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• Prof. Dr. Juarez Cirino dos Santos Mestre em Ciências Jurídicas (PUC/RJ) Doutor em Direito Penal (UFRJ) Pós-doutorado no Institut für Rechts- und Sozialphilosophie CU niversidade do Saarland, Alemanha) A Criminologia Radical ICPC LUMEN JURIS 2008 copyright <i,d 200~ b,. ICPC Editora Ltda. c Uvraria e Editora LumenJuris Ltda. Todos os direitos rcscn-ados às editOras ICPC Editora Ltda. e Linaria e Editora LumenJL1ris Ltda . .A reprodução total ou parcial dc~[a obra, por qualquer meio ou processo. sem a autorização prévi1 das Editoras, constitui crune. ICPC Editora Ltda. Diretor Juarez Cirino dos Santos \Vww.cmno.com.br icpc@cirino.com.br Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. Editores João de Almeida João Luiz da Silva Almeida \\i'\\lw.lwnenjuris.com.br Rio de Janeiro - R. da Assembléia, 36/201-204 CEP 20011-000 - (21) 2232-1859/2232-1886 Curitiba - Av. Cãndido de Abreu, 651/1° andar - CEP 80530-907 - Tclefax: (41) 3352-8290 Brasília - SCLN - Q. 406 - Bloco B - s/s 4 e 8 Asa Norte - CEP 70847-500 (61) 3340-9550/3340-0926/3225-8569 - Fax (61) 3340-2748 São Paulo - R. Camerino, 95/2 - Barra Funda - CEP 01153-030 - (11) 3664-8578 Rio G. do Sul - R. Capo J. de Oliveira Lima, 160 - Santo Antonio da Patrulha - Pitangueiras CEP 95500-000 - (51) 3662-7147 Capa: Rodrigo Michel Ferreira Projeto Gráfico: Kellen Susana Zamarian s+=c00460'5~ Santos, Juarez Cirino dos t\ criminologia radical/Juarez Cirino dos Santos. - 3. ed. - Curitiba: ICPC : Lwnen Juris, 2008. 139p. ; 21cm. ISBN 978-85-375-0183-2 Bibliografia: p. 131-136. 1. Crime. 2. Criminalidade. 3. Controle Social. I. Título CDD (21' ed.) 364 Dados internacionais de catalogação na publicação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Tei.xeÍra .... O t\l.... !........ It'l Is G1 \1O..r!O '"O~..r, o -' \1C "-O- .. Z ~ ~910 ã: i~IO 5 o:.., . N -<~o UJ 8 ~.gz ~ 'Z~ 1S ~UJo za5 ~ tlg~ OI- 5:2Gl ~ f.o'0- '" -< ti""O ~ o~~ ~ f~ 8lt :l ;:: t;~.;-< i!'r i.~ Dedico este trabalho aosprifessores João Mestieri e Heleno' Fragoso (in memon'am) w Nota do Autor para a 3a Edição Este pequeno livro - talvez um clássico da crimino- logia brasileira - mantém plena atualidade científica e ampla utilidade pedagógica. Entre outras coisas, parece cumprir a tarefa didática de apresentar aos estudantes e profissionais da Justiça Criminal as premissas ideológicas, os objetivos políticos e os fundamentos científicos da moderna Crimi- nologia Crítica. Esse papel é a explicação mais razoável para o rápido esgotamento da 2a edição do livro, publicada em 2006. A 3a edição de A Criminologia Radical surge sem alterações de conteúdo ou de forma, exceto uma ou outra correção pontual no texto. A idéia é preservar a originali- dade teórica e metodológica de um trabalho acadêmico pro- duzido no nascedouro de uma revolução do pensamento científico sobre crime e controle social nas sociedades contemporâneas. • Curitiba, janeiro de 2008 Juarez Cirino dos Santos v PREFÁCIO Este livro foi escrito na época da ditadura militar no Brasil - entre 1979 e 1981 -, apresentado como tese para obtenção do título de doutorem Direito Penal na Faculdade de Direito da UFRJ, defendido e aprovado com a nota máxima por uma banca examinadora constituída pelos professores Helena Fragoso, Roberto Lyra Filho, Celso de Albuquerque Mello, Celso César Papaléo e João Mestieri (orientador) - mestres que dignificaram a vida acadêmica, científica e intelectual do País naqueles tempos sombrios. Na época, os partidos políticos estavam amorda- çados, os sindicatos reprimidos, a imprensa censurada, a universidade e os intelectuais acuados - mas a resistência democrática crescia em todos os segmentos da sociedade civil e política brasileira. Os centros de produção científica e cultural do País foram invadidos pela ideologia de lei e ordem do AI-5, mas não foram dominados: na PUC/RJ, o movimento docente da ADPUC e dos estudantes nos Centros Acadêmicos era vigoroso; na Cândido Mendes/ Ipanema nunca houve censura política de professores; na Faculdade de Direito da UFRJ, a luta histórica do CACO (Centro Acadêmico Cândido de Oliveira) abria espaço para defesa de teses marxistas como A Criminologia &dical, por exemplo. Vil • i\ idéia do livro surgiu ao escrever a dissertação de mestrado na PUC/RJ, publicada como A Criminologia da Repressão (Forense, 1979), que descrevia a criminologia po- sitivista dominante na academia e no sistema de controle social. O estudo crítico dessa criminologia conservadora permitiu descobrir textos e autores pouco conhecidos no meio universitário brasileiro, com conceitos revolucionários sobre crime e controle social, como Punishment and social structure de Rusche e Kirchheimer (1939), The New Crimi- nology de Taylor, Walton e Young (1973) e Vzgiar e Punir de Foucault (1977), espécie de linha defrente de um movimento universal de criminologia crítica composto por cientistas, filó- sofos e militantes políticos de vanguarda, como Alessandro Baratta na Alemanha, Dario Melossi e Massimo Pavarini na Itália, Tony Platt, William Chambliss e os Schwendingers nos Estados Unidos, LaIa Aniyar de Castro e Rosa del Olmo na América Latina, para citar apenas alguns. Então, porque não apresentar ao público brasileiro os fundamen- tos científicos e os objetivos políticos dessa criminologia de raízes que pretendia "seconstitui?; não como outra 'criminologiada repressão: mas como a única Criminologia da Libertação)) - como a denominamos originalmente - e precisamente nesses tempos de caça às bruxas? O percurso intelectual de elaboração do livro teve momentos inesquecíveis: a tradução (com Sérgio Tan- credo) de Criticai Criminology, de Taylor, Walton e Young (Criminologia Crítica, Graal, 1980); as discussões jurídicas e políticas no Instituto de Ciências Penais do Rio de Janeiro, sob a presidência de Helena Fragoso, a liderança de Nilo Batista e um time de encher os olhos: João Mestieri, Au- viii gusto Thompson, Heitor Costa] únior, Cláudio Ramos, Juarez Tavares, Sérgio Verani, Técio Lins e Silva, Arthur Lavigne, Luiz Fernando Freitas Santos, Yolanda Carão, Eli- sabeth Sussekind e outros mais; o e?sino de Direito Penal e Criminologia na graduação em Direito da PUC/R] e da Cândido Mendes-Ipanema, de 1976 a 1981; e a romântica militância política no MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) de Lamarca e Marighela, então já assassinados pela ditadura militar. Escrever A Criminologia Radical foi uma experiência pessoal emocionante, espécie de êxtase psíquico renovado a cada descoberta intelectual. E a reação do público foi espetacular: profissionais conservadores estigmatizaram o livro, mas criminólogos progressistas encontraram nele a verdadeira criminologia; alguns professores diziam ensinar criminologia radical- e não simplesmente criminologia _, entre- gando aos alunos fotocópias do livro, esgotado nas livrarias; o livro foi objeto de seminários organizados por professores e de grupos de estudo formados por estudantes de Direito. Ainda hoje - vinte cinco anos depois da 1a edição _, em conferências e debates pelo País, encontro profissionais do Direito e estudantes com um velho exemplar do livro na mão, para um autógrafo. Em suma, aconteceu com o livro o que acontece com a ciência social erigida sobre a luta de classes: ou é aceita ou é rejeitada, não há meio-termo. O livro não foi republicado por causa de um projeto - aliás, sempre adiado - de fundir A Cnominologia Radical com A CriminologiOada Repressão eAs Raízes do Crime, em um Curso de Criminologia para os estudantes brasileiros. Mas o argumento de que A Criminologia Radical seria um clássico IX na literatura criminológica brasileira, devendo ser republi- cado sem mudanças - independente daquele projeto -, foi convincente. E aí está a 2a ,ediçào do livro, comalgumas alterações de forma para facihtar a leitura, mas sem nenhuma mudança de conteúdo para preservar a originalidade - até para mostrar que certas teorias pretensamente novas já completaram a maioridade no Brasil. Hoje, com o Estado Democrático de Direito e o novo quadro político-institucional do País, as teses do livro con- tinuam atuais - e podem contribuir para a formulação de políticas criminais democráticas e humanistas, opostas ao' boom repressivo e intolerante das políticas penais próprias do período de globalização da economia capitalista, ainda e sempre sob a égide do capital financeiro internacional. Curitiba, janeiro de 2006. Prof. Dr. Juarez Cirino dos Santos Professor Adjunto da Faculdade de Direito da UFPR x SUMÁRIO I. INTRODUçAo 1 11. A CIUMINOLOGIt\ ~\DICAL. 35 IH. A CIUMINOLOGIA RADICAL E o CONCEITO DE CIUME 49 IV A CRIMINOLOGIA RADICAL E A POLÍTICA DO CONTROLE SOCIAL. .........................................................•.. 61 V A CRIMINOLOGIA RADICAL E A FORMA LEGAL DO CONTROLE SOCIAL 87 VI. A CRIMINOLOGIA RADICAL E ALTERNATIVASDO CONTROLE SOCIAL. l11 VII. CONCLUSÕES 125 BIBLIOGRAFIA 133 xi • I. INTRODUÇÃO o desenvolvimento de teorias radicais sobre crime, desvio e controle social está ligado às lutas ideológicas e políticas das sociedades ocidentais, na era da reorganização monopolista de suas economias. Esse movimento teórico pode ser explicado, nas suas formas básicas, pelas transfor- mações econômicas e políticas, nacionais e internacionais, do período da planetarização das relações de produção e de comercialização de bens, da divisão internacional do traba- lho e da polarização universal entre países desenvolvidos e hegemônicos e povos subdesenvolvidos e dependentes. O estudo das teorias radicais sobre crime e controle social deve, portanto, fixar as linhas teóricas e metodoló- gicas comuns aos movimentos e tendências críticas em Criminologia e indicar os vínculos' desses movimentos e tendências com as estruturas econômicas e políticas e as relações de poder e de dominação das sociedades capitalis- tas.A construção intelectual das coordenadas científicas das teorias radicais exige, além do exame de produções teóricas particulares representati"as desse movimento e tendências, o uso de categorias capazes 'de captar as transformações históricas e as lutas sociais, políticas e ideológicas que, simultaneamente, produzem e explicam a Criminologia Radical. A Cn>JJillologia Radical A Criminologia Radical surge como crítica radical da teoria criminológica tradicional, assim como - guardadas as devidas proporções - o marxismo surgiu de uma crítica radical da economia política 'Clássica:ambas as construções assumem na prática e desenvolvem na teoria um ponto de vista de classe (a classe trabalhadora), em cujo centro se encontra o proletariado. Mas enquanto o marxismo é a estruturação de conceitos radicalmente !