificação do direito 
adquirido, ou não, pelo credor junto ao Estado, tendo por base os títulos e os documentos comprobatórios do 
respectivo crédito. Ou seja, é a etapa em que a autoridade pública deve comparar o que foi contratado e o 
que foi efetivamente entregue ou realizado, o que pode tornar líquido e certo o direito do credor em face da 
Fazenda Pública. A regular liquidação é fase necessária à realização do pagamento da despesa, nos termos 
artigo 62 da Lei n° 4.320/64, e que possui diversos elementos de aferição, tais como: o contrato, o ajuste ou 
acordo respectivo, a nota de empenho, os comprovantes da entrega de material ou da prestação efetiva do 
serviço, isto é, os títulos e documentos comprobatórios dos respectivos créditos. Cabe mencionar, entretanto, 
que o cumprimento dos requisitos de natureza formal não é suficiente à comprovação do direito do credor,3 
vez que os princípios da economicidade e da legitimidade, estampados no artigo 70 da CR-88, exigem mais 
do que a simples verificação do atendimento formal por parte do contratado. De fato, impõe-se que a 
autoridade responsável pela liquidação ateste que o objeto do contrato foi realizado nos termos da 
especificação acordada, podendo fazer, se necessário, a verificação in loco de obra, de prestação de serviço 
ou mesmo fornecimento de bens, ou seja, é dever daquele que realiza e afere a liquidação identificar se 
houve, ou não, o implemento das condições previamente fixadas, o que determina se o credor realmente 
faz jus ao pagamento. 
A fase de liquidação deve comportar a verificação in loco do cumprimento da obrigação por parte do 
contratante. Foi a obra, por exemplo, construída dentro das especificações contratadas? Foi o material 
entregue dentro das especificações estabelecidas no edital de concorrência ou de outra forma de licitação? 
Foi o serviço executado dentro das especificações? O móvel entregue corresponde ao pedido? E assim por 
diante. Trata-se de uma espécie de auditoria de obras e serviços, a fim de evitar obras e serviços fantasmas. 
Este aspecto da liquidação é da mais transcendente importância no caso das subvenções, exatamente para 
evitar o pagamento de subvenções e auxílios a entidades inexistentes. O documento de liquidação, portanto, 
deve refletir uma realidade objetiva. 
1.3 O pagamento 
Chega-se ao pagamento, que é o terceiro estágio da despesa e consiste na entrega dos valores referentes à 
dívida líquida e certa ao credor, mediante a devida quitação, podendo ser efetuado por tesouraria ou 
pagadoria regularmente instituídos por estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, 
por meio de adiantamento. 
A ordem de pagamento, que pode ser efetivada por meio de ordem bancária, cheque nominativo ou pelo 
regime de adiantamento, também denominado de suprimento de fundos ou suprimento individual, é o 
despacho exarado pelo ordenador determinando que a despesa seja paga, ato sempre realizado por meio de 
documentos processados pela contabilidade. 
O pagamento aos credores pode ser efetivado durante a execução orçamentária na qual a despesa foi prevista 
e realizada, mas também pode ocorrer o encerramento do exercício financeiro com despesas já 
empenhadas, porém ainda não pagas. 
As despesas empenhadas e não pagas no exercício, intituladas de Restos a Pagar, consubstanciam parte da 
denominada dívida flutuante e podem ser segmentadas em dois grupos, consoante o disposto no artigo 36 
da Lei n° 4.320/64: 
1) aquelas não liquidadas, assim denominadas de “não-processadas”, as quais darão ensejo aos 
denominados “Restos a Pagar não-processados”, caracterizados pelo não adimplemento da obrigação 
assumida pelo credor e/ou o não reconhecimento pelo poder público do cumprimento das condições 
acordadas (a prestação do serviço, a entrega da coisa, etc.) e 
2) as despesas empenhadas e liquidadas, qualificadas como “processadas”, ou seja, aquelas em que se 
verifica o cumprimento da obrigação por parte do credor, as quais serão inscritas ao final do exercício como 
“Restos a Pagar processados”. 
