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Texto 5 Controle visual de ações no tênis de mesa (1)

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Controle Visual de Ações 
no Tênis de Mesa
Sérgio Tosi Rodrigues
9
O tênis de mesa é um esporte que atrai pessoas de diferentes ida-des, níveis socioeconômicos e com distintos interesses. Sejam amantes do “ping-pong” descompromissado dos momentos 
de lazer, sejam atletas buscando a perfeição em técnicas de ataque e defesa 
da modalidade. Todos estão contagiados pela alegria, dinamicidade e desa-
fi o que o bate-rebate daquela bolinha sobre a rede traz (Simpson, 1981). O tê-
nis de mesa pode ser visto também como um espectáculo interessantíssimo. 
O treinamento incansável possibilita aos atletas direcionar a bola com sutile-
za milimétrica, produzir rotações na bola imprevisíveis ao adversário, gerar 
ataques balísticos e defesas de altíssima velocidade, que nos fazem duvidar 
da consciência dos jogadores sobre o controle de suas ações.
Apesar de os atletas do tênis de mesa serem capazes de apresentar mo-
vimentos espaciotemporalmente muito acurados, considerável parte destes 
comportamentos ainda precisa ser totalmente compreendida do ponto de 
vista científi co. Particularmente, a atividade do sistema visual e a aquisição 
de informação durante a preparação e execução de ações no tênis de mesa es-
tarão em foco neste trabalho. Aos leitores do presente capítulo, mesatenistas 
ou interessados no estudo do comportamento perceptivo-motor, gostaria de 
indicar a importância da curiosidade e da busca de uma compreensão am-
pliada do relacionamento entre informação visual disponível aos jogadores 
e as ações compatíveis com tais informações. Neste capítulo, o tênis de mesa 
será o veículo que possibilitará a discussão das características da regulação 
do movimento humano, baseada nas propriedades da visão.
Em suma, o objetivo deste capítulo é fornecer evidências empíricas e 
discutir os mecanismos visuais e motores subjacentes ao controle das ações 
do tênis de mesa. Por mais simples que possa parecer ao próprio executante, 
sua atividade visomotora durante uma partida de tênis de mesa é altamen-
Tênis de Mesa144
te complexa e intrincada, como o transcorrer deste texto certamente demons-
trará. Em foco estarão as características da informação visual disponível re-
levante para o sucesso destas ações e também as estratégias de obtenção des-
ta informação, através de movimentos da cabeça e dos olhos dos jogadores. 
O presente capítulo está organizado do seguinte modo: inicialmente, a noção 
de sincronização será apresentada como tema central; a seguir, o conceito de 
fl uxo óptico é descrito para caracterizar a disponibilidade de informação de 
tempo para contato aos jogadores da modalidade; compensações entre visão 
e ação, assim como controle da velocidade do braço são discutidos. A ativida-
de do sistema visual, com movimentos do tronco, cabeça e olhos é detalhada 
no tênis de mesa com ênfase na descrição cinemática tridimensional do olhar. 
Aplicações sobre ansiedade e défi cit atencional e hiperatividade ilustram a 
utilização do tênis de mesa como contexto adequado ao estudo da percepção 
visual e controle da ação. Considerações sobre o conhecimento científi co dan-
do suporte à evolução do tênis de mesa fecham o capítulo.
■■SINCRONIZAÇÃO ESPACIOTEMPORAL NO TÊNIS 
DE MESA
Esportes como o tênis de mesa, assim como nossas atividades diárias 
são ricos em situações que requerem sincronização espaciotemporal das ações 
a objetos, planos e eventos do ambiente. Nesses contextos, a indissociabilida-
de entre percepção e ação fi ca evidenciada, o que pode facilitar os estudos so-
bre o assunto. Outros termos também têm sido usados para defi nir os meca-
nismos envolvidos nesta categoria de ações, as ações interceptivas, como ti-
ming antecipatório, timing coincidente, ou antecipação. Agarrar, rebater ou 
desviar-se de uma bola em aproximação, como fazem os goleiros no futebol, 
jogadores no tênis de mesa ou crianças no jogo de queimada, são ações nas 
quais o sucesso do indivíduo depende fortemente da combinação de vários 
aspectos: da percepção da aproximação da bola; da percepção do próprio cor-
po em relação à trajetória futura da bola; assim como do desencadeamento de 
movimentos espaciotemporalmente compatíveis para coincidir (ou não coin-
cidir, no caso da esquiva) com a bola. Central no entendimento desta sincro-
nização é reconhecer os múltiplos fatores que contribuem para que o execu-
tante consiga estar “no lugar certo, no momento certo”. 
No sentido evolutivo, o desenvolvimento das ações interceptivas pode 
ter suas origens na necessidade de evitar a predação de outros animais e, ao 
mesmo tempo, ter que capturar alimento sufi ciente através da predação para 
suportar o crescimento e a reprodução. A seleção natural pode ter, assim, es-
Capítulo 9 145
timulado o desenvolvimento de mecanismos perceptivos capazes de obter a 
informação necessária para o controle de movimentos que evitavam/indu-
ziam a colisão, acoplando assim os sistemas de percepção e ação (Turvey e 
Carello, 1986).
Utilizando nosso exemplo central do jogador de tênis de mesa, imagi-
ne como ele consegue interceptar com sua raquete a bola vinda de um saque. 
