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Antropologia Jurídica

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1 
 
CONTEÚDO N1 - ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
 
1. CONCEITO E OBJETIVO DA ANTROPOLOGIA. 
 
1.1. O QUE É A ANTROPOLOGIA? 
 
Na definição mais geral e clássica a antropologia é entendida como o estudo do 
homem. Contudo, considerando que a psicologia, a medicina, e todas as ciências 
humanas têm como objetivo o estudo do homem, de algum ponto de vista específico, qual 
o objeto e especificidade da antropologia? Até porque o estudo do homem envolve a 
antropologia física, como a genética, a fisiologia e a biologia. A arqueologia que pesquisa 
além da evolução física a evolução social, a linguística antropológica que estuda as 
línguas, etc. 
O estudo do homem pode ser algo tão genérico e envolver tantas áreas do 
conhecimento, que nem mesmo entre os antropólogos existe um consenso sobre sua 
definição. 
A Antropologia, mais que o estudo do homem, é o estudo do outro e da sua 
cultura. A Antropologia sempre busca um retorno reflexivo, um entendimento de como 
as diversas culturas e etnias percebem o mundo, qual a visão do mundo desse outro para 
compreendê-lo e até mesmo para aprender alguma coisa de nossa própria cultura com 
outro. 
A percepção que temos de nós mesmo é mudada quando nos percebemos em 
relação aos outros; quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas, 
mas de forma diferente, nos indagamos sobre as nossas próprias maneiras. 
Afinal o que é natural? Comer de garfo e faca? Dormir em camas? Escovar os 
dentes? Fazer fila? 
Antropologia é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser 
humano. É um termo de origem grega, formado por “anthropos” (homem, ser humano) e 
“logos” (conhecimento, estudo). 
Assim, a Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural ou 
ainda como o estudo do homem e seus trabalhos através do tempo de espaço.. 
Por isso é importante a noção de pensar o “outro”. A Antropologia deve ser 
entendida como a resposta para conhecermos o que somos a partir do espelho 
fornecido pelo “outro”. Muito associada ao estudo do outro “diferente”, ao estudo 
de sociedades distantes e intocáveis, cada vez mais a Antropologia se propõe a 
estudar a nossa sociedade, voltando-se cada vez mais para uma auto-reflexão do 
seu papel político e social. 
Assim, Antropologia é o estudo do outro de forma reflexiva. Mas, quando se 
estuda a Antropologia é necessário ter o entendimento de cultura, pois o foco desta 
formação é o estudo dos agrupamentos humanos e das diversas culturas por eles 
construídas ao longo da história e nas sociedades atuais. O conhecimento 
antropológico de nossa cultura passa pelo conhecimento das outras culturas. 
 
1.2. O QUE É CULTURA? A CULTURA COMO OBJETO DA ANTROPOLOGIA: 
surgimento, estrutura e qualidade 
 
 O termo cultura é dotado de imensa ambiguidade e possui centenas de definições. 
Como a cultura é objeto de estudo da antropologia os antropólogos costumam se 
preocupar muito com a sua delimitação conceitual para não adentrar no ramo da 
sociologia ou mesmo da psicologia. 
 Assim, a cultura inicialmente possui dois conceitos básicos: (i) formação individual 
da pessoa humana (ii) conjunto de obras humanas, ou seja, conjunto dos modos de vidas 
2 
 
criados, adquiridos e transmitidos de uma geração para a outra entre os membros de 
determinada comunidade ou sociedade – formação coletiva tanto mais progressistas ou 
mais rústicas. 
Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Cultura possui muitas definições. 
Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as 
crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo 
homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade 
como membro dela que é. 
Somente no século XIX Edward Tylor deu origem a palavra cultura, sintetizando 
dois antigos conceitos (Civilization de origem francesa que se referia a realizações 
materiais de uma comunidade e outra de origem germânica kultur abrangendo aspectos 
culturais de um povo). 
CULTURE ficou sendo “todas as possibilidades de realização humana”, ou 
seja, um “complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes 
ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de 
uma sociedade”. 
“É a cultura que distingue os homens de outros animais, por isso se diz que os 
animais são seres naturais; os humanos seres culturais.” Assis, Olney Queiroz, 2011. O 
surgimento da cultura e dessa diferenciação é atribuída por alguns antropólogos no 
momento em que os humanos inventam uma lei que, quando transgredida, implicará a 
pena de morte de seu transgressor, exigida pela comunidade: a lei da proibição do incesto 
e outra lei que se transgredida causa a ruína da comunidade e do indivíduo: a lei que 
separa o cru do cozido, ou ainda na forma de comunicação através de troca de símbolos, 
todas leis e práticas desconhecidas dos animais. 
Para conhecer a cultura de um povo é fundamental conhecer sua história, sua 
evolução cultural, ou seja, suas tradições e as transformações que construíram e ainda 
constituem a cultura particular de cada tribo ou qualquer organização social. 
A partir dos estudos de Antropologia pode-se afirmar que a cultura está inserida no 
processo de socialização de cada ser, que se constitui no convício comunitário, no qual 
são assimiladas as normas, a conduta, a religião, a língua, enfim, o conjunto que 
compõe o estilo de vida – seus padrões de valores. 
“É por meio da cultura que um povo constrói a sua identidade e mantém viva 
a sua história e sua etnia”. RATTNER, 2005. Antropologia Jurídica. 
A cultura possui os seus valores. 
Por conta dessa interligação entre a cultura e a antropologia, Robert Lowie1 chegou 
a declarar que cultura é o único assunto da antropologia. Seja pelo estudo da antropologia 
ou da evolução humana, a antropologia é uma ciência que se interessa por ideias, 
valores, símbolos, normas, costumes, crenças, ambientes, etc... e por conta disto é 
intimamente associada a outra ciências e poucos reconhecem sua autonomia. E neste 
cenário que encontramos dificuldades em definir Antropologia e ela está intimamente 
ligada com a cultura e consequentemente a sua pluralidade (todas as atividades e 
interesses característicos de um povo). 
 
1.3. BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA. 
 
Alguns afirmam que Heródoto, chamado pai de História e da Geografia teria sido 
um dos percursores a estudar os costumes dos povos exóticos, ou seja, aqueles povos 
que não eram gregos, mas tratava-se de uma população que divida o mundo em gregos e 
 
1 Robert Harry Lowie (1883 -1957) foi um austríaco especialista em índios norte-americanos, ele foi fundamental para 
o desenvolvimento da antropologia moderna. 
3 
 
não gregos, que depois na Idade Média será alterada para os estudos sobre cristãos e 
não-cristãos – discurso sobre o não europeu. 
Contudo, é a descoberta do Novo Mundo que marca como gênese da reflexão 
antropológica. É no século XVI que tem inícios os primeiros contornos empíricos de uma 
análise sistemática das sociedades não europeias mediante relato dos viajantes e dos 
missionários. Assim, nos seus primeiros momentos a antropologia vai eleger como objeto 
de estudo as sociedades primitivas, marcado pelo aparecimento de duas ideologias: (i) o 
fascínio pelo estranho: enaltecendo a cultura das sociedades primitivas. Exemplo: Las 
Casas, Américo Vespucio e o próprio Colombo. (ii) a recusa do estranho: censurando e 
excluindo tudo o que não seja compatível com a cultura europeia. Exemplo: Sepulveda, 
Gomara, Oviedo,etc... E assim nascem as conexões entre antropologia e direito para a 
América Latina. 
Só mais tarde com a união do trabalho de campo (pesquisa da natureza) com a 
interpretação teórica é que a Antropologia adquire a suaoriginalidade. No século XX a 
Antropologia é qualificada como ciência moderna, como disciplina universitária e 
profissão, no estudo do homem inteiro, das suas culturas em todas as suas dimensões. A 
antropologia considera, portanto, todos os aspectos da existência humana. 
 
1.4. CLASSIFICAÇÃO DA ANTROPOLOGIA 
 
A Antropologia é, por natureza, uma ciência fundamentada na abertura de 
conhecimento, razão pela qual a sua conjectura interna revela uma permeabilidade entre 
as suas muitas disciplinas objetivas. 
Tanto é, que não há um curso denominado Antropologia. A Antropologia é uma 
habilitação do curso de Ciências Sociais. Este curso oferta três habilitações: Ciências 
Políticas, Sociologia e Antropologia. 
Atualmente existem cursos de Antropologia nas Universidade de Brasília, 
Universidades Federal de Santa Catarina, Minas Gerais, Amazonas, Fluminense, Pelotas, 
Paraíba, Oeste do Pará, Roraima entre outras e no ramo privado apenas a PUC de Goiás. 
Muitos são resistentes à classificação radical, mas podemos dividi-la inicialmente 
em antropologia cultural e antropologia física. 
 
