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LIVRO 3 Filosofia

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Licenciatura em História
Filosofia
Salvador
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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ELABORAÇÃO
Márcia de Freitas Cordeiro
REVISÃO
Paulo César da Silva 
DIAGRAMAÇÃO
Nilton Rezende
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). 
Catalogação na Fonte
BIBLIOTECA DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – UNEB
CORDEIRO, Márcia de Freitas.
C794 Filosofia - licenciatura em história / Márcia de Freitas Cordeiro. Salvador: UNEB/
 EAD, 2009. (Educação e tecnologias da informação e comunicação). 2ª Edição 
 48p.
 Licenciamento em história.
 Inclui referências.
 1.Filosofia .2. Ética 3. Mitologia grega 4. Razão. I. Título II. Curso de graduação em
 História III. Universidade aberta do Brasil IV. UNEB /NEAD
 CDD: 109
EAD
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Dilma Roussef
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
PRESIDENTE DA CAPES
Jorge Guimarães
DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES
João Teatini
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
GOVERNADOR
Jaques Wagner
VICE-GOVERNADOR
Edmundo Pereira Santos
SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Osvaldo Barreto Filho
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
REITOR
Lourisvaldo Valentim da Silva
VICE-REITORA
Adriana dos Santos Marmori Lima
PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
José Bites de Carvalho
COORDENADOR UAB/UNEB
Silvar Ferreira Ribeiro 
COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO
Daniel de Cerqueira Góes
EAD
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Caro(a) cursista, 
Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem estruturamos 
este material didático que atenderá aos cursos de Licenciatura na modalidade à distância.
O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da área, 
pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar conhecimento teórico-prático de maneira contextualizada, 
fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos envolvidos com a disciplina em 
questão. Cabe Salientar porém, que esse não deve ser o único material a ser utilizado na disciplina, além dele, o Ambiente Vir-
tual de Aprendizagem (AVA) , as Atividades propostas pelo Professor Formador e pelo Tutor, as Atividades Complementares, 
os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso somado compõe os estudos relacionados a EAD.
É importante também que vocês estejam sempre atentos a caixas de diálogos e ícones específicos. Eles aparecem du-
rante todo o texto e têm como objetivo principal, dialogar com o leitor afim de que o mesmo se torne interlocutor ativo desse 
material. São objetivos dos ícones em destaque:
VOCÊ SABIA – convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou informações 
relevantes que podem ser associadas à discussão proposta.
SAIBA MAIS – apresenta notas ou aprofundamento da argumentação em desenvolvimento no texto, trazendo con-
ceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliem a compreender melhor o conteúdo abordado;
INDICAÇÃO DE LEITURAS – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles, você 
poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros olhares e interpreta-
ções sobre aquele tema.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES – consistem em condições de atividades para você realizar autonomamente em seu 
processo de auto-estudo. Estas atividades podem (ou não) vir a ser aproveitadas pelo professor-formador como 
instrumentos de avaliação, mas o objetivo primeiro delas é provocá-lo, desafiá-lo em seu processo de auto-apren-
dizagem.
Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entusiasmo 
para, juntos, desenvolvermos uma prática pedagógica significativa. 
SETOR DE MATERIAL DIDÁTICO
COORDENAÇÃO UAB/UNEB
?? VOCÊ SABIA?
??? ??? SAIBA MAIS
INDICAÇÃO DE LEITURA
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
SUMÁRIO
1. Componente Curricular 11
1.1 Ementa 11
1.2 Objetivos 11
1.2.1 Geral 11
1.2.2 Específicos 11
1.3 Carga Horária 11
2. Conceituando a Filosofia 12
2.1 Teses sobre a origem da Filosofia 12
2.2 Condições históricas para o nascimento da Filosofia 12
3. A Mitologia Grega 14
4. Os pré-socráticos 16
5. Os sofistas 19
6. Sócrates 21
7. Platão 23
7.1 O Mito da Caverna 23
8. Aristóteles 26
9. A razão como fundante da Filosofia 28
9.1 Razão na época cristã e no medievo 28
9.1.1 A Patrística 28
9.1.2 A Escolástica 29
9.2 Razão na modernidade 29
9.2.1 Racionalismo 29
9.2.2 O Empirsimo 31
9.2.3 Outras Possibilidades para a Razão na Modernidade 32
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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10. A verdade como lastro da Filosofia 35
11. A ética como temática filosófica 36
11.1 A questão moral 38
11.2 A questão da liberdade 38
11.3 Ética aplicada 39
12. A política como aporte da Filosofia 41
12.1 A democracia e a questão democrática no Brasil 43
REFERÊNCIAS 53
HISTÓRIA
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1111UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
1. COMPONENTE CURRICULAR 
Filosofia é um componente curricular do primeiro se-
mestre do Curso de Licenciatura em História, fazendo 
parte do eixo geral e instrumental deste curso. Nesta 
disciplina, serão trabalhados conceitos, discussões e 
teorias filosóficas, bem como temáticas que são per-
tinentes ao universo filosófico. Assim, será possível 
compartilhar conhecimentos sobre a conceituação da 
própria Filosofia e seus filósofos, situando-os dentro 
do contexto da origem, do fundante e do lastro deste 
conhecimento. 
1.1 Ementa 
A descoberta do fazer filosófico por meio da apre-
sentação discutida das conceituações mais gerais 
da Filosofia e da metodologia filosófica bem como de 
um esboço histórico desenvolvido sob o prisma das 
questões filosóficas que se impuseram temporalmente 
do pensamento grego ao contemporâneo. Tendências 
da Filosofia Moderna, Medieval e Contemporânea, de-
senvolvidas sob o prisma das suas relações com out-
ras ciências, sobretudo, com a História.
1.2 Objetivos
1.2.1 Geral 
Refletir sobre o desenvolvimento das correntes filosó-
ficas no Ocidente, enfatizando a influência da Filoso-
fia clássica na constituição do pensamento contem-
porâneo e sua importância para a compreensão da 
natureza e da sociedade humanas, bem como para o 
desenvolvimento de princípios libertários e éticos na 
prática pedagógica e no cotidiano.
1.2.2 Específicos
 Inserir o aluno na questão da existência do pensa-
mento filosófico, no que diz respeito aos seus prin-
cípios, dando enfoque à filosofia antiga, destacando 
seus campos de investigação;
 Introduzir o aluno na compreensão da razão como fun-Introduzir o aluno na compreensão da razão como fun-
dante da filosofia, através de seus princípios e teorias; 
 Trazer a verdade como lastro filosófico, discutindo 
e mostrando algumas concepções filosóficas sobre a 
mesma;
 Apresentar as questões da ética como temática 
filosófica por excelência, com destaque para a com-
preensão sobre a liberdade como problema filosófico;
 Discutir os aspectos da política como aporte da filo-Discutir os aspectos da política como aporte da filo-
sofia, na reflexão crítica sobre sua origem, finalidade 
e a questão democrática; 
 Destacar os aspectos da filosofia no Brasil, dando 
ênfase a uma reflexão crítica sobre o própriopen-
samento brasileiro, sua importância social e sua rela-
ção com a questão democrática brasileira. 
1.3 Carga Horária
A carga horária total do componente curricular é de 60 
horas/aula.
12 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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2. CONCEITUANDO A FILOSOFIA 
Para se pensar numa conceituação da Filosofia, a 
primeira coisa a se fazer é entender a origem desta pa-
lavra, em seguida sua origem e as condições históricas 
que levaram ao seu acontecimento. Assim, a Filosofia 
é uma palavra composta por filo - que vem de philía, 
amizade, e sofia – que vem de sophía, sabedoria, 
formando philosophía, que significa, então, amizade 
pela sabedoria ou amor pelo saber. Logo, o filósofo é 
aquele que tem, que possui, amizade, amor pelo saber; 
é aquele(a) que ama ser um sábio ou que indica uma 
disposição interior de quem estima o saber. 
Enquanto palavra, se afirma que Pitágoras de Samos 
foi o seu autor. Porém, ele não foi o primeiro filósofo. Os 
historiadores afirmam que o primeiro filósofo foi Tales 
de Mileto. Para Pitágoras, ele dizia que a sabedoria plena 
das coisas pertencia aos deuses, mas aos homens era 
possível desejar, amar este saber, para tornarem-se um 
filósofo. 
?? VOCÊ SABIA?
Tanto em Tales como em Pitágoras, os sobrenomes eram os 
nomes das cidades de origem deles. Pitágoras era da cidade 
de Samos e Tales da cidade de Mileto. Eram assim os nomes 
dos primeiros filósofos. 
Os historiadores também afirmam que a Filosofia nasceu no 
final do século VII a.C. e início do século VI a.C., nas colônias 
gregas da Ásia Menor, como ilustra o mapa abaixo: 
Há opiniões diferentes entre os historiadores sobre 
a origem da Filosofia e, assim, discute-se se este co-
nhecimento foi um ato espontâneo dos gregos, como 
algo genuíno a este povo. Portanto, apenas ocidental, 
ou se teve contribuições e influência de outros povos 
orientais; se a Filosofia é resultante do afastamento 
deste pensamento das explicações mitológicas e re-
ligiosas, tornando-se um pensamento racional para 
explicar a origem das coisas no mundo. Por conta disto, 
discutiremos o tópico seguinte destacando se é ou não 
originária apenas dos gregos.