O quê, mais precisamente, indica, em termos visuais, quando e onde a bola 
chegará? Quando o jogador deve iniciar seus movimentos? E mais, simul-
taneamente à observação da bola em aproximação, o jogador deve locomo-
ver-se tão rapidamente quanto seu tempo disponível permitir; como combi-
nar informações visuais a comandos motores apropriados? Além destes fato-
res, há uma variedade de outros aspectos que infl uenciam a referida sincro-
nização, como a velocidade da bola, que, em situações extremas, pode invia-
bilizar a ação de rebater, e a experiência do jogador, que o faria mais pronta-
mente identifi car fontes relevantes de informação e acumular melhores estra-
tégias motoras.
■■INFORMAÇÃO RELEVANTE NO FLUXO ÓPTICO
Para Gibson (1966; 1979 e 1986), o estímulo natural para o sistema 
visual é o arranjo óptico, um conjunto de ângulos visuais sólidos agrupa-
dos, com o ápice comum no ponto de observação e com a base de cada 
ângulo sólido correspondendo a uma superfície do ambiente. Em distin-
tos pontos de observação, o arranjo óptico é diferente. Para um ponto de 
observação em movimento, há uma transformação do arranjo óptico es-
pecífica ao movimento do observador e às superfícies ambientais. Esta 
estrutura óptica em mudança, denominada fluxo óptico (Gibson, 1979 e 
1986), contém informação relevante para a sincronização das ações ao 
ambiente.
O tempo para contato, informação disponível no fl uxo óptico, é uma das 
propriedades do ambiente mais estudadas. Esta informação visual pode ser 
usada para possibilitar a sincronização de ações, como as batidas no tênis de 
mesa. A informação de tempo para contato é especifi cada através de uma va-
riável óptica denominada “tau” (Lee, 1976; 1980). Tau, que não é um conceito 
específi co do tênis de mesa, pode ser defi nido como o inverso da taxa relati-
va de dilatação de um contorno óptico fechado gerado por um objeto ou pla-
no em aproximação, que especifi ca o tempo remanescente até o contato en-
tre o observador e o objeto/plano (Lee, 1976; 1980; Savelsbergh, Whiting e 
Bootsma, 1991).
Tênis de Mesa146
■■INFORMAÇÃO DE TEMPO PARA CONTATO E 
VARIABILIDADE COMPENSATÓRIO NO TÊNIS DE 
MESA
Bootsma e van Wieringen (1988) descreveram importantes caracterís-
ticas do attacking forehand drive no tênis de mesa. Eles mediram o tempo en-
tre a aproximação da bola e o movimento de batida sob as condições de visão 
monocular e binocular. Na condição binocular, as fontes de informação usa-
das para sincronizar o início da batida foram a localização da bola e o tempo 
no plano frontal. Este tempo foi defi nido como o intervalo entre o momento 
de início da batida e o momento que a bola cruzou o plano frontal. Na condi-
ção monocular, os movimentos da batida tenderam a ser mais lentos.A con-
sistência da batida foi mais alta sob condição binocular, enquanto, sob condi-
ção monocular, o participante adaptou a batida a variações mínimas no tem-
po até o plano frontal. 
Bootsma e van Wieringen (1990) deram continuidade ao estudo do ti-
ming de ações interceptivas rápidas no tênis de mesa. Cinco sujeitos do sexo 
masculino, com idades entre 18 e 24 anos, considerados atletas de alto nível 
da modalidade, participaram do estudo. A tarefa dos sujeitos era rebater a 
bola de tênis de mesa tão rápida e precisamente quanto possível para den-
tro de um alvo circular (55cm de diâmetro) no lado oposto da mesa, usando 
a mesma técnica do estudo anterior, o attacking forehand drive. As bolas foram 
liberadas para os sujeitos com uma velocidade aproximada de 4m/s.
A situação experimental foi fi lmada e, a partir da análise dos fi lmes, fo-
ram obtidos dados de deslocamento. A análise do movimento em estudo in-
cluiu a posição da raquete no momento do início da batida e de contato da 
bola com a raquete. O tempo de movimento foi considerado o tempo gasto 
entre o início do movimento para frente e o contato bola/raquete. Também 
foram obtidos dados relativos a velocidade, aceleração e direção da batida, 
assim como o parâmetro tau margem (calculado como o quociente da distân-
cia entre o olho do jogador e a bola, e sua razão de mudança).
Resultados interessantes foram obtidos. O parâmetro tau foi considera-
do como uma fonte de informação utilizada para o início da batida. A preci-
são temporal inicial foi dada pela variabilidade do tau margem no início do 
movimento. A precisão terminal foi dada pela variabilidade da precisão do 
timing no contato bola/raquete. A comparação da precisão temporal inicial 
e terminal mostrou uma precisão temporal mais alta no momento do conta-
to que no início do movimento. Estes dados evidenciaram que os jogadores 
não confi aram completamente em uma estratégia de produção de movimen-
Capítulo 9 147
to consistente, a tradicional hipótese de timing operacional, desenvolvida em 
acordo com a noção de programa motor.
Variações entre as tentativas para todos os sujeitos foram evidencia-
das através da obtenção de correlações negativas entre a magnitude do tau 
margem no início e a aceleração média durante a batida. Isso signifi cou, por 
exemplo, que quanto mais próxima no tempo a bola estava para o jogador 
quando o movimento era iniciado, mais força era aplicada durante a batida. 
