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Aulas sobre Kalecki - Jacques

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Professor Jacques Henrique Dias
Professora Dra. Maria de Fátima Garcia
Resenha sobre a obra do economista Michal Kalecki
A obra de Kalecki abrange as economias desenvolvidas capitalistas, as economias em desenvolvimento (chamadas mistas) e as economias socialistas. Seu ensaio sobre as economias em desenvolvimento (mistas) compreende 
Essays on developing countries
Crescimento e ciclo das economias capitalistas
Esses estudos ajudaram a moldar o pensamento da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe). Para as economias socialistas escreveu o livro Introdução da teoria do crescimento em economias socialista. Mas de fato sua grande atuação se dá em seus estudos (cerca de 50 trabalhos publicados entre 1927- 1932) sobre as dificuldades encontradas pelas economias capitalistas. Michal Kalecki se beneficiou do acesso privilegiado que tinha no que diz respeito aos preços uma vez trabalhando em um órgão de pesquisa do governo e estuda exaustivamente os oligopólios, chega à conclusão de que a livre concorrência representa uma idéia que não existe no mundo real, seus trabalhos fornecem grandes informações a respeito do grau de monopólio das economias, chamado Mark-up.
Nas economias capitalistas sua obra compreende:
Ensaios sobre a teoria das flutuações economias
Estudos de dinâmica econômica
Teoria da dinâmica econômica – ensaios sobre as mudanças cíclicas e em longo prazo das economias capitalistas (1954)* Neste trabalho ele estuda de forma conjunta ciclo e tendência das economias, fato que o torna diferenciado em relação a Keynes que somente havia se preocupado com os ciclos pelos quais passam as economias.
Crescimento e ciclo das economias capitalistas. 
Esboço de uma teoria do ciclo econômico. => destaca o papel crucial da demanda efetiva na dinâmica das economias capitalistas desenvolvidas.
Comércio Internacional e “exportações internas” (1933) => como sair da crise, análise crítica de um artigo de Rosa Luxemburgo (Setor privado exportando para o próprio governo como uma forma de sair da crise segundo a mesma)
De maneira resumida, em sua obra, Kalecki desenvolveu os resultados apresentados por Keynes para o papel da demanda efetiva em primeiro lugar (3 anos antes)
Pontos divergentes: Diagnóstico da crise de 1929: problema de demanda efetiva (Keynes) / realização da mais valia (Kalecki).
O nível de renda nacional não é determinado automaticamente pela capacidade de produção da economia segundo Kalecki – para tanto buscou explicar a realização das remunerações dos fatores de produção com o auxílio do fluxo funcional da renda, (lucros e salários). 
	
	
	
	
	
	
	