-l0vos sobre as forças e a direção do movimento histórico, a Criminologia Radical se edifica com base no método e nas categorias científicas do marxismo, desenvolvendo e especializando conceitos na área do crime e do controle social, mediante a crítica da ideologia dominante, como exposta e reproduzida pelas teorias tradicionais do controle social: as teorias clás- sicas e positivistas, e algumas variantes da fenomenologia moderna. 1. As Teorias Tradicionais Após a Segunda Guerra, nos países industrializados do Ocidente se desenvolve uma criminologia concentrada no estudo de causas ambientais, preocupada com privações materiais, lares desfeitos, áreas desorganizadas e pobres etc., abandonando as teorias genéticas e psicológicas, e outras teorias conservadoras sobre a "perversidade humana" na explicação da etiologia do crime. Essa orientação teóric(1, conhecida como criminologia fabiana por causa de sua tendência ao compromisso, trabalhava com dois grupos de fatores básicos: a subsocialização (insuficiente assimilação de valores culturais por deficiências de educação) e a corrupção 2 ,. '. In/Toe/uçâo indiz)idZfa/ (assimilação deformada dos valores culturais). A punição, como medida anticriminal oficial, justificava-se naturalmente como correção ressocializadora e oportuni- dade para arrependimento (Taylor, Walton e Young, 1980, p. 10-11). A posição de compromisso do enfoque repre- senta uma composição entre tendências conservadoras (teorias clássicas e positivistas biológicas) e liberais (teorias positivistas sociológicas e as fenomenologias do crime) da criminologia dominante. As teorias conservadoras caracterizam-se pela descrição da organização social: a ordem estabelecida (status quo) é o parâmetro para o estudo do comportamento criminoso ou desviante e, por isso, a base das medidas de repressão e correção do crime e desvio. A ideologia das teorias conser- vadoras é essencialmente repressiva: fundada na hierarquia e na dominação, como bases da lei e da ordem, tem um significado prático de legitimação da ordem social desigual (Taylor et alii, 1980, p. 22-23). As teorias liberais se caracterizam pela prescrição de riformas, concentrando-se em pesquisas sociológicas para sugerir mudanças institucionais (descriminalização, tratamento penitenciário etc.) e sociais (habitação, assis- tência etc.) como meios de prevenção do comportamento anti-social. A ideologia liberal separa a atividade teórica do cientista, limitado a sugerir ou aconselhar, e a prática política do administrador, o homem de decisão atento às necessidades concretas: o assessoramento do administrador por cientistas e técnicos, incumbidos do trabalho abstrato, exprimiria a subordinação da ciência aos imperativos polí- ticos. A maioria da criminologia atual, especialmente em 3 • i .J Foxit Underline A Criminologia Radical surge como crítica radical danullnullteoria criminológica tradicional, assim como - guardadasnullnullas devidas proporções - o marxismo surgiu de uma críticanullnullradical da economia política 'Clássica Foxit Underline CriminologianullnullRadical se edifica com base no método e nas categoriasnullnullcientíficas do marxismo, Foxit Underline Após a Segunda Guerra, Foxit Underline a Foxit Underline usas ambientais, preocupada com privaçõesnullnullmateriais, lares desfeitos, áreas desorganizadas e pobres etc Foxit Underline bandonando as teorias genéticas e psicológicas Foxit Underline riminologia fabiana Foxit Underline dois grupos denullnullfatores básicos: Foxit Underline bsocialização (insuficiente assimilação denullnullvalores culturais por deficiências de educação) Foxit Underline corrupção Foxit Underline ndiz)idZfa/ (assimilação deformada dos valores culturai Foxit Underline ( Foxit Highlight punição, como medida anticriminal oficial, justificava-senullnullnaturalmente como correção ressocializadora e oportuni Foxit Highlight omposição entre tendências conservadorasnullnull(teorias clássicas e positivistas biológicas) e liberais (teoriasnullnullpositivistas sociológicas e as fenomenologias do crime) danullnullcriminologia dominante.null Foxit Highlight As teorias conservadoras caracterizam-se pela descriçãonullnullda organização social: a ordem estabelecida (status quo) énullnullo parâmetro para o estudo do comportamento criminosonullnullou desviante e, por isso, a base das medidas de repressão enullnullcorreção do crime e desvio. Foxit Highlight e Foxit Highlight encialmente repressiva: fundada na hierarquianullnulle na dominação, como bases da lei e da ordem, tem umnullnullsignificado prático de legitimação da ordem social desigual Foxit Highlight As teorias liberais se caracterizam pela prescriçãonullnullde riformas, concentrando-se em pesquisas sociológicasnullnullpara sugerir mudanças institucionais (descriminalização,nullnulltratamento penitenciário etc.) e sociais (habitação, assis Foxit UnderlineA ideologia liberal separa a atividade teóricanullnulldo cientista, limitado a sugerir ou aconselhar, e a práticanullnullpolítica do administrador, o homem de decisão atento àsnullnullnecessidades concretas Foxit Highlight ubordinação da ciência aos imperativos polí-nullnullticos. Foxit Underline A maioria da criminologia atual, especialmente em Il"..,I I ! I In trodtl(t1o-------------'--------~--'_._--------,--_ .._--------.-_. etc.) e sociológicas (patologia social, desorganização social e comportamento desviante). ---- ..-._------------------ instituições ligadas à realidade oficial, concentrada em pes- quisas sobre reincidência, métodos de prevenção, regimes penitenciários etc., segue o esquema liberal (Taylor et a/li", 1980, p. 23-25). A Criminologia F..Lldical Mas a conexão ideológica entre conservadores e libe- rais para formação de uma mmin%gia correciona/ista está na noção comum de que a maioria do comportamento social é cOnt'enciona!,ou seja, ajustado aos parâmetros normativos, enquanto o comportamento não-convenciona!, constituído pelo crime e desvio, seria a minoria do comportamento social. O enfoque comum de conservadores e liberais não questiona a estrutura social, ou suas instituições jurídicas e políticas (expressivas de consenso geral), mas se dirige para o estudo da minoria criminosa, elaborando etiologias do crime fundadas em patologia individual, em traumas e privações da vida passada, em condicionamentos deformadores do sistema nervoso autônomo, em anomalias na estrutura genética ou cromossômica individual etc., em relação com as circunstâncias presentes, cuja recorrência produz tendências fixadas, psicológicas, fisiológicas ou outras. No estudo dessa etiologia (e suas relações), o criminólogo realizaria uma tarefa neutra, independente de interesses pessoais e do sistema de reação contra o crime, com seus condicionamentos políticos e ideológicos (Young,1980,p. 75). Mas não se trata de estudar em detalhes, neste texto, as te- orias conservadoras e liberais, objeto específico de estudo em A Criminologia da Repressão (Cirino, 1979), cam ampla análise de seus postulados ideológicos e estruturas teóricas, dentro do seguinte esquema: a) teorias clássicas; b) teorias positivistas biológicas (genéticas, psicológicas, psiquiátricas 4 2. A Formação das Teorias Radicais em Criminologia Sem desmerecer contribuições anteriores, geralmente incompletas e limitadas, ou com distorções reformistas ou formalistas, um dos primeiros estudos sistemáticos do desenvolvimento da teoria criminológica sob um método dialético, aplicando categorias do materialismo histórico, é o trabalho coletivo The New Cnminology (Taylor, Walton e Young, 1973). O texto apresenta uma crítica interna das teorias do crime, desvio e controle social, desde as con- cepções clássicas, passando pelos positivismos biológicos e sociológicos, as contribuições fenomenológicas e intera- ciorustas e, finalmente, as teorias conflituais, destacando, nas conclusões, os estágios analíticos da criaçãoe da aplicação da norma criminal: as origens do comportamento desviante (estruturais e imediatas), o comportamento desviante con- creto e as origens da reação social (imediatas e estruturais). Esse texto acelerou a formação da Criminologia Radical, ao exprimir a revolta de teóricos críticos (Laurie Taylor, Stan Cohen, Mary McIntosh, Ian Taylor, Paul Walton, Jock Young etc.) contra o pragmatismo puritano e correcio- nalista da criminologia convenci~:md, em Cambridge, 1968, formando a própria conferência:a National Deviancy Con- ference (Mintz, 1974, p. 33). Esse encontro, realizado em York, no ano de 1968, com mais de 400 participantes, marca uma ruptura coletiva e coordenada com a criminologia tra- • 5 Foxit Underline nstituições ligadas à realidade oficial, concentrada em pes Foxit Highlight conexão ideológica entre conservadores e libe Foxit Underline noção comum de que a maioria do comportamento socialnullnullé cOnt'enciona!,ou seja, ajustado aos parâmetros