2.1 Teses sobre a Origem da Filosofia
Pensar na Filosofia como única e exclusivamente orig-
inária dos gregos, visão esta que se chama de “milagre 
grego”, nos leva a uma afirmação etnocêntrica, ou 
seja, a concordar que os gregos são um povo social-
mente mais importante do que os demais. Na verdade, 
avançadas as pesquisas, afirma-se que a origem da 
Filosofia é resultante de:
 Mudanças produzidas sobre o que se herdou de co-
nhecimentos de outras civilizações, como a geometria 
(produzida pelos egípcios e fenícios), que os gregos 
transformaram em matemática, a astrologia (produzida 
pelos babilônicos), que eles transformaram em astrono-
mia, o que levou a um pensamento racional sistemático;
 Mudanças na organização social através do surgi-
mento da cidade ou pólis em grego, que culmina na in-
venção da política, porque, com este advento, debates e 
decisões públicas se configuraram em expressão da vida 
coletiva. Dessa forma, houve a separação do poder pú-
blico, do poder privado e do poder religioso, deslocando 
as decisões para a argumentação, sem a submissão à 
autoridade alguma;
 Um deslocamento das explicações sobre a origem 
das coisas, ou seja, uma racionalização das explicações 
mitológicas, que trataremos no tópico sobre a Mitologia 
Grega. 
Devemos entender então, que a origem da Filosofia se 
constituiu como um “milagre” para o pensamento oci-
dental, se considerarmos a contribuição e conseqüências 
nas diversas áreas do conhecimento. 
2.2 Condições Históricas
Falar sobre as condições históricas que levaram ao 
nascimento da Filosofia é falar de condições econômi-
cas, sociais e políticas. Entre as muitas citaremos as 
seguintes:
 As viagens marítimas, as navegações, que produzi-
ram o desencantamento, desmistificação do mundo, 
não permitindo que a explicação mitológica sobre a 
realidade fosse suficiente;
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13UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
 O despertar para um pensamento abstrato a partir 
do surgimento do calendário, da moeda e da escrita;
 A política, sendo esta a mais importante de todas, 
pois como dito no tópico sobre a origem da Filosofia, 
a política traz a palavra como algo partilhado, não 
mais solitária, mas como algo público. Sendo assim, 
há o surgimento de debates, através de discursos 
com capacidade argumentativa, que levam a decidir 
sobre as questões da cidade, refutando os argumen-
tos sem fundamento e fazendo valer os argumentos 
mais lógicos. 
?? VOCÊ SABIA?
Política é uma palavra que se origina da palavra grega pólis, 
que significa cidade ou ainda reunião dos cidadãos em seu 
território e sob suas leis. 
Esclarecidos a origem e as condições históricas 
que levaram ao surgimento da Filosofia, vamos agora 
para uma conceituação deste conhecimento tão espe-
cífico. Inicialmente, esclareceremos que a Filosofia não 
é e nem pode ser visão de mundo, pois isto incorreria 
numa limitação do eu que fala, para uma generalização 
de valores, ideias, entre outros; sabedoria de vida, pois 
está aqui o que se pode resultar o ato de filosofar, mas 
não o que a Filosofia é ou esforço para compreensão 
de tudo que está no mundo na sua totalidade, pois 
desta forma, teria, obrigatoriamente, de esclarecer 
tudo que existe no mundo.
A Filosofia é um exercício do pensamento para 
questionar se as coisas são do jeito que parecem, 
porque são de um jeito e não de outro e como 
são, levando o pensamento a romper com os pré-
conceitos e pré-juízos, sendo isto a nossa primeira 
atitude filosófica, que traz uma reflexão, uma análise e 
uma visão crítica sobre a realidade. Assim, podemos 
conceituar a Filosofia ou o filosofar como sendo: 
[...] uma análise (das condições e princípios do saber e da 
ação, isto é, dos conhecimentos, da ciência, da religião, da 
arte, da moral, da política e da história), uma reflexão (volta 
do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se como ca-
pacidade para o conhecimento, a linguagem, o sentimento e 
a ação) e uma crítica (avaliação racional para discernir entre 
a verdade e a ilusão, a liberdade e a servidão, investigando 
as causas e condições das ilusões e dos preconceitos indi-
viduais e coletivos, das ilusões e dos enganos das teorias e 
práticas científicas, políticas e artísticas, dos preconceitos 
religiosos e sociais, da presença e difusão de formas de 
irracionalidade contrárias ao exercício do pensamento, da 
linguagem e da liberdade) (CHAUÍ, 2003, p. 23).
A Filosofia nasce através da reflexão, análise e 
crítica, da qual emitimos juízos, de forma que nossos 
pré-conceitos e pré-juízos sejam rompidos, permitin-
do a todos um exame detalhado dos valores, costu-
mes, comportamentos, conhecimentos, das ideias, 
das teorias, ou seja, de tudo que forma e estrutura de 
nossa sociedade, para que nossa capacidade de ver e 
pensar o mundo seja ampliada e traga possibilidades 
de escolhas, tornando os sujeitos autônomos para 
a vida. Em síntese, a Filosofia é um conhecimento 
racional que se direciona para a verdade.
Enfim, a Filosofia nasce como uma explicação 
racional sobre as coisas do mundo, como uma cos-
mologia ou um pensamento racional sobre o mundo, 
porque esta palavra vem de duas palavras gregas 
kósmos, cosmos, que significa mundo organizado e 
ordenado, e lógos, logia, que significa pensamento 
racional. Ela não é uma ciência, pois não possui objeto; 
é um conhecimento específico que trata de concei-
tos. Não é à toa que, nas universidades, denominam 
seus institutos e faculdades de ciências humanas da 
seguinte forma: “Faculdade de Filosofia e Ciências 
Humanas”, como se pode ver na Universidade Federal 
da Bahia (ufba), localizava na Estrada de São Lázaros/nº, Bairro da Federação, em Salvador-BA. 
?? VOCÊ SABIA?
 Na época do regime da Ditadura Militar, no Brasil, a Filosofia foi 
banida dos currículos escolares. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
 
Propor um fórum para relacionar o slide Zoom: a expansão 
reflexiva e o vídeo O Poder da Visão com a Filosofia. Site para 
o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=jfM2arUfGPo
14 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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3. A MITOLOGIA GREGA 
A mitologia grega torna-se importante dentro da 
Filosofia, devido ao fato de que, foi a partir da per-
cepção sobre o aspecto fabuloso e contraditório que 
as explicações míticas possuíam sobre a origem das 
coisas no mundo, que a Filosofia procurou dar outras 
explicações mais racionais e completamente diferen-
tes, o que culminou nos primeiros passos para seu 
nascimento como um conhecimento racional, por meio 
da análise, reflexão e crítica sobre as primeiras expli-
cações. Além disto, o mito tem grande importância 
na organização social e cultural e no modo de sentir 
e pensar dos gregos, fazendo com que se mantenha 
o valor e o respeito por este conhecimento, pois estes 
são fatores que não se desprezam e nem se julgam. 
Entretanto, vale ressaltar que Filosofia e mito possuem 
uma relação, mas guardam diferenças basilares entre 
si, entre elas, destacamos as seguintes:
 A Filosofia trata de dar explicações sobre como 
e porquê das coisas do passado, do presente e do 
futuro, mas o mito, através de seu discurso, explica 
as coisas relacionadas a um passado, que informa 
como as coisas são no presente;
 A Filosofia procura ter um discurso lógico, coe-
rente e racional, em que a autoridade de seu discurso 
está na razão e não em figura humana alguma, que 
foi escolhida por deuses e que é, por esta razão, in-
contestável. A razão é comum a todos os homens. Já 
para o mito, o poeta, seu narrador, é uma autoridade 
religiosa, que faz um discurso, por vezes, contraditó-
rio e incompreensível. 
Para se falar da mitologia grega é preciso antes 
entender o que é um mito. Para tal, começaremos 
pela origem desta palavra porque vai nos ajudar a 
esclarecer o seu significado. Assim, mito vem de dois 
verbos gregos que são: mythos – que significa contar, 
narrar, falar alguma coisa para outros, e mytheo, que 
significa conversar, contar, anunciar, nomear, designar. 
Em ambos há uma palavra em comum que é “contar”, 
contar algo para alguém. Dessa forma, podemos 
entender que mito traz a ideia de discurso, de uma 
narrativa. Por conta disto, mito é uma narrativa sobre a 
origem das coisas no mundo, como uma genealogia, 
dividida em teogonias e cosmogonias. 
??? ??? SAIBA MAIS
 Genealogia é exposição cronológica da filiação de um indivíduo 
ou da origem e ramificações de uma família.
Cosmogonia é a narrativa que quer explicar a origem, o 
princípio do universo, a organização do mundo a partir de 
forças geradoras (pai e mãe) divinas. 
Teogonia é a narrativa da origem dos próprios deuses a partir de 
seus pais e antepassados. 
Na Grécia antiga, o mito era narrado em público 
e tinha como narrador um poeta, que era escolhido 
pelos deuses, sendo uma autoridade para realizar 
esta tarefa. Por ser uma escolha divina, este poeta 
era absolutamente confiável. O passado era mostra-
do pelos deuses para este poeta narrador, de forma 
que todos os acontecimentos e a origem de todas as 
coisas eram conhecidos por ele. Dessa forma, através 
de três formas clássicas de narrativa mítica, o poeta 
explicava a origem das coisas no mundo. Entre estas 
formas encontram-se: disputas, alianças e relações 
sexuais entre os deuses, e esclarecendo a relação de 
autoridade que os deuses tinham sobre os humanos 
e sobre os próprios deuses, por onde as punições e 
retribuições eram reveladas. Por exemplo, para explicar 
a origem da Guerra de Tróia (narrada na obra A Ilíada 
de Homero), o discurso mítico sobre este aconteci-
mento afirma que: 
A causa da guerra, [...], foi uma rivalidade entre deusas. 
Elas aparecem em sonho para o príncipe troiano Paris, ofer-
ecendo a ele seus dons, e ele escolheu a deusa do amor, 
Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a 
grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu 
início à guerra entre os humanos (CHAUÍ, 2003, p. 36).
INDICAÇÃO DE LEITURA
 
HOMERO, A Ilíada, vols. I e II. Tradução de Haroldo de Campos, 
Editora: ARX.