A relevância desta subdivisão está relacionada à necessidade de a Administração realizar a previsão dos 
recursos a serem destinados ao pagamento durante o exercício, a já mencionada programação financeira de 
desembolso. De fato, considerando que os Restos a Pagar processados passaram por todo o rito da 
liquidação devem ter prioridade quando da realização da programação de desembolso, posto já estar 
configurado o direito do credor. Cabe salientar, ainda, que existe a possibilidade de determinada despesa de 
um exercício somente ser reconhecida posteriormente, quando já encerrado o ano, não tendo havido o 
empenho na época própria. Neste caso, ao contrário dos Restos a Pagar, processados ou não processados, 
não há empenho no exercício financeiro pertinente, razão pela qual será, no futuro, denominada de “despesa 
de exercícios anteriores”. 
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Cabe agora fazer uma breve recapitulação do que foi apresentado até esse momento, a fim de que se possa 
avançar na análise dos Restos a Pagar. 
Fixada a despesa no orçamento, esta pode ser empenhada até o limite da dotação orçamentária 
correspondente ou dos créditos adicionais, salvo as limitações de empenho já mencionadas. Uma vez 
realizado o empenho, pode ocorrer: 
1) o reforço de sua dotação, caso demonstre-se insuficiente à realização da despesa; 
2) a anulação do empenho durante o exercício, na hipótese de configurada a desnecessidade do gasto (total) 
ou o seu excesso (parcial), ou, ainda, caso a despesa não seja liquidada até o final do exercício, salvo as 
exceções previstas no artigo 35 do Decreto Federal n° 93.872/86; 
3) a liquidação da despesa, caso verificado o implemento de todas as condições previamente fixadas no ato 
que estabelece o vínculo jurídico e a obrigação do credor, podendo ocorrer ainda durante o transcurso do 
mesmo exercício financeiro o pagamento, ou não; 
4) o encerramento do exercício sem que a despesa empenhada tenha sido liquidada. Na hipótese de ser 
efetuado o pagamento no próprio exercício financeiro do empenho e da liquidação não há qualquer impacto 
para o exercício financeiro subsequente. Em sentido diverso, a despesa empenhada e não paga no exercício 
financeiro, liquidada ou não, será inscrita em Restos a Pagar para o período seguinte, sendo designada como 
“processada” caso já liquidada e “não processada” na hipótese contrária. 
Veja-se na ilustração abaixo: 
 
Ordenar ou autorizar a inscrição de despesas não empenhadas em Restos a Pagar consubstancia crime, 
tipificado no artigo 359-B do Código Penal, submetendo o infrator à pena de detenção de seis meses a dois 
anos. 
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“Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover o cancelamento do montante de Restos a Pagar inscrito em 
valor superior ao permitido em lei” é enquadrado como crime pelo artigo 359-F do Código Penal. 
No que se refere à possibilidade de cancelamento dos Restos a Pagar não liquidados no exercício (Exercício 
financeiro X2), merece destaque a posição definida no já citado Manual de Despesas Públicas — Minuta 
para discussão pública, quanto: 
Para os Restos a Pagar processados, ou seja, aqueles que já passaram pela fase da liquidação, quando já foi 
entregue o bem ou mercadoria pelo fornecedor, não há que se falar em cancelamento do resto a pagar, pois 
já houve a verificação do direito adquirido pelo credor, podendo ocorrer somente a baixa da obrigação pelo 
pagamento ou prescrição do direito do credor. 
Assim, somente o Resto a Pagar não processado no exercício, assim definido como aquele não liquidado, 
pode ser objeto de cancelamento. 
