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Conteúdo Direitos Humanos PART 2

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1 
 
APLICABILIDADE/EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS NA ORDEM JURÍDICA 
INTERNACIONAL 
Como se garante o binômio aplicabilidade/ efetividade dos direitos humanos na ordem 
jurídica internacional? 
Após a Segunda Grande Guerra (1945), houve a instituição de dois grandes sistemas de 
proteção aos Direitos Humanos: O Sistema Global, ligado as Nações Unidas, e os Sistemas 
Regionais, ligados aos Continentes (Europeu, Interamericano e Africano1) 
Uma das principais diferenças entre os mecanismos regionais e o global de proteção dos 
direitos humanos é o fato deste último ser aberto à adesão de praticamente todos os países do 
mundo e daqueles serem abertos apenas à adesão de países de cada região. 
 SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO 
1. Precedentes históricos do processo de internacionalização e universalização dos direitos 
humanos: 
Quais são os primeiros documentos que vão proteger os indivíduos. Onde está a gênese 
dessa proteção? 
O estudo a historicidade dos direitos humanos, na medida em que estes não são um dado, 
mas uma construção, em constante processo de aprimoramento e reconstrução. 
Dessa forma, os direitos humanos são fruto de um espaço simbólico de luta e ação social na 
busca por dignidade humana. Como leciona Norberto Bobbio, os direitos humanos nascem como 
direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada 
Constituição incorpora Declarações de Direitos) para finalmente encontrar a plena realização como 
direitos positivos universais. Mas o maior problema dos direitos humanos hoje não é mais 
fundamentá-los, e sim o de protegê-los. Sendo esta a questão central na ordem contemporânea, 
quais os precedentes históricos da moderna sistemática de proteção internacional desses direitos? 
O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do 
Trabalho situam-se como os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos 
humanos. Foi necessário redefinir o âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania estatal 
e, ainda, redefinir o status do indivíduo no cenário internacional, para que se tornasse verdadeiro 
sujeito de Direito Internacional. 
Em suma: Em todas as hipóteses, os direitos internacionais constantes dos tratados de 
direitos humanos apenas vêm a aprimorar e fortalecer, nunca restringir ou debilitar, o grau de 
proteção dos direitos consagrados no plano normativo interno. 
1.1. O Direito Humanitário é o direito que se aplica na hipótese de guerra, no intuito de 
fixar limites à atuação do Estado e assegurar a observância de direitos fundamentais. “É o ramo do 
Direito dos Direitos Humanos que se aplica a conflitos armados internacionais e, em determinadas 
circunstâncias, aos conflitos armados nacionais” (Thomas Buergenthal). 
A proteção humanitária se destina, em caso de guerra, a militares postos fora de combate 
(feridos, doentes, náufragos, prisioneiros) e a populações civis. Ao se referir a situações de extrema 
gravidade, o Direito Humanitário ou o Direito Internacional da Guerra impõem a regulamentação 
jurídica do emprego da violência no âmbito internacional, suscitado pelos horrores da batalha de 
Solferino, que levou à criação da Cruz Vermelha. 
Nesse sentido, o Direito Humanitário foi a primeira expressão de que, no plano 
internacional, há limites à liberdade e à autonomia dos Estados, ainda que na hipótese de conflito 
armado. 
 
 
1
 O Sistema Asiático ainda não existe. 
2 
 
1.2.Criação da Liga ou Sociedade das Nações: 
Liga das Nações, por sua vez, veio a reforçar essa mesma concepção, apontando para a 
necessidade de relativizar a soberania dos Estados. Criada após a 1ªGM, a Liga das Nações tinha 
como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando agressões 
externas contra a integridade territorial e a independência política de seus membros. 
A Convenção da Liga das Nações, de 1920, continha previsões genéricas relativas aos 
direitos humanos, as quais representavam um limite à concepção de soberania estatal absoluta, na 
medida em que a Convenção da Liga estabelecia sanções econômicas e militares a serem impostas 
pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas obrigações. 
 
1.3. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada após a 1ªGM e tinha por 
finalidade promover padrões internacionais de condições de trabalho e bem-estar social, contando 
com uma centena de Convenções internacionais que buscam assegurar um padrão justo e digno nas 
condições de trabalho. Tais institutos, cada qual a seu modo, contribuíram para o processo de 
internacionalização dos direitos humanos. E, assim, se assemelham na medida em que projetam o 
tema dos direitos humanos na ordem internacional. 
Por meio desses institutos, não mais se visava proteger arranjos e concessões recíprocas 
entre os Estados; visava-se, sim, o alcance de obrigações internacionais a serem garantidas ou 
implementadas coletivamente, que, por sua natureza, transcendiam os interesses exclusivos dos 
Estados contratantes. 
 
Esses precedentes a Organização das Nações Unidas rompem com a noção de que 
apenas os Estados poderiam figurar como sujeitos do Direito Internacional; rompem, ainda, 
com a concepção de soberania nacional absoluta, na medida em que admitem intervenções no 
plano nacional, em prol da proteção dos direitos humanos. 
 
Aos poucos, emerge a ideia de que o indivíduo é não apenas objeto, mas também sujeito de 
Direito Internacional. A partir dessa perspectiva, começa a se consolidar a capacidade processual 
internacional dos indivíduos, bem como a concepção de que os direitos humanos não se limitam à 
exclusiva jurisdição doméstica, mas constituem matéria de legítimo interesse internacional. 
 
2. A internacionalização dos direitos humanos – o pós-guerra 
 
Contudo, verdadeira consolidação dos Direitos Humanos surge em meados do século XX, 
em decorrência da IIª Guerra Mundial. O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é 
um fenômeno do pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de 
direitos humanos da Era Hitler e à crença de que parte destas violações poderia ser prevenida se um 
efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse. 
 Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a Era Hitler foi 
marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana. O legado do Nazismo 
foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a 
determinada raça – a raça ariana pura. No momento em que os seres humanos se tornam supérfluos 
e descartáveis, no momento em que vige a lógica da destruição, em que cruelmente se abole o valor 
da pessoa humana, torna- se necessária a reconstrução dos direitos humanos, como paradigma ético 
capaz de restaurar a lógica do razoável. 
Diante dessa ruptura, emerge a necessidade de reconstruir os direitos humanos, como 
referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral. 
3 
 
Era Hitler: - Lógica da destruição - Descartabilidade da pessoa humana - Condicionava a 
titularidade de direitos à pertinência à raça ariana pura 
 
Pós 2ª Guerra Mundial 
 
Reconstrução dos direitos humanos: - Lógica do razoável - Direitos humanos como paradigma ético 
- Direito a ter direitos 
 
Nesse cenário, o maior direito passa a ser, conforme Hannah Arendt2, o direito a ter direitos, 
ou seja, o direito a ser sujeito de direitos. Se a IIªGM significou a ruptura com os direitos humanos, 
o pós-guerra deve significar a sua reconstrução. Nasce ainda a certeza de que a proteção dos direitos 
humanos não deve se reduzir ao âmbito reservado de um Estado, porque revela tema de legítimo 
interesse internacional. 
A necessidadede uma ação mais eficaz para a proteção dos direitos humanos impulsionou o 
processo de internacionalização desses direitos, culminando na criação da sistemática normativa de 
proteção internacional, que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional 
quando as instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteger os direitos 
humanos. 
Nesse contexto, o Tribunal de Nuremberg, em 1945-1946, significou um poderoso impulso 
ao movimento de internacionalização dos direitos humanos. Ao final da 2ªGM e após intensos 
debates sobre o modo pelo qual se poderia responsabilizar os alemães pela guerra e pelos bárbaros 
abusos do período, os aliados chegaram a um consenso, com o Acordo de Londres de 1945, pelo 
qual ficava convocado um Tribunal Militar Internacional para julgar os criminosos de guerra. 
A condenação criminal dos indivíduos que colaboraram para a ocorrência do nazismo 
fundamentou-se, assim, na violação de costumes internacionais, ainda que muita polêmica tenha 
surgido a esse respeito, com base na alegação da afronta ao princípio da legalidade do direito penal, 
sob o argumento de que os atos punidos pelo Tribunal de Nuremberg não eram considerados crimes 
no momento em que foram cometidos. 
Hans Kelsen, embora crítico em relação a vários aspectos do Acordo de Londres e ao 
próprio julgamento, ao tratar da polêmica acerca da eventual violação, pelo julgamento do Tribunal 
de Nuremberg, do princípio da legalidade no direito penal, salienta que: “Contudo, este princípio da 
irretroatividade da lei não é válido no plano do direito internacional, mas é válido apenas no plano 
do direito interno, com importantes exceções”. 
Atualmente, com a criação do Tribunal Penal Internacional em 1988 e a delimitação de sua 
jurisdição e dinâmica de atuação a questão está pacificada. Mas, a atuação do Tribunal de 
Nuremberg lança assim os mais decisivos passos para a internacionalização dos direitos humanos. 
O significado do Tribunal de Nuremberg para o processo de internacionalização dos direitos 
humanos é duplo: não apenas consolida a ideia de que é necessária a limitação da soberania 
nacional, como reconhece que os indivíduos têm direitos protegidos pelo Direito Internacional. 
 