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15UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Há ainda uma outra obra, um clássico da literatura 
universal, do mesmo autor da Ilíada, Homero, intitulada 
A Odisséia, que traz vários episódios bem ilustrativos 
da mitologia grega. Esta obra trata do regresso de 
Odisseu, o mais astuto e inteligente guerreiro da Guer-
ra de Tróia, herói e principal personagem, para o seu 
lar, após vinte anos da sua saída para ir a guerra. São 
três os momentos importantes da Odisséia, conforme 
apresentados abaixo:
 A viagem de Telêmaco, filho de Odisseu, em busca 
de notícias e seu pai, o que se chama de telemaquia;
 As peripécias do regresso de Odisseu; 
 Extermínio dos moços, os pretendentes, que, no lar 
de Odisseu, Itaca, pretendiam a mão da suposta viúva 
e, com esse pretexto, lhe iam dilapidando a fortuna.
Esta obra traz rivalidades entre deuses (Eólio, deus do 
vento e Poseidon, deus do mar), traz metáforas (Cavalo 
de Tróia, presente de grego; Calcanhar de Aquiles, o 
ponto fraco; Odisséia, algo muito difícil, muito trabalhoso, 
penoso) e traz, o que é mais significativo, uma proposta 
de reflexão sobre inteligência e sabedoria, pois Odisseu 
desafia os deuses, mas só entende que se torna um sábio 
ao reconhecer que ele era apenas um homem; nada mais, 
nada menos e que é através da sabedoria que se controla 
a hýbris, palavra grega que significa excesso, desmedida, 
orgulho, soberba, presunção, ou seja, um sábio é aquele 
que sabe usar a inteligência com humildade, não esque-
cendo que se têm sempre algo a aprender. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
 
HOMERO, A Odisséia. Tradução de Jaime Bruna, Editora: 
Cultrix. 
 
A Odisséia dirigido por Francis Ford Coppola, 1997. Duração 
2:30h. 
16 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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4. OS PRÉ-SOCRÁTICOS
Para falarmos dos pré-socráticos precisamos escla-
recer que o prefixo “pré” não significa que estes filóso-
fos existiram antes do filósofo Sócrates. Ao contrário, 
muitos deles foram até contemporâneos deste filósofo. 
O sentido deste prefixo encontra-se no fato de que os 
pré-socráticos refletiram, investigaram e pensaram 
sobre a phýsis, ou seja, palavra grega que significa a 
força originária criadora de todos os seres, ou ainda, 
física; explicações de forma racional e sistemática 
sobre a origem do mundo ou reflexão sobre aspectos 
fundamentais para a Filosofia como a distinção entre 
verdade e opinião, a dialética, etc. Assim, a filosofia 
pré-socrática faz parte das escolas de cosmologia, que 
estão divididas em quatro:
 Escola Jônica;
 Escola Pitagórica;
 Escola Eleata;
 Escola Atomista ou Escola da Pluralidade.
Dentro da Escola Jônica, o primeiro filósofo pré-
socrático é Tales de Mileto. Se diz que ele foi o primeiro 
filósofo da história da Filosofia. Assim, para Tales a 
phýsis é a água ou sua qualidade, o úmido e, dessa 
forma, é a água a qualidade ou o ser primordial do qual 
o mundo é feito. Tales fez esta afirmação a partir de 
algumas razões, portanto, de um pensamento racional. 
Assim, através destas singularidades, Tales raciocinou 
que a água era elemento primordial, conforme abaixo:
 A água possui várias formas (líquida, gasosa, va-
porizada, sólida) e estados, passando de um a outro 
sem deixar de ser água;
 É elemento constitutivo do sêmen, dos alimentos e 
até da putrefação dos corpos, como dos alimentos, que 
significa que está presente a tudo que se relaciona com 
a vida,mesmo no seu fim (o caso dos cadáveres);
 As cheias do rio Nilo que fertilizou terras do Egito;
 Os fósseis marinhos vistos em áreas montanhosas, 
o que indicava que antes havia água naqueles lugares;
 O deus Poseidon presente na mitologia grega esta-
va presente em toda a terra. 
O segundo filósofo pertencente a Escola Jônica foi 
Anaximandro de Mileto. Para ele, a phýsis é o apeíron, 
palavra grega que significa ilimitado, infinito, indeter-
minado, indefinido. A explicação racional para esta 
escolha, foi que sendo o apeíron nada percebido na 
natureza, nada determinado, pode, portanto, dar origem 
a todas as coisas do mundo e ao próprio mundo. 
O terceiro pré-socrático desta escola é Anaxímenes 
de Mileto. Para este, a phýsis é o ar, cuja explicação 
racional diz que este é ilimitado, como o apeíron, porém 
pode ser determinando, pois o pensamento só pensa 
sobre alguma coisa ou algo que pode ser determinada. 
O quarto e último filósofo da Escola Jônica é Herá-
clito de Éfeso (Éfeso se localizava na Jônia), que era 
conhecido também como “o obscuro” ou “o fazedor 
de enigmas”, e intitulado o mais importante filósofo 
pré-socrático. Para ele, a phýsis é o lógos, uma pa-
lavra grega que significa razão (veremos mais tarde 
uma explicação mais completa do seu significado no 
tópico 9 deste módulo). Dizer isto significa afirmar que 
o princípio do mundo, sua origem, é a própria razão. 
Logo, é a razão o princípio de todas as coisas. 
Há um fragmento de Heráclito muito famoso, cuja 
tradução é a seguinte: “Não se banha duas vezes, três 
ou mais de uma vez no mesmo rio, pois nem o rio é o 
mesmo e nem o homem é o mesmo”. A interpretação 
deste fragmento expressa um dos pontos mais im-
portantes da filosofia heraclitiana, ou seja, “[...] que o 
mundo é mudança contínua e incessante de todas as 
coisas e que a permanência é ilusão. [...] Tudo muda, 
nada permanece idêntico a si mesmo. O movimento 
é, portanto, a realidade verdadeira” (CHAUÍ, 2003, p. 
81). A explicação racional para se chegar a esta afir-
mação foi encontrada por Heráclito através da seguinte 
observação: 
Quando uma vela está acesa, temos a impressão de que a 
chama é estável e idêntica a si mesma e que o que muda 
é a quantidade de cera da vela, que vai sendo consumida 
pela chama. Na verdade, porém, a chama é um processo 
de transformação: nela, a cera da vela se torna fogo e nela 
o fogo se torna fumaça. Assim, não só a vela se transforma 
como também a própria chama que a consome, pois é con-
sumida pela fumaça (CHAUÍ, 2003, p. 82).
Trazer o lógos, a razão, para o lugar da origem de 
todas as coisas é o que torna este filósofo pré-socrático 
o mais importante, pois é a razão o fundante da Filosofia 
e, ao que parece, isto ficou claro para ele ainda no iniciar 
do filosofar. Assim, Heráclito foi o primeiro a anunciar 
que o conhecimento verdadeiro, para o qual a Filosofia 
se direciona, só é possível através da razão, que faculta 
a todos os homens. 
A segunda escola pré-socrática, a Escola Pitagórica, 
temos como seu representante principal: Pitágoras de 
Samos. A phýsis para ele é o número. A explicação 
racional se deu através da observação que este filó-
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17UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
sofo fez da música produzida pela lira (instrumento de 
cordas dedilháveis de larga difusão na Antiguidade). Ele 
percebeu que o som que este instrumento produzia era 
uma harmonia numérica ou uma concordância de sons 
discordantes. A partir desta observação, ele afirmou 
que não apenas o som, mas tudo no mundo era uma 
harmonia entre discordantes, ou seja, som-silêncio, 
quente-frio, masculino-feminino, etc. Todos nós, ao 
estudarmos geometria, tivemos contato com uma das 
grandes contribuições deste filósofo, que foi também 
um grande matemático. Todos lembramos do Teorema 
de Pitágoras, que dizia que o quadrado da hipotenusa é 
igual a soma dos quadrados dos catetos de um triângulo 
retângulo, cuja fórmula é:
C2 = A2 + B2 
A
C
B
lado A = cateto A
lado B = cateto B
lado C = hipotenusa C
A terceira escola pré-socrática, a Escola Eleata, 
tem dois grandes representantes. O primeiro deles, 
Parmênedes de Eléia, que não procurou e nem afirmou 
o que é a phýsis. O que ele traz é uma novidade para a 
Filosofia, pois faz uma reflexão sobre a diferença entre 
verdade (o ser ou alétheia em grego, que significa 
verdade) e opinião (o não-ser ou dóxa em grego, que 
significa opinião). Nestes termos, ele afirma em um de 
seus fragmentos: 
O SER é; o NÃO-SER não é.
Isto significa que a verdade está no puro pensamen-
to do intelecto que se separa das sensações, mas 
a opinião é a via da experiência sensorial, em que a 
Filosofia não é possível. A importância deste filósofo 
encontra-se na mudança que ele possibilita para a re-
flexão filosófica, pois ele procura e promove uma re-
flexão pautada em uma diferença fundamental para a 
Filosofia: a distinção entre verdade e opinião. Cabe a 
Filosofia a reflexão em direção à verdade, através da 
razão, de um exercício do raciocínio lógico, desviando 
a opinião que leva a um mundo de aparências. Por 
isso, compreende-se que este filósofo é o iniciador da 
lógica. Uma das tarefas da Filosofia é libertar o homem 
das “falsas verdades” que o conhecimento sensível 
traz e colocá-lo diante da realidade que é a verdade, 
através do pensamento lógico e sistemático. Para os 
gregos, verdade e realidade não são coisas distintas 
e a inteligência, através da razão, possibilita um não 
esquecimento disto. 
O segundo pré-socrático desta escola é Zenão de 
Eléia. Para muitos historiadores da Filosofia e mesmo 
para alguns filósofos como Aristóteles, Zenão foi o 
criador da dialética. Com isto, a argumentação passa 
a fazer parte do filosofar. 
