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Audiodescrições de pinturas são neutras

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AUDIODESCRIÇÕES DE PINTURAS SÃO NEUTRAS? 
descrição de um pequeno corpus em português via Teoria da Avaliatividade1 
 
Pedro Henrique Lima Praxedes Filho (UECE) 
Célia Maria Magalhães (UFMG) 
 
1. Introdução 
A pesquisa ora relatada foi dividida em três partes independentes, nas quais tratamos da 
temática relativa à descrição do registro ‘roteiros de audiodescrição de pinturas’. Na primeira 
parte, assunto deste capítulo, estudamos roteiros escritos em português brasileiro por 
audiodescritores brasileiros; na segunda, examinamos roteiros escritos em inglês americano por 
audiodescritores americanos; na terceira, comparamos os resultados das duas primeiras partes. 
As descrições por língua foram feitas da perspectiva da presença ou ausência, no registro 
referido, de neutralidade ou da presença ou ausência do oposto da neutralidade: 
avaliação/interpretação. 
O projeto que ensejou a pesquisa como um todo filiava-se a um outro mais amplo que 
congregou, via PROCAD/CAPES, o Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada-Centro de 
Humanidades da UECE (PosLA-CH-UECE), através do Laboratório de Tradução Audiovisual 
(LATAV), e o Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos-Faculdade de Letras da UFMG 
(PosLin-FALE-UFMG), através do Laboratório Experimental de Tradução (LETRA)2. Sob a 
coordenação das Dras. Vera Lúcia Santiago Araújo pelo LATAV e Célia Maria Magalhães pelo 
LETRA, o PROCAD-PosLA/PosLin estudou aspectos da questão concernente à acessibilidade 
sensorial de surdos e ensurdecidos (SEs) e de pessoas com cegueira total ou com baixa visão – as 
pessoas com deficiência visual (PcDVs) –, a produtos culturais (audio)visuais. Esse tipo de 
acessibilidade é estudado no âmbito da Tradução Audiovisual Acessível (TAV-Ac), vinculada à 
Tradução Audiovisual (TAV) (ADERALDO, 2014; este volume), que é subárea dos Estudos de 
Tradução. 
Quanto aos SEs, o PROCAD-PosLA/PosLin inseria-se na subdivisão da TAV-Ac que trata da 
Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE), tipo de tradução intrassemiótica (semiose verbal 
oral→semiose verbal escrita) e intralinguística, se o filme ou programa televisivo é nacional, ou 
interlinguística, se o produto a ser legendado é estrangeiro. O objetivo foi propor um conjunto de 
parâmetros para LSE que atendesse às necessidades cognitivo-leitoras dos brasileiros com diferentes 
graus de surdez. Quanto às PcDVs, o PROCAD-PosLA/PosLin enquadrava-se na subdivisão da 
 
1 Neste capítulo é relatada parte de uma pesquisa que recebeu financiamento do PROCAD-CAPES 008/2007 
firmado entre a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 
2 Doravante, vamos nos referir ao projeto maior como PROCAD-PosLA/PosLin. 
TAV-Ac que diz respeito à Audiodescrição (AD), tipo de tradução predominantemente intersemiótica 
(semiose visual→semiose verbal oral), podendo ser, ocasionalmente, também intrassemiótica como 
no caso, por exemplo, da descrição dos créditos de um filme ou programa televisivo (semiose verbal 
escrita→semiose verbal oral). O objetivo foi igualmente propor um conjunto de parâmetros para a AD 
de produtos (audio)visuais que atendesse às necessidades gerais do público brasileiro com diferentes 
graus de cegueira. A pesquisa cuja primeira parte apresentamos aqui integrou o subprojeto, dentro do 
escopo do PROCAD-PosLA/PosLin, referente às PcDVs: ‘Elaboração de um modelo de 
audiodescrição para cegos a partir de subsídios dos estudos de multimodalidade, semiótica social e 
estudos de tradução’ (doravante, vamos nos referir ao subprojeto como PROCAD-PosLA/PosLin-
AD). 
É preconizado na literatura não acadêmica sobre AD – constituída especialmente de 
manuais com regras, surgidas na práxis, sobre seu modus faciendi –, que o texto descritivo de uma 
cena de filme, um programa de TV, uma pintura, uma escultura, uma exposição de museu, um 
monumento urbano, uma partida esportiva, uma peça de teatro etc. ou, em outras palavras, o roteiro 
de uma AD tem de ser isento de qualquer avaliação/interpretação. Isso implica em dizer que o 
audiodescritor, ao escrever seu roteiro, precisa ter o cuidado de não permitir que suas opiniões 
pessoais sobre o produto alvo da AD entrem no texto; há de ser, portanto, um texto neutro, isto é, 
sem qualquer marca de autoria, o que significa a ausência da voz autoral do tradutor-audiodescritor. 
A justificativa para essas prescrições tem a ver com o argumento de que não se pode retirar das 
PcDVs o direito de elas mesmas, a semelhança do que acontece com os videntes, construírem as 
avaliações/interpretações e as emoções suscitadas pelo objeto da AD. O documento Standards for 
audio description and code of professional conduct for describers da organização americana Audio 
Description Coalition assim se posiciona: 
Esta é a primeira regra de descrição [descreva o que você vê]: o que você vê é o que você descreve. 
Você vê aparências e ações físicas; você não vê motivações ou intenções. Nunca descreva o que 
você acha que vê. ... Permita que os ouvintes [PcDVs] formem suas próprias opiniões e cheguem às 
suas próprias conclusões. Não edite, interprete, explique, analise ou ‘ajude’ os ouvintes [PcDVs] 
seja de que modo for. ... Se a conclusão é que um personagem está com raiva, descreva o que lhe 
levou a essa conclusão – os gestos/as expressões faciais do personagem. Os humores, as razões ou o 
raciocínio de um personagem não são visíveis e, portanto, não devem ser descritos. ... Use somente 
aqueles adjetivos e advérbios que não oferecem julgamentos de valor e que não são ... sujeitos à 
interpretação. ... ‘Bonito/a’ diz somente que algo/alguém não é feio/a. Mas o que exatamente o/a 
torna bonito/a? Ao invés de dizer que uma pessoa, uma roupa, um objeto etc. é bonito/a, descreva as 
coisas que você viu e que lhe levaram a essa conclusão, de tal forma que os ouvintes [PcDVs] 
possam chegar às suas próprias conclusões. ... É mais interessante listar os itens que estão em um 
amontoado de coisas, se o tempo permitir, do que dizer: ‘O sótão está amontoado’. ... Não 
acrescente ‘cerca de’ ou ‘aproximadamente’ para qualificar ... dimensões estimadas.3 (grifos no 
texto fonte) (p. 1-3) 
 
3 Nossa tradução para: “This is the first rule of description: what you see is what you describe. One sees physical 
appearances and actions; one does not see motivations or intentions. Never describe what you think you see. … Allow 
listeners to form their own opinions and draw their own conclusions. Don’t editorialize, interpret, explain, analyze or 
Essa prescrição de neutralidade incomodava os pesquisadores e audiodescritores envolvidos 
no PROCAD-PosLA/PosLin-AD. Quanto aos pesquisadores, por serem linguistas aplicados com 
formação também em Linguística, resistiam a incluir a neutralidade no conjunto de parâmetros em 
construção e assim se posicionavam porque sabiam – com base em várias teorias, especialmente a 
Teoria da Avaliatividade (TA) tal como proposta no escopo da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) 
–, tratar-se de um parâmetro impraticável dada a impossibilidade de existirem textos orais, escritos ou 
sinalizados sem marcas autorais quanto às avaliações/interpretações dos autores frente aos significados 
realizados em seus textos. Martin e White (2005), os principais proponentes da TA, assim nos falam: 
“as asserções categóricas … são tão carregadas intersubjetivamente e, portanto, ‘posicionadas’ quanto 
os enunciados que contêm marcadores mais explícitos de opinião ou atitude”4 (p. 94). Se sabiam dessa 
impossibilidade para os textos em geral, também tinham consciência dela para os textos traduzidos 
(TTs): Jakobson (2000/1959) defende que traduzir é interpretar signosem outros signos (cf. 
ADERALDO, este volume) e a LSF entende o TT como retextualização de um texto-fonte por um 
novo autor, cuja voz se faz presente. Quanto aos audiodescritores, a eles era demandado muito 
tempo até que expurgassem seus textos de tudo quanto parecesse ser avaliativo/interpretativo. 
A partir dessas dificuldades, os pesquisadores passaram a se questionar sobre se os roteiros de 
AD feitos por profissionais que defendem a prescrição de neutralidade são, de fato, desprovidos de 
quaisquer avaliações/interpretações. Portanto, pelo fato de a LSF e, nela, a TA vincularem-se 
epistemologicamente à área maior da semiótica social e pelo fato de serem os enquadres teóricos com os 
quais trabalhamos, fomos convidados a conduzir pesquisa tendo em vista fornecer uma resposta à 
inquietação posta acima a fim de que o grupo pudesse convencer o Brasil e o mundo, com argumento 
empiricamente fundamentado, de que o parâmetro de neutralidade deveria ser desconsiderado. Para 
tentarmos encontrar a resposta à inquietação que nos foi colocada, pensamos em um desenho de 
pesquisa cujo objetivo geral foi descrever, do ponto de vista da neutralidade como parâmetro obrigatório, 
roteiros de AD de pinturas escritos, no caso desta primeira parte, por audiodescritores brasileiros. Mais 
especificamente, os objetivos foram descrever os roteiros em português brasileiro quanto à presença ou 
ausência de neutralidade referente: 1) aos sentimentos elicitados pelas pinturas nos audiodescritores; 2) a 
 
