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1 - Teorias Antropológicas

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Teorias
Antropológicas
Teorias
Antropológicas
Te
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ias
 A
ntr
op
oló
gic
as
Juarez Tadeu de Paula Xavier
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3173-3
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Juarez Tadeu de Paula Xavier
Teorias Antropológicas
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
X19t
 
Xavier, Juarez Tadeu de Paula
 Teorias antropológicas / Juarez Tadeu de Paula Xavier. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2012. 
 218p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-3173-3
 
 1. Antropologia. 2. Etnologia. 3. Teoria do conhecimento. I. Título. 
12-7192. CDD: 306
 CDU: 316.7
03.10.12 18.10.12 039631 
__________________________________________________________________________________
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mais informações www.iesde.com.br
Sumário
Voo panorâmico da “aventura antropológica” | 9
Introdução | 9
Campos de estudo da Antropologia | 10
Polos de estudo da Antropologia | 11
Teorias Antropológicas | 11
Antropologias | 17
Considerações finais | 18
A formação da literatura antropológica | 25
Expansão Marítima | 26
Diversidade humana e cultural | 27
Luzes científicas sobre o debate da diversidade humana e cultural | 32
Considerações finais | 34
Evolucionismo Social: o ingresso da Antropologia na Era da Ciência | 43
Homens de Ciência | 44
Evolução como paradigma – Darwin e o conceito de homem | 45
As leis antigas – Henry James Summer Maine | 46
Teoria evolucionista na sociedade – Herbert Spencer | 47
A evolução da cultura – Edward Burnett Tylor | 49
Os estágios da sociedade humana – Lewis Henry Morgan | 49
O ramo de ouro: magia, religião e ciência – James George Frazer | 52
Considerações finais | 53
Antropologia Difusionista: a reação à racialização das relações humanas | 63
Antropologia Difusionista | 64
Conceitos difusionistas | 65
Escola alemão-austríaca | 67
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Escola inglesa | 71
Escola norte-americana: Franz Boas (1858-1942) – teórico do Relativismo Cultural | 72
Considerações finais | 73
Antropologia: objeto e metodologia de investigação | 81
Método científico | 82
Émile Durkheim e o método sociológico | 83
As regras do método sociológico | 86
Marcel Mauss e a dádiva | 88
Considerações finais | 90
Antropologia Funcionalista: a função das instituições 
na manutenção da sociedade | 99
Bronislaw Malinowski (1884-1942) – o trabalho de campo e a etnografia | 101
Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955) – estudos comparativos | 104
Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973): 
espaços ecológicos e os conflitos como parte integrante da sociedade | 106
Raymond Willian Firth (1901-2002) – Antropologia como interface da economia | 107
Herman Max Gluckman (1911-1975) – Antropologia situacional e as relações de divisão e fusão | 109
Victor Turner (1920-1983) – Antropologia como performance dos dramas sociais | 110
Edmund Leach (1910-1989) – precariedade e fugacidade do equilíbrio social | 111
Considerações finais | 112
Escola antropológica do 
Culturalismo Norte-Americano e seus desdobramentos | 117
Ruth Fulton Benedict (1887-1948) – Antropologia e os padrões culturais dos povos | 119
Margaret Mead (1901-1978) – A Antropologia como vocação científica e política | 122
Melville Jean Herskovitz (1895-1963) – a Antropologia do endoculturalismo | 124
Ralph Linton (1893-1953) – cultura e personalidade | 126
Ruth Landes (1908-1991) – narrativas etnográficas da experiência de campo | 128
Roger Bastide (1898-1974) – interpenetrações das civilizações | 129
Fernando Fernándes Ortiz (1881-1969) – transculturação | 130
Considerações finais | 131
A escola antropológica do Estruturalismo francês | 137
Claude Lévi-Strauss (1908) – o Estruturalismo | 140
Considerações finais | 146
A Antropologia Interpretativa ou Hermenêutica | 151
Antropologia Interpretativa: o conceito | 152
Descrição densa X descrição superficial | 153
Clifford James Geertz (1926-2006) – uma nova luz sobre a Antropologia | 155
Nova luz sobre a Antropologia | 158
Considerações finais | 160
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Antropologia Pós-Moderna ou Crítica | 169
Novos cenários | 170
Esboço das correntes pós-modernas | 171
James Clifford (1945) – interfaces da Antropologia com a Literatura | 173
Michael Taussig (1940) – Antropologia e xamanismo | 176
Considerações finais | 178
Antropologia Urbana – o antropólogo e a cidade | 185
Estado da arte nas cidades contemporâneas | 186
Cidade em foco | 187
A produção da globalização e as cidades | 188
Diferenças territoriais e reorganização das cidades | 189
Considerações finais | 195
Antropologia Visual e a descrição etnográfica | 203
Centralidade da imagem | 203
Modelos de descrição etnográfica | 204
Roland Barthes (1915-1980) – Antropologia e a mensagem fotográfica | 207
Considerações finais | 210
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Apresentação
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss recorreu com frequência à metáfora 
da carta de baralho para explicar a inversão de perspectiva proposta pela 
metodologia estruturalista. Para ele, o homem se assemelha a um jogador com 
as cartas que não inventou, já que o jogo é um dado da história e da civilização. 
A distribuição das cartas é independente da sua vontade. As regras também 
já foram definidas. Cada jogador interpreta e rearranja as cartas segundo seu 
propósito, criatividade e inventividade.
A metáfora é a mais adequada para se compreender as opções que foram feitas 
para a elaboração deste livro.
A Antropologia é como um jogo completo de cartas de baralho. Suas diversas 
correntes teóricas e escolas são os naipes que organizam em grandes blocos suas 
“afinidades eletivas”. Os baralhos são as metódicas e abordagens adotadas.
Neste livro, as teorias e escolas foram divididas em quatro naipes: o primeiro, 
a gênesis da disciplina (que se ocupou dos relatos etnográficos dos viajantes); 
o segundo, a construção do objeto/sujeito do “pensar” e “fazer” antropológicos 
(que se ocupou dos esforços metodológicos que deram feição à disciplina); o 
terceiro, a consolidação da disciplina (que se ocupou da especificidade do estudo 
do homem, no sentido lato da expressão e de suas relações materiais e imateriais); 
e o quarto naipe, que se ocupou das reflexões e rupturas epistemológicas nos 
fundamentos da Antropologia.
Cada um desses naipes conceituais exercitou suas habilidades com as cartas/
metódicas de forma singular, no tocante ao conceito de cultura e civilização, à 
pesquisa de campo, à abordagemdos indivíduos investigados, ao mecanismo 
de capturação das informações, à forma de organização dos dados e às suas 
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interpretações e compreensões. No mesmo naipe, registram-se divergências e 
polaridades nas formas de distribuição das cartas e nos seus rearranjos criativos.
A opção foi, dentro desse grande jogo de cartas, identificar os arranjos que 
dialogaram e dialogam – pela convergência ou divergências – entre si. Autores/
jogadores que, mesmo com distribuições diferentes, guardaram ou guardam uma 
semelhança, muitas vezes tênue, com as estratégias gerais do jogo.
Este livro tem uma estratégia de jogo. E, é claro, o autor rearranjou as cartas 
segundo suas próprias “afinidades eletivas”, mas com narrativas amplas e atuais 
– inclusive nos textos complementares, referências e bibliografia –, para que 
aqueles que são convidados para esse jogo intelectual possam, conforme sua 
criatividade, reorganizar as cartas dessa extraordinária aventura – que nunca 
cessa – de compreender as razões e emoções que impulsionam mulheres e homens 
a rabiscarem cotidianamente as histórias de seus sonhos, desejos e realizações.
Senhoras e senhores, façam seu jogo, como convidou-nos o velho mestre francês.
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Voo panorâmico da 
“aventura antropológica”
Juarez Tadeu de Paula Xavier*
Introdução
A Antropologia é a ciência que estuda o homem, no sentido lato da expressão (gênero humano). 
Em sua feição científica, ela surge na segunda metade do século XIX, na esteira do desenvolvimento das 
Ciências Sociais. Desde então, constituiu um amplo leque de paradigmas – metodologias de abordagem, 
de pesquisa e de interpretação – que formam as chamadas Teorias Antropológicas Clássicas – as pionei-
ras – e as Contemporâneas (ou Modernas), que estudam e interpretam as dimensões biológicas, culturais 
e sociais do ser humano.
A Antropologia (anthropos, pessoa/homem; logos, razão) é a ciência centrada no ser humano e 
em suas realizações tangíveis e intangíveis – material e imaterial –, no espaço histórico e no eixo do 
tempo, focada no estudo do homem e nos seus feitos sociais e culturais.
O estudo do multiverso – universo material e universo imaterial – do homem atribuiu à Antropo-
logia três aspectos fundamentais para o seu campo de pesquisa e estudo: o estudo do homem na qua-
lidade de elemento integrante de grupos organizados, organizações e formas coletivas de ação social; 
o estudo da totalidade do homem como um ser histórico, com suas crenças, usos e costumes, filosofia, 
linguagem e representações; e o estudo do conhecimento psicossomático do homem e de sua evolução.
Segundo Laplantine, “só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa 
que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade” (1988, p. 16). 