2
 Hannah Arendt (1906-1975), jornalista, filósofa, teórica política, judia laica, professora universitária, nascida na Alemanha, detida 
pela Gestapo (polícia secreta do Estado alemão criada em 1933), emigrante forçada em Paris, prisioneira no campo de concentração 
nazi deGurs em França (antigo campo de refugiados da Guerra Civil espanhola), apátrida e exilada sem direitos políticos até 1951 
quando adquiriu a cidadania norte-americana, foi responsável por uma das obras de referência do século XX: As Origens do 
Totalitarismo 
 
4 
 
3. A Carta das Nações Unidas de 1945 – A Criação da ONU 
Com o final da 2ªGM, em 1945, a vitória dos Aliados introduziu uma nova ordem com importantes 
transformações no Direito Internacional, simbolizada pela Carta das Nações Unidas e pelas suas 
Organizações. 
A criação das Nações Unidas, com suas agências especializadas, demarca o surgimento de uma 
nova ordem internacional, que instaura um novo modelo de conduta nas relações internacionais, 
com preocupações que incluem a manutenção da paz e segurança internacional, o desenvolvimento 
de relações amistosas entre os Estados, a adoção da cooperação internacional no plano econômico, 
social e cultural, a adoção de um padrão internacional de saúde, a proteção ao meio ambiente, a 
criação de uma nova ordem econômica internacional e a proteção internacional dos direitos 
humanos. 
3.1. Orgãos da ONU 
Para a consecução desses objetivos, as Nações Unidas foram organizadas em diversos órgãos. Os 
principais são: a Assembléia Geral, o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça, o 
Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela e o Secretariado, nos termos do art. 7º da Carta 
da ONU. Adiciona o art. 7º (2) que órgãos subsidiários podem ser criados, como a importante 
Comissão dos Direitos Humanos. 
3.1.1 Assembléia Geral: Compete a ela discutir e fazer recomendações relativamente a qualquer 
matéria objeto da Carta. Todos os membros das Nações Unidas são membros da Assembleia Geral, 
com direito a um voto. As decisões importantes são tomadas pelo voto de 2/3 dos membros 
presentes e votantes. 
3.1.2 Conselho de Segurança: é o órgão da ONU com a principal responsabilidade na manutenção 
da paz e segurança internacionais. É composto por 5 membros permanentes (China, França, Reino 
Unido, EUA e Rússia – os vencedores da II GM) e 10 membros não permanentes, sendo estes 
eleitos pela Assembleia Geral para mandato de 2 anos, considerando a contribuição dos membros 
para os propósitos das Nações Unidas e a distribuição geográfica eqüitativa. 
Cada membro do Conselho tem direito a um voto. As deliberações sobre questões processuais são 
tomadas pelo voto afirmativo de nove membros. Quanto às questões materiais, as deliberações são 
tomadas pelo voto afirmativo de nove membros, incluindo os votos afirmativos de todos os cinco 
membros permanentes (poder de veto dos membros permanentes). 
3.1.3 Corte Internacional de Justiça: é o principal órgão judicial das Nações Unidas, composto 
por 15 juízes. Seu funcionamento é disciplinado pelo Estatuto da Corte, o qual dispõe que a Corte 
tem competência contenciosa e consultiva. Porém, somente os Estados são partes em questões 
perante ela. 
3.1.4 Secretariado: é chefiado pelo Secretário-Geral – principal funcionário administrativo da 
ONU –, indicado para mandato de 5 anos pela Assembléia Geral, a partir da recomendação do 
Conselho de Segurança. 
3.1.5 Conselho de Tutela: compete a ele fomentar o processo de descolonização e de 
autodeterminação dos povos, a fim de que territórios tutelados pudessem alcançar, por meio de 
desenvolvimento progressivo, governo próprio. Exerceu um papel vital, que, atualmente, encontra-
se esvaziado. 
3.1.6. Conselho Econômico e Social: é composto por 27 membros. Tem competência para 
promover a cooperação em questões econômicas, sociais e culturais, incluindo os direitos humanos. 
Cabe a ele fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância dos direitos 
humanos, bem como elaborar projetos de convenções a serem submetidos à Assembléia Geral. 
Pode criar comissões que forem necessárias ao desempenho de suas funções. Dessa forma foi criada 
a Comissão de Direitos Humanos da ONU, integrada por 53 membros governamentais eleitos para 
5 
 
mandatos de 3 anos, pelo Conselho Econômico e Social. A Comissão se reportava ao Conselho que 
deveria dar sua aprovação final para qualquer resolução com conseqüências financeiras. Raramente 
ocorria recusa a endosso das decisões da Comissão. 
No entanto, a Comissão começou a sofrer crise de credibilidade e profissionalismo, pois os Estados 
vinham se valendo da condição de membros da Comissão não para fortalecer os direitos humanos, 
mas para uma atitude defensiva, de autoproteção diante das críticas ou mesmo para criticarem 
outros Estados. 
Por essa razão, esta Comissão foi abolida em 2006 e substituída pelo Conselho de Direitos 
Humanos, que objetiva conferir maior credibilidade à temática dos direitos humanos no âmbito da 
ONU, com base no escrutínio universal e na não-seletividade política. 
É composta por 47 membros eleitos diretamente por voto secreto da maioria da Assembleia Geral 
da ONU, cujo mandato é de 3 anos. A eleição destes deve levar em consideração a contribuição dos 
candidatos para a promoção e proteção dos direitos humanos, devendo, ainda, ser observada a 
distribuição geográfica equitativa dentre os grupos regionais, sendo: 13 membros dos Estados 
africanos; 13 membros dos Estados asiáticos, 6 membros dos Estados do Leste europeu, 8 membros 
dos Estados daAmérica Latina e Caribe, e 7 membros dos Estados da Europa Ocidental e demais 
Estados. 
Ademais, por voto de 2/3 de seus membros, a Assembleia pode suspender os direitos do 
Estado-membro que cometer graves e sistemáticas violações de direitos humanos. No marco 
dos debates a respeito da reforma da ONU, além de fortalecer a pauta de direito humanos com o 
propósito central da Carta da ONU, faz-se fundamental fortalecer a Assembleia Geral, na qualidade 
de verdadeiro Senado mundial e democratizar o Conselho de Segurança, tornando-o um órgão mais 
representativo da comunidade internacional e da geopolítica contemporânea. 
É sob esta perspectiva que surge a proposta de criação de um Conselho de Direitos Humanos. Desse 
modo, ao lado da preocupação de evitar a guerra e manter a paz social e a segurança internacional, a 
agenda internacional passa a conjugar novas e emergentes preocupações, relacionadas à promoção e 
proteção dos direitos humanos. A coexistência pacífica entre os Estados, combinada com a busca de 
inéditas formas de cooperação econômica e social e de promoção universal dos direitos humanos, 
caracterizam a nova configuração da agenda da comunidade internacional. 
Embora a Carta das Nações Unidas seja enfática em determinar a importância de defender, 
promover e respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, ela não define o conteúdo 
dessas expressões, deixando-as em aberto. “Com a assinatura da Carta das Nações Unidas, em São 
Francisco, em 26 de junho de 1945, a comunidade internacional nela organizada se comprometeu, 
desde então, a implementar o propósito de ‘promover e encorajar o respeito aos direitos humanos e 
liberdades fundamentais de todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião’. 
Para esse fim, a Comissão de Direitos Humanos (CDH), principal órgão das Nações Unidas 
sobre a matéria, recebeu a incumbência de elaborar uma Carta Internacional de Direitos. O 
primeiro passo neste sentido foi a preparação de uma Declaração” (José Augusto Lindgren Alves) 
Assim, três anos após o advento da Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, de 1948, veio a definir com precisão o elenco dos “direitos fundamentais e liberdades 
fundamentais”. 
A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de internacionalização dos 
direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos a 
propósito e finalidade das Nações Unidas. 
Considerando os três propósitos centrais da ONU – manter a paz e a segurança internacional, 
fomentar a cooperação internacional nos campos social e econômico, e promover os direitos 
humanos no âmbito universal, fez- necessário que sua estrutura fosse capaz de refletir de forma 
mais clara tais propósitos. 
6 
 
Assim, com o intuito de conferir a devida prioridade ao tema dos direitos humanos, com a paridade 
desejável com os outros dois temas acima mencionados, é que se justifica a criação do Conselho de 
Direitos Humanos. 
A ONU passa, então, a contar com três conselhos: Conselho de Segurança, Conselho Econômico e 
Social, e Conselho de Direitos Humanos. Restou reconhecido que o desenvolvimento, a paz, a 
segurança e os direitos humanos são inter-relacionados e interdependentes. 
O Conselho de Direitos Humanos deve guiar-se pelos princípios da universalidade, da 
imparcialidade, da objetividade e da não-seletividade na consideração de questões afetas a direitos 
humanos, afastando a politização e double standards, buscando fomentar a cooperação e o diálogo 
internacional. Cabe ao CDH responder a violações de direitos humanos, incluindo violações graves 
e sistemáticas, bem como elaborar recomendações. Compete ao CDH promover também a efetiva 
coordenação das atividades de direitos humanos na ONU e a incorporação da perspectiva dos 
direitos humanos em todas as atividades da ONU. Tem, ainda, o desafio de estabelecer um diálogo 
transparente e construtivo com as organizações não-governamentais para a promoção e proteção dos 
direitos humanos. 
 
