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Aspectos_Teoricos_Filosoficos_psicodrama

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Leonídia Alfredo Guimarães
ASPECTOS TEÓRICOS
E
 FILOSÓFICOS DO PSICODRAMA
SALVADOR – BAHIA
Ano de Organização dos textos produzidos:
 2000
ÍNDICE
Aspectos Teóricos e Filosóficos do Psicodrama
Por Leonídia Alfredo Guimarães
Introdução
Cap. 1 : História do Psicodrama – Da Evolução do Criador à Evolução da
Criação...................................................03
Cap. 2: Bases Filosóficas do Psicodrama – Um ensaio
psicodramático.....................................................................09
Cap. 3: A Socionomia como Proposta
Integrativa.......................................................................................................16
Cap. 4: Sobre a Teoria dos
Papéis ................................................. .......................................................................22
Cap.5 : A Criação de Cenas através da Forma e a Emergência de
Conteúdo.............................................................24
Cap. 6 : A Música como Objeto
Intermediário.............................................................................................................26
Cap. 7 : As Técnicas do
Ingeridor...............................................................................................................................30
Cap. 8: Efeitos do Psicodrama – algumas incompatibilidades entre contexto e
instrumento...................................36
2
Textos Anexos escritos por outros autores
Anexo I - Aspectos da Unidade Funcional para complementação de
personalidades............................................ 48
 Por Alfredo e Cia, Roberto Glauss e Suzana Etcheverry 
Anexo II – Coletânea sobre Filosofia Hermética – Yoga
Kundalini .............................................................................54
 Por Celina Estela Santos
Anexo III – Texto de Dinâmica de Grupo – Jardim
Zoológico ................................................................................... 58
 Por Lauro de Oliveira Lima
3
Capítulo 1
História do Psicodrama:
Da Evolução do Criador à Evolução da Criação.
O Criador do Psicodrama
Jacob Levy Moreno nasceu em Bucareste- Romênia, em 18 de maio de 1889, às 16:00 horas.
Morreu em Beacon- Estados Unidos, quatro dias antes de completar os seus 85 anos, em 14
de maio de 1974, no Instituto Moreno de Nova York. Era descendente de família judia, oriunda
da Península Ibérica. Seu pai era judeu de origem espanhola e sua mãe eslava . Jacob Levy,
o primogênito entre seis irmãos. A família emigrou sucessivamente para a Turquia, Mar Negro
e para as margens do Rio Danúbio, local onde Moreno viveu até os 5 anos de idade. Em
1895, a sua família radicou-se na Áustria, em Viena, cidade onde Moreno cresceu, estudou
Filosofia e Medicina e desenvolveu as suas primeiras experiências com o Teatro Espontâneo,
até o ano de 1924.
Concepção do Psicodrama 
Moreno conta que aos 4 anos e meio organizou uma brincadeira com algumas crianças no
porão da sua casa, empilhando cadeiras sobre uma mesa, até o teto, para brincar de ser
Deus : seus amigos faziam o papel de anjos e incentivavam para que ele voasse até o chão,
ação dramática assumida pelo pequeno protagonista embalado pelos sonhos de ser Deus. O
resultado imediato foi uma fratura no braço esquerdo. A longo prazo, essa experiência é
tomada como uma Cena precursora da criação do Psicodrama. Moreno ao mesmo tempo em
que dirige a cena, transforma-se em autor e ator do drama. Seu público compartilha e
estimula o protagonista à ação. A experiência marca e a idéia germina na adolescência.
Durante a adolescência (1908-1911), Moreno apaixona-se pelo teatro, pela filosofia e por
trabalhos comunitários de recreação. Lê Rousseau, Pestallozi , Froebel e gosta do contato
com pequenos grupos de crianças, nos jardins de Viena, onde propõe e improvisa
brincadeiras, distribuindo-lhes papéis. A experiência oferece-lhe estímulos para que realize
em 1911, no Kindergarden, um Teatro de Crianças, a sua primeira sessão de Teatro
Espontâneo, ainda como estudante.
Em 1909, Moreno ingressa na Universidade de Viena, primeiro como estudante de Filosofia,
depois de Medicina.. Faz aulas de psiquiatria e psicanálise com Freud, mas não identifica-se
à teoria freudiana : conta que, num rápido encontro com Freud, após uma aula sobre a
4
Interpretação dos Sonhos, foi questionado acerca das suas ocupações e respondeu o
seguinte: 
 “ O Senhor vê as pessoas no ambiente artificial do seu Gabinete. Eu vejo-as na rua, na casa
delas, em seu ambiente natural. O Senhor analisa os sonhos das pessoas. Eu procuro dar-
lhes mais coragem para que sonhem de novo. Ensino as pessoas a como brincarem de ser
Deus”.
Ao que parece, a irreverência de Moreno para com os modelos sociais estabelecidos vai lhe
permitir a concepção da sua idéia original; mas, em contrapartida, o veremos passar anos a
fio aprimorando-se para assumir oficialmente o seu papel de psicoterapêuta e ser finalmente
aceito no meio científico. Enquanto não chega esse momento, Moreno vive, experimenta,
confunde-se nos papéis de criador – criatura- cidadão. Mas não desiste : Entre 1913 e 1914,
realiza a sua première como estudante de psiquiatria, participando de um trabalho com um
grupo de meretrizes do Spittelberg, bairro de Viena, assistido por um médico e um psiquiatra
psicanalista.
Em 1914, formula o seu Convite a um Encontro, onde já podemos ver alguns dos conceitos
básicos estabelecidos, posteriormente, para o Psicodrama : a psicoterapia frente a frente,
centrada no aqui e agora, a postura de contato direto e caloroso com o paciente e a técnica
de inversão de papéis:
Divisa
Mais importante do que a ciência, é o seu resultado,
Uma resposta provoca uma série de perguntas.
Mais importante do que a poesia, é o seu resultado,
Um poema invoca uma centena de atos heróicos.
Mais importante do que o reconhecimento, é o seu resultado,
O resultado é dor e culpa.
Mais importante do que a procriação é a criança.
Mais importante do que a evolução da criação é a evolução do criador.
Em lugar de passos imperativos, o imperador.
Em lugar dos passos criativos, o criador.
Um encontro de dois : olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancarei teus olhos
E os colocarei no lugar dos meus;
E arrancarei os meus olhos
Para colocá-los no lugar dos teus
5
Então ver-te-ei com os teus olhos
E tu me verás com os meus.
Assim, até a coisa comum serve ao silêncio
E o nosso encontro permanecerá a meta sem cadeias:
Um lugar indeterminado, num tempo indeterminado 
Uma palavra indeterminada para um homem indeterminado.
(Psicodrama,2ª edição,SP.,1978)
De 1915 a 1917, Moreno realiza um outro trabalho de grupo, dessa vez no campo de
Mittendorf, com soldados tirolesses refugiados em Viena. Após este trabalho, concebe
algumas idéias a respeito das estruturas grupais e do efeito terapêutico do grupo sobre o
indivíduo. 
Em 1917, após formar-se em Medicina, Moreno publica a revista Daimon, tendo como
colaboradores alguns membros do movimento expressionista vienense: Franz Kafka, Martin
Buber, Max Scheller, Francis James, Jacob Wasserman, Arthur Schmitzler e Franz Werfel.
Moreno mantém a publicação da revista Daimon até 1920 e nela publica as suas primeiras
experiências e principais idéias. 
Conta-nos Moreno que, no início da sua carreira , não conseguia conter o seu desejo
messiânico de recriação do universo social e de construir um palco para expurgar as dores e
sofrimentos dos pequenos grupos. Admirava Marx, pela sua preocupação social e
humanística em relação ao povo, mas, criticava-o por haver esquecido o cidadão enquanto
indivíduo. Moreno era então um socialista convicto e atuante, embora não adepto. Dirigia sua
energiapara questões sociais, é certo , mas sem esquecer-se nunca da sua própria
existência, que queria libertária, espontânea e criativa. Parece profundamente religioso, ao
citar Cristo, Buda, Maomé e Gandhi, mas critica os existencialistas profetas que, do seu ponto
de vista, não conseguiram consolidar sua própria existência e que morreram prisioneiros dos
seus ideais, a exemplo de Nietzche e Kierkegaard. Admira e reconhece como verdadeiros
representantes do existencialismo, um grupo que estava inserido no seu contexto histórico e
social, surgido no período de 1900 a 1920, em Viena, e que praticava a filosofia do Seinismo ,
segundo a qual, Ser e Saber são condições inseparáveis, influindo-se mutuamente. Esta
filosofia, também chamada de Hassidismo, é originária da Cabala e do judaísmo místico.
Reúne numa só realidade a existência e o pensamento, e defende além da existência de um
Deus cósmico, presente em cada pessoa enquanto centelhas divinas, a manutenção do fluxo
natural e espontâneo da existência, a importância de viver-se o momento presente, sem ater-
se ao passado ou ao futuro, a importância da liberdade, espontaneidade e criatividade.
6
A filosofia do Hassidismo aproxima-se em alguns aspectos das idéias de Bergson ( élan vital)
e da teoria do Eu e Tu de Martin Buber. Ao mesmo tempo, diferenciam-se : O Deus de
Moreno não é um Deus-Tu, um Deus-Ele é um Deus igual a ele próprio, presente nele e por
isso em relação direta, não hierárquica, inseparável, transcendente, tipo : “Eu sou Deus” e,
que lhe permite falar pelo outro. Moreno escreve na orelha do seu livro Psicodrama : “Deus é
espontaneidade. Daí o mandamento: Sê Espontâneo”. 
O Hassidismo é portanto, a filosofia de base de Moreno e do Psicodrama , pois são desses
conceitos que Moreno formula posteriormente a Doutrina da Espontaneidade – Criatividade.
Poderemos ver a influência de outras correntes filosóficas, como a fenomenologia de Husserl
e o materialismo histórico de Marx, posteriormente, à medida em que o psicodrama, a
sociometria, a psicoterapia de grupo e a proposta da sociatria vão estabelecendo o contorno
dos métodos psicodramáticos. 
