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Introdução à Pesquisa Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� Introdução à Pesquisa 1. Introdução Ao tomar conhecimento do conteúdo desta unidade você vai perceber que o desenvolvimento da ciência é resultado da atividade humana; o homem cria as suas necessidades e, para resolvê-las, produz um conhecimento, vai perceber também os modos de aquisição do saber, em especial, o conhecimento do senso comum e o conhecimento científico. Você vai perceber ainda que a história da ciência demonstra que as coisas não são exatamente o que os sentidos nos revelam. Assim, podemos considerar a ciência como um método de pesquisa baseado na faculdade racional do ser humano e na comprovação experimental do fato pesquisado. Por outro lado, a humanidade há muitos séculos, indaga: • Como se sabe que uma nova informação, uma nova teoria ou conhecimentos é correto? • É possível utilizar algum critério para distinguir o que é correto do que não é? A questão do método científico está interligada a necessidade de o homem ter procedimentos e caminhos seguros para alcançar ou produzir um conhecimento verdadeiro e de ter critérios que garantam a possibilidade de distinguir entre o conhecimento verdadeiro e o falso. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� Assim, vamos abordar os seguintes tópicos: • O homem e o conhecimento. • A evolução da ciência. • O método científico. Ao final da unidade, esperamos que você seja capaz de: • elaborar um conceito sobre ciência e destacar alguns aspectos importantes da natureza do saber científico comparando-os com o conhecimento proveniente da intuição ou da tradição; • construir uma linha do tempo identificando a evolução da ciência e o como se situa o conhecimento científico em cada época; • identificar as etapas que fazem parte do método científico bem como, identificar os tipos de métodos. 2. O Homem e o Conhecimento Ao longo dos tempos, o homem, num processo lento, vem reunindo extensas informações que foram denominadas conhecimento. A necessidade levou o homem primitivo a observar as coisas que estavam próximas de si: as plantas, os animais, os fenômenos da natureza etc.; passou a criar objetos simples, a praticar a cura. E, por meio da imaginação e interpretação, criou mitos que explicavam certos acontecimentos. A partir de experiências cotidianas, criou cultos mágicos para se comunicar com os espíritos que, segundo suas concepções, controlavam as forças do mundo. Dica O conhecimento constitui o entendimento, a averiguação e a interpretação sobre a realidade, é o que nos guia como ferra- menta central para nela intervir, portanto, é resultado de um processo e este não está isento de equívocos; é relativo à história e à sociedade, ele não é neutro. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� Foram produzidos conhecimentos de astrologia, astronomia, numerologia etc.; o homem, por intermédio da observação e da experimentação, aos poucos foi desvendando os fenômenos que estavam ao alcance de sua inteligência. Os métodos foram aperfeiçoados e o conhecimento dos povos antigos foi aprimorado até chegar ao conhecimento contemporâneo. Os cientistas modernos provocaram um grande avanço nos métodos de pesquisa, nas técnicas, na ordenação formal da coleta de dados, produzindo novos conhecimentos em todas as áreas do saber. Em um curto espaço de tempo, os conhecimentos foram completamente alterados, portanto, o conhecimento não nasce pronto, ele é histórico; nada se apresenta como definitivamente pronto, sem que antes tenha sido “germinado no tempo”. Assim, o desenvolvimento da ciência, de maneira geral, é resultado da atividade humana; o homem cria as suas necessidades e, para resolvê-las, produz um conhecimento. A essa seqüência permanente de acréscimos de conhecimentos racionais e verificáveis da realidade, denominamos ciência. A ciência, analisando sua evolução histórica, demonstra ser uma busca, uma investigação contínua e incessante de soluções e explicações para os problemas propostos. Como busca sistemática, ela revisa as teorias fundamentais em evidências do passado, reformuladas pela análise de sua coerência interna, submetendo-as com outras teorias, formulando novas hipóteses e propondo condições com o máximo de segurança para sua testabilidade. O resultado crítico do confronto empírico dirá se há ou não um novo conhecimento, que terá uma aceitação provisória. Por relacionar-se com o mundo de várias formas, o homem utiliza-se de diversas formas de conhecimentos, por intermédio dos quais evolui e faz evoluir o meio em que vive. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� O conhecimento, dependendo de como é representado, pode ser, de modo geral, classificado nos seguintes tipos: mítico, artístico, filosófico, teológico, senso comum, científico, dentre outros. 