	
	Marx sugere que a realização da mais valia está relacionada aos gastos dos capitalistas com bens de consumo e com acumulação de capital. Segundo Miglioli, Kalecki contribui com a teoria marxista ao interpretar os esquemas de reprodução da mais-valia. Ele retoma o problema de realização conforme delimitado por Marx, como ponto de partida para a análise da dinâmica capitalista, pois o problema não esta nos gastos capitalistas com consumo, mas sim, com investimento, caso essa taxa de re-investimento não seja realizada, o investimento não será capaz de absorver a demanda, resultando em uma crise de demanda.
Michal Kalecki dividiu a economia em departamentos de tal forma a analisar a realização dos lucros (P) e salários (W) partindo do pressuposto de que os trabalhadores não possuem poupança, uma vez que seus recursos são totalmente gastos em consumo dado a remuneração dos salários ser proporcionalmente mais baixa que a remuneração dos lucros permitindo então somente uma renda de subsistência sem geração de poupança. Inicialmente para uma economia fechada e sem governo os departamentos são:
Matriz Departamental de Kalecki
	D1
	D2
	D3
	Σ
	P1
	P2
	P3
	P
	W1
	W2
	W3
	W
	I
	Cc
	Cw
	Y
Fonte: Elaboração do autor com base em livros didáticos da matéria
Seja um aumento no setor produtor de bens salários, o efeito líquido será uma redistribuição de lucros dadas as equações abaixo e levando em consideração que I e Cc permanecem constantes.
Cw = W1+W2+W3
Cw=P3+W3
P3=W1+W2 P1 e/ou P2 devem cair. (Redistribuição dos lucros entre os departamentos)
Esquema marxista de reprodução adaptado. Tal esquema é utilizado como forma de explicar a crise capitalista. Ele mostra que a variável fundamental para reprodução do lucro são os investimentos dos capitalistas, e é exatamente este fato ou a ausência dele, que ocasionará as crises no capitalismo.
	D1
	D2
	D3
	Σ
	P1
	P2
	P3
	P
	W1
	W2
	W3
	W
	I
	Cc
	Cw
	Y
Duas interpretações alternativas:
Para um dado período de tempo t os capitalistas dividem todo o lucro na compra de bens de investimento e de bens de consumo;
Para dado período de tempo t, os gastos dos capitalistas em investimento e em consumo somam-se para constituírem o lucro total.
Na alternativa 1 o P (lucro) é uma variável independente, na alternativa 2 ela é dependente, para Kalecki a alternativa que melhor explica o capitalismo é a segunda. Aparentemente o lucro depende do valor total da produção quanto maior a produção maior o lucro. Na realidade o lucro não depende de todo o valor da produção mas do valor da produção dos setores 1 e 2.
O lucro depende do valor das vendas dos bens de consumo e dos bens de investimento dos capitalistas. Se nós temos Cw crescendo por alguma razão qualquer então W1 e W2 irão crescer. Para que os lucros aumentem, é preciso que os gastos dos capitalistas com bens de consumo e bens de investimento aumentem.
Os capitalistas não podem decidir quanto lucro ganhar apenas decidem quanto gastar na produção de bens de consumo e de bens de investimento, quanto maiores os gastos maiores os lucros. Eles podem gastar mais ou menos em relação ao gasto dos períodos passados de acordo com a expansão ou retração da demanda. 
Pt = Cct + It
Pt+1=Cct+1 +It+1 
	No entanto se assim fosse, de acordo com as equações acima, os lucros seriam estacionários, ou seja, não sofreriam variação no longo prazo, se a economia está em expansão, eles gastam mais, do caso contrário gastam menos. 
Equação completa dos lucros
Removemos três hipóteses: economia fechada, não existe poupança dos trabalhadores, sem governo.
W+P = Cc+Cw + I+(X+M)+G -Impostos
P=Cc+(Cw-W)+I+(X+M)+G –Impostos (Excluem-se os impostos indiretos)
Quando os trabalham poupam os lucros declinam. Supõe-se que a poupança dos trabalhadores é pequena o suficiente para não ser levada em consideração. Quando os gastos dos capitalistas crescem o lucro cresce, dentro da equação completa todas as relações são positivas com exceção da poupança dos trabalhadores.
Se Cw cai, P3 cai, P cai, e P1+P2+P3 caem também, sendo W3 mantido constante.
Incorporando o setor exportador, como departamento, temos que P= P1+P2+P3+P4, W=W1+W2+W3+W4, Y=I+Cc+Cw+X, Cw= W1+W2+W3+W4, Cw= Cw1+Cw2+Cw3+Cw4, Cw=P3+W3 , logo, P3=W1+W2+W4.
Podemos tirar algumas relações a partir das equações acima:
Se X=P4+W4 e X aumenta, tal variação vai repercutir em W4 e em P4 levando a um aumento em P3 por meio dos salários dos setores W1+W2+W4, por fim aumentando o lucro total da economia.
Incorporando o setor governo, teremos agora 5 departamentos, voltando ao quadro acima:
	D1
	D2
	D3
	D4
	D5
	Σ
	P1
	P2
	P3
	P4
	P5
	P
	W1
	W2
	W3
	W4
	W5
	W
	I
	Cc
	Cw
	X
	D
	Y
