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Prát Sim VI_4_Bolsa federal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO W
MÉVIO (sobrenome), (nacionalidade), (estado civil), estudante universitário, portador do RG nº ..., inscrito no CPF/MF sob o nº ..., residente e domiciliado na Rua____, Bairro____, capital do Estado W, por seu advogado inscrito na OAB/____ sob____, que esta subscreve (instrumento de mandato anexo), com endereço na Rua ..., Bairro ..., local indicado para receber intimações (art. 39 do Código de Processo Civil), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, em conformidade com os artigos 273 e 282 do Código de Processo Civil, propor a presente 
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C 
TUTELA ANTECIPADA
pelo rito ordinário, em face da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público, com sede na ... (endereço completo) e da UNIVERSIDADE ..., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº ....., estabelecida no endereço ...., pelos fatos e fundamentos que a seguir aduz.
DA TUTELA DE URGÊNCIA
Forçoso reconhecer, no presente caso, a presença dos pressupostos autorizadores da antecipação dos efeitos da tutela exigidos pelo art. 273, I, CPC, quais sejam: fumus boni juris e periculum in mora.
Nesse contexto, é inequívoca a verossimilhança das alegações do Autor, considerando que foram acostados os documentos que comprovam o seu requerimento de ingresso em programa de bolsas com a documentação exigida, a recusa inicial por não ser integrante do grupo étnico descrito no edital e a informação de que deveria aguardar por prazo indefinido, em que pese existir saldo financeiro no programa.
Não se pode ignorar, ainda, que o presente caso envolve direito constitucional à educação (artigos 6º, 205, 227 da Carta Magna), cuja interrupção injustificada afronta a dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III da Carta Magna). 
Desta feita, o pleito do Autor constitui prioridade absoluta, porquanto se destina ao desenvolvimento, à inserção social e à futura qualificação para o trabalho, de forma que o 1º réu, enquanto ente federativo, tem obrigação de assegurar a efetivação do direito constitucional à educação.
Diante do exposto, considerando que o deferimento da antecipação de tutela encontra pleno amparo nas provas acostadas aos autos e nas normas de regência (artigo 273, inciso I do Código de Processo Civil e artigo 84 parágrafos 3º e 4º do CDC), deve ser concedida inaudita altera pars, de forma a determinar ao 1º réu que autorize o ingresso do Autor no programa de bolsas sem o aguardo do lapso temporal previsto no regulamento e ao 2º réu que promova a matrícula do Autor no curso de .... , sob pena de multa diária de R$ ...
DOS FATOS
O Autor requereu o seu ingresso em programa de bolsas de estudo financiado pelo 1º réu, estando matriculado em estabelecimento de ensino do 2º réu.
Ocorre que o referido programa de bolsas é exclusivo de inclusão social para integrantes de grupo étnico descrito no edital, podendo, ao arbítrio da Administração Pública, ocorrer integração de outras pessoas, caso ocorra saldo no orçamento do programa. 
Assim, não obstante tenha apresentado a documentação exigida, o pedido do Autor estudante foi negado pelo 1º réu, ao argumento de que não foram preenchidos os requisitos legais, dentre os quais a exigência de pertencer a determinada etnia. 
Fora-lhe informado, ainda, que, apesar de constar a existência de saldo financeiro, o requerimento do Autor estudante ficaria no aguardo do “prazo estabelecido em regulamento”. Contudo, tal prazo não consta na lei que instituiu o programa. 
Frise-se que o competente ato normativo destinado a regulamentar a referida lei também não especificou nem o prazo e nem a limitação do financiamento para grupos étnicos. 
Com base na negativa do 1º réu, a matrícula do Autor no estabelecimento do 2º réu ficou suspensa, prejudicando a continuação do curso superior.
Diante do exposto, não restou outra alternativa ao Autor senão escudar-se perante o Poder Judiciário.
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
1. OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA
	Por consectário lógico do disposto do caput do artigo 5º da Constituição Federal, segundo o qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, não se pode admitir distinções entre nacionais. 
O Texto Maior prevê, ainda, que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si (art. 19, caput, e inciso III, da CF/88).
Na hipótese sub examine, em que pesem os comandos constitucionais, a criação de requisitos legais como condição para a concessão de financiamento estudantil, tais como o enquadramento em determinada etnia, a existência de saldo no orçamento do programa e o decurso de lapso temporal indefinido – indefinição esta calcada no fato de que o referido prazo não consta na lei que instituiu o programa – , ferem frontalmente o princípio da isonomia.
