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Quilombo do Barranco de São Benedito do bairro de Praça 14 em Manaus

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11
 HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA:
COMUNIDADE QUILOMBOLA DO BARRANCO NO BAIRRO DA PRAÇA 14.
Ermerson Encarnação de Souza
Marcos Roberto dos Santos Marinho
Raimundo Nonato Negrão Torres
Prof. Orientador: João da Silva Lopes
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Curso História (HID0421) – Seminário da Prática III
01/12/2016
RESUMO
Esse artigo tem como principal objetivo o estudo sobre a origem e a formação da comunidade quilombola do barranco, situada no bairro da praça 14 em Manaus, porem para que isso fosse possível elaboramos pesquisas documental, bibliográfica e oral sobre as fontes para podermos redigir o presente artigo. Pesquisamos e estudamos sobre a história do Brasil desde a chegada dos portugueses, a escravização dos indígenas até a chegada dos primeiros escravos negros no Brasil, com intuito de obter o conhecimento e o entendimento de como essas comunidades foram surgindo ao longo da história. Qual foi a primeira comunidade? Em quais locais se instalaram? Os remanescentes atuais e onde estão localizados? A chegada dos quilombolas no Amazonas, o reconhecimento dos órgãos competentes. Chegando à conclusão de que essas comunidades foram se formando anteriormente por fugitivos da escravidão negra, e nos dias atuais pelos descendentes de escravos que em alguns locais tiveram terras doadas pelos governos com o objetivo de criarem suas famílias e poderem exercer sua cultura e religião. 
 
Palavras-chave: Escravidão. Negros. Quilombolas. Quilombo. Barranco
1 INTRODUÇÃO
Desde a chegada dos portugueses no Brasil houve um processo de escravidão dos nativos que durou por um bom tempo. Com a cobiça dos colonizadores aumentando a cada dia e por acharem que os índios escravizados aqui não eram capazes de realizar os árduos trabalhos a que eram submetidos, houve a necessidade de importar uma mão de obra que ainda não era totalmente utilizada em território brasileiro e foram buscar na África a solução para esse problema. Os negros africanos eram capturados, escravizados e transportados em navios para o Brasil, chegando aqui eram distribuídos como mercadorias para as fazendas, engenhos entre outros.
Além de sofrerem com o trabalho degradante e serem maltratados pelos seus donos, eles não tinham nenhum tipo de direito e eram obrigados a trabalhar de forma escrava, recebiam tratamento pior que os dispensados aos animais, as vezes eram punidos com castigos mortais. Por serem tratados dessa forma eles fugiam para o interior das florestas e refugiavam-se o mais distante possível para que não fossem recapturados, o local onde esses escravos fugitivos se escondiam chamava-se quilombo, e seus moradores de quilombolas, surgindo assim então a história dos quilombolas no Brasil. Essa era uma forma que os escravos tinham para se proteger e resistir ao perverso sistema em que foram submetidos durante suas vidas.
Com esse artigo pretende-se relatar um pouco da história e a formação dos quilombos e seus moradores, suas culturas, religiões, festas, as lutas e os direitos conquistados, fazendo uma abordagem do surgimento dos primeiros quilombos no Brasil, as comunidades quilombolas atuais, como por exemplo, a comunidade quilombola do barranco que foi objeto de estudo desse artigo. 
2 HISTÓRIA DOS QUILOMBOS NO BRASIL.
A palavra quilombo é originaria da língua Quimbundo “kilombo” e da língua Umbundo “ochilombo”, ambas de origem Angolana e que no Brasil tomou uma imensa dimensão devido ao surgimento das comunidades de escravos fugitivos dos senhores de engenho que os obrigavam a realizar trabalhos forçados, injustos, humilhantes e ainda sofriam constantes torturas, além de duras penas impostas pelos seus “donos”, na época, essas pessoas recebiam tratamento pior do que os dispensados aos animais.
Para muitos escravos a única forma de fugir de todas essas barbáries era adentrar as matas e se refugiar o máximo de distância possível com o intuito de não ser recapturado, muitas das vezes eles eram devorados por animais selvagens pois fugiam sem nenhum tipo de proteção contavam apenas com a vontade e a esperança de se livrarem de todas essas crueldades em que foram submetidos durante suas vidas.
Para Cotrim (2013), em várias regiões do território brasileiro foi frequente a formação de grupos de escravos fugidos como forma de resistência à escravidão. Como vimos no Brasil esses grupos recebiam o nome de quilombos e seus membros quilombolas.