P= P1+P2+P3+P4+P5, W=W1+W2+W3+W4+W5, Y=I+Cc+Cw+X+D, quanto maior o déficit do governo, maior a renda da economia, por meio do impacto gerado nos lucros dos demais setores como conseqüência dos gastos realizados pelo setor governo. O departamento D3 é referência para analisarmos a dinâmica dos gastos, uma vez que a poupança dos trabalhadores é irrelevante, de alguma forma as mudanças ocorridas nos demais setores tendem a impactar de uma forma significativa os gastos com bens de consumo no departamento 3, lembrando a relação apresentada, independente das hipóteses restritivas, de que o lucro do departamento 3 é dado pelosgastos em bens de consumo dos demais setores da economia, uma vez que os trabalhadores de D3 consomem seus salários dentro do próprio setor, fazendo com que em P3 esteja contido também os gastos dos trabalhadores do próprio setor. Por fim, a análise do D3 é de extrema importância para explicar a distribuição de renda dentro da economia.
	Somando os gastos do governo nas equações vemos que a composição do lucro permanece inalterada de acordo com as relações anteriores, uma vez que o governo aumente seus gastos por meio de Cw5, os lucros totais na economia (P) tendem a aumentar.
Qual a origem dos gastos dos capitalistas
	Se os lucros não são estacionários, então, qual a origem dos gastos dos capitalistas? Eles dependem dos gastos dos capitalistas em bens de consumo e acumulação, os gastos acima, que fogem da relação expansão/retração da demanda advém de:
Reservas financeiras: (reinversão dos lucros) em determinados momentos os capitalistas podem utilizar essas reservas para aumentar seus gastos, gerando um impacto nos bens de investimento apresentados no departamento 1, convertendo-se em lucro deste setor.
Créditos bancários: Com os créditos bancários os capitalistas podem comprar bens de capital no D1 ou para gastos no D2, pegando emprestado dos bancos o capital que inevitavelmente se transforma em lucros dos próprios departamentos dos quais fazem parte.
De acordo com Kalecki, os lucros são investidos antes mesmo de existirem, de acordo com a proposição 2. Tanto para Keynes quanto para Kalecki, o investimento não depende de uma poupança, daí a importância de se entender como funcionam os créditos bancários que geram os lucros de D1 e D2.
Lucros, salários e renda nacional
	Numa economia fechada e sem governo, o nível de lucros num certo período de tempo t é determinado pelos montantes de investimento e consumo dos capitalistas nesse período. Quando os capitalistas compram bens de consumo e de investimento, isto repercute em maior produção nos departamentos 1 e 2 produtores de bens de consumo e bens de investimento.
Fatores de distribuição de renda
	A distribuição de renda é mantida constante. Caso contrário, as alterações nos fatores de distribuição de renda terão influência na determinação dos montantes dos salários. Alguns fatores de distribuição de renda são o poder de barganha dos sindicatos e a luta dos trabalhadores por melhores salários que afetam o grau de monopólio das empresas representado por k=P/(M+W) onde M representa o custo das matérias primas, W o salário pago e P os lucros das empresas. Mantendo k constante, por exemplo, caso haja um aumento no custo das matérias primas, P aumenta como conseqüência direta, uma vez que se considera que os trabalhadores não possuem tanto poder de barganha quanto as empresas em relação aos seus próprios preços, modificando os valores das variáveis presentes em k no sentido de uma piora de P/W, ou seja, os trabalhadores acabam, de certa forma, pagando o aumento dos custos de matéria prima.
Revisão da aula passada...
As fases do processo de investimento:
Decisões de investimento;
Produção dos bens de investimento;
Entregas.
Fase ascendente do ciclo – decisão de investimento
Fase da expansão – instalação dos bens de capital adquiridos na fase anterior
Fase da recessão;
Fase da depressão;
Ao final do ciclo, o estoque de capital tende a ser maior do que no início, elevando o patamar da renda nacional, e o ciclo seguinte partirá de um nível de renda mais alto. Ao longo do tempo, a renda apresenta uma trajetória cíclica em torno de uma tendência crescente. O investimento é a variável fundamental na determinação dos lucros. Mas, quais são os determinantes do investimento?
Poupança interna bruta;
Variação dos lucros ao longo do tempo;
Variação no volume de capital fixo ao longo do tempo.
O investimento é o principal determinante do crescimento econômico e do ciclo econômico.
Para Marx o lucro se dá na mais valia, segundo Kalecki, na medida em que os novos investimentos não são realizados, a menor FBC (Formação Bruta de Capital) impede a reprodução do capital ocasionando assim as crises dentro do capitalismo.
A chamada equação da troca fundamental que é de Marx é utilizada por Kalecki para nos remeter às relações entre salários, lucros e renda nacional, fazendo uso da análise departamental da economia. Quando kalecki discute essa relação ele quer mostrar que não apenas o lucro é determinado pelos gastos dos capitalistas mas também as demais variáveis como salário e renda nacional. De acordo com o esquema marxista de reprodução do capital, o seu chamado Tableau Économique da renda nacional:
	
