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Processo Penal II – Estácio/FASE CASOS CONCRETOS – PROCESSO PENAL II 1. A autoridade policial prende João de forma ilegal, vale dizer, sem esteja ele em situação de flagrância e sem que haja ordem escrita da autoridade judiciária competente. No curso dessa prisão ilegal, sentindo-se coagido, João vem a confessar o crime de que está sendo investigado. Mais tarde, já durante o processo, quando ouvido em juízo, na presença de seu advogado e livre de qualquer coação, João vem a confessar ao magistrado seu envolvimento, confirmando tudo o que disse na fase policial. Tal confissão obtida na fase policial eiva de vício a confissão prestada em juízo? Justifique. Qual a teoria aplicada no caso em tela? Explique-a. A nova confissão obtida em juízo expurga a ilicitude da confissão anterior. Essa situação é um exemplo da chamada Teoria da mancha purgada ou da tinta diluída ou contaminação expurgada em que o vínculo entre a prova ilícita e a derivada é tão superficial que acaba não havendo contaminação. 2. Pedro, testemunha de acusação ouvida na fase inquisitorial é arrolada pelo Ministério Público na denúncia e, posteriormente, ouvida em audiência pelo juiz. Mais tarde, vem-se a descobrir que tal testemunha apenas foi descoberta pela polícia em razão de uma interceptação clandestina da conversa de suspeitos. Tal testemunho de Pedro pode ser utilizado como meio de prova para a condenação no processo criminal iniciado com a denúncia do MP? O testemunho de Pedro não poderá ser utilizado como meio de prova, posto que, decorrente de uma prova ilícita, qual seja, interceptação clandestina. Trata-se de um exemplo de prova ilícita por derivação, consagrada na Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada segundo a qual a prova ilícita produzida (árvore), tem o condão de contaminar todas as provas dela decorrentes (frutos). 3. Suponhamos, que no caso anterior, outra testemunha compareceu espontaneamente perante o representante do Parquet apontando em seu depoimento Pedro como testemunha ocular do crime, razão pela qual o mesmo foi arrolado na denúncia. Haveria alguma mudança em relação ao caso anterior quanto a licitude da prova testemunhal? Haveria mudança e o testemunho de Pedro seria válido. O caso é um exemplo da Teoria da Fonte Independente que expõe que caso haja uma fonte lícita e independente da fonte ilícita, a prova derivada deverá ser admissível e não precisará ser desentranhada dos autos, pois poderia ter sido obtida da fonte legal. 4. A autoridade policial, mediante tortura, obtém de Joaquim a localização de documentos comprobatórios da sua participação em determinado crime. Diante de tal informação, obtém mandado de busca e apreensão para apreender referidas provas. Tais documentos apreendidos podem ser utilizados como prova em futuro processo criminal contra Joaquim? Por ter sido decorrente de informação obtida por meio ilícito qual seja: tortura, os documentos constituem prova ilícita por derivação e não podem ser utilizados no processo, conforme a primeira parte do §1º do art. 157 do CPP. 5. Imagine-se, contudo, que, independentemente da forma criminosa como obtida a localização dos documentos, ao chegar ao local onde se encontrava a prova documental, a autoridade policial e seus agentes deparam-se com policiais integrantes de outra equipe de investigação, os quais, munidos de mandado judicial de busca e apreensão obtido em face de declarações prestadas por um vizinho, acabam por localizar os documentos incriminadores. Teria tal fato alguma repercussão quanto a admissibilidade ou não da prova documental? Nesse caso, a prova derivada seria descoberta de qualquer forma, com ou sem a prova ilícita, então não há que se falar em contaminação da prova derivada conforme prega a Teoria da Exceção da Descoberta Inevitável. Processo Penal II – Estácio/FASE 6. Julieta grava conversa mantida com seu marido Germano em que este, sem saber que estava sendo gravado, confessa ter mandado matar o amante do cônjuge virago após descobrir a traição. Tal gravação pode ser utilizada como meio de prova incriminador contra Germano. Explique. Caso a gravação telefônica tivesse sido realizada por outra pessoa que não a esposa de Germano, mudaria alguma coisa? A gravação feita por Julieta não pode ser utilizada como meio de prova. Como a conversa gravada foi entre marido e mulher, os interlocutores estão sujeitos a causa legal de sigilo ou reserva de conversação, restando caracterizada a ilicitude do meio de prova. 7. Gil, tendo o filho sequestrado e avisado de que será ele morto caso desencadeada investigação policial, venha a solicitar que um policial amigo realize uma interceptação clandestina de seu telefone, a fim de obter informações dos sequestradores e o local do cativeiro. Em razão da escuta telefônica, os criminosos são identificados e o cativeiro localizado sendo libertado o filho de Gil sem que haja a prisão dos sequestradores, apesar de já identificados. Tal interceptação pode ser utilizada como meio de prova para incriminar os sequestradores? Justifique. Nesse caso a interceptação poderá ser utilizada como meio de prova para incriminar os sequestradores. Trata-se de caso de excludente de ilicitude decorrente de estado de necessidade. 8. Vítima de crime de pedofilia adentra sem autorização a casa do principal suspeito e obtém provas incriminadoras contra o mesmo. Tais provas poderão ser utilizadas em futuro processo criminal contra o acusado? Explique. As provas não podem ser utilizadas em futuro processo criminal. A vedação à admissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos tem como objetivo a tutela dos direitos e garantias fundamentais. Dessa forma, não importa quem tenha sido o agente responsável pela produção da prova ilícita: autoridade policial ou particular. A proporcionalidade “pro reo” não autoriza o acusado a agir de forma desarrazoada. 9. Caso a invasão ilegal do domicílio tivesse sido realizada pela acusado na casa da suposta vítima do crime de pedofilia e lá tivesse encontrado provas que o inocentassem. Tais provas poderiam ser utilizadas no processo criminal ? Justifique. Nesse caso, a doutrina e a jurisprudência têm admitido a utilização de prova ilícita no processo quando ela for produzida em benefício do acusado, entendendo que o direito de defesa e o princípio da presunção de inocência devem preponderar no confronto com o direito de punir (princípio da proporcionalidade). Sendo a prova, aparentemente ilícita, colhida pelo próprio acusado, considera-se que a ilicitude é eliminada por causas legais, como a legítima defesa, que exclui a antijuridicidade. 10. Em uma interceptação telefônica autorizada para apurar o crime de roubo de carga obtém-se a informação em uma das conversas mantidas entre os investigados que um deles teria ameaçado o vigilante da transportadora de cargas, a fim de que o mesmo prestasse informações acerca da rotina da empresa. Tal diálogo que comprova o crime de ameaça por parte de um dos suspeitos pode ser utilizado como prova para incriminá-lo, uma vez que o crime é punido com pena de detenção? Justifique. Em regra, para a decretação da interceptação é necessário que o crime seja punido com reclusão. No entanto, a descoberta acidental da prática de outro delito nesta circunstância, intitulada pela jurisprudência de serendipidade, não invalida a utilização das provas colhidas, mesmo que o crime descoberto seja punido com detenção.
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