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1 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 DOENTES QUEIMADOS - ATLS A) PRIORIDADE: controle da via aérea; interromper o processo de queimadura; obter acessos venosos. VIA AÉREA: queimaduras podem causar grande edema – via aérea em risco de obstrução. FATORES QUE ↑ RISCO DE OBSTRUÇÃO: - maiores profundidade e extensão das queimaduras; - queimaduras na cabeça e na face; - lesões inalatórias; - queimadura no interior da boca. **criança: via aérea menor LESÃO POR INALAÇÃO: indicadores clínicos e necessidade de intubação - queimaduras faciais e/ou cervicais; - chamuscamento dos cílios e das vibrissas nasais; - depósito de carbono na boca e/ou nariz e expectoração carbonácea; - alterações inflamatórias agudas na orofaringe, incluindo eritema; - rouquidão; - história de confusão mental e/ou confinamento no local do incêndio; - explosão com queimaduras da cabeça e tronco; - níveis sanguíneos de HbCO > 10% se o doente foi envolvido em um incêndio. INTERRUPÇÃO DO PROCESSO DE QUEIMADURA: remover toda a roupa; roupa aderente à pele não deve ser arrancada. Qualquer roupa impregnada com substância química deve ser removida com cuidado. A superfície corporal comprometida deve ser enxaguada copiosamente (abundantemente) com água corrente. Cobrir o doente com lençóis quentes, limpos e secos para evitar hipotermia. 2 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 ACESSOS VENOSOS: doente com mais de 20% da superfície corporal queimada REPOSIÇÃO DE VOLUME. Estabelecer acessos venosos com cateter de grosso calibre (mínimo 16G) introduzido em veia periférica. Membros superiores são preferíveis aos membros inferiores (↑ incidência de flebites e flebites sépticas nas veias safenas). Iniciar infusão com solução cristaloide isotônica, preferencialmente com solução de Ringer lactato. B) AVALIAÇÃO DO QUEIMADO: história; estimativa da superfície corporal queimada; profundidade da lesão. HISTÓRIA: - circunstâncias em que ocorreu a lesão: explosão, ambiente fechado, momento da queimadura. - história clínica: doenças preexistentes, alergias. - estado de imunização contra o tétano. **ficar atento à possibilidade de tentativa de suicídio. **a história deve ser condizente com o padrão de queimadura. Se for “suspeita”, possibilidade de abuso. ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL: - regra dos nove: corpo do adulto é dividido em regiões anatômicas que representam 9%, ou múltiplos de 9%,da superfície corporal total. **a área de superfície corporal da criança é ≠ da do adulto. **a palma das mãos (incluindo dedos) 1% da superfície corporal. PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA: importante para avaliar a gravidade, planejar o tratamento e prever resultados. - 1º grau) queimadura solar por exemplo ° eritema e ausência de bolhas ° epiderme intacta - 2º grau) Cabeça percentagem maior (2 x maior que no adulto) Membros inferiores percentagem menor Geralmente não necessitam reposição endovenosa de fluídos 3 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 ° aparência vermelha ou mosqueada ° edema e bolhas ° pode ter aparência “lacrimejante” ou úmida ° hipersensível à dor intensa (até mesmo às correntes de ar) - 3º grau) ° escuras; aparência de couro ° pode se apresentar: translúcida ou aspecto de cera ° superfície indolor; seca ° superfície pode ser vermelha e não mudar de cor à compressão local ° pouco edema; no entanto, na periferia da queimadura pode haver edema significativo C) AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO: via aérea, ventilação e circulação. VIA AÉREA: ambiente fechado (confinamento) sinais sugestivos de lesão de via aérea VENTILAÇÃO: HIPÓXIA: relacionada a lesão inalatória, ventilação inadequada (queimaduras tórax, lesões traumática de tórax). Suplementação de O2 com ou sem intubação. INTOXICAÇÃO POR CO: HbCO < 20% não costuma apresentar sinais e sintomas. Cefaleia e náusea (20% a 30%). Confusão (30% a 40%). Coma (40% a 60%). Morte (>60%). Ofertar O2 em alto fluxo através de uma máscara unidirecional sem recirculação. LESÃO POR INALAÇÃO DE FUMAÇA: - tratamento inicial pode exigir intubação e ventilação mecânica - determinação da gasometria arterial (para avaliação evolutiva) - PaO2 arterial não permite prever, de forma fidedigna, a intoxicação por CO - Aumenta a mortalidade: acúmulo de partículas de fumaça nos bronquíolos distais lesão e morte das células da mucosa brônquica lesão da via aérea aumento da Avaliação e tratamento definitivo da via aérea 4 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 resposta inflamatória aumento da permeabilidade capilar disfunção da difusão de O2. Células necrosadas tendem a obstruir a via. Essa obstrução e a diminuição da habilidade de evitar infecções aumentam o risco de pneumonia. - caso a condição hemodinâmica permita e exclusão de lesão de coluna, a elevação da cabeça e do tórax a 30° auxilia na redução do edema de pescoço e da parede torácica. CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DE LESÃO POR INALAÇÃO: exposição a um agente combustível; sinais de exposição à fumaça. **queimadura em local fechado. ** exposição prolongada. CIRCULAÇÃO: - monitoração horária do débito urinário, forma confiável de avaliação do volume sanguíneo circulante: sondagem vesical obrigatória. - reposição volêmica – baseada no débito urinário 2 a 4 ml de Ringer lactato por Kg de peso corporal por percentagem de área de superfície corporal com queimadura de 2° e 3°, nas primeiras 24 horas. Ex.: O volume de líquido estimado é então oferecido da seguinte maneira: metade do volume total estimado é administrada nas primeiras 8 horas após a queimadura. (Por exemplo, um homem de 100 Kg com 80% de ASC queimada necessita de 2 a 4 x 80 x 1 00 = 1 6.000 a 32.000 mL em 24 horas. Metade, 8.000 a 16.000 mL, devem ser infundidos nas primeiras 8 horas; portanto, o doente deve receber 1 .000 a 2.000 mL/h). O restante deve ser administrado nas 16 horas seguintes. ** Em crianças < 10 kg: pode ser necessária a associação de glicose nos fluidos infundidos para evitar hipoglicemia. ** Arritmias cardíacas podem ser o primeiro sinal de hipóxia e de anormalidades do equilíbrio ácido-básico ou eletrolítico. ** Acidemia persistente pode ser causada pelo envenenamento por cianeto. D) AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA E MEDIDAS AUXILIARES: exame físico; documentação; exames iniciais (incluindo laboratoriais e radiografias); manutenção da circulação periférica; sondagem gástrica; narcóticos, analgésicos e sedativos; cuidados com a ferida; antibióticos e imunização antitetânica. 5 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 EXAME FÍSICO: estimar extensão e profundidade da queimadura; avaliar possíveis lesões associadas; pesar. DOCUMENTAÇÃO: descrever o tratamento ministrado. EXAMES INICIAIS: hemograma, HbCO, glicemia, eletrólitos, teste de gravidez. Radiografia de tórax. MANUTENÇÃO DA CIRCULAÇÃO PERIFÉRICA: objetivo desta avaliação é excluir a síndrome compartimental. Síndrome compartimental: causada pelo aumento da pressão dentro do compartimento muscular interferindo na perfusão das estruturas dentro desse compartimento. Pressão compartimental > 30 mmHg pode causar necrose do músculo. Sinais: piora da dor com a movimentação passiva; tensão do membro; dormência do membro; eventualmente ausência de pulso no membro. Pode estar presente com queimaduras circunferenciais do tórax e abdome: escarotomias torácicas e abdominais podem aliviar o problema. Reposiçãovolêmica agressiva pode gerar síndrome compartimental abdominal. - remover joias - avaliar se há cianose, se o enchimento capilar é lento, se há sinais progressivos de comprometimento neurológico (por ex.: parestesia e dor em tec profundos). - dificuldade circulatória de um membro (resultante de queimadura) pode ser aliviada por escarotomia. - a fasciotomia raramente é necessária em paciente queimados. É utilizada com lesão elétrica de alta voltagem ou com queimaduras de tecidos abaixo da aponeurose. SONDAGEM GÁSTRICA: se o doente apresentar náusea, vômitos, distenção abdominal ou se a queimadura envolver mais de 20% da área de superfície corporal. NARCÓTICOS, ANALGÉSICOS E SEDATIVOS: doente pode estar ansioso e agitado devido à hipoxemia ou à hipovolemia mais do que à dor, respondendo melhor ao O2 ou a administração de líquidos do que ao uso de analgésicos que podem mascarar sinais de hipoxemia e hipovolemia. Eles devem ser administrados em doses pequenas e frequentes; apenas por via endovenosa. CUIDADOS COM A FERIDA: cobrir com pano limpo (delicadamente) alivia a dor. Não romper bolhas, nem aplicar agentes antissépticos. Compressas frias podem causar hipotermia. 