4. A ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO 
INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS: DOCUMENTOS GERAIS DO SISTEMA 
DE PROTEÇÃO GLOBAL 
 
O processo de universalização dos direitos humanos traz em si a necessidade de implementação 
desses direitos, mediante a criação de um sistema internacional de monitoramento e controle – a 
chamada internacional accountability. 
A adoção da Declaração Universal, em 1948, instaurou- se larga discussão sobre qual seria a 
maneira mais eficaz de assegurar o reconhecimento e a observância universal dos direitos nela 
previstos. Prevaleceu, então, o entendimento de que a Declaração deveria ser “juridicizada” sob a 
forma de tratado internacional, que fosse juridicamente obrigatório e vinculante no âmbito do 
Direito Internacional. 
Esse processo de “juridicização” da Declaração começou em 1949 e só foi concluído em 1966, com 
a elaboração de dois tratados internacionais distintos: o Pacto Internacional dos Direitos Civil e 
Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – que passaram a 
incorporar os direitos constantes da Declaração Universal. 
A partir da elaboração desses pactos se forma a Carta Internacional dos Direitos Humanos, 
International Bill of Rights, integrada pela Declaração Universal de 1948 e pelos dois pactos 
internacionais de 1966. A Carta Internacional dos Direitos Humanos inaugura, assim, o sistema 
global de proteção desses direitos, ao lado do qual já se delineava o sistema regional de proteção, 
nos âmbitos europeu, interamericano e, posteriormente, africano. 
O sistema global, por sua vez, viria a ser ampliado com o advento de diversos tratados multilaterais 
de direito humanos, pertinentes a determinadas e específicas violações de direitos. Diversamente 
dos tratados internacionais tradicionais, os tratados internacionais de direitos humanos objetivam 
garantir o exercício de direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos. 
Atente-se que o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com seus inúmeros 
instrumentos, não pretende substituir o sistema nacional. Ao revés, situa-se como direito 
subsidiário e suplementar ao direito nacional, no sentido de permitir sejam superadas suas 
omissões e deficiências. Os tratados de proteção dos direitos humanos consagram, ademais, 
parâmetros protetivos mínimos, cabendo ao Estado, 
O Sistema Global é composto por documentos gerais e especiais. 
7 
 
Documentos gerais: 
Há uma junção de documentos, denominada de Carta Internacional de Direitos Humanos, 
que, embora não exista materialmente, é composta de quatro instrumentos internacionais que 
formam o “esqueleto mínimo” dos direitos humanos, porque cuidam genericamente das duas 
grandes “dimensões” dos direitos humanos. São eles: 
1) Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 
2) Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e dois Protocolos Opcionais- 1966 
3) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e um Protocolo 
Facultativo – 1966 
 
Documentos especiais: demais Convenções de Direitos Humanos. 
 
Declaração Universal de 1948 + Dois Pactos Internacionais de 1966 = Carta Internacional dos 
Direitos Humanos → sistema global de proteção dos direitos humanos 
 
 
4.1. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DE 1948 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em 10 de dezembro de 1948, pela 
aprovação unânime de 48 Estados, com 8 abstenções. A inexistência de qualquer questionamento 
ou reserva confere à Declaração o significado de um código e plataforma comum de ação. 
A Declaração – que revive os ideais da Revolução Francesa de igualdade, liberdade e fraternidade 
como valores supremos - consolida a afirmação de uma ética universal ao consagrar o consenso 
sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados. A Declaração Universal objetivadelinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à dignidade da pessoa humana, ao 
consagrar valores básicos. Desde seu preâmbulo, é afirmada a dignidade inerente à pessoa humana, 
titular de direitos iguais e inalienáveis. 
Vale dizer, para a Declaração Universal a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para a 
titularidade de direitos (universalidade dos direitos), e nesse sentido rompe com o legado nazista, 
que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à determinada raça (pura ariana). Além da 
universalidade dos direitos humanos, a Declaração Universal consagra a indivisibilidade desses 
direitos, tendo em vista que conjuga o catálogo dos direitos civis e políticos ao dos direitos 
econômicos, sociais e culturais. 
Combina, assim, o discurso liberal e o discurso social, conjugando o valor da liberdade com o valor 
da igualdade. Duas são as inovações introduzidas pela Declaração: 
1) parificar, em igualdade de importância, os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, 
sociais e culturais; e 
2) afirmar a inter-relação, indivisibilidade e interdependência de tais direitos. 
Ao conjugar o valor da liberdade com o da igualdade, a Declaração introduz a concepção 
contemporânea de direitos humanos, pela qual esses direitos passam a ser concebidos como uma 
unidade interdependente e indivisível. Afasta-se a equivocada visão da sucessão “geracional” de 
direitos, na medida em que se acolhe a idéia de expansão, cumulação e fortalecimentos dos direitos 
humanos, todos essencialmente complementares e em constante dinâmica de interação. 
8 
 
Assim, apresentando-se os direitos humanos como uma unidade indivisível, revela-se esvaziado o 
direito de liberdade quando não assegurado o direito à igualdade, e vice-versa. Seja por fixar a idéia 
de que os direitos humanos são universais, decorrentes da dignidade da pessoa humana e não 
derivados das peculiaridades sociais e culturais de determinada sociedade, seja por incluir em seu 
elenco não só os direitos civis e políticos, mas também sociais, econômicos e culturais, a 
Declaração de 1948 demarca a concepção contemporânea dos direitos humanos. 
Mas qual é o valor jurídico da Declaração Universal de 1948? “(...) é de primeira importância ter 
a clareza das características básicas deste documento. Ele não é um tratado; ele não é um acordo 
internacional. Ele não é e nem pretende ser um instrumento legal ou que contenha obrigação legal. 
É uma declaração de princípios básicos de direitos humanos e liberdades, que será selada com 
aprovação dos povos de todas as Nações” (Roosevelt, à época representante da CDH e dos EUA) 
A Declaração Universal tem sido concebida como a interpretação autorizada da expressão “direitos 
humanos”, constante da Carta das Nações Unidas, apresentando, por esse motivo, força jurídica 
vinculante. Os Estados membros das Nações Unidas têm, assim, a obrigação de promover o respeito 
e a observância universal dos direitos proclamados pela Declaração. 
Segundo Paul Sieghart, outro argumento persuasivo é aquele que considera a Carta da ONU e a 
Declaração Universal como documentos inter-relacionados. Há, contudo, aqueles que defendem que 
a Declaração teria força jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro e/ou os princípios 
gerais de direito, aplicando-se a todos os Estados e não apenas aos signatários da Declaração. 
Os argumentos apresentados para defender essa tese são: (i) incorporação das previsões da 
Declaração atinentes a direitos humanos pelas Constituições nacionais; (ii) as freqüentes referências 
feitas pelas resoluções das Nações Unidas à obrigação legal de todos os Estados de observar a 
Declaração Universal; (iii) decisões proferidas pelas Cortes nacionais que se referem à Declaração 
Universal como fonte de direito. 
Além disso, não houve qualquer Governo que fizesse um pronunciamento oficial atacando a 
Declaração ou qualquer de seus enunciados. Para Flávia Piovesan: 
“A Declaração Universal se impõe como um código de atuação e de conduta para os Estados integrantes da comunidade 
internacional, na medida em que consagra o reconhecimento universal dos direitos humanos pelos Estados, 
consolidando um parâmetro internacional para a proteção desses direitos. Desde a sua adoção, a Declaração universal 
tem exercido poderosa influência a ordem mundial, tanto internacional como nacional: os direitos nela previstos têm 
sido incorporados por Constituições nacionais e, por vezes, servem como fonte para decisões judiciais nacionais. 
Internacionalmente, tem estimulado a elaboração de instrumentos voltados à proteção dos direitos humanos e tem sido 
referência para a adoção de resoluções no âmbito das Nações Unidas.” 
 
4.2. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS - 1966 
A Declaração demorou dois anos para ser criada após a Carta das Nações, e os Pactos demoraram 
mais de vinte anos. A demora ocorreu por conta do caráter obrigatório para Estados partes e 
controvérsias com o intenso debate de ser dois ou apenas a questão um pacto. 
Na época em que se iniciou a discussão para edição de um Pacto que reunisse todos os direitos da 
pessoa humana, dois modelos surgiram: um único que conjugasse as duas categorias de direito e 
outro que promovesse a separação de um lado, dos direitos civis e políticos e, de outro, os direitos 
sociais, econômicos e culturais. 
A divergência que ocorria entre os países ocidentais e os países do bloco socialista, ainda sob 
influência dos desdobramentos da Guerra Fria, era sobre à auto-aplicabilidade dos direitos a serem 
reconhecidos. 
9 
 
