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A juricidade da obrigação tributária Roberto Borges Evangelista* RESUMO Etimologicamente derivada do verbete latim, tributum, a palavra tributo significa contribuição, pagamento. A sua causa ancestral é o poder de império do Estado – nos dias atuais, em regra, o Poder Constituinte em dada sociedade exercendo sua função legiferante constitui o seu Estado; o Ente estatal, a organização máxima para exercer aquela posição de superioridade e de hierarquia plena sobre os indivíduos; dessa soberania estatal investida no poder de legislar ou sancionar normas legais (Estado de Direito), o seu reflexo é automático, inclusive, ao cominar condutas ou impor obrigações, das quais pagar tributos – daí, quê, a sua exorbitância é, de fato, bastante contingenciada em sede dos Direitos Fundamentais, ao longo da história e da civilização dos povos. PALAVRAS-CHAVE – Tributo. Estado. Legiferante. Direitos Fundamentais. RESUMEN Etimológicamente deriva de la entrada del latín tributum, la palabra significa contribución tributo, pago. Su causa es el antepasado del imperio del poder del estado – en la actualidad, por regla general, el poder constituyente en dado sociedad ejercer su función legiferante es el Estado; la entidad estatal, la máxima organización a participar en esa posición de superioridad y jerarquía completo sobre los individuos; Esta soberanía del Estado corresponde el poder de legislar, sancionar las disposiciones legales (Imperio de la ley), su reflexión es automática, incluyendo las tuberías o imponer obligaciones cominar, de que pagar impuestos, por lo tanto, lo que, sus empinadas es de hecho bastante contingenciada en los derechos fundamentales, a lo largo de la historia y civilización de los pueblos. PALABRAS-LLAVE- Impuestos. Estado. Legiferante. Derechos fundamentales. SUMÁRIO- Introdução. Estado Democrático de Direito, Social e Tributário. Elementos jurídicos da obrigação tributária. Conclusão. Introdução O Estado (a Sociedade) evolui, ato e fato, no tempo. Assim, temporal e apropriadamente, o Direito evolui os Estados, no mundo. Fonte para superação de guerras imemoráveis ou de conflitos seculares – tais as conquistas, pilhagens, extorsão ou colonização dos povos de outrora – assentado está o Direito, a garantia da sua reserva, face ao poder de império do Estado de buscar recursos, compulsoriamente, na propriedade privada[1]. Regimentando a universalidade dos meios de sua auto composição e manutenção. Estado de Direito. Superadas e perpassadas evoluções da juridicidade a exemplo da teoria da tripartição dos poderes[2], cuja concepção em Montesquieu deu-se no campo político-social. Entretanto, ao contrário, a mesma tripartição dos poderes, com a proclamação da República Norte-americana no século XVIII – perfaz teoria jurídica constitucional contemporânea – encetando a plenitude da sua universalidade jurídica, cujo escopo principal é a autolimitação do Estado, justamente, face à cidadania, no exercício reflexo do próprio poder político. No decurso do último século XX, na grande e expressiva maioria dos Estados Internacionais vimos a evolução legislativa das normas fundamentais e suas instrumentalidades vindo aprimoradas suas concepções legislativas, promulgadas e sancionadas. Outorga da Reserva Legal[3] – o limite discricionário daquele poder de império, inclusive, de tributar – adstrita, então, ao Princípio da Legalidade – presente nas mais variadas compilações constitucionais das Sociedades e dos Estados Internacionais a proteger a liberdade e a propriedade da pessoa humana. Estado Democrático de Direito, Social e Tributário Também entre nós, brasileiros. Aquilata-se a razão da Cidadania. Percute à Dignidade da Pessoa Humana, o Estado Democrático de Direito, Social e Tributário. Nesse sentido, para a melhor apreensão em TIPKE e YAMASHITA: “O Direito Tributário de um Estado de Direito não é Direito técnico de conteúdo qualquer, mas ramo jurídico orientado por valores. O Direito Tributário afeta não só a relação cidadão/Estado, mas também a relação dos cidadãos uns com os outros. É direito da coletividade (2002, p. 13).” Entretanto, dessa relação legislada, e sobre a práxis tributária que legitima o Estado como credor de tributo, e comina a pessoa como devedora tributária vem ensejar nem apenas uma mera relação de poder, sumariamente, mas recepciona também, por todos os seus caracteres ou elementos constitutivos, relação jurídica vinculada a regras de direito. Nisso perfazendo-se uma relação jurídica[4] fundamental – de contribuintes com o Estado ou vice versa – quer dizer, de natureza constitucional obrigacional dando- lhes função social e de interesse público, para conciliar a constrangedora cominação do tributo sobre o direito de propriedade. Evidenciada a esta assertiva – presente neste estudo sob o aspecto da Obrigação Tributária – os pressupostos autônomos