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Lição 01 / 1 Índice 1.Introdução 2. Ciência 3. Conhecimento Científico x Senso Comum 4. A Natureza do Conhecimento 4.1. Conhecimento Popular 4.2. Conhecimento Filosófico 4.3. Conhecimento Religioso (Teológico) 4.4. Conhecimento Científico 4.5. Meios de Aquisição de Conhecimentos 5. Conclusão 6.Referências Metodologia Científica Lição 01 Ciência e Conhecimento Científico Lição 01 / 2 1. Introdução Caros alunos, antes de iniciarmos o conteúdo desta lição, vamos refletir um pouco sobre o significado da Metodologia Científica e a importância dela para a sua formação acadêmica. Mensagem para refletir! “Cuidado com gente que não tem dúvida. Gente que não tem dúvida não é capaz de inovar, de reinventar, não é capaz de fazer de outro modo. Gente que não tem dúvida só é capaz de repetir. Cuidado com gente cheia de certeza. Num mundo de velocidade e mudança, imagine se você ou eu somos cheios de certeza, a dificuldade que isso nos carrega. (...) Num mundo competitivo, para caminhar para a excelência é preciso fazer o melhor, no lugar de, vez ou outra, contentar-se com o possível. E isso exige humildade e exige que coloquemos em dúvida as práticas que já tínhamos. (...) De onde vem a palavra “humilde”? De húmus, que é terra fértil e, na origem, significa o “solo sob nós”. Em outras palavras, húmus é o nível em que nós estamos. A palavra “humildade” é a mesma da origem húmus, da qual deriva “humano”. Cada homem e cada mulher têm o mesmo nível de dignidade, de possibilidade de ação. (...) Qual o contrário de humilde? Arrogância. Gente arrogante é gente que acha que já sabe, que acha que não precisa aprender. (...) Gente arrogante não ouve discordância e não consegue aprender. (...) Arrogância é um perigo porque ela altera inclusive a nossa capacidade de aprender com o outro, de entrar em sintonia. (...)” (CORTELLA, 2008, p. 29-31). Desde seu surgimento, o homem procura formas e métodos de conhecer o mundo em que está inserido e sua própria identidade como ser. Nesse sentido, a disciplina de Metodologia Científica cumpre papel relevante no âmbito universitário, por permitir conhecer e compreender a caminhada humana, bem como possibilitar a construção de respostas a questões e angústias sobre o mundo, a verdade, o real e o próprio homem, entre outras coisas. Estas respostas vieram sempre acompanhadas de métodos e sistemas de pensamentos que, por vários caminhos e diferentes formas, construíram sistemas organizados de compreensão e explicação da realidade. Lição 01 / 3 Estes sistemas organizados de pensamentos formulam Métodos ou estratégias de pesquisa e abordagem da realidade e o conjunto desses métodos é o objeto de estudo da Metodologia Científica. Também, não podemos deixar de acrescentar que a evolução tecnológica e as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade têm exigido que as instituições de ensino formem indivíduos mais capacitados e competentes para o enfrentamento dos problemas cotidianos. Assim, é necessário que, ao entrar na universidade, você saiba da importância que se deve ter em relação aos estudos. É necessário assumir uma nova postura diante do que lhe será solicitado, para que sua formação intelectual e profissional não seja comprometida, já que a sociedade está mais seletiva. Além disso, a utilização de métodos e técnicas de estudos possibilita a obtenção de maior rendimento na sua aprendizagem. Portanto, este é o objetivo desta disciplina Metodologia Científica, ou seja, objetiva proporcionar ao aluno do curso superior condições suficientes para elaboração de trabalhos acadêmicos e a produção do conhecimento científico, de forma teórica e prática alicerçada em argumentos coerentes e definições precisas, configurando num projeto de pesquisa. Por que estudar Metodologia Científica? Precisamos partir da compreensão de que Metodologia Científica é a disciplina que "estuda os caminhos do saber", entendendo que "método" representa caminho, "logia" significa estudo e "ciência", saber. Severino (2000, p.18) define Metodologia como: [...] um instrumental extremamente útil e seguro para a gestação de uma postura amadurecida frente aos problemas científicos, políticos e filosóficos que nossa educação universitária