A Antropologia é o estudo do homem por inteiro, em todas as sociedades, em todas as suas dimensões 
e épocas.
* Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação e Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/USP) – linha 
de pesquisa Comunicação e Cultura. Líder do grupo de pesquisa “Laboratório de Observação de Mídias Radicais”, credenciado no CNPq. 
Pesquisador do universo cultural afrodescendente. Jornalista e professor universitário.
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10 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Campos de estudo da Antropologia
Como ciência, a Antropologia tem dois braços de estudos: a Antropologia Física (Biológica) e a 
Antropologia Cultural.
A Antropologia Física estuda a natureza do homem, suas origens e evolução, estrutura anatômi-
ca, processos fisiológicos e características raciais, antigas e modernas. Divide-se em:
Paleontologia Humana:::: (palaios, antigo; onto, ser; logos, estudo) ou Paleoantropologia – 
estuda a origem da evolução humana dos primatas ao homem moderno. As fases da evolução 
humana são: 
Australopithecus:::: (austral, sul; pithecus, macaco) – das espécies Africanus, Robustus, Anamensis, 
Afarensis, Boisel
Homo habilis::::
Homo erectus::::
Homo sapiens primitivo::::
Homo sapiens::::
Homo sapiens sapiens::::
Somatologia:::: (somato, corpo humano; logos, estudo) – estuda as variedades humanas (tipos 
sanguíneos, metabolismo, adaptação);
Raciologia:::: (raça, etnia; logos, estudo) – estuda a história racial do homem, suas misturas e 
características físicas;
Antropometria:::: (anthropos, homem; metria, medida) – estuda as medidas do corpo humano 
(crânio e ossos).
A Antropologia Cultural é o campo mais amplo dos estudos antropológicos. Ela estuda as culturas 
humanas no tempo e no espaço, seus desdobramentos, suas formas de construções simbólicas e suas 
representações. Seu campo de pesquisa se divide em:
Arqueologia:::: (archaîos, antigo; logos, estudo) – ramo que estuda as culturas remotas, sub-
dividida em Arqueologia Clássica, que estuda as antigas civilizações letradas (Egito, Grécia, 
Mesopotâmia), e Antropologia Arqueológica, que estuda os primórdios da cultura das popula-
ções extintas (Paleolítico – de 500 000 a 10 000 anos –, Mesolítico – 12 000 a 10 000 anos – e 
Neolítico – 10 000 anos)1.
Etnografia:::: (éthnos, povos; graphein, escrever) – ramo da ciência da cultura que descreve as 
sociedades humanas.
Etnologia:::: (éthnos, povos; logos, estudo) – ramo da ciência da cultura em que os pesquisadores 
utilizam os dados coletados pelos etnógrafos.
Linguística:::: – ramo que estuda a diversidade da língua humana (ciência da linguagem).
1 Paleolítico (Idade da Pedra Lascada – antiga); Mesolítico (Idade da Pedra “Média” – período intermediário); Neolítico (Idade da Pedra Polida 
nova).
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11|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Folclore:::: – ramo que estuda as manifestações espontâneas da cultura de grupos urbanos e 
rurais, conjunto das tradições, conhecimentos, crenças, lendas de um povo, expressos em seus 
hábitos e costumes cotidianos.
Antropologia Social:::: – ramo que estuda os processos culturais e sociais de uma sociedade ou 
instituição.
Cultura e Personalidade:::: – ramo que estuda as inter-relações entre a cultura e as personali-
dades.
Polos de estudo da Antropologia
Como ciência que estuda o ser humano e suas produções materiais e imateriais, nos aspectos 
físicos e culturais, a Antropologia debruça-se sobre cinco polos principais de estudos:
Antropologia Biológica:::: – é o estudo das variações das características físicas e biológicas do 
homem, nos eixos de espaço e tempo, as relações morfológicas e o meio (geológico, geográfico 
e social) e a evolução dessas particularidades.
Essa parte da Antropologia, longe de consistir apenas no estudo das formas de crânios, mensurações do esqueleto, 
tamanho, peso, cor da pele, anatomia comparada das raças e dos sexos, interessa-se em especial – desde os anos 1950 
– pela genética das populações, que permite discernir o que diz respeito ao inato e ao adquirido. (LAPLANTINE, 1988, 
p. 17)
Antropologia Pré-Histórica:::: – é o estudo do homem por meio dos vestígios materiais enter- 
rados no solo (ossos e marcas humanas). “O especialista em pré-história recolhe, pessoalmente, 
objetos do solo. Ele realiza um trabalho de campo, como o realizado na Antropologia Social na 
qual se beneficia de depoimentos vivos” (LAPLANTINE, 1988, p. 18).
Antropologia Linguística:::: – é o estudo da diversidade das línguas humanas em dois aspectos:
etnolinguísticas:::: (como os homens pensam e vivem) – estudo dos textos escritos e orais; 
etnociência::::(como os homens interpretam seu próprio saber e saber-fazer).
Antropologia Psicológica :::: – é o estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo 
humano; estuda a mente e os processos mentais e sociais do ser humano em sociedade.
Antropologia Social e Cultural:::: (ou Etnografia) – é o estudo do modo de produção econômica, 
das formas de produção técnica, da organização social e da cultura, dos sistemas de 
conhecimento de sua difusão, do sistema de parentesco, da língua, das formas de produção 
artística, da psicologia social, das crenças e da religião.
Teorias Antropológicas
As Teorias Antropológicas – Clássicas e Contemporâneas (Modernas) – construíram seus legados 
científicos a partir da segunda metade do século XIX. Elas sucederam-se na linha do tempo, ampliaram 
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12 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
e consolidaram paradigmas fundamentais – modelos e formas de abordagens, estudos e observações – 
para a interpretação dos modos de vida – biológico, social e cultural – do homem.
Nessa faixa de tempo, as teorias convergiam e coincidiram em diversos aspectos metodológicos 
e conceituais, divergiam e se afastaram em diversos outros pontos e juntaram-se em aspectos pontuais. 
A consolidação da disciplina experimentou arranjos conceituais, contradições teóricas, revisões e 
ampliações de abordagens e interpretações, como as demais disciplinas das Ciências Sociais (Sociologia, 
História, Filosofia e Línguas).
Os principais centros de elaboração teórica e conceitual – Inglaterra, França, Estados Unidos, 
Alemanha – ampliaram as possibilidades de estudos e interpretações das produções, históricas e con-
temporâneas dos diversos grupos humanos (isolados ou em conjunto), em todos os continentes (Europa, 
América, África, Ásia e Oceania), e em grupos sociais com grandes diversidades culturais e organizativas.
Em consequência desse processo, produziu-se um amplo painel com as várias manifestações 
humanas, pontilhadas pela diversidade nas formas de saber, saber-fazer e ser da humanidade.
Esse processo não se deu de forma linear e reta. As várias “escolas” retomavam, ampliavam, 
revisavam e reinventavam novas formas do olhar antropológico, abordagens e interpretações. Na 
arquitetura geral das teorias, entretanto, elas podem ser alinhadas, de forma geral, na seguinte linha do 
tempo, a partir do século XVI: 
1. Literatura “etnográfica” da diversidade e alteridade cultural; 
2. Evolucionismo Social; 
3. Difusionismo; 
4. Escola Sociológica Francesa; 
5. Funcionalismo Britânico; 
6. Culturalismo Norte-Americano; 
7. Estruturalismo; 
8. Antropologia Interpretativa; 
9. Antropologia Pós-Moderna ou Crítica.
Para efeitos didáticos, essa linha é adotada como “modelo teórico” de apresentação dos para-
digmas das escolas, que formam as Teorias Antropológicas, sem, entretanto, caracterizá-la como uma 
“forma congelada”, como uma linha reta.
Articulação do olhar “etnográfico”
Como ciência, a Antropologia é filha do século XIX. Porém, antes dessa fase, registram-se várias 
iniciativas de crônicas “etnográficas” feitas por viajantes, guerreiros, religiosos, exploradores, desde a 
Antiguidade clássica. Na Grécia antiga, as crônicas de Heródoto (século V a.C. – 485 [?]-420) registram suas 
observações sobre os costumes, comportamentos, hábitos e usos, produção material e representação 
imaterial dos povos visitados pelo pensador grego. Mas a produção dos viajantes do século XVI, com as 
descobertas de novos povos e “mundos”, trouxe a temática da alteridade e diversidade humanas para o 
palco central das narrativas, nos primórdios e início da reflexão antropológica.
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13|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
As cartas, crônicas e relatos comerciais dos viajantes pintam painéis da diversidade humana em 
vários pontos do mundo. Missionários, militares e, acima de tudo, os administradores descrevem os povos 
e suas produções, com variados graus de precisão. Registram-se as qualidades da terra, sua fauna e flora; 
a topografia (descrição minuciosa de uma localidade) das costas e do interior; o sistema de parentesco e 
as formas de organização política, econômica, cultural e religiosa dos “povos do novo mundo”.
A Carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) – escritor português que exerceu a função de escrivão 
da armada do navegador Pedro Álvares Cabral (1467 [1468]- 1520 [1526]) –, que narra a chegada dos 
portugueses ao Brasil, é um modelo típico desses rudimentos do discurso etnográfico.