normativos,nullnullenquanto o comportamento não-convenciona!, constituídonullnullpelo crime e desvio, seria a minoria do comportamentonullnullsocial Foxit Highlight O enfoque comum de conservadores e liberais nãonullnullquestiona a estrutura social, ou suas instituições jurídicas enullnullpolíticas (expressivas de consenso geral), mas se dirige paranullnullo estudo da minoria criminosa, elaborando etiologias do crimenullnullfundadas em patologia individual, em traumas e privaçõesnullnullda vida passada, em condicionamentos deformadores donullnullsistema nervoso autônomo, em anomalias na estruturanullnullgenética ou cromossômica individual etc. Foxit Underline ) teorias clássica Foxit Underline b) teoria Foxit Underline positivistas biológica Foxit Underline sociológica Foxit Squiggly The New Cnminology 111/rodJlçeio ---------"-"-----"--------------_. __ ._._----~-~-A Cn"mil1o!ogia N/dica! dicional, conservadora e liberal, com a superação de suas elaborações mais sofisticadas, como a teoria da rotulação, por exemplo, definida co~o "criminologia cética". O livro de Taylor,Walton e Young, com o título irôni- co de "A nova criminologia", trata de uma velha criminologia: sua crítica pretende, remotamente, o desenvolvimento de uma criminologia marxista, colocando as questões do crime e do controle social em perspectiva histórica e reconhecen- do a urgência de uma economia política do crime, alternativa à criminologia micro-sociológica, conflitual ou interacionista (Mintz, 1974, p. 33-39). Criminólogos radicais criticaram o estilo tradicional do trabalho, definindo-o como "história das idéias criminológicas" não situadas nas condições reais de seu desenvolvimento, espécie de "crítica da crítica" etc. (del Olmo, 1976, p.64). Em autocrítica posterior os autores reformularam as tendências formalistas e o estilo idealista do livro (Taylor et alii, 1980), afirmando a necessidade de redefinir a problemática do crime e do controle social como fenômenos inteiramente inseridos no processo social, ligados à base material e à estrutura legal do capitalismo contemporâneo: a economia política - ou melhor, a es- trutura econômica em que se articulam as relações sociais no capitalismo - surge como o determinante primário da formação social, formalizado nas superestruturas jurídicas e políticas do Estado. Mas o acontecimento crucial da formação da Crimi- nologia Radical é a criação do Grupo Europeu para o Estudo do Desvio e do Controle Social, em Florença, Itália, em 1972, com a publicação de um Manifesto (reeditado em 1974), denuncian- do os modos dominantes de análise do crime - produto de 6 defeitos psicológicos ou de personalidades anormais - e do controle social, avaliado em termos de efetividade e eficiência e, portanto, como variantes do positivismo, concentrados em estatísticas criminais. A importância do evento residiu no estabelecimento de uma base ideológica e científica para um trabalho teórico coletivo e organizado, cuja proposta geral compreendia a crítica radical da teoria criminológica e social dominante, a participação em movimentos políticos de libertação de minorias oprimidas e no trabalho de massa, a organização e coordenação das lutas de presos etc. - em suma, um programa teórico e prático no contexto das re- lações entre os sistemas de controle social e a estrutura de classes do modo de produção capitalista (Manifesto, 1974). A tarefa de esclarecer a relação crime/formação econômico-social leva à inserção do fenômeno criminoso na e.ifera deprodução (e não apenas na e.ifera de circulação): as relações deprodução e as questões de poder econômico epolítico passam a constituir os conceitos fundamentais da Criminologia Radical (del Olmo, 1976, p. 64). Reuniões sucessivas definem alguns postulados teóricos e metodológicos do questionamento radical: a crítica da ideologia conservadorae liberal (concei- to de delinqüente como anormal ou patológico, necessitado de tratamento ou de reabilitação), se baseia na concepção materialista da história, que estuda o crime e os sistemas de controle do crime como fenômenos enraizados nas contradi- ções de classe de formações econômico-sociais particulares, estruturadas pelo modo de produção dominante. A ligação da teoria criminológica com a teoria do Estado, através da ciência da história, permite identificar o desenvolvimento das instituições de controle social com a história superes- Foxit Underline o desenvolvimento denullnulluma criminologia marxista, colocando as questões do crimenullnulle do controle social em perspectiva histórica e reconhecen Foxit Underline necessidade denullnullredefinir a problemática do crime e do controle socialnullnullcomo fenômenos inteiramente inseridos no processo social,nullnullligados à base material e à estrutura legal do capitalismonullnullcontemporâneo: Foxit Squiggly rupo Europeu para o Estudo donullnullDesvio e do Controle Social, e Foxit Squiggly Manifesto Foxit Highlight A tarefa de esclarecer a relação crime/formação econômico-socialnullnullleva à inserção do fenômeno criminoso na e.ifera deproduçãonullnull(e não apenas na e.ifera de circulação): as relações de produção enullnullas questões de poder econômico epolítico passam a constituirnullnullos conceitos fundamentais da Criminologia Radical (delnullnullOlmo, 1976, p. 64) Foxit Highlight rítica da ideologia conservadora eliberal (concei :. • A Crimino!o,gia Radica! trutural da dominação do capital, bem como relacionar os fenômenos do crime com a história da sobrevivência do trabalho assalariado, em condições de exploração e de miséria, na contextura de classes das sociedades capitalistas (deI Olmo, 1976, p. 66-67). A hipótese de que deSigualdades econômicas e po- líticas entre as classes sociais são determinantes primários do crime revigora teses radicais sobre sociedades livres de crimes - ou livres da necessidade de criminalizar para so- breviver - e orienta o esforço coletivo para a elaboração de uma teoria criminológica comprometida com a construção do socialismo: a libertação do potencial de desenvolvimento humano pela libertação da luta de sobrevivência material de comer, consumir etc. Na linha dessa proposição, teoria e pesquisa criminológica constituem uma praxis social, em que uma precisa concepção da utilidade do conhecimento como instrumento de libertação encoraja e promove as transformações indicadas por seus preceitos. Admitindo a centralidade da classe trabalhadora como força política capaz de edificar o socialismo, a Criminologia fuldical rea- valia o significado e destaca a importância crescente das minorias oprimidas pela condição de classe (a população das prisões), de raça (negros, índios etc.), de sexo ou de idade para a execução daquele projeto político (Taylor et a/il, p. 25-32). Na época do capitalismo monopolista, em que menos de um terço da força de trabalho potencial está integrada nos processos produtivos, e mais de dois terços dessa força de trabalho se encontra em situação de marginalização forçada do mercado de trabalho, como 8 lnlrodlfcào -----~--_ .._-----_.__ ._._~. __ ._---------_ .._--,--_._--------~-~---- mão-de-obra ociosa controlada diretamente pela prisão, nas suas conexões com a polícia e a justiça criminal, parece sem sentido considerar o preso como /umpenproletariado, sem consciência ou organização política e sem papel na luta de classes: a população carcerária é extraída da classe trabalhadora, engajada nas lutas sindicais por direitos tra- balhistas e leva para a prisão a experiência na organização de movimentos de reivindicações (a luta pela observância das regras mínimas, pela preservação dos direitos não afe- tados pela privação da liberdade etc.) e de protestos contra violências na prisão, contra a exploração do trabalho do preso etc., elevando o nível de consciência e de organização da população reprimida (Mintz, 1974, p. 50-53). Na Europa e nos EUA, a partir da década de 60, as teorias radicais germinam nas lutas políticas por direitos civis, no caso dos ativistas negros americanos, nos movi- mentos contra a guerra, generalizados durante o genocídio do Vietnã, no movimento estudantil, em 1968, nas revoltas em prisões e nas lutas de libertação anti-imperialistas dos povos e nações do Terceiro Mundo. Esse vínculo prático de criminólogos radicais com as lutas políticas e movimen- tos sociais da segunda metade do século desenvolve-se, progressivamente, em uma crítica vertical à criminologia convencional-liberal que hegemoniza ,ateoria e a pesquisa sobre crime, desvio e controle social, com a literatura mais influente, técnicos e consultbres governamentais, o pre- . domínio em comissões para o estudo do comportamento anti-social e a elaboração de programas de prevenção, geral e especial (platt, 1980, p. 113-14). 9 Foxit Highlight orienta o esforço coletivo para a elaboração denullnulluma teoria criminológica comprometida com a construçãonullnulldo socialismo: a libertação do potencial de desenvolvimentonullnullhumano pela libertação da luta de sobrevivência materialnullnullde comer, consumir e Foxit Highlight teorianullnulle pesquisa criminológica constituem uma praxis social Foxit Highlight precisa concepção da utilidade do conhecimentonullnullcomo instrumento de libertação encoraja e promove asnullnulltransformações indicadas por seus preceitos Foxit Underline parecenullnullsem sentido considerar o preso como /umpenproletariado,nullnullsem consciência ou organização política e sem papel nanullnullluta de classes: a população carcerária é extraída da classenullnulltrabalhadora, engajada nas lutas sindicais por direitos tra [n trodll(c1o ._--------_.~"-----_._._,. __ . --_._ .....•.. __ ._-_.-_ ..__ ....-. - .