Os autores argumentaram que a variável óptica tau foi usada para antecipar 
o movimento da bola e sincronizar o movimento de braço precisamente no 
contato com a bola. Estes dados foram interpretados como refl etindo a natu-
reza compensatória do acoplamento percepção-ação dos jogadores de tênis 
de mesa. Esta noção foi denominada de variabilidade compensatória entre per-
cepção e ação, tornando-se importante evidência contrária à proposta de pro-
dução consistente de movimentos (Bootsma, 1988; Bootsma e van Wierin-
gen, 1990). Variações inter-tentativas relativamente pequenas nas trajetórias 
do movimento dos sujeitos individuais podem ser de importante signifi cân-
cia funcional. A precisão do timing coincidente, conforme demonstram estes 
estudos, apresenta-se ampliada no ponto de contato ou colisão, se compara-
da ao ponto de início do movimento, sugerindo que contínuas correções po-
dem ocorrer durante a ação. O acoplamento contínuo da percepção e ação in-
dica que os movimentos são refi nados durante suas execuções, com base nos 
inputs da informação de tempo para contato. Este acoplamento tem sido con-
siderado mais importante que a manutenção média da consistência da dura-
ção do movimento (Bootsma, 1988).
■■CONTROLE DA VELOCIDADE DA BATIDA NO 
TÊNIS DE MESA
Um aspecto adicional do controle do movimento da batida no tênis de 
mesa é a relação entre a velocidade da bola em aproximação e a velocidade 
do braço na batida, que foi recentemente investigada por Marinovic, Iizuka e 
Freudenheim (2004). Sete jogadores habilidosos, todos já integrantes da sele-
ção brasileira da modalidade, foram fi lmados durante a execução da batida 
forehand do tênis de mesa, sendo requeridos a direcionar a bola ao centro de 
um alvo localizado no lado oposto da mesa, com a graduação de 5 níveis de 
acurácia, de acordo com a proximidade com o centro. A tarefa requeria que 
os sujeitos batessem tão precisamente quanto possível, sem se preocuparem 
com a velocidade. Quatro condições foram apresentadas aos participantes: 
(1) duas batidas da bola na mesa com “topspin”; (2) duas batidas da bola na 
Tênis de Mesa148
mesa com sidespin; (3) uma batida da bola na mesa com topspin; e (4) uma ba-
tida da bola na mesa com sidespin. A velocidade média da bola nas duas pri-
meiras condições foi 4,5m/s e nas duas últimas 8,8m/s; as bolas foram dispa-
radas por uma máquina na freqüência de 60 por minuto.
As durações absoluta e relativa na fase de movimento do braço para 
trás não foram afetadas pelas quatro condições experimentais. Quando os 
participantes rebateram a bola em condição mais rápida, houve uma mudan-
ça signifi cativa na quantidade de tempo requerida para alcançarem o pico da 
velocidade na fase de movimento do braço para frente, tanto em termos de 
dados absolutos como relativos. Adicionalmente, os participantes diminuí-
ram a velocidade de suas batidas nas condições de bola mais rápida. Estes re-
sultados mostraram que jogadores experientes de tênis de mesa, na fase de 
movimento do braço para frente, precisam ajustar tanto a velocidade como 
o tempo para alcançar o pico de velocidade, para acomodar as restrições da 
tarefa. Em termos da expectativa de acoplamento linear entre velocidade do 
braço/raquete e velocidade da bola (isto é, maior a velocidade da bola, maior 
a velocidade do braço), demonstrada em outros estudos (Li e Laurent, 1995), 
os dados de Marinovic, Iizuka e Freudenheim (2004) indicaram estratégia 
oposta. Os autores interpretaram esta divergência como possivelmente asso-
ciada ao nível de experiência dos participantes ou a uma especifi cidade des-
ta tarefa particular do tênis de mesa.
■■AQUISIÇÃO DE INFORMAÇÃO E ATIVIDADE DO 
SISTEMA VISUAL
O entendimento da relação entre percebedor e objetos/planos em apro-
ximação, assim como da conseqüente disponibilidade de informação visual 
que especifi ca esta relação, revela apenas parte da complexidade da sincroni-
zação de ações. Um aspecto adicional importante é o entendimento da ativi-
dade do sistema visual (especifi camente, ação dos olhos, cabeça e tronco) na 
busca da referida informação relevante para o controle das ações. Assim, des-
crever em detalhes e tentar explicar os padrões envolvidos na aquisição de 
informação visual deve contribuir signifi cativamente para o avanço da área.
Um conceito essencial no estudo da aquisição de informação vi-
sual é o de sistema visual; neste sentido, a perspectiva gibsoniana so-
bre percepção oferece uma noção inovadora de sistema visual (Gibson, 
1979). As partes anatômicas do sistema visual são, aproximadamente, o 
corpo, a cabeça, os olhos, os acessórios de cada olho (pálpebra, pupila e 
lente) e a retina, composta de fotoreceptores e células nervosas. Todos 
Capítulo 9 149
estes componentes, que são conectados com o sistema nervoso e odos 
ativos, são necessários para percepção visual. Tanto as partes como suas 
atividades formam a hierarquia dos órgãos. No topo está o corpo, então 
a cabeça e depois os olhos. Sendo equipadas com músculos, as partes po-
dem se mover cada uma de seu próprio modo – os olhos em relação à ca-
beça, a cabeça em relação ao corpo, o corpo em relação ao ambiente. As-
sim, todos se movem em relação ao ambiente; o autor sugere que a fun-
ção deles é de exploração perceptiva. No nível de cada olho, a pálpe-
bra se move, a lente se acomoda e a pupila se ajusta. Músculos também 
são requeridos para estas atividades, mas nãosão movimentos no mes-
mo sentido utilizado acima. No nível mais baixo, a retina e suas células 
se adaptam às condições externas, mas a atividade da retina não depen-
de de músculos. Em todos os níveis, as atividades são ajustes do sistema 
visual ao invés de reações reflexas a estímulos, respostas motoras ou de 
qualquer tipo (Gibson, 1979).