A resistência quilombola foi uma forma de luta escrava frequente e importante em vários períodos e regiões da América portuguesa. Desde o século XVII até os anos finais da escravidão, muitos africanos e seus descendentes continuaram fugindo e se reunindo nessas comunidades, construindo histórias de luta pela liberdade. (COTRIN, 2013, p.46).
Hipólide (2013) explica que, somente em 1850, por extrema pressão de grupos sociais formados por ex-escravos libertos e grupos de pessoas como: médicos, jornalistas, artistas, alguns políticos e escritores que não aceitavam mais a escravidão, foi que o então o Imperador D. Pedro II sancionou algumas leis em favor dos escravos, que foram: Lei do Ventre Livre assinada em 1871, onde determinava que eram livres os filhos de escravos nascidos a partir daquele ano e a Lei dos Sexagenários assinada em 1885, onde estabelecia que todos os escravos com mais de 65 anos eram consideradoslivres.
Para os grupos a favor da libertação dos escravos as duas leis apresentavam sérios problemas. Na lei do ventre livre a criança que nascia tinha que ficar com a mãe até os 21 anos de idade, e na lei do Sexagenário devido as más condições de alimentação e ao serviço pesado um escravo dificilmente chegava aos 65 anos de idade e os que sobreviviam não conseguiam trabalho, justamente por estar em idade avançada. (HIPÓLIDE, 2014, p.201).
No ano de 1888, finalmente a Lei 3.353, de 13 de maio, chamada de Lei Áurea, assinada e declarada pela Princesa Imperial Regente em nome do Imperador D. Pedro II, extingue a escravidão no Brasil. Apesar do descontentamento de todos aqueles que mantinham atividades que exigiam mão de obra escrava, essa foi uma medida muito comemorada no país. (HIPÓLIDE, 2014, p.202).
Para entendermos melhor tudo isso, precisamos voltar alguns séculos atrás, precisamente no ano de 1.500, época da chegada dos portugueses em território brasileiro.
Chegaram ao Brasil, em 1500, os portugueses tinham esperança de enriquecer com o comércio de produtos da terra que pudessem interessar aos compradores europeus. Mas aqui não encontraram o que esperavam. Aqui não havia as mercadorias valiosas que conheciam, nem as pimentas da índia, nem o ouro que existia na Guiné, no continente africano. Existia o pau-brasil, que eles logo começaram a explorar. Mas o que havia de mais valioso eram mesmo as terras do Brasil. Terras férteis, de uma vegetação exuberante e de uma vastidão interminável. Nada que se pudesse comparar com o pequenino Portugal. Foi por isso que, aproveitando a abundância da terra, eles começaram o plantio da cana, para produzir o açúcar que podia ser vendido muito caro na Europa. E, para plantar cana e produzir açúcar, era preciso muita gente para trabalhar. Onde encontrar essa gente? Estavam bem ali, ao alcance da mão. Eram os índios. (BRASIL, 2001, p.16).
 
Nessa época os portugueses pensavam que os índios encontrados no território brasileiro não eram gente como eles, pois além de viverem em aldeias que ficavam no meio das florestas, também andavam completamente nus. Para os europeus os indígenas viviam de modo que eles não conheciam, com hábitos e costumes totalmente diferentes dos seus, em Portugal eles moravam em vilas, eram cristãos entre outros, por isso chegaram até mesmo a duvidar se os índios tinham alma ou se eram verdadeiros seres humanos como eles. Com tantos pontos de interrogação os portugueses chegaram à conclusão que os índios eram selvagens e precisavam serem civilizados a qualquer custo. 
Os índios eram diferentes dos europeus e por isso os europeus achavam que eles eram inferiores. Para que tivessem algum valor, era preciso que se tornassem idênticos a eles. Era preciso catequizar os indígenas, convertendo-os a qualquer custo ao cristianismo. E era preciso ensiná-los a viver em aldeias como as da Europa e trabalhar como os europeus. Como não estavam acostumados a viver e trabalhar desse modo, era preciso obrigá-los a trabalhar e viver assim. Era preciso transformá-los em escravos dos colonos brancos portugueses. Nessa época, os portugueses já tinham viajado muito pela África e conheciam os negros do continente, porque controlavam a venda de escravos africanos para a Europa. Por isso, quando chegaram ao Brasil, eles chamaram os índios de negros da terra e passaram a escravizá-los, como já faziam com os negros da África. (BRASIL, 2001, p.16).