Datada de 1500, do Porto Seguro da Ilha de Vera Cruz, sexta-feira, “primeiro dia de maio”, a carta 
descreve o impacto que a nova paisagem humana causou aos navegadores portugueses, quando eles 
fizeram o primeiro contato com os habitantes locais:
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, benfeitos. Andam nus, sem ne-
nhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar 
o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento 
duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de 
dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte 
que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber. (CAMINHA, 1500)
Pero Vaz de Caminha descreve a topografia da costa brasileira, a fauna e as riquezas da natureza, 
os modos e costumes dos habitantes locais, suas formas de organização social, cultural e religiosa e suas 
relações com os navegadores. A riqueza de detalhes, a precisão das descrições, o esquadrinhamento da 
localidade conferem ao relato status etnográfico que permitiu, mais tarde, a ocupação de amplas faixas 
de terra no novo território.
Antropologia Evolucionista Social
No início da jornada da Antropologia como ciência, predominou a Teoria do Evolucionismo 
Social. O declínio das explicações teológicas sobre o homem e a natureza, pressuposto do Iluminismo2, 
tonificou a procura pelas explicações científicas.
A principal característica da Teoria Evolucionista é a sistematização do conhecimento das socie-
dades “primitivas”, de primeira origem, dos primeiros tempos. Eram tidas como estágios inferiores do 
desenvolvimento alcançado pelas sociedades “civilizadas”, avançadas nos planos técnico, social e cientí-
fico: todas as formas de organização das condições materiais e culturais dos homens passariam, neces-
sariamente, dos estágios primitivos aos civilizados.
Os teóricos do Evolucionismo formularam o conceito de unidade psíquica do homem, em estágios 
diferentes, entre os “primitivos” e os “civilizados”: os grupos étnicos das diversas áreas geográficas do 
planeta faziam parte da grande família humana, mas se encontravam em fases distintas de evolução e 
desenvolvimento. Segundo Laplantine,
[...] o Evolucionismo encontrará sua formulação mais sistemática e mais elaborada na obra de Morgan3 e particularmente 
em ancient society (sociedade antiga), que se tornará o documento de referência para a imensa maioria dos antropólogos 
2 Movimento surgido na França do século XVII que defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica, religiosa, que dominava a Europa. 
Segundo os filósofos iluministas, essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.
3 Morgan, Lewis H. La Société Archaïque. Paris: Anthropos, 1971.
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14 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
do final do século 19, bem como na lei deHaeckel4. [...] a ontogênese reproduz a filogênese: ou seja, o indivíduo 
atravessa as mesmas fases que a história das espécies. [...] Disso decorre a identificação [...] dos povos primitivos aos 
vestígios da infância da humanidade. (LAPLANTINE, 1988, p. 65-66)
Morgan conceituou três estágios de evolução da humanidade: 
selvageria;::::
barbárie;::::
civilização. ::::
Na base dessa teoria, floreceu e etnocentrismo5 (predominância civilizatória de um grupo humano 
em relação a outro). No caso específico, da civilização europeia em relação às demais.
Antropologia Difusionista
A Teoria da Antropologia Difusionista reage ao etnocentrismo da Teoria da Antropologia Evolucio-
nista Social. Ela procura compreender a natureza das culturas de cada povo, da origem a sua extensão, de 
um grupo humano para outro. A corrente explica o desenvolvimento cultural pelo processo de difusão 
de aspectos culturais, formas culturais, de uma cultura para outra.
Os diversos povos tomam de empréstimo aspectos culturais fundamentais de outros e os adaptam 
às suas particularidades, o que provoca a evolução da cultura e explica a diversidade das manifestações 
culturais. Os grupos humanos distintos absorvem “aspectos culturais” de um outro grupo, como uma 
tendência humana.
Os antropólogos difusionistas substituem o termo raça pelo cultural e se dividem em três escolas 
teóricas: a inglesa, a alemão-austríaca e a norte-americana.
Na escola alemã destacaram-se os antropólogos Fritz Graebner, Friedrich Ratzel, Léo Frobénius, 
Wilhelm Schmidt; na escola inglesa, Elliot Smith, J. Perry e W. R. R. Rivers. A escola inglesa ficou conhe-
cida pelo nome de hiperdifusionista pelo fato de alguns dos seus teóricos levantarem a hipótese de 
que todas as invenções do homem têm origem na civilização egípcia. Na escola norte-americana o 
destaque é o antropólogo Franz Boas (1848-1942)
Seus elementos básicos são a reconstituição histórica – do passado e do presente –, e o intenso 
trabalho de campo, com a coleta sistemática de dados primários, de dados colhidos em primeira mão.
Um dos principais teóricos do Difusionismo foi o geógrafo e etnólogo alemão Friedrich Ratzel 
(1844-1904), “pai do conceito espaço vital”.
Antropologia da Escola Sociológica Francesa
A Escola Sociológica Francesa, ainda em parte submersa do universo cultural do século 
XIX, apresenta duas características fundamentais que contribuem para a consolidação da ciência 
antropológica: a definição dos fenômenos sociais como objetos de investigação socioantropológica, e 
4 Ernest Heinrich Philipp August Haeckel (1834-1919), naturalista alemão.
5 Conceito que considera as normas e valores – sociais e culturais – da própria sociedade ou cultura como base de avaliação e “julgamento” 
de todas as demais culturas e sociedades.
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15|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
o “salto quântico”, a grande contribuição, a definição das regras do método sociológico de investigação. 
As obras de Durkheim6 e , mais tarde, as obras de Marcel Mauss7 são decisivas para a elaboração dessas 
características conceituais.
No campo da Escola Sociológica Francesa, em relação ao aspecto metódico, diz Laplantine:
É preciso apreendê-lo totalmente [o fenômeno social], isto é, de fora como uma “coisa”, mas também de dentro como 
uma realidade vivida. É preciso compreendê-lo alternadamente tal como o percebe o observador estrangeiro (o etnó-
logo), mas também tal como os atores sociais vivem. [...] o que caracteriza o modo de conhecimento próprio das ciên-
cias do homem é que o observador-sujeito, para compreender seu objeto, esforça-se para viver nele mesmo a experi-
ência deste, o que só é possível porque esse objeto é, tanto quanto ele, sujeito. (LAPLANTINE,1988, p. 91)
Antropologia Funcionalista
Com os dois pés fincados no século XX, a Antropologia Funcionalista inaugura uma nova fase 
de observação do olhar antropológico (intenso trabalho de campo), com a adoção da observação 
participante, quando o pesquisador submerge no oceano cultural da população estudada; desenvolve o 
modelo etnográfico clássico, a monografia, e estuda, de forma sistematizada e global, os conhecimentos 
de uma dada cultura. Há assim uma ruptura epistemológica, uma ruptura na forma de construir o 
conhecimento, no campo da ciência antropológica, quando o pesquisador procura conhecer as sutilezas 
e particularidades da cultura que ele se propõe a compreender, a estudar.
Essa escola dá ênfase ao estudo das instituições, formas de organizações sociais e culturais e das 
suas funções para a manutenção do conjunto cultural, da totalidade da cultura de um determinado 
povo.
Polonês radicado na Inglaterra, Bronislaw Malinowski (1884-1942) foi um dos principais protago-
nistas da Escola Funcionalista. Malinowski encontra-se entre os precursores do trabalho de campo, fora 
dos gabinetes, no fazer antropológico. Ele radicalizou no conceito de compreensão por dentro de uma 
cultura observada; rompeu com a especulação distante e instaurou a observação participante – quando 
o antropólogo olha de perto a cultura estudada –; ele tira seu modelo de estudo (o funcionalismo) das 
ciências naturais, como a Biologia, e estuda o homem nas dimensões social, psicológica e biológica. Sua 
obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental, de 1922, é considerada o primeiro grande estudo etnográfico 
de peso.
Antropologia Culturalista Norte-Americana
A Escola Antropológica Norte-Americana pesquisa, de modo especial, a identificação dos patterns 
of culture (padrões culturais). Ela procura as normatizações do desenvolvimento das culturas.
Franz Boas (1858-1942) foi o principal expoente dessa escola. A exemplo de Malinowski, Boas 
desenvolveu um intenso trabalho de campo. O antropólogo se detinha no detalhe dos detalhes, para 
fazer uma transcrição meticulosa da realidade.
6 Émile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores da Sociologia moderna. Durkheim, E. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: 
Martin Claret, 2001.
7 Marcel Mauss (1872-1950), sociólogo e antropólogo francês. Mauss, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Edusp, 1974.
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16 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Essa escola defende que as culturas, de maneira geral, são diversas, mas têm características 
comuns, padrões culturais. Esses padrões são resultados do agrupamento de complexos culturais. O 
padrão é uma norma regularizadora que estabelece os valores de aceitação e rejeição, dentro de uma 
determinada cultura. Diz Ruth Benedict (1989, p. 60), uma das principais expoentes dessa escola, que:
[...] essa elaboração da cultura num padrão coerente não se pode ignorar como se fosse um pormenor sem importância. 