Mas, a partir da sua fenomelogia existencial, já era possível a Moreno, investir numa ação
mais elaborada e abrir espaços onde pudesse explorar as suas idéias. Em 1920, Moreno
publicou o seu primeiro livro Das Testament des Vaters e depois, realizou o seu 1º Ato Público
Psicodramático, no dia 1 de abril de 1921, dia dos loucos, na Áustria, dia da mentira, para
nós. Neste evento, realizado no período de pós guerra e com o governo austríaco em plena
desordem, Moreno propôs como tema dramático a escolha do Rei da Áustria e conseguiu
vários voluntários para encená-lo. Mas o público não elegeu nenhum dos Reis representados,
o que deve ter sido bastante frustrante para Moreno, levando-se em conta inclusive que ali
estavam sendo lançadas as bases para o enquadre do Sociodrama, trabalhado
posteriormente. 
 Moreno persegue as suas idéias e projeta no ano seguinte ( 1922 ), com a ajuda do seu
irmão William, um Teatro da Espontaneidade (Das Stegreiftheater), em Viena, onde passa a
realizar improvisações espontâneas com um grupo de atores profissionais, até descobrir que
a representação espontânea de situações da vida cotidiana produzem efeitos terapêuticos
(1924) . A história que Moreno nos conta é que uma das atrizes que freqüentava o teatro com
o seu marido, e que elegia sempre papéis dóceis e carinhosos para representar; era segundo
o marido, uma verdadeira megera na intimidade do lar. Intrigado com a incongruência, Moreno
passou a dar-lhe papéis opostos aos que vinha representando. Soube posteriormente, através
do marido desta atriz, que ela tornara-se mais calma e carinhosa com ele. Descobriu, dessa
forma, os efeitos terapêuticos do seu manejo técnico e passou a designar o seu Teatro
Espontâneo como Teatro Terapêutico. Moreno atribuiu a essa atriz o nome de Bárbara e ao
marido, o nome de George, para citar o seu primeiro Caso Clínico. São eles os seus primeiros
“pacientes- espontâneos”, ou seja, isentos de um contrato terapêutico, já que a proposta de
Moreno era apenas de representação dramática, com atores profissionais.
7
Nessa época, o trabalho de Moreno consistia em dirigir peças espontâneas a partir de temas
escolhidos pelo grupo. Costumava usar também, a leitura de jornais do dia, para escolha e
dramatização de matérias com as quais o grupo se identificava. Esse técnica ficou depois
conhecida com o nome de Jornal Vivo. Ao perceber o valor terapêutico do trabalho que vinha
fazendo, Moreno usou novamente o seu manejo técnico com outro casal , Robert e Diora.
Mas desta vez não conseguiu o sucesso que esperava : Diora separou-se de Robert e, no dia
seguinte ele suicidou-se. René Marineau cita, na bibliografia que fez de Moreno, que este
episódio abalou profundamente as convicções de Moreno, e provou uma parada para
reflexão. Incomoda a Moreno, o fato de não haver previsto a possibilidade de suicídio ele
resolve, no ano seguinte, mudar-se da Áustria. 
Ao sair da Áustria, Moreno já dispunha de vários recursos técnicos para desenvolver o
Psicodrama : o setting da sessão e algumas técnicas, como a inversão de papéis e o duplo, já
haviam sido bastante exploradas e testadas, e já haviam indicado o seu valor terapêutico. O
ano de 1924 fez, então, duas revelações a Moreno: uma relativa ao valor terapêutico da
dramatização espontânea e da inversão de papéis; e outra de alerta, quanto ao uso desses
métodos sem enquadre clínico. Mas, podemos considerar concebida a teoria básica do
Psicodrama. 
Neste mesmo ano, é editado o O Teatro da Espontaneidade. Neste livro, Moreno definiu
quatro enquadres psicodramáticos : o Axiodrama, onde o público assume o papel de
instigador sistemático para desvendar a Cena a partir da pessoa privada do ator, derrubando
as suas máscaras e conservas culturais; o Teatro de Improviso, onde o drama é encenado da
forma como surge, com atores e protagonistas espontâneos; o Teatro Terapêutico, onde
existe um conflito a ser trabalhado e as pessoas representam a própria vida; e o Teatro do
Criador, mais próximo ao que mais tarde ficou conhecido pelo nome de Psicodrama Individual.
Moreno projeta também nesse livro, o seu palco psicodramático e refere os caminhos da
sociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama terapêutico.
Tomemos, então, o ano de 1924 como o ano de nascimento do Psicodrama, na mesma Viena
de Freud e em plena efervescência da Psicanálise. Com certeza, não era este o contexto
histórico e cultural propício à Moreno e ao desenvolvimento do Psicodrama. Conta-se até, que
em 1921, Moreno tivera um sonho “antecipatório”, da sua saída da Áustria. Moreno decide,
finalmente, deixar Viena.
Evolução do Criador e sua Criação
Em 1925 Moreno muda-se para os Estados Unidos e instala-se em Beacon- Nova York. Em
1927, casa-se com Beatrice Beecher e passa a assumir, sucessivamente, os papéis sociais
para os quais fora preparado : abre uma Clínica Psiquiátrica, anexa à sua residência e realiza
8
no ano seguinte, a sua primeira demonstração pública do Psicodrama, no Carnegie Hall, onde
passa a dirigir sessões de Psicodrama Público, três vezes por semana, até 1931. Neste ano,
publica a Revista Improviso , abordando sobre os seus métodos de psicoterapia de grupo e
paulatinamente vai encontrando apoio às suas idéias, participando de Conferências e fazendo
demonstrações do seu trabalho em Escolas, Igrejas e Universidades. Em 1932, apresenta em
Filadélfia, no I Congresso de Psiquiatria da Sociedade Americana, o trabalho que realizara
com os prisioneiros de Sing Sing, denominando- o de Psicoterapia de Grupo. Compra briga
com Slavson, líder americano da psicoterapia de grupo, e vai adiante, dedicando-se a uma
pesquisa sobre as relaçõesinterpessoais na Comunidade de Hudson, com jovens
delinqüentes. Encontra a colaboração de Helen Jennings, que na época era orientada no seu
Curso de pós-graduação- Universidade de Colômbia, por Gardner Murphy , abrindo-se dessa
forma uma grande rede sociométrica para Moreno, no campo da Psicologia Social e da
Sociologia. Publica, em 1934, Quem Sobreviverá? reeditado posteriormente com o nome de
Fundamentos da Sociometria. 
Consolidação do Psicodrama e da Sociometria
Os Fundamentos da Sociometria são bem acolhidos pela comunidade científica americana,
praticados e desenvolvidos. Moreno é convidado a ensinar na Universidade. A partir de 1934,
torna-se cidadão americano e, em 1936, abre um Hospital Psiquiátrico em Beacon, realizando
trabalho com psicóticos, em comunidade terapêutica. Anexo ao Hospital, passa a funcionar
também, a partir de 1941, o Instituto de Psicodrama de Nova York , freqüentado por
psicoterapeutas do mundo inteiro, em busca de formação. Moreno dedica-se à transmissão
dos conhecimentos que adquiriu durante todo o desenvolvimento da sua teoria e prática, e
autoriza seus formandos a proceder a formação de outros Psicodramatistas nos seus países
de origem, conferindo-lhes o título de Diretor de Psicodrama. Funda também, a Associação
Americana de Sociometria e torna-se membro da Associação Psiquiátrica Americana. Vários
Congressos de Psicodrama são organizados em diversos países, e em 1968, Moreno recebe
o título de Doutor Honores Causa, pela Universidade de Barcelona.
Disseminação do Psicodrama
A partir de 1946, o Psicodrama de Crianças começa a expandir-se na França, através do
Centro Claude Bernard, a cargo de Jean Delay, Fouquet e Mireile Monod, que tem como
colaboradores André Berge, Henri Buchene, Françoise Dolto e Serge Lebovinci.
Em 1950, ainda na França, o Psicodrama se bifurca, dando origem ao Psicodrama Triádico e
ao Psicodrama Analítico. Segundo Didier Anzieu, formam-se quatro principais correntes :
9
 A de Serge Lebovinci, que confronta os métodos morenianos à psicanálise individual, e que
fracassa;
 A de Gravel e Bourreau que adotam as reformas de Mireile Monod, segundo as concepções
de Slavson;
 A de Anne-Marie Spenh, que conserva a noção de papel e representação dramática; e
 A de Anne-Ancelin Schutzenberg e Didier Anzieu, representantes, em Paris, do Psicodrama
Triádico e do Psicodrama Analítico, respectivamente. Ambos se baseiam nas noções teóricas
de Jacques Lacan, considerando a representação dramática como uma estrutura, fazendo-a
intervir no campo do Imaginário. Não adotam o modelo teórico proposto por Jacob Levy
Moreno, apenas o seu setting terapêutico. 
Em 1954, Moreno realiza a sua primeira demonstração pública do Psicodrama na França, por
ocasião do I Congresso Internacional de Psicoterapia de Grupo. E em 1960, faz o mesmo na
Rússia, ano em que publica também, o seu livro Psicoterapia de Grupo e Psicodrama .
Em 1962, o Psicodrama chega ao Brasil, através de Pierre Weil, que formou-se em
Psicodrama na França, com Anne-Ancelin Schutzemberg, formada no Instituto de Nova York.
Pierre Weil radicou-se em Belo Horizonte e adotou a linha do Psicodrama Triádico, abrindo
um Núcleo de formação em Psicodrama.
Em 1963, o Psicodrama começa a difundir-se na Argentina, através de Jaime Rojas-
Bermúdez, que após receber o título de Diretor de Psicodrama, no Instituto de Nova York,
passou a realizar formações em Psicodrama Terapêutico e Aplicado, fundando a Associação
Argentina de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo- AAPGP. Outros Diretores de Psicodrama,
fazem o mesmo e o Psicodrama chega : Na Venezuela, através de Robert Fontaine e
Fernando Risques. No Peru, através de Dalida de Platero. E chega ao Uruguai, em 1970,
através de Raymondo Dinello.
Entre 1969 e 1970 o Psicodrama desenvolveu-se rapidamente, tanto na Argentina, sob a
liderança de Jaime Rojas-Bermúdez ( AAPGP )quanto no Brasil, inicialmente através de
Alfredo Correia Soeiro, formado por Rojas-Bermúdez, e que mantinha o Grupo de Estudos de
Psicodrama de São Paulo- GEPSP.