Em dezembro de 2011, o Decreto no 7.654 alterou a redação do artigo 68 do Decreto no 93.872/1986, para 
determinar novas regras quanto aos restos a pagar não processados. A partir de 2012, a inscrição prevista 
como restos a pagar não processados é condicionada à indicação pelo ordenador de despesas e, se não 
liquidados posteriormente, terão validade, como regra geral, até 30 de junho do segundo ano subsequente 
ao de sua inscrição. Entretanto, há exceções a essa regra, pois, de acordo com a nova sistemática, não 
perdem a validade em 30 de junho os restos a pagar não processados que referentes às despesas executadas 
diretamente pelos órgãos e entidades da União ou mediante transferência ou descentralização aos Estados, 
Distrito Federal e Municípios, com execução iniciada até aquela data (30 de junho) ou sejam relativos às 
despesas do Programa de Aceleração do Crescimento — PAC, do Ministério da Saúde ou do Ministério da 
Educação financiadas com recursos da Manutenção e Desenvolvimentodo Ensino. Procurou-se, dessa 
forma, fixar parâmetros objetivos para a validade dos restos a pagar não processados. 
7.2 AS CLASSIFICAÇÕES DA DESPESA PÚBLICA 
A despesa pública também pode ser examinada sob diversas perspectivas e classificada por critérios 
diversos. A execução da despesa orçamentária nem sempre causa um impacto patrimonial simultâneo, razão 
pela qual também se pode falar em enfoque patrimonial distinto do ponto de vista orçamentário da despesa. 
O Manual de Despesa Nacional estabelece a codificação das despesas sob variados critérios e contempla, 
ainda, os conceitos a serem observados em sua contabilização bem como a correlação da destinação da 
receita com a fonte de financiamento da despesa. 
No mesmo sentido, serão examinadas neste tópico apenas aquelas mais relevantes e que sejam importantes 
para o que será estudado a seguir. 
Entre outras, as despesas podem ser classificadas quanto: 
1) à sua natureza em face do orçamento; 
2) à sua categorização sob o ponto de vista econômico-orçamentário, geralmente denominada de 
classificação “por natureza”; 
3) à sua vinculação aos programas e ações governamentais, designada como “programática”; 
4) às funções de governo, denominada de funcional; 
5) aos efeitos sobre o patrimônio líquido do ente público; 
6) ao ente federado que efetiva a despesa ou ao qual a entidade responsável pelo dispêndio está vinculada; e 
7) à instituição que a realiza. 
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Impõe-se, nesses termos, o exame individualizado de algumas classificações, ainda que de forma breve: 
1) A despesa quanto à sua natureza em face do orçamento subdivide-se em: 1.1) despesas orçamentárias e 
1.1) As despesas orçamentárias são aquelas previstas expressamente na LOA ou em créditos adicionais e se 
referem, em regra, àqueles gastos incorridos no exercício;
 
1.2) As despesas de caráter extra-orçamentário do exercício financeiro são aquelas que não constam 
expressamente no orçamento inicial e podem ser subdivididas em três grupos:
 
a) as saídas de recursos que ingressaram transitoriamente nos cofres públicos sem que o desembolso suscite 
a necessidade de autorização orçamentária, como as devoluções dos designados ingressos extra 
orçamentários, assim denominados posto não pertencerem ao órgão público, como é o caso dos depósitos e 
cauções — matéria a ser examinada na aula sobre as receitas públicas; 
b) pagamentos que não necessitam de autorização orçamentária para serem realizados, como aqueles 
autorizados de forma genérica na lei orçamentária, na lei de crédito adicional ou lei específica, mas sem a 
previsão do montante ou mesmo de sua efetiva realização, como o resgate de operações de crédito por 
antecipação de receita(ARO), questão a ser estudada na aula pertinente ao Crédito e a Dívida Pública; 
c) os denominados Restos a Pagar correspondem às despesas incorridas em determinado exercício e somente 
paga, em geral, no ano subsequente, isto é, são aquelas empenhadas mas não pagas no próprio exercício em 
que se realiza o empenho da despesa, constituindo-se em dívida flutuante a ser objeto de desembolso, em 
regra, no exercício seguinte. 