O conjunto, como a ciência está a afirmar insistentemente em muitos campos, não é apenas a soma de todas as suas 
partes, mas o resultado de um único arranjo e única inter-relação das partes, de que resultou uma nova identidade [...]. 
O Culturalismo Norte-Americano exerceu influência no campo das Ciências Sociais do Brasil. 
Gilberto Freire (1990-1987), autor de Casa Grande e Senzala, foi discípulo de Franz Boas e parte 
considerável de sua abordagem da cultura brasileira teve como inspiração as teorias desenvolvidas pelo 
pesquisador alemão, radicado nos Estados Unidos.
Antropologia Estruturalista
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss foi um dos principais articuladores da Escola Atropo-
lógica Estruturalista. Na década de 1940, Lévi-Strauss pesquisou os princípios da organização da mente 
humana. Seu objetivo foi estudar as regras estruturantes das culturas presentes na mente humana.
Nessa linha de pesquisa, o antropólogo francês percorreu os caminhos das teorias do parentesco, 
da lógica do mito, daschamadas classificações primitivas e da relação natureza versus cultura.
Para Lévi-Strauss, o Estruturalismo concebe a existência de um certo número de materiais culturais 
sempre idênticos, como as “cartas de baralho” e o “caleidoscópio” – duas de suas metáforas preferidas 
– que podem ser classificadas como invariantes. As diferentes possibilidades de combinações dessas 
invariantes são ilimitadas. Elas constituem “leis universais que regem as atividades inconscientes do 
espírito” (LÉVI-STRAUSS in LAPLANTINE, 1988, p. 138).
Em um caleidoscópio, a combinação de elementos idênticos sempre dá novos resultados. Mas é porque a história 
dos historiadores está presente nele – nem que seja na sucessão de chocalhadas que provocam as reorganizações da 
estrutura – e as chances para que reapareça duas vezes o mesmo arranjo são praticamente nulas. (LÉVI-STRAUSS apud 
LAPLANTINE, 1988, p. 138)
Antropologia Interpretativa
No meado da década de 1960, o antropólogo norte-americano Clifford Geertz (1926-2006) 
desenvolveu a Teoria da Antropologia Interpretativa. Geertz problematiza o estudo antropológico ao 
propor uma “leitura da leitura que os ‘nativos’ fazem de suas próprias culturas”. Ele passa a discutir o 
papel político e ideológico da Antropologia e de sua escrita sobre os diversos povos.
O autor passa a estudar a cultura como hierarquia de significados (rede de significados tecida 
pelos antropólogos) e a busca por uma descrição densa, intensa, do universo cultural dos povos.
Em Chicago [anos 1960] – àquela altura eu começara a lecionar e agitar – teve início e começou a se difundir um 
movimento mais geral [...]. Alguns, lá e em outros centros, batizaram esse desenvolvimento, ao mesmo tempo teórico 
e metodológico, de “antropologia simbólica”. Mas eu, encarando tudo isso como empreendimento essencialmente 
hermenêutico, um esclarecimento e definição, e não como uma metáfrase ou decodificação, e pouco à vontade com as 
misteriosas e cabalísticas implicações de “símbolo”, preferi ”antropologia interpretativa”. (GEERTZ, 2001, p. 27)
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17|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Antropologia Pós-Moderna ou Crítica
Nos anos 1980, autores como James Clifford, Georges Marcus, Michel Fischer, Richard Price e 
Michel Taussig desenvolveram a Teoria da Antropologia Pós-Moderna (Crítica). A observação crítica 
desses antropólogos centrava-se nos recursos retóricos presentes no modelo textual das etnografias 
contemporâneas. Eles propõem uma mudança profunda na relação do observador com o observado, 
pedra de toque do estudo antropológico. Os autores propõem a relativização da autoridade 
do antropólogo, e de seu discurso; eles politizam a relação do antropólogo com a população 
observada.
Essa escola considera a cultura como um processo polissêmico (plural, múltiplo), com diversas 
possibilidades de interpretação. Dessa forma, a etnografia é uma representação polifônica – em várias 
direções – da polissemia cultural, instrumento da crítica cultural: a cultura não tem compreensões 
únicas, unilaterais, unívocas e lineares.
Antropologias
Na atualidade, as narrativas antropológicas focam suas observações em aspectos centrais das 
sociedades contemporâneas, nos feitos e representações da vida moderna: Antropologia Urbana, 
Antropologia Política, Antropologia Visual, Antropologia Multirracial, entre outras abordagens 
possíveis.
Antropologia Urbana
A Antropologia Urbana estuda a dinâmica urbana da sociedade atual:
sua forma de organização, a distribuição populacional, formas de organização da ocupação ::::
urbana, a cidade, as práticas culturais na cidade, a cidade e sua história – a vida cotidiana, 
moradia e a vizinhança; 
práticas de lazer – o tempo sagrado; ::::
apropriação do espaço por grupos diferenciados – os cenários, os atores; ::::
imagens da cidade – representações do espaço urbano.::::
Antropologia Política
A Antropologia Política estuda a natureza e as formas das organizações políticas, desde as socie-
dades antigas até as atuais; os processos de formação dos sistemas políticos; as formas de ritualização 
do poder político; a história e perspectivas dos sistemas políticos (realeza, poder divino, o colonialismo); 
as relações do poder com o sistema simbólico (poder, cultura, sistema de comunicação social).
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18 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Antropologia Visual
A Antropologia Visual visa ao estudo da produção de imagens e de suas implicações culturais 
na sociedade contemporânea: linguagens, meios de comunicação visual (fotografia, vídeo, televisão, 
cinema), informação visual urbana (outdoor, pichação, muralismo) e as mídias radicais urbanas.
Antropologia das Sociedades Multirraciais
A Antropologia das Sociedades Multirraciais estuda aspectos teóricos e empíricos das relações 
sociais inter-raciais numa dada sociedade: a construção social multirracial, pluralidade biológica e 
cultural; tolerância e diversidade; racismo e cidadania; conflitos e confrontos raciais; raça (etnia, cultura, 
civilizações, etnocentrismo, preconceito, racismo e discriminações); multiculturalismo; integracionismo; 
ações afirmativas; globalização e identidades.
Considerações finais
As Teorias Antropológicas sucederam-se na linha do tempo, desde meados do século XIX, e multi-
plicaram as possibilidades de compreensão integral do homem, e suas produções materiais e culturais.
Elas se constituíram em paradigmas – formas de abordagem metodológicas e epistemológicas 
– e em um movimento contínuo formularam teses, antíteses e sínteses teóricas e conceituais para a 
compreensão da natureza do ser humano.
Esse movimento global deu-se em razão da complexidade da natureza humana e permite ao 
antropólogo contemporâneo compreender o passado, estudar o presente e imaginar o futuro.
Texto complementar
Relaxe. Somos todos mestiços
E isso só traz vantagens, afirma o cientista que é o maior estudioso das diásporas humanas
(DORIA, 2007)
O antropólogo Darcy Ribeiro não viveu para saber, mas a premiada ginasta Daiane dos Santos 
parece personagem saída de seus livros: mestiça, uma brasileira ideal daquelas definidas antes de 
Darcy por Gilberto Freyre, por Sérgio Buarque de Holanda, é caso de estudo. Nos números coletados 
de seu DNA pelo professor mineiro Sérgio Danilo Pena a pedido da BBC Brasil, deu que Daiane é 
40,8% europeia, 39,7% africana, 19,6% ameríndia.
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19|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
A antropologia brasileira estudou por muitos anos essa mistura de povos até chegar à famosa 
conclusão de Darcy – “ser mestiço é que é bom” – mas é só de pouco tempo para cá que as ciências 
biológicas vêm dizer em detalhes exatamente como ela se dá. O estudo da origem genética dos 
povos começou nos anos 1950, na Europa, realizado por um jovem médico italiano criado nos anos 
do fascismo. Luigi Luca Cavalli-Sforza, entrevistado pelo Aliás, não apenas inventou uma disciplina 
científica. Aos 85 anos, ele é um dos mais importantes e prolíficos cientistas vivos.
Um estudioso nos moldes renascentistas, no sentido de que busca informação aproximando 
áreas de conhecimento que não costumam se encontrar. Por exemplo: antropologia, genética e 
matemática. Com amplo domínio das três disciplinas, após um estudo coletando amostras genéticas 
de povos em todo o mundo, Cavalli-Sforza pôde traçar a história daquilo que batizou “a grande 
diáspora humana”.
Nascemos, o Homo sapiens, na África Oriental. Por mais de metade da existência humana, 
permanecemos lá – e aí nos aventuramos para longe. Do Oriente Médio fomos para a Rússia; de lá, 
uma parte foi para aÁsia e outro grupo, mais tarde, para a Europa. Da Ásia, outro ramo seguiu para 
a América. Assim, em algumas dezenas de milhares de anos, fomos lentamente ganhando novos 
traços. Olhos puxados aqui, pele esbranquiçada ali, pernas mais longas, torsos mais fortes. O próprio 
europeu já é mestiço – dois terços asiático, um terço africano.