Em suma, o corpo explora o ambiente ao redor através da locomoção; 
a cabeça explora o arranjo do ambiente virando-se; os olhos exploram as 
duas amostras do arranjo, os campos de visão, através do movimento dos 
olhos. Esses são considerados como ajustes exploratórios. Nos níveis infe-
riores, pálpebra, lente, pupila e células retinais fazem ajustes de otimização. 
Tanto a estrutura global como a estrutura fi na de um arranjo constituem in-
formação. O percebedor necessita olhar os arredores, fi xar, focar precisa-
mente e negligenciar certa quantidade de luz. A percepção precisa ser tan-
to abrangente quanto clara. O sistema visual busca compreensão e clareza, 
e não descansa enquanto as invariantes não forem extraídas. Exploração e 
otimização parecem ser as funções do sistema visual (Gibson, 1979).
■■OLHOS EM MOVIMENTO: FIXAÇÃO, 
PERSEGUIÇÃO E MOVIMENTO SACÁDICO
O referido aspecto de exploração está intimamente relacionado aos 
comportamentos visuais, que possuem características bem defi nidas. As fi xa-
ções são comportamentos nos quais os olhos permanecem estacionários em 
algum aspecto do ambiente. Fixações possibilitam aos percebedores estabi-
lizar uma área informativa do campo de visão na região foveal, permitindo 
um processamento detalhado de informação. Em situações de esporte, dura-
ções de fi xação relativamente altas têm sido observadas em cenas complexas, 
como, por exemplo, entre 850 e 1500 milisegundos no futebol (Williams e Da-
vids, 1998) e entre 320 e 380 milisegundos no squash (Abernethy, 1990). Por 
Tênis de Mesa150
outro lado, valores muito baixos como 100 milisegundos podem ser observa-
dos em situações altamente praticadas ou com visão de estímulos familiares, 
como no golfe (Vickers, 1992).
Os movimentos de perseguição são movimentos lentos e contínuos 
dos olhos, nos quais a velocidade ocular é bastante semelhante à velocida-
de do objeto sendo seguido (Carpenter, 1988). Mudanças rápidas no arran-
jo visual tornam difícil seguir visualmente um objeto usando movimentos 
oculares de perseguição (Haywood, 1984). Em velocidades excessivas, tem 
sido mostrado que os atletas de elite não seguem a bola durante todo o seu 
vôo (Bahill e LaRitz, 1984; Hubbard e Seng, 1954; Ripoll, 1991; Ripoll e Fleu-
rance, 1988; Vickers e Adolphe, 1997). Estes estudos demonstram a incapa-
cidade do executante em manter a perseguição visual durante o vôo rápi-
do da bola, o que contradiz diretamente o conselho dos técnicos para “man-
ter os olhos na bola” (Williams, Davids e Williams, 1999). Este tipo de reco-
mendação pode estar mais relacionado com a manutenção da cabeça e cor-
po estáveis durante a execução da habilidade do que propriamente a neces-
sidade de extrair informação operacional da própria bola. Os movimentos 
sacádicos são movimentos rápidos dos olhos, usados para trazer uma nova 
parte do campo visual para a região da fóvea (Carpenter, 1988), gerando 
uma dramática redução na sensibilidade visual durante estes movimentos 
(Volkman, Schick e Riggs, 1968).
■■MOVIMENTO DOS OLHOS DOS JOGADORES DE 
TÊNIS DE MESA
A importância da atividade do percebedor, especifi camente nos ajus-
tes exploratórios (movimentos do tronco, cabeça e olhos), pode ser exem-
plifi cada em uma situação de rebatida no tênis de mesa. Ripoll e Fleurance 
(1988) analisaram o comportamento visomotor de jogadores de tênis de mesa 
de elite executando três batidas distintas (forehand, forehand com topspin e ba-
ckhand). Os resultados confi rmaram não ser necessário seguir a bola por toda 
sua trajetória. Os jogadores mantiveram a perseguição da bola somente na 
parte inicial da trajetória. A natureza da perseguição variou de acordo com o 
tipo de batida: a bola foi seguida mais freqüentemente e por um período de 
tempo mais longo, quando se moveu na direção da linha central do corpo do 
jogador (batida backhand), do que quando a bola se moveu lateralmente em 
relação ao corpo (batidas forehand e forehand com topspin). O olhar foi também 
mantido na bola durante o contato bola-raquete na condição em que a bola 
foi direcionada lateralmente. 