enfrenta. [...] São instrumentos operacionais, sejam eles técnicos ou lógicos, mediante os quais os estudantes podem conseguir maior aprofundamento na ciência, nas artes ou na filosofia, o que, afinal, é o objetivo intrínseco do ensino e da aprendizagem universitária. Lição 01 / 4 A Metodologia Científica, enquanto disciplina, objetiva: 1) capacitar o aluno para a organização de seus estudos na universidade; 2) capacitar para elaboração de trabalhos acadêmico-científicos; 3) distinguir Ciência de outras formas de conhecimentos; 4) entender a importância da Ciência para a compreensão da realidade; 5) entender o que é método científico, seus tipos e procedimentos; 6) capacitar o aluno para que, a partir da ação-reflexão-ação, produza conhecimento; 7) desenvolver o espírito crítico, ético, reflexivo, analítico, sistemático, investigativo, criativo, curiosidade, indagador, questionador e gosto pela pesquisa e estudos. É verdade, você sabia? A Metodologia Científica é de fundamental importância para a sua vida universitária! Com a Metodologia Científica, você está aprendendo a aprender. Em outras palavras, é a disciplina que confere os caminhos necessários para o auto-aprendizado em que o aluno é o sujeito do processo, aprendendo a pesquisar e a sistematizar o conhecimento obtido. Ela é baseada na apresentação e no exame de diretrizes aptas a instrumentar o universitário no que tange ao estudo e ao aprendizado. A Metodologia Científica, enquanto disciplina, deve possibilitar ao aluno aprender a estudar e a elaborar os trabalhos acadêmicos-científicos, de acordo com os procedimentos e as normas metodológicas, e normas oficializadas por instituições especializadas. Ela não só deve transmitir conhecimentos, mas possibilitar ao aluno a relação teoria e prática e a produzir conhecimentos. Lembre-se que o professor não pode ser responsável pelo seu sucesso acadêmico e profissional, porque o sucesso depende primeiramente de você! Lição 01 / 5 2. Ciência “A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade”. (LAKATOS & MARCONI, 1992) Você deve ter percebido que o homem sentiu a necessidade de saber o porquê dos acontecimentos e que, dessa forma, surgiu a CIÊNCIA. Para entender melhor esse assunto, você precisa compreender o que é ciência e, também, distinguir ciência e senso comum. Variados autores apresentam o que entendem por ciência através de conceitos que são permanentemente ampliados, uma vez que suas ideias não são DEFINITIVAS. O que é Ciência? Entendemos por ciência uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar. Vejamos o que alguns autores nos apresentam. Cervo e Bervian (2002, p. 16) afirmam que: Lição 01 / 6 “A ciência é um modo de compreender e analisar o mundo empírico, envolvendo o conjunto de procedimentos e a busca do conhecimento científico através do uso da consciência crítica que levará o pesquisador a distinguir o essencial do superficial e principal do secundário”. Para Lakatos & Marconi (1974, p.8): “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. O que é Ciência? Façamos um teste! O que as pessoas comuns pensam quando as palavras ciência ou cientista são mencionadas? As imagens mais comuns são as seguintes: o gênio louco, que inventa coisas fantásticas; o tipo excêntrico, fora do centro, manso, distraído; o indivíduo que pensa o tempo todo sobre fórmulas compreensíveis ao comum dos mortais; alguém que falacom autoridade, que sabe sobre o que está faltando, a quem os outros devem ouvir e ... obedecer. Lição 01 / 7 Segundo Lakatos e Marconi (2010), não existe um consenso na apresentação da classificação das ciências; o que é ciência para alguns autores, ainda permanece como ramo de estudo para outros, e vice-versa. Mas, baseando-se em Bunge (1976), as autoras adotam a seguinte classificação: CIÊNCIAS FORMAIS E CIÊNCIAS FACTUAIS. As CIÊNCIAS FORMAIS se encarregam do estuso das ideias, dividindo-se em lógica e matemática. Por não terem relação com algo encontrado na realidade, não podem se valer dos contatos com essa realidade para convalidar suas fórmulas, utilizando a lógica para demonstrar rigorosamente seus teoremas. Os resultados alcançados pelas ciências formais demonstram ou provam hipóteses. As CIÊNCIAS FACTUAIS se encarregam do estudo dos