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Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 1 ESTABILIDADE DE TALUDES CONTEÚDO 1. Introdução...................................................................................................................................3 1.1. Exemplos ............................................................................................................................7 1.1.1. Taludes em Rocha ....................................................................................................7 1.1.2. Taludes em Solo........................................................................................................9 2. Tipos de movimentos de massa ...........................................................................................14 2.1. Escoamento .....................................................................................................................15 2.2. Subsidência e Recalques ..............................................................................................17 2.3. Escorregamentos ............................................................................................................18 2.4. Erosão ...............................................................................................................................19 2.5. Classificação dos Movimentos de Massa ...................................................................21 2.5.1. Quanto aos grupos..................................................................................................21 2.5.2. Quanto a velocidade ...............................................................................................23 2.5.3. Quanto a profundidade...........................................................................................24 3. Tipos de Escorregamento......................................................................................................25 3.1. Rotacional.........................................................................................................................25 3.2. Translacional ....................................................................................................................26 3.3. Misto: Rotacional e Translacional.................................................................................27 4. Causas Gerais dos Escorregamentos .................................................................................29 5. Conceitos Basicos Aplicados a Estudos de Estabilidade .................................................33 5.1. Água no Solo....................................................................................................................33 5.2. Pressão na água .............................................................................................................35 5.2.1. Região Não saturada ..............................................................................................35 5.2.1.1. Fenômeno da Capilaridade ...........................................................................36 5.2.1.2. Sucção ..............................................................................................................39 5.2.2. Condição Hidrostatica ............................................................................................41 5.2.3. Regime de Fluxo .....................................................................................................41 5.2.3.1. Problema unidimensional...............................................................................46 5.2.3.2. Problema Bidimensional ................................................................................47 5.3. Resistência ao Cisalhamento........................................................................................49 5.3.1. Solo não saturado ...................................................................................................52 6. Analises de Estabilidade ........................................................................................................55 6.1. Tipos de Análise ..............................................................................................................56 6.1.1. Analise de tensões ..................................................................................................56 6.1.2. Equilíbrio limite ........................................................................................................57 6.2. .Classificação Geotécnica das Análises de Estabilidade .........................................61 6.2.1. Quanto à condição critica ......................................................................................61 6.2.1.1. Influência da poropressão..............................................................................61 6.2.2. Quanto ao tipo de analise ......................................................................................65 6.2.2.1. Tensões efetivas .............................................................................................65 6.2.2.2. Tensões Totais ................................................................................................68 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 2 6.2.2.3. Tensões Totais x Efetivas ..............................................................................69 6.2.3. Quanto aos parâmetros de resistência ................................................................70 7. Métodos de Estabilidade........................................................................................................71 7.1. Taludes Verticais – Solos Coesivos .............................................................................72 7.1.1. Trinca de Tração .....................................................................................................72 7.1.2. Talude vertical..........................................................................................................73 7.2. Blocos Rígidos .................................................................................................................75 7.3. Talude Infinito ..................................................................................................................76 7.3.1. Ábaco de Duncan ....................................................................................................79 7.4. Superfícies Planares.......................................................................................................80 7.4.1. Método de Culman ..................................................................................................80 7.4.2. Caso geral ................................................................................................................82 7.4.3. Método das Cunhas ................................................................................................83 7.5. Superfície circular............................................................................................................87 7.5.1. Ábacos de Taylor ....................................................................................................87 7.5.2. Ábacos de Hoek e Bray..........................................................................................94 7.5.3. Método das Fatias.................................................................................................103 7.5.3.1. Método de Fellenius......................................................................................106 7.5.3.2. Método de Bishop .........................................................................................108 7.5.3.3. Presença da água .........................................................................................1117.5.3.4. Exemplos ........................................................................................................113 7.5.4. Ábacos de Bishop & Morgenstern ......................................................................115 7.5.4.1. Comentários Gerais ......................................................................................116 7.5.5. Ábacos de estabilidade para condição de rebaixamento rápido ...................122 7.5.6. Método de