‘help’ listeners in any other way. … If the conclusion is that a character is angry, describe what led to that conclusion – 
the gestures/facial expressions of the character. Character’s moods, motives or reasoning are not visible and, thus, not 
subject to description. … Use only those adjectives and adverbs that do not offer value judgments and that are not … 
subject to interpretation. … ‘Beautiful’ says only that something is not ugly. But what exactly makes it beautiful? 
Instead of saying the person, clothing, object, etc. is beautiful, describe the things observed that caused your 
conclusion – so listeners may draw their own conclusion. … It is more interesting to name the items in the clutter if 
time permits than to say, ‘The attic is cluttered’. … Don’t add ‘about’ or ‘approximately’ to qualify … estimated 
dimensions”. Doravante, todas as traduções de citações em inglês são igualmente de nossa autoria. 
4 “categorical … assertions … are just as intersubjectively loaded and hence ‘stanced’ as utterances including 
more overt markers of point of view or attitude”. 
seus posicionamentos sobre o que disseram a respeito das pinturas e a relação desses dizeres autorais 
com outras vozes presentes no universo da intertextualidade; 3) à amplificação ou redução do grau dos 
sentimentos elicitados (se presentes) e dos posicionamentos das vozes autorais e da relação entres estas e 
as vozes não autorais (se presentes). 
Derivaram dos objetivos específicos, as seguintes perguntas: Os roteiros em português 
brasileiro são caracterizados pela presença ou ausência de neutralidade referente – 1) aos sentimentos 
elicitados pelas pinturas nos audiodescritores?; 2) a seus posicionamentos sobre o que disseram a 
respeito das pinturas e à relação desses dizeres autorais com outras vozes presentes no universo da 
intertextualidade?; 3) à amplificação ou redução do grau dos sentimentos elicitados (se presentes) e 
dos posicionamentos das vozes autorais e da relação entres estas e as vozes não autorais (se 
presentes)? 
A neutralidade é ainda consensual na maioria dos centros onde roteiros de AD para PcDVs são 
produzidos. Portanto, poucos trabalhos foram publicados que tenham questionado esse parâmetro. 
Tínhamos conhecimento de apenas dois. O primeiro é Holland (2009), que é um ensaio sobre a 
impossibilidade de neutralidade em roteiros de AD para o teatro e as artes visuais em geral com base 
apenas em sua experiência como audiodescritor. Vale dizer que ele também relata um estudo de caso; 
contudo, o intuito não foi demonstrar a impossibilidade empiricamente, pois consistiu-se em um estudo de 
recepção pelo qual PcDVs foram expostos a um roteiro de AD da pintura Ramparts de Ben Nicholson que 
era “o máximo possível ‘não interpretativo’” (p. 180) e a um outro, da mesma pintura, que “continha um 
certo nível de interpretação”5 (p. 181), tendo sido o segundo o preferido pelos participantes. O segundo é 
Jiménez Hurtado (2007), que relata uma pesquisa cujo objetivo foi descrever o novo registro ‘AD fílmica’ 
do ponto de vista, dentre outros, avaliativo/interpretativo, mas tão somente sob a ótica dos sentimentos de 
emoção, usando categorias próprias. A presente pesquisa se justificou, então, por ter sido a primeira que 
investigou a neutralidade em roteiros de AD de pinturas e sob uma perspectiva teórica abrangente, a da TA. 
Esta pesquisa, como já esclarecemos, foi também a primeira a estudar a neutralidade como 
prescrição obrigatória no âmbito do PROCAD-PosLA/PosLin-AD; contudo, não foi a primeira a 
estudar a AD de pinturas, já tendo havido duas dentre uma grande maioria que tratou de AD de 
filmes. Oliveira Júnior (2011) bem como Magalhães e Araújo (2012) fizeram uso de quatro pinturas 
do cearense Aldemir Martins e da pintura Las Meninas de Diego Velazquez, respectivamente, 
objetivando a proposta de um conjunto de parâmetros, para Oliveira Júnior, e de uma metodologia, 
para Magalhães e Araújo, tendo em vista “a elaboração de roteiros de AD ... com subsídios de 
leituras multimodais de pinturas [(O’TOOLE, 1994; KRESS; van LEEUWEN, 1996)], a serem 
 
5 “as much as possible ‘un-interpretative’” / “allowed for a level of interpretation”. 
usados em ... museus” (MAGALHÃES; ARAÚJO, 2012, p. 32). Mesmo assim, o ineditismo desta 
pesquisa e sua consequente relevância se mantêm inalterados, especialmente devido ao fato de que 
seus resultados deverão contribuir com ambos os estudos no sentido de apontar se o conjunto de 
parâmetros ou a metodologia em construção deve, ou não, eliminar o parâmetro de neutralidade. 
2. Um pouco mais sobre o parâmetro de neutralidade em AD 
Restou claro que as modalidades de TAV-Ac são a LSE e a AD. Contudo, quanto ao 
aprofundamento relativo às definições propriamente ditas de TAV, TAV-Ac e AD, 
convidamos os leitores a consultarem as duas primeiras seções de Aderaldo (este volume). 
Retomando a questão do modus faciendi de um roteiro de AD, a prescrição de neutralidade 
é confirmada por Rai, Greening e Petré (2010), no documento A comparative study of audio 
description guidelines prevalent in different countries (Grã-Bretanha, Grécia, França, Alemanha, 
Espanha e Estados Unidos), quando, ao tratarem da língua a ser usada pelo audiodescritor, afirmam 
que 
[o]s advérbios podem ser úteis na descrição de emoções e ações, mas não devem ser subjetivos. Na 
verdade, os parâmetros alemães estabelecem que todas as palavras escolhidas devem ser o mais possível 
imparciais a fim de que o espectador [PcDV] possa ter a oportunidade de tomar sua própria decisão ...6 (p. 
8) 
 
A propósito do conjunto de parâmetros alemães, um de seus autores, Bernd Benecke, 
defende que “[u]ma boa audiodescrição deve ser discreta [voz do audiodescritor-tradutor 
invisível] e neutra ...”7 (BENECKE, 2004, p. 80). 
É necessário dizer que a academia, ao reconhecer a AD como um tipo de TAV dentro 
dos Estudos de Tradução, absorveu o parâmetro de neutralidade. No Brasil, Silva et al. (2010) 
dizem, a esse respeito, que 
... o áudio-descritor (sic) não podeinterferir em tais imagens e precisa seguir fielmente a regra geral 
“Descreva o que você vê!”. Aí reside uma especialização na constituição do gênero áudio-descrição 
(sic) e na veiculação deste: a objetividade ... . ... o tradutor assume o papel de ator invisível ... para 
prevenir que a individualidade do profissional se sobreponha a obra, é fundamental que a áudio-
descrição (sic) esteja alicerçada pelo aporte teórico até hoje postulado ... . Sumarizando as diretrizes em 
comento, o site http://www.adinternational.org/ADIad.html orienta que em meio aos elementos 
essenciais para a atitude do áudio-descritor (sic) estão: ... objetividade, ... neutralidade, ... invisibilidade 
do áudio-descritor (sic). ... o profissional habilitado para prestar o serviço ou outro indivíduo que 
queira parceiramente auxiliar alguém a fazer uso da áudio-descrição (sic) precisa orientar-se pela 
premissa “descreva o que você vê”. Contudo, não é simples seguir essa regra maior, pois a percepção 
visual é algo subjetivo e que, geralmente, depende da escolha do áudio-descritor (sic), do ambiente e 
de experiências prévias, aspectos tão substantivos quanto a neutralidade, objetividade e a fidelidade ao 
que é lido pelo tradutor, seja diante de uma imagem estática ou dinâmica. (p. 10/12/16) 
 
 
6 “Adverbs can be useful when describing emotions and actions, but should not be subjective. In fact the German 
guidelines state that all the words chosen should be as impartial as possible - so that the viewer has a chance to 
make up his own decision…” 
7 “Good audio-description should be unobtrusive and neutral …”. 
 
Fica evidente que Silva et al. (2010), ao defenderem que “... o áudio-descritor (sic) ... precisa 
seguir fielmente a regra geral “Descreva o que você vê!” e que “... assume o papel de ator invisível 
...” (p. 10), devem ter-se fundamentado no documento da Audio Description Coalition e em 
Benecke (2004), respectivamente. Além de Silva et al. (2010), há, ainda no Brasil, Vilaronga (2009) 
– que, ao falar de AD no cinema, postula a favor da fidelidade ao filme por parte do audiodescritor, 
a quem fica interditado “... julgar ou interpretar o filme” (p. 1060) –, e Navarro (2012), que – ao 
tratar de AD na publicidade –, advoga por uma descrição limitada exclusivamente ao que aparece na 
imagem e desprovida de juízos de valor pessoais. Pensamos ser transparente a influência do 
documento americano nos posicionamentos dessas autoras. Quanto à primeira, a influência torna-se 
explícita quando, mais adiante, diz: “... ao invés de relatar que ‘o homem está emocionado’, cabe 
dizer que ‘o homem está chorando’, deixando que outros aspectos do filme interajam, permitindo 
fluir a subjetividade e uma compreensão e interpretação pessoal” (VILARONGA, 2009, p. 1060). 
Apesar de não tê-lo citado, Vilaronga (2009) certamente consultou também Snyder 
(2008), que, igualmente sem se distanciar, de nenhum modo, do documento americano, 
fornece as seguintes orientações de caráter prescritivo: 
... os descritores têm de resumi-la [a língua usada em uma audiodescrição] com a sigla ‘WYSIWYS’, isto é, ‘What 
You See Is What You Say’ [o que você vê é o que você diz]. O melhor audiodescritor é chamado, às vezes, de ‘lente 
de câmera verbal’, capaz de, objetivamente, recontar aspectos visuais de uma exposição ou de um programa 
audiovisual. Julgamentos qualitativos atrapalham uma boa AD dado que eles constituem uma interpretação 
subjetiva da parte do descritor e são, portanto, desnecessários e indesejáveis. Deve ser dada aos ouvintes [PcDVs] a 
oportunidade de formular suas próprias interpretações com base em um comentário que seja o mais objetivo 
possível. Expressões como ‘he is furious’ [ele está furioso] ou ‘she is upset’ [ela está chateada] devem ser evitadas a 
todo custo e substituídas por descrições como ‘he’s clenching his fist’ [ele está fechando o punho] ou ‘she is crying’ 
[ela está chorando]. A ideia é deixar os espectadores cegos fazerem os seus próprios julgamentos – talvez seus 
olhos não funcionem tão bem, mas seus cérebros e suas habilidades interpretativas são intactos.8 (p. 195-196) 
 
É certamente inquestionável que as PcDVs têm capacidade cognitiva e emotiva plena, mas é 
questionável se os audiodescritores conseguem escrever roteiros plenamente neutros. Para se 
questionar a existência empírica dessa neutralidade idealizada, um recurso analítico certamente 
eficiente, pois abrangente, é o conjunto das categorias disponibilizadas pela Teoria da 
Avaliatividade. 
3. TA 
 