fatos, dividindo-se em naturais e sociais. Referem-se a fatos que supostamente ocorrem no mundo e, em consequência, recorrem às observações e às experimentações para comprovar ou refutar suas hipóteses. Os resultados alcançados pelas ciências factuais verificam, comprovam ou refrutam hipóteses que, em sua maioria, são provisórias. Lição 01 / 8 Classificação e divisão da Ciência Fonte: (LAKATOS & MARCONI, 2010, p.63) Lição 01 / 9 3. Conhecimento Científico x Senso Comum Agora que você já sabe o que é ciência, precisa entender também que o trabalho de cunho científico implica a produção do CONHECIMENTO, sendo este classificado como conhecimento ordinário ou vulgar (senso comum) e o conhecimento científico. Segundo Galliano (1986), o conhecimento vulgar (SENSO COMUM), também denominado “empírico”, é o que todas as pessoas adquirem na VIDA COTIDIANA, ao acaso, baseado apenas na experiência vivida ou transmitida por alguém. Em geral, resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação metódica ou verificação sistemática e, por isso, carece de caráter científico. Pode, também, resultar de simples transmissão de geração para geração ou fazer parte das tradições de uma coletividade. Ao contrário, o cohecimento científico é uma aquisição intencional, consciente e sistemática; é um processo que chegou ao máximo de seu desenvolvimento com a aplicação do método científico. De acordo com Galliano (1986), o conhecimento científico resulta de investigação metódica e sistemática da realidade. Ele transcende os fatos e os fenômenos em si mesmos, analisa-os para descobrir suas causas e concluir as leis gerais que os regem. Lição 01 / 10 É importante sabermos que, do conhecimento do senso comum, podemos desenvolver o conhecimento científico, pois ditos populares podem gerar questões que, às vezes, levam à pesquisa e à investigação científica; ou seja, aquilo que o senso comum não responde, a ciência pode responder. O Senso Comum tem fatores positivos e negativos. Se, por um lado, congrega conhecimentos e sabedoria popular e os transmite de geração em geração, fornecendo bases para uma vida adaptativa na sociedade em que estamos inseridos, por outro lado, poderá originar o prolongamento de crenças ou opiniões menos verdadeiras e/ou preconceituosas que se arrastam no tempo, somente ultrapassadas por pesquisas/estudos científicos. E é precisamente neste ponto que é benéfica a interligação entre o Senso Comum - baseado em testemunhos culturais – e o Conhecimento Científico – baseado em métodos de pesquisa. Um é a continuação do outro, a Ciência pode comprovar ou desmistificar factos/acontecimentos baseados no senso comum, através dos métodos de pesquisa científica. Você pode entender melhor a diferença entre o senso comum e o conhecimento científico, pensando nos tratamentos médicos. Muitos remédios foram utilizados, inicialmente, pelas comadres ou pelos índios, uma vez que o conhecimento deles era advindo do senso comum, que também chamamos de conhecimento vulgar. Quer saber como? Aos remédios produzidos pelas comadres, pode ser aplicado um método científico, após ser comprovada a eficácia dos métodos de cura; passam, então, a ser considerados um conhecimento científico. Antes disso, não era válida a comprovação do senso comum, mesmo que já tivesse curado diversas doenças, porque não havia passado pelo método científico. Você pode associar isso à sua vida acadêmica. Muitas vezes, na realização de um trabalho de estudos, com a investigação de um problema, você precisará aplicar os métodos científicos para chegar a um resultado comprovado, não poderá ficar no “achismo” ou no “vou fazer assim porque sempre deu certo”. Perceba, então, a importância da utilização dos métodos científicos na sua vida acadêmica! RESUMINDO Lição 01 / 11 SENSO COMUM: transmitido de geração para geração; tradição cultural; educação não formal; baseado na imitação e em experiências pessoais; empírico e desprovido de explicações; experiência do dia-a-dia (casuais); informações relacionadas diretamente com as açôes humanas concretas. CONHECIMENTO CIENTÍFICO: resulta de investigação; objeto da ciência é o universo material, físico e o que for perceptível pelos órgãos dos sentidos; é verificável, na prática, pela demonstração ou pela experiência; é transmitido por intermédio de treinamento apropriado; conhecimento obtido de modo racional; explica o por quê; acompanha procedimentos científicos. Lição 01 / 12 CIÊNCIA X SENSO COMUM A ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na existência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. A ciência é conhecimento que resulta de um trabalho racional. Um exemplo que explica o senso comum e o conhecimento científico: Que o sol, amanhã de manhã nascerá novamente, é uma convicção que tanto cientistas como leigos têm. O que difere, então, o senso comum do conhecimento científico? A resposta é simples: Enquanto no senso comum as pessoas acreditam simplesmente pelo hábito (porque o sol sempre nasceu, deverá amanhã nascer novamente), sem saber dar motivos (as razões) para seu julgamento, o cientista (no caso, o astrônomo) saberá explicar por que amanhã o sol nascerá com base na teoria do movimento de rotação da terra. O leigo acredita sem saber das razões, o cientista conhece as razões. Lição 01 / 13 4. A Natureza do Conhecimento O conhecimento é o resultado de uma relação que se estabelece entre um sujeito que conhece, que podemos chamar de sujeito cognoscente, e um objeto a ser conhecido, o objeto cognoscível. O conhecimento é a ponte que os liga. Ficou difícil? Então, vamos colocar de outra forma: o objeto do conhecimento pode ser qualquer elemento, e não, necessariamente, um objeto físico inanimado, real e tangível. O objeto do conhecimento pode ser o próprio homem, podem ser ideias, conceitos abstratos, fenômenos da Física, fenômenos políticos, legislação, tributos... O sujeito que conhece pode ser qualquer um de nós. Isso mesmo! É importante você saber que não é só o filósofo, o cientista ou o estudioso acadêmico de uma forma geral quem conhece. Todos nós somos sujeitos do conhecimento! Então, você traz consigo mesmo, como característica natural, o fato de ser um sujeito cognoscente, e tudo com que você se relaciona são seus objetos cognoscíveis. Todos somos capazes de produzir conhecimento, porém não necessariamente sob sua roupagem científica. Com relação ao homem, por exemplo, pode-se considerá-lo em seu aspecto externo e aparente e dizer uma série de coisas ditadas pelo bom senso ou ensinadas pela experiência cotidiana. Pode-se estudá-lo com um propósito mais científico e objetivo, investigando experimentalmente, por exemplo, as relações existentes entre certos órgãos e suas funções.Pode-se, também, questioná-lo quanto à sua origem, sua realidade e seu destino e, ainda, investigar o que dele foi dito por Deus por meio dos profetas e de seu enviado, Jesus Cristo. Têm-se, assim, quatro espécies de considerações sobre a mesma realidade. O homem, consequentemente o pesquisador, está se movendo dentro de quatro níveis diferentes de conhecimento (ver figura abaixo). Lição 01 / 14 O conhecimento e seus níveis. Fonte: (CERVO, BERVIAN & DA SILVA, 2007, p.06) Você já parou para pensar nos tipos de conhecimento existentes? Certamente, você convive com alguns deles. Fazendo a leitura dessa lição, você conseguirá identificar os conhecimentos que fazem parte da sua vida. Então, vamos lá! Trujillo (1974) sistematiza as características dos quatro tipos de conhecimento: Lição 01 / 15 Conhecimento Popular Conhecimento Científico Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) valorativo real (factual) valorativo valorativo reflexivo contingente racional inspiracional assistemático sistemático sistemático sistemático verificável verificável não verificável não verificável falível falível infalível infalível inexato aproximadamenteexato exato exato As várias formas de conhecimento Fonte: (LAKATOS & MARCONI, 2010, p.60) A seguir, vamos ver os quatro tipos de conhecimento mais detalhadamente! 4.1. Conhecimento Popular O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidade, isto é, de um lado o sujeito cognoscente e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. Lição 01 / 16 A característica de assistemático baseia-se na “organização” particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia a dia. Finalmente, é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas. RESUMINDO Conhecimento Popular: é utilizado por meio do senso comum, geralmente passado de geração em geração, disseminado pela cultura baseada na imitação e experiência pessoal; é empregado pela experiência pessoal do dia-a-dia, sem crítica. EXEMPLO: Você já deve ter ouvido o dito popular de que tomar chá de macela, mais conhecida como marcela, cura dor de estômago, mas ela precisa ser colhida na Sexta-feira Santa, antes do sol nascer. 