Os países ocidentais entendiam que os direitos civis e políticos eram autoaplicáveis, enquanto que 
os direitos sociais, econômicos e culturais eram programáticos, necessitando de uma implementação 
gradual. 
A ONU continuou reafirmando, no entanto, a indivisibilidade e a unidade dos direitos humanos, 
pois os direitos civis e políticos só existiriam no plano nominal se não fossem os direitos sociais, 
econômicos e culturais, e vice-versa. 
Assim, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos adotado em meio às disputas oeste-leste, 
reconhece um conjunto de direitos mais abrangente que a própria Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. Assim, não houve outra alternativa senão, editar este Pacto, que era mais simpático à 
visão do ocidente capitalista, e outro, advogado pelo bloco socialista, o Pacto Internacional sobre 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, na mesma ocasião. 
Reconheceu um catálogo de direitos civis e políticos mais extenso que o da própria Declaração 
Universal. O Pacto proclama em seus primeiros artigos o dever dos Estados-partes de assegurar os 
direitos nele elencados a todos os indivíduos que estejam sob sua jurisdição, adotando medidas 
necessárias para esse fim. 
A obrigação do Estado inclui também o dever de proteger os indivíduos contra a violação de seus 
direitos perpetrada por entes privados. Ao impor aos Estados-partes a obrigação imediata de 
respeitar e assegurar os direitos nele previstos, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos apresenta 
auto-aplicabilidade. 
Quanto ao catálogo de direitos civis e políticos propriamente dito, o pacto não só incorpora 
inúmeros dispositivos da Declaração, com maior detalhamento, como ainda estende o elenco desses 
direitos. Os principais direitos e liberdades cobertos pelo Pacto são: � Direito à vida; � Direito de 
não ser submetido à tortura ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; � Direito a não ser 
escravizado, nem submetido à servidão; � Direitos à liberdade e à segurança pessoal e a não ser 
sujeito a prisão ou detenção arbitrárias; � Direito a um julgamento justo; � Igualdade perante a lei; 
� Proteção contra a interferência arbitrária na vida privada; � Liberdade de movimento;� Direito a 
uma nacionalidade; � Direito de casar e formar família; � Liberdades de pensamento, consciênciae religião; � Liberdades de opinião e de expressão; � Direito à reunião pacífica; � Liberdade de 
associação; � Direito de aderir a sindicatos e o direito de votar e de tomar parte no Governo. 
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos possui seis partes, que dizem respeito: 
I - à autodeterminação dos povos e à livre disposição de seus recursos naturais e riquezas (artigo 
1.º); 
II - ao compromisso dos Estados de garantir os direitos previstos e as hipóteses de derrogação de 
certos direitos (artigos 2.º ao 5.º); 
III - aos direitos efetivamente reconhecidos (artigos 6.º ao 27); 
IV - aos mecanismos de supervisão e controle desses direitos (artigos 35 ao 39); 
V - à integração e interação com a Organização das Nações Unidas (artigos 35 ao 39); 
VI - à ratificação e entrada em vigor (artigos 40 ao 47). 
Foram incluídos novos direitos, não previstos na Declaração Universal, tais como: 
- direito a autodeterminação dos povos ARTIGO 1º 1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em 
virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento 
econômico, social e cultural. 2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de suas 
riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, 
baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de 
seus meios de subsistência. 3. Os Estados partes do presente pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de 
administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à 
autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das nações unidas. 
10 
 
- direito de não ser preso em razão de descumprimento de obrigação contratual ARTIGO 11 
Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual. 
- proibição de propaganda de guerra ou incitação e apologia ao racismo ARTIGO 20 1. Será 
proibido por lei qualquer propaganda em favor de guerra. 2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, 
radical, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência. 
- direito da criança, inclusive de adquirir nacionalidade ARTIGO 24 1. Toda criança, terá direito, sem 
discriminação alguma por motivo de cor, sexo, religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento, 
às medidas de proteção que a sua condição de menor requerer por parte de sua família, da sociedade e do Estado. 2. 
Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá receber um nome. 3. Toda criança terá 
o direito de adquirir uma nacionalidade. 
- direito ao respeito a diversidade cultural ARTIGO 27 No caso em que haja minorias étnicas, religiosas ou 
lingüísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com 
outras membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria 
língua. 
 
A esses direitos e garantias se soma ainda a vedação contra a pena de morte, instituída pelo 
Segundo Protocolo ao Pacto, que entrou e vigor em 1991, que foi ratificado pelo Brasil com 
ressalva expressa a aplicabilidade em caso de guerra. 
Derrogação temporária: apenas excepcionalmente o Pacto admite a derrogação temporária dos 
direitos que enuncia. À luz de seu art. 4º, a derrogação temporária dos direitos fica condicionada aos 
estritos limites impostos pela decretação de estado de emergência, ficando proibida qualquer 
medida discriminatória. 
Observe que o Pacto estabelece direitos inderrogáveis, como o direito à vida, proibição de tortura, 
proibição de escravidão, direito de não ser preso por inadimplemento contratual, dentre outros. O 
Pacto permite, ainda, limitações em relação a determinados direitos, quando necessárias à segurança 
nacional ou à ordem pública (arts. 21 e 22). Crescente é a crítica ante a vagueza e a imprecisão dos 
dispositivos constantes do Pacto, o que por vezes vem a conferir um catálogo apenas formal e 
nominal de direitos. 
O Congresso Brasileiro aprovou o Pacto por meio do Decreto Legislativo número 226, de 12 de 
dezembro de 1991, depositando a Carta de Adesão na Secretaria Geral da Organização das Nações 
Unidas a 24 de janeiro de 1992, sendo finalmente absorvido pelo ordenamento interno a 24 de abril 
do mesmo ano. Desde então, o Brasil tornou-se responsável pela implementação e proteção dos 
direitos fundamentais acordados em seu território. Em virtude da ditadura militar que governou o 
país por 21 anos, o governo brasileiro só ratificou o Pacto quando seus principais aspectos já se 
encontravam garantidos na atual Constituição Federal, em seu título II, dos “Dos Direitos e 
Garantias Fundamentais”. 
O PIDCP conta com 165 Estados – Partes. 
 
4.2.1. MECANISMOS DE MONITORAMENTO DO PIDCP: 
COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS. Principal órgão de monitoramente previsto pelo Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos. 
Comitê de Direitos Humanos é composto por dezoito membros a título pessoal, não são eleitos 
como representantes de um país determinado, mas em virtude de suas qualidades pessoais, 
conhecimentos jurídicos e humanos. 
Dentre as funções do Comitê de Direitos Humanos, destaquem-se: (i) receber petições individuais, 
comunicações interestatais e relatórios; (ii) proferir uma decisão em relação à petição individual que 
apenas declare que a violação resta caracterizada ou que determine que o Estado repare a violação 
cometida; (iii) requerer dos Estados informações sobre determinada situação. 
11 
 
4.2.2 MECANISMO DE IMPLEMENTAÇÃO DO PIDCP 
Sistemática de monitoramento e implementação dos direitos civis e políticos ( special enforcement 
machinery) : o pacto oferece um suporte institucional aos preceitos que consagra, impondo 
obrigações aos Estados-partes. 
1. SISTEMÁTICA DE RELATÓRIOS (reports): ao ratificar o pacto, os Estados-partes passam a 
ter a obrigação de encaminhar, no prazo de um ano contado da ratificação e todas as vezes que for 
solicitado, relatórios sobre as medidas legislativas, administrativas e judiciárias adotadas, a fim de 
ver implementados os direitos enunciados pelo pacto (art. 40). 
Esses relatórios são solicitados e apreciados pelo Comitê de Direitos Humanos, instituído pelo 
Pacto. Após exame e estudo, o Comitê tece comentários e observações gerais e, depois, encaminha 
tais relatórios ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. 
2. SISTEMÁTICA DAS COMUNICAÇÕES INTERESTADUAIS (inter-state 
communications): um Estado-parte pode alegar haver outro Estado-parte incorrido em violação dos 
direitos humanos enunciados no Pacto (art. 41). Esse mecanismo pressupõe o fracasso das 
negociações bilaterais e o esgotamento dos recursos internos (art. 41, “c”). 
Contudo, o acesso a esse mecanismo é opcional e condicionado ao reconhecimento pelo Estado-
parte, mediante declaração em separado, da competência do Comitê para receber as comunicações 
interestatais. Vale dizer, as comunicações interestatais só podem ser admitidas se ambos os Estados 
envolvidos reconhecerem e aceitarem a competência do Comitê para recebê-las e examiná-las. 
Brasil? Ainda não fez a declaração expressa, que se refere o art.41 do Tratado, no sentido de 
reconhecer a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações em que um Estado-
Parte alugue que outro Estado-parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe o Pacto. 
Assim, o Brasil não pode apresentar denúncia, perante o Comitê, e não se vê na possibilidade de ser 
questionado também por outro Estado signatário do Pacto. 
A função do Comitê é auxiliar na superação da disputa, mediante proposta de solução amistosa. 
OBS.: essa sistemáticaé também conhecida como sistema vertical de proteção, tendo em vista que a 
responsabilidade de efetuar o monitoramento desses direitos é atribuída a órgãos internacionais. 
Mas além desse mecanismo, há o sistema horizontal de proteção desses mesmos direitos. 
Por meio do sistema horizontal de proteção, os próprios Estados podem aplicar sanções e pressões, 
destituídas de força militar, contra determinado Estado violador. Estas formas de pressão incluem 
boicotes e embargos, condicionamentos à assistência bilateral ou multilateral, à assistência ao 
desenvolvimento, ou a vantagens comerciais. Ex.: Foreign Assistance Act of 1961, do EUA, que 
nega assistência ao governo de qualquer país que seja responsável pela existência de um consistente 
padrão de sérias violações de direitos humanos, internacionalmente reconhecido, incluindo a 
tortura, a detenção prolongada etc. 
Ainda sobre o sistema horizontal de proteção aos direitos humanos, acrescente-se que não apenas 
Estados, mas entidades privadas podem participar dessa forma de controle, a exemplo da Reebok 
Internacional Ltda., que adotou uma política de direitos humanos que busca responder a 
preocupações específicas com relação à situação desses direitos na China e, subseqüentemente, 
adotou um razoável conjunto de princípios de direitos humanos para regular as condições de 
trabalho em todas as suas operações internacionais. 
A decisão por maioria dos membros presentes de descumprimento das determinações do Comitê: 
não há sanção jurídica, mas sim sanção política. 
O Pacto o Protocolo respeitam a soberania, mas assuntos qualificados como de competência interna 
podem ser objeto de acompanhamento internacional. 
3.PETIÇÕES INDIVIDUAIS: implementado pelo Primeiro Protocolo Facultativo. (ver explicação 
do primeiro protocolo) 
12 
 