??? ??? SAIBA MAIS
 Dialética é o confronto entre duas teses opostas ou contrárias 
para provar que nenhuma delas é verdadeira ou que uma delas 
é contraditória, e, portanto, falsa (CHAUÍ, 2003, p. 96). 
A preocupação primeira deste filósofo pré-socrático 
não era a demonstração da verdade, mas demonstrar, 
através da dialética, as opiniões que são falsas. Um 
exemplo que ilustra essa capacidade argumentativa 
é a “aporia de Aquiles e a tartaruga” (aporía, palavra 
grega que significa dificuldade que permanece aberta, 
insolúvel) e os argumentos:
Aquiles, generoso, dá à tartaruga uma vantagem. E jamais 
a alcançará, pois, para alcançá-la, sendo o espaço divisível, 
deverá, primeiro, vencer a metade da distância entre ele e 
a tartaruga; depois, a metade da metade; depois, a metade 
da metade da metade, e assim indefinidamente, de modo 
que jamais alcançará a tartaruga. [...] A argumentação tem 
como pressuposto, no caso de Aquiles e a tartaruga, que, 
por mais vagaroso que seja um movimento num espaço 
divisível, o movimento mais rápido nunca pode alcançá-
lo, porque precisa vencer uma distância infinita de pontos 
(CHAUÍ, 2003, p. 97-98). 
O marco importante de Zenão foi trazer a capacidade 
argumentativa para os debates filosóficos e, assim, a 
dialética que possibilita ao pensamento exercitar a razão 
ou os argumentos racionais. 
A quarta e última escola pré-socrática, a Escola 
Atomista ou Escola da Pluralidade, traz uma singular 
divisão. Os dois últimos filósofos são chamados de 
atomistas, mas que guardam todos eles desta escola o 
aspecto da multiplicidade e da transformação presentes 
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nas suas reflexões. Assim, o primeiro destes filósofos 
foi Empédocles de Agrigento, que retorna com o ques-
tionamento sobre o que é a phýsis e, desta forma, para 
ele esta é múltipla, ou seja, é o fogo, a terra, a água e 
éter (ar), com forças como ódio e amor, que ora une ou 
separa estes elementos. Como explica o trecho abaixo 
de forma até mesmo poética:No princípio, as raízes estão inteiramente misturadas, são 
indiscerníveis e formam o Uno. Uma força corpórea, mas 
externa a elas, as invade e as separa: o Ódio, que separa o 
que estava misturado e faz surgir o Múltiplo, as quatro raízes 
diferenciadas. Dessa diferença, porém, nada poderia surgir, 
pois tudo está separado de tudo. Uma outra força corpórea, 
externa e oposta à primeira, se introduz no seio do Múltiplo e 
faz com que as raízes se misturem e se combinem: o Amor, 
gerador de todas as coisas (CHAUÍ, 2003, p. 111). 
O ensinamento de Empédocles traz na idéia de 
multiplicidade uma outra ideia que é a de semelhança. 
Logo, tudo no mundo, inicialmente, está misturado, 
em seguida é separado pelo ódio e, por fim, unido 
pelo amor. Com isto, o pensamento segue o princípio 
da semelhança e, assim, ele procura o conhecimento 
verdadeiro, que é realidade e não é aparência. 
O segundo pré-socrático que também está fora do 
grupo dos atomistas é Anaxágoras de Clazómena. Para 
ele, a phýsis são sementes que vêm de uma mistura que 
está presente de forma originária em todas as coisas 
no mundo. Assim, a mistura é: 
[...] a das qualidades opostas que, agora, não se reduzem 
aos quatro elementos, mas incluem todas as oposições 
qualitativas: quente-frio, úmido-seco, denso-sutil, grande-
pequeno, branco-preto, grosso-fino, luminoso-obscuro, 
duro-mole, liso-rugoso, amargo-doce etc. O que diferencia 
um ser de outro é a proporção das qualidades misturadas 
e a predominância de uma delas sobre as outras (CHAUÍ, 
2003, p. 111). 
Em uma relação com o pensamento, Anaxágoras 
quer nos dizer que a razão encontra a verdade ou vê a 
realidade, mas que a experiência diminui e corrige as 
impossibilidades dos sentidos. Em resumo, ao olhar-
mos para algo não vemos totalmente o que seja, mas 
ao experimentarmos podemos corrigir o que nossos 
órgãos do sentido não conseguem captar e, mais ainda, 
que é na razão que podemos entender o fato em si sem 
distorções. 
Os dois últimos pré-socráticos, desta escola, são 
Demócrito e Leucipo (os atomistas). Para estes 
filósofos, a phýsis são os átomos ou os indivisíveis, 
invisíveis e infinitos, tendo entre eles o vácuo. Com a 
introdução do vácuo, quer dizer, um espaço real que não 
tem corpo. Para os átomos, não há qualidades ou forças 
corpóreas atuando entre ou sobre eles. Na verdade, as 
qualidades, por não existirem, são nomeações feitas 
pelos homens por convenção. Aqui se encontra uma 
das grandes contribuições de Demócrito, ou seja, a 
introdução da linguagem como possibilidade de ligação 
e relações entre os homens, o que é uma abertura para 
o deslocamento da reflexão filosófica, como já veremos 
no tópico 5 deste módulo. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
 
A partir do trecho citado para explicar a phýsis de Empédocles 
de Agrigento, faça uma analogia com a realidade atual, no 
sentido da distância que separa os homens e impulsiona cada 
vez mais para a violência social. 
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5. OS SOFISTAS
A palavra sofista teve durante muito tempo um 
sentido pejorativo na Grécia antiga. Chamar alguém de 
sofista era como chamar de impostor, mentiroso ou 
demagogo. Este foi empregado pelos filósofos e críticos 
dos sofistas, por verem neles uma falta de compro-
metimento com a Filosofia. Entretanto, os sofistas não 
se intitulavam filósofos; apenas se autodenominavam 
professores de alguma técnica ou mesmo técnicos de 
uma determinada habilidade, uma vez que tinham um 
determinado modo de ensinar as coisas. Mas, deve-
mos entender que a palavra sofista traz um sentido, por 
vezes, ambíguo devido ao fato de que sua habilidade 
era vista como algo fantástico e, ao mesmo tempo, 
algo que se deve desconfiar. 
Retirado o invólucro pejorativo, a palavra sofista 
designava aquele que era professor. Por esta razão, 
os antigos poetas da Grécia antiga, Homero e Hesíodo 
(existem outros, mas estes dois são os principais), que 
foram os primeiros educadores, foram, inicialmente, 
chamados de sofistas. Os sofistas, entretanto, traziam 
uma habilidade particular: ensinam o dom da argumen-
tação. Em uma definição, os sofistas faziam parte de 
um “grupo social particular, professores profissionais, 
que forneciam instrução aos jovens e davam mostra 
de eloquência em público, mediante pagamento” 
(CHAUÍ, 2003, p. 160). Com esta definição, tem-se o 
surgimento dos primeiros professores pagos. 
Há um fato que merece esclarecimento, para que o 
entendimento sobre a importância dos sofistas fique 
bastante claro. Este grupo social nasce no contexto da 
democracia na Grécia antiga. Na verdade, é atribuído 
aos gregos a invenção da democracia, sendo esta 
diferente das democracias que hoje conhecemos. Na 
Grécia antiga, cidadão é homem, adulto e ateniense. 
Mulheres, crianças, escravos e estrangeiros não são 
cidadãos, portanto, não podem viver em democracia. 
Democracia, aliás, em que os cidadãos participam 
diretamente de todas as decisões na pólis, nas as-
sembléias na cidade. Hoje, vivemos uma democracia 
representativa, ou seja, elegemos representantes 
que irão votar por nós. Nesse contexto grego antigo, 
dentro de um universo de debates constantes para 
que as decisões fossem tomadas, a argumentação 
era fundamental. Esse é o ponto em que os sofistas 
entram com seus ensinamentos. 
Devemos nos perguntar, então, por que foi dado 
aos sofistas um sentido pejorativo ao seu significado? 
A primeira razão desse sentido pejorativo encontra-se 
sobre o conteúdo que os sofistas ensinavam; depois, 
o próprio fato de cobrar por algo que estava associado 
a prática cidadã ou a própria cidadania, uma vez que 
na democracia grega, as decisões eram uma marca 
forte do exercício da cidadania. O que os sofistas en-
sinavam era o que eles mesmos chamavam de “arte 
de argumentar” para persuadir os seus debatedores 
nas assembleias. O que ficava decidido era proveniente 
da melhor argumentação, independentemente de estar 
certo ou errado. Quem tinha o melhor argumento era 
aquele cidadão grego que conseguia persuadir seus 
debatedores. 
Nesse contexto, os sofistas receberam críticas 
severas de um dos maiores filósofos da antiguidade, 
Sócrates, e de seus seguidores. Para este filósofo, 
os sofistas valorizavam apenas a opinião (dóxa), dei-
xando de lado a verdade (alétheia). O que importava 
para os sofistas era ensinar a arte da argumentação 
para fazer valer o argumento daquele que lhe pagava 
mais pelos seus ensinamentos. Isto também faz com 
que os próprios sofistas perdessem a liberdade de 
pensamento, pois suas opiniões estavam associadas 
à remuneração de quem lhes pagava. Para a Filosofia, 
isto é danoso porque a verdade, que é seu lastro, deve 
ser compartilhada com liberdade. É necessário dizer 
que os sofistas não pertenciam a nenhuma escola 
e nem eram discípulos de ninguém, como veremos 
com outros filósofos muito importantes como Platão 
e Aristóteles. 