As técnicas do professor Cavalli-Sforza, aplicadas no Brasil, revelam aquilo que ainda nos causa 
surpresa: mestiço não tem cara. Se parecemos brancos ou negros ou mulatos, índios ou não, essa 
aparência não diz o que somos. “O Brasil teve a boa sorte de não ver o racismo”, diz o velho cientista 
genovês. “Essa é uma herança dos portugueses”, completa, ecoando Darcy. Sim, ser mestiço é bom. 
A mistura melhora o povo – dá aquilo que os geneticistas chamam de “vigor híbrido”.
1. Ser mestiço é que é bom, como dizia Darcy Ribeiro? Talvez seja surpreendente para 
algumas pessoas que a aparência física, como cor da pele, não sejam bons indícios da herança 
genética. Os brasileiros estão certamente entre os povos mais misturados do planeta, embora não 
sejam os únicos. A diferença é que nenhum dos outros grupos mestiços forma um povo tão vasto. 
O Brasil teve a boa sorte de não ver o racismo prosperando, como costuma acontecer noutros cantos. 
Isso provavelmente vem de uma herança portuguesa, povo que já demonstrava predisposição pela 
mistura racial desde os tempos de suas primeiras colônias, na África. O estudo de nossas origens 
genéticas apenas confirma o que já estava claro para bons observadores: a mistura entre povos e 
a produção daquilo que nós geneticistas chamamos de híbridos não traz qualquer desvantagem 
do ponto de vista genético. Até melhora, traz uma vantagem naquilo que chamamos de “vigor 
híbrido”.
2. Ainda é possível dizer que existem raças humanas? As diferenças entre povos de locais 
geográficos distintos são claramente visíveis, caso de cor da pele e tamanho e formato das partes do 
corpo. Essas características refletem adaptações ao clima local que surgiram após a espécie humana 
se originar na África Oriental, há relativamente pouco tempo (não mais que 100 ou 150 mil anos, 
período bastante curto na escala evolutiva) e, naturalmente, após deixar a África, há coisa de 50 
ou 60 mil anos. De qualquer forma, essas diferenças são triviais em todos os aspectos essenciais. 
A grande maioria das diferenças genéticas se encontra entre um indivíduo e outro, jamais entre 
um povo e outro. Falando em números, mais de 90% das diferenças genéticas se dão entre duas 
pessoas de um mesmo povo. Apenas 10% da variação se dá entre, digamos, europeus e asiáticos, 
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20 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
entre africanos e americanos nativos. Isso acontece porque a nossa é uma espécie muito jovem e 
ainda não houve tempo evolutivo para nos diferenciarmos. Quer dizer: não existem raças distintas 
entre os homens.
3. A ideia de etnia ainda serve para explicar algo a nosso respeito? A utilidade do conceito 
de “etnia” depende de sua definição. Para mim, diferenças étnicas são as diferenças entre os povos, 
tanto genéticas quanto culturais. As distinções culturais são compostas pelo que aprendemos 
na sociedade em que somos criados. É natural que tenhamos dificuldades na hora de entender 
se um comportamento particular é determinado genética ou culturalmente. Por exemplo: o 
comportamento criminoso é determinado pelos nossos genes ou pela nossa cultura? Está claro 
que em grande parte o que determina é a cultura. Mas é difícil excluir de todo a tendência inata 
em alguns casos raros. É aí que o conceito de “etnia” nos ajuda. Ele nos permite deixar para lá a 
questão de se algo é cultural ou genético, principalmente nos casos em que a ciência não tem ainda 
a capacidade de definir.
4. Que outras pistas a genética pode oferecer a respeito de nossa história humana? Em 
geral, os linguistas têm uma profunda dificuldade de alcançar um consenso em uma das questões 
mais importantes de sua disciplina, que é a de se a linguagem surgiu uma única vez, ou se teve 
múltiplas origens. Isso acontece porque a maioria desses especialistas não tem interesse em estudar 
línguas de forma comparada. Como geneticista, estou convencido de que houve uma única origem 
para todas as línguas faladas atualmente. Todos os humanos vivos descendem daquele grupo rela-
tivamente pequeno que viveu na África Oriental há 100 mil anos. Essa tribo cresceu numericamente 
e se expandiu pelo resto do mundo, da África para o Oriente Médio, então para a Ásia e Europa. 
Por definição, tribos falam a mesma língua, e a linguagem, por conta de seu gigantesco potencial 
de comunicação, há de ter sido uma força importante sem a qual a grande migração que levou o 
homem a todos os cantos do planeta não teria sido possível. Todos temos a mesma capacidade 
intelectual de adquirir essa técnica de comunicação que é a língua. Ela, junto com nossa capacidade 
de inventar novas máquinas, são as características que nos diferenciam dos outros animais. Embora, 
sempre é bom lembrar, essa é uma questão de graus. Animais também se comunicam e inventam 
ferramentas. A diferença na habilidade é que é tremenda.
5. O estudo das origens dos povos pode auxiliar na resolução de conflitos políticos? Nas 
questões de terra, como os embates entre judeus e palestinos, não adianta saber quem estava 
lá primeiro. A propriedade de terras tem origem histórica, a maior parte das propriedades foi 
adquirida de forma violenta em guerras e, mesmo em tempos de paz, não é raro que propriedades 
sejam conquistadas por meios desonestos. No caso dos bascos, o problema sequer é de quem 
chegou primeiro. Eles são um povo muito, muito antigo. Sua língua pertence à família de línguas 
que se espalhou por todo o mundo antes das ondas migratórias que trouxeram as línguas faladas 
atualmente na Europa. Ainda há idiomas “primos” do basco que sobrevivem em muitos lugares, 
como no Cáucaso, na China e até mesmo entre grupos de índios americanos. Em geral, as sociedades 
humanas tentam desenvolver meios para minimizar os conflitos, mas ainda temos muito a caminhar 
até chegarmos a um acordo que leve à paz e à justiça social que desejamos.
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21|Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Atividades
1. Na Antropologia, o treinamento do olhar é um dos exercícios mais importantes da observação 
participante – trabalho de campo. Saber olhar e discernir a anatomia, as formas e as cores dos 
objetos e sujeitos é a antessala da etnografia. Desenvolva uma pesquisa bibliográfica tendo como 
foco principal o conceito de etnografia e de observação participante. Após a pesquisa procure 
identificar os principais elementos culturais da sua cidade. Faça um pequeno relatório com as 
seguintes observações:
a) Os pioneiros da cidade.
b) A principal atividade econômica.
c) Os principais recursos naturais da região.
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22 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
2. A Antropologia é o estudo das manifestações materiais e imateriais de um povo. As manifestações 
culturais permitem conhecer melhor os costumes, hábitos, crenças e valores de um povo. Na sua 
região, procure identificar:
a) Qual é a principal manifestação cultural da região?
b) Quais são as principais características?
c) Como você define a participação da comunidade nessa manifestação?
3. Que teoria inaugura a Antropologia como ciência, em que época isso ocorre, qual sua principal 
característica e que conceito de homem foi formulado por ela?
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23|Voo panorâmico da “aventuraantropológica”
Referências
BENEDICT, R. Padrões da Cultura. Lisboa: Livros do Brasil, 1989.
_____. O Crisântemo e a Espada (1946). São Paulo: Perspectiva, 2006.
BOAS, F. Primitive Art. Nova York: Capitol, 1951. 
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CAMINHA, P. V. de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: <www.historianet.com.br/conteu-
do/default.aspx?codigo=552>. Acesso em: 20 ago. 2012.
CLIFFORD, J. A Experiência Etnográfica. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.
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CLIFFORD, J.; MARCUS, G. E. Writing Culture: the poetics and politics of ethnography. Berkeley: Univer-
sity of California Press, 1986.
DORIA, P. Relaxe: somos todos mestiços. Disponível em: <http://txt.estado.com.br/suplementos/
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GEERTZ, C. A Interpretação da Cultura. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
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LAPLANTINE, F. A Descrição Etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
MALINOWSKI, B. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
MARCUS, G. E.; FISCHER, M. Anthropology as Cultural Critique: an experimental moment in the hu-
man sciences. Chicago: University of Chicago, 1999. 
RATZEL, F. Geografia Dell’Uomo: antropogeografia. Milano: Fratelli Bocca, 1914. 
SMITH, G. E. The Ancient Egyptians and the Origin of Civilization. London: Harper, 1923.
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24 | Voo panorâmico da “aventura antropológica”
Gabarito
1. 
a) Nomes e atividades desenvolvidas pelos primeiros ocupantes da localidade (registrados e 
documentados ou registros de crença populares).
b) Mineração, pesca, agrária, comércio, pecuária, área remanescente de quilombo, área 
remanescente de aldeias indígenas.
c) Rio, mar, floresta, lagoa, serra.
2. 
a) Festas religiosas (Juninas ou S. Benedito, S. Bárbara), Festas Cívicas (Independência, Proclamação 
da República, Abolição da Escravidão).
b) Religiosa, militar ou civil; turística ou econômica; feriado nacional ou local; de uma comunidade 
étnica ou da população em geral.
c) Participação ativa (por quê?) ou participação parcial (por quê?).
3. Com a Teoria do Evolucionismo Social foram realizadas as primeiras experiências científicas 
da Antropologia a partir da segunda metade do século XIX. A Teoria do Evolucionismo Social 
sistematizou o conhecimento do desenvolvimento das sociedades dos estágios primitivos aos 
civilizados, e seus teóricos formularam o conceito de unidade psíquica do homem.