Para fugir do processo de escravidão os indígenas se afastavam cada vez mais do litoral e refugiavam-se em lugares bem distantes espalhados pelo o interior do Brasil. Os portugueses organizavam expedições para ir atrás deles e uma dessas expedições que podemos citar é a dos bandeirantes em São Paulo. Além de capturarem os índios para o cativeiro, eles também aproveitavam a ocasião e tomavam posse de suas terras para distribuir entres os colonizadores. 
De acordo com o texto descrito no livro Uma história do povo Kalunga, publicado pelo Ministério da Educação e Secretaria de Educação Fundamental, (Brasil, 2001), nessa mesma época do outro lado do continente, os espanhóis que colonizavam a outra parte do território da América vinham enriquecendo muito, e depressa, com os metais preciosos que descobriram por lá. No México e no Peru, eles não se apropriavam somente das terras dos povos indígenas, mas também de suas ricas minas de ouro e prata, levando tudo para a Espanha. 
Ao tomarem conhecimento de todas essas riquezas que poderiam existir em território brasileiro os portugueses passaram a estender cada vez mais suas expedições pelo interior do Brasil com a ambição de encontrar pedras preciosas, logo eles perceberam que não era tão fácil encontrar tais riquezas por isso continuavam com a frequente tarefa de capturar os indígenas, para isso eles adotaram a estratégia de seguir o curso dos rios, subiam e desciam serras pelo sertão afora, dessa forma eles foram conquistando cada vez mais o território brasileiro.
No início do século XVI, foram plantadas no Brasil as primeiras mudas de cana de açúcar e respectivamente também foi implantado o primeiro engenho localizado na região do atual estado de São Paulo, a partir de então os engenhos começaram a se multiplicar pelo o litoral brasileiro, com maior concentração no Nordeste principalmente nos estados da Bahia e Pernambuco.
Os portugueses já tinham experiência com a plantação de cana de açúcar em outras de suas colônias fora do território brasileiro e perceberam que o Brasil apresentava um clima quente e úmido e uma espécie de solo massapé no litoral nordestino, ou seja, reunia todas as condições naturais e favoráveis para o desenvolvimento da lavoura canavieira.[1: Massapé é um tipo de solo de cor bem escura, quase preta, encontrado na região litorânea do nordeste brasileiro muito fértil e, portanto, excelente para a prática da agricultura.]
As plantações de cana de açúcar logo se expandiram, transformando-se em grandes lavouras e isso começou a exigir cada vez um grande número de pessoas para trabalhar no cultivo e nos engenhos de benefício da cana de açúcar. Por não ter mão de obra suficiente em Portugal para trazer ao Brasil os portugueses visando apenas em obter grandes lucros começaram a utilizar a mão de obra dos indígenas escravizados. 
Até metade do século XVII, a mão de obra indígena continuava sendo muito utilizada na produção açucareira e também em outras atividades econômicas como o cultivo do milho, arroz, feijão e mandioca. Os colonizadores além de escravizar os indígenas também tiravam proveito dos seus conhecimentos sobre as florestas brasileiras para explorar o que eles na época chamavam de "drogas do sertão", que eram o guaraná, cravo, castanha, baunilha, cacau, plantas aromáticas e medicinais, entre outros. 
A escravização indígena começou a ganhar uma forte oposição por parte dos jesuítas, que entraram em conflito com os colonos da região. Foi somente em 1682, com a criação da Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, que a mão-de-obra indígena começou a deixar de ser usada, sendo substituída pelos escravos africanos. 
Nos primeiros tempos, a plantação da cana-de-açúcar foi tocada assim, com o trabalho dos índios escravizados, que os bandeirantes apresavam e traziam para o trabalho nos engenhos. Mas, os padres jesuítas que tinham por missão converter os índios à religião dos colonizadores se incomodavam com essa prática dos bandeirantes, que era um péssimo exemplo da civilização dos brancos cristãos. Os bandeirantes eram os grandes fornecedores de mão-de-obra escrava para as plantações e por isso enfrentavam conflitos com os padres. Além disso, o rei de Portugal decidiu favorecer os ricos comerciantes portugueses que eram os donos dos navios que faziam as viagens transatlânticas e que controlavam o comércio de escravos da África para a Europa. Ele concedeu monopólios aos traficantes portugueses e incentivou os plantadores de cana a comprar mais escravos africanos do que indígenas, dispensando os senhores de engenho de pagar partedos impostos pela importação desses escravos. Já não era mais vantagem explorar os negros da terra quando se podia ir buscar os negros da África. (BRASIL, 2001, p.17).