2) A despesa orçamentária quanto à sua categorização sob o ponto de vista econômico, denominada de 
classificação “por natureza”, segmenta o gasto em despesa 
2.1) despesas correntes, que se referem àquelas despesas orçamentárias destinadas ao funcionamento e 
manutenção dos serviços públicos, prestados direta ou indiretamente pela Administração, e que não geram 
qualquer aumento do patrimônio público posto estarem vinculadas às: 
a) despesas de custeio da máquina administrativa, assim qualificadas as dotações para manutenção de 
serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens 
imóveis, nelas se incluem despesas com pessoal, material etc, as quais se caracterizam por haver 
contraprestação direta em razão da despesa realizada; ou 
b) transferências correntes, que equivalem às dotações destinadas ao pagamento de despesas para as quais 
não há contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a 
atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado. Nelas se incluem as subvenções 
(transferências destinadas a cobrir despesas de custeio de outras entidades) sociais e econômicas, despesas 
com inativos, pensões, transferências intergovernamentais e os juros da dívida contratada. 
2.2) despesas de capital, que se conecta ao conceito de investimento do setor público, uma vez que 
constituem gastos para aquisição ou constituição de bens de capital, que contribuirão para a produção de 
novos bens e serviços, gerando apenas uma mutação patrimonial, pois essa despesa não reduz a situação 
líquida do patrimônio. São divididas em I) Investimentos, II) Inversões Financeiras e III) Transferências de 
capital de acordo com o artigo 12, § 4o, § 5o e § 6o, da Lei n° 4.320/64. 
I) Os investimentos são as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive aquelas destinadas 
à aquisição de imóveis necessários à sua realização, como, por exemplo, as obras públicas, serviços em 
regime de programação especial, equipamentos e instalações, material permanente e participação em 
constituição ou aumento de capital de empresas que não seja de caráter comercial ou financeiro. 
II) As inversões financeiras são despesas de capital capazes de produzir renda para o Estado. São 
subdivididas em: (a) aquisições de imóveis ou bens de capital já em utilização; (b) aquisições de títulos 
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representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie; e (c) constituição ou aumento do 
capital de empresas que visem objetivos comerciais ou financeiros. 
III) As transferências de capital são as dotações orçamentárias para investimentos ou inversões financeiras 
que outras pessoas de direito público ou privado realizarão, independentemente de contraprestação direta em 
bens ou serviços. Essas transferências constituem auxílios ou contribuições, caso derivem diretamente da lei 
do orçamento ou de lei específica anterior, assim como as dotações para amortização da dívida pública. 
7.3 AS DESPESA PÚBLICA E A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL 
A Lei Complementar 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), com o objetivo de garantir o controle 
das receitas e dos gastos públicos pela sociedade, dedica um capítulo inteiro (artigo 48 a 59) sobre a 
transparência, controle e fiscalização da atividade financeira da Administração Pública. Ainda, no que se 
refere especificamente às despesas públicas, estabelece, no Capítulo IV (art. 15 a 24), importantes limitações 
à sua realização e reconhece a nulidade daquelas que não prestarem observância às suas disposições (art. 
15). 
Destacam-se, além daquelas já especificadas no que se refere à limitação do empenho (art. 9º, por exemplo), 
as suas disposições sobre a Lei Orçamentária Anual (LOA): 
1) que exigem um planejamento prévio de todas as receitas e as despesas referentes ao ano seguinte (artigo 
5º); 
2) a exigência de uma estimativa de impacto financeiro para os três primeiros anos da implementação de 
atividades governamentais que acarretem o aumento de despesa (artigo 16, I); 
3) a proibição que o titular de Poder ou órgão referido no art. 20 da lei, nos últimos dois quadrimestres do 
seu mandato, venha a contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, 
ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa 
para este efeito (artigo 42), 
4) os limites da dívida pública (artigos 30 e 31), a serem estudados na próxima aula e, ainda, 
5) as limitações das despesas com pessoal (artigo 19),matéria a ser estudada a seguir. 