-.,".' --,._,---~ -" -----~.._---_ .._--_._-_._-------------------_. __ ...._---_ .._ ..A Criminologia RL,diml A hegemonia conservadora e liberal em teoria e pesquisa criminológica não se explica por convergências teóricas ou metodológicas, pois são muitas as clivergências internas entre sociólogos positivistas, teóricos do conflito ou do labeling opproac'h etc., mas pelo significado ideológico comum de seus postulados fundamentais (platt, 1980). O processo de formação e estruturação da Criminologia Ra- dical é inseparável da crítica aos componentes ideológicos fundamentais da criminologia dominante, na medida em que constitui seu próprio perfil ideológico e científico por diferenciação e oposição àquela. A gênese crítica da Crimino- logia Raclicalcomeça nas questões conexas do conceito de crime e das estatísticas criminais, deslindando as implicações políticas e as premissas ideológicas que fundamentam as teorias criminológicas traclicionais e informam as ciências sociais, em geral, nas sociedades de classes, e prossegue nos aspectos superestruturais feticruzados das relações de produção, sob a teoria da inseparabilidade das lutas sociais contra a exploração econômica, no contexto das relações de produção, e contra a dominação política, no contexto das relações de poder, em que a prisão se caracteriza como a forma específica do poder burguês, "diretamente determina- da pelo modo de produção capitalista" (Fine, 1980, p. 26). 3. A Crítica às Teorias Tradicionais O ponto de partida da criminologia dominante é o conceito de crime: comportamentos definidos legalmente como crimes e/ ou sancionados pelo sistema de justiça cri- minal como criminosos são a base epistemológica dessa 10 criminologia (Lyra Filho, 1980, p. 10). Crime é o que a lei, ou a justiça criminal, determina como crime, excluindo com- portamentos não definidos legalmente como crimes, por mais danosos que sejam (o imperialismo, a exploração do trabalho, o racismo, o genocídio etc.), ou comportamentos que, apesar de definidos comocrimes, não são processados nem reprimidos pela justiça criminal, como a criminalidade de "colarinho branco" (fixação monopolista de preços, evasão de impostos, corrupção governamental, poluição do meio ambiente, fraudes ao consumidor, e todas as formas de abuso de poder econômico e político, que não aparecem nas estatísticas criminais). A questão aparentemente neutra e incontroversa da definição legal de crime - ou da atuação da justiça criminal, indicada nas estatísticas criminais -, como base do trabalho teórico da criminologia tradicional, manifesta um conteúdo ideológico nítido, que concliciona e deforma toda a teoria e pesquisa, reduzida à descoberta das causas do comportamento criminoso (Chambliss, 1980; Lyra Filho, 1980). A clistorção ideológica da criminologia tradicional não se reduz ao que está excluído da definição legal, ou da sanção da justiça criminal, mas resulta diretamente do que está incluído nas definições legais ou nas sanções da justiça criminal, como inclicado nas estatísticas e registros oficiais sobre o comportamento criminoso, a base permanente daquela criminologia. Um simples exame empírico (Fra- goso, Catão e Sussekind, 1980) mostra a natureza classista da definição legal de crime e da atividade dos aparelhos de controle e repressão social, como a polícia, a justiça e a prisão, concentradas sobre os pobres, os membros das 11 • I ••••• Foxit Underline Onullnullprocesso de formação e estruturação da Criminologia Ra Foxit Highlight ponto de partida da criminologia dominante énullnullo conceito de crime: comportamentos definidos legalmentenullnullcomo crimes e/ ou sancionados pelo sistema de justiça cri Foxit Highlight Crime é o que a lei,nullnullou a justiçacriminal, determina como crime,excluindo com Foxit Highlight ou comportamentosnullnullque, apesar de definidos como crimes, não são processadosnullnullnem reprimidos pela justiça criminal, como a criminalidadenullnullde "colarinho branco" ( Foxit Highlight manifesta um conteúdo ideológico nítido Foxit Highlight A questão aparentemente neutranullnulle incontroversa da definição legal de crime - ou da atuaçãonullnullda justiça criminal, indicada nas estatísticas criminais -,nullnullcomo base do trabalho teórico da criminologia tradicional,nullnullmanifesta um conteúdo ideológico nítido, que conclicionanullnulle deforma toda a teoria e pesquisa, reduzida à descobertanullnulldas causas do comportamento criminoso • A Crilllil1%c~itlRadica/ ------------ --------------- ---~-------- classes e categorias sociais marginalizadas e miserabilizadas pelo capitalismo. A situação geral dos países capitalistas pode ser exemplificada por seu modelo mais representati- vo, a sociedade americana (Taylor et alii, 1980, p. 39), cuja população contém 20% de pessoas do Terceiro Mundo, como negros, mexicanos e porto-riquenhos, que consti- tuem 50% da população carcerária; existem mais negros nas prisões do que nas universidades e, enquanto categoriais da população trabalhadora (operários, artífices, operadores etc.) representam 59% da força de trabalho da sociedade, constituem 87,4% da população das prisões. Nas sociedades capitalistas, a indicação das estatísticas é no sentido de que a imensa maioria dos crimes é contra o patrimônio, de que mesmo a violência pessoal está ligada à busca de recursos materiais e o próprio crime patrimonial constitui tentativa normal e consciente dos deserdados sociais para suprir carências econômicas. A insistência de teoncos liberais e conservadores sobre estatísticas, como indicação da extensão do crime na sociedade, ou de que criminosos condenados são a maior aproximação possível da quantidade real de violadores da lei, decorre da explicação da criminalidade por fatores pessoais (biológicos, genéticos, psicológicos etc.) ou sociais (ambiente, família, educação etc.), que seriam responsáveis pela super-representação das classes dominadas e pela sub-representação das classes dominantes nas estatísticas criminais. Mas a confiabilidade das "evidências" (no caso, o dado estatístico) e a validade das teorias da cri~nologia tradicional são destruídas pela relatividade do crime e pelas chamadas cifras negra e dourada da criminalidade: o crime 12 Inlrodll(clo varia conforme o tipo de sociedade e o estágio de desen- volvimento tecnológico, o que significa ausência de crimes naturais e identidade entre crimin0sos e não-criminosos, exceto pela condenação criminal; a cifra negra representa a diferença entre a apadncia (conhecimento oficial) e a realidade (volume total) da criminalidade convencional, constituída por fatos criminosos não identificados, não denunciados ou não investigados (por desinteresse da polícia, nos crimes sem vítima, ou por interesse da polícia, sob pressão do poder econômico e político), além de limitações técnicas e materiais dos órgãos de controle social. Na verdade, a cifra negra afeta toda a criminalidade, desde os crimes sexuais, cujos registros não excedem a taxa de 1% da incidência real, até o homicídio, freqüentemente disfarçado sob rubricas de "desaparecimentos", "suicídios", "acidentes" etc. (Aniyar, 1977, p. 80-83); por outro lado, a cifra dourada representa a criminalidade do "colarinho branco", definida como práti- cas anti-sociais impunes do poder político e econômico (a nível nacional e internacional), em prejuízo da coletividade e dos cidadãos e em proveito das oligarquias econômico- financeiras (Versele, 1980, p. 10 e ss.): os caracteres sociais do sujeito ativo (portador de alto status sócio-econômico) e a modalidade de execução do crime (no exercício de atividades econômico-empresariais ou político-adminis- trativas), conjugados às complexidades legais, às cumplici- dades oficiais e à atuação de tribunais especiais, explicam a imunidade processual e a inexistência de estigmatização dos autores (Aniyar, 1977, p. 92-93). A Criminologia Radical define as estatísticas criminais como produtos da luta de classes nas sociedades capitalistas: 13 Foxit Highlight existem mais negrosnullnullnas prisões do que nas universidades Foxit Underline Mas a confiabilidade das "evidências" (no caso,nullnullo dado estatístico) e a validade das teorias da cri~nologianullnulltradicional são destruídas pela relatividade do crime e pelasnullnullchamadas cifras negra e dourada da criminalidade a) os crimes da classe trabalhadora desorganizada (lttmpenpro- letariado, desempregados crônicos e marginalizados sociais, em geral), integrantes da chamada criminalidade-de-rua, de natureza essencialmente ecbnômica e violenta, são super- representados nas estatísticas criminais, porque apresentam os seguintes caracteres: constituem ameaça generalizada ao conjunto da população, são produzidos pelas camadas mais vulneráveis da sociedade e possuem a maior transparência ou visibilidade, com repercussões e conseqüências mais poderosas na imprensa, na ação da polícia e na atividade do judiciário; b) os crimes da classe trabalhadora organizada) integrada no mercado formal de trabalho (a chamada crimi- nalidade de fábrica, como pequenas apropriações indébitas, furtos e danos), não aparecem nas estatísticas criminais por força da inevitável obstrução dos processos criminais sobre os processos produtivos; c) a criminalidade dapequena burguesia (profissionais liberais, burocratas, administradores etc.), geralmente danosa ao conjunto da sociedade por constituir a dimensão inferior da criminalidade do "colari- nho branco", raramente aparece nas estatísticas criminais; d) a grande criminalidade das classes dominantes (burguesia financeira, industrial e comercial), definida como abuso de poder econômico e político, a típica criminalidade de "co- larinho branco" (especialmente das corporações transna- cionais), produtora do mais intenso dano à vida e à saúde da coletividade, bem como ao patrimônio social e estatal, está excluída das estatísticascriminais: a origem estrutural dessa