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A formação da literatura 
antropológica
No século XVI, os povos europeus deram início a uma das maiores aventuras humanas de todos 
os tempos: a Expansão Marítima. O crescimento das economias europeias e de seu comércio empurrou 
navegadores, comerciantes, aventureiros, administradores, religiosos e militares para além dos horizontes 
culturais e humanos do velho continente.
Ao tropeçarem em novas terras, os aventureiros entraram em contato com novos povos, novas 
paisagens, novas ecologias e novas culturas. Primeiro, o espanto; depois, a tentativa de desvendá-los.
O encontro da alteridade cultural e humana está nos primórdios da construção do discurso antro-
pológico, do estudo da complexidade da criação humana e de suas produções materiais e imateriais.
Foram artífices dessa carpintaria antropológica, em momentos distintos, Pero Vaz de Caminha1 
– escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral – autor da Carta do Descobrimento do Brasil, século XVI; 
Hans Staden2, autor de Duas Viagens ao Brasil, século XVI; Jean de Léry3, autor de Viagem à Terra do Brasil, 
século XVI; Jean Baptiste Debret4, autor de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, século XIX.
Cada um, a seu modo e tempo, descreveu a fauna, a flora e a topografia do “Novo Mundo”. Essa 
imagem construída correu o imaginário coletivo europeu e ajudou a desenhar a arquitetura de uma 
nova ciência social, séculos depois, chamada Antropologia.
1 Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escritor português nomeado escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. Autor da carta considerada a 
certidão de nascimento do Brasil.
2 Hans Staden (1525-1579), aventureiro alemão, participou de combates na Capitania de Pernambuco e na Capitania de São Vicente contra 
corsários franceses e seus aliados indígenas. Foi capturado pelos Tupinambás, quase executado e devorado por eles. Resgatado retornou à 
Europa, onde relatou suas aventuras pelo Novo Mundo no livro conhecido como Duas Viagens ao Brasil publicado em 1557 em Marburgo, na 
Alemanha.
3 Jean de Léry (1534-1611) missionário, pastor e escritor europeu, aderiu à Reforma e tornou-se membro da Igreja Reformada de Genebra 
durante a fase inicial da Reforma Calvinista. Foi integrante de um grupo de ministros e artesãos protestantes em uma viagem ao Forte Coligny, 
núcleo inicial da França Antártica, que tentaria ser estabelecida no Rio de Janeiro. Junto com seu grupo foi expulso e acusado de heresia. 
Escapando de ser preso e da consequente execução, conseguiu regressar à Europa e começou a escrever suas experiências brasileiras, que 
seriam publicadas em Histoire d’un voyage fait en la terre du Brésil, autrement dite Amérique (1578), cuja versão para o português, de Alencar 
Araripe e Sérgio Milliet, teve o nome de “Viagem à terra do Brasil”.
4 Jean Baptiste Debret (1768-1848), pintor e desenhista francês, membro da missão de artistas franceses solicitada por D. João VI, que chegou 
ao Brasil em 1816 e ficou até 1831 dedicando-se à pintura e ao magistério artístico. Regressou à França e publica em Paris no período de 1834 
a 1839 Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, uma série de gravuras sobre aspectos, paisagens e costumes do Brasil.
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26 | A formação da literatura antropológica
Expansão Marítima
A Revolução Comercial dos séculos XV e XVI, antessala da Revolução Industrial que caracterizaria 
o século XVIII, impulsionou a expansão ultramarina europeia. A acumulação de capitais, recursos 
materiais e desenvolvimento técnico e científico legaram aos europeus as condições favorecedoras 
dessa expansão.
Os diversos fatores históricos do período, como a centralização do poder nas mãos de um 
governante (no caso, o rei) e a canalização dos recursos da classe emergente (a burguesia) permitiram 
o direcionamento de recursos materiais, econômicos e humanos para a empreitada da navegação 
transcontinental. Atrás de matéria-prima, compradores e novos produtos, as naus europeias cruzaram 
os mares, para muito além de suas costas e paisagens.
No alicerce dessa empreitada, encontra-se a capacidade de concentração e mobilização dos 
recursos sociais disponíveis à época, a revolução tecnocientífica do Renascimento europeu5, a retomada 
da iniciativa do comércio após o período de dominação árabe6, a busca de novos recursos materiais 
(ouro, prata, especiarias) e, acima de muitos dos fatores anteriores, a expansão da fé católica, depois da 
expulsão dos mulçumanos dos territórios europeus, no final do século XV.
Os portugueses foram os pioneiros entre os pioneiros. A centralização do poder político em 
Portugal, o domínio de técnicas avançadas de navegação, sua forte presença nas rotas comerciais e de 
trocas, a liquidez de recursos financeiros auferidos no comércio e a posição geográfica estratégica deram 
aos portugueses grande vantagem, em relação aos demais povos europeus, em especial, os espanhóis.
A principal base científica da expansão ultramarina portuguesa foi a Escola de Sagres7. Num curto 
espaço de tempo, a Escola deEstudos Náuticos, fundada pelo Infante Dom Henrique, transformou-se no 
mais importante centro de estudos e pesquisas das ciências marítimas.
Na Escola de Sagres desenvolveram-se instrumentos e recursos técnicos imprescindíveis para a 
aventura náutica lusitana. Além de sua famosa Junta de Cartógrafos – responsáveis pelo esquadrinha-
mento dos mares nos mapas náuticos portugueses, planos de navegação com extraordinária precisão 
para a época –, os portugueses aprimoraram a bússola, o astrolábio – instrumento legado aos portugue-
ses pelos sábios árabes que ocuparam o território durante séculos, a ampulheta – relógio de areia –, os 
portulatos – livros com descrições precisas das regiões conhecidas – o Quadrante e as técnicas de cons-
trução naval, com o desenvolvimento da caravela. Sem os domínios e conhecimentos técnicos desses 
instrumentos, a aventura portuguesa de além-mar seria uma empreitada passível de fracasso.
O desenvolvimento das caravelas foi um grande salto à frente dado pelos mestres carpinteiros 
portugueses. Essa navegação era capaz de transportar de 20 a 100 homens, com áreas específicas para 
o depósito de alimentos e de armas, e para os alojamentos dos marinheiros e dos capitães. A grande 
inovação técnica da caravela foi a utilização de velas triangulares em mar aberto. A técnica permitiu à 
navegação deslizar em zigue-zague, independentemente da força e da direção do vento.
5 Renascimento europeu foi o movimento cultural que ocorreu no século XVI no norte da Europa e marcou o final da Idade Média e o início da 
Idade Moderna. Fez parte das transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas que caracterizaram a transição do Feudalismo 
para o Capitalismo.
6 A dominação árabe teve início em 756 com a tomada da Península Ibérica, constituindo-se inicialmente num emirado politicamente 
independente, ainda que reconhecendo a supremacia do Califado de Bagdá. Período considerado símbolo da proposta de diálogo 
intercultural e inter-religioso, estendeu-se durante oito séculos até a reconquista cristã do reino de Granada em 1492 resultando na expulsão 
dos muçulmanos seguida da expulsão dos judeus.
7 A Escola de Sagres foi fundada em 1417 pelo Infante Dom Henrique, que pretendia tornar mais eficiente o empreendimento marítimo- 
-mercantil. Representa a mudança radical e definitiva do rumo da expansão ultramarina.
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27|A formação da literatura antropológica
A Escola de Sagres deu aos portugueses uma vantagem que só depois seria alcançada pelos 
espanhóis na corrida ultramarina.
Após a expulsão moura – final do século XV – os reis católicos Fernando e Isabel8 deram início às 
grandes navegações espanholas. Os monarcas forneceram suportes econômicos, logísticos, técnicos e 
humanos para que o navegador Cristóvão Colombo9 desse início à viagem que o levaria, supostamente, 
às Índias.
Colombo navegou em direção ao oeste até encontrar as Antilhas. Mais tarde, o navegador chegou 
às ilhas de Cuba, El Salvador e Santo Domingo.
Com o ingresso dos espanhóis à empresa da navegação, acirraram-se os conflitos europeus 
para além-mar. Os governos português e espanhol disputavam palmo a palmo cada pedaço de terra 
e recursos encontrados no “Novo Mundo”. Sob a autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana, a 
intensificação dos conflitos levou os países a assinarem um acordo que passou para a história como o 
“Tratado de Tordesilhas10”, que procurou disciplinar as disputas advindas dos encontros de novas terras 
e riquezas.
As duas nações ibéricas lançaram mão sobre as terras e riquezas nas Américas, África e Ásia.
Mais tarde, Inglaterra, França e Holanda lançaram-se à aventura ultramarina e provocaram a 
ruptura do antigo domínio dos dois povos pioneiros das empreitadas no além-mar.