As despesas com pessoal e encargos sociais são disciplinadas pela Constituição e legislação complementar, 
normas que preveem como regra geral a estabilidade dos servidores públicos, regime de vinculação 
estatutário que visa à proteção da própria sociedade. Apesar de justificativas ponderáveis no sentido da 
existência desse regime jurídico diferenciado, essa característica estabelece baixíssimo grau de 
discricionariedade dessa despesa, como ocorre também com os encargos da dívida. A contenção dos gastos 
públicos nesta área tem sido uma das grandes preocupações nacionais. Nesse sentido, o artigo 169 da CR-88 
dispõe sobre a despesa com pessoal ativo e inativo dos entes públicos, prevendo que lei complementar 
determinará limites para os gastos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. 
A Lei Complementar no 101/00 disciplina a matéria, definindo o conceito de despesa de pessoal, 
estabelecendo como parâmetro dos limites dos gastos a denominada receita corrente líquida, fixando, no 
seu artigo 19, os percentuais por ente federado, e, no artigo 20, determinando a discriminação do limite entre 
o Poder Executivo, Legislativo, (neste incluído o Tribunal de Contas), Judiciário e o Ministério Público. No 
artigo 2º, IV e §§ § 1º 2º e 3º a LRF estabelece o conceito da receita corrente líquida, para os efeitos da lei, 
nos seguinte termos: 
IV — receita corrente líquida: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, 
agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos: 
a) na União, os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação constitucional ou legal, e as 
contribuições mencionadas na alínea a do inciso I e no inciso II do art. 195, e no art. 239 da Constituição; 
b) nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional; 
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c) na União, nos Estados e nos Municípios, a contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência 
e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira citada no § 9
o 
do art. 201 da Constituição. 
§ 1
o 
Serão computados no cálculo da receita corrente líquida os valores pagos e recebidos em decorrência da Lei 
Complementar n
o 
87, de 13 de setembro de 1996, e do fundo previsto pelo art. 60 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias. 
§ 2
o 
Não serão considerados na receita corrente líquida do Distrito Federal e dos Estados do Amapá e de Roraima os 
recursos recebidos da União para atendimento das despesas de que trata o inciso V do § 1
o 
do art. 19. 
§ 3
o 
A receita corrente líquida será apurada somando-se as receitas arrecadadas no mês em referência e nos onze 
anteriores, excluídas as duplicidades. 
 
Cabe salientar que o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade (342 votos favoráveis), 
em 28/05/2008, o Projeto de Lei Complementar no 132/07, do Poder Executivo, que altera a LRF, para 
evitar que um ente federado seja penalizado pelo descumprimento dos limites de despesas de pessoal por 
parte de algum órgão ou Poder de sua estrutura política. A LRF determina que, caso o limite seja excedido, 
isso deverá ser corrigido em dois quadrimestres. Não alcançada a redução, o ente federativo não poderá 
receber transferências voluntárias e obter garantia, direta ou indireta, de outro ente ou contratar operações de 
crédito, ressalvadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das 
despesas com pessoal. De acordo com a justificativa do governo, a atual redação da lei estende essas 
restrições a todos os poderes e órgãos de determinado ente da Federação, ainda que somente um único órgão 
ou Poder não esteja observando os limites máximos de despesa de pessoal. Assim, os impedimentos são 
aplicados mesmo que, no conjunto, o limite total da despesa com pessoal esteja sendo observado. De fato, as 
sanções do art. 23, § 3o, da Lei Complementar no 101 de 2000 são aplicadas ao ente federativo, ainda que, 
agregadamente, o limite de despesa com pessoal esteja sendo observado. A matéria agora está sob o crivo do 
Senado Federal. Saliente-se, ainda quanto à matéria, que o plenário do Supremo Tribunal Federal, em 
13/11/2008, conforme noticiado no Informativo n°528: 
referendou decisão proferida pelo Min. Celso de Mello, que deferira medida liminar, em ação cautelar, da 
qual era relator, para suspender as limitações impostas ao Distrito Federal, em especial ao seu Poder 