A partir de então, ainda no século XVII, os colonizadores foram buscar alternativas para os trabalhos, utilizando as experiências que eles já tinham em Portugal e nas ilhas atlânticas, optando assim pela a escravidão africana. Os negros eram presos na África e trazidos em porões de navios, onde muitos morriam vitimados pela fome, por doenças, como varíola, sarampo entre outras e também de tristeza que sentiam por deixarem suas terras, com a saudade, não comiam nada e acabavam morrendo de fraqueza
A palavra escravidão deixa bem claro que a vinda dos africanos para o Brasil não foi uma decisão deles, essas pessoas foram arrancadas de suas terras e forçadas a viver no Brasil. Estima se que durante 300 anos cerca de 3 milhões de africanos vindos de várias regiões da África atravessaram o oceano atlântico nos porões das embarcações que eram conhecidos como navios negreiros. (HIPÓLIDE, 2014 p.195).
Os africanos escravizados eram vendidos para pessoas que os faziam trabalhar em suas propriedades. A mão de obra africana acabou constituindo a base das principais atividades econômicas desenvolvidas em todo período colonial, que além da produção de açúcar também era utilizada na mineração e em outros seguimentos relacionados a agricultura, agropecuária, comercio e trabalhos domésticos.
Os fazendeiros eram os principais compradores de escravos, além de serem submetidos a trabalhos forçados por mais de 14 horas diárias, comiam no máximo duas vezes por dia, recebiam alimentação de péssima qualidade, dormiam nas senzalas, vestiam trapos, sofriam preconceito, discriminação e ainda eram tratados com crueldade, muitas vezes recebiam castigos que alguns não suportavam e morriam devido tanta violência, conforme Hipólide (2014). Para que seus escravos não fugissem, muitos senhores faziam marcas em seus corpos com ferro em brasa, como se usa com os animais. Quando os negros fugiam de suas fazendas, onde eram explorados e maltratados, formavam agrupamentos fortificados, que chamavam de quilombos. [2: Conjunto de casas ou alojamento que se destinava aos escravos de uma fazenda ou de um senhorial.]
De a acordo com a definição de Hipóide (2014), os quilombos eram espaços em que homens, mulheres, idosos, sendo que a maioria africanos e afrodescendentes podiam viver livres, esses locais eram uma forma de resistência a escravidão. Em muitos desses ambientes os refugiados praticavam a agricultura, tinham a liberdade para plantar e colher, também caçavam, pescavam e colhiam frutos. Em muitos desses locais eles desenvolviam atividades agropecuárias com a criação de pequenos animais.
O quilombo mais conhecido que resistiu a escravidão por mais de cem anos é o Palmares que se situava onde hoje fica o Estado de Alagoas e o seu principal líder foi o Zumbi que tomava as decisões mais importantes. Todos os quilombos que existiram sempre tiveram como seu principal objetivo a resistência a escravidão.
Para melhor entendimento de como sugiram as comunidades quilombolas, não poderíamos deixar de relatar essa breve história de como tudo isso começou.
2.1 COMUNIDADES QUILOMBOLAS EXISTENTES NA ATULIDADE.
De acordo com o decreto 4887/2003, publicado no Guia de Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas do Programa Brasil Quilombola, (BRASIL, 2013), as comunidades quilombolas são grupos étnico-raciais segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotadas de relações territoriais especificas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. [3: DECRETO Nº 4.887, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.]
As comunidades quilombolas localizam-se em 24 estados da federação, sendo a maior parte nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Minas Gerais e Pernambuco. Os únicos estados que não registram ocorrências destas comunidades são o Acre e Roraima, além do Distrito Federal.
Além dos quilombos constituídos no período da escravidão, muitos foram formados após a abolição formal da escravatura, pois essa forma de organização comunitária continuaria a ser, para muitos, a única possibilidade de viver em liberdade. De um modo geral, os territórios de comunidades remanescentes de quilombos originaram-se em diferentes situações, tais como doações de terras realizadas a partir da desagregação da lavoura de monoculturas, como a cana-de-açúcar e o algodão, compra de terras, terras que foram conquistadas por meio da prestação de serviços, inclusive de guerra, bem como áreas ocupadas por negros que fugiam da escravidão. Há também as chamadas terras de preto, terras de santo ou terras de santíssima, que indicam uma territorialidade vinda de propriedades de ordens religiosas, da doação de terras para santos e do recebimento de terras em troca de serviços religiosos. (BRASIL, 2013, p.16).