1.4.1. ANTROPOLOGIA FÍSICA/BIOLÓGICA: Foco no homem em sua evolução física. 
O homem é analisado como “herdeiro biológico”. 
 
(i) Arqueologia : voltada ao estudo das culturas e civilizações antigas, remotas, 
vinculada com a pré-história, o estudo o homem por meio dos seus vestígios materiais, 
visando a reconstituir as sociedades desaparecidas em seu aspecto material e social. 
 
(ii) Paleontologia humana: voltada ao estudo da origem e do processo evolutivo da 
espécie humana, especialmente por meio do exame de fósseis de hominídeos. Estuda as 
variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. Forte ligação com 
a genética, a biologia. 
 
(iii) Somatologia: dedicada ao exame da constituição física e catalogação das 
diferenças entre os biótipos (ou somatótipos) humanos. 
 
(iv) Antropometria: conjunto de técnicas voltados para medição do corpo humano e 
consequentemente tabulação dos dados para subsidiar investigações, até estudos 
comparativos de crescimento. 
 
 
4 
 
1.4.2. ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA. 
 
Linguística: estuda a complexidade das relações de linguagens entre os povos. 
Ramo autônomo da Antropologia, mas interligado porque a linguagem é um elemento 
cultural de um povo, que mediante o estudo da língua reproduz seus valores, 
preocupações e pensamentos. 
 
1.4.3. ANTROPOLOGIA CULTURAL OU SOCIAL: Foco voltado para o homem em sua 
evolução cultural. Consiste no estudo de tudo que constitui as sociedades humanas. Seus 
modos de produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua 
organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, de conhecimento. O homem 
considerado no âmbito de sua ação sobre o mundo, seja natural (domesticação que 
impusemos ao nosso ambiente natural), por meio de artefatos como ferramentas, 
moradias, meio de transporte, seja o mundo social em que veiculamos nossas crenças, 
valores, comportamentos e normas. 
 
(i) Etnografia: é a disciplina que recolhe dados sobre a descrição dos povos, língua, 
raça, religião, instituições e manifestações materiais. Voltada ao registro e à descrição 
das sociedades humanas consideradas primitivas, isto é, com nível organizacional menos 
complexo do que o da nossa sociedade e frequentemente ágrafas (sem escrita, baseadas 
na tradição oral). Etnografia é inerente a qualquer aspecto da Antropologia Cultural, que 
estuda os processos da interação social: os conhecimentos, as ideias, técnicas, 
habilidades, normas de comportamento e hábitos adquiridos na vida social de um povo. 
 
(ii) Etnologia: sintetiza, compara, unifica teórica e metodologicamente a realidade 
humana. Levantamento de dados numa pesquisa analítica e comparativa entre duas ou 
mais culturas. 
 
(iii) Antropologia Social: Relação estreita com a Sociologia. Campo do conhecimento 
que estudo a sociedade e suas instituições do ponto de vista dos agrupamentos humanos 
e culturas atuantes sobre as relações sociais que as constituem. 
 
1.5. DIFERENÇA ENTRE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA 
 
Enquanto a antropologia, nos seus primeiros momentos (século XIX), interessava-
se pelo estudo das populações mais arcaicas do mundo, as sociedades primitivas, a 
sociologia sempre se interessou pelas sociedades contemporâneas. Acontece que nos 
últimos tempos a antropologia também. 
Foi sob forte influência do positivismo no século XIX que surgiram ciências como a 
Antropologia e a Sociologia, como resposta e como produtos de uma emergente 
sociedade ocidental. 
A Sociologia logos e propôs a estudar a sociedade, enquanto a Antropologia se 
especializou na pré-modernidade. 
Sociologia é a ciência que estuda as relações entre as pessoas que pertencem 
a uma comunidade ou aos diferentes grupos que formam a sociedade – fatos sociais. 
Curiosamente a Antropologia surge para estudar esse outro primitivo no preciso 
momento em que o projeto expansionista ocidental o condenava a extinção, enquanto a 
Sociologia atingia seu ápice com as transformações do capitalismo moderno de 
racionalização, secularização, industrialização, burocratização, comercialização, etc.. 
A Sociologia traçará o seu percurso por meio da observação direta e situacional 
desses processos ocorridos no mundo ocidental, enquanto a Antropologia operará essa 
5 
 
análise em função de um mundo em extinção, um mundo que esse outro selvagem se 
esfuma e desaparece. 
Por isso que no Brasil a formação do Antropólogo se inicia na Graduação no curso 
de Ciências Sociais que se divide em três áreas Sociologia, Antropologia e Ciência 
Política, porque ele precisa definir e compreender teoricamente a interrelação dessas 
três áreas do conhecimento: a sociedade, o homem e a política. 
O “sociólogo” nascente pensará a sociedade em que está inserido e o 
“antropólogo” é o sujeito que vai querer saber dos outros mundos. 
É na pós-graduação que os antropólogos vão se profissionalizar mediante o 
desenvolvimento da pesquisa na área, geralmente em torno de três eixos temáticos 
fundamentais: a etnologia indígena, o estudo das populações negras e o mundo da 
cultura nos grandes centros urbanos. 
Além disso, os antropólogos estão contribuindo para a reflexão sobre os 
problemas da sociedade brasileira e têm atuado diretamente em diversos 
segmentos quanto a questões fundiárias, à defesa dos direitos das minorias, 
populações específicas, movimentos sociais e ONGs. 
 
 
1.6. ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS E SEUS CAMPOS DE ESTUDO. 
 
As escolas antropológicas são visões diversas do modo de explicar a humanidade. 
São considerados temas recorrentes de todas as escolas: a) estudo das sociedades 
simples ou primitivas e das sociedades antigas; b) estudo da religião; c) estudo da relação 
de parentesco. 
 
1.6.1. A ESCOLA EVOLUCIONISTA 
 
A escola EVOLUCIONISTA é a primeira escola antropológica moderna (século 
XIX), ela é marcada pelo darwinismo social , situava a sociedade europeia no topo da 
evolução social, em contraposição às demais, que eram vistas como sociedades de seres 
primitivos. Na verdade era uma explicação científica que agradava ao homem europeu e 
ajuda a justificar a imposição da sua cultura sobre as outras, assim como justificar o 
domínio territorial. 
“Portanto, a Antropologia científica passa a se interessar pelo diferente na ânsia de 
entender o homem civilizado, industrial, moderno e burguês. E, nesse sentido, se, por um 
lado, não tem a função de ajudar a colonizar e explorar de forma mercantil esses povos, 
por outro, tende a ver o homem moderno como continuidade desses povos considerados 
mais atrasados.” (Rocha, p.22) 
Representante dessa escola: Edward Burnet Tylor, James Frazer, Lewis Henry 
Morgan. 
No século XIX, Frazer criou modelo de desenvolvimento da humanidade na 
religião, dividindo-os nas fases da- magia, - religião - ciência. 
Foram os primeiros a realizar estudos sobre magia e religião dos povos antigos e 
primitivos e sua influência não só na evolução das religiões mundiais, mas também na 
construção das instituições e do direito. E isto porque é certo que as crenças dos antigos 
gregos e romanos persistiram durante muito tempo e exerceram grande influência na 
construção e solidificação da religião, das instituições e do direito que moldam a 
sociedade contemporânea. 
“Religião é uma crença no sobrenatural”, afirma Tylor. Todas as religiões possuem 
esses dois elementos: (i) crença: que é antes de tudo um ato de fé, de confiança, de 
respeito e reconhecimento pelo sistema de mitos que representam a religião. (ii) o 
6 
 
sobrenatural: que é o objeto da fé, portanto, tudo aquilo que escapa ao entendimento 
humano. 
A religião tem uma relação toda especial com o ser humano, bem diferente de 
outros fenômenos antropológicos. Ela, por exemplo, está na raiz de muitas normas e 
valores da nossa sociedade; influi na compreensão que os seres humanos têm de si 
mesmos e na identidade de muitos povos e nações. 
A Antropologia da Religião, partindo de uma reflexão sobre a humanidade e sobre 
a cultura como realidades complexas, busca compreender como o ser humano foi e 
continua sendo visto por ele mesmo e por uma das suas mais significativas e originais 
manifestações, a religião. Não se trata de fazer uma análise de cada uma das religiões, 
mesmo aquelas mais conhecidas. Na Antropologia da Religião faz-se uma análise 
científica do fenômeno religioso, enquanto experiência antropológica, isto é, do ser 
humano. E ao se fazer isso podemos nos reportar a manifestações culturais e religiosas 
do mundo, particularmente as mais conhecidas e as que mais influenciam a vida das 
sociedades. 
Aliás, a aproximação entre religião e direito é constatada através do casamento 
religioso que é equiparado ao civil. 
 
Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento 
civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua 
celebração. 
 
Pode ser qualquer religião? Não há qualquer restrição jurídica. A Constituição 
Federal não define o conceito de religião, nem autoriza o legislador ordinário a defini-lo 
porque é um conceito antropológico. Não há como escolher melhores ou selecionar que 
tipo de casamento religioso equipara civilmente. Claro que usualmente é o casamento na 
Igreja Católica, mas proteção constitucional deve alcançar todas elas. 
 
At. 5º. VI CF - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos 
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
 
Art. 226 § 2º CF - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
 
Outro grande antropólogo da escola evolucionista, que também foi jurista, é o 
norte-americano Henry Lewis Morgan (1818-1881) que elaborou um modelo de 
desenvolvimento da humanidade pelo sistema de parentesco para explicar a organização 
social, segundo qual o desenvolvimento transcorria os três níveis: - selvageria – barbárie 
– civilização. 
A selvageria caracteriza-se pelo matrimônio por grupos e apropriação dos produtos 
da natureza, a barbárie pelo matrimônio cercado pela monogamia apenas a para a mulher 
e a agricultura e a civilização pelo matrimônio monogâmico e a indústria. 
Os fatores que influenciam a vida social, provando-lhe mutações, vão produzir igual 
efeito no setor jurídico, determinando alterações no direito positivo. A evolução do direito 
está subordinada à realidade social. Esses fatores sociais e jurídicos induzem a 
transformações no Direito. Exemplo disso são as consequência dos estudos antropológico 
sobre os sistemas de parentesco dentro da escola Evolucionista. 
A antropologia sociocultural tem considerado durante muito tempo o estudo da 
família e do parentesco como o seu património indiscutível. A família é considerada em 
geral o fundamento universal das sociedades. O parentesco é uma relação humana 
universal com base biológica e com variações nos significados socioculturais particulares. 
Ele pode ser visto como uma referência para o posicionamento social, pois em todas as 
sociedades humanas os indivíduos adquirem os primeiros elementos do seu estatuto e da 
sua identidade social através do parentesco. 
7 
 
É este um tema clássico em antropologia, o parentesco é de grande importância na 
vida quotidiana. Questões como o divórcio, que nos parece tão moderna, são muito antiga 
noutras culturas (concedido a petição dos dois), ou também o aborto, que noutras culturas 
é admitido como algo normal. Também o tema das relações sexuais fora do matrimónio, 
que apenas são proibidas num 5% das culturas, e noutras é permitido, mas com certas 
condições. 
O parentesco é o sentido sociocultural dos laços de sangue, tem uma base 
biológica, mas precisa de uma interpretação e reconhecimento social (ex.: o caso dos pais 
adotivos). O parentesco é um tipo de relação social pautada. As funções que satisfaz o 
parentesco são: económicas (subsistência e controlo do sistema de reprodução), 
psicológicas (seguridade emocional), sociais e económicas (regulamentar as formas de 
intercâmbio, organizar os casamentos). 
Os sistemas de parentesco são, do ponto de vista antropológico, 
considerados como estruturas formais, que resultam da combinação de três tipos 
de relações básicas: a) a relação de descendência, que é a relação entre pai e filho 
e mãe e filho; b) a relação de consangüinidade, que é a relação entre irmãos e c) a 
relação de afinidade ou seja, a que se dá através do casamento, pela aliança. Essas 
três relações são básicas e o estudo do parentesco é o estudo da sua combinação. Essas 
relações são a estrutura formal universal. Qualquer sociedade forma-se pela combinação 
dessas três relações. A variabilidade está em como se faz essa combinação. 
 
Vejam que elas são retratadas em nossa legislação: 
 
Art. 226 CF. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como 
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes. 
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela 
mulher. 
§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um 
ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, 
de 2010) 
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o 
planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e 
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais 
ou privadas. Regulamento 
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando 
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
 
Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
O parentesco por afinidade é civil e não se extingue mesmo com o fim da relação que o originou. Por isso, 
sogro não pode se casar com a nora, mesmo que ele seja divorciado e ela já tenha rompido a relação com 
o ex-companheiro. 
 
Art. 227 § 6º CF - Os filhos, havidos ou não da relaçãodo casamento, ou por adoção, terão os mesmos 
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação 
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de 
ascendentes e descendentes. 
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de 
um só tronco, sem descenderem uma da outra. 
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. 
Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, 
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até 
encontrar o outro parente. 
8 
 
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. 
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou 
companheiro. 
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. 
 
O tabu do incesto para antropologia é interpretado como um princípio de 
organização social é uma forma de estabelecer aliança entre os grupos. Essa 
interpretação introduz uma dimensão política. É através da proibição da relação com as 
pessoas do próprio grupo, que se introduz a necessidade de se comunicar com outro 
grupo, através do casamento. O evolucionista, Edward Tylor (1975), que estudou o 
parentesco, dizia que os povos se defrontaram com a seguinte escolha: casar fora ou ser 
morto fora. A questão era essa: sair do isolamento da consangüinidade, para a expansão 
através da aliança (o casamento). A aliança através do casamento era a forma de evitar o 
confronto entre tribos. 
 
CRÍTICA AO EVOLUCIONISMO 
 
Não é possível estabelecer uma continuidade progressiva das culturas. Evolução e 
progresso exprimem uma crença na superioridade do presente em relação ao passado e 
do futuro em relação ao presente. O que existe é uma pluralidade de culturas diferentes, 
e cada uma dela inventa o seu modo de relacionar-se com o tempo, seu modo próprio de 
organizar o poder e de produzir seus valores. O diferente é inferior? 
 
 
1.6.2. A ESCOLA DIFUSIONISTA 
 
A escola DIFUSIONISTA se opõe à escola evolucionista, porém, mantém a mesma 
linha técnica de seus estudos. A difusão cultural se dá pelo contato entre culturas, nesse 
sentido, há a evolução cultural. 
Principais representantes: Graebner (1877-1942), Smith (1864- 1922), Rivers 
(1864-1922). 
Suas principais características são: 
 
(i) Reação ao evolucionismo: 
 
O difusionismo é conceitualmente uma reação às ideias evolucionistas de 
unilateralidade, isto é, ao evolucionismo universal de acordo as leis determinadas. Assim, 
os estudos desta escola se concentraram nas semelhanças de objetos pertencentes a 
diferentes culturas, bem como especulações sobre a difusão destes objetos entre 
culturas. Assim, um objeto foi inventado uma só vez em uma sociedade em particular e a 
partir dali se expandia através de diferentes povos. 
 
(ii) Interesse pelos traços culturais semelhantes: 
 
Ao contrário do evolucionismo que postula um desenvolvimento paralelo entre 
civilizações, o difusionismo enfatiza o contato cultural e o intercâmbio, de tal maneira que 
o progresso cultural mesmo é compreendido como uma conseqüência do intercâmbio. 
Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de 
evolução cultural. 
Desta forma, ao se produzir um contato entre duas culturas, se estabelece um 
intercâmbio de traços associados que foram tomados na qualidade de “empréstimo”, mas 
que passam a formar parte da cultura. 
9 
 
Conceito de empréstimo cultural: É a transposição de elementos culturais através 
de um processo seletivo em que os traços que mais se adaptam à cultura são assimilados 
de tal modo que se transformam, incluindo em sua função. 
Dentro do difusionismo existiam duas correntes principais: uma britânica e outra 
alemã. Na escola Alemã, conduzida por Wilhelm Schmidt e Fritz Graebner, acreditava-se 
que os traços culturais difundiam-se em círculos para outras regiões e pessoas através de 
áreas culturais variadas. Esses círculos culturais eram chamados de 'Kulturkreise'. A 
escola alemã foi a principal especialização, uma vez que o evolucionismo foi questionado 
por Herder que estudou a questão da singularidade e da geografia da herança cultural de 
cada povo. 
Na versão britânica do Difusionismo existia apenas um centro cultural primordial 
(difusão heliocêntrica, alusão ao Deus Sol egípcio) que era o Egito Antigo, do qual todos 
os traços culturais derivaram. Os principais adeptos dessa teoria inglesa foram G. Elliot 
Smith e William J. Perry. 
 