3. O conhecimento do senso comum Também é chamado de conhecimento ordinário, comum ou empírico, o conhecimento do senso comum é a forma mais simples que homem utiliza para interpretar a si mesmo, o seu mundo e o universo como um todo, está fundamentado apenas em experiências vivenciadas ou transmitidas de pessoas para pessoas, podendo também ter origem em experiências casuais, por meio de erros e acertos, sem a fundamentação metodológica. O conhecimento do senso comum tem as seguintes características: O senso comum surge em conseqüência da necessidade do homem em resolver problemas com os quais defronta em seu cotidiano pelo contato direto com os fatos e fenômenos que são percebidos principalmente através da percepção sensorial. Ele é, quase sempre, ligado à vivência, portanto, é elaborado de maneira espontânea e instintiva, sem seguir uma metodologia, permanecendo num nível superficial sem um aprofundamento crítico e racionalista. É utilizado sem a preocupação da explicação dos fundamentos teóricos que demonstram sua correção ou confiabilidade transformando-se assim, em convicções e crenças que são incorporadas à uma determinada cultura. Espontaneidade1 Dica Empírico: baseado na experiência; é, muitas vezes, um movimento pré-lógico do pensamento, da ordem da intuição. Dica A produção do fogo, a invenção da roda, a construção de instrumentos mais eficazes de caça e tantos outros... Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� O conhecimento do senso comum, por estar ligado à vivência, à ação e à percepção orientadas pelo imediatismo e pelas crenças pessoais, é subjetivo e limitado, estabelecendo relações vagas e superficiais com a realidade, não existindo sobre ele, uma crítica sistemática. As interpretações são definidas pelos interesses, crenças convicções pessoais e expectativas presentes no sujeito que as elabora, fazendo com que as explicações e informações produzidas tenham um forte vínculo subjetivo estabelecendo relações vagas e superficiais com a realidade. A linguagem usada no conhecimento do senso comum contém termos e conceitos vagos, que não delimitam a classe de coisas, idéias ou eventos designados. O significado dos conceitos é resultado do uso individual, subjetivo e espontâneo que se enriquece e se modifica paulatinamente em função da convivência num determinado grupo. As palavras adquirem sentidos diferenciados de acordo com as pessoas e grupos que as utilizam, os termos têm significado dependendo do momento e do contexto no qual são utilizados e ainda da intenção de quem os utiliza. Quase sempre as técnicas e informações são utilizadas desconhecendo-se as razões que justificam as suas corretas aplicação ou aceitação. O senso comum é útil, eficaz e correto quando as informações acumuladas aplicam-se ao mesmo tipo de fatos que se repetem e se transformam em rotina e quandoas condições e fatores determinantes desses fatos forem constantes. Porém, quando as circunstâncias ou condições são alteradas, fica-se sem saber explicar as causas do insucesso. Subjetividade2 Linguagem vaga3 Validade4 Dica É muito comum a mãe de um recém-nascido retirar um fiapo de sua manta, molhar na saliva e colocar em sua testa para que a criança pare de soluçar. Dica Quando afirmamos que a água está fria ou quente, estamos utilizando uma linguagem vaga. Dica O boldo, por exemplo, é utilizado para aliviar os males do fígado, no entanto, poucas pessoas sabem quais as suas propriedades ou componentes químicos estão presentes e como eles atuam no organismo. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� Podemos então dizer que o senso comum orienta o cotidiano; constata a continuidade ou similaridade entre eventos e objetos, de onde se conclui as relações sem qualquer atividade intermediária que amplie o grau de certeza. Assim, ele é ametódico, assistemático, oral, subjetivo e heterogêneo, caracterizando-se também como um conjunto desagregado de idéias e opiniões difusas e dispersas, não refletindo criticamente sobre a totalidade, uma vez que ele é construído de modo imediato, a partir de experiências, vivências, crenças, valores; por isso, de tendência conservadora, conformista e ideológica. Contudo, é um conhecimento histórico e ajudou a criar a cultura, mas sem uma relação causal segura constituindo-se no ponto de partida para o conhecimento científico. 4. O conhecimento científico O homem verificou que o saber fundamentado na intuição, no senso comum ou na tradição era muito frágil o que o levou a construir um conhecimento mais confiável, que fosse metodicamente elaborado: o conhecimento científico. Todo conhecimento representa uma relação entre o sujeito e o objeto conhecido. Assim, o conhecimento pode significar tanto o processo de conhecer como o produto desse processo.O conhecimento científico é um produto resultante da investigação científica; surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para problemas de ordem prática da vida cotidiana - senso comum, mas também do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas. Exige demonstrações, submete-se à comprovação, ao teste; consiste no conhecimento causal e metódico dos fatos, dos