2.2 COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO AMAZONAS
De acordo com os dados divulgados pela Fundação Zumbi dos Palmares, atualmente existem mais de 2.600 comunidades quilombolas espalhadas por todo o território brasileiro, todas reconhecidas e certificadas pela Fundação Palmares, sendo que oito dessas comunidades situam-se no estado do Amazonas.
Conforme a Presidência da República juntamente com Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais em sua publicação intitulada de: Guia de Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas, (BRASIL, 2013), Vale ressaltar que para uma comunidade se intitular de quilombola urbano ou rural, não basta ser apenas descendente de negros ou de escravos, tem que obedecer uma série de normas e regras estipuladas por órgãos do governo, licenciamento ambiental, INCRA, visitas técnicas de entidades culturais e a Fundação Palmares entre outros.
Em seu site a Fundação Cultural Palmares informa que o estado do Amazonas abriga oito dessas comunidades quilombolas que foram reconhecidas pela Palmares. O município de Barreirinha aparece em primeiro lugar com o maior número de comunidades certificadas, cinco no total, são elas: Boa Fé, Ituaquara, São Pedro, Tereza do Matupiri e Trindade, em Novo Airão, uma conhecida como a comunidade do Tambor, na cidade de Itacoatiara, também uma, com o nome de comunidade Sagrado Coração de Jesus do Lago de Serpa e em Manaus, uma comunidade de quilombolas urbano, denominada de comunidade quilombola do Barranco de São Benedito, que fica localizado no bairro da praça 14. Sendo esta última o objetivo de nosso estudo no capítulo seguinte.
3 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DO BARRANCO LOCALIZADO NA CIDADE DE MANAUS.
Conforme Keilah Maria da Silva Fonseca, presidente da Associação Crioulas do Quilombo de São Benedito, os quilombolas que se instalaram no bairro da Praça 14 em Manaus, são originários da cidade de Alcântara que fica localizada no estado do Maranhão. As primeiras famílias chegaram em território amazonense por volta do final do século XIX em meados de 1890. A comunidade está instalada nesse local há mais de 124 anos e foi autorizada na época pelo o então governador do Amazonas Eduardo Ribeiro, que doou os lotes de terras para que eles pudessem constituir e criarem suas famílias. Por também ser maranhense, o governador ajudou e incentivou várias famílias negras a virem para a cidade de Manaus, porque aqui teria como eles trabalharem nos seus ofícios que antigamente assim se chamava, na mão-de-obra como carpintaria entre outros e as mulheres vieram para ser lavadeiras, executarem serviços domésticos e também serem amas de leite. Foi dessa forma que as famílias foram chegando aqui no estado. 
3.1 OS INTEGRANTES PIONEIROS NA FORMAÇÃO DA COMUNIDADE
Uma das primeiras integrantesdessa comunidade que se formou era conhecida como Severa, que foi uma descendente de escravos e que ainda trazia nas pernas as marcas das correntes, vovó Severa como é chamada pela presidente da Associação Crioulas do Quilombo de São Benedito, juntamente com seus filhos fora a primeira família a se instalar nessa comunidade, foram trabalhando e mandando buscar outros maranhenses e assim por diante.
3.2 INICIO DA ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE
A comunidade se estabeleceu a partir do momento que já tinha muitos integrantes da família aqui reunidos, casados e com filhos, eu creio, que na história conta que a partir dos momentos da festa de São Benedito a comunidade começou a ganhar força, através dos festejos. Porque em décadas passadas, ela sempre foi bem comemorada por deputados da época e governantes que apreciavam as festas dos negros aqui na comunidade. Então, a partir daí a comunidade já se difundiu e ficou conhecida em todo o Estado. (FONSECA, 2016).
Como já sabemos que quilombo é um refúgio onde se reúnem vários negros, e por estarem justamente em maior quantidade nesse local cedido pelo governador do Amazonas Eduardo Ribeiro, surge então a comunidade quilombola do Barranco na cidade de Manaus, o nome barranco é em referência ao local onde foram assentados, ou seja, um terreno acima de uma encosta.