(iii) Rigor metodológico e desenvolvimento de técnicas de pesquisa. 
 
São considerados aportes do difusionismo a importância outorgada à interrelação 
entre os fenômenos culturais, a notável acumulação de informação etnográfica e a 
insistência nos trabalhos de campo (pesquisas de campo). Para alguns era urgente 
coletar dados e informações sobre povos primitivos antes que eles fossem absorvidos 
pela civilização; em virtude disso a coleta de dados tornou-se mais importante do que a 
explicação do fenômeno cultural. 
O difusionismo tem respaldo científico, a partir do momento que suas inferências 
são baseadas em achados arqueológicos e pesquisas etnográficas. 
 
(iv) Interesse pelas culturas particulares 
Além de imprimir uma nova interpretação ao fenômeno cultural, passou a se 
concentrar no estudo de culturas particulares, delimitando o campo de estudo. Surge 
então a escola norte-americana com Franz Boas. 
 
DIFUSIONISMO NORTE-AMERICANO. 
 
Representante dessa escola: Franz Boas (1858-1881). 
 
Franz Boas foi o grande percursor da ida dos antropólogos a pesquisa de campo, 
que antes se atinham a interpretar as informações. Ele contribuiu para a exigência da 
união do teórico e do observador, impulsionando a ideia de que os antropólogos deviam 
dominar as línguas dos povos estudados, com o objetivo de conhecer o mapa da 
organização básica do intelecto humano. Ele mesmo dedicou-se aos estudos dos índios 
americanos. 
Boas entendia que havia muita dificuldade em estabelecer um padrão universal, 
por isso o estudo antropológico deveria concentrar-se na abordagem de culturas 
particulares. Para Boas, a tarefa do antropólogo era investigar as tribos primitivas que 
careciam de história escrita, descobrir restos pré-históricos, estudar tipos humanos e a 
linguagem. Cada cultura teria a sua própria história. Para compreender a cultura teríamos 
que reconstruir a história de cada cultura. 
Franz Boas marcou linhas básicas de orientação que anteciparam o funcionalismo. 
A ideia central era considerar a cultura como uma totalidade, um conjunto de elementos 
integrados. A metodologia buscava provas concretas do contato cultural e a comparação 
de traços que existem contextualmente. Por outro lado, enfatizava evitar a limitação de 
apenas semelhanças para buscar também as diferenças. 
10 
 
Boas “emprestou” de Wissler, a noção de área cultural, conceito que descreve um 
núcleo de influência, isto é uma zona ampla de onde se observa como um traço cultural 
deixa seu rastro em diferentes culturas, incorporando assim elementos psicológicos 
universais da cultura. 
Defendeu que não há culturas superiores nem inferiores (relativismo cultural). Os 
sistemas de valores devem compreender-se dentro do contexto de cada cultura e não de 
acordo com os padrões da cultura do antropólogo. 
 
DIFUSIONISMO E O DIREITO 
 
Como visto, a teoria difusionista preocupa-se em compreender o processo de 
transmissão dos elementos de uma cultura para outra, portanto, reconhece que qualquer 
agrupamento social, com raríssimas exceções, jamais está absolutamenteisolado. Os 
grupos sociais entram em relação com grupos vizinhos, ou mesmo afastados, geralmente 
em razão de necessidades econômicas ou culturais a que não podem atender com seus 
próprios recursos. Esses contatos às vezes ocorrem de modo pacífico mediante trocas 
comerciais, às vezes resultam de guerras e conquistas. De qualquer modo, quando os 
grupos sociais entram em contato, ocorre o processo de difusão de cultura. 
O direito é, indubitavelmente, um dos aspectos da cultura de um grupo social, 
motivo pelo qual também está submetido a esse processo de difusão cultural. Roma foi, 
sem dúvida, o grande centro de difusão da cultura jurídica na Antiguidade. Mesmo após o 
desaparecimento do Império, o direito romano continuou a ser objeto de estudo por parte 
dos juristas medievais. Esse estudo se intensificou a partir do século XI com os 
glosadores e depois se alastrou por toda a Europa. 
Nessa trilha, o direito romano acabou influenciando toda a construção do edifício 
jurídico da modernidade, ou seja, a cultura jurídica moderna, principalmente com o 
renascimento da atividade comercial e o advento dos grandes Estados nacionais, 
constituiu-se com base no direito romano. 
Enfim, a cultura jurídica das sociedades ocidentais modernas resultou, em grande 
parte, de difusão ou empréstimos da jurisprudência romana. Aliás, os alemães fizeram do 
direito romano o seu direito até o final do século XIX. Não deixa de ser surpreendente o 
fato de uma cultura de uma sociedade extinta ressurgir com tanta força e vigor, 
influenciando o pensamento jurídico e a organização social de toda a Europa continental e 
suas colônias. 
O estilo dos jurisconsultos e os conceitos por eles elaborados influenciam até hoje 
a tecnologia jurídica e as decisões dos Tribunais. O estilo dos jurisconsultos romanos não 
foi superado, pelo contrário, tem sido constantemente renovado e retorna com todo vigor 
nos tempos atuais, constituindo uma alternativa para superar os limites impostos pelo 
positivismo jurídico. 
 A cultura jurídica europeia, com suas bases gregas e romanas, difundiu-se para as 
colônias, motivo pelo qual a cultura jurídica brasileira tem sido construída conforme os 
parâmetros estabelecidos no direito europeu. É preciso lembrar também a difusão da 
cultura jurídica norte-americana, especialmente no âmbito do direito comercial. Essa 
difusão é evidente na própria nomenclatura das novas figuras contratuais que emergem 
do direito empresarial brasileiro: leasing, factoring, franchising, software, know-how etc. 
 
CRÍTICA AO DIFUCIONISMO 
 
Apesar da sua grande importância na recolhimento de dados, salientou demasiado 
a forma (unicamente uma dimensão das características culturais), em detrimento do 
significado que cada característica tem para os membros de cada cultura em particular. 
Ignorou também as relações com outras características. 
11 
 
 
 
1.6.3 A ESCOLA FUNCIONALISTA 
 
A escola FUNCIONALISTA compara a cultura a um organismo. As unidades de 
uma cultura apresentam uma função dentro do contexto cultural. Ênfase à funcionalidade. 
Para essa escola o desenvolvimento de grupos humanos está permeado por valores, que 
constituem uma cultura própria e diversificada. A partir dessas funções das instituições 
culturais como as diversas formas de parentesco e das funções da família é que grupos 
humanos vão desenvolver suas estratégias de vida e sobrevivência material, acima da 
economia, política e a produção material. 
“Em outras palavras, pode ser que determinados grupos humanos isolados, por 
suas tradições culturais, não tenham imaginado interesse algum em se desenvolverem do 
ponto de vista econômico e tecnológico, portanto não existe uma relação de inferior e 
superior, mas e opções diferentes de sobrevivência a partir de fatores essencialmente 
humanos, como por exemplo, as relações familiares e de casamento.” (Rocha, p. 24) 
Assim, não existe superioridade, apenas diferença cultural. 
A Escola Funcionalista se contrapõe: à teoria evolucionista, porque não distingue 
os estágios de desenvolvimento das sociedades mais simples para mais complexas, e a 
teoria difusionista porque não acredita em um centro de difusão de cultura que se 
transmite por empréstimo. 
Sabe-se que existem requisitos prévios o uma série de condições necessárias para 
a sobrevivência de uma sociedade ou a manutenção de uma estrutura. Assim, de acordo 
com a teoria funcionalista, certas formas culturais ou sociais são indispensáveis para que 
algumas funções possam desempenhar-se. 
 
Principais representantes: Bronislaw Malinowski (1884-1943), Radcliffe-Brown (1881-
1955). 
 