acontecimentos e dos fenômenos; estabelece a relação sujeito- Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� conhecimento, colocando uns em relação aos outros de modo que é possível descobrir a uniformidade das suas causas e de seus efeitos. Portanto, o conhecimento científico se caracteriza pela presença do acolhimento metódico e sistemático dos fatos da realidade. Por meio da classificação, comparação, da aplicação dos métodos, da análise e síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do universo, princípios e leis que estruturam um conhecimento rigorosamente válido e universal. Podemos citar as seguintes características para o conhecimento científico: Que corresponde a sistematização coerente do conhecimento presente em todas as suas leis e teorias, expressa através dos enunciados que confrontados entre si. Tais enunciados devem apresentar um elevado nível de consistência lógica entre suas afirmações que proporciona a sua aceitação ou rejeição por parte da comunidade científica. Que se fundamenta em dois fatores, a possibilidade de um enunciado, construído mediante hipóteses fundamentadas em teorias, ser testado através de provas factuais e a possibilidade dessa testagem e seus resultados poderem passar pela avaliação crítica. Portanto a objetividade garante que uma teoria seja verdadeira, evidente, impessoal e aceita pela comunidade científica como provada em sua veracidade. Ao contrário do senso comum, o conhecimento científico não aceita a opinião ou o sentimento de convicção como fundamento para justificar a aceitação de uma afirmação. Racionalidade1 Objetividade2 Universidade Anhembi MorumbiMetodologia� Ao contrário do senso comum, a linguagem do conhecimento científico utiliza enunciados e conceitos com significados bem específicos e determinados. Os conceitos são definidos à luz das teorias que servem de marcos teórico da investigação, proporcionando-lhes, dessa forma, um sentido único, universal e consensual. O conhecimento científico é produzido a partir de uma metodologia rigorosamente articulada que permite que se chegue às mesmas conclusões quando reproduzido nas mesmas condições se orienta na direção da localização e eliminação do erro, através da discussão objetiva de suas explicações, dos seus enunciados e de suas teorias. É construído através de procedimentos que demonstram atitude científica e que, por proporcionar condições de experimentação de suas hipóteses de forma sistemática, controlada e objetiva e ser exposta à crítica, oferece maior segurança e confiabilidade nos seus resultados e maior consciência dos limites de validade de suas teorias. Linguagem específica3 Validade4 5. A Evolução da Ciência A história da ciência demonstra que as coisas não são exatamente o que os sentidos nos revelam. Assim, podemos considerar a ciência como um método de pesquisa baseado na faculdade racional do ser humano e na comprovação experimental do fato pesquisado. Embora não seja unânime entre os pesquisadores, na evolução da ciência podemos identificar três períodos: a Ciência Antiga (ou Grega), a Ciência Moderna e a Ciência Contemporânea. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia10 A ciência grega O período da ciência grega se estende do século VIII aC até o final do século XVI, também conhecida como Ciência Antiga, tinha como única preocupação a busca do saber, a compreensão da natureza das coisas e do homem. Não havia distinção entre ciência e filosofia; o conhecimento científico era desenvolvido pela filosofia. Os dois grandes filósofos deste período são Aristóteles e Platão. Embora Aristóteles tenha sido bastante influenciado por Platão, havia uma enorme diferença entre eles: Aristóteles era obcecado pela natureza e por seu estudo, enquanto que, Platão era obcecado com as formas eternas, ou “idéias” e mal prestava atenção nas mudanças da natureza. Aristóteles, ao contrário, interessava-se justamente pelas mudanças - ou o que, atualmente, chamamos de processos naturais. Enquanto Platão usava apenas a razão, Aristóteles usava também o sentido. Na época de Aristóteles, a filosofia ainda era essencialmente uma atividade oral. A importância de Aristóteles na cultura européia está também no fato de ele ter criado boa parte da terminologia que os cientistas empregam até hoje. Ele foi o grande organizador que fundou e classificou as diversas ciências. Aristóteles achava que a idéia não constituía realidade separada; a realidade para ele é de indivíduos concretos e só neles existe a idéia, a quem chama de forma; criou a lógica com seu silogismo. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia11 Podemos dizer que a ciência ocidental efetivamente teve início com Aristóteles. Para Platão o mundo das idéias seria um mundo transcendente, de existência autônoma, que está por trás do mundo sensível. As idéias são formas puras, modelos perfeitos eternos imutáveis, paradigmas. O que pertence ao mundo dos sentidos se corrói e se desintegra com a ação do tempo. Mas tudo que percebemos, todos os itens são formados a partir de idéias. Ele reconhece que qualquer especulação sobre o vir-a-ser do mundo não pode ser considerada verdadeira, mas isto por uma questão de princípio, e não por falta de evidência. Os problemas da física não podem ser resolvidos por métodos observacionais:tal atividade não passaria de mera “recreação”. Platão deu um passo a mais no atomismo antigo, introduzindo uma descrição geométrica precisa dos átomos, e descrevendo as mudanças por meio de fórmulas matemáticas. Na ciência grega não se dá destaque ao processo de descoberta, toda racionalidade da ciência estava sustentada na idéia de que o mundo era dotado de uma ordem e estrutura natural que governava o cosmos e que regia os acontecimentos, na qual todo o ser adquiria sentido. O conhecimento científico era demonstrado como certo e necessário através dos argumentos lógicos, especialmente da distinção entre sujeito e objeto: de um lado, o sujeito que procura conhecer, e, de outro, o objeto a ser conhecido, bem como as relações entre ambos. O valor de uma explicação estava no seu poder argumentativo que justificava sua aceitação. Não havia o tratamento do problema que leva a investigação. Com base nestes fundamentos é que nasceram e se desenvolveram a física, a biologia, a matemática, a medicina, a política dentre outras ciências. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� A ciência moderna A Ciência Moderna abrange o período que vai do século XVII até o início do século XX. Inicia-se com o Renascimento, que correspondeu à revolução científica moderna, quando foi introduzida a experimentação científica, modificando totalmente a compreensão e a concepção teórica de mundo, de ciência, de verdade, de conhecimento e de método. Opondo-se à ciência grega e ao dogmatismo religioso que imperava na época, os renascentistas, principalmente Galileu e Bacon, rejeitaram o modelo aristotélico. Foi a partir do século XIII, por influência do uso da matemática, da observação e da experimentação na tecnologia que nascia na Idade Média, que a exigência de métodos precisos de investigação e explicação no campo das ciências naturais conduziu ao uso de métodos matemáticos experimentais, provocando a mudança da teoria da ciência e, conseqüentemente, a revolução científica. Bacon dá início ao empirismo que corresponde à preocupação em se proceder à observação empírica do real antes de interpretá-la pela mente, depois, eventualmente, de submetê-la à experimentação, recorrendo-se às ciências matemáticas para fundamentar suas observações e explicações. Assim, no século XVII, o pensamento científico moderno começa a se objetivar; um saber racional, onde se pensa cada vez mais, constrói-se a partir da observação da realidade (empirismo) e coloca essa explicação à prova (experimentação). O raciocínio indutivo conjuga-se então com o raciocínio dedutivo, unido por esta articulação que é a hipótese: é o raciocínio hipotético-dedutivo. Dica Dogmatismo: doutrina que afirma a existência de verdades certas; adesão irrestrita a princípios aceitos como indiscutíveis; atitude sistemática de afirmação ou de negação. Dica Indução: é a forma de raciocínio constituindo em tirar uma proposição geral do relacionamento de dados particulares. Dedução: é a forma de raciocínio que parte de uma proposição geral para verificar seu valor por meio de dados particulares. Especulação: é a criação do saber apenas pelo exercício do pensamento, geralmente sem qualquer outro objetivo que o próprio conhecimento. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� A partir de então, o saber não repousa mais somente na especulação, ou seja, no simples exercício do pensamento. Baseia-se igualmente na observação, experimentação e mensuração, fundamentos do método científico em sua forma experimental. Galileu foi o responsável pela revolução científica moderna ao introduzir a matemática e a geometria como linguagens da ciência e o teste quantitativo-experimental das suposições teóricas como o mecanismo necessário para avaliar a veracidade das hipóteses e estipular a verdade científica. O grande desenvolvimento da ciência moderna ocorreu a partir de Galileu que questiona e rejeita as principais verdades defendidas pela concepção aristotélica de ciência, principalmente as da física e as da cosmologia. Para Galileu os fenômenos da natureza se comportavam segundo princípios que estabeleciam relações quantitativas entre eles. Os movimentos dos corpos eram determinados por relações quantitativas numericamente determinadas. A visão de universo era de um mundo aberto, mecânico, unificado, determinista, geométrico e quantitativo, contrário à concepção aristotélica de cosmos, impregnada das crenças míticas e religiosas. Assim, as concepções de Galileu iniciaram um novo paradigma que culminaria com o sucesso da física newtoniana. Durante o século XVIII, chamado de Século das Luzes, os princípios da ciência experimental desenvolveram-se através das descobertas, principalmente no campo dos conhecimentos de natureza física, o pensamento científico moderno começa a se instalar. É o saber racional, onde se pensa cada vez mais, constrói-se a partir da observação da realidade, o empirismo, submete-se essa explicação à experimentação. Dica Século das Luzes: nome da corrente de pensamento, Iluminismo, elaborada e difundida pelos filósofos, onde os saberes construídos pela razão deveriam nos liber- tar daqueles transmitidos pelas religiões ou dos que não são construídos através de um procedimento racional. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� A partir de então, o saber não se sustenta apenas na especulação, mas na observação, experimentação e mensuração, fundamentos do método científico em sua forma experimental. Assim, nasce o método científico apoiado na especulação e no empirismo. No século XIX a ciência triunfa; no domínio das ciências da natureza, o ritmo e o número das descobertas são enormes, saindo dos laboratórios para terem aplicações práticas: ciência e tecnologia encontram-se. A pesquisa fundamental, cujo objetivo é conhecer pelo próprio conhecimento, é acompanhada pela pesquisa aplicada, a qual visa a resolver problemas concretos. Assim, nesse século, a ciência tem o seu grande avanço com as ciências da natureza onde quase todos os domínios da atividade humana são atingidos. Assim, o método experimental ou científico, apoiado nos postulados do positivismo, assumiu o mesmo método das ciências da natureza, tido como exemplares na construção de conhecimentos rigorosamente verificados e cientificamente comprovados. Este método consiste em submeter um fato à experimentação em condições de controle e apreciá-lo coerentemente, com critérios de rigor, mensurando a constância das incidências e suas exceções a admitindo como científicos somente os conhecimentos passíveis de apreensão em condições de controle, legitimados pela experimentação e comprovados pela mensuração. Desta forma, o homem começa a produzir o conhecimento, tendo como modelo de acesso à realidade o procedimento do experimento científico, que estipula critérios para julgar quando esse acesso é realmente alcançado e quando não: o positivismo, cujas características principais são apresentadas a seguir. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� • Empirismo: o conhecimento positivo parte da realidade como os sentidos a percebem e ajusta-se a ela. Qualquer conhecimento que tem origem em crenças, valores ou que resulte de idéias inatas, parece suspeito. • Objetividade: o conhecimento positivo deve respeitar integralmente o objeto do qual trata o estudo, devendo reconhecê-lo tal como é. O pesquisador não deve, de modo algum, influenciar esse objeto; deve intervir o menos possível e dotar-se de procedimentos que eliminem ou reduzam, os efeitos não controlados dessas intervenções. • Experimentação: o conhecimento positivo repousa na experimentação. A observação de um fenômenoleva o pesquisador a supor algo: a hipótese. Somente o teste dos fatos, a experimentação, pode demonstrar sua precisão. • Validade: a experimentação é rigorosamente controlada para afastar os elementos que poderiam nela interferir, e seus resultados, são mensurados com precisão, permitindo que se chegue às mesmas medidas reproduzindo-se a experiência nas mesmas condições. • Determinismo: as leis e previsões estão inscritas na natureza, portanto, os seres humanos estão, inevitavelmente, submetidos a elas. O conhecimento dessas leis permite prever os comportamentos sociais e geri-los cientificamente. No domínio do saber sobre o homem e a sociedade desejava-se que conhecimentos tão confiáveis e práticos quanto os desenvolvidos para se conhecer a natureza física fossem aplicados com sucesso ao ser humano. Desta forma, o positivismo também é adotado nas ciências humanas, que se desenvolve a partir da segunda metade do século XIX. A pesquisa de espírito positivista aprecia números; pretende tomar a medida exata dos fenômenos humanos e do que os explica. É, para ela, uma das principais chaves da objetividade e da validade dos saberes construídos. Conseqüentemente, deve escolher com precisão o que será medido e apenas conservar o que é mensurável de modo preciso. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� A ciência contemporânea A Ciência Contemporânea surge no início do século XX e se estende até os dias atuais. Os postulados do espírito positivo: a investigação da constância, da estabilidade, da ordem e das relações causais explicativas dos fenômenos, orientava as pesquisas em todos os domínios das ciências da natureza. A procura da estrutura permanente e das leis invariáveis dos eventos naturais, assim como as conclusões previsíveis dos fatos observados, imprimiu uma orientação que aparece como marco da ciência moderna. O determinismo mecanicista e o mecanicismo da física de Newton, que inspiraram o espírito positivo, fizeram supor que, conhecendo os impulsos e as posições dos corpos e das partículas, poder-se-ia, pelo cálculo, estabelecer