Spencer...............................................................................................123 7.6. Superfícies não circulares............................................................................................127 7.6.1. Método de Jambu..................................................................................................127 7.6.2. Método de Morgenstern & Price .........................................................................135 7.6.3. Método de Sarma..................................................................................................140 7.7. Comentários sobre os métodos de Equilibrio limite ................................................152 8. Métodos de EstabilizaçÃo de Taludes...............................................................................156 8.1. Evitação ou abandono..................................................................................................156 8.2. Escavação (reduz esforços instabilizantes)..............................................................158 8.3. Estruturas de contenção ..............................................................................................159 8.3.1. Muros de peso .......................................................................................................159 8.3.2. EStrurura Flexivel ..................................................................................................163 8.3.3. Solo reforçado........................................................................................................163 8.4. Drenagem .......................................................................................................................165 8.4.1. Superficial ...............................................................................................................165 8.4.2. Profunda .................................................................................................................167 8.5. Métodos especiais ........................................................................................................169 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 3 1. INTRODUÇÃO Analises de estabilidade têm como objetivo, no caso de: i) Encostas naturais: estudar a estabilidade de taludes, avaliando a necessidade de medidas de estabilização. ii) Cortes ou escavações: estudar a estabilidade, avaliando a necessidade de medidas de estabilização; corte escavação iii) Barragens: definir seção da barragem de forma a escolher a configuração economicamente mais viável. Neste caso são necessários estudos considerando diversos momentos da obra: final de construção, em operação, sujeita a rebaixamento do reservatório, etc. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 4 iv) Aterros: estudar seção de forma a escolher a configuração economicamente mais viável. Neste caso são necessários estudos considerando diversos momentos da obra: final de construção e a longo prazo. H D >> Hsolo mole v) Rejeitos (industriais, de mineração ou urbano): A exploração de minas (carvão, etc.) e a produção de elementos químicos (zinco, manganês, etc.) implica na necessidade de se desfazer ou estocar volumes apreciáveis de detritos ou rejeitos, muitas vês=zes em curto espaço de tempo e em áreas em que o solo ;e de baixa resistência (a) Jusante (b) Linha do Centro (c) Montante Figura 1. Técnicas de Alteamento Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 5 vi) Retro-analisar taludes rompidos (naturais ou construídos) possibilitando re- avaliar parâmetros de projeto. Figura 2.Escorregamento Lagoa (1988) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 6 Tipos de Taludes Figura 3. Tipos e formas geométricas de encostas (Chorley, 1984) Figura 4. Respostas geodinâmicas de encostas de acordo com a forma (Troeh, 1965) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 7 1.1. Exemplos 1.1.1. Taludes em Rocha Figura 5. Instabilidade de talude rochoso Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 8 (a) desmonte (b) contrafortes e tirantes Figura 6. Remediação por contrafortes e tirantes (GeoRrio) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 9 Figura 7 Estabilização do Corcovado durante e após a execução (fotos GeoRio) 1.1.2. Taludes em Solo Figura 8. Instablidade de talude (GeoRio) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 10 Figura 9. Salvador (2005) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 11 Figura 10. Deslizamento de lixo Pavão Pavãozinho (1983) (GeoRio) Figura 11. Estabilização com cortinas, tirantes, vegetação e retaludamento (GeoRio) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 12 Figura 12 Cerca flexível implantada na Estrada Grajaú-Jacarepaguá (foto GeoRio) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 13 (a) escada chumbada (b) Teleférico (c) Andaime chumbado Figura 13. Desafios de remediação (GeoRio) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 14 2. TIPOS DE MOVIMENTOS DE MASSA1 Os movimentos de massa se diferenciam em função de: 9 Velocidade de movimentação 9 Forma de ruptura A partir da identificação destes fatores, os movimentos de massa podem ser agrupados em 3 categorias: 9 escoamentos; 9 subsidências 9 escorregamentos. Por outro lado, as erosões, que também são movimentos de massa, muitas vezes não podem ser classificadas em um único grupo. Os mecanismos deflagradores dos processos erosivos podem ser constituídos de vários agentes, fazendo com que as erosões sejam tratadas separadamente. 1 GeoRio (2000). Manual de encostas Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 15 2.1.Escoamento Rastejo ou fluência Característica: Escorregamentos lentos e contínuos, sem superfície de ruptura bem definida, podendo englobar grandes áreas Causa: ação da gravidade associada a efeitos causados pela variação de temperatura e umidade O deslocamento se da quando se atinge a tensão de fluência, a qual é inferior a resistência ao cisalhamento vr vr < v v escorregamento escorregamento + rastejo rastejo Pode eventualmente ser observado em superfície mudando a verticalidade de arvores, postes, etc Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 16 Corridas Característica: Movimentos rapidos ( vel ≥ 10km/h) Em planta a corrida de terra se assemelha a uma língua Causa: Perda de resistência em virtude de presença de água em excesso (fluidificação) O processo de fluidificação pode ser originado por i) adição de água (areias) ii) esforços dinâmicos (terremoto, cravação de estacas, etc) iii) amolgamento em argilas muito sensitivas ( ) ( ) lgamofindf S ττ= Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 17 2.2. Subsidência e Recalques A subsidência por definição é o resultado do deslocamento da superfície gerado por adensamento ou afundamento de camadas, como resultado da remoção de uma fase sólida, liquida ou gasosa. Em geral envolve grandes áreas e as causas mais comuns são : 9 Ação erosiva das águas subterrâneas 9 Atividades de mineração 9 Efeito de vibração em sedimentos não consolidados 9 Exploração de petróleo 9 Bombeamento de águas subterrâneas Os recalques são movimentos verticais de uma estrutura, causados pelo peso próprio ou pela deformação do solo gerada por outro agente. As causas mais comuns são: 9 Ação do peso próprio 9 Remoção do confinamento lateral devido a escavações 9 Rebaixamento do lençol d’água Os desabamentos ou quedas são subsidências bruscas, envolvendo colapso na superfície. Quedas Característica: Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado Velocidades muito altas (vários m/s) Material rochoso Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 18 2.3. Escorregamentos Escorregamentos Definição: Movimentos rápidos ao longo de superfícies bem definidas Causas: O escorregamento ocorre quando as tensões cisalhantes se igualam a resistência ao cisalhamento; isto é mob fFS τ τ= =1 Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 19 2.4. Erosão À ação antrópica, tem sido o fator condicionante na deflagração dos processos erosivos, nas suas várias formas de atuação, como desmatamento e construção de vias de acesso, sem atenção às condições ambientais naturais. (a) ravinas (sem surgencia de água) (b) voçorocas (com surgência de