4.2. Conhecimento Filosófico O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses que não poderão ser submetidas à observação: “as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência; portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação”. Não é verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao Lição 01 / 17 contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. É infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana. Assim, se o conhecimento científico abrange fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos, através do emprego de instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objeto de análise da filosofia são ideias, relações conceptuais, Lição 01 / 18 exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direita ou indireta (por instrumentos), como a que é exigida pela ciência experimental. O método por excelência da ciência é o experimental, ela caminha apoiada nos fatos reais e concretos, afirmando somente aquilo que é autorizado pela experimentação. Ao contrário, a filosofia emprega o método racional no qual prevalece o processo dedutivo que antecede a experiência, e não exige confirmação experimental, mas somente coerência lógica. RESUMINDO Conhecimento Filosófico: não é passível de observação sensorial, utiliza o método racional no qual prevalece o método dedutivo, antecedendo a experiência; não exige comparação experimental, mas coerência lógica, a fim de procurar conclusões sobre o universo e as indagações do espírito humano. Cervo e Bervian (2002) apresentam alguns EXEMPLOS que deixam claro esse conceito. Verifique: A máquina substituirá o homem? As conquistas espaciais comprovam o poder ilimitado do homem? O que é valor hoje? Lição 01 / 19 A filosofia procura compreender a realidade em seu contexto universal. Não produz soluções definitivas para grande número de questões, mas habilita o ser humano a fazer uso de suas faculdades para entender melhor o sentido da vida concretamente. 4.3. Conhecimento Religioso (Teológico) O conhecimento religioso, isto é, teológico, apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas). É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino. Suas evidências não são verificadas, está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis por consistirem em “revelações” da divindade (sobrenatural). Lição 01 / 20 Fonte: //en.wikipedia.org RESUMINDO Conhecimento Religioso ou Teológico: é incontestável em suas verdades por se tratar de revelações divinas; não é colocado à prova e nem pode ser verificado. EXEMPLO disso são os conhecimentos adquiridos e praticados pelos homens tendo como base os textos da Bíblia Sagrada ou quaisquer outros livros sagrados. 4.4. Conhecimento Científico Finalmente, o conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda forma de existência que se manifesta de algum modo. Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando Lição 01 / 21 um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por esse motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformularo acervo de teoria existente. RESUMINDO Conhecimento Científico: por meio da ciência, busca um conhecimento sistematizado dos fenômenos, obtido segundo determinado método, que aponta a verdade dos fatos experimentados e sua aplicação prática. Lição 01 / 22 EXEMPLO Analisar o mesmo exemplo dado anteriormente no conhecimento popular; no contexto científico, poderia, mediante o estudo, verificar a relação de causa e efeito e o princípio ativo que determina o desaparecimento do sintoma “dor de estômago”, quando da ingestão do chá de macela. 