Diversidade humana e cultural
A expansão dos quadrantes conhecidos do mundo provocou uma profunda ruptura nas 
identidades dos povos europeus. As diversas culturas europeias deram um padrão de comportamento 
e atitude ante o mundo, que comportavam algumas semelhanças. Os povos encontrados no “Novo 
Mundo” tinham peles diferentes, costumes distintos, comportamentos sociais desconhecidos, formas 
de organização religiosa “estranha” para os olhares dos recém-chegados. Para os europeus, os novos 
povos não tinham organização do estado, da economia, da cultura, do poder político e militar e, acima 
de tudo, de religião, se comparado às instituições europeias.
A grade mental do europeu passa a ser ocupada por uma nova visão de homem e das formas de 
organização das suas atividades tangíveis e intangíveis.
O encontro de novos povos e cultura provocou um profundo estranhamento na mentalidade dos 
povos europeus.
O antropólogo Darcy Ribeiro (1995, p. 48) descreve da seguinte maneira o contraste provocado 
no encontro entre índios11 e europeus:
O contraste não podia ser maior, nem mais infranqueável, em incompreensão recíproca. Nada do que os índios tinham 
ou faziam foi visto com qualquer apreço, senão eles próprios, como objeto diverso de gozo e como fazedores do que 
8 O título de reis católicos é o nome pelo qual ficou conhecido o casal composto pela rainha Isabel I de Castela e o rei Fernando II de Aragão, 
que unificaram os reinos ibéricos no país que se tornou Espanha.
9 Cristóvão Colombo (1451-1506) foi um navegante genovês que descobriu a América a serviço da Espanha.
10 Tratado de Tordesilhas: tratado assinado em 1494 por Portugal e Espanha que dividia o “Novo Mundo” em duas partes: as terras a leste 
pertenciam a Portugal e as terras a oeste pertenciam à Espanha.
11 Ao chegarem às Américas, os europeus imaginavam que tinham alcançado a Índia, por essa razão deram aos povos encontrados no “Novo 
Mundo” o nome de índios.
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28 | A formação da literatura antropológica
não entendiam, produtores do que não consumiam. O invasor, ao contrário, vinha com as mãos cheias e as suas naus 
abarrotadas de machados, facas, facões, canivetes, tesouras, espelhos e, também, miçangas cristalizadas em cores 
opalinas. Quanto índio se desembestou, enlouquecido, contra outros índios e até contra seu próprio povo, por amor 
dessas preciosidades! Não podendo produzi-las, tiveram que encontrar e sofrer todos os modos de pagar seus preços, 
na medida em que elas se tornaram indispensáveis. Elas eram, em essência, a mercadoria que integrava o mundo índio 
com o mercado, com a potência prodigiosa de tudo subverter. Assim se desfaz, uniformizado, o recém-descoberto 
Paraíso Perdido.
Em tudo eram diferentes os costumes dos europeus e o dos habitantes das novas terras, os índios 
americanos.
Nesse período, a Antropologia Espontânea – narrativa e relato (cartas, diários, relatórios) – eram 
feitos pelos missionários, viajantes, comerciantes, exploradores, militares e administradores das novas 
terras.
Descreviam-se as riquezas da terra, a diversidade e exuberância da fauna e flora, a multiplicidade 
de formas da topografia, as anatomias, formas, gostos, modelos, jeitos e traços dos povos “descobertos” e 
as suas crenças e valores éticos e morais. Esses foram os primeiros relatos “etnográficos” com os registros 
das diversidades e alteridades humanas e culturais.
A carta do escrivão Pero Vaz de Caminha dá uma visão de como se articulavam as primeiras litera-
turas antropológicas, inauguradas com a descrição de formas e costumes de outros povos. O confronto 
de costumes e crenças merece a atenção escrupulosa dos narradores de então.
Caminha descreve-lhes as formas:
[...] os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e 
rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espéciede 
cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria 
o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o 
era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a 
levantar.
Os costumes e modos:
[...] então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não 
eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes mandou pôr por baixo das cabeças 
seus coxins; e o da cabeleira esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, 
quedaram-se e dormiram.
E, principalmente, práticas e costumes religiosos:
[...] enquanto estivemos à missa e à pregação, seria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos como a de ontem, 
com seus arcos e setas, a qual andava folgando. E olhando-nos, sentaram-se. E, depois de acabada a missa, assentados 
nós à pregação, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina, e começaram a saltar e dançar um pedaço. 
E alguns deles se metiam em almadias – duas ou três que aí tinham – as quais não são feitas como as que eu já vi; 
somente são três traves, atadas entre si. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam não se afastando quase 
nada da terra, senão enquanto podiam tomar pé. (CAMINHA, 1500)
Na mesma linha descritiva avança o navegador Américo Vespúcio12. Ele registra com precisão 
etnográfica seu percurso até as novas terras, suas fauna e flora, seus povos e seus costumes.
Vespúcio narra as formas e feições dos nativos:
12 Américo Vespúcio (1454-1512), italiano, navegador e mercador. Foi o primeiro a constatar que as recém-descobertas terras do Novo Mundo, 
que receberam o nome de América em sua homenagem, constituíam um continente e não parte da Ásia.
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29|A formação da literatura antropológica
Têm os cabelos negros e crescidos; são ágeis e fáceis no andar e nos jogos, e de mui belas feições, as quais contudo a si 
próprios desfiguram, furando as faces, os lábios, as ventas e as orelhas. E não se creia que os buracos sejam pequenos ou 
tenham apenas um, pois vi muitos com sete, cada um dos quais tão grandes como um abrunho. Tapam estes buracos 
com bonitas pedras azuis de mármore, cristalinas ou de alabastro, e com ossos alvíssimos e outros objetos elaborados 
segundo seu uso, que é insólito e monstruoso. Homens há que levam nas faces e lábios sete pedras, cada uma de meta-
de da palma da mão de comprido. Não sem admiração, muitas vezes achei pesarem essas sete pedras dezesseis onças, 
além das que trazem pendentes de três buracos nas orelhas. (VESPÚCIO, 2007)
Dos hábitos culturais:
[...] não se dão à caça; penso que porque havendo aí muitas sortes de animais, maxime leões e ursos e muitas cobras e 
outros bichos hórridos e disformes, e porque os bosques são extensos e as árvores muito grandes, não ousam arriscarem- 
-se nus e sem comprimento a tantos perigos. (VESPÚCIO, 2007)
Das terras:
[...] a terra daquelas regiões é fértil e amena, de muitos montes e morros, e infinitos vales, e regada de grandes rios 
e fontes, coberta de extensos bosques, densos e apenas penetráveis, e povoada copiosamente de feras de todas as 
castas. Nela nascem, sem cultura, grandes árvores, as quais produzem frutos deleitosos, e de proveito ao corpo e nada 
nocivos, e nenhuns frutos são parecidos com os nossos. Produzem-se inumeráveis gêneros de árvores e raízes, de que 
fabricam pão e ótimos mingaus, além de muitos grãos ou sementes não semelhantes aos nossos.
E das riquezas naturais:
[...] as pérolas abundam nesta região, como em outro lugar escrevi. Seria demasiado prolixo e descomedido se quisesse 
dar conta uma por uma de todas as coisas dignas de notícia e das numerosas espécies e multidão de animais. E verda-
deiramente creio que o nosso Plínio não conseguiu tratar da milésima parte dos animais, nem dos papagaios e outros 
pássaros, os quais, naqueles países, são de formas e cores tão variadas, que o artista Policleto não conseguiria pintá-los. 
Todas as árvores tão odoríferas, e produzem gomas ou óleos, ou algum outro licor, cujas propriedades todas, se fossem 
conhecidas, não duvido que andaríamos todos sãos. E por certo que se o paraíso terreal existe em alguma parte da 
terra, creio que não deve ser longe destes países, ficando situado ao meio dia, com ares tão temperados, que nem no 
inverno gela, nem no verão faz calor. (VESPÚCIO, 2007)
São esses relatos e narrativas que foram o chassi das narrativas antropológicas primordiais, pré- 
-científicas; da antropologia “espontânea”. Se ela é uma constante desde os tempos antigos, nos relatos e 
histórias dos viajantes da Antiguidade, essas narrativas do século XVI tomam novas formas e contornos, 
com o advento da aventura ultramarina. O contato com povos diferentes, com costumes, hábitos e 
formas de organização da vida material e imaterial distintas das dos europeus, em escala até então 
pouco experimentada, impulsionou a reflexão sobre o homem e seus feitos.
Estavam dadas assim, com o encontro de dois mundos distintos, as bases para a reflexão da natu-
reza humana dos novos povos e novos mundos encontrados.
Para o antropólogo Laplantine (1987, p. 37), esse encontro é a gênese da “reflexão antropológica”. 
Ele destaca uma questão central do contato com a alteridade, do confronto visual com a diferença: 
os novos povos descobertos pelos navegadores pertencem à humanidade? A reposta a essa questão 
fundamenta-se, à época, nas escritas religiosas. A questão é colocada dentro dos seguintes parâmetros: 
O selvagem tem alma? O pecado original também lhes diz respeito? (LAPLANTINE, 1987, p. 37-38).
Na busca de resposta a essa questão, na metade do século XVI, a arena da polêmica é ocupada 
por dois dos maiores polemistas do período. Em defesa da natureza humana dos índios encontra-se o 
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30 | A formação da literatura antropológica
missionário dominicano Bartolomeu de Las Casas13; no lado oposto, na defesa da negação da natureza 
humana dos indígenas encontra-se o jurista Juan Ginés de Sepúlveda14.