Capítulo 9 151
Os resultados sugeriram, de modo geral, que o comportamento do 
olhar foi determinado pelas restrições externas da batida, como a excen-
tricidade da trajetória da bola em relação à linha central do corpo do sujei-
to e a dinâmica do contato da bola com a raquete, que afetaram a precisão 
da batida. Para explicar estes resultados, Ripoll e Fleurance (1988) propu-
seram um mecanismo de Estabilização dos Olhos e da Cabeça (EOC), que 
ocorreu durante a porção fi nal do vôo da bola. Antes do contato fi nal, en-
tre o segundo toque da bola na mesa e o contato com a raquete, os olhos 
estiveram estáveis e alinhados com a orientação da cabeça. A cabeça e os 
olhos foram posicionados antecipadamente e mantidos no local de conta-
to da bola com a raquete. Esta estabilização ocorreu mais freqüentemente 
quando a bola foi projetada lateralmente ao corpo do sujeito e, principal-
mente, quando a própria batida exigia um grau mais elevado de precisão 
(forehand com topspin). 
Ripoll (1989) comparou situações de treino (mais previsíveis) e situa-
ções de jogo (menos previsíveis) no tênis de mesa e obteve três resultados in-
teressantes neste segundo estudo. Fixações visuais sobre o oponente do par-
ticipante foram sistemáticas somente na situação de jogo. Apenas a primeira 
parte da trajetória da bola foi visualmente perseguida, com esta perseguição 
sendo iniciada imediatamente após o oponente bater a raquete na bola, in-
dependentemente da condição. A peserguição visual foi mais freqüente e de 
duração mais longa na situação de jogo. A fase de preparação do movimen-
to (defi nida como o movimento do braço para trás) foi mais longa na situação 
de jogo, enquanto a duração da fase de execução (defi nida como o movimen-
to do braço para frente) fi cou inalterada.
Ripoll sugeriu que duas funções visuais distintas, semântica e senso-
riomotora, estavam operando através das habilidades estudadas. O papel da 
função visual semântica seria identifi car e interpretar a situação, enquanto o 
papel da função visual sensoriomotora seria produzir a resposta. De acordo 
com o autor, no tênis de mesa, processos semânticos foram responsáveis pela 
obtenção de dicas visuais do oponente e usadas para predizer o comporta-
mento e tipo da batida a ser usada pelo oponente. Processos sensoriomotores, 
de acordo com esta explicação, estariam envolvidos na estimativa de tempo 
para contato necessário para sincronizar a batida e coordenar os sistemas vi-
sual e motor atuantes na batida (Ripoll, 1991). De acordo com Ripoll, as fun-
ções semânticas identifi caram as dicas visuais e interpretam esta informação 
como uma indicação de uma área de alvo apropriada para resposta, enquan-
to as funções sensoriomotoras forneceram informação contínua para coorde-
nar os sistemas visual e motor (olho, cabeça, tronco e braço) durante todas as 
fases da batida. 
Tênis de Mesa152
■■CINEMÁTICA TRIDIMENSIONAL DO OLHAR NO 
TÊNIS DE MESA
Rodrigues, Vickers e Williams (2002) analisaram os movimentos dos 
olhos de 16 jogadores de tênis de mesa, sob níveis distintos de pressão tem-
poral. Uma técnica inédita de descrição cinemática tridimensional do movi-
mentos simultâneos do olhar, da cabeça, do braço e da bola foi utilizada nes-
te estudo, preservando a estimulação visual e o comportamento motor natu-
rais do tênis de mesa. A tarefa dos sujeitos era responder a um saque, retor-
nando a bola para um de dois alvos (65 x 40cm) colocados noscantos do ou-
tro lado da mesa. O alvo correto (direito ou esquerdo) era indicado para o 
sujeito através de uma dica visual (luz vermelha, localizada ao lado de cada 
área alvo), em momentos diferentes para cada condição de pressão temporal: 
1) Pré-dica – dica apresentada antes do saque; 2) Dica inicial – dica apresen-
tada no início do vôo da bola (aproximadamente 530 milisegundos antes de o 
sujeito tocar a bola com a raquete); e 3) Dica fi nal – dica apresentada no fi nal 
do vôo da bola (aproximadamente 350 milisegundos antes de o sujeito tocar a 
bola com a raquete). Este estudo combinou a noção de longa perseguição vi-
sual antes da ação (Vickers, 1996; Vickers e Adolphe, 1997) com a estabiliza-
ção dos olhos-cabeça durante a ação (Ripoll e Fleurance, 1988). A duração do 
movimento de perseguição visual da bola, antes do início do movimento do 
braço para frente (Olho Quieto, OQ) e a duração da Estabilização do Olhar e 
da Cabeça (EOC) na fase fi nal do vôo da bola foram os comportamentos vi-
suais medidos. O comportamento do braço foi caracterizado pelas variáveis 
Tempo de Movimento (TM) – ou seja, a duração da fase de movimento do 
braço para frente na batida – e a Velocidade do Braço no momento de Conta-
to entre bola e raquete (VBC). A Figura 9.1 ilustra os ângulos originalmente 
medidos e a Figura 9.2 mostra como os dados cinemáticos foram reduzidos 
às variáveis de interesse descritas a partir de tais ângulos.
A manipulação do tempo de apresentação da pista visual mostrou os 
limites de adaptação dos participantes para manterem a precisão da respos-
ta no alvo. Os participantes foram capazes de acomodar os níveis de restrição 
da condição de dica inicial através do uso de um OQ de duração mais curta, 
um término do OQ mais cedo (Figuras 9.3A, C e E) e uma redução da VBC. 