água) Figura 14. Processos erosivos Futai e outros (2005)2 mostraram que o processo de evolução da voçoroca pode provocar escorregamentos sucessivos ( Figura 15), conforme indicam as seguintes fases: 2 Futai e outros (2005) Evolução de uma voçoroca por escorregamentos retrogressivos em solo não- saturado COBRAE, Salvador Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 20 9 a infiltração reduz a sucção do talude da voçoroca, que dependendo da duração e intensidade da chuva pode ocorrer um escorregamento; 9 após o período chuvoso o solo começa a secar e volta a ganhar resistência; 9 material coluvionar resultante do escorregamento é levado pelo próprio escoamento superficial das chuvas que causaram o escorragemento e principalmente pela exfiltração contínua no pé da voçoroca; 9 novas chuvas poderão causar novos escorregamentos. exfiltração de água exfiltração de água exfiltração de água exfiltração de água Escorregamento por perda de coesão aparente chuva ganho de resistência por secagem Solo carreado pela fluxo contínuo da água exfiltrada Descalçamento do pé do talude Novo Escorregamento por perda de coesão aparente chuva Fluxo sub-superficial Fluxo sub-superficial Fluxo sub-superficial Fluxo sub-superficial (a) (b) (c) (d) chuva Escoamento superficial Figura 15 Esquema da evolução do voçorocamento da Estação Holanda. 0 5 10 15 20 25 Tempo (dias) 0 0.5 1 1.5 2 Fa to r de s eg ur an ça E sc or re ga m en to e m ud an ça d e ge om et ria Ganho de resistência após ressecamento N ov o es co rr eg am en to Chuvas Chuvas se ca Figura 16. Variação do fator de segurança com o tempo A potencialidade do desenvolvimento de processos erosivos depende de fatores externos e internos, conforme mostrado na Tabela 1. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 21 Tabela 1. Fatores Condicionantes Fatores externos Potencial de erosividade da chuva Condições de infiltração Escoamento superficial Topografia (declividade e comprimento da encosta) Fatores internos Fluxo interno Tipo de solo desagregabilidade erodibilidade Características geológicas e geomorfológicas presença de trincas de origem tectônica evolução físico-química e mineralógica do solo Na gênese e evolução das erosões os mecanismos atuam de modo isolado ou em conjunto, fenômenos tais como: erosão superficial, erosão subterrânea, solapamento, desmoronamento e instabilidade de talude, além das alterações que os próprios solos podem sofrer em conseqüência dos fluxos em meio saturado e não saturado em direção aos taludes, tornando complexo o conhecimento dos mecanismos que comandam o processo erosivo ao longo do tempo. Consequentemente, em muitos casos, as tentativas de contenção de sua evolução. São muitas vezes infrutíferas. 2.5. Classificação dos Movimentos de Massa Existem diversas propostas de sistemas de classificação de movimentos, em que as ocorrências são agrupadas em função do tipo de movimento: rastejos ou fluência; escorregamentos; quedas e corridas ou fluxos. Nenhuma delas inclui processos erosivos (ravinas e voçorocas) 2.5.1. Quanto aos grupos A classificação proposta por Varnes (1978.)3. é a mais utilizada internacionalmente e esta mostrada na Tabela 2. A proposta de Augusto-Filho (1992)4. e bastante adequada para os casos brasileiros (Tabela 3). ] 3 Varnes, D.J. (1978). Slope moviment types and processes. In: Landslides Analysis and Control. Washington, National Academy of Sciences. 4 Augusto Filho, O. & Virgili, J.C. (1998). Estabilidade de taludes. In: Geologia de Engenharia. São Paulo, ABGE Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 22 Tabela 2 - Classificação dos movimentos de encostasegundo Varnes (1978) Tipo de material Solo (engenharia) Tipo de movimento Rocha Grosseiro Fino Quedas De rocha De detritos De terra Tombamentos De rocha De detritos De terra Rotacional Poucas unidades Escorregamentos Translacional Muitas unidades Abatimento e rocha De blocos rochosos De rocha Abatimento de detritos de Blocos de detritos De detritos Abatimento de terra De blocos de terra de Terra Expansões laterais De rocha De detritos De terra De detritos De terra Corridas/escoamentos De rocha (rastejo profundo) (Rastejo de solo) Complexos: combinação de dois ou mais dos principais tipos de movimentos Tabela 3 - Características dos principais grandes grupos de processos de escorregamento (Augusto-Filho, 1992) Processos Características do movimento, material e geometria Rastejo ou fluência Vários planos de deslocamento (internos) Velocidades de muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a profundidade Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada Geometria indefinida Escorregamentos Poucos planos de deslocamento (externos) Velocidades de médias (km/h) a altas (m/s) Pequenos a grandes volumes de material Geometria e materiais variáveis Planares ⇒ solos pouco espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza Circulares ⇒ solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas Em cunha ⇒ solos e rochas com dois planos de fraqueza Quedas Sem planos de deslocamento Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado Velocidades muito altas (vários m/s) Material rochoso Pequenos a médios volumes Geometria variável: lascas, placas, blocos etc. Rolamento de matacão Tombamento Corridas Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas à massa em movimentação) Movimento semelhante ao de um líquido viscoso Desenvolvimento ao longo das drenagens Velocidades de médias a altas Mobilização de solo, rocha, detritos e água Grandes volumes de material Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 23 Já o sistema de classificação de Magalhães Freire sugere que os movimentos sejam classificados em 3 tipos fundamentais, como mostra a Tabela 4 Tabela 4 - sistema de classificação de Magalhães Freire Nomenclatura Características Escoamento Corresponde a uma deformação ou movimento continuo com ou sem superfície definida. Dependendo do movimento, são classificados como • Rastejo ⇒ escoamento plástico • Corrida ⇒ escoamento fluido-viscoso Escorregamento Deslocamento finito ao longo de superfície bem definida Dependendo da forma, são definidos como • Rotacional • Translacional Subsidência Deslocamento finito ou deformação continua de direção essencialmente vertical Podem ser subdivididos em • Subsidência propriamente dita • Recalque • desabamento / quedas 2.5.2. Quanto a velocidade Quanto à velocidade os movimentos de massa podem ser classificados como Nomenclatura Velocidade Extramente rápido > 3m/s Muito rápido 0,3m/s a 3m/s Rápido 1,6m/dia a 0,3m/s Moderado 1,6m/mês a 1,6m/dia Lento 1,6m/ano a 1,6m/mês Muito lento 0,06m/ano a 1,6m/ano Extremamente lento < 0,06m/ano Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 24 Figura 17. Escala de velocidades de movimentos (Varnes) 2.5.3. Quanto a profundidade Quanto à profundidade os movimentos de massa podem ser classificados como Nomenclatura Profundidade Superficial < 1,5m Raso 1,5m a 5m Profundo 5m a 20m Muito profundo > 20m Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 25 3. TIPOS DE ESCORREGAMENTO Os escorregamentos são os movimentos de massa mais freqüentes e de conseqüências catastróficas. A forma da superfície de ruptura varia dependendo da resistência dos materiais presentes na massa. Tanto em solos como em rochas a ruptura se da pela superfície de menor resistência. 3.1. Rotacional Em solos relativamente homogêneos a superfície tende a ser circular. Caso ocorra materiais ou descontinuidades que representem com resistências mais baixas, a superfície passa a ser mais complexa, podendo incluir trechos lineares (Figura 18). A anisotropia com relação a resistência pode acarretar em achatamento da superfície de ruptura Figura 18.Superfícies de ruptura – escorregamento simples rotacioanal Os escorregamentos rotacionais podem ser múltiplos conforme mostra a Figura 19 e, na realidade, ocorrem sob forma tridimensional ( Figura 20) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 26 ( a) retrogressivo (b) progressivo (c) sucessivo Figura 19.. Escorregamento rotacional múltiplo. colher cilíndrica Figura 20.. Escorregamento tridimensional. 