É preciso dizer que todos os ensinamentos sofis-
tas se davam sob uma técnica: a retórica. Esta, para 
os sofistas, é uma técnica de persuasão através de 
argumentos, que possibilitam fazer com que as opi-
niões fossem válidas, sem relação com a verdade. A 
retórica tem como aporte, absolutamente necessário, a 
dialética, pois é preciso que ocorra debate entre ideias 
contrárias, para que assim se possa ter a defesa entre 
os argumentos, entre as razões, aquelas que vão defi-
nir o que será o melhor no sentido daquilo que é mais 
útil. Para que isto acontecesse, cabiam aos sofistas 
as seguintes características essenciais: 
 Saber os argumentos favoráveis e os desfavorá-
veis sobre qualquer assunto, o que leva a uma defesa 
ou a um ataque com a mesma competência; 
 Saber comover seus ouvintes, para depois que 
estiverem comovidos, aceitarem as razões sem con-
testar;20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
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 É bom o uso da figura de linguagem metáfora;
 Utilizar todo o corpo na hora de argumentar, o que 
significa ter ritmo na voz, um gestual e uma postura 
que tenham graça e não perder a elegância jamais. 
??? ??? SAIBA MAIS
Metáfora significa designação de um objeto ou qualidade 
mediante uma palavra que designa outro objeto ou qualidade 
que tem com o primeiro uma relação de semelhança (por 
exemplo, ele tem uma vontade de ferro, para designar uma 
vontade forte, como o ferro). In. BARROS JR., José Jardim de. 
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de 
Janeiro: Editora Objetiva, 2001. 1 CD-ROM.
Entre o grupo de sofistas, dois deles são os mais 
importantes, porque foram os criadores da sofística: 
Protágoras de Abdera e Geórgia de Leontini. Protá-
goras tem uma sentença moral de origem popular 
muito conhecida, inclusive, na atualidade: “o homem 
é a medida de todas as coisas”. Esta afirmação feita 
por Protágoras fere, por exemplo, o conhecimento, o 
que ele é, mas, sobretudo, de algo que é fundamental 
para a Filosofia: a verdade. Já Geórgia não acreditava 
que a verdade fosse possível a qualquer homem. 
Ele acreditava que era por crença, devido ao apelo 
emocional que a retórica tinha, que se acreditava em 
algo como verdadeiro. Abaixo um trecho em que ele 
explica o que é a retórica, quando interrogado pelo 
filósofo Sócrates: 
[...] a retórica, por assim dizer, abrange o conjunto das 
artes, que ela mantém sob sua autoridade. Vou apresentar-
te uma prova eloqüente disso mesmo. Por várias vezes fui 
com meu irmão ou com outros médicos à casa de doentes 
que se recusavam a ingerir remédios ou a se deixar ampu-
tar ou cauterizar; e, não conseguindo o médico persuadí-
lo, eu o fazia com a ajuda exclusiva da arte da retórica. 
Digo mais: se, na cidade que quiseres, um médico e um 
orador se apresentarem a uma assembléia do povo ou a 
qualquer outra reunião para argumentar sobre qual dos 
dois deverá ser escolhido como médico, não contaria o 
médico com nenhuma probabilidade para ser eleito, vindo 
a sê-lo, se assim o desejasse, o que soubesse falar bem. E 
se a competição se desse com representantes de qualquer 
outra profissão, conseguiria fazer eleger-se o orador de 
preferência a qualquer outro, pois não há assunto sobre 
que ele não possa discorrer com maior força de persuasão 
diante do público do que qualquer profissional. Tal é a na-
tureza e a força da arte da retórica! ... É fora de dúvida 
que o orador é capaz de falar contra todos a respeito de 
qualquer assunto, conseguindo, por isso mesmo, con-
vencer as multidões melhor do que qualquer pessoa, e, 
para dizer tudo, no assunto que bem lhe parecer (PLATÃO, 
Górgias 456b-457ª, apud, RESENDE, 2005, p. 39). 
Apesar de não buscarem a verdade, que é lastro para 
a Filosofia, no contexto político em que se encontrava 
a Grécia antiga, os sofistas foram importantes para a 
constituição do pensamento filosófico, na medida em 
que fortaleceram a democracia através dos debates 
nas assembleias públicas. A capacidade argumentativa 
através da dialética, possibilitou a Sócrates, o próximo 
filósofo que estudaremos, ter diversos diálogos em que, 
debates, cujas questões circundavam os temas sobre 
o conhecimento, o homem, a política, a verdade, a 
ética etc. Enfim, assuntos importantes para a Filosofia. 
Eles foram contemporâneos de Sócrates e debateram 
com ele, que desloca a reflexão filosófica para temas 
antes não refletidos. Assim, lembramos uma frase dos 
sofistas para concluirmos este tópico: “A tirania impõe a 
opinião de um só; a retórica pressupõe o direito de todos 
à opinião. A tirania usa a força; a retórica, argumentos” 
(CHAUÍ, 2003, p. 168). 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Estabelecer uma relação entre a técnica dos sofistas – a 
retórica, e os políticos da atualidade. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
PLATÃO, 427-347 a.C. Teeteto – Crátilo, trad. de Carlos Alberto 
Nunes, 3. ed. rev., Belém: EDUFPA, 2001.
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21UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
6. SÓCRATES
Falar de Sócrates é o mesmo que falar de uma mu-
dança na própria Filosofia. A partir deste filósofo, Há um 
deslocamento sobre as questões centrais que a Filosofia 
passa a refletir, ou seja, esses temas são: o homem, a 
ética e o conhecimento. Portanto, Sócrates faz parte, 
juntamente com Platão e Aristóteles, que veremos em 
seguida, do grupo de filósofos canônicos que trazem 
uma mudança singular para a Filosofia. 
O primeiro ponto a tratar em Sócrates é sobre sua 
própria vida, porque nela há alguns pontos que apon-
tam para uma relação com o seu modo de filosofar. O 
primeiro ponto é que ele era filho de parteira e este fato 
tem uma relação com seu modo de filosofar, ou seja, 
a parteira faz parto de corpos e ele, parto de idéias. O 
segundo ponto diz respeito às suas duas participações 
políticas, que são “o julgamento de seis generais” e “o 
caso do banimento1”, que foi a expulsão de um cidadão 
grego, impedindo-o de entrar na cidade. 
No caso do julgamento, para a lei, todos os generais 
deveriam ser julgados individualmente, e Sócrates não 
aceitou o que desejava a assembleia, que era julgá-los 
coletivamente; em relação ao banimento, Sócrates tam-
bém não aceitou que este ato fosse revogado, trazendo 
o condenado de volta à cidade. Há em ambos os casos 
uma postura ética, um respeito às leis atenienses. Há 
ainda um terceiro momento de participação política des-
te filósofo, porém na posição de condenado. Sócrates 
também foi julgado pelo crime de “perversão de jovens 
atenienses com seus ensinamentos”. Neste caso, Só-
crates não se defendeu e nem aceitou a proposta de fuga 
que fizeram a ele, porque se assim o fizesse, estaria ele 
aceitando a culpa e isto não cabia no seu entendimento, 
porque seus ensinamentos foram filosóficos. 
Uma outra curiosidade está no fato que levou Sócra-
tes a dedicar-se à Filosofia. Se diz que ele, ao dirigir-se 
ao oráculo (resposta de uma divindade a quem a con-
sultava) de Delfos, ouviu do oráculo que sua missão 
era o que estava escrito na porta do templo, ou seja, a 
frase “Conhece-te a ti mesmo”. Para Sócrates significa 
“Traz a tona tua interioridade”. A partir desse momento, 
ele passa a buscar o conhecimento sobre si e a fazer 
perguntas sobre todas as coisas, que entendia como 
necessário para chegar à compreensão verdadeira sobre 
algo. Passou ele, então, a dedicar-se a esta atividade e 
2 Lei aplicada a quem não era condenado à morte, 
sendo então expulso da cidade. 
nenhuma outra mais, vivendo na pobreza em busca do 
conhecimento verdadeiro, a refletir sobre o homem e 
sobre a ética. Em conseqüência disto, Sócrates passa 
a ter uma outra máxima: “Sei que nada sei”. 
Como Sócrates não escreveu nada, ficando, a 
maior parte de tudo o que se sabe sobre ele nos es-
critos de Platão. Por conta disto, há quem duvide da 
existência deste filósofo, mas isto seria impossível, 
uma vez que sua personalidade e a sua filosofia são 
de bastantes singulares, para que fosse invenção de 
qualquer outro filósofo. Um dos traços desta singula-
ridade já é ilustrado pela forma como ele filosofava: 
perambulava na agorá (palavra grega que significa 
assembleia do povo), na praça, por toda cidade de 
Atenas, se dirigindo a todos os cidadãos atenienses 
– sofistas, governante, militar, artesão, entre outros, 
fazendo as perguntas primeiras, sem entretanto dar 
resposta alguma. 
Nisto se revela a peculiar característica de seu método 
para o seu ato de filosofar, que é a maiêutica - método 
que consiste na multiplicação de perguntas, despertando 
no interlocutor o desejo pelo saber, na descoberta da 
verdade e na conceituação geral de algo. Assim, as 
perguntas feitas se davam em torno de ideias, sobre 
os valores, entre outros,que todos com os quais 
ele matinha o diálogo, se achavam já sabedores, 
conhecedores. Abaixo um pequeno trecho de um dos 
diálogos socráticos, em que Sócrates questiona a 
“impossibilidade de se adquirir conhecimento”, para 
ilustrar a maiêutica.
Sócrates: [...] Neste momento, a propósito da vir tude, eu 
não sei absolu tamente o que ela é; tu talvez soubesses, 
antes de te aproximares de mim, agora porém parece não 
saberes mais. Entretanto, estou disposto a examinar e a 
procurar junto contigo o que ela possa ser.
Mênon: — Mas de que maneira procurarás, Sócrates, aq-
uilo que não sabes absolutamente o que seja? Dentre tan-
tas coisas que desconheces, qual te proporás procurar? E, 
se por um feliz acaso te deparares com ela, como saberás 
que é aquilo que desconhecias?
Sócrates: — Compreendo, Mênon, a que fazes alusão. 