8 “... describers must sum it up with the acronym ‘WYSIWYS’, i.e., ‘What You See Is What You Say’. The best 
audio describer is sometimes referred to as a ‘verbal camera lens’, able to objectively recount visual aspects of 
an exhibition or audiovisual programme. Qualitative judgments get in the way of a good AD, since they 
constitute a subjective interpretation on the part of the describer and are therefore unnecessary and unwanted. 
Listeners must be given the opportunity of conjuring their own interpretations based on a commentary that is as 
objective as possible. Expressions like ‘he is furious’ or ‘she is upset’ ought to be avoided at all costs and 
replaced by descriptions such as ‘he’s clenching his fist’ or ‘she is crying’. The idea is to let the blind audience 
make their own judgments – perhaps their eyes do not work so well, but their brains and interpretative skills are 
intact”. 
A TA – tal como proposta por James Martin, Peter White e David Rose (MARTIN, 1995, 2000, 
2002, 2004, WHITE, 2002, 2003, 2004, MARTIN; ROSE, 2007, MARTIN; WHITE, 2005) e expandida 
por Eggins e Slade (1997), Hood (2010), Bednarek (2008) e outros –, fundamenta-se, no escopo da área mais 
geral da semiótica social, na Escola de Sydney da LSF e a expande. Contudo, a proposta foi feita tendo em 
vista a análise de corpora somente em língua inglesa. Quanto à descrição da língua portuguesa brasileira da 
mesma perspectiva teórica, há as contribuições de Vian Jr. (2009) e Vian Jr., Souza e Almeida (2010), entre 
outras. 
A LSF – dado seu viés funcionalista em contraposição ao viés formalista –, não se limita 
a estudar a língua apenas do ponto de vista intralinguístico do significado (semântica), da forma 
(lexicogramática) e da expressão (fonologia e fonética-grafologia e grafética). Antes de chegar 
aos estratos intralinguísticos, a teoria hallidayana parte do estrato ainda extralinguístico dos 
contextos de cultura e de situação (social) (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014). 
A cultura é o nível de contexto abrangedor e geral, no qual o sistema linguístico em sua 
inteireza – a língua propriamente dita – está inserido. O contexto de cultura, então, abrange o 
potencial linguístico inteiro e vice-versa. Por outro lado, a situação diz respeito ao nível de contexto 
imediato e específico, no qual uma porção muito restrita do sistema linguístico – uma instância da 
língua inteira ou um texto, seja falado, escrito ou sinalizado –, está inserida. O contexto de situação 
– um construto teórico constituído pelas variáveis ‘campo’ (ação social), ‘relações’ (participantes na 
ação social, juntamente com os papeis desempenhados e as relações construídas) e ‘modo’ (função 
da língua na ação social) –, é previsível a partir do texto e vice-versa. 
Ainda por ser uma teoria funcionalista, a LSF transcende o único tipo de significado 
considerado pela semântica formalista – o representacional – e estuda outros dois tipos – o interativo e 
o textual. Cada variável do contexto de situação ativa um tipo de significado específico da semântica 
(semiose social), sendo por ele realizada. Em contrapartida, cada tipo de significado constrói e realiza 
a variável respectiva da situação.Então, o ‘campo’ ativa os significados ideacionais ou 
representacionais – subdivididos em experienciais e lógicos –, as ‘relações’, os significados 
interpessoais – subdivididos em negociação e avaliatividade –, e o ‘modo’, os significados textuais. 
Os tipos de significado são universais linguísticos resultantes dos usos comuns que todos os 
humanos fazemos das línguas em sociedade, constituindo-se nas funções da linguagem verbal ou 
metafunções. Graças à metafunção ideacional-experiencial ou reflexiva ou de conteúdo (o falante é 
observador), podemos representar – subjetiva e individualmente e, portanto, de modo ideologicamente 
situado –, nossas experiências cotidianas internas e externas e, através da metafunção ideacional-lógica, 
combinamos as representações subjetivas das experiências isoladas em complexos experienciais. Pela 
metafunção interpessoal ou ativa ou interativa (o falante é intruso), podemos trocar, com o outro, as 
nossas representações individuais já combinadas em complexos (interpessoal-negociação) e, assim, 
construir, nessa relação dialógica, a maior parte das nossas identidades ao expressar nossas 
avaliações/interpretações (interpessoal-avaliatividade)9, sem deixar de projetar possíveis identidades no 
outro em busca da construção, ou não, de solidariedade. Enfim, a metafunção textual ou instrumental ou 
viabilizadora (o falante é simultaneamente observador e intruso e, imbricado nessas duas perspectivas, 
assume também o papel de produtor de textos) nos habilita a compor textos orais, escritos ou sinalizados 
coesos e coerentes, por via dos quais interagimos com o outro sobre nossas representações experienciais 
ou, melhor dizendo, trocamos, com ele, as nossas representações experienciais (individuais/subjetivas) 
das informações e bens e serviços que circulam em cada contexto de situação da cultura. Nas trocas, as 
informações e os bens e serviços ora são dados ora são demandados (dando informação→função 
discursiva ‘declaração’; dando bens e serviços→função discursiva ‘oferta’; demandando 
informação→função discursiva ‘pergunta’; demandando bens e serviços→função discursiva 
‘comando’). 
Dando continuidade ao processo de codificação linguístico, cada tipo de significado ativa uma 
área formal específica da lexicogramática (fase sistêmica/paradigmática/de escolhas de uma semiose 
cognitiva), sendo por ela realizado. Temos, aqui também, o contraponto dialético: cada área da 
lexicogramática constrói e realiza o tipo de significado respectivo. É assim que os significados 
ideacionais-experienciais ativam e são realizados pela lexicogramática de transitividade, os significados 
ideacionais-lógicos, pela lexicogramática das relações tácticas e lógico-semânticas, os significados 
interpessoais relativos à negociação, pela lexicogramática de modo, os significados interpessoais 
relativos à avaliatividade, pela lexicogramática de modalidade (modalização ou modulação) bem como 
pelos recursos lexicogramaticais avaliativos e os significados textuais, pelas lexicogramáticas de tema e 
informação. Uma vez dentro do estrato formal, as escolhas feitas nas redes de sistemas de transitividade, 
modo e tema, para falar apenas das principais, são realizadas, na hierarquia da oração, por funções 
estruturais: a oração como representação constitui-se das funções Participante-Processo-Circunstância; a 
oração como troca, das funções Modo(Sujeito-Finito) e Resíduo(Predicador-Complemento-Adjunto 
circunstancial); a oração como mensagem, das funções Tema-Rema (fase funcional/sintagmática da 
semiose cognitiva). Por fim, cada área da lexicogramática ativa o sistema de sons ou sinais-fonologia ou 
 
9 Do meu ponto de vista, com base na minha experiência de vida a partir da primeira infância e da experiência de vida de outras tantas 
pessoas LGBTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais) que conheço e com as quais converso, não posso, sob pena de 
ser absolutamente incoerente com o que sei que sou e com o que passei a saber que essas outras pessoas são, deixar de excluir da 
construção sócio-semiótica ou sócio-discursiva das identidades humanas, a orientação sexual ou desejo erótico-afetivo (homossexual, 
pansexual, assexual, bissexual, heterossexual) e a identificação de gênero ou o reconhecimento de pertencimento de gênero (transexual, 
cissexual), as quais, para mim, são características intrínsecas constitutivas das pessoas e não identidades. São, sim, construções sócio-
discursivas as identidades de expressão externa das orientações sexuais e dos gêneros. Este é um posicionamento político-acadêmico 
pessoal. 
o sistema de letras-grafologia, sendo por eles realizada (semiose física). Mais uma vez, o contraponto 
dialético está presente: a fonologia-grafologia constrói e realiza a área lexicogramatical correspondente. 
Do ponto de vista da ativação/realização, o contexto de situação, em última instância, ativa a 
expressão fonológica-grafológica, sendo por ela realizado; logo, a língua é, predominantemente, uma 
semiose social, dependendo da estrutura social para sua existência. Do ponto de vista da 
construção/realização, a expressão fonológica-grafológica, em última instância, constrói e realiza o 
contexto de situação; logo, a estrutura social é construída linguisticamente, dependendo da língua para sua 
existência. 
Dentro desse quadro geral da LSF, o sistema de avaliatividade da TA, como já 
sinalizado acima, encontra-se no estrato da semântica, inserido, mais especificamente, na 
metafunção interpessoal. Trata-se de uma rede de sistemas de significados avaliativos. 
Uma rede de sistemas é um conjunto de sistemas inter-relacionados, cuja organização relacional se 
dá através dos níveis de delicadeza da escala de delicadeza ou refinamento/detalhamento. Um sistema, por 
sua vez, é um conjunto de termos mutuamente excludentes/não-simultâneos ou simultâneos dentre os quais 
o falante/escritor faz escolhas. Cada rede de sistemas tem uma condição de entrada inicial que estabelece 
seu ambiente/escopo e enseja que sejam feitas as escolhas dentre os termos dos sistemas no primeiro nível 
de delicadeza, os mais gerais. Para a rede de sistemas de avaliatividade, a condição de entrada inicial é 
‘avaliatividade’. Cada termo escolhido em um dado sistema pertencente a um dado nível de delicadeza 
passa a ser condição de entrada a outro sistema à direita, pertencente ao nível de delicadeza subsequente, 
cada vez mais específico ou detalhado. Foi convencionado que, enquanto os nomes de sistemas devem ser 
grafados em letras maiúsculas, os nomes dos termos de um sistema devem ser grafados em letras 
minúsculas e, quando aparecem em textos verbais, devem ser acrescentadas aspas simples. Foi também 
convencionado que termos ou sistemas que podem ser escolhidos simultaneamente devem ser envolvidos 
por chaves, enquanto termos ou sistemas que são necessariamente mutuamente excludentes devem ser 
envolvidos por colchetes (MATTHIESSEN, 1995) (cf. Figura 1). Os leitores interessados em aprofundar 
as questões envolvidas na formalização de uma rede de sistemas devem ler o segundo capítulo de Praxedes 
Filho (2007). 
A rede de sistemas de avaliatividade comporta, em um primeiro nível de delicadeza a partir da 
condição de entrada inicial ‘avaliatividade’, o sistema simultâneo TIPOS DE AVALIATIVIDADE, com 
os seguintes termos/escolhas: ‘atitude’ (os termos/escolhas do sistema simultâneo de segundo nível de 
delicadeza TIPOS DE ATITUDE são áreas de significados interpessoais através dos quais o falante-
escritor avalia/interpreta positiva ou negativamente os sentimentos), e/ou10 ‘engajamento’ (os 
termos/escolhas do sistema não-simultâneo de segundo nível de delicadeza TIPOS DE ENGAJAMENTO 
são áreasde significados interpessoais através dos quais o falante-escritor avalia/interpreta via seus 
posicionamentos sobre o que diz e via a relação entre o dizer autoral e outras vozes avaliativas presentes no 
universo da intertextualidade, tendo sido a dialogia bakhtiniana a base para a teorização a respeito dessas 
áreas) e/ou ‘gradação’ (os termos/escolhas do sistema simultâneo de segundo nível de delicadeza TIPOS 
DE GRADAÇÃO são áreas de significados interpessoais através dos quais o falante-escritor 
avalia/interpreta por amplificação ou redução do grau das avaliações atitudinais e do grau das avaliações 
pelos posicionamentos das vozes autorais e da relação entres estas e as vozes não autorais). 
O sistema TIPOS DE ATITUDE conta com os termos/escolhas ‘afeto’ (área emotiva dos 
sentimentos), e/ou ‘julgamento’ (área ética dos sentimentos) e/ou ‘apreciação’ (área estética dos 
sentimentos). O ‘afeto’ diz respeito a avaliações/interpretações sobre as emoções das pessoas 
(alegre/triste, confiante/inseguro, realizado/frustrado); o ‘julgamento’ tem a ver com 
avaliações/interpretações sobre o comportamento das pessoas, podendo envolver valores que 
comprometem o indivíduo perante o círculo de pessoas de seu convívio (determinado/preguiçoso) ou 
valores de caráter que comprometem o indivíduo perante a lei (honesto/corrupto); a ‘apreciação’ 
contempla avaliações/interpretações sobre o aspecto estético das coisas, das pessoas e dos fenômenos 
semióticos e naturais (atraente/desinteressante, harmonioso/desajeitado, inovador/ultrapassado). 
Simultaneamente ao sistema TIPOS DE ATITUDE, há, ainda no segundo nível de 
delicadeza, os sistemas não simultâneos POLARIDADE e TIPOS DE REALIZAÇÃO DE 
ATITUDE. Os termos/escolhas do primeiro são ‘positiva’ ou11 ‘negativa’ ou ‘ambígua’ 
(sentimentos não claramente positivos ou negativos)12. Os termos/escolhas do segundo são 
‘inscrita’ (explicitamente realizada) ou ‘evocada’ (implicitamente realizada). Enquanto a 
realização inscrita se dá através de itens lexicais e/ou estruturas que são declaradamente avaliativos 
(“Um menino corajoso de 5 anos salvou sua irmã de um incêndio”), a realização evocada acontece 
ou por provocação através de metáforas lexicais (menor nível de implicitude) (“Um menino de 5 
anos agiu como adulto e retirou sua irmã de um incêndio) ou por convite-sinalização através de 
avaliação de ‘gradação’ (dentre outros meios) (nível intermediário de implicitude) (“Um menino de 
5 anos tentou muito retirar sua irmã de uma incêndio”) ou por convite-propiciação através do 
conteúdo ideacional-experiencial representado na configuração Processo-Participantes-
 