O funcionalismo enfatizava a interconexão orgânica de todas as partes de uma 
cultura pondo em primeiro plano a ideia de totalidade. Desta maneira, postulava uma 
universidade funcional que se opõe ao difusionismo. 
Análise funcional é uma explicação de fatos antropológicos em todos os níveis de 
desenvolvimento de acordo com o papel que jogam dentro do sistema total da cultura, de 
modo que estão interrelacionados com o interior do sistema e pela forma que o sistema 
se vincula ao meio físico. O conceito de função, de acordo com Malinowski se refere ao 
papel que joga um aspecto em relação ao resto da cultura e em última instância, 
orientado sempre a satisfação das necessidades humanas, isto é, a sobrevivência. 
Para Malinowski a função básica da família encontrados em todos os 
agrupamentos humanos, são as de: (a) reprodução: legitimidade de reprodução, pois 
mesmo em sociedades em que há liberdade sexual, a procriação raramente é aprovada 
fora da família (b) sexual: atender as necessidades sexuais permitidas pela 
institucionalização da união ou casamento. (c) econômica: assegurar o sustento e a 
proteção da prole, com obrigação estendida aos parentes. (d) educacional: transmitir à 
prole a herança cultural e social. 
Para ele a cultura deve ser encarada como uma totalidade coerente, e todos os 
aspectos que apresenta: parentesco, economia, política, religião, direito, etc, não podem, 
de maneira alguma, ser interpretados separadamente. Malinowski estabelece a noção 
segundo a qual é possível mostrar a totalidade de uma cultura, a partir da análise de um 
único costume (fato-totalidade). 
Malinowski defendia que as instituições desempenham funções específicas e, 
assim, contribuem para sustentar a ordem social. Ele afirma que as necessidades do 
12 
 
organismo individual ou da espécie (abrigo, calor, liberdade de movimento) são diferentes 
das necessidades da sociedade (instituições sociais como a família ou o matrimónio são 
dispositivos sociais que atendem as necessidades sociais). Para tanto, ele rompe os 
contatos com o mundo europeu, passa a viver com as populações as quais estuda e a 
recolher seus materiais de seus idiomas. Origem da observação-participante e 
aculturação do observador. 
Será um passo adiante na linha de trabalho de Radcliffe-Brown, que encampou o 
conceito de estrutura social. Com efeito, para este autor não há função sem estrutura. Por 
estrutura se entende uma série de relações unificadas, na qual a continuidade se 
conservaria através de um processo vital composto pelas atividades das unidades 
constitutivas. 
O sistema de parentesco era um dos elementos fundamentais de sua análise. 
Considerava-o, mesmo, o elemento fundamental para compreensão da organização 
social em sociedades de pequena escala, já que expressava um sistema jurídico de 
normas e regras que impõem direitos e deveres. A busca de princípios comuns, 
comparando as diferentes sociedades, tornou-se objeto de suas preocupações. 
Radcliffe-Brown vincula o seu trabalho um grande valor prático, porque podia ser 
útil para a administração colonial britânica, ao proporcionar uma base científica para o 
controlo e a educação dos povos colonizados. 
 
A ESCOLA FUNCIONALISTA E O DIREITOInteresse por instituições e suas funções para a manutenção de totalidades 
culturais. Reflexões sobre conflito e coesão social. 
A própria concepção de função básica de família analisada acima é atrelada a 
questões jurídicas como reconhecimento de paternidade, pensão alimentícia, regime de 
bens, divórcio, linha de sucessão, educação, etc. 
Distinção entre costume e Direito. 
Após os estudos de Malinowski, a antropologia passou a reconhecer o direito como 
uma instituição por si mesma, diferenciada dos costumes. 
Fugindo da visão etnocêntrica da cultura europeia que vê a si mesmo como 
evoluída, enquanto a cultura jurídica das sociedades primitivas é tida como impregnada 
de religião, Malinowski irá afirmar que há nas sociedades primitivas certo conjunto de 
regras costumeiras que se distinguem de outros conjuntos, porque um conjunto 
estabelece obrigações para uma pessoa e outro conjunto estabelece direitos. Malinowsky 
também observou que no direito primitivo ou tribal existe uma separação entre lei civil e lei 
penal. No direito civil, a lei (obedecida) consiste em um conjunto de obrigações forçadas e 
consideradas como justas por uns e reconhecidas como um dever por outros. No direito 
penal, a lei (desrespeitada) é definida como regras fundamentais que salvaguardam a 
vida, a propriedade e a personalidade. 
Função e instituição: 
As noções de função e instituição da teoria funcionalista também aparecem de 
forma acentuada em algumas teorias jurídicas. Instituições são os modos estabelecidos 
que permitem a determinada sociedade cuidar de seus assuntos, de lidar com seus 
problemas sociais. De modo geral as sociedades desenvolvem instituições: (a) judiciais e 
políticas para ajudar a manter a paz entre os atores, proteger a propriedade e decidir 
conflitos; (b) de parentesco para socializar e regular as relações sexuais; (c) e 
econômicas para incentivar o trabalho, produzir e distribuir bens e até mesmo em manter 
a desigualdade entre classes. 
As instituições exercem o controle social sobre os indivíduos e garantem as 
condições de lidar eficazmente com os problemas sociais. Então o Direito é uma 
instituição? 
13 
 
No campo jurídico, para alguns teóricos o Direito é uma instituição, para outros é 
um conjunto de normas. Norberto Bobbio faz uma tentativa de conciliar essas duas 
posições. 
Aos que defendem que o Direito é uma instituição 
 
CRÍTICA AO FUNCIONALISMO 
 
A crítica que se faz à Escola Funcionalista, é que, ao privilegiar as funções das 
instituições sócio-culturais, de forma idealista se deu uma autonomia e preponderância 
desses sub-sistemas “particulares” (parentesco, religião, economia) sobre as condições 
concretas de existência em que repousam as particularidades em que tais sub-sistemas 
executam suas funções e quais as modificações que ao longo do tempo essas instituições 
apresentam. Não se pode partir do imaginário valorativo de uma comunidade sem que se 
entenda qual a relação desse imaginário com as contradições internas dessa 
comunidade, seja em relação à natureza ou aos outros homens. Assim, a evolução 
humana, na visão funcionalista, parecia ter explicação apenas em uma porção de 
contingências e acidentes procurados externamente à determinação valorativa e funcional 
das suas instituições sociais, pois em seu interior as comunidades parecem harmoniosas 
e incapazes de produzirem litígios, delitos e punições cabíveis. 
 
1.6.4. A ESCOLA ESTRUTURALISTA 
 
A escola ESTRUTURALISTA apresenta as mesmas características da escola 
funcionalista, porém, é considerada uma versão melhorada, visto que alarga seu campo 
de abrangência para a mente humana, a subjetividade, o chamado inconsciente. 
Entende-se por estruturalismo o método ou processo de pesquisa em cuja base 
encontra-se o conceito de estrutura com o significado de sistema. 
O que o observador vê de imediato é apenas a superficialidade. Mas existe uma 
estrutura de relações e afinidades que compõem um sistema de organização social. 
Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interrelacionados 
que interagem no desempenho de uma função. É uma definição tão abrangente que pode 
ser usada em uma grande variedade de contextos como sistema econômico, sistema 
nervoso, etc... 
Uma estrutura é uma disposição e organização dos elementos essenciais que 
compõem um todo, quer material (de um edifício, do corpo humano), quer, por analogia, 
de uma realidade imaterial (de uma obra literária, da consciência). Uma disposição ou 
organização na qual as partes são dependentes do todo e, por conseguinte, solidárias 
umas das outras. 
Assim, na Antropologia, o sistema deve ser encarado como regra de disposição 
sistemática de elementos, um sistema de relações hierarquicamente ordenado. A 
estrutura, portanto, não é constituída simplesmente por um conjunto de elementos 
relacionados, mas por uma ordem hierárquica que tem o objetivo de garantir o êxito de 
sua função e sua própria conservação. 
O termo estrutura tem o significado genérico de sistema quando se fala de 
estrutura como um conjunto de elementos submetidos a determinadas relações. 
ESTRUTURA: conjunto de relações sociais específicas de uma organização. 
 
Princípios metodológicos da Escola Estruturalista 
 
Estes princípios estruturais explicam o dinamismo e múltipla determinação no 
desenvolvimento dos grupos humanos. 
 
14 
 
 Relação de e religiosidade e produção material 
 Parentesco 
 
 
Estrutura de uma ordenação mental coletiva 
 
1. Toda estrutura é um conjunto determinado de relações, ligadas umas às outras 
segunda leis internas que apresentam transformações constantes. 
2. Toda estrutura combina elementos específicos que a compõem e por este motivo, é 
impossível “reduzir” uma estrutura a outra ou “deduzir” uma estrutura de outra. 
3. Estruturas se unem formando sistemas sociais complexos (parentesco + magia e 
liderança + produção), através de leis de compatibilidade, mas que não têm uma origem 
única e definida. 
 