Percebes tudo que há de capcioso na tese que me expões, 
a saber, que, por assim dizer, não é possível a um homem 
procurar nem o que ele sabe nem o que ele não sabe? 
Nem, por um lado aquilo que ele sabe, ele não procuraria, 
pois ele o sabe, e, nesse caso, ele não tem absolutamente 
necessidade de procurar; nem por outro lado, o que ele 
não sabe, pois ele não sabe nem mesmo o que procurar 
(PLATÃO, Mênon 80d-81a, apud, RESENDE, 2005, p. 41). 
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Muitos diálogos socráticos foram com os sofis-
tas, pois Sócrates foi um grande opositor aos seus 
ensinamentos. Entre as muitas críticas feitas, dizia ele 
que os sofistas não eram filósofos, pois não tinham 
amor à sabedoria e nem respeito pela verdade. Eles 
valorizavam a argumentação e, assim, poderiam fazer 
valer a mentira pela verdade. O diálogo, para Sócra-
tes, era o caminho através do qual se podia chegar 
a verdade, ele não ensinava nada; os sofistas, ao 
contrário, estavam sempre a ensinar algo a alguém: a 
defender suas opiniões como verdadeiras, ainda que 
elas não fossem. Porém, a busca pela sabedoria e o 
respeito pela verdade é o que se deve ser ensinado 
aos jovens atenienses. Enfim, o que o grande filósofo 
tinha como meta era mostrar àqueles com os quais 
dialogava, jovens ou não, que eles pensam que sabem 
o que dizem que sabem; que o que eles têm são pré-
conceitos, sem saber a essência sobre as coisas que 
afirmam. Assim, ele fazia: “Você diz que a coragem é 
importante. Mas, o que é a coragem?”. O “o que é” 
era a forma como Sócrates buscava a verdade junto 
aos seus interlocutores. 
 Nesse contexto, os ensinamentos socráticos 
apontam para um entendimento primordial, que o 
conhecimento é um processo, uma busca, uma pro-
cura pela verdade, que vai separar opinião e verdade, 
percepção sensorial e pensamento, e aparência e 
realidade. O que importa é sair de um campo carre-
gado de opiniões contrárias, de aparências opostas e 
percepções divergentes, para alcançar a essência das 
coisas, que é onde se encontra a verdade. Esta só é 
possível alcançar através do exercício do pensamento, 
da razão. Agir assim, para Sócrates, é ser vir tuoso, 
pois o homem bom busca o conhecimento verdadeiro. 
Isto significa que a ética socrática está associada ao 
conhecimento e ao conhecimento de si. 
A partir de Sócrates, a Filosofia tem o homem como 
um tema central de suas reflexões. Mas, o homem 
não como medida de todas as coisas, como queriam 
os sofistas, mas como aquele que através da razão, 
chega à verdade. Razão, aliás, que é comum a todos 
os homens. 
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23UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
7. PLATÃO
O mais importante aluno do filósofo Sócrates, seu 
maior discípulo e expositor da filosofia Socrática, 
sendo o autor de quase todos os diálogos socráticos. 
Platão é o segundo filósofo que compõe o tripé dos 
filósofos canônicos da antiguidade. Contribuiu muito 
para a Filosofia, com inúmeras obras (quase toda a 
produção platônica encontra-se disponível) e refle-
xões. Foi fundador da Academia, que é conhecida por 
academia platônica, destinada a investigações filosó-
ficas, formar jovens para a política, através da busca 
da verdade e da justiça. Permanece a ideia socrática 
de não se ensinar nada, ou seja, defender ou transmitir 
conhecimentos, como os sofistas. Também em Platão, 
na sua academia, se faz a busca permanente da verda-
de, procurando sempre distinguir verdade de opinião. 
Na academia, todos são amantes da sabedoria, como 
indica a própria palavra Filosofia. 
Como Sócrates, seu mestre, também se utilizava 
de um método: a dialética. Esta significa um caminho 
para apreender, através da razão, a essência das coi-
sas. A dialética faz a separação de toda e qualquer 
contradição que exista sobre a compreensão de algo. 
Com este método, é possível purificar a alma, porque 
retira as opiniões que se tem sobre as coisas, evitando 
a confusão sobre o verdadeiro e o falso, e purifica a 
essência das coisas do mundo, através do olhar do 
intelecto sobre todas as ideias na sua inteireza. 
É preciso entender a noção de ideia em Platão, que 
é conhecida como a doutrina das ideias. Nesta, há a 
afirmação de que existem ideias que são as essên-
cias, incorpóreas e imutáveis, como modelos. Assim, 
quando falamos a palavra “caneta”, não importando 
se dissemos azul, preta, vermelha, de tinteiro, com ou 
sem bocal, aqui no Brasil ou no Japão, logo pensamos 
numa “caneta”, porque a ideia de caneta já existe; é 
ela a essência de caneta, que é sempre a mesma, 
é sempre única. Isto ocorre para tudo o que vemos 
no mundo. Nossos sentidos não captam esta ideia 
enquanto essência das coisas, apenas conseguimos 
captar esta essência através do intelecto.
Por isso, para Platão, no mundo sensível, que é 
onde nossos sentidos captam apenas o que os olhos 
percebem, não podemos chegar à essência das coisas, 
à ideia. Para se chegar à ideia essencial das coisas, é 
necessário irmos ao mundo inteligível. É nele que as 
ideias primordiais e fundamentais se encontram. Nele, 
percebe-se um outro ponto importante da filosofia 
platônica: a divisão entre mundo sensível e mundo 
inteligível, o que significa sua teoria do conhecimento. 
Para falar desta teoria, Platão recorre a um mito muito 
famoso no conjunto de sua obra, intitulado Mito da 
Caverna, que é um dos capítulos do livro A República 
de sua autoria, sendo toda ela e o próprio mito, um 
dos diálogos socráticos. Um resumo deste mito, sua 
interpretação e significado estão no sub-tópico a se-
guir. O quadro abaixo ilustra algumas diferenças entre 
os dois mundos – sensível e inteligível. 
Mundo Sensível Mundo Inteligível
Sol Bem (perfeição)
Luz Verdade
Cores Ideias
Olhos Alma racional ou inteligência
Visão Intuição
Treva, cegueira, 
privação de luz
Ignorância, opinião, 
privação de verdade
 
FONTE: CHAUÍ, 2003, p. 258. 
7.1 O Mito da Caverna ou “A Caverna de Platão”
Imaginemos [...] uma caverna subterrânea separada do 
mundo externo por um alto muro. Entre este e o chão da 
caverna há uma fresta por onde passa alguma luz exterior, 
deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde 
seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali 
estão acorrentados, sem poder mover a cabeça na direção da 
entrada, nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede 
do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a 
luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros, 
pois não podem mover a cabeça nem o corpo, e sem se ver a 
si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Abaixo do 
muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina 
vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se 
passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas 
pa redes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas pas-
sam conversando e car regando nos ombros figuras ou ima-
gens de homens, mulheres, animais cujas sombras também 
são projetadasna parede da caverna, como num teatro de 
fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas 
e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transpor-
tam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os 
artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.
Os prisioneiros se comunicam, dando nomes às coisas que 
julgam ver (sem vê-las realmente, pois estão na obscuridade) e 
imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons 
vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não dos 
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homens cujas imagens es tão projetados na parede e também 
imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esses 
homens carregam nos ombros são vozes de seres reais é, 
pois, a situação dessas pessoas aprisionadas. Tomam som-
bras por realidade, tanto as sombras das coisas e dos homens 
exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. 
Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos 
prisioneiros e sim as condições adversas em que se encon-
tram. [P]ara os prisioneiros, o único mundo real é a caverna, 
portanto, a obscuridade na qual não podem se ver nem ver os 
outros não é percebida como tal e sim experimentada como 
realidade verdadeira. E a caverna é para eles todo o mundo 
real, pois não sabem que o que vêem na parede do fundo são 
sombras de um outro mundo, exterior à caverna, uma vez que 
não podem virar a cabeça para ver que há algo lá fora e que é 
de lá de fora que outros homens lhes enviam imagens e sons. 
Ora, se para os prisioneiros o mundo real é a caverna, como 
poderiam sair da ilusão se não sabem que vivem nela?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que 
se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com 
o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o 
corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. 
Enfrentando as durezas de um caminho íngreme e difícil, sai 
da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela lu-
minosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostu-
mados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu 
corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus ol-
hos sob a ação da luz externa, muito mais forte do que o fraco 
brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se di-
vidido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade 
porque será obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no 
que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu. Deslum-
bramento (literalmente: ferido pela luz) porque seus olhos não 
conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro 
impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto. 
Embora esteja reconquistando sua verdadeira natureza, o sofri-
mento que essa reconquista lhe traz é tão grande que se sente 
atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além 
disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, 
fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe é familiar e con-
hecido. [O] caminho em direção ao mundo exterior é íngreme 
e rude; o prisioneiro libertado sofre e se lamenta de dores no 
corpo; a luz do sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para 
fora por uma força incompreensível. 
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por cau-
sa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. 
Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. En-
canta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, 
descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua 
prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da 
caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para 
jamais regressar a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a 
sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão 
de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o 
que viu e convencê-los a se libertarem também.
Assim como a subida foi penosa, porque o caminho era ingrato 
e a luz, ofuscante, também o retorno será penoso, pois será 
preciso habituar-se novamente às trevas, o que é muito mais 
difícil do que habituar-se à luz. De volta à caverna o prisioneiro 
fica cego novamente, mas, agora, por ausência de luz. Ali den-
tro é desajeitado, inábil, não sabe mover-se entre as sombras 
nem falar de modo compreensível para os outros, não sendo 
acreditado por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e cor-
rerá o risco de ser morto pelos que jamais se disporão a aban-
donar a caverna (CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da 
Filosofia – dos Pré-socráticos a Aristóteles. Vol. I. São Paulo: 
Companhia das Letras 539 p. 258-261 p.). 