criminalidade, característica do modo de produção capitalista, e o lugar de classe dos autores, em posição de 14 Introd,,(,io poder econômico e político, explicam essa exclusão (Young, 1979, p.16 e ss.; Cirino, 1980, p. 38-52). Esse quadro geral explicativo da distribuição social da criminalização de condutas, elaborado segundo a po- sição social do autor, orienta a pesquisa da Criwinologia Radical para a base econômica e para as relações de poder da sociedade, excluídas da pesquisa da criminologia tradi- cional: as relações de classes nos processos produtivos da estrutura econômica da sociedade e nas superestruturas de poder político e jurídico do Estado. Assim, a Criminologia Radical descobre o sistema de justiça criminal como prática organizada de classe, mostrando a disjunção concreta entre uma ordem social imaginária, difundida pela ideologia domi- nante através das noções de igualdade legal e de proteção geral, e uma ordem social real, caracterizada pela desigualdade e pela opressão de classe. Essa revelação está na base das formulações teóricas e da prática transformadora da Cri- minologia Radical, em direção a uma sociedade capaz de superar as desigualdades sociais que produzem o fenômeno criminoso (Taylor et alii, 1980, 44-45). Nesse contexto, o significado ideológico da crimi- nologia tradicional aparece na sua proposta de reforma: do criminoso, do sistema de justiça criminal e, mesmo, da sociedade - neste caso, em formulações dentro do modelo de capitalismo corporativo, sob a égide de "administrado- res esclarecidos" e como ajustamentos funcionais para as condições econômicas e políticas existentes. O resultado histórico alcançado pela criminologia correcionaJista é o constante aumento do poder do Estado (capitalista) sobre os trabalhadores, os setores marginalizados do mercado de 15 • !Il!roduçâo--------------_ .._ .._-_._ ..... __ .._----._--.-_. I'.'(' I A Criminologill Radical -----_. ----_._~---------------- ,( :If • trabalho e as rIÚnorias,com ampliação da rede de controles, como o "sursis", o livramento condicional, a justiça juvenil, os reformatórios, as prisões abertas etc., cujos manifestos e inegáveis benefícios pessoais abrigam um aspecto con- traditório, que significa controle mais geral e dominação mais intensa (platt, 1980, p. 116). Esse pragmatismo re- formista, fundado em técnicas de comportamentalismo e de engenharia social, nos limites da organização política e jurídica do Estado, resolve-se em repressão pura e simples: volta as costas para os movimentos de massas, não coloca as alternativas de cooperação/competição, ou de valores humanos/valores da propriedade, nem considera a pers- pectiva histórica de eliminar a exploração do tra~alh~, a opressão política de classes, de ra?as e d~ outras ~no~las. Na verdade, a posição básica da Ideologia correClonalista manifesta-se como um paternalismo despótico: homens iluminados (políticos, administradores e cientistas) são as forças motoras da história, e o povo ignorante é, apenas, objeto e massa de manobra, sem poder nem consciência (platt, 1980, p. 117-22). Por outro lado, a própria tradição acadêmica em teoria política, econômica e social descreve a história dos grupos dominantes como registrada por líderes políticos, empresários etc. e, na área do sistema de justiça criminal, como registrada por juízes, diretores de prisão e delegados de polícia. A pesquisa crirIÚnológica, dependente de financiamentos e vinculada a interesses :nstitucionais, transforma o criminólogo, freqüentemente, em técnico neutro e pronto-para-aluguel, um instrumento voluntariamente subserviente, a serviço do controle em qualquer ordem - de grande importância em períodos de re- belião política, de incremento das reivindicações operárias 16 I I I, /i li I,.~:,t sobre salários, condições de trabalho, direitos democráticos e o mais (platt, 1980, p. 117- 119). A distorção ideológica da criminologia correClO- nalista pode ser destacada no contexto das alternativas do trabalhador na sociedade capitalista, indicadas por Engels: ou conformar-se à brutalização, transformando-se num homem sem vontade, destruído pela rotina, a monotonia e a exaustão física e mental dos processos produtivos; ou aceitar a ideologia dominante, aderindo aos valores da competição para encontrar uma "saída pessoal"; ou furtar a propriedade do rico para satisfazer necessidades básicas, com os riscos da criminalização; ou, finalmente, fazer a revolução, incorporando-se à atividade política e à ação coletiva como alternativa para superar a opressão social e a exploração pessoal, restaurando a humanidade perdida e a esperança de liberdade real (Young, 1980, p. 94-94). Esse quadro real é encoberto pela "indignação moral" promovida pela ação oficial e os meios de comunicação de massa contra o criminoso convencional, o "bode ex- piatório" útil para esconder (e justificar) problemas sociais reais - ao contrário do criminoso de "colarinho branco", protegido pelas instituições de privacidade da sociedade burguesa -, produzidos (como o próprio criminoso) pelas desigualdades intrínsecas do sistema de relações sociais (Young, 1980, p. 101). 4. Tendências Críticas e Radicais Na década de 60, especialmente nos EUA, desenvol- ve-se uma criminologia de percepções e atitudes, com estudos 17 /-1 CrilJ/il1ologia &,diCtlI sobre o criminoso, a vítima, a policia, o juiz, o público, as testemunhas etc., uma multiplicidade de pesquisas centradas teoricamente nos trabalhos,de David Matza (1969), Edwin Lemert (1964), Howard Becker (1963), Edwin Schur (1965) e outros, cujos fundamentos mais distantes se encontram em Georges Mead (1934) e Alfred Schultz (1962), ligando- se, enfim, a Edmund Husserl e a Max Weber, as matrizes ongtnals. A mais elaborada construção criminológica da feno- menologia é a teoria da rotulação (também conhecida como teoria interacionista, ou teoria da reação socia~, erigida sobre os trabalhos de Edwin Lemert e de Howard Becker, com os acréscimos vigorosos (na área da psiquiatria e da psicologia social), de Ronald Laing (1959), Erwing Goffman (1970), Thomas Szasz (1975) e outros. Assumindo que, em sociedades pluralistas, todos experimentam impulsos desviantes e realizam condutas exorbitantes dos parâmetros normativos, a teoria da rotulação constrói uma "concepção do mundo" numa dupla perspec- tiva: das pessoas definidas (por outras) como desviantes e das pessoas que definem (os outros) como desviantes. A mudança de enfoque, em relação à criminologia positivista domi?ante, está na orientação para a su~jetividade, enfatizando questões de valor e de interesse e abandonando os estudos etiológicos e as explicações causais do crime (Rubington &Weinberg, 1977, p. 191 e ss.). O objeto de estudo da teoria da rotulação compreende a constituição das regras sociais e as práticas de aplicação dessas regras (por quem, contra quem, quais as conseqüências etc), dentro da concepção fenomenológica 18 Il1trodtlçào de Mead sobre a personalidade como "construçào social": o modo comopensamos e agimos é oproduto parcial do modo como os outros pensam e agem em relação a nós. Nessa perspectiva, a explicação da ordem social é baseada em tipificações, uma transmutaçào do esquema fenomenológico de Schutz: a) qual a essência de um fenômeno particular? - qual a essência do desvio? b) como as pessoas fazem tipificações? - como as pessoas aplicam o rótulo de desviante? c) como as tipificações são compartilhadas? - como aspessoas reagem ao rótulo de desviante? (Rubington &Weinberg, 1977, p. 195). A teoria da rotulação se fundamenta em duas ordens de conceitos principais: 1) a existência do crime depende da natureza do ato (violação da norma) e da reaçãosocialcontra o ato (rotulação): o crime "não é uma qualidade do ato, mas um ato qualificado como criminosopor agências de controle social" (Becker,1963,p. 8); 2) não é o crime que produz o controle social, mas (freqüentemente) o controle social que produz o crime: a) comportamento desviante é comportamento rotulado como desviante; b) um homem pode se tornar desviante porque uma infração inicial foi rotulada como desviante; c) os índices de crime (e desvio) são afetados pela atuação do controle social (Lemert, 1964). A teoria da rotulação distingue entre desvio primário, um processo de natureza "poligenética" excluído do esquema explicativo da teoria, e desvio secundário, uma resposta seqüencial à criminalização pelo desvio primário, que marca o comprometimento do criminalizado em uma "carreira desviante", como impacto 19 í , .1 • A Criminologia RL7dical -~--~------_._-----------~ -------_._~..._~_._~----~- pessoal da reação oficial - na verdade, o ponto de incidência das análises da teoria. A concepção de crime como produto de normas (cria- ção do crime) e de poder (aplicação de normas) define a lei e o processo de criminalização como "causas" do crime , rompendo o esquema teórico do positivismo e dirigindo o foco para a relação entre estigmatizarão criminal e forma- ção de carreiras criminosas: a criminalização inicial produz estigmatização que, por sua vez, produz criminalizações posteriores (reincidências). O rótulo criminal, principal elemento de identificação do criminoso, produz as seguintes conseqüências: assimilação das características do rótulo pelo rotulado, expectativa social de comportamento do rotulado conforme as características do rótulo, perpetuação do comportamento criminoso mediante formação de car- reiras criminosas e criação de subculturas criminais através de aproximação recíproca de indivíduos estigmatizados (Aniyar, 1977, p. 111-14). De certa forma,aestigmatização penal é a única diferença entre comportamentos objetiva- mente idênticos, porque a condenação criminal depende, além das distorções sociais de classe, de circunstâncias de sorte Iazar relacionadas a estereótipos