do Direito Tributário. A Constituição[5] Cidadã de 1988 traz no “TÍTULO VI, Da Tributação e do Orçamento; CAPÍTULO I, DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL – artigos 145 a 162 – o arcabouço de normas fundamentais e o corolário de constitucionalidades. Irradiam as competências que, dali emanadas disciplinam a complexa estrutura tributária e financeira da Administração Pública, da relação entre os entes federados, ou destes com o contribuinte, e, das suas condicionalidades. Inclusive, com o reflexo ou repercussão em outros ramos do Direito. O Código Tributário Nacional – CTN, nos termos do artigo 113 impõe uma taxatividade axiológica da Obrigação Tributária. Principal ou Acessória. Interpretação vinculada. Concreta ou Subjetiva. Elucidação pedagógica simples, quanto brilhante é dada em Hugo de Brito MACHADO: “Diríamos que ela é a relação jurídica em virtude da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de prestar dinheiro ao Estado (sujeito ativo), ou de fazer, não tolerar ou tolerar algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos Tributos, e o Estado tem o direito de constituir contra o particular um crédito” (2007, p. 150). Aduzindo a premente distinção, entretanto, daquele seu ensinamento, dentre a obrigação tributária do artigo 113; e a do crédito tributário no artigo 139, do CTN. É certo que o crédito tributário se faz derivativo de determinada obrigação, o quê, todavia, a contrario sensu não ocorre. A obrigação tributária decorre, em regra, de lei federal ou complementar. O eminente tributarista é enfático: “[...]A obrigação é um primeiro momento na relação tributária. Seu conteúdo não é ainda determinado e o seu sujeito passivo ainda não está formalmente identificado. Por isso mesmo a prestação respectiva ainda não é exigível. Já o crédito tributário é um segundo momento na relação de tributação. No dizer do CTN é decorrente da obrigação principal e tem a mesma natureza desta (art. 139). Surge com o lançamento, que confere à relação tributária liquidez e certeza.” No artigo 113, do CTN, a obrigação tributária principal, que é simultânea a ocorrência do fato gerador tem por objeto o recolhimento de tributo ou penalidade pecuniária, os quais se exaurem juntamente com o recolhimento do crédito dela originado. Obrigação acessória é derivada na legislação tributária, a qual sanciona as prestações, positivas ou negativas, do corolário de interesse da arrecadação ou da fiscalização de tributos. A obrigação acessória, respectivamente à penalidade pecuniária, pela sua simples inobservância converter-se-á em obrigação principal. À suma doutrinária do Professor Hugo de Brito Machado, não obstante os comparativosentre o Direito Civil, ou aludidos sucedâneos com o Direito Tributário, especificamente, da Obrigação Tributária, sobre isso, aliás iremos aqui olvidar. Elementos jurídicos da obrigação tributária Artigo 114, do CTN: Fato Gerador é definido em lei obrigação principal, de ocorrência necessária, mas suficiente para, automaticamente, caracterizar a obrigação tributária. Secundado, no artigo 115, do CTN, o fato gerador de obrigação acessória será decorrente de legislação aplicável, que vincula sua forma de fazer ou abster-se de fazer. Significa concretizar a hipotética de incidência tributária prevista na lei em abstrato, e, que não se confunda com aquela obrigação principal. A meticulosa juridicidade da sua ocorrência, antevistas nos artigos 116 a 118, do CTN, as circunstâncias materiais e dos efeitos próprios, da situação de fato ou da situação jurídica; das atribuições da autoridade administrativa tributária; dos atos ou negócios jurídicos perfeitos e acabados e de suas condicionalidades; da definição legal ou sua interpretação; da validade dos atos e da competência dos atores tributários; ou, ainda, da natureza objetiva do fato gerador, ou de seus efeitos. Os artigos 119 e 120, do CTN regenciam, privativamente, os entes Estatais – pessoa jurídica de direito público União, Estados, DF e Municípios – sujeitos ativos da titularidade e competência, ou da sub-rogação, para legislar ou exigir o cumprimento da obrigação tributária. No CTN, o artigo 121 preceitua em abstrato regras consectárias de fato ou de direito, das relações cominadas ao contribuinte – a pessoa natural ou física, ou pessoa jurídica – sujeito passivo da obrigação principal: “I- contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II- responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.” Quanto, também, da obrigação acessória, o artigo 122, do CTN condiciona, sujeito passivo, a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto. Na relação tributária dos sujeitos passivos – independe de formalidade, integrante ou não da relação jurídico-tributária originária – o contribuinte de fato é aquela pessoa à qual incide diretamente a obrigação pecuniária decorrente da tributação econômica. Por outro lado, o contribuinte de direito é aquele designado pela legislação e obrigado a pagar tributo ou autuações pecuniárias. Ainda do rol de taxatividades aos sujeitos passivos da obrigação tributária, entendimento simples, nos artigos 124 e 125 do CTN dá-se a solidariedade, sem comportar benefício de ordem vale ressaltar: “São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II - as pessoas expressamente designadas por lei. Também do quanto dispõe sobre os seus efeitos: “[...] Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solidariedade: I - o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais; II - a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo; III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais.” Dando corpo a literalidade da lei sobre a capacidade tributária e de sua observância, no artigo 126, do CTN: “a capacidade tributária passiva independe: I - da capacidade civil das pessoas naturais; II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional.” Outra cominação dirimente e literal é dado para constituir o foro de juízo, a saber, o domicílio tributário, no artigo 127, do CTN: “na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera- se como tal: I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento; III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante.” Excedem, ainda, da autoridade administrativa, duas discricionariedades a serem cominadas: quando para aplicação daquelas regras fixadas não couber qualquer das hipóteses descritas dar-se-á ao contribuinte ou responsável, o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos / fatos que deram origem à obrigação, como o respectivo domicílio tributário. “A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo anterior”. Conclusão Delineada à propositura estrutural normativa para o entendimento formal da juridicidade contida na relação obrigacional tributária, de seu mote e surgimento, à distinção e qualificação de seus polos ativos e passivos. Perpassadas, então, as partes ou atores da relação jurídica tributária, por certo incide, também, a inafastável Responsabilidade Tributária, a qual é titularizada no Capítulo V, em onze artigos, 128 a 138, do Código Tributário Nacional, cuja abordagem didática de desdobramentos hermenêuticos por ora é aqui declinada, pela contenção desse mesmo espaço didático ora encetado para a exordial caracterização da obrigação tributária. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum. 17. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva. 2014. HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 25. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2016. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 28.ed. São Paulo: Malheiros. 2007. PALSEN, Leandro. Curso de direito tributário: completo. 4. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. TIPKE, Klaus; YAMASHITA, Douglas. Justiça fiscal e Princípio da Capacidade Contributiva. São Paulo: Malheiros, 2002. TOUCHARD, Jean (org.). História das Ideias Políticas. 4º. volume. Tradução de Mário Braga e F.P.S. Lisboa: Publicações Europa-América, 1970. ______________________________NOTAS____________________________ [1] HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 25. ed. rev., atual. e ampl. 2016. p. 374. Ademais a irresignada e legítima revolta contra a cobrança exacerbada de impostos já se faria sentida, nos séculos XII e XIII d.C. seja na Espanha com as Cortes de Leão, ou na Grã Bretanha, com a disputa entre os barões e o rei “João sem-terra” dando-se a célebre Carta Magna; no século XV, as Cortes de Lamengo, em Portugal; e, no século XVI, o États Généraux, na França são fiéis e emblemáticos repositórios, inclusive, entre nós, nos atributos da inconfidência mineira, de Tiradentes. [2] TOUCHARD, Jean (org.): História das Ideias Políticas. 4º. volume. 1970. p. 60. [3] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14 ed. 2004. p. 562: “Constatou-se então com veracidade que as declarações antecedentes de ingleses e americanospodiam talvez ganhar em concretude, mas perdiam em espaço de abrangência, porquanto se dirigiam a uma camada social privilegiada (os barões feudais), quando muito a um povo ou a uma sociedade que se libertava politicamente, como era o caso das antigas colônias americanas, ao passo que a Declaração francesa de 1789 tinha por destinatário o gênero humano. Por isso mesmo, e pelas condições da época, foi a mais abstrata de todas as formulações solenes já feitas acerca da liberdade.” [4] PALSEN, Leandro. Curso de direito tributário: completo. 4. ed. rev. atual. e ampl. 2012. p. 12. [5] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum. 17. ed. atual. e ampl. 2014. PP. 52-58. *Roberto Borges Evangelista, acadêmico do Curso de Bacharelado da Faculdade de Direito da UNEB – Universidade do Estado da Bahia. Paulo Afonso-BA 2016.
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