	
	
	Σ
	
	
	
	P
	
	
	
	W
	I
	
	
	Y
As três equações verticais:
Equação (1)
Adicionando nos dois lados da equação (1) temos ; ; . Seja a participação relativa dos salários na renda nacional:
Se 
Seja : Participação relativa dos salários na renda de , e , ...
Temos então:
Se 
Portanto,
Por fim,
de i=1 até 3 = constante, temos que:
Como a poupança dos trabalhadores é muito pequena e pode ser considerada como zero na análise, temos:
Equação da distribuição da renda. A distribuição da renda depende da composição do valor bruto da produção ou dos preços dos produtos finais. Seja o valor bruto da produção:
(Ordenados são custos indiretos)
Seja , 
 , temos: 
,
Isolando o :
Se , temos que , 
Se ,
Dividindo o denominador e o numerador por :
Para 
 e são fatores de distribuição de renda. Quanto maior for (que está intimamente ligado ao grau de monopólio) e maior for , menor será a participação dos salários na renda nacional. A distribuição de renda depende de:
Da composição do valor bruto da produção
Dos custos das matérias primas
Em 1 vemos que quanto maior for p em relação a W ou M, e assim por diante, menor será a participação do salário na distribuição de renda, o que por si só, perfaz a própria definição de distribuição de renda. E essa composição está ligada ao poder de monopólio das empresas, logo, podemos concluir que tal poder afeta diretamente as participações relativas dos fatores de produção e a conseqüente distribuição das rendas. Conforme verificado no capítulo 1 do crescimento e ciclos das economias capitalistas. (Kalecki, pg 1 a 9). 
Se , dados e constantes, quanto maior for maior será . Quanto maior for , maior será a relação entre lucros e salários e menor será a participação dos salários na renda nacional. Supondo , , quanto maior for em relação a maior será e menor será a participação dos salários na renda nacional e maior será o valor da produção e do lucro. Maior será o lucro em relação ao salário e menor será .
Mais pra frente...
Para Kalecki, a taxa de juros que influencia os investimentos é a taxa de longo prazo, diferentemente de Keynes que leva em consideração a taxa de curto prazo. A inovação tecnológica também é uma variável importante para Kalecki na determinação de lucros e investimentos e é dentro dessa teoria de ciclos e tendências que veremos as demais demonstrações a partir das definições e conceitos presentes acima. Veremos como que partindo da função consumo dos capitalistas chegamos à relação entre lucro e investimento.
Os gastos capitalistas entra na determinação dos lucros, logo, partindo da função consumo dos capitalistas (Keynes tem um função consumo para sociedade, Kalecki tem uma função consumo para os capitalistas):
Se, 
Onde:
: parcela autônoma de consumo dos capitalistas estável no curto prazo;
: Fração dos lucros auferidos com períodos passados;
: Lucro dos capitalistas no período ;
 bem próximo de zero pois o montante de lucros é muito grande.
pode ser considerado como sendo a propensão marginal a consumir de Keynes, só que neste caso para os capitalistas.
 , sendo
(
(
Lembrando que ,
Chegamos ao multiplicador
 
: lucro do período passado
 
...
Lembrando que ,
Chegamos ao multiplicador (J. Miglioli pg283)
Seja média aritmética ponderada dos investimentos , , ..., sendo que os fatores de ponderação desses investimentos.
Dividindo os dois termos por :
Para Kalecki:
Somente os coeficientes relativamente próximos no tempo contarão na determinação dos lucros no período corrente, quando mais próximo maior a influência dos coeficientes na determinação dos lucros.
A tendência dos ordenados (custos indiretos) durante os ciclos do produto é cair menos que a renda nacional durante as recessões e subir mais durante os ciclos, eles tendem a ter um comportamento mais sensível em relação quando comparados aos salários dos demais trabalhadores.
Relação entre renda nacional e investimentos
Seja a remuneração do fator trabalho como um todo:
Remuneracao do fator trabalho.
Salários: Custos Diretos
Ordenados: Custos Indiretos
W: Parcela relativa dos salários na renda bruta do setor privado: + ou – estável no decurso do ciclo.
O: Parcela relativa dos ordenados na renda bruta do setor privado: cai menos na depressão e sobe mais na expansão.
Lembrando...
Fonte: Elaboração do autor
Constante autônoma estável no curto prazo.
: parcela da variação da renda do setor privado que vai para os salários e os ordenados.
 dado que .
Dividindo por os dois lados:
Parcela relativa da remuneração do fator trabalho na renda bruta do setor privado.
Sendo a equação da distribuição de renda, dado que e . Diferença entre a renda bruta do setor privado e o lucro .
 