Nesse período, após o IV Congresso Internacional de Psicodrama, realizado em Buenos
Aires, surgiram as divergências teóricas nos dois grupos liderados por Rojas-Bermúdez,
criador da Teoria do Núcleo do Eu, e as duas associações cindiram-se : Na Argentina, foram
criados vários Institutos de Psicodrama, permanecendo AAPGP. No Brasil, o antigo grupo do
GEPSP foi extinto : alguns membros criaram a Associação Brasileira de Psicodrama e
Sociodrama –ABPS, que permaneceu vinculada à Rojas-Bermúdez; e outros membros,
10
criaram a Sociedade de Psicodrama de São Paulo – SOPSP, que passaram a vincular-se
aos Institutos de Psicodrama criados na Argentina. 
Em Salvador, Bahia, o Psicodrama foi introduzido por Waldeck e Graciela D’Almeida , casal
formado por Rojas-Bermúdez , na Argentina, após a realização da 1ª Semana de Psicodrama
da Bahia, em julho de 1973. Em abril de 1974, Waldeck D’Almeida fundou e assumiu a
presidência da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo – ASBAP, que
segue a orientação teórica de Rojas-Bermúdez. 
Do 1º grupo de formação da ASBAP, surgiu um outro grupo dissidente de Rojas-Bermúdez,
que concluiu sua formação através da SOPSP, e que fundou posteriormente, a SOPBA –
Sociedade de Psicodrama da Bahia, que é liderada por Paulo Amado e Romélia Santos.
Recentemente, em 1994, foi criado um outro centro de Psicodrama em Salvador, o CEPS –
Centro de Psicodrama e Sociodrama, fundado por Thereza Valladares, formada pela ASBAP
e que segue a mesma linha de Rojas-Bermúdez.
Após o surgimento de vários centros de formação em Psicodrama no Brasil, surgiu a proposta
de criação da FEBRAP- Federação Brasileira de Psicodrama, fundada em 1976, com a
função de integrar esses diversos centros enquanto entidades federadas e de regulamentar
currículos de formação para obtenção do título de Psicodramatista. A FEBRAP congrega
atualmente, um total de 40 entidades federadas : 17 em São Paulo; 04 no Paraná, e 01 em
Santa Catarina (Região Sul); 03 no Rio de Janeiro; 01 em Vitória do Espírito Santo e 01 em
Juiz de Fora (Região Sudeste); 03 na Bahia e 03 em Fortaleza (Região Norte/Nordeste); 03
em Brasília, 01 em Minas Gerais, 01 no Mato Grosso do Sul e 01 em Goiânia ( Região Centro
Oeste).
 
Referências Bibliográficas
ANZIEU, D.- Psicodrama Analítico, Campus, RJ,1981
BERMÚDEZ, R.J.- Introdução ao Psicodrama, Mestre Jou, SP,1970
FONSECA FILHO, S.J.- Psicodrama da Loucura-Correlações entre Buber e Moreno, Ágora,
SP, 1980
MARINEAU, F.R.- Jacob Levy Moreno- 1889-1974 : Pai do psicodrama, da sociometria e da
psicoterapia de grupo, Ágora,SP,1992
MORENO, J.L. – Fundamentos do Psicodrama, 1ª ed. 1959,Summus,Vol.20, SP, 1983 
..............................Psicodrama, Cultrix, 2ª Ed. em Português, SP., 1974
Observação:
Dados sobre Federadas : retirados do site da FEBRAP
11
12
Capítulo 2
Bases Filosóficas do Psicodrama : Um ensaio psicodramático
“Cada um dos nossos pensamentos
não é mais do que um instante de nossa vida
Nós utilizamos cada dia, para alcaçar um pouco de verdade”
Romain Rolland – Jean Christophe 
Sabe-se que, tanto a teoria quanto a prática psicodramática, traduzem uma postura
filosófica basicamente existencial , textualmente explícita e particularizada pelo seu criador,
Jacob Levy Moreno. Mas cabe sobre este tema, algumas reflexões, mesmo que sejam postas
a nível de um “ensaio psicodramático teórico”.
Comecemos, então, examinando a “panorâmica” traçada por Moreno (Fundamentos do
Psicodrama, 1983) a respeito do movimento existencialista moderno, iniciado por Hegel e
Kierkegaard e prosseguido por Sartre e Heidegger.
Vimos que, historicamente, Moreno divide o movimento existencialista moderno emtrês fases, começando pelo Existencialismo Cristão de Kierkegaard, em meados do século
XIX, passando pelo Existencialismo Heróico encarnado pelo Seinismo e surgido antes da
Segunda grande guerra mundial ( 1900-1920), cujos principais expoentes filosóficos foram
John Kellmer, Leon Tolstoi e Charles Péguy , incluindo na terceira fase do movimento, o
Existencialismo comtemporâneo de Heidegger e Sartre.
KIERKEGAARD 
Kierkegaard comtrapunha-se à compreensão do indivíduo enquanto manifestação do
Espírito Absoluto, a ser incorporado no sistema, como sugeria Hegel, insistindo na
necessidade de apropriação subjetiva da verdade e ligando o pensar racional a algo que
estivesse vinculado à raiz mais profunda da existência. Em nome do cristianismo pelo
indivíduo, Kierkegaard defendeu a subjetividade e a singularidade deste, assumindo como
bandeira a defesa pela liberdade e responsabilidade individuais. Sublinha dessa forma, as
diferenças que são características da subjetividade, de forma contrária a Hegel, que defende
a liberdade como razão de ser essencial de todo progresso, em detrimento do indivíduo livre.
As idéias de Kierkegaard , com quem Moreno conviveu por longo tempo, são tomadas
como uma das bases filosóficas do Psicodrama, embora Moreno realce em sua análise de
Kierkegaard que o mesmo não conseguiu consolidar a sua própria existência enquanto um
fenômeno geral, prejudicando a sua vida particular à favor da Igreja Cristã. Pensamos que,
com essa análise crítica, Moreno realça a sua própria proposta ao criar os pilares filosóficos
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do Psicodrama, ou seja, em vez de realizar uma análise da existência, Moreno propõe-se com
o seu método a realizar uma análise existencial.
Prosseguindo a sua análise acerca do movimento existencialista moderno, Moreno
situa o período de 1900 a 1920 como equivalente à existência profética de Kierkegaard, desta
vez “in actu” e “in situ” , marcado pela transformação da existência e do pensamento,
mesclados à uma só realidade. 
Esta fase, chamada de Existencialismo Heróico, foi iniciada por John Kellmer, Leon
Tolstói e Charles Péguy, considerados grandes pensadores existencialistas. Moreno contudo,
critica-os veementemente, atribuindo aos mesmos uma “neurose de criatividade”, uma vez
que, tal como os seus antecessores profetas, não conseguiram realizar a sua própria
existência e também, aos seus sucessores do próximo período que, segundo Moreno, não
conseguiram dar à sua existência uma nova expressão de pensamento, isolando-se do
contexto histórico.
Moreno escolhe como verdadeiros representantes do Existencialismo Heróico o grupo
do “Seinismo” : representantes adeptos a uma “ciência do ser” , que expressava de forma
plena a filosofia existencial e fenomenológica, onde a idéia do Ser foi adotada e vivida, sem o
reconhecimento de limites e incluindo cada instante da existência. Surgido antes da 2a Guerra,
também em Viana, o Seinismo defendia o pensamento segundo o qual SER e SABER são
inseparáveis; sendo que o Ser é uma pre-condição do Saber, pois a partir do Saber nunca se
poderia alcançar o Ser. Os princípios básicos deste grupo consistiam em manter o fluxo
natural e espontâneo da existência sem ater-se ao passado ou ao futuro, vivendo sempre a
situação do momento presente, o instante, a espontaneidade e a criatividade.
É dispensável registrar que é desta idéia filosófica básica que decorrem os principais
conceitos teóricos do Psicodrama, delineados por Moreno na Teoria da Espontaneidade.
Chegamos então, à terceira fase do movimento existencialista moderno, denominado
por Moreno como Existencialismo Intelectual Contemporâneo, onde figuram como destaque
Heidegger e Sartre no campo da filosofia, e Jaspers, no campo da psiquiatria . Esta fase ficou
caracterizada por uma preocupação radical com o conhecimento dos problemas da existência,
adotando uma corrente de pensamento essencialmente racional .
Moreno não demonstra simpatias por esta corrente de pensamento, embora atribua-se
o conceito moreniano de subjetividade ao conceito de subjetividade de Sartre, o qual teria sido
ampliado para incluir o fenômeno como histórico.
Sartre acentua a questão da subjetividade como uma verdade inter-subjetiva, que
nesse sentido é a-histórica. Moreno, ao contrário, toma a subjetividade como um fenômeno
histórico, tal como Marx e Husserl, onde a verdade inter-subjetiva é encarada do ponto de
vista da realidade e do “aqui e agora” , ou seja, a partir do conhecimento vivencial do
indivíduo, o que inclui seu pensamento, sentimento e ação. Nesse sentido, não vimos como
chegar a uma correspondência de pensamento entre Moreno e Sartre no que se refere ao
conceito de subjetividade.
14
Contudo, outras influências filosóficas ficam patentes no delineamento dado ao método
psicodramático, principalmente no que diz respeito à Sociometria, à Psicoterapia de Grupo e
ao Sociodrama, incluindo-se aqui também a dinâmica de construção do Eu, traçada por
Moreno na Teoria dos Papéis.
Nos seus primeiros escritos Moreno refere-se continuamente à Freud e a Marx,
opondo-se às suas teorias. Posteriormente, já em 1969, durante a realização do IV Congresso
Internacional de Psicodrama, na Argentina, Moreno sintetiza as suas críticas à Marx com o
seguinte discurso : 
“ Nunca se procurou trabalhar de baixo para cima. Karl Marx foi um grande pensador, mas
quis trabalhar com as grandes massas, esquecendo-se dos pequenos grupos, das pessoas, e
esses pequenos grupos não tinham pais, não tinham mães, não tinham seu próprio eu e
permaneceram passivos, esperando Hitler, esperando Mussolini ... Que aconteceu? Nada.
