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Capítulo 3 DIMENSÃO HUMANA GRUPOS SOCIAIS E ORGANIZAÇÃO INFORMAL Conteúdo programático Classificação dos grupos formais em uma organização Conceituação e formação dos grupos informais Funções e benefícios dos grupos informais Objetivo Apresentar os conceitos de grupos sociais, de organização informal e da relação desses grupos com a dinâmica das organizações. 78 Para refletir O ra n ge st oc k/ M ar co A nd ra s Sh ut te rs to ck /D m itr iy Sh iro no so v Ao ver a imagem acima, de que você se recorda? Algo como os momentos da infância, quando brincava com seus colegas? Existe algum amigo que você continua encontrando até hoje? Você já parou para pensar que pertence a grupos sociais diversos e que esses grupos são importantes para seu equilíbrio emocional? Já se imaginou isolado e sem o apoio de grupos sociais? E na empresa, considera importante a formação de grupos paralelos à estrutura organizacional? Se você vê pessoas dispostas e alegres, vai concordar que bons relacionamentos no trabalho tornam o ambiente mais leve e as tarefas são desempenhadas de forma mais adequada. Por que será que isso acontece? Qual a importância dos grupos informais para a gestão das organizações? Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 79 Por uma necessidade funcional, a empresa precisa criar uma estrutura orga- nizacional que reflita a relação de autoridade e de poder que existe no ambiente. A melhor forma de representar a estrutura formal de uma empresa é por meio de um organograma, como este: Diretor-Geral Gerente de Comunicação Gerente Operacional Gerente Executivo Gestor Administrativo-Financeiro Gestor Jurídico Gestor de Produção Gestor de Pessoas Gestor de Produção Gestor de Pessoas Pelo organograma, percebe-se que o cargo de diretor-geral é o de maior ní- vel hierárquico e, portanto, exerce autoridade sobre os demais. Os gerentes estão subordinados ao diretor-geral e têm sob sua autoridade os gestores. Essa estrutura formal pode ser classificada de diversas formas, conforme o exemplo abaixo: Grupos funcionais permanentes departamentos, seções, diretorias Grupos de administração formados por pes- soas que ocupam cargos de chefia Grupos temporários designados para cumprir uma tarefa e se extinguir depois do cumprimento da tarefa Comitês e comissões grupos per- manentes cuja formação é móvel Um grupo é definido como dois ou mais indivíduos, interagindo e interde- pendentes, que se juntaram para atingir objetivos comuns. Os grupos podem ser formais ou informais. Os grupos formais são definidos pela estrutura organizacional, com missões de trabalho e designação de tarefas. O que não é possível ser capturado pelo orga- nograma é a existência de grupos informais na empresa. O que você entende por grupos informais? Como você acha que eles se formam? Para refletir 80 Os grupos informais são criados em uma organização a partir da associação de pessoas que apresentam alguma afinidade. Essa afinidade pode ser desperta- da por interesses comuns (futebol, compras, viagens), por conhecidos em comum (amigos próximos, parentes, vizinhos), por assuntos próximos (cursos, faculdade, idiomas). Diversas são as razões que aproximam as pessoas. Para caracterizar a organização informal é necessário que a relação transcenda os limites da estrutura organizacional. Afinal, qual o conceito de grupos informais? Segundo Maximiano (2000a), os grupos informais “são criados por iniciativa de seus próprios membros, para defen- der seus interesses ou atender necessidades de convivência”. Os grupos informais são alianças que não são formalmente estruturadas nem determinadas organiza- cionalmente. Segundo Robbins (2006), esses grupos são formados no ambiente de trabalho em resposta às necessidades de contato social. Mas qual o papel dos grupos informais nas organizações? Os grupos infor- mais produzem os elementos de convivência social, do bem-estar psicológico, de escape de tensões e de participação. As pessoas têm necessidade de se inserirem nesses tipos de grupos, sem eles as organizações seriam sistemas meramente mecânicos. Veja, no quadro abaixo, os principais benefícios da formação de grupos infor- mais nas organizações: Fonte: MAxiMiAnO (2000). Realização de objetivos comuns Os objetivos individuais também podem ser concluídos por meio de trabalhos em grupo. Valorização das pessoas identidade, estima, sentimento de amor e aceitação. Segurança O grupo ajuda na construção de senti- mento de segurança e amparo. Desempenho O indivíduo aceito socialmente e inserido em grupos compartilha com eles valores morais e éticos, o que interfere positiva- mente no seu desempenho. Os grupos podem ser subclassificados em: grupos de comando, tarefas, inte- resses ou amizades. Enquanto os dois primeiros pertencem à organização formal, os dois últimos são pertencentes aos grupos informais: Grupo de comando – Determinado pelo organograma da organização. É formado pelos subordinados que se reportam a respectivos gerentes ou gestores. Grupo de tarefas – Formado por indivíduos agrupados para o desenvol- vimento de determinada tarefa ou atividade. Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 81 Grupo de interesse – Formado quando colaboradores se unem para al- cançar um objetivo específico no qual estão interessados. Grupo de amizade – Formado por alianças sociais que normalmente se estendem para fora dos limites de trabalho. Em meados dos anos 1930 e 1940, pesquisadores acreditavam que havia uma sequência lógica de formação dos grupos, teoria que ficou consolidada no modelo de cinco estágios de desenvolvimento de grupo. Segundo esse modelo, os grupos passavam por cinco estágios até se desenvolverem por completo: estágio de formação, estágio de tempestade, estágio de normatização, estágio de desem- penho e estágio de suspensão. Com estudos mais recentes, percebeu-se que os grupos não se desenvolvem em uma sequência lógica e universal. Chegou-se ao modelo de equilíbrio acentuado, no qual existem estágios de desenvolvimento que se intercalam e alternam entre momentos de inércia e momentos de mudanças. Leitura complementar GRUPOS INFORMAIS Grupos de trabalho potencializados pelo ambiente digital são bons ou ruins? Dentro de qualquer organização social, inclusive empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, nacionais ou multinacionais, é cada vez maior a necessidade das pessoas de obterem cooperação de seus parceiros de trabalho. De um lado, o advento das plataformas digitais, da Internet principal- mente, como catalisadores de troca de informações; do outro, os programas internos de integração, remodelagem de processos, reorganização adminis- trativa, supply-chain interno, métricas de qualidade, produtividade e perfor- mance. Essa conjunção de fatores leva as organizações a entenderem o potencial de implementação de dois conceitos: knowledge management e collaborative