 
 
Mas, 
 
 
 
Dado que: 
e, 
Portanto a variação dos investimentos leva a variação da renda via variação dos preços:
e,
Sendo e constantes autônomas:
 
Portanto, 
É o multiplicador Kaleckiano.
Conclusão
O aumento na renda bruta do setor privado é mais que proporcional ao aumento dos investimentos devido ao fato de que o investimento tem uma influencia estimuladora sobre o consumo dos capitalistas e sobre a renda dos trabalhadores.
O que determina a renda nacional do setor privado é a PMgC dos capitalistas, investimento e a distribuição de renda, ou seja:
.
O aumento da renda devido a variação nos investimentos decorre do aumento subseqüente do consumo dos capitalistas e dos trabalhadores devido a esses investimentos.
O aumento do consumo dos trabalhadores é dado por: 
O aumento do consumo dos capitalistas é dado por 
Grau de Monopólio – Teoria dos Preços em Kalecki
Duas fontes de variação nos preços
Caso em que a oferta é elástica e,
Caso em que a oferta é inelástica.
Na Oferta elástica – variações causadas por modificações nos custos de produção:
Os preços sofrem variações de acordo com a capacidade produtiva das empresas, na medida em que as empresas possuem uma capacidade ociosa de produção, elas podem responder a aumento na demanda sem variação nos preços. O fato de que a oferta seja elástica, a variação nos preços está relacionada à variação nos custos de produção, permeando essa relação está a natureza elástica da oferta dos produtos no âmbito das matérias primas através dos quais os preços podem ser afetados. A capacidade ociosa a qual se refere Kalecki é uma capacidade planejada por parte das empresas para atender a demanda sem que seja necessário novas empresas entrarem no mercado – essa é razão do excesso de capacidade planejada, segundo Joseph Steindl em sua obra de 1952 “Maturidade e estagnação do Capitalismo americano” é racional pensar assim, pois tal estratégia tem como objetivo impedir a concorrência.
Na oferta inelástica – variações causadas por mudanças na demanda:
Os preços das meterias primas são afetados diretamente por alterações na demanda devido a inexistência de reserva de capacidade produtiva. Isto requer um tempo relativamente grande, de modo que o aumento da demanda implica na redução de estoques, o que vem acompanhada de uma elevação nos seus preços.
	Kalecki vai tratar da formação dos preços determinados pelos custos de produção. Ele refere-se aos preços dos produtos acabados, cuja oferta é elástica devido à reserva de capacidade produtiva planejada. Quando ele se refere que a firma não pretende maximizar lucro, ele quer dizer que o objetivo de uma empresa bem sucedida seria gastar para ganhar mercado, por isso uma firma oligopolizada é ganhar mercado, o que representa o oposto da firma marshalliana
Fixação dos preços por uma firma:
Pressupostos
A firma leva em consideração o preço das outras firmas quando da fixação de seu próprio preço, considerando a média ponderada do preço das demais firmas que fabricam produtos similares aos seus.
A firma irá considerar a média de seus próprios custos diretos que são considerados estáveis. Por um lado, a firma procura se aproximar ao máximo da média do preço das demais firmas, pois tal equívoco poderia resultar em perda de mercado e por outro, a empresa tenta não fixar um preço muito abaixo para que não incorra em lucros perdidos. A fixação de preço por uma firma pode ser formalizada na seguinte equação:
Sendo e e representa a média dos custos diretos da firma.
O caráter semimonopolístico da fixação dos preços pela firma de Kalecki é garantido pelos pressupostos da reserva de capacidade planejada e de estabilidade dos custos diretos unitários. será tanto maior quanto for o grau de monopólio da firma.
Fonte: Elaboração do autor
Quanto maior forem e maior será o preço. Quanto e são iguais para todas as firmas, mas os custos diretos unitários são diferentes e se levarmos em consideração que todas as firmas fixam seus preços de acordo com as observações teóricas de Kalecki, podemos somar as variáveis da equação acima para todas as unidades de firmas com o intuito de compreender como o preço é formado, por exemplo, no ramo da indústria.
Dado que , o preço converge para .