Representante dessa escola: Claude Lévi Strauss.(1908-2009) 
 
Lévi Strauss merece uma atenção especial. 
 
Até a década de 1930, poucos pesquisadores dedicavam-se a estudar as 
populações indígenas brasileiras de forma sistemática. Naquela época, os estudiosos 
costumavam voltar às atenções para analisar as comunidades africanas, asiáticas e 
norte-americanas, pois eram mais tradicionais nas academias europeias. Foi então que o 
antropólogo e filósofo belga Claude Lévi-Strauss veio ao Brasil e passou um tempo 
vivendo junto aos bororos e nambiquaras, no Mato Grosso, e os kadiveus, na fronteira 
com o Paraguai. As ideias e métodos de análise Lévi-Strauss mudaram para sempre os 
rumos da antropologia e dos estudos de mitologia, religião e parentescos. 
O pensador, nascido em Bruxelas, na Bélgica, morreu em 2009, um mês antes de 
completar 101 anos, mas, mesmo em vida, já era uma das maiores referências na sua 
área de estudo. Qualquer curso de Ciências Sociais e Antropologia, por exemplo, possui 
disciplinas voltadas a estudar suas teorias estruturalistas - uma das principais correntes 
do pensamento antropológico. 
Lévi-Strauss estudou Direito e Filosofia na França, dedicando boa parte de sua 
vida às aulas em cursos superiores. Ele, aliás, foi um dos primeiros docentes do curso de 
Ciências Sociais da recém-criada Universidade de São Paulo (USP), entre 1935 e 1938, 
quando viveu no Brasil e realizou importantes estudos de campo com etnias locais. 
Lévi-Strauss integrou o segundo grupo de professores franceses contratados para 
lecionar na USP, como o Fernan Braudel (economista) e Raymond Aros (filósofo), que 
eram todos professores de Sobourne na França. A universidade havia sido inaugurada há 
pouco tempo, em 1932, e buscava docentes qualificados para que a instituição pudesse 
se transformar emum dos maiores centros de ensino superior da América Latina. 
O principal mérito atribuído à obra de Lévi-Strauss é que ele nunca aceitou as 
teorias de que a cultura e a civilização ocidentais eram superiores ao resto do mundo. Ao 
contrapor-se a esse eurocentrismo , o pensador deu um novo enfoque aos estudos dos 
chamados povos primitivos, principalmente os das Américas. 
 
Ao conviver com os bororos, os nhambiquaras e outras etnias, Lévi-Strauss chegou 
a uma conclusão inovadora. O modo de pensar dos índios é absolutamente idêntico ao 
nosso e o que o Lévi-Strauss vai mostrar é essa universalidade do pensamento humano, 
seja o pensamento dos ditos povos selvagens, seja o pensamento dos ditos povos 
civilizados. A importância disso é mostrar que, na verdade, não se pode hierarquizar 
povos, não se pode hierarquizar culturas, como se alguns fossem superiores a outros. Foi 
Lévi-Strauss quem mostrou que as sociedades podiam andar por caminhos diferentes. 
15 
 
Por isso, o encontro com os índios foi decisivo e provocou nele uma defesa que ele vai 
levar até o resto da vida dele pela diversidade cultural, pela necessidade da existência de 
povos diferentes. 
As ideias de Lévi-Strauss tiveram um forte impacto no pensamento moderno, 
principalmente em um momento muito importante do século XX. Foi depois da Segunda 
Guerra Mundial, depois das atrocidades cometidas pelo nazismo, que propagava a 
superioridade de uma raça em relação às outras. Lévi-Strauss aproveitou a experiência 
que teve com os índios brasileiros para combater todas as teorias racistas. 
Para que serve o estudo das sociedades primitivas? Um duplo sentido. (i) 
retrospectiva: pois os gêneros de vida primitivos estão em vias de desaparecimento, 
motivo pelo qual é necessário recolher o mais rápido possível todas as lições que essas 
sociedades podem oferecer. (ii) prospectiva: na medida em que, tomando consciência de 
uma evolução cujo ritmo se precipita, sentimo-nos desde já os “primitivos” das gerações 
futuras, e na medida em procuramos provar nossa validade aproximando-nos daqueles 
que foram – e ainda são, por pouco tempo – tais como uma parte de nós persiste em 
permanecer. 
“Nesse sentido o pensamento dele é absolutamente atual, se a gente se lembra da 
dificuldade que a Europa enfrenta hoje em relação aos imigrantes e a discriminação de 
todos os imigrantes. O Lévi-Strauss vai mostrar exatamente que a discriminação não tem 
nenhuma justificativa científica”, explica a antropóloga Sylvia Caiuby. 
 
Veja o filme sobre Levi Strauss no link: 
 
http://www.cineconhecimento.com/2013/01/levi-strauss-saudades-do-brasil/ 
 
 
CONCEPÇÕES ESTRUTURALISTAS DE LEVI STRAUSS 
 
Para Lévi Strauss a vida social constitui um fenômeno que implica um movimento 
de trocas perpétuas através do qual as palavras, os bens, as mulheres circulam entre os 
indivíduos e entre os grupos. A sociedade, portanto, funda-se sobre a troca e só existe 
através da combinação de todos os tipos de troca: (i) de mulheres: relação de parentesco 
(terminológico e de atitude) (ii) de bens: economia (iii) de palavras e de representação: 
linguagem e cultura. 
O casamento, para Lévi-Strauss, envolve três sujeitos, é uma relação a três, uma 
mulher e dois homens, um que dá essa mulher, e o outro que a recebe. É uma forma de 
comunicação entre tribos que de outra forma estariam em antagonismo. O tabu do 
incesto, assim como o casamento, estabelece o social. O casamento estabelece a norma 
em relação à legitimidade dos filhos e o tabu do incesto cria a norma em relação ao fato 
biológico das relações sexuais. 
Os elementos que definem a família em Antropologia têm um caráter positivo e 
negativo: definindo o tabu do incesto, define-se o que pode e o que não pode ser feito. 
Define-se o legítimo e o proibido. O mesmo se passa com a divisão sexual do trabalho, 
outro princípio fundamental na constituição da família: estabelece o que os homens e as 
mulheres podem e não podem fazer, instituindo a reciprocidade. 
 
ESTRUTURALISMO E O DIREITO 
 
Várias teorias jurídicas usam as noções de sistema e estrutura, e por essa razão, 
são classificadas como estruturalismo jurídico. Exemplo são os positivistas Hans Kelsen 
com a Teoria Pura do Direito e Norberto Bobbio. 
16 
 
De acordo com essa orientação teórica, o sistema jurídico é, fundamentalmente, 
um conjunto de normas jurídicas válidas, dispostas numa estrutura hierarquizada. Norma 
jurídica válida é aquela emanada de uma autoridade que possui competência para editar 
as normas. A competência da autoridade é determinada pelas própria normas jurídicas . 
Hierarquia é conjunto de relações estabelecidas conforme regras de subordinação e 
coordenação. Essas regras não são normas jurídicas, isto é, não fazem parte do 
repertório, mas da estrutura do sistema. São regras estruturais: a) o principio da lei 
superior: regra segundo a qual a norma prevalece sobre estas; b) o principio da lei 
posterior: regra segunda a qual, havendo normas contraditórias, desde que do mesmo 
nível hierárquico, prevalece a que no tempo aparecer por último; c) o principio da lei 
especial: regra segundo a qual a norma especial revogada a geral no que dispõe 
especificamente. 
Para o positivismo jurídico, é preciso supor que as normas do ordenamento jurídico 
estão dispostas numa ordem sistemáticas. O sentido de uma norma não está, portanto, 
somente nos termos que expressam sua articulação sintática, mas também em sua 
relação com outras normas do ordenamento. Em outras palavras, entende-se que o 
direito é composto pelo conjunto organizado de regras diretoras (denominadas princípios) 
que presidem o sistema e regras simples que perfazem o todo sistemático. O direito, 
portanto, caracteriza-se pela disposição organizada e hierárquica de princípios e normas. 
 