criminais, que cum- prem funções sociais definidas: o criminoso estereotipado é o "bode expiatório" da sociedade, objeto de agressão das classes e categorias sociais inferiorizadas, que substitui e desloGl sua revolta contra a opressão e exploração das classes dominantes (Chapman, 1968, p. 197). Esse esquema analitico, aplicado a todas as modalida- des de desvio (criminal, sexual, psicológico, politico etc.), se erige como exercício inter-disciplinar nas áreas da sociologia 20 BIBLIOTECA DE C!l:NCIAS JURIOJCAS In trodlf(áo do desvio e da psiquiatria, com o objetivo de constituir a base teórica de uma politica e psicologia humanista, uma espécie de frente popular da fenomenologia e do marxismo, conhecida como "sociologia do desajuste" (pearson, 1980, p. 178). A preocupação principal dessa orientação, que se transforma no enfoque mais popular da criminologia ame- ricana dos anos 70, está no chamado "crime expressivo", ligado à produção de prazer: a maconha, e não o roubo; a prostituição, e não o homicídio; o crime sem-vítima, e não o crime utilitário (Young, 1980, p. 80). A proposta prática dessa orientação está na base das tendências modernas na área do crime e do controle social: descriminalização, despenalização, desinstitucionalização, substituição de san- ções estigmatizantes por não-estigmatizantes etc. (Aniyar, 1977, p. 146). O radicalismo da sociologia do desqjuste estaria em sua tendência para "quebrar as cadeias pré-fabricadas" da ima- ginação reificada - que mostra a ação humana como coisa "lá fora" - e da metodologia positivista, com suas causa- lidades mecânicas e taxas "dadas" de crime. A orientação "desreificante" surge como desafio aos profissionais do controle, representados por teóricos positivistas: à sua com- petência técnica e à sua autoridade moral (pearson, 1980, p. 179 e s.). Distinguindo, na ordem social, a existência de regras técnicas- com validade demonstrada em proposições testáveis e corretas, cuja violação reRete "incompetência" e cuja conseqüência é a "falh~ da realidade" - e regras da personalidade - d~tadas de validade na área das relações sociais, cuja violação é o crime ou desvio, punido pelo sis- tema de controle -, conforme um esquema de Habermas 21 A CtilJ/inolo,gia Radical -----------_._ .._._-----~----- (1971, p. 91-94), a sociologia do desq;úste mostra que o desvio é tratado como "incompetência técnica" pelos aparelhos de controle social, reduzi1Jdo a correção a uma questão de "intervenções técnicas,,'na personalidade do desviante. Desmistificando essa metodologia, a -fociologia do desegúste redescobre os dilemas morais na aplicação de "padrões de estigma" (criminoso, louco, desajustado etc.), inventados pe- los profissionais do controle e aplicados aos rotulados - que se conformam ao rótulo ("auto-realização"), mostrando o desvio como "negociação" entre o público (autoridade) e o cliente (criminoso, louco etc.) (pearson, 1980, p. 180-82). Finalmente, verificando que a ideologia do controle determina, em parte, o desvio (formas, imagens e taxas) e definindo o controle do crime como política, a sociologia do desqjuste pretende se constituir como teoria política contra a política do controle. A política de sua teoria enfatiza a violência sutil da vida diária, o crime como forma de "re- belião política primitiva", ou "expressão de liberdade" nos moldes da esquerdaidealista(pearson, 1980, p. 184 e s.).Goff- man, por exemplo, pesquisando as relações de poder das instituições totais (prisões, hospitais etc.), mostra os internos reduzidos a um "remanescente de identidade" pessoal, desde a cerimônia de "degradação inicial", com a invasão da fala, das vestes e maneiras, a colonização dos hábitos, sob a opressão dos doutores, enfermeiros e guardas - os técnicos do comportamento -, mas capazes de certas "tá- ticas pessoais" para salvar a própria identidade: a jovem bonita, com dois cachimbos na boca; outra, com um mo- nóculo de papel no olho, ou equilibrando sabonetes na cabeça raspada; ou outros, ainda, sentando-se relaxados, 22 Introdllçâo ._--------------------_._--_._-_ ....__ . mas mantendo o braço, ou um dedo, rígido, para mostrar que não estão relaxados - ou seja, o paciente age "marca- damente como louco para provar que é, claramente, são" (pearson, 1980, p. 187-89). . Assim, enquanto o positivismo nega vontade própria ao desviante, a sociologia do desegúste se dirige p.arao interior dele, em atitude de defesa e de compreensão, rejeitando a noção de que "pode ser como nós", vendo-o não como homem cujos "mecanismos de cópia falharam", mas como ser dotado de racionalidade, com método em sua loucura. O positivismo destaca a ordem e as regras, sua respeitabilidade e violação, mas a sociologia do desqjuste indica que o "outro lado da ordem" é liberdade - e não caos -, envolvendo o desviante em uma aura romântica: é o homem "duro", que não treme, que prova seus nervos e habilidades ao extremo, cuja "natureza está saturada de risco", experimentando sua liberdade contra "as sensibilidades submetidas à camisa- de-força" (pearson, 1980, p. 191-200). Mas essa posição de simpatia da sociologia do desqjuste é repudiada como "máscara de liberalismo", que não assume compromissos: apsicologia social de Goffman é uma "acomo- dação à organização de poder existente" e sua dramaturgia "uma impostura" que permite "suportar derrotas" sob o pretexto de que "não são para valer"; a sociologia de Becker é um "novo tipo de carreirismo", que aponta as deficiências do controle social mas se limita aos funcionários inferio- res (Gouldner, 1973) - ou, então, como expressão de um radicalismo aparente, que exclui as relações de poder (e de classes) da sociedade e, de qualquer forma, não esclarece o desvio inicial, origem da rotulação (Walton, 1972). A novi- 23 • In /rod/l{clo ~------------------~---------------_._----- O movimento teórico que começa nas teorias con- servadoras, clássicas e positivistas, continua pelas teorias liberais até a construção mais crítica da teoria da rotulação, nos anos 60, e evolui, na década de 70, para as posições do chamado "idealismo de esquerda", conhece variantes de revolta impotente, com amplo impacto popular, como, por exemplo, a criminologia da denúncia. O enfoque da criminologia da denúncia se concentra no comportamento dos poderosos, denunciando os defeitos das elites de poder econômico e político da sociedade, para mostrar que os que fazem a~ leis são, também, os maiores violadores dessas leis (faylor . ef alii) 1980, p. 33 e ss.). A utilidade da denúncia social dos abusos do poder econômicb e político, em estreita relação com um jornalismo "exposé", alimentando as pesquisas sobre criminalidade do "colarinho branco", é prejudicada pela ausência de definição clara de seus objetivos políticos e o desvio, em geral, como tentativas individuais fragmen- tárias para resolver problemas existenciais, a anfipJiquiatria aponta para a necessidade da luta política coletiva como alternativa adequada aos interesses dos grupos sociais su- balternos, cujos membros são qualificados como "anormais naturais", com uma história pessoal feita de "antecedentes penais" - ao contrário da burguesia e outras categorias sociais dominantes, que dispõem da psicanálise e das psico- terapias em clínicas particulares, com os recursos materiais e o espaço social para explicar seus distúrbios pessoais por categorias científicas neutras, como neuroses, desritmias, fobias, complexos ou simplesmente sfress, assegurando sua "reinserção social" sem traumas ou dificuldades (Basaglia e Basaglia, 1976, p.90-1). A CrilJ/inologia &dica/ dade da teoria foi colocar a problemática do etiquetamento, da estigmatização e da estereotipia criminal em relação com a atividade dos aparelhos de controle social, mas com uma crítica reduzida ao nível descritivo, como "a outra cara da criminologia liberal" (del Olmo, 1976, p. 68), que completa o quadro explicativo desta (Baratta, 1975). A teoria da sociologia do desqjusfe é politicamente limita- da e historicamente confusa: não compreende a estrutura de classes da sociedade, não identifica as relações de poder político e de exploração econômica (e sua interdependên- cia) do modo de produção capitalista e, definitivamente, não toma posição nas lutas fundamentais da sociedade moderna. Enfim, a estrutura teórica e metodológica e a política subjetivista e romântica da teoria, embora de utili- dade - e relativamente crítica - nos limites inter-subjetivos de seu marco teórico (Bustamente, 1977, p. 213-26), não define uma posição radical, no sentido do radicalismo da Criminologia Radical. Entretanto, é preciso reconhecer que os setores mais avançados da antipsiquiatria fundamentam as instituições de controle, como o cárcere e o manicômio, na divisão da sociedade em classes antagônicas, cuja clientela são os segmentos marginalizados, sem poder nem utilidade eco- nômica na produção: os objetivos corretivos ou terapêu- ticos do cárcere ou do manicômio, sob a aparência de resolver "contral'Üções naturais" da vida social, ocultam a finalidade real de preservar a divisão de classes da estrutura social, mediante ameaça permanente de violência contra a força de trabalho ativa, integrada no mercado de trabalho (Basaglia,F. e Basaglia, F., 1976, p. 85). Destacando o crime r ~ i I~., 24 • 25 '.'~ 1 { j t j .{ ~i .~ ;j :l i I~ :., ~~ .".',';1 ," :~ ...•~ ~ ;q ::1 'j ;~;~ A Cit'mirJOlo,gia 10:,r!ic,,1 _._~_.~_._-- -_.--' _ .._--_._-_. __ ..