predições infalíveis ou extrair as leis mecânicas da evolução anterior e futura. Entretanto, o desenvolvimento da física atômica, as teorias da relatividade, da termodinâmica e da cosmologia revelaram a complexidade imprevisível dos fenômenos, a mutabilidade, a fluência e a instabilidade dos eventos naturais. A matemática moderna, especialmente a geometria não-euclidiana e a teoria dos conjuntos demonstraram que certezas deduzidas de postulados evidentes e inquestionáveis decorriam da estrutura axiomática dos sistemas matemáticos. Tanto o desenvolvimento da física, quanto o da matemática, pôs em crise o conjunto de certezas seguras do cientificismo, questionaram a infalibilidade das ciências, demonstraram a inviabilidade de previsões absolutas e recuperaram a validade da interpretação dos fenômenos. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� Einstein, em 1905, inicia a ciência contemporânea, com suas teorias da relatividade, quebrando o mito da objetividade pura, isenta de influência das idéias pessoais dos pesquisadores, demonstrando que, mais do que uma simples descrição da realidade, a ciência e a proposta de uma interpretação. Na visão contemporânea, por maior que seja o número de provas acumuladas em favor de uma teoria, ela jamais poderá ser aceita como definitivamente confirmada. Os esquemas explicativos mais sólidos podem ser substituídos por outros melhores. O progresso científico deixa de ser acumulativo para ser revolucionário. Assim, o critério até então adotado para distinguir a ciência da não-ciência, o da confirmação pelo uso do método experimental indutivo, é superado. 6. O Método Científico Antes de definirmos o que é método científico, vamos definir o que é método. Método, entre outras coisas, significa caminho para chegar a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo. Não devemos confundir método com metodologia; a metodologia são os procedimentos e regras utilizadas por determinado método. É importante salientar que métodos e técnicas se relacionam, mas não são distintos. O método é um plano de ação, formado por um conjunto de etapas ordenadamente dispostas, destinadas a realizar e antecipar uma atividade na busca de uma realidade, enquanto que a técnica está ligada ao modo de realizar a atividade de forma mais hábil, mais perfeita. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� O método está, portanto, relacionado à estratégia e a técnica, à tática; o método refere- se ao atendimento de um objetivo, enquanto que a técnica operacionaliza o método. O método é, portanto, uma forma de pensar para se chegar à natureza de um determinado problema, quer seja para estudá-lo, quer seja para explicá-lo. Que dizer então do método científico? Poderia dizer que é o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de “verdades” científicas. Quando Galileu se recusou a aceitar a observação pura e as conclusões filosóficas arbitrárias propondo a necessidade de elaborar hipóteses e submetê-las a provas experimentais, estava dando os primeiros passos na direção do método científico moderno. A partir daí, o homem começa a trabalhar, tendo como modelo de acesso à realidade o procedimento da experimentação científica, que estabelece critérios para julgar quando esse acesso é realmente atingido ou não. Isto é, descrever com exatidão como é que a realidade funciona e como ela se relaciona. Esse procedimento passou a se chamar método científico e teve várias interpretações no decorrer dos tempos. A história da ciência nos mostra que não há critérios estabelecidos como normas ou preceitos e sim critérios que são utilizados e adotados na prática da pesquisa pela comunidade científica como uma espécie de código prático consensual que pode ser alterado. Os critérios têm uma dimensão histórica e cultural, que influenciam a prática da pesquisa e também são influenciados por ela, sem, contudo, servirem de preceitos ou bloqueadores do caráter crítico, inventivo e inovador, próprio da ciência. Dica O raciocínio é algo ordenado, coerente e lógico, podendo ser dedutivo ou indutivo. Portanto a indução e a dedução são, antes de mais nada, formas de raciocínio ou de argumentação. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia1� O método científico implica a forma adequada do proceder, quanto à reflexão, à indagação, à interpretação e à explicação. Daí dizer que se deve levar em consideração o conjunto de atividades sistemáticas e racionais de que fazem parte, em linhas gerais, todas as pesquisas, como sendo o procedimento que, ao longo da trajetória, envolve a pesquisa de cunho científico. O método serve de guia para o desenvolvimento do procedimento, com a finalidade de obter novas descobertas. É indiscutível que, para chegarmos ao acontecimento de uma comprovação científica, desde os primórdios da civilização notamos o emprego dos métodos, ainda que rudimentar. Percebe-se que a evolução do método científico foi à precursora do enriquecimento da ciência em todos os campos da atividade