Além da formação da comunidade como quilombos, também trouxeram junto consigo sua religião, celebrações e grande parte de sua cultura que procuram preservarem até os dias atuais. 
3.3 RELIGIÃO, CULTURA E FESTEJOS
 Na religião o maior reverenciado é São Benedito, cultuado desde a época dos escravos negros, justamente por causa da cor de sua pele e por ser de origem africana, se consideram da região da Costa de Mina.
Ainda segundo (FONSECA, 2016), trouxeram também as festas juninas e o meu bumba-meu-boi, dando origem inclusive ao Boi Caprichoso de Parintins, que surgiu na Praça 14. De acordo com os mais antigos haviam no local festas muito grandes como danças de quadrilhas e a amarra de boi.
A comunidade sempre foi muito rica tanto na religião quanto na cultura popular e folclore, pois tem como principais comemorações o dia de São Benedito que é festejado no dia 05 de outubro, as festas juninas, no mês de junho, o dia de Cosme e Damião, comemorados no dia 27 de setembro e ainda o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro, que foi inserido no calendário nacional a partir da década de 90.
 A presidente da associação relatou que o idealizador da época para que todos esses movimentos da negritude que existem atualmente se concretizassem era conhecido como Nestor Nascimento (advogado e primo nosso), e que o bairro está envolvido com toda cultura desde o carnaval, folclore e religião. 
Nós começamos o ano com a celebração ao nosso querido São Benedito que inicia o nosso calendário anual de festas, festejamos dia de São Sebastião que é rezada uma novena na comunidade, depois tem o carnaval na comunidade, dia da Mulher, dia das mães, dia de São Lázaro que é dado comida para os cachorros, as festas juninas com fogueiras, e estendemos pela festa de São Cosme e Damião, temos também a comemoração do dia das crianças que se alonga para o fechamento de calendário, o dia 20 de novembro que é o dia da Consciência Negra, no qual a associação AMONAN (Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas promove uma feijoada de cortesia para comunidade e para os visitantes e aí encerramos o nosso calendário anual com o Natal do quilombo. (FONSECA, 2016).
A comunidade preserva até hoje muitos dos costumes de seus precursores, porém alguns foram se perdendo ou deixados para trás ao longo dos anos como por exemplo: as benzedeiras, mães de santo, curandeiras e terreiros, esses já não existem mais há um bom tempo na comunidade. 
3.4 OS QUILOMBOS DO BARRANCO NA ATUALIDADE
Hoje, são de 25 famílias os membros que integram a comunidade e já estão entre a quinta e a sexta geração, procurando sempre passar para os seus filhos suas tradições e muitos de seus costumes para que não se percam no tempo.
A comunidade se modernizou e hoje em dia conta com associações que a representam, sendo AMONAM (Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas), devidamente registrada e homologada nos órgãos competentes, Associação Crioulas do Quilombo de São Benedito e também através da ações Ministério Público Federal do Amazonas, onde recomendou a visita técnica da Fundação Cultural Palmares, principal órgão que que tem a competência de reconhecimento do que é uma legitima comunidade quilombola, isso atraiu inclusive a atenção da imprensa e pesquisadores, onde através das divulgações muitas pessoas tomaram o conhecimento de que no bairro da Praça 14 em Manaus existe uma comunidade quilombola. 
Para os integrantes da comunidade esse é o maior reconhecimento que eles possuem hoje, pois lutaram muito pelos seus direitos que não se limitam apenas de serem vistos como autênticos remanescentes dos quilombolas mais também por vagas nas escolas, por cotas nas universidades, o espaço do negro, a cultura, entre outros.
 A ideia da fundação da associação AMONAM foi com o intuito de lutarem por um espaço na comunidade com a visão de desenvolverem trabalhos de artesanatos diversos e com isso gerar emprego e renda dentro da própria comunidade, utilizando-se de produtos recicláveis com o intuito de preservarem o meio ambiente focando assim a sustentabilidade.