4.5. Meios de Aquisição de Conhecimentos A INTUIÇÃO é uma função especial da mente humana, que age pelo pensamento, independente da pessoa ter formação científica ou técnica. É um modo em que é considerado o fenômeno psíquico natural que todos os seres humanos possuem: alguns em maior ou menor grau de obter conhecimentos sem a utilização da experiência ou da razão. O EMPIRISMO (Galileu e Bacon - séc. XVII) Significa “experiência” É uma doutrina que afirma que a única fonte de conhecimento é a experiência, ou seja, todo conhecimento somente é obtido por experimentação. Experimentar = Montar, Construir, Testar, Medir A RAZÃO – RACIONALIZAÇÃO (Descartes - séc. XVII) Doutrina que afirma que a razão humana - o pensamento racionalista - é a única fonte do conhecimento. Ao contrário dos empiristas, os racionalistas afirmam que os nossos sentidos nos enganam e nunca podem conduzir a um conhecimento verdadeiro. Lição 01 / 23 Para os racionalistas, um conhecimento é verdadeiro somente quando é logicamente necessário e universalmente aceito. A qualidade do conhecimento científico é dependente da forma de aquisição que é utilizada. No processo de obtenção de conhecimentos científicos, devem ser utilizadas as três formas de aquisição de conhecimentos: Intuição + Empirismo + Razão RESUMINDO Lição 01 / 24 5. Conclusão No tópico 1, você teve a oportunidade de aprender sobre a Ciência e o Conhecimento Científico. Ciência, devido à sua natureza e, sobretudo, ao seu desenvolvimento, deixou de ser um assunto meramente de cientistas e diz respeito aos cidadãos em geral. De fato, os desenvolvimentos alcançados pela ciência, juntamente com a tecnologia, tornaram-se determinantes em nossas vidas no dia a dia. A Ciência e Tecnologia entram diariamente em nossas casas através de jornais, TV ou rádio, e qualquer cidadão discute assuntos que a envolvem. O que conclui sobre a Ciência é que, por mais que novas e sofisticadas teorias sejam criadas, sempre haverá uma falha contida nelas e é através de inovações na tecnologia e em estudos aprofundados que conseguimos aperfeiçoar nossas teorias. Você já pôde perceber, até aqui, que entre os modos de conhecer, não existe uma hierarquia valorativa totalmente fixa. Isso porque cada forma de conhecimento cumpre sempre uma função estratégica para o homem, senão muitas. Assim, o valor de cada forma de conhecimento é relativo aos fins que se pretende atingir em cada momento. Pois bem, mas se, desde o início, já falávamos que todos nós podemos ser sujeitos do conhecimento, que tipo de conhecimento é esse que produzimos? Para responder a essa pergunta, vamos logo abrindo as portas e as janelas de nosso raciocínio. Já oxigenou a sua mente? Ok, então agora, enquanto você, tanto no seu dia a dia quanto em ocasiões especialmente controladas, está apto a produzir qualquer forma de conhecimento, observe seus elementos identificadores mínimos. Se você inventa ou conta uma historinha para uma criança, cheia de personagens ou eventos heroicos, intencionando, por meio dela, inculcar algum tipo de sentimento ou comportamento, você está utilizando o mito no seu entendimento mais clássico. Se você estuda e reproduz os ensinamentos doutrinários recebidos em sua fé religiosa, Lição 01 / 25 obviamente já sabe que tipo de conhecimento você está produzindo ou reproduzindo, não é? Mas, se você se acomoda em sua confortável poltrona e começa a pensar com seus botões no sentido da vida, do belo, e assim por diante, você estáq filosofando. Todos esses modos de conhecer o mundo que estudamos aqui também podem ser verificados no território acadêmico. Com isso, queremos dizer que o conhecimento acadêmico, em sentido amplo, envolve um verdadeiro arsenal de ferramentas cognitivas que ultrapassam os limites estreitos do conhecimento científico tradicional. Lição 01 / 26 6.Referências BUNGE. M. La investigación científica: su estratégia y su filosofia. 5. ed. Barcelona: Anel, 1976. CERVO, A.L.; BREVIAN, P.A; DA SILVA, R. Metodologia científica. São Paulo: McGraw-Hill, 2007 e edições anteriores. CORTELLA, M. S. Qual sua obra? 3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. GALLIANO, A. Guilherme. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010 e edições anteriores. MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa no direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21 ed. São Paulo: Cortez, 2000. TRUJILLO FERRARI, A. Metodologia da ciência. 2.ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
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