work. A necessidade de solução dos problemas diários, a exigência cada vez maior de abordagem multidisciplinar dos problemas, bem como a dependência da implementação das ações planejadas em uma velocidade absolutamente atropeladora, faz com que as pessoas efetivamente precisem se organizar em grupos orientados à resolução de problemas. Isso é collaborative work, ou grupos de trabalho, orientados a tarefas, projetos, que hoje passam a ser potencializados nos ambientes digitais. A ge- ração, armazenamento, troca e disseminação deste conhecimento constituem- -se no recheio do processo de knowledge management. Independentemente da web, Tom Peters já havia chegado a esta con- clusão no início dos anos 1980 em seu Vencendo a crise: osgrupos menores 82 (máximo de oito pessoas) são capazes de implementar melhor as decisões tomadas, coordenar o desenvolvimento e a implantação de projetos e obter resultados. Esses grupos, contrários ao conceito finito e entrópico de departamentos funcionais ou linhas de produção, são muitas vezes orientados por metas, con- centrados na missão de sua formação, multifuncionais e, em grande parte dos casos, temporários e informais. A rica troca de experiências e informações que propiciam a autonomia de ação com respaldo da alta direção da empresa, a velocidade que se permitem adotar por estarem soltos das amarras hierárquicas, o foco claro no objetivo e a remuneração por resultados são fatores que alimentam a eficiência destes grupos. Ocorre que a aproximação de pessoas por afinidade, interesse, comple- mentariedade ou diferença é natural do ser humano. E o objeto da aproxima- ção, o tema vigente, pode ser bom ou ruim para a empresa. Assim, organizações informais podem ser benéficas, quando operam como SWATs corporativas (caso descrito acima); ou podem ser perniciosas, quando representam o corporativismo atávico de pessoas na organização. Quando deste último modelo, transformam-se em vírus interno, com poder de- vastador igualmente proporcional, uma vez que possuem exatamente as mes- mas características acima listadas (à exceção, é claro, da anuência da direção superior e da remuneração por resultados). Nesse caso, são como guerrilhas, corpos menores, resistentes, estranhos dentro de organizações maiores. Com o advento da Internet, essas organizações sociais assumiram ca- ráter fluido, on-line, viral, uma vez que as barreiras geográficas, de distância, de hierarquia e de tempo caíram. Isso quer dizer que do mesmo jeito que a Internet é um catalisador do fluxo de informações e, portanto, da criação, gerenciamento e disseminação de conhecimento, também é, no seu lado ne- gativo, um duto absolutamente eficiente de troca de informações, documentos, enfim, risco. O “efeito Internet” nesse processo é devastador, pois acelera imensa- mente o potencial de alcance e adesão a estas organizações. Atento-me principalmente à faceta negativa dos grupos informais, um exemplo pode ser ilustrado com dois funcionários descontentes de qualquer departamento de qualquer empresa que têm, ambos, o costume de conversar e dividir suas percepções e fofocas sobre assuntos da companhia e assuntos pessoais. Nesse caso, o local não influi na formação da organização, pois eles podem estar conversando tanto no trabalho como numa parada para o café, ou mesmo após o trabalho. E podem estar fazendo isso remotamente, pela web, no Orkut, no Messenger. Outro exemplo é o de um funcionário “ajudando” um colega pertencente a um outro departamento qualquer a resolver algum problema de seu trabalho. Este último exemplo pode ser considerado um caso igualmente comum, uma Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 83 vez que boa parte das organizações hoje está estruturada ou por processos ou matricialmente (e não somente por departamentos) e, portanto, muitas tarefas se interdependem e cruzam vários departamentos funcionais. [...] O problema todo ocorre quando as reuniões em grupos informais giram em torno de uma liderança indesejável, corruptível e contra a vontade da maio- ria. Nesses casos, a formação destes grupos se dá por interesse ou engana- ções. Nessas circunstâncias, eles são perigosos, pois tendem a colocar os interesses pessoais acima dos interesses da empresa ou do grupo. Outro problema pode ocorrer quando os membros de um grupo encaram sua participação no grupo como fuga. Nesse caso, o trabalho de todos é preju- dicado, pois o indivíduo deixa de cumprir suas obrigações. Mais importante do que tentar evitar a formação de grupos perniciosos é estimular a criação dos grupos benéficos, bem como criar um ambiente que potencialize a criatividade, a interação e a cooperação entre as pessoas. Não se pode evitar o que não se pode evitar, mas é possível tentar utilizar a tecnologia e as potencialidades geradas pela Internet para tirar bom proveito desses grupos, promovendo o collaborative work e o knowledge management. Como dissemos em outros artigos, trabalhamos com o conceito de fun- ção de onda para a Internet. A Internet, por si, [...] não é boa, nem ruim e não permite dualidades. Assim, a forma que assume depende de quem a utiliza e o resultado de sua “aparência” deriva da experiência que o usuário tem com ela. Isso quer di- zer que ela é transparente, não tem a obrigação de ser justa e não tem “culpa” nos processos que acelera. Isso é inerente a ela. DOMENEGHETTI, Daniel. Grupos informais. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/ computacao_corporativa/ti_corporativa/idgcoluna.2006-12-06.1694356807/paginador/ pagina_5>. E-consulting Corp. Acesso em: 8 fev. 2008. Síntese Você estudou sobre o conceito de grupos sociais, que podem ser de dois tipos básicos: formais e informais. Os grupos formais respeitam a estrutura orga- nizacional da empresa, a partir da hierarquia, autoridade e poder definidos. Já os grupos informais se formam pela aproximação de pessoas com interesses, ideolo- gias, comportamentos comuns e independem da relação hierárquica entre elas. Em entrevista à revista Exame, a especialista em Análise de Redes Sociais, Karen Stephenson (ROSENBURG, 2003), fala da existência de três papéis típicos, que são representados pelas pessoas nas redes de relações, dentro de uma or- ganização: Atividade 84 Os “centros irradiadores” são aquelas pessoas com um grande núme- ro de conexões. Eles passam boa parte do tempo conversando com os outros na empresa. Nas representações gráficas que fazemos das re- des de confiança, é muito fácil identificar os centros irradiadores. Eles se parecem com o centro de uma estrela cheia de pontas. Os “guardiões” são aqueles profissionais que se posicionam de forma que a informação passe sempre por eles antes de chegar aos outros. Costumam ficar entre os irradiadores ou entre as diferentes áreas da empresa. Guardiões não têm tantos relacionamentos, mas suas conexões são bastante estratégi- cas e fortes. [O terceiro] pode ser chamado de “termômetro”. Os termô- metros cultivam relações indiretas e seu objetivo é monitorar a saúde e a direção da organização. Como suas conexões são esparsas e seguem um padrão matemático muito particular, é bastante difícil identificar essas pessoas. Fazendo algumas perguntas informais, procure identificar na empresa em que trabalha, ou em outra organização com a qual tenha proximidade, se existem pessoas que exercem esses papéis, aponte as características pessoais que você observou e que o levaram a essa conclusão. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: McGraw- -Hill, 1997. DOMENEGHETTI, Daniel. Grupos informais. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/ computacao_corporativa/ti_corporativa/idgcoluna.2006-12-06.1694356807/paginador/ pagina_5>. E-consulting Corp. Acesso em: 8 fev. 2008. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2000a. _____. Teoria geral da administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. São Paulo: Atlas, 2000b. ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Education, 2006. SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Referências Anotações Capítulo 3 DIMENSÃO HUMANA LIDERANÇA Conteúdo programático Conceituação de liderança Tipos de líderes Objetivo introduzir o aluno a conceitos referentes aos aspectos de liderança, de forma a construir conhecimentos a respeito da dimensão humana das organizações. 86 Pense rápido: Por que o tema liderança tem sido tão discutido pelasorganizações e pelas revistas especializadas em administração? Pensou? Então aí vai uma aju- da. Veja estas ilustres pessoas: O que essas pessoas têm em comum além do fato de terem feito um grande bem à humanidade? Se você respondeu que foram importantes líderes na nossa sociedade, você está no caminho certo. Agora pense novamente: Como podemos concluir que alguém é ou não um líder? Para ajudar na sua reflexão, observe a figura abaixo: nelson Mandela Mahatma Gandhi irmã DulceJesus Cristo G uja rat V id ya pi th , A hm ed ab ad Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 87 O que você vê na figura? Se respondeu que viu uma multidão seguindo Gandhi, você, de forma figurada, interpretou corretamente o conceito de liderança. Pregador da não violência, Gandhi liderou uma lenta revolução pacifista em seu país, na tentativa de libertar a Índia do governo britânico. Gandhi queria que seu país fosse livre, que o povo não fosse tratado como escravo e que todos tivessem direitos iguais, independentemente do sexo, da raça ou da religião. As armas usa- das por esse homem? A palavra, o discurso. Trazendo essa percepção do conceito de liderança para uma organização, podemos dizer que líder é aquele capaz de exercer domínio sobre outras pessoas. O líder é aquele que convence as pessoas sobre a importância de suas ideias e de seu ponto de vista. Na década de 1930, os pesquisadores que se dedicavam aos estudos sobre liderança imaginavam que um líder precisava cumprir requisitos físicos, intelectuais, sociais e operacionais para exercer seu papel, tais como (MAXIMIANO, 2000): Traços físicos – Energia, aparência, peso. Traços intelectuais – Adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança. Traços sociais – Cooperação, habilidades interpessoais e habilidades administrativas. Traços relacionados com a tarefa – Impulso de realização, persistência e iniciativa. Acreditava-se que liderança era uma característica inata, que já se nasce líder. Com a contribuição da psicologia organizacional e a própria evolução das organizações, percebeu-se que o treinamento e o desenvolvimento de recursos humanos são ferramentas importantes para desenvolver qualidades de liderança nas pessoas. Pensando na sua experiência pessoal, com quais tipos de líder você já se relacionou? 1 2 3 88 Saiba mais++ Se você já conviveu com o líder tipo 1, talvez sua experiência não tenha sido das melhores. Esse é o tipo de líder denominado autoritário. Ele determina como as atividades devem ser feitas e quem deve fazer, sem deixar espaço para nego- ciação. O tipo 2 é o democrático e negociação é a sua palavra de ordem. O tipo 3 é liberal e procura dar autonomia para que o próprio grupo liderado determine a melhor forma para a execução das tarefas. Fonte: MAxiMiAnO (2000). TIPOS DE LÍDERES Autocrático Democrático Liberal Apenas o líder fixa as diretrizes, sem parti- cipação do grupo. As diretrizes são deba- tidas e decididas pelo grupo. Há liberdade completa para as decisões gru- pais ou individuais. O líder determina as providências e as téc- nicas para a execu- ção das tarefas. O próprio grupo esbo- ça as providências e as técnicas para atingir o alvo. A participação do líder nas discussões é limi- tada. O líder determina qual a tarefa que cada um deve executar. A divisão das tarefas fica a critério do grupo. A divisão das tarefas fica a cargo do grupo. O líder é dominador e é pessoal nos elogios e nas críticas ao tra- balho. O líder procura ser um membro do grupo e limita-se a fatos nas críticas e elogios. O líder não faz nenhu- ma tentativa de avaliar ou regular os aconte- cimentos. A pergunta que fica diante dos estilos apresentados é: Qual o melhor estilo de liderança? Se você respondeu que depende, você acertou. A visão mais nova sobre liderança explica que a liderança é situacional: o melhor estilo a ser adotado depende da situação, do tipo de equipe, do trabalho a ser desenvolvido, etc. Agora podemos voltar à nossa pergunta inicial: Por que o tema liderança tem sido tão discutido pelas organizações e pelas revistas especializadas em adminis- tração? A resposta está no ambiente em que as empresas estão inseridas, exigindo, cada vez mais, pessoas capazes de transformar a realidade, de aprender e usar o conhecimento como motor de transformação social. É importante, hoje, desenvolver as características de liderança nos colabo- radores. O ideal é que as pessoas que ocupam cargos gerenciais na organização realmente exerçam a liderança e que ela seja exercida devido ao conhecimento técnico ou carisma, ou a ambos – mas que não se institua apenas por conta do cargo que a pessoa exerce. Essa é a visão dos entendimentos mais recentes sobre liderança, segundo os quais o importante é a característica transformacional dos líderes. Eles devem prestar atenção às preocupações e necessidades de seus cola- boradores como pessoas individuais; eles mudam a consciência dos seguidores Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 89 sobre as questões, ajudando-os a ver os velhos problemas de maneiras novas; e são capazes de excitar, estimular e inspirar seguidores a exercer esforço extra para alcançar as metas de grupo. A ARTE DE ADMINISTRAR PESSOAS NA ERA DA SAbEDORIA Na Era da Sabedoria, administrar pessoas envolve a capacidade de ge- rir uma equipe focada na integração entre suas competências e habilidades, e a dinâmica desses elementos dentro da empresa é que fará a diferença nos resultados. Nosso