No entanto, na condição mais difícil, a de dica fi nal, a redução generalizada 
dos movimentos do olhar, da cabeça e do braço não foi sufi ciente para pre-
servar a precisão da resposta. O início e término do OQ ocorreu mais cedo e a 
duração declinou. A VBC permaneceu reduzida comparada à condição Pré-
dica. Os movimentos horizontais da cabeça e do olhar também foram reduzi-
Capítulo 9 153
dos. O início, a duração e o término da EOC não diferiram signifi cativamente 
entre as condições de dica (Figuras 9.3B, D e F). Também não houve alteração 
signifi cativa do TM entre as condições. Um dado adicional interessante foi 
que a ocorrência de ambos OQ e EOC dentro de uma tentativa diminuiu de 
83%, para 79%, e para 38% das tentativas nas condições pré-dica, dica inicial 
e dica fi nal, respectivamente. Em suma, a fl exibilidade na aquisição da infor-
mação visual viabilizou o rearranjo na duração das variáveis medidas quan-
do a pressão temporal foi suportável (condição de dica inicial). No entanto, o 
sistema perceptivo-motor entrou em colapso quando a pressão temporal foi 
excessiva (condição de dica fi nal), e uma espécie de “congelamento” ocorreu, 
reduzindo drasticamente a movimentação dos olhos e da cabeça (Rodrigues, 
Vickers e Williams, 2002).
As funções dos comportamentos OQ e EOC podem ser comparadas, 
respectivamente, aos sistemas visuais para percepção (ventral) e para ação 
(dorsal), propostos por Milner e Goodale (1995). Baseados em evidências ana-
tômicas, neurofi siológicas, neuropsicológicas e comportamentais, eles pro-
puseram a existência de um sistema ventral (visão para percepção), que é res-
ponsável pela indentifi cação do objeto, e um sistema dorsal (visão para ação), 
que proporciona informação em coordenadas egocêntricas para o controle de 
movimentos. A proposta, de modo muito simplifi cado, sugere que de acordo 
com o propósito do processamento da informação visual (percepção/repre-
sentação ou controle da ação), o trajeto de processamento (da retina aos cen-
tros superiores do sistema nervoso central) seria diferenciado, com caracte-
rísticas funcionais distintas. Apesar da aparente independência dos sistemas, 
uma ação coordenada seria dependente de um alto grau de cooperação entre 
os dois sistemas (Goodale e Milner, 1992; Milner e Goodale, 1993; 1995).
A possível utilidade deste modelo para o estudo do controle do olhar 
seria a generalização de comportamentos visuais baseados nos sistemas des-
critos por Milner e Goodale. Por exemplo, as funções dos comportamentos 
OQ e EOC obsevados por Rodrigues et al. (Rodrigues, 2000; Rodrigues, Vi-
ckers e Williams, 2002) poderiam ser comparadas, respectivamente, aos sis-
temas visuais para percepção (ventral) e para ação (dorsal). A visão para per-
cepção, que gera representação cognitiva da cena, estaria ocorrendo duran-
te OQ, o período de visão central da bola. A visão para ação, que estabelece 
a posição tridimensional da bola em relação ao sujeito quando o objetivo é 
agir, estaria ocorrendo durante o período de EOC, no qual a imagem da bola 
vai para a periferia visual. Esta interpretação é reforçada por evidências que 
associam a visão central ao processamento no sistema ventral e a visão peri-
férica ao processamento no sistema dorsal em macacos e humanos (Gooda-
le e Haffenden, 1998). Apesar de estas conjecturas parecerem lógicas, o pró-
Tênis de Mesa154
prio modelo de dois sistemas visuais ainda carece de considerável evolução 
e confi rmação experimental (Milner, comunicação pessoal, 17 de fevereiro, 
1999), assim como as ligações entre sistema ventral e fi xação/perseguição visu-
al e entre sistema dorsal e estabilização dos olhos e da cabeça podem ser consi-
deradas prematuras no presente momento (Rodrigues, 2000; Rodrigues, Vickers 
e Williams, 1999).
Figura 9.1 Representação do ângulo visual entre a linha do olhar e a superfície da bola (A), 
olhar e eixo X do sistema de coordenadas do transmissor (B), e o ângulo entre o braço (seg-
mento cotovelo-punho) e o eixo X do sistema de coordenadas do transmissor (C).
A
B
C
Arm
x
y
z
x
y
z
x
Arm
z
y
Capítulo 9 155
0 200 400 600
0
5
10
15
20
An
g 
Po
s 
(de
g)
Gaze−Ball Angle
QE
Subject: 2 Condition: pre−cue Trial: 3 Accuracy: hit
Target: right Cue Onset (ms): NA Eye Recorded: right
MT onset=622.2222 offset=761.1111 dur=138.8889ms
QE onset=44.4444 offset=527.7778 dur=483.3333ms
TMT onset= NA offset= NA dur= NA
EHS onset=500 offset=666.6667 dur=166.6667ms
AVC=57.9762deg/sec GC= NA deg
0 200 400 600
0
10
20
30
40
50
60
An
g 
Po
s 
(de
g)
Gaze in Space Angle
EHS
0 200 400 600
30
35
40
45
50
55
60
65
Time (ms)
An
g 
Po
s 
(de
g)
Arm Angle
MT
0 200 400 600
−100
−50
0
50
100
150
Time (ms)
An
g 
Ve
l (d
eg
/s)
Arm Velocity
A B
C D
Figura 9.2 Exemplo de dados processados de uma tentativa individual contendo informação de 
identificação, valores para todas variáveis dependentes (acima) e gráficos que originaram os va-
lores de início, término e duração de OQ (A), EOC (B), e TM (C) e VBC (D).1 
1 O texto da fi gura está em inglês, mas as siglas foram traduzidas para o português: QE equivale a OQ; 
EHS equivale a EOC; MT equivale a TM; e AVC equivale a VBC.