Devemos entender o que significa este mito. Em 
primeiro lugar, ele trata de forma alegórica da teoria do 
conhecimento platônica, quando explica a passagem de 
um grau de conhecimento a outro. Inicia estabelecendo 
uma analogia entre conhecer e ver, para explicar como 
se adquire conhecimento, ou seja, conhecer a verdade 
é ver com os olhos da alma, ou seja, com os olhos da 
inteligência. Carregado de metáforas, como é tipo de 
mitos, vamos agora desmistificá-las. Assim: 
 Os prisioneiros são semelhantes aos homens co-
muns (palavras de Sócrates a Glauco, seu interlocu-
tor). Estes homens tomam as sombras pela realidade;
 A caverna é o mundo sensível em que vivem os 
homens;
 O fogo representa a luz da verdade (ideias e o bem) 
sobre o mundo sensível;
 As sombras são as coisas sensíveis tomadas por 
verdadeiras;
 Os grilhões são os preconceitos do homem, sua 
opinião, sua paixão, sua confiança no seu sensível;
 O instrumento que quebra os grilhões e permite ao 
prisioneiro pular o muro é a dialética;
 O prisioneiro que se liberta é o Filósofo;
 A luz que cega o prisioneiro livre é o Bem (luz plena 
do ser), que ilumina o mundo inteligível;
 O retorno à caverna para libertar os outros homens 
é o diálogo filosófico;
 Os anos de esforço na construção do instrumento 
para livrar-se dos grilhões, é o esforço da alma para 
libertar-se da ignorância.
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??? ??? SAIBA MAIS
Uma outra definição de dialética é esta como um processo 
de diálogo, debate entre interlocutores comprometidos 
profundamente com a busca da verdade, através do qual a 
alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às 
realidades inteligíveis.
O mito apresenta a possibilidade de libertação do 
intelecto da cegueira das aparências do mundo sensí-
vel, através da dialética, o que significa dizer que quem 
conhece liberta-se da ignorância. A filosofia, através da 
sua educação, não olhos com os quais os homens vão 
ver melhor, ao contrário, ela orienta o olhar, pois cada 
ser humano tem a capacidade de ver a realidade como 
ela realmente é, desde que utilizem os olhos da alma, 
ou seja, a razão. 
O Mito da Caverna é muito conhecido e inspirou, 
inclusive, um filme atual e popular, o primeiro Matrix, 
da trilogia que veio posteriormente devido ao grande 
sucesso. Entre algumas relações que podem ser feita 
entre a Filosofia e o filme encontram-se no personagem 
principal – Neo, que, como o filósofo Sócrates, vai a um 
oráculo e encontra a mesma mensagem: “Conhece-te a 
ti mesmo”; uma outra está no fato dos seres humanos 
dentro da Matrix viverem uma realidade virtual ou uma 
falsa realidade, como os homens da caverna de Platão; 
a Filosofia se assemelha a pílula vermelha do filme, 
que era a possibilidade dos homens ao ingerirem-na, 
perceberem o mundo de aparência em que viviam. 
??? ??? SAIBA MAIS
Matrix é uma história de ficção, cujo enredo apresenta o mundo 
como farsa, construído por máquinas com inteligência artificial, 
onde a maioria dos seres humanos encontra-se aprisionada, 
achando que a realidade verdadeira é a da matrix, onde um dos 
homens tem a capacidade de acabar com a farsa e libertar a 
humanidade. O filme foidirigido por Andy Wachowski e Larry 
Wachowski, em 2005, com 136 min.
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Explicar a frase “Nunca estivemos tanto na caverna de Platão 
como agora”, do escritor português, José Saramago, no filme-
documentário “Janela da Alma”, relacionando-a ao Mito da 
Caverna de Platão.
 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Fazer uma interpretação da história em quadrinhos no sentido 
de explicar qual a crítica que ela traz e se esta é pertinente. 
INDICAÇÃO DE LEITURA
PLATÃO. Livro VII. In: Platão. A República. Trad. de Maria Helena 
da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 
1993. p. 317-362 
PLATÃO. O banquete ou do amor. Trad. de J. Cavlacabte de 
Souza. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. 204 p. 
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8. ARISTÓTELES
Aristóteles, o terceiro e último dos filósofos canônicos 
da filosofia antiga, foi aluno de Platão, afastando-se da 
Academia dele, após sua morte. Depois desse fato, funda 
sua própria escola, chamada de O Liceu. Era uma escola 
de muita disciplina,cujos ensinamentos eram dados atra-
vés da peripatética, que significa caminhar conversando 
animadamente sobre assuntos filosóficos. 
Aristóteles escreveu sobre quase todos os assuntos, 
através do que ele chamou e dividiu em ciências, em 
práticas e ciências teoréticas. No grupo das primeiras 
encontram-se a ética, a política e a economia; no grupo 
das segundas, encontram-se a matemática, a física e 
a metafísica. Desse modo, não podemos falar deste 
filósofo sem apresentar a ética, a metafísica, porque são 
temas que se destacaram da sua filosofia, mas também, 
da lógica, que possui o mesmo destaque, mas não foi 
considerada por ele uma ciência. 
Iniciaremos falando exatamente da lógica aristoté-
lica. Primeiro, esclareceremos que esta não é ciência 
porque não possui nenhum objeto de reflexão, como o 
que é característica de qualquer ciência. Mas, então, o 
que é a lógica? 
A lógica é uma disciplina que fornece as leis ou regras ou 
normas ideais do pensamento e o modo de aplicá-las na 
pesquisa e na demonstração da verdade. Nessa medida, 
é uma disciplina normativa, pois dá as normas para bem 
conduzir o pensamento na busca da verdade (CHAUÍ, 2003, 
p. 357). 
Como em Sócrates e Platão, permanece em Aris-
tóteles a busca da verdade. Nesse caso através da 
lógica. Com ela, o homem pode examinar em detalhe, 
encontrando os elementos que constituem a estrutura 
do pensamento e da linguagem, seus modos de opera-
ção e de relacionamento, evitando que se tome como 
verdade aquilo que não é. A lógica possui princípios 
estruturantes do pensamento, que são os seguintes:
 Princípio de identidade: A é A, que é o mesmo que 
dizer que uma coisa é igual a si mesma;
 Princípio da não-contradição: A é A e não pode ser 
não-A, que é o mesmo que dizer que uma coisa é igual 
a si e nunca contrária a si mesma;
 Princípio do terceiro excluído: A é ou X ou não-X, 
que quer dizer que uma coisa é igual a uma coisa ou 
a outra coisa contrária a esta última, não havendo ne-
nhuma terceira possibilidade. 
Abaixo alguns exemplos destes princípios funda-
mentais: 
 “Sócrates é igual a ele mesmo” - A é A; 
 “Sócrates é filósofo e não é sofista” - A é A e não 
pode ser não-A;
 “Sócrates é homem e não é mulher” - A é ou X ou 
não-X.
Até o dia de hoje, toda a estrutura que Aristóteles 
elaborou para a sua lógica é a que perdura na atualida-
de, quase sem sofrer alterações, sendo esta disciplina 
parte dos estu dos não apenas da Filosofia, mas da 
Matemática, da Lingüística, entre outras áreas do 
conhecimento. 
A outra contribuição que marca a filosofia aristo-
télica é sobre a metafísica, que é onde se encontram 
os conceitos, as ideias mais gerais de que dependem 
todas as outras desenvolvidas pelos filósofos nas de-
mais ciências. Para Aristóteles, é na metafísica que a 
Filosofia encontra seu ponto mais alto, pois é onde se 
derivam todos os outros conhecimentos. Seria a me-
tafísica uma filosofia primeira por tratar de princípios e 
das causas do ser. Mas, é preciso ainda entender que o 
sentido de “ser” que se refere Aristóteles é diferente do 
que conhecemos na atualidade. “Ser” é a substância 
simples (Deus) ou composta (todos os outros seres). 
Com esta compreensão, Aristóteles contribui com sua 
metafísica possibilitando uma investigação sobre as 
coisas no mundo no que diz respeito aos princípios, 
causas e essência. 
Há dois pontos importantíssimos como contribui-
ções da filosofia aristotélica que não podemos deixar 
de falar: a ética e a política. Desse modo, falar em 
ética no sentido aristotélico do termo é entender, ini-
cialmente, o que é a vir tude para este filósofo. Esta é, 
assim, um hábito que o homem adquire ou se dispõe 
a adquirir, para que suas atitudes estejam correlacio-
nadas diretamente às determinações do homem que 
é prudente, aquele que age em conformidade com a 
razão e não com a emoção, os desejos ou quaisquer 
outras determinações. A ética é quem orienta os ho-
mens para adquirirem o hábito da vir tude. O que se 
vê é que a vir tude, assim como a ética, está e deve 
estar sob as determinações da razão. O homem que 
age racionalmente é um homem ético. 
Na página seguinte encontra-se um quadro das 
vir tudes morais que demonstra a classificação das 
vir tudes, segundo Aristóteles.
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A questão da política em Aristóteles, não difere 
muito da questão ética, pois para este filósofo, é a 
política que orienta a ética, através da preservação da 
sua autonomia, que é um bem humano inalienável. Há 
uma frase de Aristóteles que diz que “O homem é um 
animal político”. Isto quer dizer, que o homem traz na 
sua própria natureza a incapacidade de viver isolada-
mente sem contato com outros homens. A formação 
do estado é decorrente dessa natureza humana, porque 
é no estado que o homem vive com os outros homens 
FONTE: CHAUÍ, 2003, p. 453 
na virtude da prudência e bem comum, onde a pólis é 
governada pela prática dos cidadãos. 