papel é conscientizar nossa equipe de que, além de buscar os conhecimentos e a formação técnica para obter resultados, as mudanças e exigências do mundo moderno pedem habilidades individuais que não se apren- dem nas universidades, mas por meio de um trabalho de autodesenvolvimento para adquirir novas posturas em uma nova era de transformação sem retorno. Administrar pela pressão exagerada e por bonificações irresistíveis está tornando as equipes estressadas e com os nervos à flor da pele, caindo na ansiedade, angústia e depressão. Resultado: vamos perder nossos talentos para o seu próprio bom senso ou para as doenças emocionais, que serão perdas irreparáveis. Na Era da Sabedoria, não basta termos líderes nas empresas. Temos que desenvolver comandantes, isto é, pessoas que assumam o comando de sua carreira e o seu desenvolvimento comportamental. O comandante precisa desenvolver três habilidades: o comando da mente, o controle das emoções e a assertividade nas ações, que exigem um trabalho de reinvenção, que, se- gundo Paulo Zabeu, autor dos livros Cinco regras para vencer os seus limites e Faça você mesmo o seu destino, é expandir conceitos, sentimentos, atitudes, ações, ideias e sonhos futuros. Faz-se necessário, atualmente, preparar-nos de dentro para fora, investir não somente nos cursos de línguas, MBAs, pós-graduações e outros, mas também em cursos de autoconhecimento e desenvolvimento de habilidades pessoais. As mudanças comportamentais são lentas e exigem dedicação e técnica. Nunca se atentou tanto para a ética e o desenvolvimento do equilíbrio humano como ultimamente. Quando falo da arte de administrar pessoas na “Era da Sabedoria”, orien- to os gestores de pessoas a iniciarem um trabalho consigo mesmos e a apren- derem primeiramente a comandar-se, tornarem-se autogestores, para então poder gerir pessoas. Acreditamos que a era do milagre e da tecnologia infalível chegou ao fim. A Era da Sabedoria exige dos atuais e futuros profissionais uma relação permanente entre corpo, mente e espírito. Esta é a Era da Sabedoria, na qual não basta ser, mas saber ser. Leitura complementar 90 As três habilidades do comandante: Comando da mente: envolve a habilidadede manter a qualidade dos pensa-1. mentos e ações em um foco produtivo o tempo todo. Controle das emoções: é acabar com a impulsividade e a omissão, que são 2. os dois fatores responsáveis pelo aumento da ansiedade e da frustração. Assertividade nas ações: é falar a coisa certa, para a pessoa certa, na hora 3. certa e da forma certa. ANDRÉA, Paula. A arte de administrar pessoas na Era da Sabedoria. Disponível em: <http://www. empresario.com.br/artigos/artigos_html/artigo_a_171104.html>. Acesso em: 6 dez. 2007. Você estudou o papel da liderança nas organizações atuais e algumas teorias sobre liderança. Algumas das teorias associam os líderes a traços físicos e com- portamentais. Outras afirmam que existem alguns estilos de liderança – autocrático, democrático e liberal – que se alternam ao longo do exercício das atividades do líder. Conforme os entendimentos mais recentes, a liderança é situacional e o momento é que vai definir o melhor estilo de liderança a ser usado. O tema é de extrema rele- vância para as organizações que verdadeiramente entendem que os gestores devem exercer papéis de liderança. Síntese Para consolidar o conceito de liderança estudado, responda às seguintes questões: 1. Qual a importância do estudo da liderança para as organizações contemporâneas? 2. Escolha um líder importante para você e explique como e por que ele exerce a liderança. Descreva em que estilo de liderança ele se enquadra e por quais motivos. Atividades ANDRÉA, Paula. A arte de administrar pessoas na Era da Sabedoria. Disponível em: <http://www.empresario.com.br/artigos/artigos_html/artigo_a_171104.html>. Acesso em: 6 dez. 2007. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: McGraw- -Hill, 1997. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2000. _____. Teoria geral da administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. São Paulo: Atlas, 2000. Referências Capítulo 3 DIMENSÃO HUMANA MOTIvAÇÃO NO TRAbALHO Conteúdo programático Motivações internas e externas A construção das motivações internas a partir dos níveis de necessidades, representados pela pirâmide de Maslow necessidades externas sob a perspectiva da administração: o trabalho e as condições de trabalho indicadores de qualidade de vida no trabalho Objetivo Discutir conceitos relativos aos aspectos motivacionais. 92 Nada lhe posso dar que já não exista em você mes- mo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo. Hermann Hesse Para refletir Você já parou para pensar o que motiva as pessoas a desenvolverem suas atividades no trabalho? Ou a estudar, realizar um curso técnico ou de pós-graduação? Você já percebeu que algumas pessoas são naturalmente motivadas enquanto outras precisam de estímulos externos? Para responder às perguntas, é preciso conhecer um pouco mais o conceito de “motivação”. Entendemos por motivação a disposição de um indivíduo em realizar tarefas. A teoria motivacional estuda as causas ou os fatores que causam o estado de disposição das pessoas para realizar tarefas. É possível a motivação vir da própria pessoa? Talvez a citação de Hermann Hesse acima nos ajude nessa reflexão. Existem dois tipos de motivos: Como o motivo interno é construído nas pessoas? Se você acredita que isso varia de pessoa para pessoa, você está certo. Sabe do que depende o grau de motivação de uma pessoa? Depende de como ela se encontra ante suas necessi- dades pessoais. Maslow, psicólogo norte-americano, desenvolveu uma importante teoria sobre o tema, que é usada até hoje como referência na teoria da motivação humana. Segundo esse autor, existe uma hierarquia de necessidades, as quais condi- cionam o comportamento dos indivíduos, conforme pode ser visto na pirâmide de Maslow (Apud MAXIMIANO, 2000a) representada a seguir: Motivos internos Surgem do próprio indivíduo. Motivos externos São criados pela situação ou ambiente em que o indivíduo se encontra. Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 93 Necessidades de autorrealização; desenvolvimento pessoal. Necessidades de estima: autoapreciação, autoconfiança, necessidade de aprovação social e de respeito, status, prestígio. Necessidades básicas: alimentação (fome e sede), sono e repouso, abrigo (frio e calor), desejo sexual, etc. Necessidades sociais: necessidade de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor. Necessidades de segurança: estabilidade, busca de proteção contra a ameaça ou privação, fuga ao perigo. Comentário A pirâmide nos ajuda a entender o processo de motivação pessoal. Considere o que é representado na pirâmide: Somente quando um nível inferior de necessidades está satisfeito ou ade- quadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado surge no comportamento. Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de necessidades. Quando as necessidades de níveis inferiores estão razoavelmente satis- feitas, as necessidades localizadas nos níveis mais elevados começam a predominar. Contudo, quando alguma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a predominar no comportamento, enquan- to gerar tensão no organismo. Toda pessoa tem sempre mais de uma motivação. Qualquer frustração ou possibilidade de frustração passa a ser considera- da ameaça psicológica. As necessidades básicas, como se pode ver, estão na base da pirâmide e, quando não satisfeitas, condicionam o comportamento do indivíduo. Uma vez atin- gido o patamar mínimo de satisfação básica, o indivíduo passa a necessitar de segurança que, quando obtida, deixa de ser relevante como fator motivacional, e assim sucessivamente. 94 Para refletir Em que ponto da pirâmide você se encontra agora? Por que é tão importante para as organizações conhecer a teoria de necessidades de Maslow? A razão é que, quando as empresas conhecem bem seus funcionários, podem desenvolver políticas de recursos humanos focalizadas nas necessidades de cada colaborador, aumentando a sua eficácia e, consequentemente, melhorando a pro- dutividade e o desempenho dos sujeitos envolvidos. Mas as empresas não podem contar apenas com a motivação interna de seus funcionários, elas precisam criar as condições ambientais para potencializar a motivação dos colaboradores. Aí é que entra a motivação externa, entendida como “[...] estímulos ou incentivos que o am- biente oferece ou objetivos que a pessoa persegue porque satisfazem as necessi- dades, despertam um sentimento de interesse ou representam a recompensa a ser alcançada” (MAXIMIANO, 2000b). As necessidades externas podem ser divididas em duas categorias principais: o trabalho e as condições de trabalho. Com relação ao trabalho, destacam-se o conteúdo, o sentimento de relevân- cia do trabalho desempenhado, a responsabilidade, as perspectivas de crescimento e o prestígio advindos desse trabalho. Já as condições de trabalho relacionam-se com o estilo de supervisão do chefe, as relações interpessoais com os colegas, o salário, as políticas de recursos humanos e as condições físicas e de segurança do trabalho. Fatores de motivação Fatores de satisfação (ambiente de trabalho) Qualidade de vida no trabalho Para fundamentar ainda mais essa abordagem motivacional, alguns psicólo- gos desenvolveram a ideia de qualidade de vida no trabalho, que tem sido incenti- vada pelas organizações atuais em função do aumento do estresse e das pressões no ambiente de trabalho. Introduçãoà Gestão de Organizações – Capítulo 3 95 Saiba mais++ Maximiano (2000b) apresentou os seguintes indicadores para avaliar a qualidade de vida no trabalho: Para refletir Que leitura pode ser feita da figura? Como a teoria de Maslow se relaciona com o conteúdo apresentado? É possível perceber que, além do trabalho e das condições de trabalho, é preciso incentivar a qualidade de vida nesse ambiente, conceito mais profundo e transformador das relações profissionais. Como medir a qualidade de vida no trabalho? CATEGORIAS DE INDICADORES INDICADORES ESPECÍFICOS Organizacional Tratamento ético dos funcionários. Planos de carreira igualitários. Clareza das políticas e procedimentos. Social investimento na educação formal dos funcionários. Benefícios familiares. Atividades culturais e esportivas. Psicológica Valorização do funcionário. Apoio psicológico. Desafio e outros fatores motivacionais. Biológica Ginástica laboral. Controle dos acidentes de trabalho. Conforto físico e eliminação da insalubridade. Alimentação. Controle de doenças. O qUE Há DE ERRADO COM O RH? Mesmo entre as melhores empresas para trabalhar, a gestão de pessoas não agrada a ninguém A área de recursos humanos costuma ser uma das mais critica- das nas empresas. De um lado estão os funcionários, insatisfeitos com as políticas de remuneração e com o planejamento de carreira. De ou- tro, os executivos, reclamando que os profissionais de RH não enten- Leitura complementar 96 dem de negócios. As queixas são tão frequentes que já se tornaram parte do folclore empresarial. Segundo uma pesquisa realizada pela Fun- dação Instituto de Administração (FIA) de São Paulo, mesmo entre as 150 companhias consideradas referência em gestão de pessoas, os departamentos de recursos humanos – que oscilam entre o paternalismo e a omissão – na melhor das hipóteses conseguem agradar a poucos. MAUTONE, Silvana. O que há de errado com o RH? Disponível em: <http://admjr.com.br/ download/01-03-2007_18-07-56_.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2008. Para ler esse artigo na íntegra, acesse http://admjr.com.br/ download/01-03-2007_18-07-56_.pdf. Dica CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: McGraw- -Hill, 1997. MAUTONE, Silvana. O que há de errado com o RH? Disponível em: <http://admjr.com.br/ download/01-03-2007_18-07-56_.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2008. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. São Paulo: Atlas, 2000a. _____. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2000b. Referências Você estudou o tema “motivação no trabalho” e descobriu que existem fatores internos e externos que interferem no grau de motivação do indivíduo. Para explicar os fatores internos, é possível recorrer à teoria de Maslow. Segundo esse autor, as pessoas são motivadas por necessidades básicas, de segurança, sociais, de esti- ma e de autorrealização; já os motivos externos estão relacionados com o trabalho e as condições de trabalho. Síntese Responda às questões: 1. Na sua opinião, as organizações devem entender como se processa a motiva- ção dos seus colaboradores? Por quê? 2. Como a área de recursos humanos deve incorporar os conceitos relacionados com motivação e desempenho? Explique. Atividades Capítulo 3 DIMENSÃO HUMANA PODER E CONFLITOS ORGANIZACIONAIS Conteúdo programático Construção conceitual e tipos de poder Conceituação de conflito Tipos de conflito Objetivo Discutir o poder e o conflito para aprofundar a compreensão da relevância da reflexão acerca da dimensão humana nas organizações. 98 Estar no poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar às pessoas que você é, você não é. Margaret Thatcher Max Weber escreveu há muitos anos um livro chamado The theory of social and economic organization (A teoria da organização econômica e so- cial). Neste livro, Weber enunciou as diferenças entre poder e autoridade, e essas definições ainda são amplamente usadas hoje. Vou parafrasear Weber o melhor que puder. Simeão voltou para o quadro e escreveu: Poder: É a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer. Todos sabemos como é o poder, não é? O mundo está cheio disso. “Faça isso ou despedirei você”, “Faça isso ou bombardearemos você”, “Faça isso ou bateremos em você” ou “Faça isso ou castigaremos você durante duas sema- nas”. Em palavras simples, “Faça isso senão...”