Estrutura e hierarquia 
 
O positivismo jurídico concebe o ordenamento jurídico como uma estrutura de 
normas. A imagem da pirâmide ajuda a compreender essa concepção: no ápice da 
pirâmide normativa estariam situadas as normas superiores, tidas como fundamento de 
validade das normas imediatamente inferiores. Com esse escopo pode-se dizer pode-se 
dizer que no texto constitucional brasileiro estão as normas jurídicas do mais alto grau. 
Isso porque a Constituição Federal é o marco inicial de todo o motivo pelo qual adquire 
posição fundamental porque funda a ordem jurídica e adquire posição fundamental 
porque funda a ordem jurídica e adquire posição suprema; porque as normas 
constitucionais sobrepõem-se a todas as demais que integram o ordenamento jurídico. 
As normas constitucionais, além de orientar a atividade interpretativa do 
profissional do direito, orientam a produção e aplicação das normas pelos órgãos 
jurisdicionais (Legislativo e Judiciário). Desse modo, a validade da norma só pode ser 
julgada por sua relação com outras normas; isto é, as normas jurídicas encontram sempre 
seu fundamento de validade em outras normas ganham uma posição de superioridade, de 
preeminência, visto que as normas subordinadas não podem contrariar as normas de 
hierarquia superior. 
Alguns teóricos entendem que é possível estabelecer uma hierarquia entra as 
normas constitucionais; isto é, as normas que compõem o texto constitucional não 
possuem todas a mesma relevância. Algumas veiculam simples regras, outras são 
verdadeiros princípios. Entende que o sistema é um conjunto de normas inter-
relacionadas em torno de princípios fundamentais que fecham o sistema como um todo 
unitário. Assim, os princípios assumem o sentido de elementos principais e fundamentais 
do sistema, razão pela qual são considerados normas com âmbito de abrangência mais 
amplo que vinculam as demais normas do universo sistemático. 
Nessa trajetória, o interprete, ao examinar o sistema normativo, deve, em primeiro 
lugar, identificar os princípios e, a partir deles, caminharem direção às normas jurídicas 
inferiores. A norma que se apresenta vaga e ambígua deve ser interpretada e aplicada em 
sintonia com os princípios que a Constituição acolhe. Os princípios constitucionais, por 
serem normas qualificadas, são considerados vetores para soluções interpretativas. 
17 
 
Essa modelo, segundo os seus teóricos, pode ser aplicado no estudo e 
compreensão do direito de qualquer sociedade politicamente organizada. 
 
 
1.7 ANTROPOLOGIA NA ATUALIDADE: a identificação com o Direito 
 
O antropólogo possui uma responsabilidade social e política muito grande, e por 
consequência o operador do Direito também! Não pode ser um agente de alienação 
cultural, da voz de quem sempre se cala, mas um instrumento no diálogo entre culturas 
diferentes. 
Alguns antropólogos entendem que a característica mais significativa da cultura 
são os seus valores. Miguel Reale também entende que o valor é fundamental para 
compreender o fenômeno jurídico, porque defende que o direito é fruto da experiência e 
portanto possui uma dimensão valorativa que não pode ser desprezada ( elementos 
constitutivos da experiência jurídica : fato – valor e norma – teoria tridimensional. Fato 
tende a realizar o valor mediante a norma) 
Assim, as conexões do direito com a antropologia são evidentes, e torna o direito 
um sistema aberto, dependente de outros, visto que o ser humano é o valor fonte de 
todos os valores e por consequência constitui objeto central da Antropologia. Temas como 
igualdade e diferença são, ao mesmo tempo, jurídicos e antropológicos. 
Além disso, o Direito é um aspecto da cultura que constitui objeto específico da 
antropologia cultural. 
A Antropologia tal como o Direito também se interessas pelos conflitos sociais, 
principalmente no que diz respeito à intervenção normativa na decisão jurídica desses 
conflitos, bem como desdobramento da ordem jurídica e diante das transformações 
culturais, sociais e políticas e econômicas. 
Há tópicos em antropologia que são importantes aos profissionais do direito, como 
também há tópicos do direito que servem ao antropólogo. Algumas dessas noções 
comuns são os conceitos de pluralidade jurídica, direito socioambiental, etnicidade, 
dinâmicas de poder, sanções informais, mediação de comunidades de direito informal, 
relações estado-indivíduo, direitos humanos, responsabilidade social corporativa, direito 
comparado, liberdade religiosa, liberdade de consciência em tratamento médicos. 
No entanto, por si só esses tópicos não formam a disciplina de antropologia 
jurídica. É a teoria da antropologia jurídica que os articulam. 
EXEMPLO: Eis um exemplo do modo de trabalho da antropologia jurídica. O 
antropólogo e sociólogo Bruno Latour passou meses assistindo sessões de um tribunal 
superior francês para entender a produção da justiça pelos profissionais da lei. Se ele não 
lançasse mão da teoria, os dados coletados seriam meras descrições. 
Na formulação da teoria, a antropologia jurídica pode abordar os tópicos que 
mencionei e também outras disciplinas, como psicologia, sociologia, criminalística, 
história, geografia, e claro, o direito. 
Outro exemplo da prática da antropologia jurídica no Brasil, os poucos 
antropólogos do Ministério Público passam tempos tentando examinar e mediar entre 
interesses de partes distintas. Tipicamente trabalham com causas indígenas, mas 
poderiam bem servir em direito de família ou do trabalho. Sem método ou teoria 
antropológica, a atuação deles seria semelhante de assistentes sociais, porém sem tomar 
responsabilidade pelos seus assistidos. 
Por essa razão, o testemunho de um antropólogo para ter validade jurídica não 
pode se basear a uma entrevista e uma visita. Requer um contato intenso e prolongado 
com as comunidades envolvidas. 
18 
 
Atualmente a Antropologia possui três eixos temáticos centrais: (i) etnologia 
indígena (ii) estudo das populações negras (iii) mundo da cultura nos grandes 
centros urbanos (movimentos sociais). 
São assuntos com amplo envolvimento e identificação com o Direito, quer seja 
através da proteção jurídica das minorias ou da definição de políticas públicas. 
 
 
1.8. O OBJETO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
 
Dedica-se ao estudo do Direito das sociedades “simples”, das Instituições do 
Direito da sociedade contemporânea, do Direito Comparado e do pluralismo jurídico 
(multiplicidade de práticas jurídicas). 
Da Antropologia Jurídica clássica é o Direito das sociedades simples, sem escrita e 
sem Estado – ou distante dele. Pelo estudo do Direito de outras sociedades a 
Antropologia Jurídica nos permite compreender melhor o sistema jurídico da nossa 
própria sociedade. 
Mas pensar em Antropologia Jurídica é se desvincular do Direito do Estado. Para 
Antropologia um povo pode criar mecanismos de organização e controle social sem 
necessidade de formalização de regras e sem a intervenção de um único poder 
centralizado e burocratizado. 
O indivíduo não é escravizado pelas normas reguladoras, nem ameaçado pelas 
sanções coercitivas, mas é socializado em decorrência da sua dependência do grupo. 
Ex: das instituições culturais, familiares, chefes. 
Não existe universalidade jurídica nas sociedades humanas e tampouco existem 
leis inúteis ou nocivas nas sociedades primitivas. Um retrata a experiência e a relação de 
sobrevivência de um grupo diante da natureza, outro de uma refinada e complexa lógica 
jurídica (sociedades com Estado). 
A ANTROPOLOGIA JURÍDICA estuda as restrições socioculturais que possuam 
sanções executáveis pela sociedade. Abrange desde a descrição das normas, elaboração 
das leis, análise da coexistência de sistemas jurídicos formais e informais, pesquisa do 
desvio das normas legais, perícia, mediação e resolução de conflitos, além da correção e 
readaptação dos desviantes. No campo teórico a antropologia jurídica examina os fatores 
culturais e sociais envolvidas nos processo legais. 
 