Falar da filosofia aristotélica em um tópico não é pos-
sível sem omissão, pois a extensão de sua obra impos-
sibilita tal intento. Mas, deve ficar claro para todos que 
Aristóteles fecha, juntamente com Sócrates e Platão, o 
que se configurou na abertura posterior que a Filosofia 
encontrou no sentido da maturidade e contribuições 
para todas as ciências que conhecemos hoje. 
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9. A RAZÃO COMO FUNDANTE DA 
FILOSOFIA 
Quando afirmamos que a Filosofia é um conhecimen-
to racional que se direciona para a verdade, estamos 
afirmando que não há Filosofia sem a razão. Portanto, 
afirmamos que a razão é o que sustenta, assenta, firma 
a Filosofia, hoje, agora e sempre. Mas, o que é a ra-
zão? Esta é uma palavra que se origina de duas outras 
palavras: a palavra latina ratio e a palavra grega lógos, 
que significam: 
 Ratio: vem do verbo latino reor, que significa contar, 
medir, calcular;
 Lógos: vem do verbo grego legein, que significa 
contar, calcular, juntar.
Por contar dessas origens latina e grega, a palavra 
razão possibilita um pensamento ou um conhecimento 
ordenado e claro, que deve ser entendido por todos. 
Assim, razão é faculdade orientadora geral, que permite 
ao homem se distinguir de todos os outros animais, pos-
sibilitando a ele ter pensamentos e fala corretos, claros 
sobre as coisas existentes no mundo. Este pensamento 
correto, a razão filosófica, se deu durante muitos anos 
sob duas teorias filosóficas: o racionalismo e o empi-
rismo, mas, antes apresentaremos inicialmente a razão 
na época cristã e medieval, em seguida na modernidade, 
com o racionalismo e o empirismo, e, por fim, a razão 
na contemporaneidade, com a fenomenologia, para 
que vocêstenham um entendimento da razão como 
fundante da Filosofia. 
9.1 Razão na época cristã e no medievo
Dentro do contexto do cristianismo, há uma discus-
são que permeia a época na interpretação das verdades 
religiosas, como também na transformação destas em 
dogmas. No medievo, ao contrário, um novo saber de 
cunho teológico e filosófico, com um grande volume 
de produções, sendo seus ensinamentos em torno 
das discussões sobre as obras de padres, teólogos e 
filósofos medievais, cujas questões se distinguem das 
gregas, porque teve outros pressupostos. Nos tópicos 
seguintes, trataremos de ambos. 
9.1.1 A Patrística 
A patrística é a especulação dos padres dos pri-
meiros séculos do cristianismo. Entre as especulações 
pertinentes, nesse contexto, temos como exemplos: a 
questão da relação entre fé e razão, na tentativa de 
reconciliação entre ambas, a existência de Deus, 
entre outras. Nesse sentido, não há propósito filosófico 
nestas especulações, em que os problemas filosóficos 
são impostos por uma verdade religiosa. A razão é quem 
formula e elucida os dogmas. Seus maiores represen-
tantes são: Santo Agostinho, São Justino, Tertuliano, 
Clemente, Orígenes e os Padres Capadócios. 
Entre estes, se destaca Santo Agostinho, que é con-
siderado o apogeu da patrística. Para este grande repre-
sentante, em relação à questão da verdade, ele afirmava 
que é apenas na fé cristã que é possível compreender 
o mundo e o lugar que os homens podem ocupar nele. 
Dizia ainda também que qualquer conhecimento que 
venha a contradizer a doutrina cristã, deve ser rejeitado 
e desconsiderado. Mas, os grandes temas refletidos por 
Agostinho foram: Deus e a alma. Na especulação sobre 
Deus, ele fez algumas afirmações interessantes:
 Afirmava ele que não há possibilidade do conhe-
cimento se dá para o homem sem o amor e, conse-
qüentemente, não se alcança a verdade se não for pelo 
caminho da caridade;
 O homem é a imagem e semelhança de Deus e, 
portanto, ele permeia toda a alma humana. Logo, o 
homem não pode se afastar de Deus, porque, assim, 
negaria aquilo que tem de mais íntimo; 
 O mundo foi criado por Deus a partir de seu próprio 
ser, porque as ideias que originam o mundo estão den-
tro da própria mente divina. 
Agostinho faz uma reflexão sobre a história universal 
– história da humanidade, em uma de suas obras mais 
importantes: A Cidade de Deus. Nesta obra, a história 
da humanidade é contata a partir do surgimento de 
duas cidades: uma terrena e outra divina, sendo uma 
criada pelo egoísmo e a outra pelo amor divino, res-
pectivamente. Seu enredo traz a luta entre bem e mal, 
Deus e o demônio, em que, ao final, a vitória divina 
ratifica a vitória do bem sobre o mal. Agostinho quer 
dizer com esta obra que toda história humana é uma 
luta entre Deus e o mundo, em que o Estado tem que 
velar pelo bem, pela paz e pela justiça, estando sob 
a autoridade divina e, portanto, velando os princípios 
cristãos. 
Santo Agostinho é o nome que marca a filosofia 
cristã, conseguindo entender o mundo de sua época, 
o mundo do Império Romano, se constituindo como 
uma figura fundamental para a Europa medieval. 
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9.1.2 A Escolástica 
O conteúdo que permeia a escolástica ou filosofia 
medieval tem reflexões teológicas e filosóficas, o que 
ocasiona imediatamente um problema para os estudio-
sos. Se considerarmos que é uma filosofia, esta seria 
uma ciência subordinada à teologia, numa condição de 
subserviência. Este fato não pode e não deve ser aceito, 
porque a Filosofia não é ciência e nem serve a nada, 
muito menos à teologia. O que se deu na escolástica 
foi que as questões teológicas suscitavam questões 
filosóficas, ou seja, recorriam-se a conceitos filosóficos 
para refletir alguma questão teológica. O que não se 
pode esquecer é que na escolástica as reflexões são 
permeadas por dogmas. 
Entre os seus maiores representantes encontram-se: 
Santo Anselmo, Abelardo, São Boaventura e, o mais 
proeminente de todos, Santo Tomás de Aquino. E entre 
os grandes temas da escolástica temos: a criação, os 
universais e a razão. 
 A criação - Deus é criador e o mundo é algo criado 
por Deus, a partir do nada. Entretanto, este mundo pode 
existir após sua criação, sem a necessidade da interven-
ção divina. Isto traz uma novidade: uma independência 
entre criador e mundo criado, trazendo um fato muito 
significativo que é certa independência de Deus;
 Os universais – este tema se concentra na seguinte 
questão: “em que medida os conhecimentos humanos 
se referem à realidade?”
 A razão – Deus é o lógos, que é razão. Porém, o 
homem possui também a razão. Com isto, há um des-
locamento da posição do homem que, agora, pode 
chegar à essência divina, porque há uma adequação 
entre ambos – Deus e o homem. 
Para Santo Tomás de Aquino, o maior representante da 
escolástica, tanto a Filosofia quanto a teologia são verda-
deiras, porém consideradas independentes. A razão disto 
está no fato de que a teologia se funda na revelação divina, 
enquanto que a Filosofia se funda na razão humana, sendo 
que a revelação é algo que provém do divino, portanto, ir-
refutável, nunca sendo passível de erro. Permanece, como 
em Agostinho, Deus como algo inquestionável. Dessa for-
ma, verdade, conhecimento verdadeiro, tem como critério 
a revelação, como ilustra bem a citação abaixo:
A tudo isso respondo que foi necessário, para a salvação 
do homem, uma doutrina fundada na revelação divina, além 
das disciplinas filosóficas que são investigadas pela razão 
humana. Primeiro, porque o homem está ordenado a Deus 
como a um fim que ultrapassa a compreensão da razão, 
conforme afirma Isaías, 44,4: “Fora de ti, ó Deus, o olho não 
viu o que preparaste para os que te amam.” Ora, o homem 
deve conhecer o fim ao qual deve ordenar as suas intenções 
e ações. Por isso se tornou necessário, para a salvação dos 
homens, que lhes fossem dadas a conhecer, por revelação 
divina, determinadas verdades que ultrapassam a razão hu-
mana (SANTO TOMÁS DE AQUINO, Suma teológica, I, Q. I, 
art. L, apud, RESENDE, 2005, p. 97). 
São Tomás, ao refletir sobre o Estado, afirma que o 
homem, sujeito do conhecimento, é um animal social e 
político, em que a sociedade existe, está voltada para 
ele e não o contrário. Entretanto, é a igreja a maior 
autoridade política, pois todo poder vem de Deus, e a 
tirania é a pior forma de governo.
Apesar de manter Deus, ou a revelação, em primazia 
diante da razão humana, como um dogma inquestioná-
vel, a escolástica tem uma importância muito grande na 
história do pensamento da humanidade, pois ela tenta 
adaptar a filosofia aristotélica à filosofia cristã. Para 
isto, a filosofia de Aristóteles foi indagada e São Tomás 
teve papel fundamental nesta tentativa, possibilitando 
ao pensamento da Idade Média reflexões que abriram, 
posteriormente, caminhos para que a razão humana se 
tornasse uma nova situação intelectual. 
SUGESTÃO DE ATIVIDADE
Propor um fórum para discutir a relação entre Filosofia e 
religião. 
9.2 Razão na modernidade
No declínio do pensamento medieval, uma fronteira 
se estabelece entre o pensamento religioso e a Filoso-
fia, que é, inicialmente, o cenário da razão na moder-
nidade, com um problema exclusivamente filosófico, 
onde a dicotomia entre racionalismo e empirismo se 
finca. Em seguida, outras possibilidades na discussão 
sobre a razão na modernidade se apresentam, ainda 
nesta época, mudando toda a história da Filosofia. 
Seguiremos nos tópicos seguintes apresentando essas 
discussões. 
9.2.1 O Racionalismo
Na teoria racionalista, o homem, sujeito do conheci-
mento, já nasce com ideias inatas, originárias de Deus, o 
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que permite a ele

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