•_ ... , .._. __ ... ,-_ .._ .._-- .._--_ .._------------- e comproITÚssosideológicos, no quadro das lutas sociais do capitalismo monopolista transnacional: o enfoque carece de uma estrutura conceitual e metodológica capaz de extrair todas as conseqüências te6ricas e práticas do seu objeto de estudo. O resultado é sua agonia resignada, em espasmos de indignação moral diante das desigualdades sociais nos proces- sos políticos de definição de crimes e nas práticas judiciais de gestão diferencial do processo penal e de aplicação da pena criminal, escandalizado com os duplos padrões de mo- ralidade das classes dOITÚnantes.A origem pequeno-bur- guesa dessa linha criminológica explica sua desorientação estratégica e a perplexidade inconseqüente de sua teoria: as questões levantadas podem chocar a classe média urbana e seus intelectuais refinados - mas não comovem o poderoso impune, nem sensibilizam o sem-poder reprimido, que co- nhecem bem tais distorções, cada qual de sua perspectiva. Além disso, a criminologia da denúncia parece supor que os poderosos dominam por uma espécie de "direito moral" - e não pelo poder material, que os capacita a converter força em "autoridade", pelos procedimentos estabelecidos (faylor et alii, 1980). Uma criminologia conseqüente deveria mostrar que a criminalidade do poder econômico e político não é um fenômeno irregular ou acidental, mas fenômeno regular e institucionalizado, ligado à posição estrutural de classe na formação social capitalista e, por exemplo, sobre a base da posição de classe, explicar por que a apropriação de riqueza, pelo método de expropriação de mais-valia, na relação capital! trabalho assalariado do modo de produção capitalista, é legal e estimulada, mas se essa apropriação de riqueza ocorre por outras vias fraudulentas ou violentas, é criminosa e punida. 26 [ntror!lIçclo --------------- .--- - - - ----------------- ---- __ ._.-._., _._-_. A multiplicação de estudos críticos e radicais sobre crime e controle social, nem sempre coincidentes nas bases ideológicas, compromissos políticos e orientações científicas, desde a crítica de esquerda, passando pela "nova criminologia", até as construções mais elaboradas de crimi- nólogos marxistas, em uma convergência de preocupações interdisciplinares e internacionais de sociólogos e historia- dores, advogados, juristas e criminólogos, parece justificar o esforço de definir tendências dentro dessa perspectiva, em um esquema que facilite a compreensão das limitações e desvios existentes. Um estudo recente (Young, 1979, p. 11 e ss.) define duas tendências principais nos aportes criminológicos li- gados à teoria marxista, representando desvios voluntaristas e economicistas nas questões do crime e do controle social: o idealismo de esquerda e o reformismo. O chamado idealismo de esquerda se constitui, historicamente, como a ideologia ra- dical de grupos sociais marginalizados, como os militantes do "poder negro", nos Estados Unidos: George Jackson (1971, p. 156 e ss.), Angela Davis (1971, p. 27-47), Bobby Seale (1971, p. 121-2), Huey Newton (1971, p. 60-64), Stockely Carmychael (1968, p. 46-68) etc., cuja oposição à violência e à coercitividade da ordem social assume um caráter voluntarista: homens livres devem rejeitar uma so- ciedade desigual e opressiva. Na experiênciahistórica desses grupos (negros, presos e outras minorias), a ordem significa coerção sistemática, o ('consenso social" do capitalismo monopolista é uma aparência ilusória reproduzida pela es- cola, a imprensa, o Parlamento etc., que oculta um controle totalitário e mistificador: a lei se destina à proteção dos 27 A Crimillolox,ia Radical --------------_._----_. interesses dos poderosos, enquanto a polícia e a prisão são garantias violentas de uma ordem social injusta. A escola, a fábrica e a prisão são instituições ideológica e politicamente similares:a educação não passa de um "processo de lavagem cerebral", a disciplina da fábrica é a base da disciplina da prisão e o aparelho penal (polícia, justiça e prisão) funciona como mecanismo central de controle das classes e grupos sociais submetidos (Young, 1979, p. 12-13). A tese da lei como "expressão direta" dos interessesdas classes dominantes, que controlam os meios de pro- dução material e de reprodução ideológica da sociedade, permite definir o comportamento da classe trabalhadora e dos marginalizados sociais normalmente como crime, porque se opõe aos interesses das classes dominantes e à lei que expressa esses interesses. O crime é, simultanea- mente, produto das estruturas econômicas e políticas do capitalismo e evento pro to-revolucionário, como desafio às relações de propriedade existentes, ou forma de manifesta- ção da violência pessoal dos marginalizados sociais contra o poder organizado das classes dominantes, representadas pelo Estado, que legaliza a violência de classe dos crimi- nosos reais que estão no poder (Young, 1979, p. 14-15). O controle social de classe tem na prisão sua instituição central- e na polícia, seu agente principal-, ambos carac- terizados por uma eficiente,ineficiência no controle do crime: o objetivo oculto seria constituir uma ameaça permanente contra as classes sociais objeto de exploração econômica e de dominação política. Esse objetivo é disfarçado pelas "mistificações positivistas" do tratamento penitenciário, 28 llltrodll(rlo da reabilitação pessoal ou da ressocialização, pseudo-cien- tismo que esconde o rigor punitivo e, de fato, aumenta o castigo, mediante técnicas de isolamento, privação sensorial ou administração de drogas psicotrópicas - sem falar nas penas indeterminadas do sistema prisional americano, que colocam o preso à mercê dos administradores e guardas da prisão. A estratégia do radicalismo da esquerda idealista objetiva a abolição do controle social burguês, com a extinção da prisão, da polícia, da escola, dos meios de comunicação de massa, da famflia nuclear etc., definidos como "instituições inimigas da classe trabalhadora", mas inteiramente "fun- cionais" para o capitalismo: não se trata de riformar, mas de destruir essas instituições e promover sua substituição por instituições proletárias. Finalmente, o idealismo de esquerda proclama a contradição irredutível do direito burguês, carac- terizado por um discurso de justiça igualitária e uma prática real opressiva e discriminatória) justificando a tática política de exposição sistemática da realidade desigual promovida pela retórica da igualdade e, assim, desmascarar a aparência ilusória da ideologia jurídica. O crime, fenômeno social ligado ao capitalismo, em geral - cujas instituições são denunciadas como essencialmente criminosas e criminógenas -, e a re- pressão criminal, fenômeno institucional concentrado nos segmentos sociais subalternos e marginalizados, colocam a necessidade política de aliança dos grupos sociais explora- dos, reprimidose miserabilizados objeto dos processos de criminalização, como meio de auto-proteção e de realização final de sua estratégia (Young, 1979, p.16). i," " ._-- 29 , • A elimin%gia Radica! _ - --------- o riformiJmo, um desvio economicista da crítica cri- minológica, desenvolve-se como espécie de "marxismo" bem-educado, absorvido pelo sistema, assimilado pelos currículos universitários, s'em a origem rebelde, o aguer- ~illlento combativo, a tradição rrülitante e a importância política do idealismo de esquerda. A característica básica da ideologia reformista, em relação ao Direito e ao Estado, por exemplo, é a crença passiva no "processo de dissolução do capitalismo no socialismo" - portanto, uma projeção his- tórica da II Internacional- e, por outro lado, a crença ativa no Estado intervencionista, capaz de realizar a correção progressiva de desigualdades sociais por reformas jurídicas. O reformismo afirma ser contrário aos interesses das classes trabalhadoras o conteúdo das instituições (e não a sua forma), o controle da polícia (e não o aparelho policial), a ilegalidade da prisão (e não a própria prisão), a limitação de oportunidades de acesso à escola (e não o sistema escolar), o conteúdo da lei (e não a forma legal) etc. O crime é de- finido como fenômeno "natural", existente em qualquer sociedade - embora em maior quantidade no capitalismo-, redutível por mudanças sociais que eliminem os fatores da "criminalidade determinada" (ligada à patologia individual, como carências, subnutrição, defeitos mentais etc.) e do "crime voluntário" (relacionado ao individualismo egoísta da competição capitalista). O comportamento humano é classificado nas categorias de normal, próprio da maioria "livre" (nos limites de liberdade da economia de mercado) e de determinado, característico da minoria "sem liberdade", por condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais. 30 I ntrod/{(clo-----------_._-----_._---------_._--._------_ ...