Muito ruído, demasiado ruído...Seguramente, vocês dirão que já têm ouvido palavras; é certo,
tem existido muitos homens sábios; Buda, Cristo, o foram. São palavras sábias, mas a
sabedoria não é suficiente, falta ação” ( Moreno, em Introdução ao Psicodrama, J.G.Rojas-
Bermúdez, 1970). 
Vejamos então um pouco do pensamento de Karl Marx e em que medida poderíamos
encontra-los na teoria psicodramática. 
A DIALÉTICA MARXISTA
De acordo com a dialética marxista – método dialético proposto pelo materialismo
histórico, a realidade ou o indivíduo não podem ser dicotomizados. O concreto é a síntese de
múltiplas inter-relações. Por isto não existe linearidade, ou seja, causa e efeito absolutos.
Dessa forma, cada fato ou fenômeno teriam múltiplas causas, formando uma rede de relações
intrínsecas de realidades subjetivas, que num dado momento existem e que por isso são
históricas.
Marx combateu o materialismo mecânico e abstrato da ciência natural, que excluía a
história e seus processos, defendendo o naturalismo ou humanismo, fortemente presente em
suas idéias. No seu entender, os cientistas naturais partiam do idealismo, filosofia segundo a
qual não é o mundo dos sentidos, em constante mutação, que constitui a realidade e sim
essências incorpóreas ou idéias.
O materialismo histórico de Marx, em contraste ao existencialismo de Hegel, ensina
que o processo vital da realidade humana deve partir de homens reais e atuantes, baseando-
se na realidade objetiva, a qual, traz os seus ecos ideológicos.
Vimos nesse ponto, uma correspondência importante entre os pensamentos de
Moreno e os de Marx, que estuda a existência e a sua história a partir do homem real e das
condições econômicas e sociais em que vive, e não a partir das suas próprias idéias. 
Consideremos, também, que a crítica que Marx faz a Hegel no que se refere à
consciência transcendental esotérica, decorre do próprio conceito de transcendência de
15
Hegel, que parte da lógica formal para alcançar a lógica transcendental. Em Husserl,
encontramos um outro conceito de transcendência, que parte de uma perspectiva naturalista,defendida por Marx, e que é proveniente do mundo dos sentidos; 2) No que se refere ao
conceito de Deus, encontramos uma citação do próprio Moreno, criticando também os líderes
profetas, ao tempo em que personaliza o seu conceito de Deus :
“ Na atualidade, quando o Deus-Eu esta universalizado, como em meu livro, todo o conceito
de Deus se converte em humildade, debilidade e inferioridade : micromania mais que
megalomania. Deus jamais foi tão humildemente descrito e tão universal quanto em sua
dependência como em meu livro. Foi uma transformação importante a do Deus cósmico dos
hebreus, o Deus-Ele, em Deus vivo de Cristo, o Deus-Tu. Mas foi ainda muito mais
desafiante a transformação do Deus-Tu em Deus-Eu, que põe toda a responsabilidade em
mim e em nós, no Eu e no Grupo... Os líderes, profetas e terapeutas de todos os tempos,
sempre tentaram jogar o Deus e tentaram impor o seu magnífico poder e superioridade sobre
a pobre gente, ao homem pequeno. No mundo psicodramático, a moeda deu a volta. O que
encarna o Deus já não é mais o amo, o grande sacerdote ou o grande terapeuta” .
( Psicodrama da Loucura, Fonseca F., 1980). 
Voltando à Marx, vimos que ele distingue claramente o seu materialismo histórico do
materialismo contemporâneo dos existencialistas ideológicos, criticados por J.L. Moreno, onde
o objeto e a realidade não são apreendidos pelos próprios sentidos e a realidade é tomada
como objeto de contemplação ( Anschawing) e não como uma prática da atividade sensorial.
Chegamos aqui a um outro ponto polêmico : até que ponto podemos considerar que
Moreno sofreu influências marcantes de Martim Buber , filósofo seguidor do hassidismo e
criador da Teoria do Eu-Tu, também judeu radicado em Viena e que trabalhou na revista
Daimon entre 1918 e 1920 ?
O HASSIDISMO
Segundo o que se sabe, o hassidismo é uma seita religiosa judia , originária da Cabala
e que provem do judaísmo místico, o qual prega a existência de um Deus cósmico, presente
em cada pessoa enquanto centelhas divinas. Embora este tipo de pensamento pareça ter
influenciado bastante a Moreno, no início dos seus trabalhos, vimos, a partir da citação
anteriormente colocada, que Moreno evoluiu posteriormente o seu conceito cósmico-místico.
Podemos verificar isso mais claramente ao estudar a Teoria Geral dos Papéis , a qual
parte de um conceito dialético ativo, mais condizente à Dialética Marxista, onde os papéis
emergem das formas reais e tangíveis que o eu adota, formando uma rede de relações
subjetivas e inter-subjetivas, lastreadas pela Tele e o Encontro. Em Buber, pelo que pudemos
ver, existe uma relação dialógica entre o EU-TU, sugerindo uma relação unilateral
contemplativa, passiva e idealizada, e que hierarquiza os pares. A perspectiva do Encontro
moreniano é pois, diferente da perspectiva do Encontro de Buber : Moreno defende a relação
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horizontal, ativa e direta, baseada no inter-relacionamento dinâmico. E vem dessa perspectiva
filosófica, o desenvolvimento da Sociometria e da Psicoterapia de Grupo, ao que nos parece.
Resta-nos agora examinar sobre uma outra corrente filosófica, que do nosso ponto de
vista encontra-se estreitamente relacionada à teoria e prática psicodramática. Trata-se da
Fenomenologia de Husserl, assunto que trataremos agora.
NOÇÃO GERAL DE FENOMENOLOGIA
A palavra fenômeno ( aquilo que aparece) foi usada na filosofia desde Platão e Aristóteles,
adquirindo no decorrer do tempo um sentido cada vez mais subjetivo. Em Husserl, desliga-se
completamente da relação a qualquer objeto exterior à consciência, referindo-se ao puro
objeto imanente enquanto aparece na consciência.
A palavra fenomenologia foi usada inicialmente por Lambert, em 1764, assumindo o
significado de “doutrina da aparência” . Posteriormente foi usada por Kant e sobretudo por
Hegel, mas sempre num sentido diferente daquele que lhe deu Husserl.
Em sentido corrente, a palavra fenomenologia, derivada de logos ( razão, descrição), é
usada para descrever ou dar uma razão íntima ao fenômeno. Mas, recebe a partir de Husserl
um significado particular : “ a fenomenologia é também e principalmente um método filosófico
e uma atitude especificamente filosófica” .
Baseando-se nesta noção de fenomenologia Husserl elabora um método de depuração
rigorosa ( Epoché), de tudo o que não oferece garantia suficiente de uma Evidência
Apodíctica ( intuição pura, sensível, intelectiva e universal) . Toma como objeto o fenômeno
puro ( consciência inter-subjetiva) acerca do qual não poderá haver nenhuma dúvida. Seu
método de evidenciação é um método descritivo, que explora a intuição pura na presença do
objeto, e rigorosamente analítico, buscando averiguar tudo o que se pode incluir como
experiência transcendental.
O método fenomenológico de Husserl, como já foi dito, consiste em fazer reduções das
partes questionáveis ou sujeitas a deduções e contradições. Desenvolve-se gradualmente,
submetendo-se a várias epochés : 1) redução do objeto à consciência; 2) redução psicológica
do objeto; e 3) redução transcendental do objeto.
Durante a redução psicológica ainda não se põe “entre parênteses” a existência natural
ou mundana do eu, nem os seus atos ou vivências ( Erlebnis), os quais conservam um caráter
psicológico. Através da redução do objeto, Husserl pretende atingir a consciência
transcendental, chamada de consciência pura, pondo “entre parênteses”a existência
psicológica.
Assim, a fenomenologia de Husserl põe “fora de circuito” a realidade da natureza, até
mesmo a realidade do céu e da terra, dos homens e dos animais, do próprio eu e do eu
alheio. Mas retém o sentido de tudo isso. É este o eu puro que pode apreender, sem perigo
de erro, tudo o que se lhe apresentar como fenômeno da consciência. Foi dessa forma que
Husserl disse haver chegado a um idealismo transcendental fenomenológico. Esse idealismo
17
mantém-se contudo, apenas na atitude transcendental. Na atitude natural a realidade é
concebida como existente em si mesmo, independente da consciência. O mundo não é uma
ilusão subjetiva, mas uma realidade natural, aspecto que coincide com o “objeto intencional”
da fenomenologia .
Finalizando, vamos analisar agora, as cinco principais características fenomenologia
husserliana:
1) O “APRIORI” ( EPOCHÉ) 
 Temos de proceder com plena ausência de pressupostos e com inteira liberdade ,
“reduzindo” ( epoché) todas as influências de opiniões científicas ou filosóficas, para
podermos nos orientar exclusivamente pelas coisas em si, aprioristicamente, admitindo-se
que “Não é das filosofias que deve partir o impulso da investigação, mas sim das coisas e dos
problemas”( Husserl) .
2) A EVIDÊNCIA
O fundamento radical tem de ser evidente por si mesmo, os fatos devem excluir as
dúvidas de modo absoluto e imediato ( evidência apodíctica), tal como um reflexo, uma auto-
reflexão, plenamente esclarecedora do sentido da coisa ( Sinn). Esta noção de evidência esta
relacionada ao conceito de intuição . A intuição enquanto uma evidência apodíctica é : -
uma intuição sensível ( evidência de sentimento)
- uma intuição intelectiva ( Imagem), aquilo que pode afirmar o conteúdo
- uma intuição eidética ( Perceptiva), evidência de conceitos universais, essências e “eidos” que
podem ser apreendidos de imediato através da presença do objeto e na sua corporiedade, ou
de modo indireto, através de uma recordação ou Imagem. No caso da Imagem, temos uma
intuição originária, também chamada de percepção, no sentido estrito (wahrnehmung). 