	É natural pensar que cada firma possua um grau de monopólio diferente das demais, no entanto, a conclusão a qual a expressão acima nos leva fornece uma idéia de como a relação custo/preço é dada, pois quando se altera o grau de monopólio, altera-se a relação custo/preço. O preço médio da indústria é proporcional ao seu custo direto unitário . Interessante notar que o preço fixado por uma indústria irá afetar o preço médio, o que, por conseguinte, irá afetar seu próprio preço. Estes resultados dependem totalmente das suposições de elasticidade preço de oferta e de custo direto unitário constante.
Fatores que podem alterar a relação preço/custo
Concentração e centralização de capital: Quando começam a surgir firmas grandes, pela concentração e centralização de capitais, o grau de monopólio tende a aumentar. Isto ocorre porque a firma grande tem o poder de estabelecer o seu preço, influenciando o preço médio e este também será influenciado pelo preço .
Publicidade: Com a publicidade, a concorrência via preços dá lugar a concorrência via publicidade, gerando um aumento no grau de monopolização. A firma não receia perder mercado.
Custos indiretos: Não necessariamente leva ao aumento de mark-up, nos custos indiretos incluem-se os ordenados e o custo do capital. Quando o nível de custos indiretos se eleva muito em relação aos custos diretos, isto resulta em retração nos lucros, a não ser que se permita uma elevação em em relação aos custos diretos.
Poder dos sindicatos: Um sindicato poderoso sempre contribuirá para a redução da margem de lucro, na medida em que luta para conseguir salários cada vez mais elevados, quando percebem que os lucros são excessivamente elevado. No entender das lideranças, devido aos lucros excessivos, é possível aumentar os salários, sendo isso compatível com o nível dos preços vigentes. A ação dos sindicatos sempre contribui para a redução da relação preço/custo. Quanto maior forem os sindicatos, menor será o grau de monopólio.
Relação custo/preço no longo prazo: existem custos que podem se alterar no longo prazo, progresso tecnológico por exemplo.
Flutuações nos preços das matérias primas: Os preços das matérias primas variam devido as variações na demanda. Assim sendo, em períodos de recessãoos preços dos produtos primários tendem a cair e em períodos de expansão tendem a subir, devido a queda nos estoques.
Para Kalecki...
É sabido que os preços das matérias primas oscilam mais do que os salários, tanto na depressão quanto na expansão. As causas desse fenômeno podem ser explicadas da seguinte forma: os cortes salariais em uma depressão nunca podem alcançar uma queda maior do que o preço das matérias primas, pois caso isso acontecesse, haveria uma nova redução no preço das matérias primas por conta da menor pressão da demanda agregada oriunda do cortes salariais.
Taxa de juros de curto prazo
Kalecki inicia o capítulo 6 negando a teoria clássica da taxa de juros segundo a qual essa taxa é determinada pelo equilíbrio entre oferta e demanda de capital. O argumento do autor se baseia no fato de que o investimento quando realizado necessariamente gera uma poupança, deste modo o investimento se “autofinancia” qualquer que seja a taxa de juros vigente. No curto prazo, a taxa de juros de curto prazo é determinada pela interação entre o valor das transações T e a oferta monetária M por parte dos bancos. No longo prazo, a taxa de juros é determinada por previsões baseadas na experiência passada e por estimativas de risco envolvidas. Para Kalecki a taxa de juros de curto prazo é a recompensa pela renúncia à liquidez.
Velocidade de circulação da moeda e taxa de juros de curto prazo
	Passa a ser função da taxa de juros e é dada pela razão: T/M, onde M representa o papel moeda em poder do público + depósitos a vista nos bancos e T representa o volume total de negócios – montante do valor das transações em um certo período.
	A teoria quantitativa da moeda considera que V seja constante. No entanto, Kalecki considera que V depende da taxa de juros no curto prazo. Quanto maior a taxa de juros maior o incentivo para investir dinheiro. 