6 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 ANTIBIÓTICOS: antibióticos profiláticos NÃO são indicados na fase inicial. Devem ser reservados para o tratamento de infecções. E) QUEIMADURAS QUÍMICAS: resultam da exposição a ácidos, álcalis ou derivados de petróleo. - Álcalis: mais sérias do que por ácido. Pois penetram mais profundamente. - Remover produto químico e cuidar da ferida. - São influenciadas pela duração do contato, pela [ ] e pela quantidade do agente químico. - Se o pó seco ainda estiver presente remova com uma escova antes de fazer irrigação com água. Se não for o caso lavar com água por 20 a 30 minutos. F) QUEIMADURAS ELÉTRICAS: frequentemente são mais graves do que parecem à inspeção externa. A corrente passa por vasos e nervos, podendo causar tromboses locais e lesões nervosas. Frequentemente necessitam de fasciotomias. - Atenção à via aérea e à respiração - Estabelecimento de acesso venoso em membro não afetado - Monitoração eletrocardiográfica - Sondagem vesical - Eletricidade causa contrações forçadas nos músculos: pode ocorrer lesões músculoesqueléticas e vertebromedulares. Rabdomiólise (quebra rápida de músculo esquelético: lesão muscular) provoca liberação de mioglobina que pode causar insuficiência renal aguda terapia para mioglobinúria. G) TRANSFERÊNCIA DE DOENTES PARA UM CENTRO DE QUEIMADOS: 1. queimaduras > 10% da área de superfície corporal 2. queimaduras de espessura parcial e total em face, olhos, ouvidos, mãos, pés, genitália, períneo ou comprometendo a pele sobre as principais articulações 3. queimaduras de espessura total em qualquer extensão, em qualquer idade 4. queimaduras elétricas graves 7 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 5. queimaduras químicas importantes 6. lesões por inalação 7. queimaduras em doentes com doenças prévias 8. qualquer doente queimado, no qual o trauma concomitante aumente o risco de morbidade ou mortalidade 9. crianças 10. queimaduras em doentes que irão necessitar de suporte especial: social, emocional ou reabilitação prolongada. (negligência, abuso) Procedimentos de transferência: planejar com o médico do centro de queimados; documentação – exames, temperatura, pulso, líquidos administrados e débito urinário. H) LESÕES PELO FRIO: crestadura ou “frostnip”, congelamento e lesão não congelante. CRESTADURA: forma mais leve de lesão pelo frio. - dor, palidez e diminuição da sensibilidade da parte afetada - reversível com aquecimento CONGELAMENTO: lesão de tecido por formação de cristais de gelo dentro das células e por oclusão microvascular anóxia tecidual. - Existe 4 graus de acordo com a profundidade do envolvimento. 1º grau: hiperemia e edema; sem necrose da pele 2º grau: hiperemia e edema acompanhados de vesículas grandes e de conteúdo claro; necrose de espessura parcial da pele 3º grau: necrose de espessura total da pele; necrose de tecido subcutâneo acompanhada de vesículas de conteúdo hemorrágico 4º grau: necrose de espessura total da pele; necrose muscular e óssea, com gangrena. LESÃO NÃO CONGELANTE: devida a comprometimento do endotélio microvascular, a estase e a oclusão vascular. Pode não haver destruição de tecidos profundos. TRATAMENTO DE LESÕES PELO FRIO: - não proceder com reaquecimento se houver risco de novo congelamento 8 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 - se puder, ingerir líquidos quentes - remover roupas úmidas e apertadas; substituir por cobertores aquecidos - colocação da parte afetada em água circulante (40°C) até reperfusão e coloração volte a ser rosada (20 a 30 minutos) - calor seco deve ser evitado, assim como esfregar ou massagear a área - reaquecimento pode ser doloroso; durante, recomenda-se monitoração cardíaca. 9 MARIA ALICE DE COSTA FERRO 27 novembro de 2015 REFERÊNCIA: ATLS 9 EDIÇÃO – 2012.
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