10 A simultaneidade dos termos de um sistema implica no fato de que um dado trecho de texto (palavra, grupo-
frase, oração, complexo oracional ou trecho maior que o complexo oracional) pode admitir uma categorização 
múltipla. 
11 A não simultaneidade dos termos de um sistema implica que cada trecho de texto só admitirá uma única categoria. 
12 Seguindo Bednarek (2008; 2010). 
Circunstâncias (maior nível de implicitude) (“Um menino de 5 anos retirou sua irmã de um 
incêndio”). 
O sistema TIPOS DE ENGAJAMENTO comporta os termos/escolhas ‘monoglossia’ ou 
‘heteroglossia’. O primeiro tem a ver com asserções categóricas que não permitem o 
questionamento ou que não dão margem à dialogia, isto é, a ver com asserções que podem propiciar 
“... desengajamento heteroglóssico” (WHITE, 2003, p. 262) (“Está chovendo lá”); o segundo, por 
outro lado, tem a ver com o reconhecimento, por parte do falante-escritor, de que existem outras 
vozes ou pontos de vista acerca do assunto que está tratando (“Pode estar chovendo lá”). 
Por fim, o sistema simultâneo TIPOS DE GRADAÇÃO disponibiliza os termos/escolhas ‘força’ e/ou 
‘foco’, os quais se combinam, também no segundo nível de delicadeza, com os termos/escolhas do sistema não 
simultâneo DIREÇÃO DA GRADAÇÃO, cujos termos são: ‘aumento’ ou ‘diminuição’. Através da escolha do 
termo ‘força’, o falante-escritor ajusta as avaliações/interpretações quanto à sua intensidade (muito corajoso - andar 
vagarosamente – pouco provável) ou quantidade (vários alunos - alto/baixo - próximo/distante - recente/antigo). 
O domínio natural de operação da gradação de intensidade/quantidade são as categorias que envolvem avaliações 
inerentemente escalares – por exemplo, as avaliações atitudinais … (graduáveis ao longo de um contínuo positividade-
negatividade), mas também avaliações de tamanho, vigor, extensão, proximidade etc.13 (MARTIN; WHITE, 2005, p. 137) 
 
O sistema TIPOS DE FORÇA é simultâneo, no terceiro nível de delicadeza, ao sistema não simultâneo TIPOS 
DE REALIZAÇÃO DE FORÇA, cujos termos/escolhas são ‘isolada’ (a gradação de força “... é realizada 
[lexicogramaticalmente] por um item isolado, individual ...”14 (MARTIN; WHITE, 2005, p. 141) – muito feliz) ou 
‘fusionada’ (a gradação de força “... é fusionada a um significado que tem alguma outra função semântica.... não há 
nenhuma forma lexical separada que expresse o senso de aumento ou diminuição [de força]. Ao invés, o aumento ou a 
diminuição é expressa por apenas um aspecto do significado de um único termo”15 (p. 141/143) – exultante = muito 
feliz). 
Voltando ao sistema TIPOS DE GRADAÇÃO, ao escolher o termo ‘foco’, o 
falante-escritor aumenta ou diminui suas avaliações gradacionais quanto ao traço de 
... prototipicalidade e à precisão pela qual as fronteiras de uma categoria são definidas.... A gradação 
de prototipicalidade opera na medida em que os fenômenos são graduados em relação a até que ponto 
eles se equiparam ao que se possa chamar de parte central de uma categoria semântica ou a uma 
instância exemplar dessa categoria. Via expressões como true, real, genuine (ie He’s a true friend), o 
fenômeno é avaliado como prototípico e via expressões como kind of, of sorts, effectively, bordering 
on, and the suffix –ish (ie It was an apology of sorts, we’ll be there at five o-clock-ish), o fenômeno é 
avaliado como localizado nas margens externas da categoria.16 (grifo no texto fonte) (MARTIN; 
WHITE, 2005, p. 137) 
 
13 “Graduation according to intensity/amount has its natural domain of operation over categories which involve inherently scalar assessments – for 
example the attitudinal assessments … (gradable along clines of positivity/negativity) but also assessments of size, vigour, extent, proximity, and so 
on”. 
14 “... is realised by an isolated, individual item ...” 
15 “… is fused with a meaning which serves some other semantic function…. there is no separate lexical form conveying the 
sense of up-scaling or down-scaling. Rather the scaling is conveyed as but one aspect of the meaning of a single term”. 
16 “... prototypicality and the preciseness by which category boundaries are drawn…. Graduation according to prototypicality operates as 
phenomena are scaled by reference to the degree to which they match some supposed core or exemplary instance of a semantic category. Via 
 
Na Figura 1, sistematizamos o que acabamos de descrever a respeito da rede de sistemas de avaliatividade 
até o segundo nível de delicadeza. A descrição se limitou a esse nível, pois – como explicitaremos mais 
detalhadamente na Seção 4 –, fazer um percurso analítico até esse nível é suficiente tendo em vista a consecução dos 
objetivos específicos e o respondimento às perguntas de pesquisa (cf. APÊNDICE para uma figura com a rede 
completa). A fim de chegar às figuras, apoiamo-nos em uma semelhante – a Figure 2.5 –, em Martin e Rose (2007, p. 
59), no Appraisal Toolkit (NAVARRO, 2012 – versão 12.04), em uma figura em Macken-Horarik (2004, p. 22) e 
em Bednarek (2008; 2010). 
 
Como antecipadoacima, as chaves indicam simultaneidade ou uma relação de conjunção entre 
sistemas ou termos: ‘e’. Os colchetes, por sua vez, representam não simultaneidade ou uma relação de 
disjunção entre sistemas ou termos: ‘ou’. Aproveitamos para aumentar o ‘nível de delicadeza’ da informação: 
ao combinarmos a relação de conjunção com sistemas, a simultaneidade é obrigatória e só ela é possível (é 
essa a relação que se estabelece entre os sistemas TIPOS DE ATITUDE, POLARIDADE e TIPOS DE 
REALIZAÇÃO DE ATITUDE; entre os sistemas TIPOS DE GRADAÇÃO e DIREÇÃO DA 
GRADAÇÃO; bem como entre os sistemas TIPOS DE FORÇA e TIPOS DE REALIZAÇÃO DE 
FORÇA); quando, no entanto, a combinação da relação de conjunção é com termos, o que só ocorre em 
redes de sistemas semânticos, a simultaneidade é apenas possível e acompanha-se sempre da não 
simultaneidade ou disjunção, daí o falante-escritor poder avaliar via ‘afeto’ e/ou ‘julgamento’ e/ou 
‘apreciação’, por exemplo. 
Passamos, agora, aos aspectos empíricos da pesquisa. 
4. Desenho metodológico 
4.1 Corpus 
 
