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1 Aula 6: Reações de eletrociclização Livros: A) Jean, Y.; Volatron, F.; (traduzido e editado por Burdett, J.) "An Introduction to Molecular Orbitals" Oxford University Press: New York, 1993. B) Ahn, N. T.; "Frontier Orbitals: A practical Manual" John Wiley & Sons: Chichester, 2007. C) Leforestier, C.; "Introduction à la Chimie Quantique" Dunod: Paris, 2005. D) Anslyn, E. V.; Dougherty, D. A.; "Modern Physical Organic Chemistry" University Science Books: Herndon, 2006. Química Orgânica Avançada (QP-021), Unicamp Igor D. Jurberg 2 Definição 6.1: Uma reação é dita pericíclica quando a reação ocorre de uma maneira concertada, via um estado de transição cíclico. Definição 6.2: Reações concertadas são transformações onde as ligações químicas que são quebradas e formadas ocorrem ao mesmo tempo no estado de transição. (estas ligações podem não possuir o mesmo grau de formação ou de ruptura. Assim, ainda podemos classificar estas reações como concertadas sincronizadas ou desincronizadas.) Existem quatro grandes famílias de reações pericíclicas: 1) Reações eletrocíclicas, 2) Ciclo-adições (reações queletrópicas também são incuídas nessa classificação), 3) Reações sigmatrópicas, 4) Reações de transferência de grupo, onde a reação de Alder-ene é a principal representante. Introdução: reações pericíclicas 3 Reações de eletrociclização Exemplos e definições: a) b) butadieno ciclobuteno hexatrieno ciclohexadieno Uma reação eletrocíclica corresponde à um processo reversível de ciclização de um polieno contendo n átomos. Essa transformação leva à formação de uma ligação simples entre as duas estremidades da cadeia, assim produzindo um ciclo de n átomos, onde n-2 estão em conjugação. Reações térmicas são processos que podem ocorrer sobre o efeito da temperatura, seja aquecendo, à t.a. ou resfriando a reação. Reações fotoquímicas são processos que são promovidos pela irradiação com luz, onde há a formacão transitória de um estado eletrônico excitado. 4 Reações de eletrociclização Exemplos e definições: Ciclobuteno - Butadieno Estereoespecificidade Me Me Me Me Me Me Me Me Processo térmico: (E, Z) (E, E) (175 °C) (175 °C) Me Me Me h Me Me Me h Me Me Processo fotoquimico: (E, E) (E, Z) 5 Exemplos e definições: Reações de eletrociclização Me Me (180 °C) Me Me + Me Me E Z Z trans enantiômero trans(2E, 4Z, 6Z)-Octatrieno Octatrieno - Ciclohexadieno Me Me Me Me = Me Me Me Me + Me Me h (130 °C) cistrans composto meso (não é quiral) enantiômero trans E Z E (2E,4Z,6E)-Octatrieno 6 Reações de eletrociclização Sentido de rotação: reações conrotatórias e disrotatórias Me Me Me Me (E, E) Me Me Me Me (E, E) Processos Conrotatórios: a) b) Me Me Me h Me (E, E) Processos Disrotatórios: Me Me h (Z, Z) Me Me desfavorável repulsão estérica c) d) 7 Reações de eletrociclização Sentido de rotação: reações conrotatórias e disrotatórias Me Me (Z,Z,Z,Z) (65 °C) Me Me (20 °C) H H Me Me octatetraeno ciclo-octatrieno conrotatório disrotatório Me (E,Z,Z,Z) (9 °C) Me Me (40 °C) H H Me Me octatetraeno ciclo-octatrieno conrotatório disrotatórioMe 8 Reações de eletrociclização Regras de seleção (proposta por Woodward e Hoffmann) N° elétrons\Processo Térmico Fotoquímico 4n elétrons Conrotatório Disrotatório 4n + 2 elétrons Disrotatório Conrotatório Polienos à 4n + 2 elétrons : HOMO simétrica disrotatório Processo térmico: Polienos à 4n elétrons : HOMO anti-simétrica conrotatório Processo fotoquímico: Polienos à 4n + 2 elétrons : LUMO anti-simétrica conrotatório h Polienos à 4n elétrons : LUMO simétrica disrotatório h 9 Reações de eletrociclização Diagramas de correlação de OMs: Em diagramas de correlação de OM, as suas formas e energias são examinadas para reconhecer como os OMs do reagente podem ser convertidos nos OMs correspondentes do produto. Os nódulos presentes nos OMs são resistentes até mesmo à fortes pertubações e têm a tendêndia à se conservarem ao longo das reações. A esquerda organizamos os OMs do reagente e a direita os OM do produto. Em seguida, analisamos a conservação dos elementos de simetria dos OMs envolvidos ao longo de toda a reação e verificamos os cruzamentos possíveis e impossíveis. Os cruzamentos impossiveis são ditos aqueles envolvendo OMs de mesma simetria. 