Então essa é a maior valorização o reconhecimento. Acredito que na época que nossos avós, nossos bisavós e tataravós estiveram aqui, eles sonhavam com isso e hoje nós conquistamos em pleno século XXI, isto é uma conquista para a comunidade da Praça 14, o reconhecimento, nós sermos conhecidos em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro como quilombo urbano e essa luta é árdua. Todos os sábados nós estamos aqui reunidos, resgatando essa cultura com o pagode, com uma feijoada ao meio-dia, com o artesanato, com o 20 de novembro para não ser esquecido, então o reconhecimento é o maior presente que a comunidade pode ter hoje, porque hoje em dia nós nos declaramos negros. O negro não é aquela pessoa que precisa ser de cor negra e sim, ela aceitar que é negra e aceitar a árvore genealógica dela, que ela veio de um negro e de uma negra e hoje se realiza como crioula, nós somos a miscigenação dessa geração que veio do século passado, hoje no século XXI estamos realizando o sonho deles. Não esquecer nunca que a vovó Severa chegou com os filhos a nossa matriarca da família há 50 anos que promoveu as festas de São Benedito, a qual o legado foi passado para a Jacimar e hoje o legado está com Jamile Souza. (FONSECA, 2016).
 Para os comunitários isso é muito gratificante ter esse reconhecimento pois são visitados com extrema frequência por funcionários de faculdades, professores e alunos que os procuram com interesse em saber de sua história, cultura e suas atividades diárias, por isso disponibilizaram os dias de sábado como sendo especifico para atender os interessados em saber sobre a comunidade. Os quilombolas da praça 14 fazem questão de agradecer aos professores que enfatizam com que seus alunos conheçam esse lado que existe na história do Amazonas. 
Mesmo com todas as conquistas obtidas até hoje, vale ressaltar que eles continuam a luta por reivindicações junto aos órgãos públicos e almejam como um de seus principais projetos um local para o santo padroeiro da comunidade, querem construir uma capela para São Benedito, porque hoje a imagem de São Benedito fica numa casa, cedida por um morador já falecido Sr. Raimundo José de Ribamar, conhecido como (Zecão). Também gostariam de ter um terreno para a construção da sede de sua associação AMONAM para desenvolverem trabalhos junto à comunidade do quilombo como aulas, resgate da história e reconhecimento com a intenção de passar para os seus descendentes tudo o que aconteceu, para quem sabe, futuramente eles possam contar essas histórias que eu hoje estar contando. 
Para que suas reinvindicações sejam atendidas precisam do apoio de órgãos comoo Ministério Público e do INCRA além de antropólogos que possam ir na comunidade para saber se realmente o local que eles reivindicam faz parte da comunidade, pois para esse quilombo foi doado um montante de terras, que eles são portadores do título definitivo diante da União, porém não tem o conhecimento especifico do tamanho em aspecto dessas terras, por isso precisam da ajuda de um antropólogo para poder ver se na medição o espaço que possuem está dentro desse território que foi doado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Esse trabalho apresentou um breve estudo sobre o processo de implantação da escravidão no Brasil, desde os índios até a chegada dos negros africanos que eram capturados e trazidos para cá como escravos, com o objetivo de trabalharem nos engenhos de cana de açúcar, nos cafezais, fazendas e serviços domésticos.
Também mostramos que além de trabalharem muito, ainda sofriam com castigos perversos e por não mais aceitarem essa forma de vida fugiam e se escondia nos locais que ficaram conhecidos como quilombos, surgindo assim as comunidades quilombolas. 
Para concluirmos relatamos um pouco da história dos quilombolas do barranco que fica no bairro da Praça 14 em Manaus, descrevemos sobre suas lutas e também suas conquistas, como o devido reconhecimento pelo os órgãos competentes que ali naquele local situa-se uma verdadeira comunidade remanescente dos quilombolas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Uma história do povo Kalunga - MEC; SEF, Brasília, DF: Brasília 2001.
_____. Presidência da República. Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais. Guia de Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas. Programa Brasil Quilombola. Brasília, DF: Brasília, 2013.
 
_____. Fundação Cultural Palmares. Disponível em: <http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/COMUNIDADES-CERTIFICADAS.pdf> acesso em 01 de nov. 2016
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e geral – 2. São Paulo, SP: Saraiva, 2013.
FONSECA, Keilah Maria da Silva. Presidente da Associação Crioulas do Quilombo de São Benedito (entrevista concedida nos dias 01 de outubro e 24 de novembro de 2016)
GOMES, Flávio dos Santos. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. 1ͣ ed. (Coleção Agenda brasileira). São Paulo, SP: Claro Enigma, 2015. 
HIPÓIDE, Márcia Cristina. História, geografia, arte e cultura 4º e 5º anos. 1º Ed. São Paulo, SP: IBEP, 2014. (Tempo de aprender região norte).

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