Executivo, quanto à obtenção de garantias diretas, indiretas e aval de outros entes e à contratação de 
operações de crédito em geral (Lei Complementar 101/2000, art. 23, § 3º, I, II e III). Na espécie, o Distrito 
Federal solicitara à Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda autorização para realizar 
operação de crédito com organizações internacionais e bancárias, a qual fora indeferida ao fundamento de 
ter sido descumprida a Lei de Responsabilidade Fiscal no que se refere ao limite percentual de gastos do 
Poder Legislativo local. Entendeu-se que estariam presentes os requisitos autorizadores da concessão da 
medida liminar pleiteada. Considerou-se que a plausibilidade jurídica da pretensão encontraria fundamento 
em precedentes do Supremo, nos quais fixada a orientação de que o postulado da intranscendência impede 
que sanções e restrições de ordem jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Por sua vez, 
o periculum in mora estaria configurado porque a negativa da autorização inviabilizaria a iminente obtenção 
do crédito internacional que vem sendo negociado entre o BIRD e o Distrito Federal, que não disporia, em 
razão disso, dos necessários recursos para implementação dos programas pretendidos, o que se daria em 
prejuízo manifesto a sua população. Observou-se, ademais, que, no caso, o Distrito Federal teria se adstrito 
aos limites global e individuais estabelecidos nos artigos 19 e 20 da LC 101/2000, dispositivos declarados 
constitucionais pela Corte, e que, na verdade, haveria um conflito interno entre a Câmara Legislativa e o 
Tribunal de Contas do Distrito Federal. 
No mesmo sentido se posicionou o relator da Ação Cautelar 2650, conforme revela a notícia apresentada no 
sítio do STF: 
Terça-feira, 06 de julho de 2010 
STF livra Executivo gaúcho de sanção por suposto descumprimento de limite de gastos com pessoal do 
Judiciário 
Liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski na Ação Cautelar (AC) 
2650 suspendeu restrição imposta pela União ao estado do Rio Grande do Sul por suposto descumprimento da Lei de 
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Responsabilidade Fiscal (LRF), abrindo espaço para o estado contratar dois empréstimos no valor de, 
respectivamente, US$ 60 milhões e R$ 15 milhões. 
A restrição foi aplicada pela União por alegada extrapolação dos limites legais para despesa com pessoal do Poder 
Judiciário e do Ministério Público estaduais nos quatro últimos quadrimestres (exercícios de 2008, 2009 e primeiro 
quadrimestre de 2010). 
Na AC, o governo gaúcho alega que o Poder Executivo vem atendendo aos limites previstos na LRF para as despesas 
com pessoal. Por outro lado, alega que a restrição imposta atinge diretamente o Poder Executivo e seus cidadãos, vez 
que o estado fica impossibilitado de implementar programas e projetos destinados ao aprimoramento da gestão 
administrativa e tributária, bem como do contencioso fiscal e da administração financeira, fundamentais para o 
desenvolvimento do estado. 
Alega, também, perigo na demora da decisão, pois o prazo para contratar o primeiro empréstimo mencionado estaria 
quase esgotado. 
Decisão 
Em sua decisão, o ministro Ricardo Lewandowski observouque o caso é semelhante ao contido na Ação Civil 
Ordinária (ACO) 1431, que envolvia a suspensão de empréstimos em vias de contratação pelo estado do Maranhão, 
pela extrapolação do limite de gastos pelo Ministério Público e pelo Poder Legislativo daquele estado. 
Naquele caso, o Plenário do STF entendeu que havia potencialidade de ofensa ao pacto federativo, ressaltando que o 
governo estadual não tem competência para intervir nas esferas do Poder Legislativo e do Ministério Público, por se 
tratarem de órgãos com autonomia institucional por determinação expressa da Constituição Federal (CF). 
“Assim, parece-me também que não pode o Poder Executivo sofrer sanções em decorrência de descumprimento dos 
limites de gastos com pessoal pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público”, afirmou o ministro Ricardo 
Lewandowski. 
Assim, ele concedeu o pedido de liminar, determinando à União que “se abstenha de impedir a contratação de 
operações de crédito por parte do estado do Rio Grande do Sul, no que se refere tão somente à restrição de 
extrapolação dos limites legais fixados na LRF para despesas de pessoal por parte do Poder Judiciário e do Ministério 
Público”.

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