humana. Na pesquisa podemos utilizar dos seguintes métodos: Método indutivo Indução é um processo mental pelo qual, partindo de dados ou observações particulares constatadas, podemos chegar a proposições gerais ou universais, não contidas nas partes examinadas. Assim, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais abrangente do que o das premissas iniciais nas quais se fundamentam. Isto é, a indução é entendida como o argumento que passa do particular para o geral, ou do singular para o universal, ou ainda, do conhecido para o desconhecido. O raciocínio indutivo temsua origem com Aristóteles e está muito presente em nosso cotidiano. Dica Por exemplo, eu observei que o cachorro de meu vizinho tem quatro patas, observei que outros cachorros existentes em meu prédio também têm quatro patas, observei ainda que todos os cachorros que eu já vi têm quatro patas. Assim, pela lógica indutiva, posso afirmar que todos os cachorros têm quatro patas. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia�0 A indução se realiza em três etapas: na primeira, observamos os fatos ou fenômenos e os analisamos com o objetivo de descobrir as causas de sua manifestação. Em seguida procuramos, por intermédio da comparação, aproximar os fatos ou fenômenos, com a finalidade de descobrir a relação existente entre eles. Finalmente, generalizamos a relação encontrada entre os fenômenos e fatos semelhantes. Percebe-se que a indução trabalha com a regularidade, isto é, nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos, ou o que é verdade de muitas partes suficientemente enumeradas de um fenômeno, é verdade para todo esse fenômeno. Portanto, a indução, toma como pressuposto a validade do empirismo, pois acredita no valor da observação e na fidedignidade do testemunho dos sentidos, quando rigorosa e ordenada. Essa crença postula que a ciência deve utilizá-la de forma metódica para produzir a descrição e a classificação dos fatos. A explicação científica, suas teorias ou leis seriam decorrentes dos julgamentos fundamentados nessa classificação. A contestação feita à indução se refere ao fato de não se poderem observar todos os fenômenos ou coisas, para deles fazer surgir uma explicação, uma vez que os fatos não explicam por si só o problema que é objeto da investigação científica, pois há muitas formas de observá-los e classificá-los que dependem de critérios de ordem subjetiva ou do tipo de referencial teórico que é utilizado. Método dedutivo Dedução é a forma de raciocínio que parte de uma proposição geral para verificar seu valor por meio de dados particulares. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia�1 Veja um exemplo de um argumento dedutivo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os gatos são mamíferos. Logo, todos os gatos têm um coração. No raciocínio dedutivo, se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. Assim, no exemplo apresentado, para que a conclusão “todos os gatos têm um coração” fosse falsa, uma das ou as duas premissas teriam de ser falsas, isto é, ou nem todos os gatos são mamíferos ou nem todos os mamíferos têm um coração. Por outro lado, no raciocínio dedutivo, toda informação ou conteúdo factual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas. Veja no exemplo: quando a conclusão afirma que todos os gatos têm um coração, está dizendo alguma coisa que, na verdade, já tinha sido dita nas premissas. Portanto, todo argumento dedutivo, reformula ou enuncia de modo explícito a informação já contida nas premissas; dessa forma, se a conclusão não diz mais que as premissas, ela tem de ser verdadeira se as premissas o forem. Os argumentos dedutivos também podem ser formulados de outras maneiras: A média mínima para aprovação é 6,0. A média de Alberto foi superior a 6,0. Alberto será aprovado. Ou ainda: Se a água atingir a temperatura de 100ºC, então ela ferve. A água não ferveu. Então, á água não atingiu a temperatura de 100ºC. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia�� Método hipotético-dedutivo O método científico indutivo via o processo do conhecimento como conseqüência do simples registro das impressões sensoriais, que com auxílio da lógica, dava origem às leis e teorias. Identificava fatos a serem investigados e não problemas, colocando a observação do fato ou fenômeno como ponto de partida para a investigação e para o surgimento das hipóteses que seriam posteriormente testadas e generalizadas. As ciências contemporâneas, percebendo que o conhecimento era teoricamente inconsistente, incompatível com outras teorias, ou mesmo, inadequado para explicar os fatos, apresenta-se o processo do conhecer como resultado de um questionamento elaborado pelo sujeito. Assim, a investigação científica se desenvolve em função da necessidade de construir e testar uma possível resposta ou solução para um problema, decorrente de algum fato ou de algum conjunto de conhecimentos teóricos, surgindo o método hipotético-dedutivo. Podemos sintetizar as etapas do método hipotético-dedutivo, da seguinte forma: Problema: toda investigação tem origem em algum problema teórico/prático percebido, que dirá o que é relevante ou não para ser observado, determinando os dados que devem ser selecionados. A seleção dos dados exige uma hipótese, conjectura e/ou suposição, que servirá de conduta ao pesquisador. Hipóteses: também chamadas de conjecturas, são soluções propostas em forma de proposição passível de teste, direto ou indireto, sempre dedutivamente no formato: “se... então...”. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia�� A hipótese é lançada para explicar ou prever aquilo que despertou a curiosidade intelectual ou dificuldade teórica-prática. Teste das hipóteses: planejamento e realização das operações para por à prova as predições, a partir tanto das observações, medições, experimentações quanto das demais operações instrumentais. Conclusões: correspondem à adição ou introdução novos elementos às teorias existentes, é o contraste dos resultados da prova com as conseqüências deduzidas do modelo teórico. Portanto, a pesquisa científica com abordagem hipotético-dedutiva inicia-se com o descobrimento de um problema e com sua descrição clara e precisa, a fim de facilitar a obtenção de um modelo simplificado e a identificação de outros conhecimentos e instrumentos, relevantes ao problema, que auxiliarão o pesquisador em seu trabalho. Após esse estudo preparatório, o pesquisador passa para a fase da observação. Na verdade, essa é a fase de teste do modelo simplificado. É uma fase meticulosa em que é observado um determinado aspecto do universo, objeto da pesquisa. A fase seguinte é a formulação de hipóteses, ou descrições-tentativas, consistentes com o que foi observado. Essas hipóteses são utilizadas para fazer prognósticos, os quais serão comprovados ou não por meio de testes, experimentos ou observações mais detalhadas. Em função dos resultados desse testes, as hipóteses podem ser modificadas, dando início a um novo ciclo, até que não haja discrepância entre a teoria e os experimentos e/ou observações. O método hipotético-dedutivo é um dos mais utilizados atualmente, principalmente nas ciências naturais, onde sua utilização normalmente aparece ligada à experimentação. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia�� Método dialético Parte da premissa de que, na natureza, tudo se relaciona se transforma e há sempre uma contradição inerente a cada fenômeno. Nesse tipo de método, para conhecer determinado fenômeno ou objeto, o pesquisador precisa estudá-lo em todos os seus aspectos, relações e conexões, sem tratar o conhecimento como algo rígido, já que tudo no mundo está sempre em constante mudança. A dialética, enquanto metodologia tem várias interpretações, entretanto, identificam-se nela alguns princípios: • Princípio da unidade e luta dos contrários: que afirma que todos os objetos e fenômenos apresentam aspectos contraditórios, que são organicamente unidos e constituem a indissolúvel unidade dos opostos. • Princípio da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas: afirma que qualidade e quantidade são características inerentes a todos os objetos e fenômenos, e estão inter-relacionadas. • Princípio danegação da negação: o desenvolvimento de um fato ou fenômeno ocorre em espiral, isto é, as suas fases repetem-se, mas em nível superior. A dialética é contrária a todo conhecimento rígido, acabado, tudo é visto em constantes mudanças; sempre há algo que nasce e se desenvolve e algo que se desagrega e se transforma. Portanto, para conhecer realmente um objeto, na perspectiva dialética, é preciso estudá-lo em todos os seus aspectos, em todas as suas relações e todas as suas conexões. Universidade Anhembi MorumbiMetodologia�� Síntese Nesta unidade vimos que o conhecimento científico distingue-se do senso comum, pelo rigor metodológico, teórico e livre de preconceitos, condições necessárias para se captar mais adequadamente a realidade. Isto não quer dizer que a realidade possa ser conhecida assim como ela é, no sentido total e absoluto, pela ciência ou por qualquer outra forma de discurso (filosófico, comum, religioso, mítico, simbólico, etc.), mas que a realidade, que sempre se apresenta diante do observador por meio de obstáculos, por isso é que ela é inesgotável, pode ser descoberta, compreendida e interpretada na medida que a observação, a pesquisa, o conhecimento ou a ciência avança em direção ao aperfeiçoamento dos instrumentos, dos métodos e da própria linguagem. Bibliografia GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987. KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 1997. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos e metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1996. LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber. Porto Alegre: Artes Médicas, Belo Horizonte: UFMG, 1999. RICHARDSON, Roberto Jarry e Colaboradores. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
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