__ .. - Enfim, o riformismo trabalha com uma etiologia criminal que aponta na direção de uma dupla origem do comportamento criminoso, explicado ou por constituições biológicas atípi- cas, origem de disposições anti-sociais de indivíduos defor- mados, ou pelo ambiente social de competição individual pela existência material, acentuando traços personalistas e agressivos (Young, 1979, p.16 e ss.). De modo geral, a perspectiva riformista do economi- cismo "marxista" não se distancia da monotonia positivista e suas causalidades mecânicas, trabalhando com hipóteses deterministas similares, com a diferença da crença - de resto, também positivista-marxista - na inevitabilidade histórica da evolução do capitalismo para o socialismo, na seqüência de um processo linear e fatalista que ignora a influência da ideologia e da política na gênese da capa- cidade de sobrevivência do capitalismo, como modo de produção de classes sociais antagônicas. A influência desse desvio riformista na estruturação da Criminologia Radical é insignificante, funcionando mais como modelo de reformu- lação ou discurso de legitimação da ideologia do controle social, esgrimido por teóricos "marxistas" engajados no "carreirismo" em instituições oficiais. As limitações mais importantes, comuns às tendên- cias da esquerda idealista e do riformismo, são a ausência de explicações estruturais da criminalização dos grupos sociais subjugados e marginalidados - esclarecendo a posição do pobre como "bode expiatório" da violência institucional-, a falta de aprofundamento nas contradições do capitalismo na era da transnacionalização do capital monopolista e a 31 / A Criminologia Radical ----------------------------- carência de adequada compreensão da natureza contradi- tória da aparência dos fenômenos sociais e institucionais da sociedade capitalista, que vinculam problemas de conteúdo com questões de forma, como mostra a mais autorizada teoria marxista sobre crime, controle social,Direito e Estado (Young, 1979, p.21 e ss.). Criminólogos radicais proclamam que as contradi- ções da teoria não podem ser resolvidas sem mudanças da base estrutural da sociedade - cujas contradições concretas produzem e explicam as contradições da teoria - e propõem uma luta em dois níveis: a) no nível forma4 a rejeição da ideologia da esquerda idea- lista, expressa em slogans como "o direito burguês é uma vergonha", ou "a legalidade é uma forma de cooptação" etc., argumentando que a conquista formal da igualdade nas áreas da proteção individual, do direito criminal e da prisão, por exemplo, pode determinar uma redução da po- pulação das prisões, a reconstituição de sua "clientela" e a progressiva transformação da prisão, de instituição sem lei para instituição legalizada - O que coincide com o interesse das classes trabalhadoras e de todos os marginalizados sociais e oprimidos, em geral, no capitalismo; b) no nível material, a rejeição da posição reformista da luta formal como fim-em-si, omitind0-se das questões políti- cas e ideológicas do capitalismo contemporâneo. Parale- lamente, a construção de uma concepção de crime fundada na posição de classe do autor e orientada para a definição de responsabilidades coletivas, capaz de superaros critérios 32.- - lntrodlfçiio individualistas e pessoais da moderna teoria do crime e da pena, como alternativas para o trabalho criminológico radical (Young, 1979, p. 26-28; Cirino, 1980). 33 11. A CRIMINOLOGIA RADICAL A crítica sistemática dos conceitos, do método e da ideologia da criminologia tradicional possibilitou a rede- finição do objeto, dos compromissos e dos objetivos da Criminologia Radical, desde a orientação para o estudo dos criminosos reais, em posições de influência e de poder nos quadros da ordem econômica e política da sociedade capitalista, até a inserção dos grandes temas da criminologia no contexto histórico das questões políticas gerais: quem controla a ordem social, como é distribuído o poder e a riqueza, como pode ocorrer a transformação social etc. (Taylor et alii, p. 55-57). Entre outras coisas, é preciso mostrar que a definição legal de crime, base do trabalho da criminologia tradicional, está ligada à ideologia de neutralidade do Direito (apresentado como instrumento de justiça social e de proteção de interes- ses gerais) e atua como instrumento de controle das vítimas da exploração e da opressão social- os trabalhadores inte- grados no mercado de trabalho e os marginalizados sociais -, cujos protestos, reivindicações e revoltas são reprimidos pelas forças da ordem e, freqüentemente, çanalizados para o sistema de justiça criminal. As deformações ideológicas da definição legalde crime, atreladas à concepção burguesa da ordem social, induziram criminólogos radicais a formular uma. definição proletária de crime, tomando como base a 35 • li • A Criminologia Radical --------~.~----_._---------------- violação de Direitos Humanos definidos em perspectiva socialista, sintetizados nos conceitos de igualdade social e de segurança pessoal - mas incluindo outros direitos politica- mente protegidos, assim como a possibilidade de examinar práticas e relações sociais criminosas excluídas da definição legal, como o imperialismo, a exploração econômica, o ra- cismo e outras distorções do capitalismo contemporâneo (Schwendingers, 1980, p. 135-75; Platt, 1980, p. 124-25). O compromisso primário da Criminologia Radical é com a abolição das desigualdades sociais em riqueza e poder (Taylor et alH, 1980, p. 55), afirmando que a solução para o problema do crime depende da eliminação da exploração econômica e da opressão política de classe - e sua condição é a transformação socialista (platt, 1980, p. 125). Essa posi- ção política evita a degeneração da Criminologia Radical em mera "moralização", ou no correcionalismo repressivo da "reabilitação pessoal", que identifica crime com patologia e, nas posições mais liberais, propõe reformas de superfície, ou mais serviços sociais, modificando alguma coisa para deixar tudo como está - ou seja, preservando o sistema de dominação e de exploração do homem pelo homem. Esse compromisso compreende as tarefas com- plementares de produzir teoria e de criar procedimentos capazes de ajudar a classe trabalhadora - e o conjunto dos setores sociais subalternos e marginalizaG.os-, no projeto político de construção e de controle de uma sociedade democrática. A formação da Criminologia Radical, com base nas contradições de classe das relações econômicas estruturais e das relações superestruturais de poder do 36 I I I I I I A C,iminologia RL1dieal Estado, evita as deformações da criminologia positivista dominante, que separa a teoria criminológica da teoria política, a teoria política da teoria econômica e exclui a categoria central da luta de classes de todas as teorias so- ciais (Young, 1980, p. 105 e ss.). O estudo da tipologia dos crimes como concretas rupturas da norma criminal, ou do estereótipo do criminoso construído pela distribuição .social da criminalização, ou do funcionamento do sistema de justiça criminal, pressupõe o contexto concreto de formações sociais históricas, com estruturas econômicas determinadas e superestruturas políticas e jurídicas cor- respondentes, articuladas nas relações contraditórias do modo de produção da vida material (Taylor et alH, 1980, p. 55). As teses iniciais do idealismo de esquerda, da lei como "instrumento" das classes dominantes para manutenção de seus privilégios, ou as demonstrações complementares de que os detentores do poder de fazer leis são, também, os imunes violadores dessas leis, evoluem para teorias materialistas do Direito burguês e do Estado capitalista, construídas com base nas transformações históricas do capitalismo competitivo para o capitalismo monopolista, e as conseqüentes alterações das formas de luta de classes e dos mecanismos políticos de controle social. A desmistificação do sistema de controle social penal revela sua natureza classista, incluindo as medidas "libe- ralizantes", como as políticas 'de substitutivos penais, as prisões abertas, a descriminalização, a despenalização etc., explicáveis menos como atitude humanista do legislador e mais como estratégias burocráticas do poder público deter- 37 A Criminoloy,ia Iv/dical -- -- ---- - - --- ---- -~---~-- --- -- -- --- ---- - ------ ----------_._---- minadas pelo excesso de presos: o "coração" dos interesses garantidos pelo sistema penal é, na verdade, "o programa real de cada sistema de p\odução" (Aniyar, 1980, p. 23). Em um esquema didático pode-se dizer que, enquan- to as orientações positivistas se exaurem na explicação do crime como produto etiológico de "causas" determinantes, privando o sujeito criminalizado de racionalidade e poder de escolha, como assinala a teoria da rotulação, e as orien- tações clássicas explicam o crime como produto de uma "razão pervertida", uma "forma pura" somente controlada pela força do Estado, a Crimi~ologia Radical se empenha na tarefa de uma análise materialista do crime e do sistema de controle social, subordinada à estratégia geral que liga a teoria científica à prática política no objetivo final de cons- trução do socialismo (Young, 1980, p. 110- 11). O projeto científico da Criminologia Radical tem por objetivo a produção de uma teoria materialista do Direito e do Estado nas sociedades capitalistas, em que a produção crescentemente social requer uma regulação crescentemente jurídica das relações sociais, procurando identificar as forças sociais subjacentes às formas legais e mecanismos institucionais de controle da sociedade. A questão da persistência, da modificação ou da abolição das normas jurídicas é examinada em relação aos interesses que garantem, à função realizada na organização material da produção e à contradição fundamental entre capital e trabalho assalariado, no processo histórico de socializa- ção da produção e apropriação privada do produto (que crirninaliza com rigor os que se recusam a esse tipo de socialização), desde o tratamento legal de trabalhadores 38 A Criminologia Radical ._------_ ..._------------- desempregados e inutilizados, de pessoas abandonadas e doentes, até a organização das prisões, da polícia e da justiça (Taylor et alii) 1980,61.). O programa de uma ciência do crime e do controle social para as condições de desenvolvimento econômico e político da sociedade capitalista, compreende a crítica do Direito como lei do modo deprodução dominante, e do Estado como organiZflção política dopoder de classe, além da elaboração simultânea de uma "economia política do crime" capaz de demonstrar que as transformações do capitalismo contem- porâneo não alteraram suasprioridades básicas de propriedade privada e lucro, nem sua dinâmica social de reprodução das desigualdades e de marginalização. Como socialistas, a luta principal dos criminólogos radicais é contra o imperialismo dos países centrais, a exploração de classe, o racismo etc. e, como teóricos, o esforço pela construção de explica- ções materialistas da lei penal e do crime, nas condições criminógenas
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