4.2.3. PROTOCOLOS FACULTATIVOS AO PIDCP 
O Pacto é acompanhado de dois Protocolos Facultativos. É facultativo porque nem todos que 
ratificaram o Pacto precisam ratificar o protocolo. 
1. PRIMEIRO PROTOCOLO FACULTATIVO 
Originariamente, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos previu um peculiar mecanismo 
de implementação e monitoramento: sistemática dos relatórios + sistemática opcional das 
comunicações interestatais. 
O Protocolo Facultativo, adotado em 1966, adicionou a essa sistemática o importante 
mecanismo das petições individuais, a serem apreciadas pelo Comitê de Direitos Humanos. 
Tal mecanismo permite aos indivíduos apresentar petições denunciando violações de direitos 
enunciados no Pacto. Firmou-se, então, a capacidade processual internacional dos indivíduos 
(direito de petição individual). 
A petição ou comunicação individual só pode ser admitida se o Estado violador tiver 
ratificado tanto o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos como o Protocolo 
Facultativo. Embora não tenha um poder jurisdicional formal, o Comitê tem estabelecido uma 
doutrina informal de precedentes e tende a se orientar pelas decisões anteriores. 
Para o exercício da sistemática das petições individuais, é exigido, ao invés da nacionalidade, o 
vínculo da relação entre o reclamante e o dano/violação dos direitos humanos que denuncia, ou seja, 
o reclamante deve ter sofrido pessoalmente a violação de um direito consagrado pelo Pacto. 
OBS.: o Comitê já reconheceu a possibilidade das comunicações serem encaminhadas por 
organizações ou terceiras pessoas, que representem o indivíduo que sofreu a violação. Procedimento 
das petições individuais: A petição deve respeitar determinados requisitos de admissibilidade 
previstos pelo art. 5º do Protocolo, como o esgotamento prévio dos recursos internos3 e 
comprovação de que a questão não está sendo examinada por outra instância internacional4, ou seja, 
a matéria não pode estar pendente em outros processos de solução internacional. 
Satisfeitos tais requisitos de admissibilidade e recebida a comunicação pelo Comitê, o Estado 
dispõe do prazo de seis meses para submeter ao Comitê explicações e esclarecimentos sobre o caso, 
bem como as medidas que eventualmente tenham sido por ele adotadas. 
Os esclarecimentos prestados pelo Estado são, então, encaminhados para o autor (a), que poderá 
enviar ao Comitê informações e observações adicionais. O Comitê, assim, considerando todas as 
informações colhidas, proferirá uma decisão, pelo voto da maioria dos membros presentes, embora 
esforços sejam empenhados no sentido de alcançar votação unânime. 
Essa decisão é publicada no relatório anual do Comitê à Assembléia Geral. Ao decidir, o Comitê 
não se atém apenas a declarar a violação a direito previsto no Pacto, sendo que por vezes o Comitê 
determina a obrigação do Estado em reparar a violação cometida e em adotar medidas necessárias a 
prover a estrita observância do Pacto. 
Contudo, tal decisão não detém força obrigatória ou vinculante, tampouco qualquer sanção é 
prevista na hipótese de o Estado não lhe conferir cumprimento. Embora não exista sanção no 
sentido estritamente jurídico, a condenação do Estado no âmbito internacional enseja conseqüências 
no plano político, mediante o chamado Power of embarrassment, que pode causar constrangimento 
político e moral ao Estado violador. 
 
3
 Salvo quando a aplicação desses recursos se mostrar injustificadamente prolongada, ou se inexistir no Direito interno o devido 
processo legal, ou ainda se não se assegurar à vítima o acesso aos recursos de jurisdição interna. 
4Nada impede que o peticionário use um outro procedimento primeiro e depois, quando do término do processo, submeta o caso 
perante o Comitê de Direitos Humanos. No entanto, diversos países fizeram reservas a fim de impedir o exame pelo Comitê de 
comunicações pendentes ou já apreciadas por outros órgãos internacionais, obstando uma ‘apelação’ ao Comitê. Ex.: Dinamarca, 
França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Espanha e Suécia. 
13 
 
Como esclarece Helga Ole Bergensen, a ONU não tem poder físico para determinar as ações 
internas dos Estados, mas tem a capacidade de ‘embaraçar’ os Governos, através de condenações 
morais constrangedoras. Como resultado de forte pressão de vítimas, o Comitê adotou em 1991 
novas medidas no sentido de monitorar e fiscalizar o modo pelo qual os Estados conferem 
cumprimento às decisões do Comitê. 
Assim, o Comitê solicita ao Estado informações sobre as ações adotadas em relação ao caso, em 
prazo não superior a 180 dias. Com base nisso, o relatório anual do Comitê indicará os Estados que 
falharam em responder à solicitação, ou que falharam em prover um remédio eficaz à vítima, como 
também apontará os Estados que satisfizeram a decisão do Comitê. 
Por fim, o Comitê criou a figura do Special Rapporteur for the Follow-up of Views, que, podendo 
comunicar-se diretamente com os governos e com as vítimas, poderá recomendar ações necessárias 
em respeito às vitimas que protestam não ter sido adotado qualquer medida adequada para 
compensar as violações sofridas. 
Aqueles Estados que o ratificaram reconhecem a competência do Comitê para receber e 
considerar denúncias de individuais quanto ao descumprimento do Pacto, qualquer indivíduos pode 
denunciar o Estado parte. Atenção! Mas só pode ser denunciado ao Cômite aqueles Estados-
partes que ratificaram o Pacto e o Protocolo Facultativo. 
Comitê de Direitos Humanos decide sobre denúncias sobre violação ao Pacto e determina 
providências. As comunicações podem ser enviadas também por associações ou por terceiras 
pessoas que o representem. 
 
2. O SEGUNDO PROTOCOLO FACULTATIVO 
Visando a abolição da Pena de Morte, mas ela é relativizada em casos de crimes ditos mais graves, 
observados a anterioridade penal o devido processo legal. 
Entrou em vigor em vigor em 1991 com 72 Estados-membros e ratificado pelo Brasil em 2009 com 
a reserva expressa para aplicabilidade em caso de pena demorte, para evitar conflito com o art. 5 
XLVII “a” da CF. 
 
 
4.3. PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E 
CULTURAIS 
 
Tal como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o maior objetivo do Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi incorporar os dispositivos da 
Declaração Universal sob a forma de preceitos juridicamente obrigatórios e vinculantes. 
O intuito desse pacto foi permitir a adoção de uma linguagem de direitos que implicasse obrigações 
no plano internacional, mediante a sistemática da international accountability. Isto é, esse Pacto 
criou obrigações legais aos Estados-partes, ensejando responsabilização internacional em caso de 
violação dos direitos que enuncia. 
Assim como o Pacto de Direitos Civis e Políticos, este expande o elenco dos direitos sociais, 
econômicos e culturais elencados pela Declaração Universal. Enuncia um extenso catálogo de 
direitos, que inclui: � Direito ao trabalho e à justa remuneração � Direito a formar e a associar-se a 
sindicatos � Direito a um nível de vida adequado � Direito à moradia � Direito à educação � 
Direito à previdência social � Direito à saúde � Direito à participação na vida cultural da 
comunidade. 
14 
 
Enquanto o Pacto de Direitos Civis e Políticos estabelece direitos endereçados aos indivíduos, 
o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais estabelece deveres endereçados aos 
Estados. Se os direitos civis e políticos devem ser assegurados de plano pelo Estado – auto- 
aplicabilidade –, os direitos econômicos, sociais e culturais, nos termos em que são concebidos no 
pacto, são programáticos, ou seja, apresentam realização progressiva: são direitos que estão 
condicionados à atuação do Estado, que deve adotar medidas econômicas e técnicas, isoladamente e 
por meio da assistência e cooperação internacionais, até o máximo de seus recursos disponíveis, 
com vistas a alcançar progressivamente a completa realização dos direitos previstos pelo Pacto. 
O Pacto está organizado em cinco partes, que tratam respectivamente I - da autodeterminação dos 
povos e à livre disposição de seus recursos naturais e riquezas; II - do compromisso dos estados de 
implementar os direitos previstos; III - dos direitos propriamente ditos; IV - do mecanismo de 
supervisão por meio da apresentação de relatórios ao ECOSOC (Conselho Econômico e Social da 
Nações Unidas) e V - das normas referentes à sua ratificação e entrada em vigor. 
Por outro lado, a diferença fundamental entre os Pactos é justamente aquela que originou a edição 
de dois documentos distintos, estampada nos respectivos artigos 2º: Enquanto o do Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos cria a obrigação estatal de "tomar as providências 
necessárias", inclusive de natureza legislativa, para "garantir a todos os indivíduos que se 
encontrem em seu território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os direitos reconhecidos no 
presente Pacto", o tratado referente aos direitos econômicos, sociais e culturais, também no artigo 
2º, prevê a adoção de medidas, tanto por esforço próprio como pela cooperação e assistência 
internacionais, "que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno 
exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto". 
Ressalte-se, todavia que o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais tem enfatizado 
o dever dos Estados-partes de assegurar, ao menos, o núcleo essencial mínimo, o minimum core 
obligation relativamente a cada direito enunciado no Pacto, cabendo aos Estados o dever de 
respeitar, proteger e implementar tais direitos. 
Atenção ao quadro resumo: 
 