Onde i é a taxa de juros de curto prazo. Dada a função V, a taxa de juros de curto prazo é determinada pelo volume de transações e pela oferta monetária. Para Kalecki, esta é a equação da quantidade de moeda, no entanto, em nada se assemelha ao do conceito da teoria quantitativa da moeda. Para Kalecki, trata-se de relacionar a taxa de juros i diretamente com a oferta monetária M e o valor das transações T.
Para um valor de V alto, eu somente consigo reduzir o M caso a autoridade ofereça um preço muito baixo para o valor dos papeis no mercado financeiro (juros altos). Para V crescente, há uma redução no valor dos encaixes. Para um V muito baixo, M grande em relação a T, basta uma pequena elevação na taxa de juros para aumentar V. Para Kalecki, a oferta de moeda é exógena.
Da mesma forma para Keynes, a taxa de juros é determinada no mercado monetária, de tal forma que os ciclos da economia estão relacionados a política monetária praticada pelos bancos e/ou autoridade monetária. Kalecki admite que a oferta monetária flutua menos que o valor das transações, ou seja, consequentemente temos que na fase de prosperidade, T bastante alto, logo a taxa de juros i e o volume de transações estão crescendo, sendo o oposto verdadeiro para as fases de recessão. Pode-se concluir erroneamente que na prosperidade há uma inibição dos investimentos por meio da taxa juros de curto prazo, no entanto, para Kalecki a taxa de juros que define o volume de investimentos não é a de curto prazo, mas sim a de longo prazo, sendo a taxa de juros de curto prazo irrelevante para a realização dos investimentos, sendo este um ponto divergente entre a teoria desenvolvida por Kalecki e Keynes, pois para Keynes não distinção entre taxa de juros de curto e de longo prazo.
As decisões de investimento dos capitalistas é a de longo prazo e esta se mantém estável no decurso do ciclo sendo determinada:
Previsões da taxa de juros de curto prazo baseadas na experiência passada.
Pelas estimativas de risco envolvido na possível depreciação do ativo realizável.
Kalecki realiza estudos empíricos para a Inglaterra e para os EUA para averiguar a estabilidade da taxa de juro de longo prazo. Este argumento da estabilidade da taxa de juros de longo prazo estável é essencial, pois exclui as teorias do ciclo que atribuem a interrupção da prosperidade ao aumento da taxa de juros. 
No longo prazo a demanda por empréstimos depende do montante das decisões de investimentos tomadas pelos capitalistas. Dada a oferta de moeda, a taxa de juros de longo prazo r depende das alternativas de empréstimo de curto e de longo prazo. A comparação entre essas alternativas de empréstimos serve de base para os emprestadores decidirem sobre as alternativas de empréstimos de curto e longo prazo. A comparação baseia-se numa estimativa da taxa de juros de curto prazo para os anos futuros e uma taxa de risco associada aos empréstimos de longo prazo, pode ser menor, maior ou igual a .
Onde:
 = taxa de juros de longo prazo;
 = taxa de risco de empréstimos de longo prazo;
= taxa que os emprestadores acreditam que poderiam auferir se aplicassem ininterruptamente para anos. 
Estabilidade de , o motivo .
A taxa de risco dosa as conseqüências dos desequilíbrios de curto prazo com relação ao longo prazo, fazendo com a taxa não seja tão instável quanto a taxa de juros de curto prazo, pois em períodos de expansão a taxa diminui contrabalanceando o aumento nas taxas de juros de curto prazo, e em períodos de recessão, se eleva.
O capital empresarial é o fator limitativo do investimento por:
Determinante do grau de acesso da firma aos empréstimos;
Determinante do grau de risco de investimento.
Se o capital empresarial determina o montante de empréstimo que uma firma pode obter, tem-se que:
A diversidade de tamanho entre as varias firmas que operam num ramo empresarial é explicada pelas diferenças entre os montantes de capital empresarial inicial de cada uma.
A expansão posterior de uma firma depende do montante de capital acumulados a partir de seus próprios lucros.
Depende da acumulação interna de cada firma, ou seja o uso que cada firma faz dos lucros para fins de acumulação.
A conclusão mais geral de Kalecki:
	“A limitação de tamanho de uma firma pela disponibilidade de capital atinge o próprio âmago do sistema capitalista. Muitos economistas supõem, pelo menos em suas teorias abstratas, uma situação de democracia econômica onde qualquer pessoa dotada de habilidade empresarial pode obter capital para começar um negócio. Esse quadro das atividades do empresário “puro” não é, para por a coisa em termos modestos, realista. O mais importante pré-requisito para se tornar um empresário é a propriedade do capital”. [Teoria da Dinâmica Econômica, Michal Kalecki, 1977:116]
O mecanismo do ciclo econômico 
A fórmula do investimento total exprime duas relações:
Relação entre o investimento em capital fixo e a poupança, a taxa de modificação dos lucros e a taxa de modificação no estoque de capital do outro. (o efeito de modificação no estoque de capital é dado pelo denominador do coeficiente [1/1+c]. O coeficiente c representa o efeito adverso da variação do estoque de capital nas decisões de investimento). O investimento atual depende do investimento nos tempos anteriores, ou seja, o investimento é auto regressivo, determina-se a si próprio, a equação do investimento total aplica-se ao processo dinâmico em geral.
Considera-se apenas o ciclo, abstrai-se a tendência de longo prazo. Os parâmetros A, B’ e E são estritamente constantes.
O primeiro termo do segundo membro da equação representa a influência sobre as decisões de investir:
Da poupança corrente (coeficiente a)
Do efeito negativo do ΔKt/Δt (coeficiente 1/(1+c))
1/(1+c)<1
O segundo termo representa a influência da taxa de modificação dos lucros (coeficiente b’/1-q) e da produção (coeficiente e/(1-q)(1-α’)) 
Para que o sistema seja estático, este sistema deve ser capaz de ser capaz de repor unicamente a depreciação δ, ΔI/Δt = 0. A equação do investimento fica reduzida a:
A suposição de que o coeficiente a/1+c é menor que 1 é de importância crucial. Imaginemosque saímos da posição onde it=0 ou seja, em um ponto A onde o investimento é igual a depreciação e que Δit-w/Δt é positivo.
Isso quer dizer que antes de A o investimento estava abaixo da depreciação, mas estava subindo rumo a superá-la. O investimento pode se estabilizar em um ponto qualquer, ou pode continuar subindo até esgotar os recursos da economia como a capacidade produtiva existente ou mão de obra disponível, levando a um ciclo contínuo auto-sustentado de realização dos investimentos. As flutuações do investimento irão gerar flutuações na renda e no nível de emprego. Tal fato ocorre em parte devido ao coeficiente a, se houvesse o reinvestimento completo da poupança, a=1, os investimentos poderiam se manter em seu ponto máximo e não haveriam ciclos econômicos.
Porém, de fato, a acumulação de bens de capital, que com as atividades econômicas a um nível estável determina uma taxa de lucros decrescentes, tem um efeito adverso tangível sobre o investimento (isto é, c não é desprezível). O reinvestimento da poupança pode ser incompleto (isto é, a<1), este fator pode repercutir de forma positiva para recuperar os investimentos quando estes se localizam em um ponto inferior ao correspondente a depreciação e de forma negativa quando os investimentos se localizam em seu ponto máximo com relação a depreciação. Tais considerações se baseiam também na suposição de que os coeficientes de a/(1+c) e μ são de molde a provocar a detenção automática da elevação do investimento na fase de expansão e recessão.
Uma forma alternativa de se interpretar as equações de Kalecki com relação a dinâmica dos investimentos pode ser entendida da seguinte forma:
Depois de certo tempo de elevação dos níveis de investimento, este somente se detém quando começa a pressionar o preço dos recursos que consome para sua realização, logo, tal incentivo faz com que os investimentos comecem a cair até atingir um ponto mínimo no qual as condições que inicialmente o fizeram atingir um ponto de máximo comecem a agir de tal forma a atingir um ponto de mínimo, começando a recuperar-se e novamente tornar subir. [a/(1+c)]. As experiências realizadas parecem sugerir que se o amortecimento causado por este coeficiente não for suave, os ciclos tendem a ser menos regulares e com uma amplitude maior.

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