3- A INTENCIONALIDADE
A intencionalidade parte do eu e invade temporariamente os dados materiais,
unificando-os em ordem à constituição e designação do objeto enquanto consciente e
significado. Informando os dados materiais, dá origem à compreensãosubjetiva, que é o
elemento real da vivência, chamado de “Nóesis” . A nóesis é projetada ao objeto, originando a
vivência objetivamente orientada, que Husserl chama de “Noema” . O noema é o elemento
irracional ou intencional da vivência ( aquilo que foi colocado “entre parêntesis” ) . Esse
elemento irreal encontra o sentido do objeto intencional ou o sentido objetivo e, por isso,
transcende a vivência para um pólo oposto ao eu puro. Porém, essa transcendência efetua-se
na imanência. O objeto intencional difere pois do objeto real, existente em si mesmo, exterior
à consciência. Foi dessa forma que Husserl chegou a um idealismo transcendental
fenomenológico, admitido por poucos, onde por exemplo, o sentimento existe enquanto
qualidade ( amor, por exemplo), independentemente da vivência e de que realmente haja um
objeto intencional ( alguém, um outro ).
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Vimos então que o conceito de intencionalidade de Husserl, não trata a
intencionalidade como uma qualidade subjetiva dependente de um objeto externo ( ex.: quem
ama, ama a alguém) . Isto contrapõe-se a Sartre, que considera sempre o fenômeno como
histórico e enquanto uma evidência da relação sujeito-objeto. 
4- A LÓGICA DA CONTRADIÇÃO
Husserl chama a atenção para o ato e a conteúdo do ato. Enquanto a Psicologia
Experimental diz que não pode haver um conteúdo do ato , sem o ato, ele argumenta que isso
não implica que as leis reguladoras do ato e do conteúdo sejam as mesmas; se assim fosse,
teríamos que reger os conteúdos pelas leis que regulam os atos. Neste caso, a verdade que
se refere ao conteúdo ficaria dependente do processo psicológico que se refere ao ato,
levando-nos a um puro subjetivismo e relativismo da verdade. Considerando que a verdade é
objetiva e absoluta, Husserl vê aí um contradição lógica. Afirma então que o que se dá é
justamente o contrário : é o ato que depende das leis do conteúdo, para estar em
conformidade com a matemática. 
É nesse ponto que Husserl rompe com a lógica formal e parte para o estudo do fenômeno
puro, formulando a lógica da contradição ou a lógica da verdade, mais profunda e radical, no
domínio da qual se manifesta o impulso reflexo de evidenciação.
5- A INTERSUBJETIVIDADE 
Quando a objetividade se fundamenta pela relação a um objeto exterior, basta provar esta
imposição como necessária, para garantir sua validez. Mas se o objeto é considerado como
meramente significado, o único modo absolutamente válido de garantir o seu caráter de
existência é esclarecer que o conhecimento dele não é meramente subjetivo
 ( em única direção ), mas intersubjetivo ( em direção dupla ). Dessa forma fica afastada a
idéia de anomalia individual.
Segundo Husserl, é graças a uma espécie de intropatia ( Einfuhlung) que se constitui a
consciência transcendental, e outros eus como sujeitos cognoscentes, idênticos a mim
mesmo. O objeto intencional constituído de intersubjetividade ( em dupla direção) é para
Husserl o fenômeno no seu pleno grau de evidência..
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CONCLUSÃO
Ao término do nosso estudo, e de acordo com tudo o que foi aqui colocado a respeito
das principais correntes filosóficas, que direta ou indiretamente, poderiam ter
influenciado o pensamento de Moreno, ao criar o método psicodramático, chegamos
também à conclusão de que, várias correlações metodológicas podem ser feitas entre
o Psicodrama e a fenomenologia de Husserl, como por exemplo :
 
1) O conceito de Intersubjetividade e os conceitos de Tele e Encontro;
2) A lógica da Contradição e a proposta do “faz de conta” da dramatização, em busca da
verdade;
3) O conceito de Intencionalidade e o valor dado à vivência e à representação de personagens
“ausentes” à sessão de Psicodrama;
4) O conceito de Evidência Apodíctica e a isenção à interpretação terapêutica; a busca de uma
compreensão vivencial psicodramática, a estimulação à intuição sensível do paciente; e o
respeito à sua verdade. Lembrando-se aqui também, o método de Construção de Imagens,
introduzido por Rojas-Bermúdez.
5) O “a priori” e a entrada em cena com textos espontâneos, improvisados no placo pelo
paciente, a apelação à criatividade também do terapeuta, que deve isentar-se de qualquer
juízo anterior para ir em busca da Cena esclarecedora, aceitando e fazendo atuar a fantasia
do paciente. 
Não obstante as semelhanças, não podemos deixar de perceber que Moreno, ao criar e
desenvolver o Psicodrama, partiu sempre de uma perspectiva própria, singular e específica a
cada momento de produção científica, utilizando-se plenamente da sua liberdade,
espontaneidade e criatividade, dando a todos os seus conceitos e métodos um sentido
particular ( Sinn) representante do seu próprio estilo pessoal de pensamento. 
Entendido dessa forma, acreditamos que qualquer tentativa de “enquadrar” a concepção do
pensamento moreniano numa única corrente filosófica, será sempre uma questão
controvertida. Num certo sentido, impossível. Melhor seria então, se dar conta de que, dentro
de uma proposta tão ampla e flexível da concepção do ser humano, não cabe limites. Manter
a mente aberta e captar o significado de cada proposta socionômica, parece-nos ser a atitude
mais lúcida, podendo-se dessa forma integrar à filosofia do Psicodrama, diferentes modelos
filosóficos, que podem ir do existencialismo cristão de Kierkegaard ao materialismo histórico –
humanista de Marx, cuidando-se apenas de não ferir ou desvirtuar os supostos existenciais
básicos da sua teoria.
20
Lembremos então : Moreno percebia o indivíduo como parte integrante do Universo,
propondo-lhe uma análise existencial e fenomenológica da sua existência, sem estabelecer
limites entre a vida e a morte, entre o eu e os papéis ou entre a fantasia e a realidade. Com
isso, criou um novo conceito de papel, que provém da catarse total oriunda do ato de nascer e
libertar-se, vendo o indivíduo como síntese de uma “integração sintética de todos os
elementos” presentes na natureza e nos espaços preenchidos pelo indivíduo, em suas
relações com o mundo, com as pessoas e com os seus papéis. 
Sua visão do ser humano é tão ampla quanto o é sua proposta psicoterapêutica, através da
Socionomia, indo do teatro terapêutico espontâneo à sociatria e, quem sabe, à possibilidade
de “suspensão” real do personagem “analista- terapeuta” através da “Vídeo Terapia”, proposta
não desenvolvida até o momento , mas guardada talvez para o futuro? 
BIBLIOGRAFIA
1. FONSECA FILHO,S.J.-PSICODRAMA DA LOUCURA,ED.ÁGORA,S.P.,1980
2-FROOM,ERICK – CONCEITO MARXISTA DO HOMEM,ZAHAR ED. R.J.-1979
3-FRAGATA, J. S. – PROBLEMAS DA FENOMENOLOGIA DE HUSSERL, BRAGA LIVRARIA
CRUZ, 1962
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LTDA, S.P.,1973
5-MORENO,J.L. – FUNDAMENTOS DO PSICODRAMA,EDITORIAL SUMMUS,S.P.,1983
.................................. – PSICOTERAPIA DE GRUPO E PSICODRAMA, ED. MESTRE
JOU,S.P.,1974
................................. – PSICODRAMA, ED. CULTRIX, S. P. , 1974
.................................. – O TEATRO DA ESPONTANEIDADE, ED. SUMMUS,S.P. , 1984
6-RANSON GILES,T. – HISTÓRIA DO EXISTENCIALISMO E DA FENOMENOLOGIA, EPU,
S.P., 1973
7-ROJAS-BERMÚDEZ,J. G. – INTRODUÇÃO AO PSICODRAMA ED. MESTRE JOU, S.P. , 1970
21
Capítulo 3
A Socionomia como proposta integrativa
 
 Jacob Levy Moreno, ao conceber a idéia do Psicodrama, talvez por ultrapassar, em muito, as
idéias científicas da sua época, mostrava-se uma pessoa inquieta, inconformada às
exigências sociais e aos conceitos e valores vigentes no meio científico, inclusive a nível
filosófico. A sua compressão do ser humano, vai além das noções do existencialismo de
Kierkergaard (1), embora delas se aproximem e, da mesma forma,das idéias do élan vital e
do conceito de momento, de Bergson. Sua noção de Encontro – olho no olho, face a face,
simétrico e em dupla via, difere, também, do conceito de Encontro de Martin Buber - onde se
prioriza uma relação mais comtemplativa, tipo sujeito-objeto. Dirigem-se para o Hassidismo
(2), mais ainda não é isso, ou só isso que lhe basta. Ele deseja um ser humano socialmente
atuante, tal como Marx, mas, preocupa-se com a preservação da liberdade individual e
coletiva, com a criatividade e espontaneidade que é aprisionada pelo sistema. Propõe, então,
uma análise existencial da existência – o Dasain ou Dasainálise, onde o indivíduo é convidado
a concretizar a sua própria existência, vivendo, existindo e fazendo-se existir em atos, não
apenas em palavras, e onde será estimulado a exercitar a sua espontaneidade e criatividade.
 Pautado nessas idéias filosóficas, por muitos chamada de Religião do Encontro, Moreno
trilha caminhos que o levam à concepção do Teatro Espontâneo e descobre o valor
terapêutico da representação espontânea e inversão de papéis, através do Caso Bárbara
(1924). Em seguida, propõe-se a fazer um trabalho terapêutico , dentro do mesmo enquadre,
e assume o Caso Robert – Diora. Seu Teatro Terapêutico, falha - Moreno não obtém o
sucesso esperado, neste 2º Caso. Ao que parece, seus primeiros pacientes espontâneos ,
fazem-no entrar num novo ciclo evolutivo, a partir da sua própria experiência e da vivência do
seu papel profissional, despertando-lhe para novos aspectos referentes à sua descoberta :
uma 1ª via- valor terapêutico da dramatização de papéis, lhe indica o caminho inicial do
psicodrama: o Teatro Terapêutico; e uma 2ª via – limitações do Teatro Espontâneo, atinge a
consciência do seu papel de psicoterapeuta, a necessidade de reflexão, de método, de ação
social específica e especializada. Moreno, então, dirige-se para Nova Iorque (1925), em
busca de um novo espaço, e inaugura uma nova fase de aprimoramento científico da sua
proposta de trabalho. É dentro desse contexto de evolução pessoal que as suas idéias
realmente frutificam e surge, de fato, o psicodrama, a sociometria, a psicoterapia de grupo e a
sociodinâmica ( 1934). 