Tênis de Mesa156
0 20 40 60 80 100
0
5
10
15
20
Time (% of trial duration)
An
gu
la
r P
os
itio
n 
(de
g)
Mean(ps) Gaze−Ball PRE (159trials)
0 20 40 60 80 100
0
10
20
30
40
50
60
Time (% of trial duration)
An
gu
la
r P
os
itio
n 
(de
g)
Mean(ps) Gaze in Space PRE (159trials)
0 20 40 60 80 100
0
5
10
15
20
Time (% of trial duration)
An
gu
la
r P
os
itio
n 
(de
g)
Mean(ps) Gaze−Ball EARLY (150trials)
0 20 40 60 80 100
0
10
20
30
40
50
60
Time (% of trial duration)
An
gu
la
r P
os
itio
n 
(de
g)
Mean(ps)Gaze in Space EARLY (150trials)
0 20 40 60 80 100
0
5
10
15
20
Time (% of trial duration)
An
gu
la
r P
os
itio
n 
(de
g)
Mean(ps) Gaze−Ball LATE (154trials)
0 20 40 60 80 100
0
10
20
30
40
50
60
Time (% of trial duration)
An
gu
la
r P
os
itio
n 
(de
g)
Mean(ps) Gaze in Space LATE (154trials)
A B
C D
E F
Figura 9.3 Médias (± 1 desvio padrão) do ângulo tridimensional entre o olhar e a superfície da 
bola (A, C e E) e do ângulo tridimensional do olhar no espaço (B, D e F) em função do tempo 
(porcentagem da duração da tentativa) para as três condições experimentais. Linhas pontilha-
das horizontais nos gráficos olhar-bola representam o limite de 3 graus de ângulo visual para 
OQ. As linhas tracejadas verticais nas condições Dica Inicial (EARLY) e Dica Final (LATE) re-
presentam o tempo de aparecimento da dica.
Capítulo 9 157
■■MOVIMENTO DOS OLHOS EM INVESTIGAÇÕES 
SOBRE ANSIEDADE E SOBRE HIPERATIVIDADE/
DÉFICIT ATENCIONAL EM SITUAÇÕES DO TÊNIS 
DE MESA
Evidências sobre o movimento dos olhos têm possibilitado uma com-
preensão mais aprofundada de uma variedade de aspectos envolvidos no tê-
nis de mesa, como é o caso dos efeitos da ansiedade e da hiperatividade sobre 
o sistema perceptivo-motor. Williams, Vickers e Rodrigues (2002) estudaram 
os efeitos da ansiedade sobre os padrões de movimento dos olhos, cinemáti-
ca do braço e performance no tênis de mesa. Especifi camente, a Teoria de Efi -
ciência do Processamento de Eysenck e Calvo foi testada. Esta teoria prediz 
que a ansiedade reduz a capacidade de processamento da memória de tra-
balho e tem efeitos detrimentais na performance. Quando a tarefa demanda 
pouco da memória de trabalho, os efeitos negativos da ansiedade podem ser 
evitados pelo aumento do esforço. Apesar de a efi ciência da performance di-
minuir, não há mudança na efetividade (qualidade) da performance. Quando 
a tarefa impõe uma alta demanda da memória de trabalho, de outro modo, 
a ansiedade leva à diminuição da efi ciência e da efetividade. Estes pressu-
postos foram testados com a utilização de uma tarefa modifi cada de tênis de 
mesa, que exerceu demandas alta (AMT) e baixa (BMT) na memória de tra-
balho. A ansiedade cognitiva foi manipulada através de um ranking compe-
titivo e de prêmio em dinheiro. A acurácia dos participantes em bater a bola 
em alvos de círculos concêntricos em seqüências predeterminadas foi usada 
como uma medida da efetividade da performance, enquanto o Tempo de Rea-
ção (TR),2 Esforço Mental Percebido (EMP), dados do movimento dos olhos e 
da cinemática do braço foram usados como medidas da efi ciência. 
Os resultados indicaram que a ansiedade teve um efeito negativo na 
efetividade da performance nas tarefas AMT e BMT. Houve um aumento 
na freqüência do movimento dos olhos e nos valores de TR e EMP nas tare-
fas AMT e BMT, sob condições de alta versus baixa ansiedade, sugerindo di-
minuição da efi ciência da performance. Entretanto, os participantes dispen-
deram mais tempo perseguindo visualmente a bola na tarefa AMT e empre-
garam um tau margem mais curto quando ansiosos. Apesar de a ansieda-
de piorar a efetividade e efi ciência da performance, a piora na efi ciência foi 
mais pronunciada na tarefa AMT do que na tarefa BMT, oferecendo supor-
2 Este tempo de reação foi o intervalo entre um estímulo auditivo e a resposta verbal do 
participante durante a execução da tarefa do tênis de mesa.