No que toca à exigência do candidato ao programa de financiamento estudantil pertencer a determinada etnia, inconteste que as políticas segregacionistas não somente violam o princípio da isonomia como, também, revelam-se incompatíveis com os princípios do Estado democrático-liberal, cuja organização deveria ter como supedâneo o tratamento indiferenciado de todos os indivíduos.
Ademais, a história da formação do povo brasileiro e a miscigenação que lhe foi constitutiva sinalizam que as políticas raciais são um contrassenso, não sendo exagero afirmar que a implantação de programas como o do financiamento do caso em tela, ao tratar diferentemente os cidadãos, pratica “um racismo às avessas”.
2. OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O princípio da legalidade, que sustenta o Estado Democrático de Direito, deve ser entendido como o princípio da completa submissão da Administração às leis. 
Ora, o princípio da legalidade é a autolimitação do Estado perante os direitos subjetivos e a vinculação da atividade administrativa à Constituição e às leis que lhe são hierarquicamente superiores. 
Na hipótese versada nos autos, o edital, ao arrepio da lei instituidora do programa de financiamento estudantil, regulamenta inovando no ordenamento jurídico, estabelecendo condições não previamente contempladas na norma que lhe serve de fundamento de validade e divergindo dos princípios basilares do Estado Democrático de Direito, como os princípios da isonomia e da legalidade. 
A respeito do tema em questão, leciona o renomado jurista Miguel Reale:
“Lei, no sentido técnico desta palavra, só existe quando a norma escrita é constitutiva de direito, ou, esclarecendo melhor, quando ela introduz algo de novo com caráter obrigatório no sistema jurídico em vigor, disciplinando comportamentos individuais ou atividades públicas. O nosso ordenamento jurídico se subordinou, com efeito, a uma gradação decrescente e prioritária de expressões de competência, a partir da lei constitucional, a qual fixa a estrutura e os feixes de competência de todo o sistema normativo. Nesse quadro, somente a lei, em sentido próprio, é capaz de inovar no Direito já existente, isto é, de conferir, de maneira originária, pelo simples fato de sua publicação e vigência, direitos e deveres a que todos devemos respeito.
A essa luz não são leis os regulamentos ou decretos, porque estes não podem ultrapassar os limites postos pela norma legal que especificam ou a cuja execução se destinam. Tudo o que nas normas regulamentares ou executivas esteja em conflito com o disposto na lei não tem validade, e é suscetível de impugnação por quem se sinta lesado. A ilegalidade de um regulamento importa, em última analise, num problema de inconstitucionalidade, pois é a Constituição que atribui as esferas e a extensão do poder de legislar, conferindo a cada categoria de ato normativo a força obrigatória que lhe é própria.” (destaque nosso) (REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 163)
Por oportuno, trazemos à baila a ementa do seguinte julgado:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. ENQUADRAMENTO DE CANDIDATOAPROVADO EM NÍVEL DIFERENTE DAQUELE PREVISTO NO EDITAL. LEI Nº 8.433/92. ILEGALIDADE DAS NORMAS EDITALÍCIAS. ATUAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DENTRO DA LEGALIDADE.
1. Não pode o edital, que é norma geral infralegal, inovar no ordenamento jurídico, principalmente se em contradição com a norma que lhe serve de fundamento de validade.
2. A Administração agiu dentro da legalidade ao enquadrar o Impetrante no Nível de Apoio (NA), já que, conforme prevê a Lei nº 8.433/92, esse é o nível correspondente ao cargo no qual foi empossado.
3. Recurso improvido.		(destaque nosso)
(Apelação em Mandado de Segurança nº 1999.01.00.019650-2/MG, Processo na Origem: 199738020027635, Tribunal Regional Federal da 1ª
 Região, Terceira Turma Suplementar, Relator: Juiz Federal Wilson Alves de Souza, Data do julgamento: 24/04/2003; Publicação: 29/05/2003 DJ p.93)
Diga-se que, ainda que estivéssemos diante de um instrumento apto para tanto, vale dizer, ainda que o ato normativo em questão não estivesse inovando na ordem jurídica, é certo que o seu conteúdo deveria coadunar-se com os princípios previstos na Lei Maior e com as normas que lhe são hierarquicamente superiores.
E foi justamente a partir da verificação da presença de vícios que o Autor houve por bem propor a presente ação de obrigação de fazer, porquanto incontestável o comprometimento da validade do ato normativo precitado e, por conseguinte, o prejuízo à legítima inclusão do estudante no programa de financiamento de bolsas estudantis.
3. OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A Constituição Federal em vigor determina, em seu artigo 37, “caput”, que a Administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios deve obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
No caso em apreço, o Autor apresentou a documentação exigida para o ingresso em programa de bolsas de estudo financiado pelo Governo Federal, sendo surpreendido com a negativa do órgão federal competente, que sustentou o não preenchimento de requisitos legais, podendo, ao arbítrio da administração, ocorrer a integração de outras pessoas, caso houvesse saldo no orçamento do programa. 
Ocorre que, em que pese existir saldo financeiro, o requerimento do Autor ficará no aguardo do prazo estabelecido em regulamento. 
Importante destacar que tal prazo não consta na lei que instituiu o programa de bolsas e o referido ato normativo também não especificou a limitação do financiamento para grupos étnicos.
Sublinhe-se que a não concessão do financiamento pelo Governo Federal fez com que a matrícula do Autor na Universidade particular ficasse suspensa impedindo o prosseguimento de seus estudos.
Na hipótese dos autos, a concessão, pelo 1º Réu, do financiamento em questão consubstancia-se em ato vinculado e, como tal, deveria a Administração Pública adequar-se para poder dar às suas decisões caráter de razoabilidade, de logicidade, de congruência. Contudo, ao revés, faltaram todas essas qualidades, de forma de que a decisão proferida manifesta-se viciada de excesso de poder, saindo do campo da discricionariedade para ingressar no limiar da arbitrariedade.
Destarte, as atuações dos réus foram inconstitucionais, ilegais e arbitrárias, pois violaram os princípios da dignidade da pessoa humana, da isonomia, da legalidade, da administração pública e o direito constitucional à educação obrigando a busca do poder judiciário para a correção de tal injustiça.
4. OFENSA AO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO
De acordo com o inciso III do artigo 1º da Carta Magna, a República Federativa do Brasil tem como fundamento basilar a dignidade da pessoa humana, segundo o qual todos os órgãos, governamentais ou particulares, devem respeitar os direitos e garantias da pessoa humana, assegurando o mínimo necessário para sua existência, inclusive, a possibilidade de continuidade de seus estudos.
No presente caso, a atuação do 1º Réu em negar o financiamento ao Autor e do 2ª Réu ao suspender sua matricula estão violando o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Outrossim, patente a violação ao direito constitucional à educação (artigos 6º, 205, 227 da Carta Magna), cuja interrupção injustificada afronta à dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III da Carta Magna). 
A doutrina e a jurisprudência são pacíficas de que possibilitar aos indivíduos o estudo está vinculado à dignidade da pessoa humana. Além disso, na Constituição vigente está previsto que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205 da CF/88). 
Corroborando tal afirmação, consta que o ensino será ministrado com base no princípio da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (art. 206, inciso I, da CF/88).
Nesse passo, não é possível conceber qualquer controvérsia quanto à não violação do princípio da dignidade da pessoa humana e do direito à educação, pois com base na negativa do 1º Réu a matrícula do Autor em estabelecimento do 2º Réu está suspensa. Tal situação constitui óbice para que o Autor inicie o ano letivo que se aproxima, o que prejudica, talvez até irremediavelmente, o regular prosseguimento do curso.
Infere-se, assim, que as condutas dos Réus feriram o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito à educação.
DO PEDIDO
Por todo o exposto, requer a Vossa Excelência:
a) A concessão da tutela de urgência inaudita alterar pars, com fulcro no art. 273 do Código de Processo Civil, determinando-se à autoridade da União Federal que forneça o financiamento e para o responsável da Universidade particular, para que promova a matrícula do Autor no curso de ...;
b) A citação pessoal dos réus, nos endereços indicados, por oficial de justiça (art. 222, alínea “f” do CPC, com os benefícios do art. 172 §2º do CPC) para que, querendo, possam apresentar defesa no prazo legal, sob pena dos efeitos da revelia
c) Intimação do representação judicial da União Federal conforme determinação legal
d) Procedência do pedido, ratificando a tutela de urgência deferida
e) A condenação dos réus aos ônus sucumbenciais
PROVAS
Requer a produção das provas documental suplementar, se necessária, testemunhal, pericial e depoimento pessoal dos representantes das rés.
VALOR DA CAUSA
Para os efeitos legais e fiscais, dá-se à causa o valor de R$ .......
Termos em que espera deferimento.
Rio de Janeiro, ... de ........ de 2012.
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Nome do advogado – OAB/RJ nº ....

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