locutions such as true, real, genuine (ie He’s a true friend) the phenomenon is assessed as prototypical and via locutions such as kind of, of sorts, 
effectively, bordering on, and the suffix -ish (ie It was an apology of sorts, we’ll be there at five o-clock-ish) the phenomenon is assessed as lying on the 
outer margins of the category”. Em português: um amigo de verdade - uma espécie de amigo, luz azulada. 
Foi descrito, na parte da pesquisa relatada neste capítulo, um corpus constituído por roteiros de AD 
de pinturas escritos em português brasileiro (CORPUS 1). Um ponto a considerar sobre o critério de 
escolha do produto audiovisual é que uma investigação acerca da AD de pinturas poderia complementar os 
estudos de Oliveira Júnior (2011) e de Magalhães e Araújo (2012) tal como informamos na ‘Introdução’. 
O CORPUS 1 resultou constituído, então, por seis roteiros de AD de pinturas em português 
brasileiro, publicados no periódico online ‘Revista Brasileira de Tradução Visual’ (ISSN - 2176-9656 / 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/index) e produzidos sob a prescrição de 
neutralidade conforme informação fornecida pelo periódico. As pinturas, escolhidas aleatoriamente, foram: 
1) ‘A Refeição do Homem Cego’ de Pablo Picasso (v. 6, n. 6, 2011 / disponível em 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/7/showToc); 2) ‘Favela’ de 
Orlando Teruz (v. 7, n. 7, 2011 / disponível em 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/8/showToc); 3) ‘Sem Título’ 
da série ‘Olhos que não Querem Ver’ de Alexandre Silva dos Santos Filho (v. 3, n. 3, 2010 / disponível em 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/4/showToc); 4) tela de Esref 
Armagan (v. 8, n. 8, 2011 / disponível em 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/9/showToc); 5) ‘O Violeiro’ 
de José Ferraz de Almeida Júnior (v. 2, n. 2, 2010 / disponível em 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/3/showToc); 6) ‘Duas 
Mulheres Correndo na Praia’ de Pablo Picasso (v. 6, n. 6, 2011 / disponível em 
http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/issue/view/7/showToc). Todos os 
roteiros foram acessados em 16/10/2011 e totalizam 1.389 palavras. 
4.2 Procedimentos de categorização de dados e critérios de análise 
Cada roteiro foi categorizado isoladamente. A categorização se deu nas hierarquias da 
palavra (Há léxico avaliativo?), dos grupos-frases e das orações (Há estruturas avaliativas?) e se deu 
também entre orações (Há trechos de texto avaliativos? Há avaliações evocadas ou implícitas?). 
Para que a Pergunta 1 fosse respondida (presença/ausência de neutralidade referente aos sentimentos 
elicitados), as categorias de análise foram: o primeiro termo/escolha disponibilizado pelo sistema TIPOS DE 
AVALIATIVIDADE – ‘atitude’ – e os termos/escolhas disponibilizados pelo sistema TIPOS DE 
ATITUDE – sentimentos emotivos→‘afeto’; sentimentos éticos→‘julgamento’; sentimentos 
estéticos→‘apreciação’. 
As categorias usadas com o propósito de que a Pergunta 2 fosse respondida (presença/ausência de 
neutralidade referente aos posicionamentos autorais em diálogo com outros) foram: o segundo termo/escolha 
disponibilizado pelo sistema TIPOS DE AVALIATIVIDADE – ‘engajamento’ – e os termos/escolhas 
disponibilizados pelo sistema TIPOS DE ENGAJAMENTO – posicionamentos assertivos→‘monoglossia’; 
posicionamentos dialógicos→‘heteroglossia’. Contudo, decidimos, a princípio, não categorizar nenhum 
posicionamento assertivo (asserção categórica) como ‘monoglossia’ a fim de evitar uma análise tendenciosa 
para o lado da ausência de neutralidade: como todo texto contém proposições (declarativas e perguntas) mais 
ou menos modalizadas e/ou propostas (ofertas e comandos) mais ou menos moduladas, tendo sempre, no 
entanto, também proposições não modalizadas e/ou propostas não moduladas, se considerássemos todas as 
asserções categóricas como ‘monoglossia’, já de partida, todos os roteiros iriam ser inevitavelmente 
avaliativos/interpretativos. Além desse argumento, não evitar atribuir o termo/escolha ‘monoglossia’ a 
qualquer asserção categórica significa negar a proposta bakhtiniana de que a língua é eminentemente 
dialógica, pressuposto no qual se apoia a TA quanto à área de significados avaliativos de ‘engajamento’. 
Quanto à Pergunta 3 (presença/ausência de neutralidade referente à amplificação ou redução 
do grau dos sentimentos elicitados e dos posicionamentos), sua resposta seria viabilizada, caso a 
resposta à Pergunta 1 ou à Pergunta 2 fosse ‘presença’, através da utilização da categoria relativa ao 
terceiro termo/escolha disponibilizado pelo sistema TIPOS DE AVALIATIVIDADE – ‘gradação’ 
– e das categorias relativas aos termos/escolhas disponibilizados pelo sistema TIPOS DE 
GRADAÇÃO – graus de quantidade e intensidade→‘força’; graus de prototipicalidade e 
precisão→‘foco’. 
Como pode ser constatado, a categorização avança somente até o segundo nível de delicadeza, o 
que é suficiente dado que as três perguntas indagam a respeito apenas da presença/ausência de 
neutralidade. Para que os roteiros sejam considerados neutros, é necessário que a resposta às Perguntas 
1-3 indique, simultaneamente, a presença de neutralidade dos pontos de vista da ‘atitude’, do 
‘engajamento’ e da ‘gradação’. Para que sejam considerados avaliativos/interpretativos ou não neutros, é 
suficiente que a resposta a só uma das três perguntas indique a ausência de neutralidade do ponto de vista 
ou da ‘atitude’ (é suficiente haver ou ‘afeto’ ou ‘julgamento’ ou ‘apreciação’) ou do ‘engajamento’ (é 
suficiente haver ou ‘monoglossia’ ou ‘heteroglossia’) ou da ‘gradação’ (é suficiente haver ou ‘força’ ou 
‘foco’). 
A categorização, no entanto, nós a fizemos até o último nível de delicadeza para as três áreas de 
significados avaliativos. Assim procedemos já pensando na reutilização do mesmo corpus em pesquisa na 
qual estudemos o estilo interpretativo-estilo avaliativo dos roteiros, dado que são TTs pertencentes ao mesmo 
registro ‘roteiro de AD de pintura em português brasileiro’ e escritos por audiodescritores-tradutores 
diferentes (caso fosse um corpus composto por TTs pertencentes ao mesmo registro ‘roteiro de AD de pintura 
em português brasileiro’ e escritos pelo mesmo tradutor, poderíamos estudar o estilo interpretativo-assinatura 
avaliativa do audiodescritor). Para tal, é indispensável que o analista chegue ao padrãoavaliativo total dos 
textos do corpus, o que requer uma categorização até o último nível de delicadeza. Para outras possibilidades 
de pesquisa na interface entre os Estudos de Tradução e a TA, convidamos os leitores a consultar Munday 
(2012). 
Dado que a investigação ora apresentada é de cunho descritivo e quantitativo, foi feito um 
levantamento dos números absolutos das ocorrências das categorias, quando presentes, de 
‘atitude’, ‘engajamento’ e ‘gradação’ até o segundo nível de delicadeza. Os números absolutos 
foram transformados em Índices de Frequência Simples (IFSs) e, posteriormente, em percentuais. 
Um IFS é o número de ocorrências de um dado traço linguístico por cada 1.000 
palavras de texto, que é o número de ocorrências do traço dividido pelo total de palavras de 
cada roteiro, com o resultado multiplicado por 1.000. Esse é um recurso estatístico para se 
neutralizar o fato de que os roteiros têm números de palavras corridas diferentes. 
Após concluídas a categorização e as análises quantitativas, os resultados foram discutidos 
para que pudessem ser interpretados. É na seção a seguir que apresentamos os resultados e os 
discutimos. 
5 Resultados e discussão 
As Tabelas 1 e 2 mostram os resultados quantitativos por roteiro e gerais, 
respectivamente, da ocorrência das categorias avaliativas quanto ao primeiro nível de 
delicadeza para o Corpus 1. 
 TIPOS DE AVALIATIVIDADE ‘atitude’ ‘engajamento’ ‘gradação’ 
IFS percentual IFS percentual IFS percentual 
Roteiro1 35,0 27,8% 0,0 0,0% 90,9 72,2% 
Roteiro 2 65,9 21,4% 0,0 0,0% 241,8 78,6% 
Roteiro 3 13,9 15,5% 17,9 20,0% 57,8 64,5% 
Roteiro 4 11,3 8,7% 0,0 0,0% 118,6 91,3% 
Roteiro 5 46,4 37,5% 15,5 12,5% 61,8 50,0% 
Roteiro 6 35,5 22,7% 14,2 9,1% 106,4 68,2% 
Tabela 1: IFSs e percentuais de ocorrência das categorias avaliativas até o primeiro nível de 
delicadeza no Corpus 1 por roteiro. 
A Tabela 1 evidencia que os audiodescritores que escreveram os roteiros de AD, em português 
brasileiro, das pinturas listadas como Corpus 1 na Subseção 4.1 não foram neutros, tendo sido, por conseguinte, 
avaliativos/interpretativos. E o foram do ponto de vista de cada uma das três grandes áreas de significados 
avaliativos, isto é, do ponto de vista de cada termo/escolha do sistema TIPOS DE AVALIATIVIDADE: nos 
seis roteiros, há ocorrências de avaliações/interpretações de ‘atitude’, com o percentual variando entre 8,7% 
(Roteiro 4) e 37,5% (Roteiro 5); há ocorrências de avaliações/interpretações de ‘engajamento’, com o percentual 
variando entre 0,0% (Roteiros 1, 2 e 4) e 20,0% (Roteiro 3); há ocorrências de avaliações/interpretações de 
‘gradação’, com o percentual variando entre 50,0% (Roteiro 5) e 91,3% (Roteiro 4). 
Em conformidade com os critérios de análise apriorísticos (cf. Subseção 4.2), o fato de o percentual 
de ocorrência de ‘engajamento’ ter sido 0,0% nos Roteiros 1, 2 e 4 não significa que os respectivos 
audiodescritores tenham sido neutros, pois, apesar de não terem avaliado/interpretado por ‘engajamento’, eles 
o fizeram tanto por ‘atitude’ quanto por ‘gradação’. A avaliação/interpretação por ‘atitude’ ultrapassou 20,0% 
nos Roteiros 1 e 2, os quais tiveram mais que 70,0% de avaliação/interpretação por ‘gradação’. No que tange 
ao Roteiro 4, seu audiodescritor foi o que menos avaliou/interpretou por ‘atitude’ (8,7%), mas, em 
contrapartida, foi o que mais avaliou/interpretou por ‘gradação’ (91,3%). Pelos critérios apriorísticos, então, o 
que é relevante são os resultados gerais concernentes ao Corpus 1, tal como mostrados na Tabela 2. 
 TIPOS DE AVALIATIVIDADE ‘atitude’ ‘engajamento’ ‘gradação’ 
IFS percentual IFS percentual IFS percentual 
Corpus1 28,1 21,4% 11,5 8,8% 91,4 69,8% 
Tabela 2: IFSs e percentuais gerais de ocorrência das categorias avaliativas até o primeiro 
nível de delicadeza no Corpus 1. 
Pela Tabela 2, os roteiros que compõem o Corpus 1 são avaliativos/interpretativos se tomados 
todos em conjunto. O corpus, como um todo, chegou a 21,4%, 8,8% e 69,8% de 
avaliações/interpretações por ‘atitude’, ‘engajamento’ e ‘gradação, respectivamente. Portanto, já é 
possível adiantar que, no que diz respeito ao corpus da parte da pesquisa em foco, os roteiros de AD de 
pinturas em português brasileiro não são caracterizados pela presença de neutralidade, mas pela presença 
de avaliação/interpretação. A seguir, passamos a detalhar os resultados por pergunta de pesquisa. 
5.1.1 Pergunta 1 
Relembramos o leitor de que, na primeira pergunta, levantamos a questão de se os 
roteiros são caracterizados pela presença/ausência de neutralidade referente aos sentimentos 
elicitados pelas pinturas nos audiodescritores. 
Como visto, os sentimentos são tratados na TA no âmbito do sistema de segundo nível de 
delicadeza TIPOS DE ATITUDE. As Tabelas 3 e 4 explicitam os resultados quantitativos por 
roteiro e gerais, respectivamente, relativos aos termos/escolhas ‘afeto’, ‘julgamento’ e ‘apreciação. 
 TIPOS DE ATITUDE ‘afeto’ ‘julgamento’ ‘apreciação’ 
 IFS percentual IFS percentual IFS percentual 
Roteiro 1 7,0 5,6% 0,0 0,0% 28,0 22,2% 
Roteiro 2 11,0 3,6% 0,0 0,0% 54,9 17,8% 
Roteiro 3 0,0 0,0% 2,0 2,2% 11,9 13,3% 
Roteiro 4 0,0 0,0% 0,0 0,0% 11,3 8,7% 
Roteiro 5 5,2 4,2% 0,0 0,0% 41,2 33,3% 
Roteiro 6 7,1 4,5% 7,1 4,5% 21,3 13,7% 
Tabela 3: IFSs e percentuais de ocorrência dos TIPOS DE ATITUDE no Corpus 1 por roteiro 
A Tabela 3 mostra que só há ausência de neutralidade relativamente aos três termos/escolhas atitudinais 
concomitantemente quanto ao Roteiro 6, com 4,5% de ‘afeto’, 4,5% de ‘julgamento’ e 13,7% de ‘apreciação’. Os 
autores dos Roteiros 1, 2 e 5 foram neutros do ponto de vista do ‘julgamento’, mas avaliaram/interpretaram dos pontos 
de vista do ‘afeto’ (5,6%, 3,6% e 4,2%, respectivamente) e da ‘apreciação’ (22,2%, 17,8% e 33,3%, respectivamente). 
Em contrapartida, o autor do Roteiro 3 foi neutro do ponto de vista do ‘afeto’, mas avaliou/interpretou dos pontos de 
vista do ‘julgamento’ (2,2%) e da ‘apreciação’ (13,3%). Por fim, o Roteiro 4 é neutro tanto para ‘afeto’ quanto para 
‘julgamento’, sendo avaliativo/interpretativo apenas relativamente à ‘apreciação’ (8,7%). 
À primeira vista, pode parecer que, no escopo do Corpus 1, a resposta à Pergunta 1 é ambivalente. 
Como a questão principal gira em torno da presença/ausência de neutralidade em geral, o critério de análise 
aprioristicamente estabelecido não poderia ter sido outro que não a indicação de consideração suficiente de 
ausência de neutralidade pela presença de pelo menos um dos termos/escolhas avaliativos/interpretativos 
no sistema de primeiro nível de delicadeza ou nos sistemas de segundo nível de delicadeza. Portanto, não 
havendo nenhum roteiro em desacordo com o critério – o quarto não contém ‘afeto’ e ‘julgamento’, mas 
sua quantidade de ‘apreciação’ é maior que 0,0% –, podemos dizer que os roteiros do Corpus 1 se 
caracterizam pela ausência de neutralidade referente aos sentimentos elicitados pelas pinturas nos 
audiodescritores. Essa resposta mostrar-se-á consolidada mais efetivamente através dos resultados gerais 
dispostos na Tabela 4. 
 TIPOS DE ATITUDE ‘afeto’ ‘julgamento’ ‘apreciação’ 
 IFS percentual IFS percentual IFS percentual 
Corpus 1 3,6 2,7% 2,2 1,7% 22,3 17,0% 
Tabela 4: IFSs e percentuais gerais de ocorrência dos TIPOS DE ATITUDE no Corpus 1 
As avaliações/interpretações atitudinais de ‘afeto’ (2,7%) e ‘julgamento’ (1,7%) aparecem, 
mesmo que sutilmente, no Corpus 1 e acompanham uma ocorrência mais expressiva (17,0%) de 
‘apreciação’. Essa presença geral concomitante dos três termos/escolhas do sistema TIPOS DE 
ATITUDE vai além do mínimo necessário para que a resposta à Pergunta 1 reste consolidada. 
O Quadro 1 traz excertos de roteiros que exemplificam as ocorrênciasde avaliações 
atitudinais. 
PINTURA EXCERTO DO ROTEIRO CATEGORIA 
2) ‘Favela’ Ao centro da tela uma porção de casas, onde incide luz suave. 
‘atitude’ – ‘afeto’-
evocado-propiciado 
5) ‘O Violeiro’ Sentado no batente de uma janela de uma casa de sapê um homem branco toca viola. 
‘atitude’ – ‘afeto’-
evocado-propiciado 
3) ‘Sem Título’ – série ‘Olhos 
que não Querem Ver’ Alixa ... demonstra uma poética visual ... 
‘atitude’ – 
‘julgamento’-inscrito 
6) ‘Duas Mulheres Correndo na 
Praia’ 
A cabeça da mulher é pequena, desproporcional 
ao pescoço largo e ao corpo. 
‘atitude’ – 
‘julgamento’-evocado-
propiciado (avaliando o 
pintor Pablo Picasso) 
5) ‘O Violeiro’ Sentado no batente de uma janela de uma casa de sapê um homem branco toca viola. 
‘atitude’ – 
‘apreciação’-inscrita 
4) ‘Tela de Esref Armagan’ No primeiro plano, à esquerda, de uma colina verde, desce uma pequena cascata de águas azuis ... 
‘atitude’ – 
‘apreciação’-inscrita 
Quadro 1: Exemplos de avaliações de ‘atitude’ nos roteiros do Corpus 1. 
Categorizamos os trechos em negrito dos excertos nas Linhas 1 e 2 como 
avaliações/interpretações de ‘atitude’–‘afeto’, mas ambas, a nosso ver, encontram-se implícitas no 
conteúdo ideacional-experiencial das proposições. Quanto aos trechos em negrito dos excertos nas 
Linhas 3 e 4, nós os categorizamos como avaliações/interpretações de ‘atitude’–‘julgamento’, tendo 
sido a primeira realizada lexicogramaticalmente de maneira explícita e a segunda, de maneira 
implícita também através do conteúdo ideacional-experiencial da proposição segundo o nosso ponto 
de vista analítico. Por fim, os trechos em negrito dos excertos nas Linhas 5 e 6, nós os categorizamos 
como avaliações/interpretações de ‘atitude’–‘apreciação’, tendo ambas sido realizadas explicitamente. 
5.1.2 Pergunta 2 
Retomamos que, na segunda pergunta, a questão levantada foi se os roteiros são 
caracterizados pela presença/ausência de neutralidade referente aos posicionamentos dos 
audiodescritores sobre o que disseram a respeito das pinturas e à relação desses dizeres 
autorais com outras vozes presentes no universo da intertextualidade. 
Tal como resenhado na Seção 3, as avaliações/interpretações via dialogia envolvendo a voz 
autoral e outras vozes são abordadas na TA no domínio do sistema de segundo nível de delicadeza 
TIPOS DE ENGAJAMENTO. As Tabelas 5 e 6 sistematizam os resultados quantitativos por roteiro 
e gerais, respectivamente, relativos aos termos/escolhas ‘monoglossia’ e ‘heteroglossia. 
 