A sua proposta de fazer emergir e praticar uma análise existencial fenomenológica -
Dasainálise, é repensada e, ao ser ampliada para incluir de forma dialética o Contexto Social
22
e a adequação de papéis, vislumbra tantas possibilidades de trabalhar-se com o Psicodrama,
que tornou –se necessário delinear os seus vários segmentos, especificar diferentes
enquadres e definir o corpo teórico do Psicodrama, numa espécie de coluna dorsal : a
Socionomia.
Dentro dessa perspectiva, a Socionomia seria uma ciência - aquilo que é ao mesmo tempo o
nada e o tudo que contém, ou seja, uma proposta de estudar cientificamente, as leis que
regem o comportamento social e de grupo, levada a cabo por Moreno, desde a sua
adolescência.
A fim de melhor compreender todas as propostas de Moreno, vamos fazer a retrospectiva de
alguns conceitos filosóficos que poderão nos guiar ao praticar o Psicodrama, em suas
diversas formas.
Princípios Básicos 
Além dos princípios filosóficos básicos, definidos por J.L. Moreno, que podem ser melhor
detalhados através da seita praticada pelo Seinismo ou Hassidismo – Filosofia Existencial
Fenomenológica, parece-nos essencial, a nível metodológico, que observemos as cinco
principais noções da fenomenologia de Husserl, adaptando-as à nossa prática
psicodramática, as quais, podem, em muito, enriquecê-la . Essas noções são as que se
seguem: 
1) O APRIORI (ÉPOCHÉ) : Segundo Husserl, não é das filosofias que devem partir o impulso
da investigação, mas sim das coisas em si e dos problemas que temos à frente –
fenômeno puro. E para realizarmos essa investigação, é necessário uma total ausência de
pressupostos à vivência, que se considere o fenômeno puro, em seu estado original, e se
chegue à uma compreensão do mesmo através da vivência de um Evidência Apodíctica -
consciência intersubjetiva, da qual não se tem nenhuma dúvida.
 No Psicodrama, é dessa forma que fazemos a entrada em Cena, com textos espontâneos,
improvisados no palco pelo Protagonista, fazendo atuar realidade e a fantasia, em busca da
Cena esclarecedora.
23
2)A EVIDÊNCIA : Na Evidência Apodíctica, os fatos devem excluir a dúvida, via a vivência e
através, 
Da intuição sensível – evidência de sentimentos 
Da intuição Intelectiva – através de uma Imagem 
Da intuição Perceptiva -Recordações que partem de Conceitos Universais : essências e
eidos apreendidos, de forma direta, na presença do objeto na sua corporiedade, ou
apreendidos de forma indireta, através de uma Imagem.
 No Psicodrama, adotando-se este tipo de postura, o terapeuta pode isentar-se a fazer
Interpretações do fenômeno, utilizando-se das técnicas especiais- duplo, espelho,
inversão de papéis, construção de Imagens, etc., durante a etapa de Dramatização. 
3)A INTENCIONALIDADE : Segundo este conceito, a Intencionalidade parte do Eu e invade
temporariamente os dados materiais, unificando-os, e designando o objeto, enquanto
meramente consciente ou significado, ou seja, na sua imanência ( ausência exterior do objeto)
. O que acontece durante a vivência é uma :
 Compreensão subjetiva dos fatos
 Uma vivência do objeto significado na sua imanência ( ausência exterior do objeto
significado) O “faz de conta” do Psicodrama em busca da verdade , via o interjogo
de papéis reais e fictícios.
 Este elemento irreal da vivência é colocado “entre parênteses”; e
 Preserva-se o Sentido da vivência (Sinn) para transcendê-lo fenomenologicamente
Exemplo em Husserl : O sentimento existe enquanto qualidade ( AMOR), independente de
que haja um objeto intencional (Alguém, um Outro).
 No Psicodrama, o Ego-auxiliar tem como função representar papéis dos personagens
internos do paciente, ausentes à sessão, para presentificá-los na sua corporiedade,
conferindo maior realidade à fantasia. Este elemento irreal da vivência, é colocado “entre
parênteses”, conservando-se apenas o seu sentido original, para transcender a
experiência.
4) A LÓGICA DA CONTRADIÇÃO : Segundo a Lógica Formal , existiria sempre um
relativismo da verdade , pois teríamos de reger o Conteúdo com as mesmas leis que regulam
os Atos , ou seja, os atos e seus conteúdos seriam regidos pelas mesmas leis. Husserl faz
uma distinção entre o Ato e o Conteúdo do Ato , e rompe com a lógica formal, separando o
Ato do Conteúdo do Ato. Propõe a Lógica da Verdade ou Lógica da Contradição, onde é o
Ato que rege o Conteúdo, ou seja, o Ato independe das leis do Conteúdo e dessa maneira,
aquilo que se vê não pode ser de outra maneira, é o fenômeno puro .
24
 No Psicodrama, esta noção de Lógica da Verdade, também existe, pois, parte-se sempre
da Ação e da vivência psicodramática, para o estudo do fenômeno. Através da vivência da
dramatização ou da Construção de Imagens, pode-se chegar ao Conteúdo do Ato sem
precisar inferi-lo, através de uma Interpretação. 
5) A INTERSUBJETIVIDADE : Husserl, também diz, que o conhecimento não é meramente
subjetivo - em única direção, ele é intersubjetivo - em direção dupla, de ambos os lados. Vem
daí o valor dado à vivência. 
 No Psicodrama, prioriza-se a ação, a vivência e a experiência do outro, da relação
interpessoal . Temos, também, o Conceito de Tele - emissão, recepção e percepção de
mensagens e sentimentos, em dupla direção .
Observemos agora, o fator dinâmico da teoria moreniana, presente na sua concepção do ser
humano e que aproximam-se das idéias de Marx , para tentar verificar o Encontro das idéias
de Marx comas idéias de Moreno :
A DIALÉTICA MARXISTA
MARX diz que:
 A realidade e o indivíduo não podem ser dicotomizados e por isso não existe linearidade
( causa e efeito absolutos);
 Cada fato ou fenômeno possui múltiplas causas e formam uma cadeia de relações
intrínsecas e de realidades subjetivas, que num dado momento existe e que por isso é
Histórica;
 Marx defende o naturalismo e humanismo, dizendo que é do mundo dos sentidos, em
constante mutação, que devemos ver a Realidade, e não a partir das idéias ou ideais, de
essências incorpóreas.
 Seu entendimento do processo vital da realidade humana é construído a partir de
homens REAIS e ATUANTES; e
 Considera que existe uma Dialética entre a Realidade Objetiva e a Realidade Subjetiva,
onde a realidade subjetiva é tomada como uma prática da atividade sensorial, que é
apreendida pelos próprios sentidos e não através de uma atividade contemplativa do
pensamento – das idéias.
25
Vejamos, agora, o pensamento de Moreno, a respeito da personalidade e do Universo Social,
bem como a sua proposta psicoterapêutica.
MORENO
Diz que a Organização da Personalidade decorre da interação dinâmica de três fatores: 
 forças hereditárias ( fatores biológicos)
 forças sociais ( Tele = relações interpessoais x relações de fantasia = Átomo
Social)
 forças ambientais ( papéis sociais = realidade externa x realidade interna)
Moreno decompõe o Universo Social em três Dimensões:
 Sociedade Externa = família, estado, igreja, etc
 Matriz Social ou Átomo Social = mundo socioafetivo
 Realidade Social = que é o reflexo da oposição dialética entre a Realidade Social vigente (
Realidade Externa) e a realidade interna dos grupos ( Relações Tele = redes
sociométricas).
Consideramos que, vem desse pensamento de Moreno, o desenvolvimento de Técnicas
Especiais, como: 
 a Psicoterapia de Grupo,
 o Psicodrama Grupal, 
 a Sociometria e
 o Sociodrama.
O QUE É A SOCIONOMIA ?
Moreno define a Socionomia como a ciência que estuda as leis que regem o
comportamento social e grupal, a partir de 3 pontos de referência :
 SOCIUS ( companheiro) : Inserção do Indivíduo em Pequenos Grupos;
 METRUM ( a medida ) : Estudo das Relações Interpessoais;
 DRAMA ( ação ) : método psicoterapêutico
 RAMOS DA SOCIONOMIA
(SUB-DIVISÕES)
1) SOCIODINÂMICA : Estudo da organização e evolução dos grupos
Principais Ferramentas Sociodinâmicas:
 ROLE – PLAYING : treinamento e adequação de papéis.
26
 TEATRO ESPONTÂNEO : 1º Enquadre Psicodramático- representação
espontânea de papéis.
 JORNAL VIVO : técnica de aquecimento para a ação e dramatização.
 PSICODRAMA EDUCACIONAL: aplicação do Psicodrama ao contexto
educacional de ensino-aprendizagem.
 PSICODRAMA PÚBLICO – Vivência do Psicodrama numa única sessão, aberta
ao público.
 PSICODRAMA INSTITUCIONAL – aplicação do Psicodrama às organizações.
Ex: Reuniões Setoriais, Reuniões de áreas ou de diretorias, Seleção de Pessoal,
Entrevistas de admissão, Resolução de Conflitos Organizacionais. 
2- SOCIOMETRIA : Estudo das forças de atração e repulsão, organização grupal e
redes sociométricas, da comunicação e afetividade grupal.
 Instrumento da Sociometria : Teste Sociométrico
 Permite conhecer a posição dos indivíduos no grupo : as redes sociométricas do
grupo, seu líder popular, líder socioafetivo, membros isolados, rechaçados,
status sociométrico ( cotas de amor e simpatia), Átomo Social ( relacionamentos
socioafetivos); Tele ( emissão , recepção e percepção de sentimentos); funções
e papéis assumidos por cada componente do grupo.