3.2. Translacional Os escorregamentos translacionais se caracterizam pela presença de descontinuidades ou planos de fraqueza (Figura 21) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 27 Figura 21.Superfícies de ruptura – escorregamento translacional Os escorregamentos translacionais podem ocorrer no contato entre colúvio e solo residual e até mesmo no manto de alteração do solo residual (Figura 22) Manto de alteracao Fendas embarrigamento Material resistente A A’ B’ B Figura 22. Escorregamento translacional em solo residual 3.3. Misto: Rotacional e Translacional Figura 23.Superfícies de ruptura simples –escorregamento misto Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 28 rotacional translacional rotacional translacional 1º. 1º. 2º. 2º. 3º. material mais resistente Progressivo Sucessivo Figura 24.Superfícies de ruptura múltiplas –escorregamento misto Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 29 4. CAUSAS GERAIS DOS ESCORREGAMENTOS5 A instabilidade do talude será deflagrada quando as tensões cisalhantes mobilizadas se igualarem à resistência ao cisalhamento (Figura 25); isto é Superfície potencial de ruptura τf τmobilizado Figura 25. Geometria do escorregamento mob fFS τ τ= =1 Esta condição pode ser atingida com o aumento das tensões cisalhantes mobilizadas ou pela redução da resistência. Varnes (1978) divide os mecanismos deflagradores em 2 grupos. A Tabela 5 propõe uma classificação adaptada Tabela 5. Fatores deflagradores dos movimentos de massa (adaptada de Varnes, 1978) Ação Fatores Fenômenos geológicos / antrópicos Remoção de massa (lateral ou da base) Erosão (Figura 26, Figura 27) Escorregamentos (Figura 28) Cortes Sobrecarga Peso da água de chuva, neve, granizo etc. Acúmulo natural de material (depósitos) Peso da vegetação Construção de estruturas, aterros etc. Solicitações dinâmicas Terremotos, ondas, vulcões etc. Explosões, tráfego, sismos induzidos Aumento da solicitação Pressões laterais Água em trincas (Figura 29) CongelamentoMaterial expansivo Características inerentes ao material (geometria, estruturas etc.) Características geomecânicas do material, Tensões Redução da resistência Mudanças ou fatores variáveis Intemperismo: redução na coesão, ângulo de atrito Variação das poropressões. (Figura 30, Figura 31) 5 Varnes, David J. Landslides, Analyses and Control, Special report 176, National Academy of Sciences, cap. II Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 30 (a) ação de águas (b) ação de ondas Figura 26. Remoção de massa - erosão lateral ou da base A percolação de água no interior da massa gera uma forca de percolação gerando o carreamento das partículas (piping) Figura 27. Remoção de massa - erosão subterrânea Tendência a novos escorregamemtos Remoção de suporte Figura 28. Remoção de massa - escorregamentos anteriores Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 31 Pressão de água na trinca NA Figura 29. Pressão lateral – água em trincas Diagrama de poropressão NA1 NA2 Diagrama de poropressão NA1 NA2 (a) rebaixamento lento (b) rebaixamento rápido Figura 30. Variação nas poropressões – rebaixamento do NA β NA mh β mh cosβ h hp= (mh cosβ)cosβ u = hpγw Figura 31. Variação nas poropressões – elevação do nível piezométrico Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 32 Figura 32. Variação nas poropressões – infiltração de água em trincas A cobertura vegetal pode produzir efeitos favoráveis ou desfavoráveis na estabilidade das encostas, por exemplo: 9 O sistema raticular pode atuar como reforço e/ou caminho preferencial de infiltração. 9 A presença da copa das arvores reduz o volume de água que chega à superfície do talude 9 Os caules das arvores geram um caminho preferencial de escoamento de água; 9 A cobertura vegetal aumenta o peso sobre o talude; etc. Apesar dos efeitos contrários, a retirada da cobertura vegetal é indiscutivelmente um poderoso fator de instabilização Com relação à ação antrópica, as principais modificações indutoras dos movimentos gravitacionais de massa são (Augusto-Filho, 1995): 9 Remoção da cobertura vegetal. 9 Lançamento e concentração de águas pluviais e/ou servidas. 9 Vazamentos na rede de abastecimento, esgoto e presença de fossas. 9 Execução de cortes com geometria incorreta (altura/inclinação). 9 Execução deficiente de aterros (geometria, compactação e fundação). 9 Lançamento de lixo nas encostas/taludes. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 33 5. CONCEITOS BASICOS APLICADOS A ESTUDOS DE ESTABILIDADE 5.1. Água no Solo6 A água é um dos fatores mais importantes em estudos de estabilidade. Na natureza a água pode e apresentar pressão positiva ou negativa e estar em movimento ou não (hidrostática) sob condição de fluxo. A influencia água na estabilidade pode ser atribuída a: 9 Mudança nas poropressões, alterando a tensão efetiva e, conseqüentemente, a resistência do solo 9 variando o peso da massa, em função de mudanças no peso especifico 9 Desenvolvimento de fluxo, gerando erosões internas e/ou externas 9 Atuando como agente no processo de intemperismo, promovendo alterações nos minerais constituintes O fluxo de água no terreno origina-se de muitas fontes, mas principalmente da chuva e da neve, como resultado do ciclo hidrológico, esquematicamente representado na Figura 33. Precipitação Infiltração Fluxo Superficial (Runoff) Fluxo Sub-superficial Interceptação Fluxo Interno Evapotranspiração Evaporação Figura 33. Ciclo hidrológico Parte do volume de água precipitado atinge diretamente o solo, parte cai em rios , lagos e mares, e parte é interceptada pela vegetação. Do volume de água que é interceptado pela vegetação, parte retorna para a atmosfera por evapotranspiração e o restante ou é absorvido pela própria vegetação ou cai no terreno. Do volume de água que cai na superfície do solo, parte infiltra e parte flui superficialmente (runoff) ou fica retido em depressões superficiais . A infiltração de água no solo altera as condições de umidade da região não saturada, podendo inclusive alterar a posição da superfície freática; dependendo da estratigrafia, chega a gerar um fluxo sub- 6 Abramsen, L. W.;Lee, T S; Sharma, S. e Boyce, G.M (1996) -0 Slope Stability and Stabilizations Methods. John Wiley & Sons, Inc Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 34 superficial. A equação que estabelece os componentes hidrológicos, denominada balanço hidrológico, pode ser expressa da seguinte forma: P Q E I W= + + + +Δ χ onde, P representa a precipitação total, Q o runoff, E a parcela perdida por evapotranspiração, ΔW a variação do nível do reservatório (rios, lagos e mares), I a variação de umidade do solo decorrente do processo de infiltração e χ perdas adicionais, que incluem interceptação pela vegetação e armazenamento parcial em depressões superficiais. Na maioria dos casos em que se identifica a presença de nível d´água, pode-se subdividir o perfil em 3 zonas, como mostra a Figura 34: 9 Região não saturada 9 Zona capilar 9 Região saturada Na região saturada a poropressão é positiva. Nas demais apresenta valores negativos, sendo denominada sucção. Figura 34. Sistema de água no solo Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 35 5.2. Pressão na água Como mostrado na Figura 34 a água presente no solo esta associada a uma determinada zona (saturada, capilar ou não saturada) fazendo com que a pressão na água possa variar entre positivos e negativos. A Figura 35 mostra as variações do grau de saturação com a profundidade em decorrência de processos de infiltração. A zona não saturada a pressão nan água é negativa e é denominada sucção. Na zona capilar, S= 100% mas as pressões na água são negativas como resultado das ações das tensões capilares Figura 35. Variações de umidade e de poropressão 5.2.1. Região Não saturada Em solos não saturados, a água preenche parcialmente os vazios e as tensões no fluido são negativas, denominadas sucção. Nestas condições o solo apresenta uma coesão aparente que pode ser alterada em virtude de variações na umidade. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 36 NA (a) poropressão positiva (b) poropressão negativa (sucção) Figura 36. Tensões na água A condição de não saturação do solo ocorre na camada acima do lençol freático. Nesta região, a umidade pode ser decorrente de processos de infiltração da água de chuva ou por ascensão através dos vazios (Figura 37). NA A B C u=z×γw hw Z poropressão 0 - + ψ=-z×γw ? região não saturada (capilaridade/ infiltração) saturado por capilaridade saturado(abaixo NA) Infiltração / evaporação Figura 37. Distribuição de poropressão 5.2.1.1. Fenômeno da Capilaridade O fenômeno de ascensão de fluidos através de tubos capilares é denominado de capilaridade. Os vazios de solo são pequenos e podem ser associados a tubos capilares, ainda que irregulares. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 37 Figura 38. Tubos capilares com diferentes raios de curvatura Um tubo capilar inserido numa superfície líquida forma um menisco (Figura 39), cujo raio de curvatura e altura de ascensão (h) são inversamente proporcionais ao diâmetro do tubo. A concavidade do menisco em direção ao fluido indica que pressão no interior do tubo é inferior à pressão atmosférica. No caso de tubos cilíndricos o menisco assume uma forma esférica, segundo as relações geométricas apresentadas na Figura 39. 2r α 2R cos R Pw Par α α (π−2α) h Ts Ts PwPar α NA Figura 39. Ascensão Capilar Este fenômeno físico é conseqüência da tensão superficial (Ts) que ocorre entre interfaces líquido-gás. Nesta interface, o líquido se comporta como se estivesse coberto por uma membrana elástica em um estado de tensão constante. Este estado de tensão é resultado de um desbalanceamento de forças de atração das moléculas de água presentes na superfície. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 38 Enquanto que no interior do líquido as forças de atração são isotrópicas, na superfície as forças em direção à fase líquida são maiores do que às ocorrem em direção à fase gasosa, causando uma contração da superfície do líquido (Figura 40). No caso da água pura, a uma temperatura de 20°C, seu valor é da ordem de 7.27x10-5 kN/m. Temperatura (oC) Tensão Superficial Ts (mN/m) 0 75,7 20 72,75 40 69,6 60 64,4 80 62,6 100 58,8 u (+) NA Figura 40. Tensão Superficial Quando existe uma diferença de pressão entre as 2 fases, a interface líquido-gás se torna curva, com concavidade voltada para a fase de menor pressão (Figura 39). Se, por exemplo, uma membrana elástica é colocada entre 2 células de ar a diferentes pressões, a membrana se encurvará na direção da célula de menor pressão. Similarmente, um líquido com uma interface côncava, com relação ao ar, está sob pressão inferior à atmosférica. Capilaridade nos solos A distribuição de poropressão é, portanto, função das condições ambientais e nível d’água. Consequentemente a sucção varia com o tempo. A sucção aumenta durante as épocas secas, em virtude da taxa de evaporação, e reduz nas épocas de chuva, face a processos de infiltração.(Figura 41) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 39 Figura 41. Variação das distribuições de poropressão com o tempo 5.2.1.2. Sucção Inicialmente a sucção foi atribuída somente às forças capilares. Posteriormente, verificou- se que as forças de adsorção também contribuíam para existência de pressões negativas. Tanto as forças capilares quanto as de adsorção atraem as partículas, resultando numa pressão abaixo da atmosférica (Figura 42). Água Adsorvida Partículas Água "Capilar" Figura 42.- Água Capilar e de Adsorção Nos solos, a altura de ascensão capilar depende do diâmetro dos vazios. Como estes são de dimensões muito variadas, a superfície superior de ascensão não fica bem caracterizada, sendo possível que bolhas de ar fiquem enclausuradas no interior do solo. Ainda assim, existe uma altura máxima de ascensão capilar que depende da ordem de grandeza do tamanho representativo dos vazios do solo. Em areias a altura de ascensão capilar é da ordem de centímetros, enquanto que em terrenos argilosos, esta pode atingir dezenas de metros. Para solos arenosos, como as forças de adsorção são pequenas, é possível associar sucção somente às forças capilares. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 40 Alguns solos argilosos, quando submetidos a secagem, se retraem a ponto de desenvolver trincas de tração. Este fenômeno de retração por secagem é originado por uma diminuição considerável do raio de curvatura dos meniscos capilares, o que leva a um aumento das pressões de contato e a aproximação das partículas. . Curva Característica A relação entre a volume de água presente no solo e a sucção é conhecida como curva característica. Este volume de água pode ser quantificado em termos de teor de umidade volumétrico (θ), definido como a relação entre o volume de água e o volume de total, teor de umidade gravimétrico (ω), cuja magnitude é obtida em função da relação entre pesos de água e de sólidos, ou em termos do grau de saturação. Dentre as diversas formas de se definir curva característica, a mais adotada é aquela que relaciona teor de umidade volumétrico e sucção mátrica. O formato desta depende do tipo de solo, distribuição de tamanhos de vazios e, conseqüentemente, da distribuição das frações granulométricas. Solos arenosos tendem a apresentar perda brusca de umidade quando a sucção ultrapassa um determinado valor; em contrapartida, solos argilosos tendem a apresentar curvas mais suaves. Comportamento semelhante é observado quando comparam-se curvas características de solos uniformes e solos bem graduados A Figura 43 apresenta curvas características típicas para areias e argilas, além de definir os parâmetros mais importantes relativos a esta função. Sucção ( ψ) ( escala log) Teor de umidade volumétrico (θ) Δθ ( θ r ) Teor de umidade residual Capacidade de Retenção Específica: C(θ )=Δθ /Δψ Solo argiloso Sucção de entrada de ar ( ψ b ) Solo arenoso (θ s) Teor de umidade saturado Δψ Figura 43.- Curvas Características Típicas Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 41 5.2.2. Condição Hidrostatica Sob condição hidrostática e solo saturado, a pressão de água é triangular, crescente com a profundidade, como mostra a Figura 44. NA A B C hw Figura 44. Poropressão – sem fluxo ww hu ×= γ A tensão efetiva é então calculada como wsubwwwsat hhhu ×=×−×=−=′ γγγσσ 5.2.3. Regime de Fluxo Na natureza a água encontra-se sempre em movimento em decorrência da existência de um fluxo regional, que se desenvolve em função de características geológicas, topográficas e hidráulicas (Figura 45). A velocidade de fluxo é lenta e laminar. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 42 Figura 45. Regimes de Fluxo Solos e rochas possuem poros que permitem a passagem da água são denominados aqüíferos. A permeabilidade do material não determina se este se torna um aqüífero. O que importa é o contraste de permeabilidades com os materiais circundantes; isto é, uma camada de solo siltoso pode se tornar um aqüífero se estiver contida entre camadas argilosas Aqüíferos podem estar confinados entre 2 camadas impermeáveis ou não confinado. Os aqüíferos confinados são em geral saturados. Aqüíferos não confinados não estão necessariamente completamente saturados e podem apresentar nível d´água. Camadas consideradas não aqüíferos representambarreiras para a movimentação da água. Assim sendo, é possível encontrar situações em que um determinado perfil apresenta mais de um nível d´água, denominado nível d´água suspenso (Figura 46). Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 43 areia areia argila Nível d´água suspenso Figura 46. Nível d´água suspenso Aqüíferos em que a carga piezométrica á superior a cota de sua extremidade superior são denominados aqüíferos artesianos. Em alguns casos, a elevada carga piezométrica associada a determinadas estratigrafias acarreta em surgências d´água na superfície do terreno (Figura 47). Fontes de água na superfície do terreno podem ser resultado de forças gravitacionais (Figura 48) Figura 47. Fonte gerada por aqüífero confinado Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 44 Figura 48. Fonte de água na superfície Sob condição de fluxo, considerando que a movimentação é lenta e o fluxo classificado como laminar, considera-se a validade da lei de Darcy. Esta lei estabelece que o fluxo ocorre pela ação de gradientes hidráulicos e a vazão calculada pela equação: Lei de Darcy A L hkq Δ= kiAq = Δh = diferença de carga total (h) entre 2 pontos: Carga total = soma das cargas de elevação e de pressão: { { w pe nulo wnulo vpe uzhhh g vuzhhhh γ γ +=+= ++=++= ≈ ≈ 2 2 k = Coeficiente de permeabilidade ou Condutividade hidráulica A =área L hi Δ= = gradiente hidráulico ∆h = hA - hB Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 45 As características da fase sólida que interferem na permeabilidade são: 9 Estrutura 9 Tamanho da partícula (Hazen) scmemk cmemD Dk / 100 10210 ⇒= 9 Composição mineralógica (capacidade de troca de cátions do argilo-mineral reduz velocidade de fluxo) 9 Índice de vazios 9 Grau de saturação É muito difícil isolar o efeito de cada um desses fatores uma vez que são interdependentes; isto é a estrutura depende do tamanho de grão, índice de vazios e composição mineralógica. Resultados experimentais indicaram que há uma proporcionalidade com relação ao índice de vazios e o coeficiente de permeabilidade (Figura 49). Dependendo do tipo de material, esta pode ser definida em termos de )1( 3 e ek +α )1( 2 e ek +α 2ek α e α log k Figura 49. Permeabilidade vs índice de vazios Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 46 5.2.3.1. Problema unidimensional 21 21 2 2 AA kk = = Figura 50 – Solos em serie ? 0 1122 = == +++== ′ ′ C BB AA h hh zLLzhh Por continuidade: q1 = q2 ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −= 2 1 21 2 44 4 L Lhh LL Lh BAc 21 21 2 2 AA kk = = Figura 51 – Solos em paralelo 1 21 zhh zLzhh BB AA == ++== ′ ′ BBB AAA hhh hhh ′′′ ′′′ == == kiAq = 4 22 2 1 222 21111 = Δ= Δ=Δ= q q A L hkq A L hkA L hkq AB ABAB A’ solo 2 solo 1 AA” B” B B’ z1 L z2 Ref A’ A C B B’ fluxo z1 L1 L2 z2 ΔΔ A2 ( ) ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛+=⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ + ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛−=− −=− = BAC BCCA B CCA L Lhh L Lh L Lhhhh L hhkA L hhk A L hkA L hk 2 1 2 1 2 1 22 1 2 2 2 2 21 1 1 1 4 1 4 4 2 22 mesma perda de carga Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 47 5.2.3.2. Problema Bidimensional A equação que rege processos de fluxo de fluxo em solos esta descrita a seguir: ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ ∂ ∂+∂ ∂ +=∂ ∂+∂ ∂ t eS t Se ez hk x hk zx 1 1 2 2 2 2 Supondo-se que: - O fluxo é estacionário (não há variação do gradiente hidráulico ao longo do tempo); - O solo está saturado → S=100% → 0=∂∂ tS ; - Válida a lei de Darcy. - Efeitos de capilaridade são desprezíveis; - Tanto o esqueleto de partículas sólidas quanto a água são incompressíveis. - Durante o fluxo não ocorre nem compressão nem expansão → e=cte → 0=∂∂ te A equação reduz-se a : 02 2 2 2 =∂ ∂+∂ ∂ z hk x hk zx Considerando-se ainda as seguintes hipóteses: - Solo homogêneo e isotropico; - Coeficiente de permeabilidade constante nas direções x e z; 02 2 2 2 =∂ ∂+∂ ∂ z h x h (Equação de Laplace) A solução geral da equação de Laplace é constituída por dois grupos de funções, as quais podem ser representadas, dentro da zona de fluxo em estudo, por duas famílias de curvas ortogonais entre si, denominadas de linhas de fluxo e linhas equipotenciais. A rede de fluxo é uma solução gráfica da equação de Laplace. A rede permite a estimativa da vazão, poropressões e, consequentemente, gradientes hidráulicos. A Figura 52 mostra a rede de fluxo em talude. Na superfície freática a poropressão é nula e representa o limite entre a zona saturada e a capilar. Observe que piezômetros instalados no talude fornecem altura de carga de pressão que não coincide com a superfície freática. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 48 Figura 52 – Carga de pressão em rede de fuxo A Figura 53 compara as superfícies freática e piezométrica. A superfície freática é uma linha de fluxo a partir da qual é possível desenhar linhas ortogonais representando linhas equipotenciais. Neste caso a carga de pressão é menor do que a distancia vertical ate a linha freática (hw). Geometricamente tem-se: ( ) ααα 2coscoscos wwp hhh == hw cosα hw cos2α Figura 53 – Comparação entre superfície freática e piezométrica Analises de estabilidade devem considerar diferentes hipóteses fluxo. A Figura 54 mostra um talude sujeito a diferentes condições de fluxo. Inicialmente o talude esta parcialmente saturado. Em seguida há um processo de rebaixamento rápido do reservatório. Dependendo da Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 49 permeabilidade do solo haverá a formação de redes de fluxo diferentes. Em solo coesivo as poropressões serão significativas. Já no solo não coesivo o equilibro hidráulico ocorrera rapidamente e linha freática tendera para o pe do talude. Figura 54 – Condição de rebaixamento rápido 5.3. Resistência ao Cisalhamento A resistência ao cisalhamento é função de 2 componentes: embricamento e resistência entre partículas (Figura 55). Resistência ao cisalhamento Embricamento “interlocking” atrito coesão Resistência entre particulas = f (σ) ≠ f (σ) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 50 Figura 55. Mecanismos de resistência A resistência entre partículas pode ser vista poranalogia à lei de Coulomb que define resistência ao deslizamento de um corpo rígido sobre uma superfície plana (Figura 56). W Figura 56. Esquema resistência entre partículas No caso dos solos coesivos (argilo minerais) ou cimentados, a presença de uma ligação entre partículas faz com que o esforço necessário para movimentação relativa do bloco seja aumentado de uma parcela que independe da tensão normal (Figura 57); denominada coesão, φ′×σ′+′=τ tanc cola Figura 57. Coesão entre partículas O embricamento é definido com o trabalho necessário para movimentar a partícula ascendentemente. No caso do solo fofo (Figura 58a) os grãos movimentam-se horizontalmente, sendo mobilizada a resistência entre grãos. Já no caso do solo denso (Figura 58b) existe um trabalho adicional para superar o embricamento entre partículas, causando necessariamente uma expansão volumétrica durante o cisalhamento (dilatância). Assim, quanto mais denso for o solo, maior a parcela de interlocking e, conseqüentemente, maior a resistência do solo. (Figura 59), e Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 51 Figura 58. Embricamento (interlocking) Se a tensão normal aumenta, a tendência de movimento ascendente diminui; isto é, reduz o efeito de dilatância. No limite é possível imaginar uma tensão normal alta o suficiente para impedir a dilatância. Assim sendo o valor de α varia com o nível de tensão normal. Figura 59. Esquema Embricamento (interlocking) A envoltória resistência dos solos segue o modelo critério de ruptura de Mohr Coulomb é é definida pela tangente de círculos de Mohr correspondentes as condições de ruptura. Sua determinação é feitaa realizando-se ensaios com diferentes condições iniciais que permitam a definição dos estados de tensão na ruptura. Na Figura 60, mostra-se que esta busca pode , por exemplo, ser feita variando-se as tensões σ1 e σ3. W ∝ Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 52 τ σ´ τ = c´+ σ tan φ´ c ´ φ´ σ3 σ1 σ3f σ1f Figura 60. Determinação da envoltória 5.3.1. Solo não saturado Para a determinação da resistência de solos não saturados, Fredlund e colaboradores7 propuseram um novo critério que considera a influencia da sucção; isto é ( ) ( ) bwaa tguutguc φφστ ⋅−+⋅−+= ' ou ( ) ( ) '´ φσφτ tgutguuc abwa ⋅−+⋅−+= A envoltória de ruptura do solo é representada em um espaço tridimensional, conforme indicado na Figura 61. O gráfico tridimensional tem como ordenada a tensão cisalhante τf e, como abscissas, as variáveis de estado de tensão (σn – ua) e (ua – uw). O intercepto coesivo no plano τ x (σn – ua) é representado por c, como nos solos saturados. À medida que a sucção se faz presente o intercepto coesivo é definido por (Figura 62): ( ) '´ bwa tguucc φ⋅−+= 7 Fredlund, D. G., Rahardjo, H. (1993) Soil mechanics for unsaturated soils, John Wiley, New York. � σ1 σ3 (σ1 σ3 )f Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 53 Sucção Mátrica (ua-uw) Te ns ão C is al ha nt e Tensão Normal Líquida (σ-ua) φ’ φb Figura 61 - Envoltória de resistência de solos não saturados Figura 62 – Plano τ x (ua-uw) A projeção da envoltória de resistência no plano τ x (ua-uw), para diferentes valores de sucção resulta em uma serie de contornos, como mostra a Figura 63. As linhas interceptam o eixo de tensões em posições crescentes como resultado do acréscimo da parcela da coesão correspondente a sucção mátrica. Quando o solo se torna saturado (ua-uw) se anula e a pressão na água se aproxima da pressão do ar; isto é Sucção nula Ö (ua-uw) =0 Ö ua ≈ uw Ö (σ- ua) ≈ (σ- uw) = σ’ Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 54 Ö c ≈ c’ Com isso, a envoltória de resistência passa a ser definida em termos de tensão efetiva, no plano τ x σ’. Figura 63 – Projeção horizontal no plano τ x (ua-uw) , para diferentes valores de sucção. Resultados experimentais têm mostrado que a envoltória de ruptura de solos não saturados é não linear, ou seja os parâmetros φ’ e φb não são constantes. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 55 6. ANALISES DE ESTABILIDADE O objetivo da analise de estabilidade é avaliar a possibilidade de ocorrência de escorregamento de massa de solo presente em talude natural ou construído. Em geral, as analises são realizadas comparando-se as tensões cisalhantes mobilizadas com resistência ao cisalhamento. Com isso, define-se um fator de segurança dado por: mob fFS τ τ= =1 FS >1,0 ⇒ obra estável FS =1,0 ⇒ ocorre a ruptura por escorregamento FS < 1,0 ⇒ não tem significado físico Por definição, FS é o fator pelo qual os parâmetros de resistência podem ser reduzidos de tal forma a tornar o talude em estado de equilíbrio limite ao longo de uma superfície; isto é FSFS c mob φστ ′′+′= tan O FSadm de um projeto corresponde a um valor mínimo a ser atingido e varia em função do tipo de obra e vida útil. A definição do valor admissível para o fator de segurança (FSadm) vai depender, entre outros fatores, das conseqüências de uma eventual ruptura, em termos de perdas humanas e/ou econômicas. A Tabela 7 apresenta uma recomendação para valores de FSadm e os custos de construção para elevados fatores de segurança. Deve-se ressaltar que o valor de FSadm deve considerar não somente as condições atuais do talude, mas também o uso futuro da área, preservando-se o talude contra cortes na base, desmatamento, sobrecargas e infiltração excessiva. Para taludes temporários, o valor de FSadm deve ser o mesmo recomendado na Tabela 7, considerando-se, ainda, as solicitações previstas para o período de construção. Tabela 6. Fatores de Segurança de Projeto Incerteza nos parâmetros Custo e conseqüência da ruptura Pequena(*) Grande Custo de recuperação pequeno Baixo risco de vida(**) 1,25 1,5 Custo de recuperação alto Alto risco de vida(***) 1,50 ≥ 2,0 (*) solo homogêneo, ensaios consistentes (**) escorregamento lento sem construções próximas (***) ex.: barragem Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 56 Tabela 7 - Recomendação para fatores de segurança admissíveis (Manual de Taludes, GeoRio) Risco de perda de vidas humanas Risco de perdas econômicas desprezível medio elevadov Desprezível 1,1 1,2 1,4 Médio 1,2 4,3 1,4 Elevado 1,4 1,4 1,5 i) fatores de segurança para tempo de recorrência de 10 anos ii) para risco elevado e subsolo mole, o valor de FSadm pode ser majorado em 10% Este tipo de abordagem é denominado determinístico, pois estabelece-se um determinado valor para o FS. Nos últimos anos, este tipo de abordagem tem sido criticado e têm- se sugerido que estudos de estabilidade avaliem a probabilidade de ruptura. Este tipo de abordagem não será tratado nesta apostila. Os métodos probabilísticos permitem quantificar algumas incertezas inerentes ao fator de segurança FS obtido por métodos determinísticos.Uma descrição detalhada dos métodos probabilísticos pode ser encontrada no livro de Harr (1987). 6.1. Tipos de Análise Existem 2 tipos de abordagem para determinação do FS do ponto de vista determinístico: teoria de equilíbrio limite e análise de tensões. 6.1.1. Analise de tensões Estudos de estabilidade baseados em análises tensão x deformação são realizados com o auxílio de programas computacionais, baseados nos métodos dos elementos finitos (MEF) ou das diferenças finitas (MDF). Os programas são concebidos de forma a possibilitar a incorporação da: 9 não linearidade da curva σ x ε; 9 anisotropia; 9 não homogeneidade; 9 influência do estado inicial de tensões; 9 etapas construtivas. As tensões cisalhantes são determinadas numericamente e comparadas com a resistência ao cisalhamento. A região de ruptura pode ser determinada nos pontos em que τ ≥ τresistencia Adicionalmente, os resultados fornecidos em termos de tensões e deformações permitem: Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 57 9 estabelecer áreas rompidas (plastificadas), mesmo sem se estabelecer uma superfície de ruptura ( indicando ruptura progressiva) 9 estabelecer níveis de tensão de interesse para realização de ensaios de laboratório 9 conhecer a magnitude das deformações, que podem ser mais determinantes do que o próprio FS na concepção do projeto 6.1.2. Equilíbrio limite O método de análise por equilíbrio limite consiste na determinação do equilíbrio de uma massa ativa de solo, a qual pode ser delimitada por uma superfície de ruptura circular, poligonal ou de outra geometria qualquer. O método assume que a ruptura se dá ao longo de uma superfície e que todos os elementos ao longo desta superfície atingem a condição de FS, simultaneamente. Equilíbrio limite é um método que visa determinar o grau de estabilidade a partir das seguintes premissas: i) postula-se um mecanismo de ruptura; isto é, arbitra-se uma determinada superfície potencial de ruptura (circular, planar, etc.). O solo acima da superfície é considerada como corpo livre ii) O equilíbrio é calculado pelas equações da estática: ( 0,0,0 === ∑∑∑ MFF hv ).O equilíbrio de forcas é feito subdividindo-se a massa de solo em fatias e analisando o equilíbrio de cada fatia (Figura 64). A Figura 65 mostra o equilíbrio de momentos. R n A B C D x O Figura 64 – Equilíbrio de forças Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 58 W1 O W2 x1 x2 R τmob A B MInstabilizante = 11xW M Estabilizante = ( )RaioABxW mobτ+22 Equilíbrio de Momentos: ( ) 1122 xWRaioABxW mob =×+ τ ( ) 2211 xWxWRaioABmob −=×τ - Como definir τmob ? Figura 65. Equilíbrio de momentos Examinando as incógnitas e equações disponíveis, observa-se que o problema é estaticamente indeterminado; isto é, numero de incógnitas (6n-2) é superior ao de equações (4n), como mostra a Figura 66. Com isso os diversos métodos aplicam hipóteses simplificadoras no sentido de reduzir o numero de equações. Uma hipótese comum a todos os métodos é assumir que o esforço normal na base da fatia atua no ponto central, reduzindo as incógnitas para (5n-2). Assim sendo, os métodos indicam (n-2) hipóteses de forma a tornar o problema estaticamente determinado. Figura 66. Equações X Incógnitas Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 59 Nas análises obtém-se τmob de tal forma que a massa esteja em estado de equilíbrio limite iii) o FS é obtido comparando-se mob fFS τ τ= iv) FS é admitido constante em toda a superfície. v) O FS mínimo é obtido por iterações x x x x x x x x x FS=2,0 FS=1,5 FS=1,3 A vantagem do método de EQ esta na sua simplicidade e acurácia de resultados. Entretanto, os métodos de estabilidade baseados na teoria de Equilíbrio limite incorporam as seguintes premissas: i) Admite-se que o material tenha um modelo constitutivo rígido plástico. Com isso, não se tem informação sobre as deformações, isto é não há como se verificar se estão dentro da faixa admissível para o projeto σ ε (a) rígido plástico (b) elastoplástica Figura 67. Curva Tensão x Deformação Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 60 ii) As tensões são determinadas exclusivamente na superfície de ruptura. As diversas hipóteses simplificadoras adotadas pelos diversos métodos de EQ acarretam em diferentes distribuições de tensão na superfície de ruptura. A Figura 68 mostra diferenças significativas entre as distribuições de tensão normal obtidas pelo método de equilíbrio limite (Bishop) e por analise de tensões Figura 68. Comparação entre valores de tensão efetiva: Equilíbrio limite x Análise de Tensões iii) O FS está relacionado aos parâmetros de resistência e não à resistência ao cisalhamento propriamente dita, que dependerá das tensões efetivas; isto é FS tgu FS c ')(' φστ −+= Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 61 iv) Admite-se trajetória de tensão vertical o que não corresponde ao carregamento no campo; isto é, a partir das tensões normais no plano de ruptura calcula-se qf q kf p´ qND qD qmob qf mob f q q FS = Condição drenada Condição não drenada DND FSFSFS << 6.2. .Classificação Geotécnica das Análises de Estabilidade Quando se estuda a estabilidade de uma obra, deve-se avaliar a capacidade do solo de resistir à determinada variação em seu estado de tensões. O projeto deve então ser elaborado considerando-se a situação mais desfavorável, a partir da comparação entre a resistência do solo com as tensões atuantes na massa. No caso de solos, a resistência não é uma grandeza fixa, sendo diretamente proporcional ao valor da tensão efetiva. Quanto maior for o valor da tensão efetiva maior tensão o solo será capaz de suportar. As características mais importantes a serem consideradas são: 9 Comportamento drenado x não drenado 9 Condições possíveis de saturação do solo (saturado x não saturado) 9 Ocorrência de superfícies de ruptura pré-existentes 9 Ocorrência de descontinuidades na massa de solo Descontinuidades na massa podem ter origem em fissuras, juntas preservadas da rocha mãe, veios ou camadas de baixa resistência, camadas de preenchimento de juntas, etc. A sua presença requer a determinação da envoltória de resistência do material da descontinuidade. 6.2.1. Quanto à condição critica 6.2.1.1. Influência da poropressão Em muitos problemas práticos, é possível separar os efeitos de um carregamento no solo em 2 fases: Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 62 i) não drenada → àquela que ocorre imediatamente após o carregamento, quando nenhum excesso de poro-pressão foi dissipado; ou melhor, quando nenhuma variação de volume ocorreu na massa de solo. ii) drenada → àquela que ocorre durante a dissipação dos excessos de poro-pressão ou, melhor, durante o processo de transferênciade carga entre a água e o arcabouço sólido. Nesta fase ocorrem as variações de volume e,consequentemente, os recalques no solo. A definição da condição mais desfavorável depende do contraste entre a permeabilidade do solo e o tempo de carregamento: Permeabilidade do Solo Tempo de Carregamento Tipo de Análise baixa ⇔ Usual infinitamente alto ⇔ ⇔ Avaliar condição mais desfavorável Drenada alta ⇔ Usual infinitamente pequeno ⇔ ⇔ Drenada Avaliar condição mais desfavorável A Figura 69 mostra como o FS varia durante a construção de um aterro sobre um solo argiloso. Após a construção as poropressões crescem e com o tempo vão sendo dissipadas. Com isso, o momento mais crítico corresponde ao final da construção (condição não drenada) Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 63 NA P Altura do aterro Tensão cisalhante media no ponto P Tempo Tempo Tempo P or op re ss ao n o po nt o P Fa to r d e S eg ur an ça Dissipação de poropressao Poropressão em equilibrio Construção rapida Figura 69. Evolução do FS com o tempo - Aterro A Figura 70 mostra como o FS varia durante a construção de uma escavação em solo argiloso. Observa-se que ocorre comportamento inverso do apresentado anteriormente, sendo o momento mais critico correspondente a condição a longo prazo (condição drenada). Ë importante ressaltar que os resultados variam com o valor do parâmetro de poropressão A. Para valores de A negativos, o resultado é o oposto. Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 64 NA original NA final P Equipotencial hp iniciall hp final A = 1 A = 0 Tempo P or op re ss ão n o po nt o P A = 1 A = 0 Tempo Fa to r d e S eg ur an ça Equilibrio Redistribuição poropressão Escavação rápida Fase Drenada Fase Não Drenada uo =hp iniciall x γω uf =hp final x γω Figura 70. Evolução do FS com o tempo - Escavação em argila A Figura 71 mostra como o FS varia durante a construção de uma barragem de terra. São apresentados os comportamentos relativos aos taludes de montante e de jusante.Observa-se que as condições mais criticas dependem do talude; isto é Talude de montante ⇒ final de construção ⇒ rebaixamento rápido Talude de jusante ⇒ final de construção ⇒ longo prazo Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 65 NA P Superficie de ruptura montante Tempo Tempo Tempo P or op re ss ao n o po nt o P Fa to r d e S eg ur an ça Jusante Montante enrocamento Superficie de ruptura jusante Equipotencial passando por P Jusante Montante Montante Jusante Assumindo zero de dissipação Te ns ão c is al ha nt e m ed ia no p on to P construção Dissipação de poropressão Reservatório cheio Reservatório vazio Rebaixamento rapido enchimento Fluxo em regime permanente Figura 71. Evolução do FS com o tempo – Barragem de terra 6.2.2. Quanto ao tipo de analise O estudo de estabilidade pode ser realizado em termos de tensão efetiva ou total 6.2.2.1. Tensões efetivas Nas análises em termos de tensão efetiva, a tensão cisalhante mobilizada é estimada por FS tgu FS c ')(' φστ −+= Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 66 Com isso, são necessários os seguintes parâmetros: c’, φ’ e (uo+Δu) Os parâmetros efetivos são obtidos em ensaios de laboratório. Poropressão Inicial A poropressão inicial pode ser calculada em função das seguintes condições: i) superfície freática ou nível d’água ii) superfície piezométrica a ser definida a partir de: a. traçado de rede de fluxo, b. monitoramento com piezômetros, c. soluções numéricas A Figura 72 mostra as diferenças entra as superfície freática e piezométrica Figura 72. Superfície freática X piezométrica Razão de poropressão (ru), definido pela relação entre poropressão e tensão vertical: h uur v u γσ == O parâmetro de poropressão é fácil de ser implementado, mas o grande problema está no fato de que este varia no talude. Assim sendo, avaliar a estabilidade considerando um único valor de ru fornece resultados incorretos Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 67 Figura 73. Estimativa de ru γ γ w u ABCDEFAarea FGDEFarear ×= Um valor constante de ru so é possível em taludes com superfície freática coincidente com a superfície do talude, como mostra a Figura 74. Figura 74. ru para taludes com nível d’água coincidente com a superfície do terreno8 8 Abramsen, L. W.;Lee, T S; Sharma, S. e Boyce, G.M (1996) -0 Slope Stability and Stabilizations Methods. John Wiley & Sons, Inc Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 68 Induzida Entretanto, a grande dificuldade reside na determinação dos excessos de poropressão (Δu) gerados por carregamentos ou descarregamentos. Existem propostas para estimativa de Δu: iii) Skempton: ( )[ ]313 ABu σΔ−σΔ+σΔ=Δ B = 1 no caso de solo saturado A = f(tipo de solo, nível de tensões, historia de tensões, trajetória de tensões) iv) Henkel: k octoctu τασ Δ+Δ=Δ 23 13 −= Aα Alternativamente, podem-se acompanhar as poropressões geradas pela obra através de da instalação de piezômetros. Entretanto, seria necessário que os piezômetros fossem instalados ao longo das superfícies de ruptura, o que na pratica é muito difícil de se prever. 6.2.2.2. Tensões Totais Análises em termos de tensão total, podem ser realizadas em situações de : 9 Solo saturado 9 Análise a curto prazo ou final de construção, em que a condição não drenada corresponde ao instante critico da obra. Os parâmetros de resistência em termos totais são obtidos em ensaios não drenados UU, em laboratório, ou em ensaios de campo (palheta, cone). Nestes casos, a envoltória de resistência em termos de tensão total se caracteriza por: c = su ou cu φ = 0 A tensão cisalhante mobilizada é estimada por ( ) FS ss umobu = Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações FEUERJ PGECIVPGECIV Estabilidade de Taludes (06/11/08) 69 σ τ Envoltória total (c=0) Su (Cu) Envoltória Efetiva (?) Figura 75. Envoltória UU 6.2.2.3. Tensões Totais x Efetivas A análise em termos efetivos é teoricamente mais correta pois a resposta do solo a qualquer tipo de solicitação depende da tensão efetiva. Quando se opta por análises em termos totais, o projetista está automaticamente assumindo que as poropressões geradas na obra são idênticas às desenvolvidas nos ensaios. A análise em termos de tensão total (φ = 0) é muito empregada
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