. Todos vocês concordam com essa definição? Todos nós concordamos. Simeão voltou ao quadro e escreveu: Autoridade: A habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa de sua influência pessoal. – Isto é um tanto diferente, não é? Autoridade é levar as pessoas a faze- rem de boa vontade o que você deseja porque você pediu que fizessem. “Vou fazer porque Bill me pediu – eu atravessaria paredes por Bill” ou “Vou fazer isso porque mamãe me pediu”. E notem que poder é definido como uma faculdade, enquanto autoridade é definida como uma habilidade. Não é necessário ter cérebro ou coragem para exercer poder. Crianças de dois anos são mestras em dar ordens a seus pais. Houve muitos governantes maus e insensatos ao longo da história. Porém, estabelecer autoridade sobre pessoas requer um conjunto especial de habilidades. A treinadora disse: – Entendo quando você diz que alguém poderia estar num cargo de poder e não ter autoridade sobre as pessoas. Ou, ao contrário, uma pessoa poderia ter autoridade sobre os outros sem estar numa posição de poder. O objetivo seria então que uma pessoa no poder também tivesse autoridade sobre as pessoas? – Esta é uma maneira esplêndida de colocar a questão, Chris! Outro modo de diferenciar poder de autoridade é lembrar que o poder pode ser ven- dido e comprado, dado e tomado. As pessoas podem ser colocadas em cargos Você concorda com a afirmação de Margaret Thatcher? Leia o trecho abaixo retirado do livro O monge e o executivo, de James C. Hunter: Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 99 Para refletir De que forma o poder deve ser exercido nas organizações? O exercício do poder é a melhor forma de lidar com o conflito nas empresas? Sh ut te rs to ck /D ie go C er vo de poder porque são parentes ou amigas de alguém, porque herdaram dinhei- ro ou poder. Isso nunca acontece com a autoridade. A autoridade não pode ser comprada nem vendida, nem dada ou tomada. A autoridade diz respeito a quem você é como pessoa, a seu caráter e à influência que estabelece sobre as pessoas. – Isso pode funcionar em casa ou na igreja, mas jamais funcionaria no mundo real! – anunciou o sargento. HUNTER, James C. O monge e o executivo. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. Poder O poder pode ser definido como a capacidade de fazer com que as pessoas executem determinadas ações. Observe a imagem a seguir. Que tipo de sentimento ela retrata? Se você pensou em dominação pela força captou bem o significado da imagem. Essa é a forma mais primitiva de exercício do poder nas organizações. Durante muito tem- po, com o predomínio das ideias tayloristas, acreditava-se que a melhor forma de obter os resulta- dos necessários para a organiza- ção seria pela coerção. Assim, a forma de controle exercida era a violência, não necessariamente física, mas também mental e psi- cológica. Mas, afinal, qual o concei- to de poder? Poder se refere à capacidade que uma pessoa tem de influenciar o comportamento de outra, de modo que a outra aja de acordo com o desejado. Estão implícitos nessa definição os conceitos de capacidade e potencial. Nesse último caso, pode-se possuir o po- der e não o exercer.Esse tema foi estudado pelo sociólogo Max Weber, que construiu o arcabouço teórico acerca da burocracia e da racionalidade. Seguidor de Max Weber, Etzioni pro- pôs a tipologia do poder, que define três tipos principais de poder nas organizações: 100 Dando continuidade aos estudos iniciados por Weber, French e Raven (Apud ROBBINS, 2000) classificaram as fontes do poder em cinco categorias: coercitivo, de recompensa, legítimo, de competência e de referência. Conheça cada um deles: Poder coercitivo – Seguindo a linha de Etzioni, depende do medo. É o medo dos resultados negativos, com atitudes divergentes das solicitadas, que condiciona o comportamento dos indivíduos. A base do poder coer- citivo é a aplicação ou a ameaça de aplicação de sanções físicas ou de controle de necessidades fisiológicas ou de segurança. Poder de recompensa – Baseia-se na vantagem que o indivíduo espera obter com o cumprimento das determinações definidas. Essas recompen- sas podem ser em dinheiro, boa avaliação de desempenho, promoção, tarefas atraentes, etc. O poder de recompensa é o outro lado do poder coercitivo. Enquanto o primeiro valoriza a punição, o segundo valoriza a recompensa. Poder legítimo – Ocorre em função da posição hierárquica exercida por alguém na estrutura organizacional e pressupõe a aceitação dessa posição. Poder de competência – Ocorre pelo reconhecimento da competência técnica, conhecimento, especialização, habilidade pessoal de quem exer- ce o poder. É uma forma consistente de exercício do poder e relevante no atual contexto tecnológico no qual vivemos. Poder de referência – Ocorre porque as pessoas se identificam com quem o exerce, por admiração, carisma, beleza, etc. Conflito O conflito é definido como um processo em que há divergência de interesses entre partes. Pode acontecer por aspectos de natureza comportamental ou ideo- lógica ou, ainda, por seus atores pertencerem a estruturas econômicas e sociais diferentes. Na visão tradicional das organizações, o conflito era encarado como negativo para o crescimento de uma empresa. Dessa forma, o conflito era veementemente TIPO DE PODER CONTRATO PSICOLóGICO TIPO DE ORGANIZAÇÃO ExEMPLO Poder coercitivo Obediência mecânica Coercitiva: controle comportamental Sistema prisional Poder manipulativo Obediência interesseira: recompensas Utilitária: resultados obtidos a partir de barga- nha com os funcionários negócios em geral Poder normativo Moral e discipli- na interior Realização de missão ou tarefa em que os participantes acreditam Organizações de voluntariado Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 101 evitado porque expunha problemas como comunicação deficiente, falta de abertura e confiança entre as pessoas, falha dos gerentes de responderem às necessida- des e aspirações de seus empregados. A melhor forma de atuar sobre o conflito é identificar as suas causas para resolvê-lo. A área de recursos humanos vê o conflito como algo natural no processo gerencial, devendo a organização aceitá-lo e tirar o máximo benefício dele para melhoria do desempenho organizacional. Já na visão interacionista o conflito deve ser estimulado, pois o grupo harmo- nioso, calmo, tranquilo e cooperativo não responde às necessidades de mudança e inovação da organização. Conforme essa corrente, é preciso haver um mínimo de conflito para manter o grupo viável, autocrítico e criativo. O conflito pode se dar entre duas ou mais partes, sejam elas indivíduos, grupos, departamentos, divisões ou empresas. Montana propõe os seguintes tipos de conflitos: Conflitos internos – Ocorrem quando o mesmo indivíduo tem duas ou mais opiniões, opostas, sobre alguma coisa. Conflitos entre indivíduos – São vistos como