Las Casas acentua as realizações humanas desses povos. O missionário compara, para fortalecer 
seu argumento, as realizações dos povos encontrados com os povos europeus, e conclui, em alguns 
aspectos, com a superioridade dos primeiros em relação aos segundos:
Àqueles que pretendem que os índios são bárbaros, respondemos que essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, 
senhores e uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa [...]. Nós mesmos fomos piores, no tempo 
de nossos ancestrais e sobre toda a extensão de nossa Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação 
de nossos costumes. (LAS CASAS apud LAPLANTINE, 1987, p. 38-39)
O missionário dominicano15 terá, mais tarde, papel decisivo na escravização dos africanos, negan-
do-lhes a mesma natureza humana atribuída aos nativos americanos.
Na outra linha da contenda, posiciona-se o jurista Sepúlveda. Sua arguição tem caminho oposto 
ao de Las Casas. De forma enfática, nega aos nativos qualquer possibilidade de natureza humana e 
defende, sem cerimônia, a submissão dos indígenas aos europeus:
Aqueles que superam os outros em prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em força física, aqueles 
são, por natureza, os senhores; ao contrário, porém, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo que tenham as forças 
físicas para cumprir todas as tarefas necessárias, são por natureza servos. [...] E se eles recusarem esse império, pode- 
-se impô-lo pelo meio das armas e essa guerra será justa, bem comoo declara o direito natural que os homens 
honrados, inteligentes, virtuosos e humanos dominem aqueles que não têm essas virtudes. (SEPÚLVEDA apud 
LAPLANTINE, 1987, p. 39)
Não se furta a esse debate da época uma figura importante na colonização do Brasil, o padre 
Manoel da Nóbrega16. Segundo Darcy Ribeiro (1995), Nóbrega, em 1558, defende um plano de 
colonização que implica a eliminação dos nativos, ou escravização dos que não forem eliminados. 
Ribeiro dá ênfase à “eloquência espantosa” de Nóbrega para pôr fim à antropofagia17: era necessário 
dar fim “a boca infernal de comer a tantos cristãos”.
Se S. A. [Sua Alteza] os quer ver todos convertidos, mande-os sujeitar e deve fazer estender aos cristãos por a terra 
dentro e repartir-lhes os serviços dos índios àqueles que os ajudarem a conquistar e senhoriar como se faz em outras 
terras novas [...]. Sujeitando-se o gentio, cessarão muitas maneiras de haver escravos mal havidos e muitos escrúpulos, 
porque terão os homens escravos legítimos, tomados em guerra justa e terão serviços de avassalagem dos índios e a 
terra se povoará e Nosso Senhor ganhará muitas almas e S. A. terá muita renda nesta terra porque haverá muitas cria-
ções e muitos engenhos, já que não haja muito ouro e prata [...] (NÓBREGA in RIBEIRO, 1995, p. 50-51)
Segundo Darcy Ribeiro (1995), essa polarização sobre a natureza humana do indígena no Brasil 
vai perdurar durante um longo tempo, no início da ocupação territorial. Ela se expressará em conflitos 
pontuais entre os projetos de ocupação e a política dos jesuítas.
Apesar de o projeto jesuítico de colonização do Brasil nascente ter sido formulado sem qualquer escrúpulo humanitário, 
tal foi a ferocidade da colonização leiga, que estalou, algumas décadas depois, um sério conflito entre os padres da 
13 Bartolomeu de Las Casas (1472-1566) era espanhol e frei dominicano que converteu-se à causa da evangelização pacífica dos índios, 
denunciando os abusos cometidos e dedicando-se à defesa da vida, da liberdade e dignidade do índio.
14 Juan Ginés de Sepúlveda (1490-1573), jurista espanhol, baseava em Aristóteles a fundamentação teórica para sua tese de escravidão 
natural dos índios.
15 Las Casas, é certo, tendo aconselhado primeiramente a introdução de negros nas Índias, caiu depois em si, vendo a injustiça com que 
os tomavam os portugueses. Porque, diz “la misma razón es de ellos que de los índios”. Contudo, a História de las Índias, onde figura essa 
retratação, apesar de ter circulado logo em manuscritos, só encontraria seu primeiro impressor três séculos após a morte de Las Casas. De 
qualquer modo, sua denúncia do tráfico e escravidão dos negros não encontrou a larga ressonância que tivera a campanha pela liberdade dos 
índios” (HOLANDA, 2000, p. 375).
16 Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) foi um sacerdote jesuíta português, chefe da primeira missão jesuítica à América.
17 Antropofagia é o ato de consumir uma parte, várias partes ou a totalidade de um ser humano.
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31|A formação da literatura antropológica
Companhia [de Jesus]18 e os povoadores dos núcleos agrário-mercantis. Para os primeiros, os índios, então em declínio 
e ameaçados de extinção, passaram a ser criaturas de Deus e donos originais da terra, com direito a sobreviver se 
abandonassem suas heresias para incorporarem ao rebanho da Igreja, na qualidade de operários da empresa colonial 
recolhidos às missões [jesuíticas]19. Para os colonos, os índios eram um gado humano, cuja natureza, mais próxima de 
bicho do que de gente, só os recomendava à escravidão. (RIBEIRO, 1995, p. 53)
Dessa forma, no início do debate da natureza humana emanada da alteridade e diversidade cul-
tural e humana, o núcleo central da discussão é de ordem religiosa, entre os que praticam a religião 
cristã e os outros, destituídos da prerrogativa humana delegada pela religião.
A esse respeito, Holanda (2000) dirá:
Não parece excessivo, pois, dizer que muitos dos antigos missionários do Brasil que, agindo embora à maneira de Frei 
Bartolomeu de Las Casas, deveriam parecer-se um pouco, no seu pensar, com Ginés de Sepúlveda, o acre opositor 
do Apóstolo das Índias [Las Casas] e partidário do Campelle intrare até o extremo da violência intolerante contra os 
bárbaros americanos. Assim é de crer que veriam no gentio muito mais o “perro cochino” do que o “bom selvagem”. 
(HOLANDA, 2000, p. 378)
Tangencial à discussão da natureza humana dos indígenas, outro debate aflora dos textos e nar-
rativas do período dessa Antropologia “espontânea”: a natureza da terra (flora, fauna, riquezas natu-
rais, clima e condições humanas). Algumas narrativas apontam a natureza degradante das novas terras, 
impróprias para o desenvolvimento das potencialidades humanas. Outras, pelo contrário, destacam a 
natureza generosa da terra e de suas condições, comparadas ao paraíso terrestre.
Dentro do universo dessas duas visões, a natureza humana era pendular: ora uma natureza boa 
com pessoas de segunda qualidade, ora uma natureza má com pessoas de primeira qualidade.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda (2000) registrará as diversas visões do paraíso que circu-
laram entre as narrativas dos primeiros períodos da colonização das Américas.
Uma visão nostálgica do paraíso:
[...] de uma parte, a polêmica dirigida contra a miséria do tempo presente, amparada no louvor e nostalgia de um pas-
sado venturoso e idílico, iria aparentemente favorecê-la. Essa polêmica sabe-se que é de todos os tempos, mas quando 
se torna singularidade viva é nos tempos medievais, dando causa até as fórmulas estereotípicas com a do ubi sunt, de 
que a balada mais célebre de François Villon é exemplo ilustre, mas não o único. (HOLANDA, 2000, p. 229)
E outra visão corrompida:
[...] por outro lado, a ideia da corrupção desse nosso mundo e da natureza, em consequência do Pecado e da Queda, 
acha-se implantada em todo o sentimento e pensamento cristão, e deita claramente raízes nas Sagradas Escrituras. 
Não custaria distingui-las já no Gênesis, quando alude à maldição divina lançada sobre a própria terra, que passaria 
agora a dar cardos e abrolhos. E ainda, para também recorrer ao Novo Testamento, naquele passo da Epístola dos 
Romanos (8:22), onde está dito que toda a criação, e não somente a espécie humana, “geme e padece até hoje”, por 
culpa do primeiro homem. (HOLANDA, 2000, p. 229)
Essas visões distintas da natureza e do homem é a grade de fundo que permeia todo o debate da 
diversidade humana e cultural, antes do Iluminismo20. O debate estava preso à concepção religiosa de 
mundo. Navegantes, militares, administradores e, acima dos demais, os religiosos sacavam dos textos 
18 A Companhia de Jesus foi criada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola com o objetivo de combater o Protestantismo e por meio de seus 
missionários espalhar a fé cristã.
19 As missões jesuíticas funcionavam como pequenas colônias independentes subordinadas diretamente à Igreja Católica. Seus missionários, 
os padres jesuítas, eram os responsáveis pela evangelização e catequização dos povos colonizados.
20 Iluminismo é o nome do movimento surgido na França do século XVII e que defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que 
dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas 
em que se encontrava a sociedade. Os pensadores que defendiam esses ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado 
adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.
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32 | A formação da literatura antropológica
sagrados às bases de suas arguições para explicar as diferenças da natureza humana, explicitada

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