10 Reações de eletrociclização Diagramas de correlação de OMs: A B B A A B B A B B A A Composto inicial: Produto final: plano de simetria disrotatória Estado de transição: estado de transição anti-aromático S A S A S S A A * * disrotatório proibido! E 11 Diagramas de correlação de OMs: Reações de eletrociclização A B B A A B B A A B A B Composto inicial: Produto final: eixo de rotação conrotatória C2 C2 C2 Estado de transição: E A S A S S A S A * * conrotatório permitido! 12 Reações de eletrociclização Diagramas de correlação de OMs: S A S A S S A A * * h disrotatório permitido! A S A S S A S A * * conrotatório proibido! h 13 Diagramas de correlação de estados (eletrônicos): Reações de eletrociclização Um diagrama de correlação de estados leva em conta as interações de simetria entre a função de onda multi-eletrônica do reagente inicial e a do produto final. Não é necessário explicitar a forma exata dessas funções de onda. Nós podemos retringir a sua descrição à um mínimo de orbitais que sofrerão modificações e os outros que permanecerão sem ser alterados. Essa análise permite uma simplificação considerável do problema. Em analogia ao caso do diagrama de correlação de OMs, pode-se negligenciar os OMs que não participam do processo. (De uma certa maneira, nós voltamos ao modelo dos átomos polieletrônicos, onde consideramos que os OAs ocupados de baixa energia não participam na formação de ligações). 14 Diagramas de correlação de estados (eletrônicos): Reações de eletrociclização - Configuração fundamental F: os elétrons encontram-se nos orbitais de mais baixa energia Y1 e Y2. Assim, temos F = Y1 2Y2 . - Configuração monoexcitada M: um elétron de saltou Y2 à Y3. Assim temos M = Y1 2Y2 1Y3 1. - Configuração duplamente excitada D: dois elétrons saltaram de Y2 à Y3. Assim, temos D = Y1 2Y3 2 . A simetria das configurações eletrônicas é dada pelo produto das simetrias individuais de cada elétron no OM que ele se encontra. disrotatório ou h 15 E (F) S A S S S A (D) M 2 *2 2 2 2 * transformação disrotatória Ea Diagramas de correlação de estados (eletrônicos): Reações de eletrociclização S A S A S S A A * * Correlação entre OMs: Simetrias das configurações eletrônicas h disrotatório permitido! disrotatório proibido!D = Y1 2Y3 2 -> S M = Y1 2Y2 1Y 3 1 -> A F = Y1 2Y2 2 -> S 16 Reações de eletrociclização Diagramas de correlação de estados (eletrônicos): E (F) S A S A S S (D) M * 2 2 * transformação conrotatória Ea h conrotatório proibido! A S A S S A S A * * Correlação entre OMs: Simetrias das configurações eletrônicas conrotatório permitido! D = Y1 2Y2 1Y4 1 -> S M = Y1 2Y2 1Y3 1 -> A F = Y1 2Y2 2 -> S 17 Reações de eletrociclização Sistemas contendo cátions e ânions: Quando consideramos sistemas que são carregados positivamente ou negativamente, devemos levar em conta a ausência de elétrons (no caso de cátions) ou a presença destes (no caso de ânions) para a contagem dos elétrons envolvidos nos processos de abertura/ fechamento eletrocíclico. conrotatório (4n elétrons disrotatório (6 elétrons ) 18 Toda regra tem as suas excessões: efeitos da tensão de ciclo Reações de eletrociclização A) Biciclo[2.1.0]pent-2-eno conrotatório disrotatório H HH H E Z Z Z B) Benzeno de Dewar E Z H H disrotatório H H conrotatório H H Z Z Z Z 19 Torquoseletividade Reações de eletrociclização Quando consideramos a abertura eletrocíclica de um composto, as regras de seleção de Woodward e Hoffmann prevêem sobre quais circunstâncias teremos um processo con- ou disrotatório. No entanto, muitas vezes um dado processo pode ocorrer em diferentes direções, dando origem à uma potencial mistura de dois compostos. A obtenção de um deles frente ao outro é regida por fatores orbitalares, que respondem de maneira mais importante do que fatores