P.I. Direitos Civis e Políticos P.I. Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
Auto-aplicáveis Programáticos 
Podem ser igualmente assegurados em todos 
os países, ricos ou pobres. 
Sua implementação necessariamente varia, 
dependendo dos recursos de cada país, bem 
como de grau de prioridade atribuído a esses 
direitos 
São absolutos São relativos, dependentes de possíveis métodos 
de implementação 
 
 
4.3.1. SISTEMÁTICA DE IMPLEMENTAÇÃO DO PIDSEC: relatórios. 
O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais apresenta uma peculiar 
sistemática de monitoramento e implementação dos direitos que contempla, sistemática que inclui o 
mecanismo dos relatórios a serem encaminhados pelos Estados-partes. 
Esses relatórios devem consignar as medidas adotadas pelo Estado-parte no sentido de conferir 
observância aos direitos reconhecidos pelo Pacto. Devem ainda expressar os fatores e as 
dificuldades no processo de implementação das obrigações decorrentes do Pacto. 
15 
 
Os relatórios são submetidos ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que, por sua vez, encaminha 
cópia ao Conselho Econômico e Social para apreciação. Note-se que este Conselho estabeleceu um 
Comitê sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais para examinar os relatórios (a função deste 
comitê é análoga à função do Comitê de Direitos Humanos, instituído pelo Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos). 
Este pacto NÃO estabelece o mecanismo de comunicação interestadual, TAMPOUCO permite 
a sistemática das comunicações individuais, mediante protocolo facultativo, embora a 
Declaração de Viena tenha recomendado a incorporação do direito de petição a esse Pacto, 
mediante a adoção de protocolo adicional. 
Da obrigação da progressividade na implementação dos direitos econômicos, sociais e culturais 
decorre a chamada cláusula de proibição do retrocesso social, na medida em que é vedado aos 
Estados retroceder no campo da implementação desses direitos. 
Vale dizer, a progressividade dos direitos econômicos, sociais e culturais proíbe o retrocesso ou a 
redução de políticas públicas voltadas à garantia de tais direitos. Além disso, sob a ótica normativa 
internacional. Está definitivamente superada a concepção de que os direitos sociais, econômicos e 
culturais não são direitos legais. 
Tais direitos são autênticos e verdadeiros direitos fundamentais. Integram não apenas a Declaração 
Universal e o Pacto sob comento, como ainda inúmeros outros tratados internacionais. A obrigação 
de implementar esses direitos deve ser compreendida à luz do princípio da indivisibilidade dos 
direitos humanos. 
Devem os Estados, de acordo com o Comitê dos Direitos econômicos, sociais e culturais: respeitar, 
proteger e implementar (respectivamente: obsta que o estado viole tais direitos, cabe ao Estado 
evitar e impedir que terceiros violem estes direitos e, por fim, o Estado tem a obrigação de adotar 
medidas voltadas à realização destes direitos). 
 A idéia de proteção a esses direitos envolve a crença de que o bem-estar individual resulta, em 
parte, de condições econômicas, sociais e culturais, nas quais todos nós vivemos, bem como 
envolve a visão de que o Governo tem a obrigação de garantir adequadamente tais condições para 
todos os indivíduos. 
Trata-se de uma idéia acolhida, ao menos em âmbito geral, por todas as nações, ainda que exista 
uma grande discórdia acerca do intuito apropriado da ação e responsabilidade governamental e da 
forma pela qual o social welfare pode ser alcançado em sistemas econômicos e políticos 
específicos. Flávia Piovesan acredita que a idéia de não-acionabilidade dos direitos sociais é 
meramente ideológica e não científica. 
É uma pré-concepção que reforça a equivocada noção de que uma classe de direitos merece 
reconhecimento e respeito (direitos civis e políticos), enquanto outra classe não merece qualquer 
reconhecimento (direitos econômicos, sociais e culturais). Compartilha, portanto, da noção de que 
os direitos fundamentais – sejam civis e políticos, sejam sociais, econômicos e culturais – são 
acionáveis e demandam seria e responsável observância. Sob o ângulo pragmático, no entanto, a 
comunidade internacional continua a tolerar frequentesviolações aos direitos sociais, econômicos e 
culturais que, se perpetradas em relação aos direitos civis e políticos, provocariam imediato repúdio 
internacional. 
Em geral, a violação aos direitos sociais, econômicos e culturais é resultado tanto da ausência de 
forte suporte e intervenção governamental como da ausência de pressão internacional em favor 
dessa intervenção. É, portanto, um problema de ação e prioridade governamental e implementação 
de políticas públicas que sejam capazes de responder a graves problemas sociais. Acrescente-se que 
a globalização tem agravado ainda mais as desigualdades sociais, aprofundando as marcas da 
pobreza absoluta e da exclusão social. 
 
16 
 
 Pacto Internacional de Direitos Civis e 
Políticos 
Pacto Internacional de Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais 
 
Amplitude 
 
Compreende um rol de direitos mais extensos 
do que o da DUDH. São auto- aplicáveis. 
 
Compreende um rol de direitos mais 
extensos do que o da DUDH. Devem 
ser realizados progressivamente. 
 
Sistemática de 
Monitoramento 
 
Comitê de Direitos Humanos (criado pelo 
Pacto) – sua decisão não tem força vinculante 
e não há sanção efetiva para o Estado que não 
a cumpre, apenas no plano político. 
Comitê sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais (criado pelo 
Conselho Econômico e Social). 
 
Sistemática de 
implementação 
 
Relatórios, comunicações interestatais5 (ambos 
dispostos no próprio Pacto) e petições 
individuais (Protocolo Facultativo)6. 
É peculiar, pois prevê apenas o 
mecanismo dos relatórios. Há também o 
sistema de indicadores, estabelecido 
pela Declaração de Viena de 1993. 
 
Protocolos 
Protocolo Facultativo: estabelece o mecanismo 
de petições individuais. Segundo Protocolo: 
estabelece a abolição da pena de morte. 
 
Protocolo Facultativo: estabelece o 
mecanismo de petições individuais. 
Contudo, só entrará em vigor após o 
depósito do décimo instrumento de 
ratificação do protocolo7. 
 
 
4.4. SISTEMA ESPECIAL DE PROTEÇÃO GLOBAL Demais convenções internacionais de 
direitos humanos – breves considerações: 
É importante ressaltar que os Comitês têm competência para avaliar comunicações que contenham 
violação a direito disposto apenas na Convenção que o criou. A competência dos Comitês para 
receber petições individuais está vinculada à declaração feita em separado pelo Estado (no caso da 
petição individual estar prevista na própria Convenção) ou pela ratificação do Protocolo Facultativo. 
Esses pontos são relevantes, uma vez que demonstram a diferença entre os mecanismos 
convencionais de proteção dos direitos humanos e os mecanismos não-convencionais, tendo em 
vista que em relação ao último, a apresentação de denúncias por indivíduos ou grupos de indivíduos 
aos Comitês não depende da ratificação de convenções específicas nem de declaração relativa a 
cláusulas facultativas ou de ratificação de protocolo adicional. Ainda, a denúncia pode versar sobre 
qualquer direito humano. 
Quanto ao Brasil, a aula deverá destacar que o mesmo não reconheceu a competência tanto do 
Comitê dos Trabalhadores Migrantes quanto do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
para receber petições individuais, tendo em vista que não ratificou os instrumentos que prevêem tal 
mecanismo - respectivamente, a Convenção sobre a Proteção dos Direitos dos Trabalhadores 
Migrantes e dos Membros de suas Famílias e o Protocolo Adicional ao PIDESC. 
 