Tênis de Mesa158
te para Teoria de Efi ciência do Processamento (Williams, Vickers e Rodri-
gues, 2002).
Vickers, Rodrigues e Brown (2002) utilizaram método similar ao de Ro-
drigues, Vickers e Williams (2002), citado anteriormente, para descrever o 
comportamento visual e motor de adolescentes do sexo masculino diagnos-
ticados com a Disordem de Défi cit de Atenção e Hiperatividade (ADHD, em 
inglês). Os participantes com ADHD foram testados quando estavam toman-
do seus medicamentos e sem tomar seus medicamentos, sendo comparados 
a participantes-controle de idades equiparadas. A tarefa de tênis de mesa re-
queria que os participantes perseguissem visualmente a bola, rebatendo-a 
para alvos da direita ou esquerda do outro lado da mesa. Informação de lon-
ga-duração foi dada por uma pré-dica, na qual o alvo era iluminado apro-
ximadamente 2 segundos antes do saque; informação de curta-duração foi 
dada por uma dica-inicial iluminada cerca de 350 milisegundos após o saque, 
deixando aproximadamente 500 milisegundos aos participantes para selecio-
nar o alvo e executar a ação. O grupo com ADHD diferiu signifi cativamen-
te do grupo controle em ambas as condições, sendo menos acurados, tendo 
um início mais tardio da perseguição e uma maior freqüência do olhar sobre 
e fora da bola. O uso da medicação reduziu signifi cativamente a freqüência 
do olhar dos participantes com ADHD, mas surpreendentemente não levou a 
um aumento na duração da perseguição visual, sugerindo que uma barreira 
foi alcançada, além da qual a informação do vôo da bola não poderia ser pro-
cessada. Os grupos ADHD e controle não diferiram em início, duração e ve-
locidade do movimento de braço na condição de dica-inicial. Na condição de 
pré-dica, entretanto, o início do TM e velocidade do braço diferiram signifi ca-
tivamente dos controles. Os resultados mostraram que o grupo com ADHD 
foi capaz de processar informação de curta duração sem experimentar efeitos 
adversos sobre seu comportamento motor; entretanto, informação de longa-
duração contribuiu para um controle motor irregular.
■■CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao descrever uma variedade de estudos realizados com participantes 
em situações de tênis de mesa, fi ca aparente que a performance esportiva é o 
resultado da infl uência de múltiplos fatores. Mesmo restringindo a discussão 
ao âmbito da informação visual e sincronização de ações, o sucesso dos joga-
dores de tênis de mesa está associado a muitos aspectos.
Vale salientar que o fato dos pesquisadores da área avançarem na com-
preensão desta teia de determinantes das habilidades desportivas não implica 
Capítulo 9 159
sugerir que os atletas sejam necessariamente conscientes destes determinan-
tes, tanto no exato momento da execução da técnica, quanto no planejamen-
to de seus treinamentos. Do ponto de vista do executante, há muitos meca-
nismos internos inconscientes que foram desvendados e ajudam-nos a ex-
plicar o comportamento perceptivo-motor. Do mesmo modo, o executante 
pode, por automatização, reduzir a demanda atencional para muitos aspec-
tos a serem controlados, evitando assim sua sobrecarga cognitiva. Do ponto 
de vista da preparação técnica, o conhecimento científi co sobre o perfi l visuo-
motor do atleta de tênis de mesa pode trazer benefícios práticos; no entan-
to, cautela deve sempre conduzir a interpretação dos resultados de pesqui-
sa, como aqueles aqui apresentados, e suas subseqüentes aplicações no coti-
diano esportivo.
Em síntese, este capítulo mostrou que, como interessados no tênis de 
mesa (atletas, técnicos ou simpatizantes), devemos também considerar as 
questões teóricas mais profundas. Vimos que a visão e o aparelho motor hu-
manos trabalham arduamente para superar as naturais limitações espacio-
temporais e, assim, conseguir que jogadores estejam “no lugar certo, no mo-
mento certo” para defender ou bater prontamente em uma bola. As particu-
laridades da informação visual que indicam aos jogadores a aproximação da 
bola e movimentos do oponente não são aspectos óbvios, assim como as com-
pensações entre visão e ação e o controle da velocidade das ações no tênis de 
mesa não são triviais.
Durante a aproximação de bola, enquanto os jogadores, em termos mo-
tores, preparam a ação da batida, defi nindo o instante e a localização do con-
tato entre bola e raquete, em termos perceptivos, o sistema visual combina 
apropriadamente movimentosde tronco, cabeça e olhos para garantirem a 
alteração da informação relevante; esta dinâmica percepção-ação retrata a in-
fl uência mútua destes subsistentes que suporta o alcance das metas deseja-
das. Mecanismos como o “olho quieto” e a “estabilização olho-cabeça” sina-
lizam a preponderância da estabilidade visual em um contexto de tênis de 
mesa. As interpretações destas evidências, como através da perspectiva de 
dois sistemas visuais, são introdutórias e requerem maior estudo.
Adicionalmente, aplicações das situações de tênis de mesa ilustraram 
como pessoas com problemas atencionais e de hiperatividade podem sincro-
nizar ações para coincidir bola e raquete; similarmente, pessoas sob condi-
ções de ansiedade são capazes de acomodar os requerimentos de memória e 
esforço cognitivo em contexto do tênis de mesa.

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