estéricos. Como introduzido por K. N. Houk, esta preponderância de uma direção de rotação face à outra (que conduz finalmente à uma preponderância de um isômero face à outro) recebeu o nome de torquoseletividade. a) K. Rudolf, D. C. Spellmeyer, K. N. Houk, J. Org. Chem. 1987, 52, 3708. b) W. R. Dolbier Jr., H. Koroniak, K. N. Houk, C. Sheu, Acc. Chem. Res. 1996, 29, 471. c) A. Patel, G. A. Barcan, O. Kwon, K. N. Houk, J. Am. Chem. Soc. 2013, DOI: 10.1021/ja400882y 20 CH3 CF3 CH3 CH3 + CF3 CF3 + CHO CHO CHO + tBu X X+X tBu tBu 100% Não é observado 95% 5% Não é observado 100% X = CH3, 30% 70% X = OCH3, >99% < 1% Torquoseletividade Reações de eletrociclização Exemplos: Um grupo doador de elétrons (OA 2p cheio) vai favorecer o posicionamento do substituinte para a parte exterior do polieno formado (“abertura externa”), enquanto um grupo aceptor de elétrons (OA 2p vazio) vai favorecer o posicionamento do substituinte para a parte interior do polieno formado (“abertura interna”) CHO > NO > COMe > CN > NO2 > NH3 + > Me > SH > Cl > F > OH > NH2 > O - ABERTURA INTERNA W. R. Dolbier, Jr.; H. Koroniak; K. N. Houk, C. Sheu, Acc. Chem. Res. 1996, 29, 471. ABERTURA EXTERNA 21 Torquoseletividade Reações de eletrociclização orbital do substituente: cheio para doador, vazio para aceptor rotação externa HOMO da ligação interação entre substituinte e ligação que vai se quebrar Caso do substituiente doador: Mistura do orbital cheio do substituinte com o cheio do aceptor (ligação ) gera repulsão; interação desfavorável Caso do substituinte aceptor: Mistura do orbital vazio do substituinte com o cheio do aceptor (ligação ) gera atração; interação favorável rotação interna ligação do ciclobuteno que vai se quebrar a) 22 Torquoseletividade Reações de eletrociclização orbital do substituente: cheio para doador, vazio para aceptor rotação externa LUMO da ligação interação entre substituinte e ligação que vai se quebrar Sem chance para interação favorável entre orbital cheio de um substituinte doador e o orbital *: o orbital do substituinte está próximo do nodo do orbital *. rotação interna ligação do ciclobuteno que vai se quebrar b) 23 Reações de eletrociclização Aspectos termodinâmicos de base: Definição de estado de transição (ET): um agregado de átomos situado em um máximo energético, em plena evolução. No ET, algumas ligações não são totalmente rompidas ou formadas. Um ET possui um tempo de vida muito curto (~10-14 s). Ele não pode ser identificado com técnicas de análise usuais. Entre os caminhos potenciais ligando os reagentes e os produtos, a reação seguirá aquele cuja energia máxima é a menor. O princípio de reversibilidade microscópica vem diretamente da teoria do estado de transição: “O caminho percorrido em um sentido sera igualmente percorrido no sentido inverso, pois é o que oferece a menor barreira energética para os dois processos.” Como saber se a geometria do ET é mais ou menos próxima dos produtos de partida ou de chegada? Uma resposta é dada pelo postulado de Hammond. 1) Se uma reação é endotérmica (importante Ea), o ET é dito “tardio” e possui uma geometria próxima dos produtos de chegada. 2) Se uma reação é exotérmica, o ET é dito “precoce” e ele possui uma geometria próxima dos produtos de partida. 24 Reações de eletrociclização Utilizando aspectos termodinâmicos de base: as regras de Woodward e Hoffmann não fornecem nenhuma indicação precisa sobre o valor energético do ET. Não obtemos nenhuma informação se a reação ocorre sobre o contrôle cinético ou termodinâmico. Na realidade, nós nos colocamos no caso de reações realizadas sobre contrôle cinético, pois propomos um ET baseado na geometria dos produtos de partida (cf. postulado de Hammond). Assim, de uma maneira geral, deve-se ser prudente! Postulado de Hammond: ET precoce R P zona de validade da teoria de OMs reagentes ET tardio produtos Ea reagentes ET precoce produtos Ea E E Coordenada de reação Coordenada de reação EXOTERMICOENDOTERMICO
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