 
 
5
 O Comitê só poderá apreciar a comunicação interestatal caso os dois Estados envolvidos tiverem feito uma declaração em separado, 
tendo em vista que o acesso a este mecanismo é opcional. 
6
 Para que um indivíduo possa encaminhar uma petição individual, o Estado deve ter ratificado tanto o PIDCP quanto o Protocolo 
Facultativo. O Comitê de Direitos Humanos concluiu que não apenas o indivíduo que sofreu a violação, mas também ONG e 
terceiros podem representá-lo e, assim, encaminhar comunicações. Ainda, para que uma petição individual seja interposta, faz-se 
necessário o cumprimento dos requisitos de admissibilidade: prévio esgotamento dos recursos internos (salvo por demora injustifi 
cada, ine- xistência do devido processo legal ou impossibilidade de acesso, pela vítima, aos recursos internos) e inexistência de 
litispendência no plano internacional. 
7
 Adotado pela Assembléia Geral 37 através da Resolução n. 63/117, em 10.12.2008. Até janeiro de 2010, 31 países tinham assinado 
o protocolo, mas nenhum o havia ratificado. 
17 
 
1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial. 
 Adotada pela ONU em 21 de dezembro de 1965. 
Sistemática de monitoramento e implementação: situa-se como o primeiro instrumento jurídico 
internacional sobre direitos humanos a introduzir mecanismo próprio de supervisão. A Convenção 
instituiu o Comitê sobre a Eliminação da Discriminação racial, ao qual cabe examinar as petições 
individuais, os relatórios encaminhados pelos Estados-partes e as comunicações interestatais. No 
que se refere às petições individuais, é necessário que o Estado faça uma declaração habilitando o 
Comitê a recebê-las e examiná-las, já que nesses instrumentos internacionais o direito de petição é 
previsto sob a forma de cláusula facultativa. A petição individual deve levar a conhecimento do 
Comitê denúncia de violação de direito previsto na Convenção contra a Discriminação Racial. 
Para que seja declarada admissível, a petição deve também responder a determinadas requisitos, 
dentre eles o esgotamento prévio dos recursos internos (exceto se os remédios se mostrarem 
ineficazes ou injustificadamente prolongados). O Comitê serve então do mesmo procedimento 
utilizado pelo Comitê de Direitos Humanos: solicita informações e esclarecimentos ao Estado 
violador e, à luz de todas as informações colhidas, formula sua opinião, fazendo recomendações às 
partes. O Estado é então convidado a informar o Comitê a respeito das ações e medidas adotadas, 
em cumprimento às recomendações feitas pelo Comitê. A decisão do Comitê é destituída de força 
jurídica obrigatória ou vinculante. Todavia, é publicada no relatório anual elaborado pelo Comitê, 
que é, por sua vez, encaminhado à Assembléia Geral da ONU. 
 
2. Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher. 
 Foi adotada pela ONU em 1979. 
Mecanismos de monitoramento e implementação da Convenção: estabelece um Comitê próprio, 
que, todavia, tinha sua competência limitada à apreciação de relatórios encaminhados pelos 
Estados- partes. O único mecanismo de monitoramento previsto por esta Convenção reduzia-se aos 
relatórios elaborados pelos Estados-partes. Apenas em 1999, com o Protocolo Facultativo à 
Convenção, é que a competência do Comitê foi ampliada para receber e examinar petições 
individuais, bem como para realizar investigações in loco. Portanto, o Protocolo instituiu dois 
mecanismos de monitoramento: a) mecanismo da petição, que permite o encaminhamento de 
denúncias de violação de direitos enunciados na Convenção à apreciação do Comitê sobre a 
Eliminação da Discriminação contra a Mulher; b) procedimento investigativo, que habilita o Comitê 
a investigar a existência de grave e sistemática violação aos direitos humanos das mulheres. Para 
acionar esses mecanismos de monitoramento, é necessário que o Estado tenha ratificado o Protocolo 
Facultativo, o qual entrou em vigor em 22 de dezembro de 2001. 
3. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou 
Degradantes. 
Adotado pela ONU em 28 de setembro de 1984. 
Sistema de monitoramento e implementação: estabelece os três mecanismos já analisados: a) 
Petições individuais; b) Relatórios; c) Comunicações interestatais. Exige-se que o Estado-parte façauma declaração habilitando o Comitê contra a Tortura a receber as comunicações individuais e as 
interestatais, sob pena de não se admitir o encaminhamento de comunicações ao Comitê. 
 
4. Convenção sobre os Direitos das Crianças. 
Adotada pela ONU em 1989, e vigente desde 1990, é o tratado internacional de proteção de direitos 
humanos com o mais elevado numero de ratificações. 
18 
 
Em 25 de maio de 2000 foram adotados dois protocolos facultativos à Convenção dos Direitos das 
Crianças: 
♦ Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis: impõe aos 
Estados-partes a obrigação de proibir a venda de crianças, a prostituição e a pornografia infantis. 
Exige, ainda, em seu art. 3º, que os Estados-partes promovam, como medida mínima, a 
criminalização dessas condutas. 
♦ Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados: estabelece, em 
seu art. 1º, que os “Estados-partes devem tomar todas as medidas possíveis para assegurar que os 
membros de suas forças armadas, que não tenham atingido a idade de 18 anos, não participem 
diretamente em disputas”, estendendo essa proibição, em seu art. 4º, à participação em qualquer 
grupo armado. 
Sistema de monitoramento e implementação: Quanto ao mecanismo de controle e fiscalização 
dos direitos enunciados na Convenção, é instituído o Comitê sobre os Direitos da Criança, ao qual 
cabe monitorar a implementação da Convenção, por meio do exame de relatórios periódicos 
encaminhados pelos Estados-partes. 
De acordo com o art. 44 da Convenção, o Comitê fica autorizado a requerer, também no 
concernente à matéria dos Protocolos, maiores informações sobre aquela implementação. Portanto, 
a Convenção prevê tão-somente a sistemática dos relatórios, mediante os quais devem os Estados-
partes esclarecer as medidas adotadas em cumprimento à Convenção. Não inovam os Protocolos 
Facultativos à Convenção, na medida em que não introduzem a sistemática das petições ou de 
comunicações interestatais. 
 
5. Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores 
Migrantes e dos Membros das suas Famílias. 
 Foi adotada em 18 de dezembro de 1990, tendo entrado em vigor em 1º de julho de 2003. 
Sistema de monitoramento e implementação: a Convenção estabelece a sistemática de relatórios 
a serem elaborados periodicamente pelos Estados-partes, contemplando medidas legislativas, 
judiciais, administrativas e de outra natureza voltadas à implementação da Convenção, em 
conformidade com o art. 73. Por meio de cláusulas facultativas, são previstos mecanismos das 
comunicações interestatais e das petições individuais, nos termos dos arts. 76 e 77 respectivamente. 
 
6. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 
 Foi adotado pela ONU em 13 de dezembro de 2006. 
Sistema de monitoramento e implementação: Quanto aos mecanismos de monitoramento, a 
Convenção estabelece tão-somente a sistemática de relatórios a serem elaborados periodicamente 
pelos Estados-partes (art. 35). 
Por meio de um Protocolo Facultativo à Convenção, também adotado em 13 de dezembro de 2006, 
é reconhecida a competência do referido Comitê para receber e considerar petições de indivíduos ou 
grupos de indivíduos vítimas de violação por um Estado-parte dos direitos previstos nesta 
Convenção. Em caso de graves e sistemáticas violações de direitos por um Estado-parte, poderá o 
Comitê realizar investigações in loco, com a prévia anuência do Estado, de acordo com o art. 6º do 
Protocolo. 
 
 
 
19 
 
5. SISTEMA REGIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
O SISTEMA INTERAMERICANO 
O sistema internacional de proteção dos direitos humanos pode apresentar diferentes âmbitos de 
aplicação. Daí falar nos sistemas global e regional de proteção dos direitos humanos. Todos os 
instrumentos analisados no capítulo anterior integram o sistema global de proteção, o qual não se 
limita a determinada região, podendo alcançar, em tese, qualquer Estado integrante da ordem 
internacional, a depender do consentimento do Estado no que se atém aos instrumentos 
internacionais de proteção. 
Ao lado do sistema global, surgem os sistemas regionais de proteção, que buscam internacionalizar 
os direitos humanos no plano regional, particularmente na Europa, América e África. “Enquanto o 
sistema global de proteção dos direitos humanos geralmente sofre com a ausência de uma 
capacidade sancionatória que têm os sistemas nacionais, os sistemas regionais de proteção dos 
direitos humanos apresentam vantagens comparativamente ao sistema da ONU: podem refletir com 
maior autenticidade as peculiaridades e os valores históricos de povos de uma determinada região, 
resultando em uma aceitação mais espontânea e, devido à aproximação geográfica dos Estados 
envolvidos, os sistemas regionais têm a potencialidade de exercer fortes pressões em face de 
Estados vizinhos, em caso de violações. (...) Um efetivo sistema regional pode consequentemente 
complementar o sistema global em diversas formas” (Christof Heyns e Frans Viljoen). 
Cada um dos sistemas regionais de proteção apresenta um aparato jurídico próprio. O sistema 
interamericano tem como principal instrumento a Convenção Americana de Direitos 
Humanos de 1969, que estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte 
Interamericana. 
Note-se que, dos três sistemas regionais (europeu, americano e africano), o europeu é o mais antigo 
e o mais avançado. Ele estabeleceu mecanismo judicial compulsório para apreciar as comunicações 
individuais, por meio da jurisdição da Corte Européia de Direitos Humanos. O sistema mais 
incipiente é o africano, já que a África revela ainda uma história recente de regimes opressivos e de 
graves violações aos direitos humanos. 
Quanto à convivência dos sistemas global e regional, podemos afirmar que não são 
dicotômicos, mas, ao revés, são úteis e complementares. As duas sistemáticas podem ser 
conciliadas em uma base funcional: o conteúdo normativo de ambos os instrumentos internacionais, 
tanto global como regional, deve ser similar em princípios e valores, refletindo a Declaração 
Universal de Direitos Humanos, que é proclamada como um código comum a ser alcançado por 
todos os povos e todas as Nações. 
O instrumento global deve conte um parâmetro normativo mínimo, enquanto que o instrumento 
regional deve ir além, adicionando novos direitos, aperfeiçoando outros, levando em consideração 
as diferenças peculiares em uma mesma região ou entre uma região e outra. 
Diante desse universo de instrumentos internacionais, cabe ao indivíduo que sofreu violação de 
direito escolher o aparato mais favorável, tendo em vista que, eventualmente, direitos 
idênticos são tutelados por dois ou mais instrumentos de alcance global ou regional, ou, ainda, 
de alcance geral ou especial. E, assim, no domínio da proteção dos direitos humanos, a 
primazia é a da norma mais favorável à vitima. 
O propósito da coexistência de distintos instrumentos jurídicos – garantindo os mesmos direitos – é, 
pois, ampliar e fortalecer a proteção dos direitos humanos. O que importa é o grau de eficácia da 
proteção, e, por isso, deve ser aplicada a norma que no caso concreto melhor proteja a vítima. 
Com base nesses elementos introdutórios, buscar-se-á compreender o sistema regional de proteção 
dos direitos humanos. A análise se limitará ao sistema interamericano de proteção, uma vez que é o 
sistema que se aplica diretamente ao caso brasileiro. Note-se que o sistema interamericano consiste 
em dois regimes: um baseado na Convenção Americana e o outro baseado na Carta da Organização 
20 
 