TIPOS DE ENGAJAMENTO 
‘monoglossia’ ‘heteroglossia’ 
IFS Percentual IFS percentual 
Roteiro 1 0,0 0,0% 0,0 0,0% 
Roteiro 2 0,0 0,0% 0,0 0,0% 
Roteiro 3 0,0 0,0% 17,9 20,0% 
Roteiro 4 0,0 0,0% 0,0 0,0% 
Roteiro 5 10,3 8,3% 5,2 4,2% 
Roteiro 6 14,2 9,1% 0,0 0,0% 
Tabela 5: IFSs e percentuais de ocorrência dos TIPOS DE ENGAJAMENTO no Corpus 1 por roteiro 
Antes de comentar a tabela, é necessário que esclareçamos uma decisão metodológica que 
tomamos durante a fase de categorização dos dados. Ao categorizar primeiramente os dados relativos aos 
roteiros em inglês americano (Corpus 2), surpreendemo-nos com o fato de não termos encontrado nenhum 
trecho que se encaixasse, de modo inequívoco levando em conta a nossa decisão primeira de não 
categorizar todas as asserções categóricas como monoglóssicas, no termo/escolha ‘monoglossia’ como 
categoria. Durante a categorização dos dados referentes aos roteiros em português brasileiro (Corpus 1), 
deparamo-nos com asserções categóricas nas seguintes situações não encontradas no outro corpus: 1) 
descrição não modalizada de dado aspecto de uma pintura em desacordo com o referido aspecto tal como 
aparece na pintura (desvio descritivo categórico); 2) descrição não modalizada de dado aspecto de uma 
pintura por extrapolação da caracterização do referido aspecto tal como o pintor a construiu (inferência 
descritiva categórica). Logo, decidimos que, em se tratando do registro mais amplo ‘roteiro de AD’, a 
categoria ‘monoglossia’ só seria usada para desvios descritivos categóricos e inferências descritivas 
categóricas. 
A Tabela 5 evidencia que há ausência de neutralidade quanto aos dois termos/escolhas do sistema 
TIPOS DE ENGAJAMENTO considerados concomitantemente em se tratando, exclusivamente, do 
Roteiro 5, com 8,3% de ‘monoglossia’ e 4,2% de ‘heteroglossia’. No que concerne os outros roteiros, 
enquanto os autores do terceiro e do sexto avaliaram/interpretaram apenas por ‘heteroglossia’ (20,0%) e 
‘monoglossia’ (9,1%) – respectivamente, os autores do primeiro, segundo e quarto não 
avaliaram/interpretaram do ponto de vista do ‘engajamento’ (0,0% de ‘monoglossia’ e heteroglossia). 
Por conseguinte, a resposta à Pergunta 2 é, de fato, ambivalente, levando-se em conta o critério 
apriorístico de análise. Metade dos roteiros (1, 2 e 4) se caracteriza pela presença de neutralidade referente 
aos posicionamentos dos audiodescritores sobre o que disseram a respeito das pinturas e à relação desses 
dizeres autorais com outras vozes e a outra metade (3, 5 e 6) se caracteriza pela ausência de neutralidade 
quando considerada dessa perspectiva. Se, por outro lado, considerarmos o Corpus 1 como um todo, a 
Tabela 6 demonstra que, desse ponto de vista, o que prevalece é a ausência de neutralidade. 
 