3- SOCIATRIA : Parte da Socionomia que se dedica ao tratamento do Indivíduo e do
Grupo, através do Psicodrama e do Sociodrama. Diferentes enquadres e objetivos
terapêuticos são definidos:
 Psicoterapia de Grupo e 
Psicodrama Grupal
 Psicodrama Individual
 Psicodrama Bi-Pessoal
 Psicodrama de Casal
 Psicodrama Infantil 
 Sociodrama Público
 Sociodrama Institucional
 Sociodrama Educacional 
 Sociodrama Familiar
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 Psicodrama de Família
Objetivo do Psicodrama : Propõe-se ao aprofundamento psicoterapêutico do indivíduo, ou do
indivíduo inserido no grupo.
Protagonista : o Indivíduo
Objetivo do Sociodrama : 
Propõe-se ao tratamento sociodinâmico das relações interpessoais, em grupos operativos-
grupos de estudo, trabalho, igrejas, comunidades. 
Protagonista : o Grupo
NOTAS
(1) Para Kierkergaard, Hegel havia suprimido a distinção entre Deus, o mundo e o
indivíduo, mergulhando tudo num único sistema, representado pelo Espírito Absoluto ,
onde o racional é o real e onde o indivíduo e o seu extremo coincidem concretamente
no Universal. Dentro de um sistema assim fechado, que leva tudo à abstração, ele
considera que o próprio homem é absorvido no absoluto das idéias, restando-lhes
apenas delimitar um lugar dentro do Sistema. É com este aspecto da filosofia de
Kierkergaard que Moreno parece se identificar, uma vez que, tal como Kierkergaard,
defende uma doutrina onde o indivíduo, sua subjetividade, liberdade e singularidade,
são princípios básicos.
(2) O Hassidismo é uma seita religiosa proveniente da Cabala-Judaísmo Místico, que
defende a filosofia do Seinismo , segundo a qual, Ser e Saber são inseparáveis. Reúne
numa só realidade a existência e o pensamento. Defende o naturalismo, a manutenção
do fluxo natural e espontâneo da existência, o valor do momento presente e o estímulo
à espontaneidade e criatividade.
Capítulo 4
Sobre a Teoria dos Papéis
O primeiro ato do indivíduo , o nascer, traz à baila questões referentes à sua
identidade. J.L.Moreno transcende a existência imediata e relaciona ao indivíduo uma
primeira “identidade cósmica”, na qual existe em estado puro uma possibilidade espontânea
e criativa, natural à sua essência mais profunda, e da qual os papéis somam as suas
ramificações expressivas, funcionais e culturais. Ou seja, os papéis expressam as formas
reais, imaginárias e simbólicas que o eu adota ao interrelacionar-se com o outro, mas traz
consigo uma Identidade que, mesmo caótica e indiferenciada, existe.
Define Moreno ( 1928) que toda configuração de papel envolve duas partes, exigindo
uma vinculação, mesmo que fictícia, com um outro. Daí decorre a principal característica do
papel : sua função complementar . É dentro dessa complementariedade que o Eu vai
constituir-se.
O desempenho de papéis antecede, pois, o surgimento do Eu : é através do interjogo
de papéis, atribuídos à criança, pela mãe, enquanto ego auxiliar, e no suprimento das suas
necessidades básicas de sobrevivência, carinho e atenção, que os papéis vão se
desenvolvendo e desenhando os “embriões do Eu” em “ eus - parciais”. Diz ainda Moreno,
que esses “eus-parciais esforçam-se de tempos em tempos por reunir-se e unificar-se” e que
o papel pode ser tomado como cada uma das “unidades de conduta”.
Poderíamos então dizer que o Eu, ao emergir dos primeiros papéis que desempenha,
ou seja, dos papéis psicossomáticos, confere, aos mesmos, uma função estruturante. Aos
poucos, esse Eu vai-se organizando, adquirindo conteúdo e expressão emocional,
ampliando o seu campo de atuação e começa a jogar papéis mais complexos, que envolvem
as suas funções simbólica e imaginativa. Passa então, a jogar papéis psicodramáticos, até
29
poder trilhar caminhos, desde o mundo social, para o desempenho de papéis mais
estruturados, com significados, experiências e funções sociais definidas.
É sobre este processo de “nascimento”, aquisição, auto conhecimento e interação
social que se debruça a Teoria dos Papéis de Jacob Levy Moreno. A Teoria dos Papéis
abrange em seu conjunto, três tiposde papéis: os papéis psicossomáticos, os papéis
psicodramáticos e os papéis sociais.
Os papéis psicossomáticos são papéis “emergentes e espontâneos”, que existem
desde o nascimento e que se apoiam nas funções fisiológicas. Ao mesmo tempo em que
representam funções orgânicas inatas, exigem a presença de um outro, de um papel
complementar, para expressar-se e constituir-se num primeiro vínculo : o vínculo maternal.
Nesse primeiro Universo, a mercê da existência insubstituível de um vínculo que
provê idealmente todas as necessidades básicas de sobrevivência, a criança vivencia os
seus papéis em suplementariedade, ou seja, sem que esteja consciente do seu papel e do
papel do outro. Isto quer dizer, além de outras coisas, que se o outro “falha” em seu papel,
registra-se também uma “falha” no Eu. 
Muitos desenvolvimentos teóricos, tanto em psicanálise quanto em psicodrama,
fazem referências especiais a esse primeiro mundo da criança, a exemplo da teoria do
Núcleo do Eu de Rojas-Bermúdez, dos estudos de Melanie Klein, Margareth Ribble, René
Spitz e muitos outros.
Mas, na Teoria dos Papéis de J.L. Moreno esse é um momento que, além de
passagem, representa a fantasia, possibilita a ação espontânea e o desenvolvimento da
atividade criadora.
Os papéis continuam a “emergir” e surgem os papéis psicodramáticos, herdeiros
paradoxais da “brecha entre a realidade e a fantasia”. Esses papéis surgem como fruto do
despertar do Eu em relação ao outro, da noção do vínculo em sua complementariedade.
Apoiam-se nas funções da psique ( percepção e imagens mentais) e no jogo de inversão de
papéis. Conferem realidade à fantasia e vice-versa.
Segundo Moreno, ao ocorrer a “brecha entre a realidade e a fantasia” , a criança
entra no seu segundo Universo , onde ocorrerá uma “divisão” do eu :
 
 PAPÉIS PSICODRAMÁTICOS PAPÉIS SOCIAIS
 FANTASIA REALIDADE
 MUNDO PSICOSSOMÁTICO MUNDO SOCIAL
 IMAGINÁRIO REAL
E
PAPÉIS PSICOSSOMÁTICOS
A Matriz de Identidade, originalmente cósmica e espontânea, cede espaço à Matriz
Social, dando início a um processo de “inversão de identidade”, que tem início após a
configuração dos papéis psicossomáticos e se completa após o surgimento dos papéis
psicodramáticos que, embora ainda conservando realidade e fantasia, vem instalar a criança
num contexto histórico e social, fazendo-a perder gradualmente a espontaneidade e
criatividade, características de personalidade, até aqui, mais marcantes. Por conseguinte a
sua capacidade de vincular-se a essa Matriz Espontânea vai sendo suprimida pelo
treinamento, condicionamento e socialização crescentes, fazendo-a absorver do referido
contexto as suas “conservas culturais” e novos modelos de conduta nele baseados.
Se por um aspecto isto lhe é favorável, dado às inesgotáveis experiências e
construções humanas que possibilita, por outro, é limitante a nível de ação libertária criativa,
aprisionando ou dificultando a expressão plena dos papéis que traz “em germe”, ao nascer :
o meio social, cultural , político, étnico, religioso ou familiar, poderão ou não bloquear, em
diversos níveis, as suas possibilidades de desenvolvimento e crescimento emocional e
social. 
Moreno então nos fala de papéis ausentes, mortos, futuros, mal desempenhados,
ansiosos, cristalizados, rígidos, inadequados e patológicos, colocando-os enquanto “partes
não - resolvidas do Eu postulado” , espontâneo. Sugere o Psicodrama como “palco de
liberdade e libertação” onde o indivíduo vai ser estimulado a procurar a sua verdade e (re)
encontrar-se.
 Referência Bibliográfica : Moreno,J.L. – Psicodrama, Ed. Cultrix, 1978.
Maio de 1998.
31
Capítulo 5
A Criação de Cenas através da Forma e a Emergência de Conteúdos
Para melhor compreender o método psicodramático de Rojas-Bermúdez, psicodramatista
argentino que desenvolveu a teoria do Núcleo do Eu, é importante, acredito, absorver as
principais diferenças entre o seu enquadre técnico-formal e o método moreniano,
basicamente centrado na técnica de dramatização de papéis. Bermúdez, ao longo do seu
trabalho clínico, desenvolveu uma metodologia de trabalho própria, acrescentando algumas
transformações de estilo e técnica ao enquadre original, definido por J.L.Moreno. Bermúdez
sugere enquanto procedimento sistemático a Técnica de Construção de Imagens, no
contexto dramático, como técnica de aquecimento ou desaquecimento, pesquisa e trabalho
terapêutico.
Ao começar a minha prática como Psicodramatista estagiária, na ASBAP (1993), sentia
dificuldades em adaptar-me ao método psicodramático proposto por Rojas-Bermúdez, em
sua íntegra. A dificuldade provinha, creio eu, de uma tendência mais arraigada no trabalho
verbal e do hábito, anteriormente incorporado, de ouvir e investigar verbalmente o material
trazido para a sessão. O processo de conceber alguma hipótese de direcionamento para a
produção de Cenas , através da escuta é muito lento e este aspecto me serviu de motivo
para a experimentação do modelo proposto. Familiarizando-me aos poucos com esta
metodologia , pude perceber que, de fato, aquecer o Protagonista para a produção de uma
Imagem, era realmente mais favorável à obtenção de conteúdos e, da mesma forma, para
um melhor desenvolvimento da sessão psicodramática. Na maioria das vezes, criava-se a
partir daí uma cena a ser trabalhada, independentemente da dramatização propriamente
dita, favorecendo também, a construção de hipóteses terapêuticas, o envolvimento do grupo
e o aquecimento do protagonista. Esse relaxamento de campo pareceu-me essencial,
compensando, de alguma forma, o trabalho despendido junto ao paciente para a produção
de uma Imagem, uma vez que esse tipo de linguagem – falar através de uma forma ou
alegoria, não é muito comum na nossa cultura.