 
 
1.9. A ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL 
 
A Constituição de 1988 reconheceu a pluralidade da nossa sociedade ao 
reconhecer os direitos de algumas minorias, como os índios e os negros. Fez-se 
necessário refletir sobre situações concretas da nossa sociedade heterógena, pluriétnica 
e multicultural. 
A antropologia jurídica ainda engatinha no Brasil. Aqui estão alguns objetos de 
estudos e áreas de urgente carência de pesquisa e aplicação da antropologia jurídica no 
país: 
(i) Pluralismo Jurídico: é o estudo da coexistência de vários sistemas jurídicos em 
uma mesma sociedade. Geralmente não é bem aceito a concorrência de outros sistemas 
jurídicas onde vigora o direito positivistas típicos dos países baseados em códigos legais 
de tradição romano-germânica. Há uma recente tendência de valorizar e aceitar a 
validade mediação privada de uma determinada comunidade. Isto é, deixar que os grupos 
étnicos, organizações religiosas, associações de bairro e juntas comerciais mediem as 
causas de seus membros. Porém, se há aceitação do Estado das mediações intra-
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comunitárias, ainda há pouca discussão de resoluções de conflitos jurídicos inter-
comunidades. Um exemplo dessa falha são os conflitos entre fazendeiros e indígenas no 
Brasil. 
(ii) Direito dos Povos Indígenas: os povos indígenas e tribais possuem seus 
direitos garantidos pela resolução da Organização Mundial do Trabalho 169, entre eles o 
direito de auto-definição, preservação de território e cultura. Ainda não há cursos públicos 
para formar juristas dentro dos direito das diversas etnias no Brasil. 
(iii) Direito das Comunidades Quilombolas: a Antropologia atribui especial 
atenção àqueles em condições de vulnerabilidade e exclusão social, como é o caso das 
comunidades remanescentes de quilombos. 
(iv) Direito e Desenvolvimento: o antropólogo atua desde delimitar territórios 
étnicos em áreas rurais até mitigar interessesde partes (stakeholders) em um plano 
diretor urbano. 
(v) Direito Socioambiental: avalia e media os interesses e direitos de diferentes 
comunidades e aderência às legislações sociais e ambientais. Também julga disputas, 
fiscaliza o cumprimento e provê remédios em processos de certificações sociais e 
ambientais. Já é um tanto comum antropólogos participarem de EIA (Estudo de Impacto 
Ambiental). Além de avaliar, o antropólogo também tem o papel legal de negociar com as 
comunidades e facilitar a realização de audiências públicas para discutir um 
consentimento informado em termos significantes e compreensíveis entre partes. 
(vi) Criação de leis, políticas e diretrizes. O antropólogo pode sondar a 
população, ouvindo-a e observado suas necessidades que precisam ser traduzidas em 
leis. Atividade ausente no Brasil. 
(vii) Estudo dos desvios das normas legais: nesse campo, a antropologia 
jurídica sobrepõe a outras disciplinas como a criminologia, a sociologia jurídica e a 
psiquiatria forense. A antropologia forense brasileira teve um nascimento abortivo na 
“escola Nina Rodrigues”, inexistindo antropólogos legistas e mesmo antropólogos 
forenses socioculturais em orgãos atuação policial ou penal. 
(viii) Estudo das instituições para entender a constituição e reprodução do saber 
jurídico, o problema do acesso ao Direito. 
 
 
 
2. RESPEITO A DIFERENÇA: O Direito das Minorias – o direito de ser igual e 
diferente. 
 
 A CF garante o direito de ser igual no caput de art. 5º e o direito de ser diferente 
em vários outros incisos do mesmo artigo, como o VI e X. Esse direito de ser diferente, 
envolve o direito das minorias. 
 
Igualdade – cidadania (esfera pública) 
 
Intimidade – diferença (esfera privada) 
 
 Minorias são grupos numericamente inferiores ao resto da população de um Estado 
e numa posição não dominante num país, mas que possuem objetivamente 
características étnicas, religiosas ou linguísticas distintas do resto da população, e que 
subjetivamente desejam preservar a sua intimidade, opção, condição, cultura, as suas 
tradições, a sua religião, a sua língua. 
 
2.1. ESTIGMAS: São ideias e visões preconcebidas com o intuito de diminuir, inferiorizar, 
marcar o diferente. Originado pela questão do etnocentrismo, que buscava tornar a 
20 
 
identidade europeia, seus valores étnicos como o centro de todas as coisas, como a 
cultura verdadeira e correta. O outro é diminuído, inferiorizado. 
 
2.2. ETNICIDADE: 
 
Etnia – Definição de um povo, marcado por traços culturais que lhe dão identidade 
própria. Conjunto de fatores materiais, subjetivos e simbólicos que dão identidade própria 
para determinado grupo social. Muito além de traços físicos. Os contornos da etnia são 
essencialmente cultural. 
O que define um povo é sua etnia. Para além das características físicas, o que 
fundamentalmente individualiza um agrupamento humano é sua cultura construída em 
comum. 
O conceito de raças como critério reducionista está superado desde 1950 quando a 
Unesco recomendou o critério de raça humana! 
Lembre-se : - etnologia é o estudo das identidades étnicas - etnografia descrição 
gráfica dos comportamentos étnicos. 
A cultura é constituída por todas as ações humanas, sejam físicas (artefatos, 
construções, bens, etc.) ou mentais (crenças, valores, conhecimentos, etc.). A junção 
desses itens formará a identidade de um povo, o que marcará sua etnia. Essa identidade 
é reconhecida por meio das diferenças entre os variados grupos, e a comparação de 
diferentes identidades é denominada de IDENTIDADE CONTRASTIVA (Relação 
identidade-diferença. Para perceber os limites da minha identidade preciso comparar com 
a identidade do outro). 
 
 
2.3. FRICÇÃO INTERÉTNICA. O processo de encontro entre duas identidades diferentes 
(não raro violento) é chamado de fricção interétnica. A agressão ocorre pela tendência 
que os grupos possuem de imaginar o “outro” como sendo inferior, o que acarreta no 
intolerante processo de exclusão do agrupamento subjugado. 
 
Fricção interétnica: processo de “encontro” entre duas ou mais culturas → quando 
identidades diferentes se encontram. Violência física e simbólica. Tema atual dos 
hispânicos e negros nos EUA, na Europa com os imigrantes e logo no Brasil. 
 
Essa fricção interétnica gera o processo de exclusão; 
 
2.4. EXCLUSÃO: Prática de intolerância. O não reconhecimento das diferenças gera 
intolerância. 
 
Qual a origem disso? O etnocentrismo. A crença na superioridade do povo a que 
se pertence, seguida de um sentimento de menosprezo pela cultura que se afasta da 
posição cultural do observador. 
 
Quando esse menosprezo transforma-se em genocídio, tem-se o genocídio 
cultural, conhecido como etnocídio. Ele caracteriza-se pela aculturação de um grupo de 
indivíduos por outro, com sérios prejuízos aos valores tradicionais da sociedade 
dominada. Como aconteceu no Brasil no aculturamento pela evangelização. 
Etnocídio – previsto na Declaração de San Jose da Costa Rica. Negar a um povo o 
direito de desfrutar, desenvolver e transmitir sua própria cultura. 
 
2.5. TOLERÂNCIA apresenta-se como sendo o oposto dos regimes de exclusão étnica. 
Ela se baseia no reconhecimento da importância da diferença como instrumento de uma 
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sociedade mais íntegra, fomentando o conhecimento mútuo entre as variadas etnias e 
apreciando a diversidade cultural. 
É a tolerância que fundamenta a democracia pluralista, a qual vê os diversos atores 
sociais como essenciais para a formação de um patamar civilizatório aceitável. 
Aceitar a existência do outro, o respeito e valorização dos traços singulares do outro. 
 
 
2.6. ALTERIDADE: "é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos 
seus direitos e, sobretudo, da sua diferença". "O estabelecimento de uma relação de paz 
com os diferentes. A capacidade de conviver bem com a diferença da qual o outro é 
portador". 
 
- Caráter ou estado do que é diferente; que é outro; que se opõe a identidade. 
Encontro das diferenças. Respeitar a especificidade étnico-cultural, garantindo a ele o 
direito de ser e permanecer o que é. 
 
Se faltar alteridade nas relações interpessoais a tendência é a de que ocorram 
conflitos; pois o homem - colonizador por natureza, tende a achar que sabe mais e melhor 
do que seu semelhante, que suas ideias são sempre as melhores, que seu padrão de 
comportamento é o correto; ou seja, o que diferir dos modelos genéricos é errado, sujo e 
incorreto 
 
Descoberta da alteridade é descobrir relação que nos permite deixar de identificar 
nossa pequena província de humanidade como a humanidade e assim deixar de rejeitar o 
presumido “selvagem” fora de nós. 
 
A experiência e elaboração da alteridade levam a ver aquilo que nem se consegue 
imaginar devido à dificuldade em prestar atenção ao que é habitual, familiar, cotidiano e 
considerado evidente. 
 
Através da experiência da “diferença” passa-se a notar que o menos dos 
comportamentos não é natural, causando surpresa sobre nós mesmos. 
 
Qual o desafio? Relativizar ou existe algo para universalizar?

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