TIPOS DE ENGAJAMENTO 
‘monoglossia’ ‘heteroglossia’ 
IFS Percentual IFS percentual 
Corpus 1 4,3 3,3% 7,2 5,5% 
Tabela 6: IFSs e percentuais gerais de ocorrência dos TIPOS DE ENGAJAMENTO no Corpus 1 
Como demonstrado, as avaliações/interpretações de ‘monoglossia’ e ‘heteroglossia’ 
apareceram em frequência maior que 0,0% – 3,3% e 5,5%, respectivamente. Esses resultados 
indicam que prevaleceu, no corpus em português brasileiro, a ausência de neutralidade para os 
termos/escolhas do sistema TIPOS DE ENGAJAMENTO. 
O Quadro 2 contém exemplos das ocorrências de avaliações de ‘engajamento’. O 
termo/escolha ‘monoglossia’ se realizou em seis excertos de dois dos roteiros – ‘O Violeiro’ e 
‘Duas Mulheres Correndo na Praia’ –, e todos encontram-se apresentados e explicados no quadro. 
PINTURA EXCERTO DO ROTEIRO CATEGORIA 
5) ‘O Violeiro’ Sentado no batente de uma janela de uma casa de sapê um homem branco toca viola. 
‘engajamento’ – 
‘monoglossia’ 
(inferência descritiva 
categórica – o pintor 
representou a casa 
como sendo de pau-a-
pique, mas não pintou 
seu telhado, o que 
impede saber tratar-se 
de uma casa de sapê) 
5) ‘O Violeiro’ Do batente para cima a parede está rebocada e pintada com cor amarela. 
‘engajamento’ – 
‘monoglossia’ 
(desvio descritivo 
categórico – a parede 
tem áreas sem reboco 
do batente para cima) 
6) ‘Duas Mulheres Correndo na 
Praia’ 
Elas usam vestido claro, na altura do joelho. 
‘engajamento’ – 
‘monoglossia’ 
(desvio descritivo 
categórico – elas 
usam saia e blusa) 
6) ‘Duas Mulheres Correndo na 
Praia’ 
Com o braço esquerdo erguido ela segura a mão da 
mulher à direita; o braço direito aberto, estende-se à 
altura da cintura, com a mão espalmada para 
baixo. 
‘engajamento’ – 
‘monoglossia’ (desvio 
descritivo categórico – 
a mão está espalmada 
para a frente) 
6) ‘Duas Mulheres Correndo na 
Praia’ 
Ela é gorda, o rosto está de perfil, sobre o pescoço 
longo e grosso. 
‘engajamento’ – 
‘monoglossia’ (desvio 
descritivo categórico 
– o rosto está quase 
completamente virado 
para o outro lado) 
6) ‘Duas Mulheres Correndo na 
Praia’ 
Ao fundo, o azul do mar calmo se une ao azul do 
céu com nuvens carneiras. 
‘engajamento’ – 
‘monoglossia’ 
(inferência descritiva 
categórica – o modo 
como o pintor 
representou o mar não 
permite que se diga que 
está calmo ou agitado) 
3) ‘Sem Título’ – série ‘Olhos 
que não Querem Ver’O homem tem a pele do corpo na tonalidade marrom, 
enquanto a cor de sua face é de tom amarelo. 
‘engajamento’ – 
‘heteroglossia’ 
3) ‘Sem Título’ – série ‘Olhos 
que não Querem Ver’ 
A boca está aberta, deixando à mostra lábios finos e 
marrons que desenham uma imagem semelhante a 
um losango, preenchido interiormente pela cor preta. 
‘engajamento’ – 
‘heteroglossia’ 
Quadro 2: Exemplos de avaliações de ‘engajamento’ nos roteiros do Corpus 1. 
Os trechos em negrito dos excertos dos Roteiros 5 e 6, nós os categorizamos como 
avaliações/interpretações de ‘engajamento’ do tipo ‘monoglossia’. Atribuímos, ao que está em 
negrito nos excertos do Roteiro 3, as categorias ‘engajamento’ e ‘heteroglossia’. 
5.1.3 Pergunta 3 
Na terceira pergunta, registramos aqui novamente que questionamos se os roteiros são 
caracterizados pela presença/ausência de neutralidade referente à amplificação ou redução do grau 
tanto dos sentimentos elicitados pelas pinturas (se presentes) quanto dos posicionamentos das vozes 
autorais e da relação entres estas e as vozes não autorais (se presentes). Constatamos e já 
demonstramos que tanto os sentimentos quanto os posicionamentos dialógicos estão presentes nos 
roteiros, o que nos habilita a demonstrar se esses sentimentos e posicionamentos são amplificados-
reduzidos. 
Na Seção 3, informamos que as avaliações/interpretações concernentes à 
amplificação-redução do grau dos sentimentos e dos posicionamentos dialógicos são 
contempladas pelo sistema de segundo nível de delicadeza TIPOS DE GRADAÇÃO da rede 
de sistemas de avaliatividade da TA. As Tabelas 7 e 8 explicitam os resultados quantitativos 
por roteiro e gerais, respectivamente, relativos aos termos/escolhas ‘força’ e ‘foco’. 
 
TIPOS DE GRADAÇÃO 
‘força’ ‘foco’ 
IFS Percentual IFS percentual 
Roteiro 1 76,9 61,1% 14,0 11,1% 
Roteiro 2 241,8 78,6% 0,0 0,0% 
Roteiro 3 39,9 44,5% 17,9 20,0% 
Roteiro 4 101,7 78,3% 16,9 13,0% 
Roteiro 5 51,5 41,7% 10,3 8,3% 
Roteiro 6 106,4 68,2% 0,0 0,0% 
Tabela 7: IFSs e percentuais de ocorrência dos TIPOS DE GRADAÇÃO no Corpus 1 por roteiro 
A Tabela 7 indica que há ausência concomitante de neutralidade para as duas áreas de 
significados gradacionais quanto aos Roteiros 1 (‘força’→61,1% / ‘foco’→11,1%), 3 (‘força’→44,5% 
/ ‘foco’→20,0%), 4 (‘força’→78,3% / ‘foco’→13,0%) e 5 (‘força’→41,7% / ‘foco’→8,3%). Em 
relação aos Roteiros 2 e 6, a ausência de neutralidade só se aplica em relação à ‘gradação’ por ‘força’, 
com frequências de ocorrência na ordem de 78,6% e 68,2%, respectivamente. Contudo, vale notar 
que, apesar de os autores desses roteiros não terem graduado suas avaliações por ‘foco’, foram eles 
que as graduaram for ‘força’ com a primeira e terceira maiores frequências de ocorrência. 
Pelo critério apriorístico de indicação de ausência de neutralidade, há avaliação/interpretação gradacional em 
todos os roteiros que compõem o Corpus 1. Por conseguinte, a resposta à Pergunta 3 é que, indubitavelmente, esses 
roteiros se caracterizam pela ausência de neutralidade referente à amplificação ou redução do grau dos sentimentos 
elicitados pelas pinturas e dos posicionamentos das vozes autorais e da relação entres estas e as vozes não autorais. A 
certeza da resposta, em todo caso, será mais definitivamente confirmada através dos resultados gerais na Tabela 8. 
 
TIPOS DE GRADAÇÃO 
‘força’ ‘foco’ 
IFS Percentual IFS percentual 
Corpus 1 79,9 61,0% 11,5 8,8% 
Tabela 8: IFSs e percentuais gerais de ocorrência dos TIPOS DE GRADAÇÃO no Corpus 1 
Como podemos constatar, não é apenas a avaliação de ‘força’ que ocorre em frequência maior que 
0,0%: 61,0%; a avaliação de ‘foco’, apesar de mais moderadamente, apresenta o mesmo comportamento, 
tendo se distanciado da ausência total de ocorrência em 8,8%. Esses resultados confirmam que, no Corpus 
1 tomado como um todo, há interpretação por ambos os tipos de avaliação gradacional. 
Ocorrências de ‘força’ e ‘foco’ nos roteiros encontram-se ilustradas no Quadro 3. 
PINTURA EXCERTO DO ROTEIRO CATEGORIA 
1) ‘A Refeição do Homem Cego’ 
Um homem branco, magro[força], alto[força], com 
cabelos lisos e curtos[força], usando uma boina, e vestindo 
camisa de mangas compridas[força] em tons azul ... 
‘gradação’ – ‘foco’ 
2) ‘Favela’ 
Morro marrom escuro com várias casas quadradas, 
pequenas, marrom-claras, de porta única, marrom 
escura. 
‘gradação’ – ‘força’ 
3) ‘Sem Título’ – série ‘Olhos 
que não Querem Ver’ 
O homem apresenta um cabelo de corte 
arredondado (característico dos índios caiapós), 
pintado com tinta avermelhada, com variações de 
tons marrom e preto tracejando fios de cabelos. 
‘gradação’ – ‘foco’ 
4) ‘Tela de Esref Armagan’ 
A tela, pintada a óleo, retrata uma paisagem com 
montanhas, vegetação e queda d’água, sob o céu azul. No 
primeiro plano, à esquerda, de uma colina verde, desce uma 
pequena cascata de águas azuis, que se transforma em uma 
espuma branca ao tocar o rio, que corre para a direita, ao pé 
da colina. 
‘gradação’ – ‘força’ 
5) ‘O Violeiro’ Do batente para baixo vê-se estrutura de barro e madeira comum as casas de pau-a-pique. ‘gradação’ – ‘foco’ 
6) ‘Duas Mulheres Correndo na 
Praia’ 
Ao centro do quadro, duas mulheres brancas, jovens, 
de cabelos escuros, pernas grossas e de pés descalços 
correm na praia, com as mãos dadas acima da cabeça. 
‘gradação’ – ‘força’ 
Quadro 3: Exemplos de avaliações de ‘gradação’ nos roteiros do Corpus 1. 
Os trechos em negrito dos excertos ilustram a categoria – ‘força’ ou ‘foco’ –, que aparece na 
terceira coluna do quadro. No caso da primeira linha, a outra categoria também está presente no 
excerto selecionado e é apresentada entre colchetes imediatamente à direita da palavra que a realiza17. 
Sistematizando as discussões já feitas até aqui, ainda podemos dizer que, em termos mais 
abrangentes, os resultados corroboram empiricamente as pistas fornecidas por Martin e White (2005) de 
que não há neutralidade em língua em decorrência do fato de que até as “... asserções categóricas ... são ... 
intersubjetivamente ... posicionadas ...” (p. 94) e por Jakobson (2000/1959) de que traduzir é interpretar. 
Em termos mais restritos, os resultados parecem corroborar também a intuição de Holland (2009), de 
acordo com a qual não existe a possibilidade de neutralidade em roteiros de AD para o teatro e as artes 
visuais em geral. Quanto à Jiménez Hurtado (2007), não são somente sentimentos emotivos que estão 
presentes nos roteiros de AD das pinturas, mas também sentimentos éticos e estéticos. 
Um aspecto que parece carecer de interpretação diz respeito ao fato de só terem ocorrido 
posicionamentos monoglóssicos, tal como os definimos, no Corpus 1, cujos roteiros são em português brasileiro. 
No geral, esse corpus foi menos avaliativo/interpretativo que o Corpus 2, cujos roteiros são em inglês americano, 
o que parece ter acontecido em função de o parâmetro de neutralidade ter tomado forma e força nos EUA. 
Explicamo-nos: dado que foram os EUA que exportaram para o resto do mundo a AD e seus parâmetros e dado 
que o parâmetro de neutralidade é impossível de ser implementado, como demonstrado na pesquisa ora relatada, 
os audiodescritores americanos devem, com o tempo e subconscientemente, ter se despreocupado em relação à 
sua aplicação. Em contrapartida, o Brasil é país importador de AD, a qual, juntamente com seus parâmetros, só 
chegou aqui após grande lapso de tempo relativamente ao início nos EUA; logo, supomos que os 
audiodescritores brasileiros devem – até por insegurança em função de que estavam apenas reproduzindo um 
 