A utilização sistemática desse método de trabalho, me permitiu visualizar as cenas expostas,
ao invés de ouvi-las e repeti-las no Cenário, o que acredito que tenha sido bom também
para os pacientes, fazendo-os voltar o seu olhar para si mesmos, ao tempo em que
constróem o seu drama e o vivenciam. Pude perceber, também, que o método permite a
evolução ou não das formas criadas no Cenário, para uma dramatização, desenvolvendo-se
de maneira fluída e enriquecendo o desempenho de papéis, além de pontuar as
intervenções necessárias de uma forma conjunta.
Segundo Bermúdez, a Imagem traz o aspecto básico conflitante, registrado e identificado na
Imagem, o qual é espontaneamente assumido pelo protagonista. Este fato possibilita-nos o
prosseguimento do trabalho terapêutico, muitas vezes sem passar pela produção de cenas
onde são desenvolvidos papéis – método moreniano, uma vez que a própria Imagem pode
ser capaz de possibilitar o insights e a catarse de integração objetivada. Quando isso
acontece, a Imagem fala por si mesma, a compreensão é imediata e fortemente sentida pelo
paciente como a sua verdade.
Facilita-se tal compreensão fazendo-se uma leitura das formas em cena, com o
envolvimento do protagonista ou, como orienta Bermúdez, passa-se a “investigar as
relações existentes entre os seus elementos expressivos e a verificar as inter-relações
existentes entre cada parte e contra-parte da Imagem”. Através dessa metodologia,
normalmente o protagonista chega à auto-compreensão e à auto-avaliação.
Dentro da minha experiência com a técnica, houve ocasiões onde tornou-se desnecessário,
inclusive, passar o protagonista para a Imagem e pedir-lhe o Solilóquio. Ao fazê-lo tomar
distância da Imagem e visualizá-la, obtinha-se insights da situação, tornando-se
desnecessário o desdobramento técnico-metodológico do procedimento.Nessas ocasiões, a
qualidade da Imagem era muito boa. Notamos que certos pacientes conseguem mais
facilmente uma auto-compreensão significativa logo após o processo de produção da
Imagem ou, no momento seguinte, ao assumir o lugar de cada parte e contra-parte da
Imagem para realizar o Solilóquio, etapa do procedimento considerada por alguns como um
“assumir e inverter papéis” – embora particularmente acredite ser mais adequado utilizar
essa terminologia para “unidades de conduta”(desempenho de papéis) e não para unidades
de gestos e posturas corporais, que compõem representação plástica de uma situação,
como estados de ânimo, a percepção simbólica de um conflito ou papel, etc. ou seja, a
Imagem reflete, estrutura, decompõe elementos, mas é estática. Ela pode levar ao jogo de
papéis, mas se isto acontece, tecnicamente estaremos passando à fase clássica de
dramatização ( jogo de papéis).
A utilização desse método nem sempre é uma tarefa fácil. Requer muito tempo de prática,
determinação e paciência por parte do terapeuta. Principalmente quando estamos lidando
com pacientes muito bloqueados nos seus afetos, com poucos recursos expressivos e
muitas dificuldades de simbolização. Percebi, no entanto, que mesmo para essas pessoas, o
exercício continuado de produzir Imagens, pode servir-lhes de estímulo ao desenvolvimento
dos seus canais cenestésico e visual, permitindo-lhes de alguma forma ampliar o seu
contato com o seu mundo interno de sensações, sentimentos e fantasias, ajudando-os a
33
melhorar também a qualidade dramática das suas Imagens e a liberar o seu potencial
criativo para o desempenho de papéis.
Escrito Psicodramático apresentado no II Encontro Regional Norte/Nordeste
Realizado em Salvador-Bahia, 1994 e
Publicado no Jornal EM CENA da FEBRAP-Ano15-No.1/ 1998
Capítulo 6
A MÚSICA COMO OBJETO INTERMEDIÁRIO
Focar a atenção do paciente, diminuir o controle do eu, facilitar o acesso ao material inibido
e restabelecer a comunicação perturbada, são alguns dos aspectos mais corriqueiros para
quem lida com a psicoterapia psicodramática. A isenção ao método de exploração do
inconsciente através dos símbolos verbais e das técnicas de interpretação, impõem
permanentemente ao psicodramatista a busca de novos recursos interacionais. Não nos
basta “ouvir”, é preciso “operar”, entrar em setting, e aquecer o paciente para a produção
psicodramática. 
 
A utilização da música como Objeto Intermediário e psicoterapêutico – tal como a utilização
dos títeres e das máscaras, surge no Psicodrama, como mais um recurso técnico
operacional, estudado e difundido no meio psicodramático por Jaime Rojas-Bermúdez.
Incorporando-se às técnicas de aquecimento grupal ou individual e às técnicas auxiliares, a
utilização da música no contexto terapêutico cumpre o objetivo de fazer emergir material
terapêutico em estado subliminar. 
Como no plano pessoal sempre tive interesse pela música, desde muito pequena, não tive
resistências em utilizá-la como recurso técnico no meu trabalho clínico. Mas, reconheço ser
às vezes delicado o manejo terapêutico da música, em sessões de psicoterapia. Precisamos
dispor de um grande repertório musical, que nem sempre faz parte das nossas preferências
e que, é claro, possa estar presente a cada sessão. Além disso, ter desenvolvido alguma, se
não muita, sensibilidade musical em relação ao grupo, ou ao protagonista, e usá-la com
adequação, observando-se os objetivos terapêuticos em cena.
Alguns aspectos teórico-práticos são então importantes para trabalhar-se terapêuticamente
com a música, até mesmo quando se trata de um simples processo de aquecimento
preparatório, pois é preciso captar corretamente o clima do grupo e as necessidades do
protagonista. É este o motivo pelo qual me interessei em pesquisar sobre este tema, há
algum tempo atrás (1993) , ao começar a fazer atendimentos de Psicodrama Grupal.
Vejamos então o que diz Bermúdez a esse respeito. 
Segundo Rojas-Bermúdez, a música enquanto instrumento técnico-terapêutico, pode ser
considerada “como se” fosse um Objeto Intermediário , embora não possua todas as suas
35
características, teoricamente definidas como tendo existência real e concreta e como tendo
as seguintes qualidades : 1) não desencadear reações de alarme ; 2) ser amplamente
maleável; 3) permitir, por seu intermédio, a comunicação com o paciente, substituindo o
vínculo e mantendo a distância; 4) ser adaptável às necessidades do indivíduo; 5) ser
assimilável a ponto de permitir que o indivíduo possa identificá-lo consigo mesmo; 6) que
possa ser instrumentado como prolongamento do indivíduo; 7) que possa ser reconhecido e
identificado imediatamente, com o indivíduo.
 
Usamos a música como objeto intermediário no processo comunicacional com o paciente,
“Em virtude das possibilidades que dá ao terapeuta de estabelecer contato com certos
papéis do paciente sem desencadear reações de alarme. Este contato é o que permite,
ulteriormente, a interação dos papéis e a criação de vínculos”( Introdução ao Psicodrama –
Rojas-Bermúdez). 
Ela pode ser dirigida para o grupo ou para o indivíduo. Quando dirigida para o indivíduo,
levamos em consideração as suas dificuldades para criar vínculos entre o Papel e o seu
Complementar. Nesse caso, pode-se dirigir a música tanto para o Papel do protagonista
quanto para o Papel Complementar. Decorre daí a categorização da música enquanto
Complementar, Suplementar ou Indutora .
A MÚSICA COMPLEMENTAR
Tem como finalidade oferecer ao protagonista um papel complementar adequado,
possibilitando-lhe a vivência do vínculo requerido para a situação. Ao tratar-se, por exemplo,
de um conflito relacional encoberto entre os papéis de mãe - filho, o estímulo musical
deverá se adequar inicialmente ao material explícito trazido pelo paciente, até que se possa
introduzir pouco a pouco algum conteúdo materno simbólico ( papel complementar ). Essa
forma de acesso terapêutico, da periferia para o centro, permite ir focando gradualmente o
estímulo específico que se quer oferecer, até que o protagonista ( paciente) , possa vivenciar
o seu papel de filho mediante o estímulo musical. O Ego-Auxiliar ( assistente terapêutico
encarregado de desenvolver papéis no contexto psicodramático), poderá ou não ser
introduzido na Dramatização, assumindo os conteúdos da música complementar. Porém, o
mais freqüente é limitar a ação do Ego, sobretudo se existir dificuldades no protagonista
para a criação de vínculo.
A MÚSICA SUPLEMENTAR
É usada quando o objetivo terapêutico é suprir uma parte carente do papel do protagonista.
Ou seja, quando ocorrem discrepância ou desintegração de conteúdos, fazendo com que o
protagonista pense, sinta e atue de forma descoordenada, gerando dificuldades para o
estabelecimento de vínculos. Sabemos que, quando existe uma certa clareza entre os
conteúdos ( o que se pensa e o que se sente), integra-se melhor o agir no mundo. É isso o
que Bermúdez chama de papel bem desenvolvido, do qual surgirá determinado vínculo,
estabelecendo-se uma interação espontânea entre o papel e seu complementar, a partir da
qual pode-se adequar terapêuticamente a situação em cena e objetivar o vínculo no “aqui e
agora” .
Ao contrário, se não existir essa integração entre o pensar-sentir-agir, a interação
espontânea para o processamento do vínculo vê-se dificultada, criando psicopatologias no
papel desenvolvido. Dessa forma, a pessoa pode aparentemente desenvolver bem o seu
papel, a partir de estereótipos culturais, mas não integrá-los a nível de conteúdos. Ex.: Um
filho que atua como filho, pensa como filho, mas não se sente como filho, evidencia uma
carência

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