dos Estados Americanos. Contudo, nos concentraremos apenas no regime instaurado pela 
Convenção Americana de Direitos Humanos. 
 
5.1. ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA INTERAMERICANO: A CONVENÇÃO 
AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 
 
Em se tratandodo sistema interamericano, o mesmo tem como origem a IX Conferência 
Interamericana, realizada em Bogotá, Colômbia, de 51 30 de março a 2 de maio de 1948, 
oportunidade na qual foram aprovadas a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem e 
a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA). 
Sendo assim, no período que antecede a adoção da Convenção Americana de Direitos Humanos, a 
Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem foi a base normativa central do sistema 
interamericano e, até hoje, continua sendo a principal base normativa dos Estados não-partes da 
Convenção. 
Após a adoção da Carta da OEA e da Declaração Americana, o sistema interamericano foi se 
desenvolvendo lentamente. O primeiro passo foi a criação de um órgão especializado na proteção 
dos direitos humanos no âmbito da OEA. Em 1959, durante a 5ª reunião de consultas dos Ministros 
de Relações Exteriores realizada em Santiago do Chile, foi aprovada a proposta de criação de um 
órgão destinado à promoção dos direitos humanos (mais tarde denominado Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos) até a adoção de uma Convenção Interamericana de 
Direitos Humanos. 
Em 1960, foi aprovado pelo Conselho da OEA o Estatuto da Comissão, que confirmou ser a 
promoção dos direitos humanos a função da Comissão. Em 1965, com as modificações ocorridas 
em seu Estatuto, a Comissão se transformou em um órgão de fiscalização da situação dos direitos 
humanos nos Estados da OEA. No entanto, a mesma só se tornou o principal órgão da OEA após a 
adoção do Protocolo de Buenos Aires em 1967, que emendou a Carta da OEA. 
A Convenção Americana de Direitos Humanos tornou-se assim o principal instrumento de proteção 
regional do Sistema Interamericano. Ela é também denominada de Pacto de San José da Costa Rica, 
foi assinada em San José, Costa Rica, em 1969, tendo entrado em vigor em 1978. 
Apenas os Estados membros da OEA – Organização dos Estados Americanos têm o direito de 
aderir à Convenção Americana. 
Ela reconhece e assegura um catálogo de direitos civis e políticos similar ao previsto pelo Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos, a exemplo de que podemos citar: � Direito à 
personalidade jurídica � Direito à vida � Direito a não ser submetido à escravidão � Direito à 
liberdade � Direito a um julgamento justo � Direito à compensação em caso de erro judiciário � 
Direito à privacidade � Direito à liberdade de consciência e religião � Direito à liberdade de 
pensamento e expressão � Direito à resposta � Direito à liberdade de associação � Direito ao 
nome � Direito à nacionalidade � Direito à liberdade de movimento e residência � Direito de 
participar do governo � Direito à igualdade perante a lei � Direito à proteção judicial. 
 A Convenção Americana não enuncia de forma específica qualquer direito social, cultural ou 
econômico; limita-se a determinar aos Estados que alcance, progressivamente, a plena realização 
desses direitos, mediante a adoção de medidas legislativas e outra que se mostrem apropriadas (art. 
26). 
Com a adoção da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Convenção Americana) ou Pacto 
de San José da Costa Rica, em 1969 (entrou em vigor apenas em 1978), criou-se a Corte 
Interamericana de Direitos Humanos e a Comissão passou a ser dotada de novas atribuições. 
Curiosidade: Estados Unidos não ratificou. Canadá, Cuba, Bahamas, Guiana não participam. 
21 
 
5.1.1 PROTOCOLOS ADICIONAIS A CONVENÇÃO AMERICANA. 
Primeiro protocolo 
Em 1988 foi adotado o Protocolo Adicional à Convenção Americana em matéria de Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Sal- vador), documento este que entrou em vigor 
em novembro de 1999. Expressão de um movimento de conscientização para uma proteção mais 
efetiva aos DHESCs, o Protocolo de San Salvador dispõe acerca da possibilidade de se enviar 
petição individual acerca do direito à educação e de alguns aspectos dos direitos sindicais à 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Comissão), bem como de apresentar relatórios 
periódicos. Saliente-se, por oportuno, que o referido Protocolo define o alcance de alguns DHESCs, 
como, por exemplo, o direito à seguridade social (artigo 9), o direito a condições justas, equitativas 
e satisfatórias de trabalho (art. 7) e o direito a um meio ambiente sadio (artigo 11). Embora o 
sistema interamericano de proteção dos direitos humanos tenha se concentrado na defesa dos 
direitos civis e políticos, tanto a Comissão quanto a Corte Interamericana de Direitos Humanos têm 
reconhecido, em seus respectivos âmbitos de competência, o caráter fundamental dos DHESCs. O 
Segundo Protocolo Adicional 
O segundo Protocolo Adicional à Convenção Americana é relativo à abolição da pena de morte 
(1990), dando um passo adiante no que concerne o disposto no artigo 4.2 a 4.6 da Convenção 
Americana. Este Protocolo, ao estabelecer que os Estados-partes não podem aplicar em seu 
território a pena de morte a nenhuma pessoa sujeita a sua jurisdição, deu novo ímpeto à tendência a 
favor da abolição da pena de morte, não admitindo, portanto, reservas (salvo em tempo de guerra). 
Em face desse catálogo de direitos, cabe ao Estado-parte a obrigação de respeitar e assegurar o livre 
e pleno exercício desses direitos e liberdades, sem qualquer discriminação, bem como adotar todas 
as medidas legislativas e de outra natureza que sejam necessárias para conferir efetividade aos 
direitos e liberdades enunciados (arts. 1º e 2º da Convenção). Portanto, os Estados têm deveres 
positivos e negativos, ou seja, eles têm a obrigação de não violar os direitos garantidos pela 
Convenção e têm o dever de adotar as medidas necessárias e razoáveis para assegurar o pleno 
exercício desses direitos. 
A Convenção Americana estabelece um aparato de monitoramento e implementação dos direitos 
que enuncia, o qual é integrado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte 
Interamericana. 
 
5.2 SISTEMA DE MONITORAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO: Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana. 
 
5.2.1. A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH) 
A competência da CIDH alcança todos os Estados-partes da Convenção Americana, relativamente 
aos direitos humanos nela consagrado e, ainda, todos os Estados-membros da OEA, em relação aos 
direitos consagrados na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948. 
É composta por 7 membros que podem ser nacionais de qualquer Estado-membro da OEA, sendo 
eleitos, a título pessoal, pela Assembleia Geral por um período de 4 anos, podendo ser reeleitos 
apenas uma vez. A principal função da CIDH é promover a observância e a proteção dos direitos 
humanos na América. 
Para tanto, cabe à Comissão: 
� Fazer recomendações aos governos dos Estados-partes, prevendo a adoção de medidas adequadas 
à proteção desses direitos; 
� Preparar estudos e relatórios que se mostrem necessários; 
22 
 
� Solicitar aos governos informações relativas às medidas por eles adotadas concernentes à efetiva 
aplicação da Convenção; e 
� Submeter um relatório anual à Assembléia Geral da OEA* (diferentemente do que costuma 
ocorrer no sistema global, no qual cabe aos Estados-partes o dever de elaborar relatórios). 
*A CIDH elabora dois tipos de informes: um sobre a situação dos direitos humanos em determinado 
país, que é decidido pela própria Comissão ante situações que afetem gravemente a vigência dos 
direitos humanos; e outro que encaminha anualmente à Assembléia Geral, que atualizam a situação 
dos direitos humanos em distintos países, apresentam o trabalho da Comissão, elencam as 
resoluções adotadas com respeito a casos particulares e revelam a opinião da Comissão sobre as 
áreas nas quais é necessário redobrar esforços e propor novas normas. 
É também competência da Comissão examinar comunicações, encaminhadas por indivíduo ou 
grupos de indivíduos, ou ainda

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