17 Ao trazer o excerto do roteiro de ‘A Refeição do Homem Cego’ para a Linha 1 do Quadro 3, constatamos que havíamos deixadoescapar uma ocorrência de ‘gradação’ sem ter, portanto, a categorizado como tal. Referimo-nos a ‘lisos’ em “... cabelos lisos e curtos ...”. 
Entendemos que a palavra ‘lisos’ deveria ter sido categorizada como ‘força/intensificação/qualidade/fusionada/diminuindo’, com o 
fusionamento relacionado ao paradigma decrescente ‘pixaim–crespo–cacheado/encaracolado–liso'. Em decorrência, vimos que 
deveríamos, por analogia a nossa decisão analítica relativamente a “... homem branco ...” no mesmo roteiro (cf. Quadro 1), ter 
categorizado ‘lisos’ também como ‘atitude/apreciação/reação/qualidade/positiva/inscrita’ e 
‘atitude/afeto/segurança/evocado/convidado/propiciado’ (afirmar, na cultura brasileira, que um homem é branco de cabelos lisos ainda 
significa avaliá-lo/interpretá-lo explicitamente através de um sentimento estético de boa aparência e implicitamente através de um 
sentimento emotivo de segurança advinda de não ser o homem um negro de cabelo pixaim e, portanto, peremptória e 
preconceituosamente, potencialmente perigoso; afinal, os negros, especialmente a maioria pobre, ainda são criminosamente excluídos 
no Brasil). Não refizemos os cálculos pelo trabalho adicional grande e pela contribuição muito pequena, no sentido de asseverar cada 
vez mais a não neutralidade, que somente uma ocorrência de ‘gradação’ e duas ocorrências de ‘atitude’ trariam, supomos, aos resultados 
referentes ao Roteiro 1 do Corpus 1 e ao Corpus 1 como um todo. 
 
modus faciendi importado e também para aceitação no mercado internacional –, ter se esforçado no sentido de 
cumprir o principal dos parâmetros, o de neutralidade, rigorosamente. Por um lado, a ocorrência de 
‘monoglossia’ apenas nos roteiros em português brasileiro parece contradizer a suposição pela qual os 
audiodescritores brasileiros ainda continuam mais fiéis ao parâmetro de neutralidade. A possível contradição se 
explicaria visto que, ao terem inferido e se desviado categoricamente, não descreveram exatamente o que 
estavam vendo nas pinturas e infringiram a regra primeira do documento americano Standards for Audio 
Description and Code of Professional Conduct for Describers – “o que você vê é o que você descreve” (p. 1) –, 
subjacente ao parâmetro de neutralidade. Por outro lado, a contradição não se sustentaria caso ainda fossem 
novatos os dois audiodescritores de ‘O Violeiro’ e a audiodescritora de ‘Duas Mulheres Correndo na Praia’ (cf. 
Quadro 2), tendo eles cometido, então, meros lapsos decorrentes de um provável distanciamento momentâneo 
da regra primeira por conta de uma ainda pouca experiência acumulada. De uma forma ou de outra, as asserções 
monoglóssicas – no dizer de Martin e White (2005, p. 94), como já informei em outros pontos –, são também 
dialogicamente interpretativas, sendo, portanto, as asserções heteroglóssicas o protótipo da interação verbal 
humana porque é o diálogo, no dizer de Bakhtin (1997), que “é a forma clássica da comunicação verbal” (p. 
295). Além disso, a monoglossia, como a definimos neste estudo, acaba por equacionar-se com a heteroglossia, 
pois pressupõe o auge da interpretação por parte do audiodescritor: ao inferir ou se desviar do que está na pintura, 
ele diz o que pensa que vê. 
É hora de levantarmos a questão sobre se é possível postularmos a favor da provável existência de um 
estilo interpretativo-estilo avaliativo relacionado ao registro ‘roteiros de AD de pinturas em português brasileiro’. 
Os resultados quantitativos apontam para o fato de que parece haver um padrão avaliativo caracterizado pela 
predominância de avaliações/interpretações atitudinais em termos de apreciações estéticas bem como de 
avaliações/interpretações de gradação em termos da força com a qual as apreciações são expressas. 
Evidentemente, esse provável esboço de estilo que emergiu não nos surpreendeu porque foram obras de arte que 
foram audiodescritas e, em geral, elas são apreciadas; além disso, as apreciações são normalmente graduadas. 
Considerações finais 
Apesar de ter estudado um corpus pequeno – seis roteiros, perfazendo um total de 1.389 palavras –, 
pensamos ser razoável afirmar que os objetivos foram atingidos a contento e as perguntas respondidas 
satisfatoriamente. Portanto, não deve ser imprudente afirmar que conseguimos demonstrar empiricamente a 
ausência de neutralidade em roteiros de AD de pinturas em português brasileiro mesmo quando os 
audiodescritores os escrevem guiados pela prescrição de neutralidade. Contudo, é necessário advertir, pelo fato 
mesmo do tamanho do corpus, que o nível de generalização deve ficar restrito, por enquanto, aos seis roteiros que o 
compõem. 
A prudência da afirmação sobre a não neutralidade decorre, a nosso ver, da escolha por ter conduzido a 
pesquisa, teoricamente, sob a égide da Linguística Sistêmico-Funcional (semiótica social) e, 
metodologicamente, do ponto de vista das categorias propostas pela Teoria da Avaliatividade. Portanto, a TA se 
mostrou capaz de manter interface com a TAV-Ac/AD para, dentre outras possibilidades ainda a serem 
exploradas, o fim de demonstrar a impossibilidade de neutralidade em textos que instanciam o registro geral 
‘roteiro de AD’. 
A restrição imposta ao nível de generalização só pode ser superada se a pesquisa aqui relatada 
for replicada com corpora em outras línguas, os quais sejam estatisticamente significantes em tamanho e, 
de preferência, eletrônicos, a fim de que, metodologicamente, a TA possa ser aliada às ferramentas 
disponibilizadas pela Linguística de Corpus. Para além da verificação da (não) neutralidade em roteiros 
de AD de pinturas produzidas sob a prescrição de neutralidade, carece que se verifique também a mesma 
questão em roteiros de AD de outros tipos de produtos (audio)visuais, como esculturas, filmes, peças de 
teatro, monumentos turísticos urbanos etc. produzidos sob a mesma condição. Quando a impossibilidade 
de neutralidade for suficientemente comprovada em roteiros de cada tipo de produto em várias línguas, 
será importante, tendo em vista especialmente a formação de audiodescritores, a condução de pesquisas 
que investiguem se os padrões avaliativos que emergem da análise microlinguística constituem-se, ou 
não, na assinatura avaliativa do audiodescritor ou no estilo avaliativo do roteiro de AD18. Em havendo 
uma assinatura avaliativa e um estilo avaliativo, variam quando muda o produto audiodescrito? 
Quanto a filmes, depois da conclusão desta pesquisa com os Corpora 1 e 2, com roteiros de AD de 
pinturas em português brasileiro e inglês americano, Praxedes Filho e Oliveira Júnior (2013) demonstraram a 
ausência de neutralidade em roteiros de AD de dois filmes brasileiros de curta-metragem e Silva e Praxedes 
Filho (2014) chegaram ao mesmo resultado quanto a roteiros em francês europeu da AD de dois filmes de 
longa-metragem com áudio em francês do gênero comédia e audiodescritos pela mesma audiodescritora 
profissional francesa. Em andamento, há os seguintes estudos: 1) o primeiro usa como corpus filmes de curta-
metragem brasileiros sobre a temática LGBTT e audiodescritos em português brasileiro pelo mesmo 
audiodescritor experto, objetivando extrapolar a questão da (não) neutralidade para chegar à possível assinatura 
avaliativa do audiodescritor; 2) o segundo estuda um corpus composto por um filme americano em DVD com 
roteiros de AD em inglês americano e português brasileiro, também produzidos por audiodescritores 
profissionais, objetivando comparar suas possíveis assinaturas avaliativas interlinguisticamente; 3) o terceiro 
descreve um corpus constituído por um filme de curta-metragem cearense cujo roteiro de AD foi produzido no 
LATAV-PosLA-CH-UECE antes de o grupo ter tido acesso a Holland (2009), ainda para verificar se a 
audiodescritora conseguiu ou não ser neutra.

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