resultado de diferenças de personalidade. Conflitos entre indivíduos e grupos – O indivíduo que não concorda com as normas de comportamento do grupo ou com os valores encontra- dos na cultura organizacional estará em conflito com o grupo de trabalho ou com toda a organização. Conflitos entre grupos – O conflito entre grupos é inevitável devido a dois fatores básicos da organização: a competição por recursos escassos e pelos diferentes estilos gerenciais necessários para a operação eficaz de diferentes departamentos. Conflitos entre organizações – Cada empresa procura o dinheiro do consumidor no mercado, e essa competição leva as organizações a en- trarem em conflito. Leitura complementar Assédio moral ou violência moral no trabalho não é um fenômeno novo. Pode- -se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho. A novidade reside na intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na abordagem que tenta estabelecer o nexo causal com a organização do trabalho e tratá-lo como não inerente ao trabalho. A reflexão e o debate sobre o tema são recentes no Brasil, tendo ganhado força após a divulgação da pesquisa brasileira realizada pela dra. Margarida Barreto. A primeira matéria sobre a pesquisa brasileira saiu na Folha de S.Paulo, em 2000, na coluna de Mônica Bérgamo. Desde então, o tema tem tido presença cons- tante nos jornais, revistas, rádio e televisão, em todo o país. O assunto vem sendo 102 O qUE é ASSéDIO MORAL? O que é assédio moral no trabalho? É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhan- tes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes, dirigidas a um ou mais subordinados, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-a a desistir do emprego. Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta pre- juízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também humilhados [...] [e pelo] estímulo constante à competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, frequentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando um “pacto da tolerância e do silêncio” no coletivo, enquanto a vítima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, perdendo sua autoestima. [...] A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do traba- lhador e trabalhadora de modo direto, comprometendo sua identidade, digni- dade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas rela- ções e condições de trabalho. A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional, se- gundo levantamento recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com diversos países desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspec- tivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois, segundo a OIT e a Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do “mal-estar na globalização”, em que predominarão depressões, angústias e outros danos psíquicos relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e que estão vinculadas às políticas neoliberais. discutido amplamente pela sociedade,em particular no movimento sindical e no âmbito do legislativo. Em agosto do mesmo ano, foi publicado no Brasil o livro de Marie France Hirigoyen, Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 103 Estratégias do agressor Escolher a vítima e isolar do grupo. Impedi-la de se expressar e não explicar o porquê. Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente aos pares. Culpabilizar ou responsabilizar publicamente, podendo os comentários sobre sua incapacidade invadir, inclusive, o espaço familiar. Desestabilizar emocional e profissionalmente. A vítima gradativamente vai perdendo simultaneamente sua autoconfiança e o interesse pelo trabalho. Destruir a vítima (desencadeamento ou agravamento de doenças pré- -existentes). A destruição da vítima engloba vigilância acentuada e constante. A vítima se isola da família e amigos, passando muitas vezes a usar drogas, principalmente o álcool. Livrar-se da vítima, que é forçada a pedir demissão ou demitida, frequentemente por insubordinação. Impor ao coletivo sua autoridade para aumentar a produtividade. A explicitação do assédio moral Gestos, condutas abusivas e constrangedoras. Humilhar repetidamen- te, inferiorizar, amedrontar, menosprezar ou desprezar, ironizar, difamar, ridi- cularizar. Risinhos, suspiros, piadas relacionadas ao sexo, ser indiferente à presença do outro, estigmatizar os adoecidos pelo e para o trabalho, colocá- -los em situações vexatórias, falar baixinho acerca da pessoa, [...] rir daquele que apresenta dificuldades, não cumprimentar, sugerir que peçam demissão, dar tarefas sem sentido ou que jamais serão utilizadas, ou mesmo irão para o lixo, dar tarefas por meio de terceiros ou colocar em sua mesa sem avi- sar, controlar o tempo de idas ao banheiro, tornar público algo íntimo do(a) subordinado(a), não explicar a causa da perseguição, difamar, ridicularizar. Os espaços da humilhação nas empresas Começar sempre reunião amedrontando quanto ao desemprego ou ameaçar constantemente com a demissão. [...] chamar a todos de incompetentes. Repetir a mesma ordem para realizar uma tarefa simples centenas de vezes até desestabilizar emocionalmente o trabalhador ou dar ordens confusas e contraditórias. Sobrecarregar de trabalho ou impedir a continuidade do trabalho, negando informações. Desmoralizar publicamente, afirmando que tudo está errado, ou elogiar, mas afirmar que o trabalho é desnecessário à empresa ou instituição. 104 Rir a distância e em pequenos grupos, conversar baixinho, suspirar e executar gestos direcionando-os ao trabalhador. Não cumprimentar e impedir os colegas de almoçar, cumprimentar ou conversar com a vítima, mesmo que a conversa esteja relacionada à tarefa. Querer saber o que estavam conversando ou ameaçar quando há colegas próximos conversando. Ignorar a presença do(a) trabalhador(a). Desviar da função ou retirar material necessário à execução da tarefa, impedindo o trabalho. Exigir que faça horários fora da jornada. Ser trocado de turno sem ter sido avisado. Mandar executar tarefas acima ou abaixo do conhecimento do trabalhador. Voltar de férias e ser demitido(a) ou ser desligado(a) por telefone ou tele- grama em férias. Hostilizar, não promover ou premiar colega mais novo(a) e recém-chegado(a) à empresa e com menos experiência, como forma de desqualificar o trabalho realizado. Espalhar entre os colegas que o(a) trabalhador(a) está com problema nervoso. Sugerir que peça demissão, por sua saúde. Divulgar boatos sobre sua moral. Política de reafirmação da humilhação nas empresas a) Com todos os trabalhadores: Estimular a competitividade e individualismo, discriminando por sexo. Por exemplo, cursos de aperfeiçoamento e promoção realizados pre- ferencialmente para os homens. Discriminação de salários segundo o sexo. Passar lista na empresa para que os trabalhadores se comprometam a não procurar o sindicato ou mesmo ameaçar os sindicalizados. Impedir que as grávidas sentem durante a jornada ou que façam con- sultas pré-natal fora da empresa. Fazer reunião com todas as mulheres do setor administrativo e pro- dutivo, exigindo que não engravidem, evitando prejuízos à produção. Impedir de usar o telefone em casos de urgência ou não comunicar aos trabalhadores os telefonemas urgentes de seus familiares. Impedir de tomar cafezinho ou reduzir horário de refeições para 15 minutos. Refeições realizadas no maquinário ou bancadas. Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 105 Desvio de função: mandar limpar banheiro, fazer cafezinho, limpar posto de trabalho, pintar casa do chefe nos finais de semana. Receber advertência em consequência de atestado médico ou por que reclamou direitos. b) Discriminação aos adoecidos e acidentados que retornam ao trabalho: Ter outra pessoa no posto de trabalho ou função. Colocar em local sem nenhuma tarefa e não dar tarefa. Ser colocado(a) sentado(a) olhando os outros trabalhar, separados por parede de vidro daqueles que trabalham. Não fornecer ou retirar todos os instrumentos de trabalho. Isolar os adoecidos em salas denominadas dos “compatíveis”. Es- timular a discriminação entre os sadios e adoecidos, chamando-os pejorativamente de podres, fracos, incompetentes, incapazes. Diminuir salários quando retornam ao trabalho. Demitir após a estabilidade legal. Ser impedido de andar pela empresa. Telefonar para a casa do funcionário e comunicar à sua família que ele ou ela não quer trabalhar. Controlar as idas a médicos, questionar acerca do falado em outro espaço. Impedir que se procurem médicos fora da empresa. Desaparecer com os atestados. Exigir o Código Internacional de Do- enças (CID) no atestado como forma de controle. Colocar guarda controlando entrada e saída e revistando as mu- lheres. Não permitir que conversem com antigos colegas dentro da em- presa. Colocar um colega controlando o outro colega, disseminando a vigi- lância e desconfiança. Dificultar a entrega de documentos necessários à concretização da perícia médica pelo INSS. Omitir doenças e acidentes. Demitir os adoecidos ou acidentados do trabalho. Danos da humilhação à saúde A humilhação constitui um risco invisível, porém concreto nas relações de trabalho e à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, revelando uma das formas mais poderosas de violência sutil nas relações organizacionais, sen- do mais frequente com as mulheres e adoecidos. Sua reposição se realiza invisivelmente nas práticas perversas e arrogantes das relações autoritárias 106 na empresa e sociedade. A humilhação repetitiva e prolongada tornou-se prática costumeira no interior das empresas, onde predomina o menosprezo e a indiferença pelo sofrimento dos trabalhadores que, mesmo adoecidos, continuam trabalhando. Frequentemente os trabalhadores adoecidos são responsabilizados pela queda da produção, acidentes e doenças, [estando sujeitos a] desqualificação profissional, demissão e consequente desemprego. São atitudes como essas que reforçam o medo individual, ao mesmo tempo em que aumenta a submis- são coletiva, construída e alicerçada no medo. Por medo, [os trabalhadores] passam a produzir acima de suas forças, ocultando suas queixas e [...] [procu- rando evitar] simultaneamente serem humilhados e demitidos. Os laços afetivos que permitem a resistência, a troca de informações e comunicações entre colegas se tornam alvo preferencial de controle das chefias se alguém do grupo transgride a norma instituída. A violência no intramuros se concretiza em intimidações, difamações, ironias e constran- gimento do transgressor diante de todos, como forma de impor controle e manter a ordem.Em muitas sociedades, ridicularizar ou ironizar crianças constitui uma forma eficaz de controle, pois ser alvo de ironias entre os amigos é devas- tador e simultaneamente depressivo. Nesse sentido, as ironias mostram-se mais eficazes que o próprio castigo. O trabalhador humilhado ou constran- gido passa a vivenciar depressão, angústia, distúrbios do sono, conflitos in- ternos e sentimentos confusos que reafirmam o sentimento de fracasso e inutilidade. As emoções são constitutivas de nosso ser, independentemente do sexo. Entretanto, a manifestação dos sentimentos e emoções nas situa- ções de humilhação e constrangimentos são diferenciadas segundo o sexo: enquanto as mulheres são mais humilhadas e expressam sua indignação com choro, tristeza, ressentimentos e mágoas, estranhando o ambiente que identificavam como seu, os homens sentem-se revoltados, indignados, de- sonrados, com raiva, traídos e têm vontade de se vingar. Sentem-se en- vergonhados diante da mulher e dos filhos, sobressaindo o sentimento de inutilidade, fracasso e baixa autoestima. Isolam-se da família, evitam contar o acontecido aos amigos, passando a vivenciar sentimentos de irritabilidade, vazio, revolta e fracasso. Passam a conviver com depressão, palpitações, tremores, distúrbios do sono, hipertensão, distúrbios digestivos, dores generalizadas, alteração da libido e pensamentos ou tentativas de suicídio que configuram um cotidia- no sofrido. É este sofrimento imposto nas relações de trabalho que revela o adoecer, pois o que adoece as pessoas é viver uma vida que não desejam, não escolheram e não suportam. BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações. 1. ed. São Paulo: Educ, 2000. (Adaptado). Introdução à Gestão de Organizações – Capítulo 3 107 Você estudou os conceitos de “poder” e “conflito”. O primeiro compreende a capacidade de exercer autoridade sobre outras pessoas e o segundo é um processo em que há divergência de interesses entre partes de um processo. Ambos são im- portantes no contexto das organizações. Teorias mais recentes defendem que deve haver um nível mínimo de conflito para manter o grupo viável, autocrítico e criativo. Síntese Com base na leitura do texto complementar e no que você estudou sobre poder e conflito nas organizações, reflita sobre as seguintes questões: 1. Como você vê o exercício do assédio moral nas organizações? Que tipo de poder é exercido nessa prática? 2. Qual o impacto do assédio moral no desempenho dos funcionários de uma orga- nização? Qual o tipo de ação que a área de recursos humanos deve tomar para evitar o assédio? Atividades Anotações BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações. 1. ed. São Paulo: Educ, 2000. (Adaptado). CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: McGraw- -Hill, 1997. HUNTER, James C. O monge e o executivo. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da escola científica à competitividade na economia globalizada. São Paulo: Atlas, 2000. _____. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2000. ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. Tradução de Christina Ávila de Menezes. SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Referências 108
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