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ok CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO CUIDADO (1)

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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO CUIDADO
 O CUIDADO DE SAÚDE NÃO INSTITUCIONALIZADO
 Vários autores têm descrito fatos históricos relacionados às práticas de saúde desde o homem primitivo até os dias atuais. Ancorando em autores como Otoni et al(3), Geovanini et al(4), Brant(5); Gonçalves(6), Rezende(7), Melo(8), Foucault(9), Singer(10) e Jamieson et al (11), fundamenta-se as argumentações apresentadas quanto ao cuidado de saúde não institucionalizado até o cuidado institucionalizado prestado por religiosos e leigos. O homem primitivo atribuía ao cuidado de cura um elevado valor, pois acreditava-se que o curador de doenças detinha um poder inquestionável, podia aplacar a fúria das divindades e afastar os maus espíritos(12). A divisão social do trabalho, na estrutura familiar dos grupos primitivos, contemplou a mulher como responsável pelo cuidado com as crianças, velhos e doentes. De acordo com Barros et al(13), há poucas referências sobre os cuidados aos doentes nas civilizações antigas. Geovanini et al.(4), reafirmam ser a mulher a grande precursora do atendimento às necessidades de saúde da raça humana.
O estabelecimento das relações de produção e a divisão do trabalho se deu na medida em que o homem foi conquistando a técnica e se organizando socialmente. A divisão social do trabalho teve sua origem na tribo, quando, na família as diferenças fisiológicas entre sexo e idade determinaram uma divisão expontânea entre as incumbências do homem e da mulher. Ao homem coube a provisão de alimentos e a defesa da tribo e à mulher couberam as tarefas domésticas e fabricação dos utensílios necessários à execução destas(8). Através da relação com a natureza, essencialmente pela apropriação, o homem conquistou gradativamente o saber e desenvolveu a produção agrícola, pecuária e artesanal, instalando, através deste processo, o mercantilismo e mais tarde, o comércio. Na medida em que a produção fez gerar o excedente desenvolveu-se o comércio e o homem foi se tornando expansionista, competidor e guerreiro. Pouco a pouco o patriarcado foi sobrepondo-se ao matriarcado e evidenciando-se política, econômica e socialmente a supremacia do homem em relação à mulher. Neste processo histórico as práticas de saúde foram organizadas criando a hierarquia entre o trabalho dos sacerdotes ou feiticeiros da tribo que se encarregavam da essência dos rituais, detendo o saber-poder da cura e o trabalho dos auxiliares, que se ocupavam da operacionalização desses rituais(4, 13). 
A profissão surgiu do desenvolvimento e evolução das práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos. As práticas de saúde instintivas foram às primeiras formas de prestação de assistência. Quanto à Enfermagem, as únicas referências concernentes à época em questão estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e a atuação pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades dos templos com os sacerdotes. Não há caracterização nítida da prática de Enfermagem nesta época. As práticas de saúde monástico-medievais focalizavam a influência dos fatores sócio-econômicos e políticos do medievo e da sociedade feudal nas práticas de saúde e as relações destas com o cristianismo. Esta época corresponde ao aparecimento da Enfermagem como prática leiga, desenvolvida por religiosos e abrange o período medieval compreendido entre os séculos V e XIII.
Com a construção dos templos, na Grécia, surgiram os primórdios dos hospitais - espaços onde o doente era recolhido para tratamentos sacerdotais, como banhos, dietas vegetarianas, porções de efeitos hipnóticos e alucionógenos. Nestes templos as parturientes, doentes incuráveis e moribundos não eram recebidos. Estes eram cuidados no domicílio, pela mulher. A mulher, limitada à vida e ao trabalho no espaço privado do domicílio, não participava do avanço no pensamento filosófico e não tinha liberdade de escolher os maridos. A civilização romana, ao contrário do homem primitivo, considerava o cuidado do enfermo como algo indigno do cidadão romano. O cuidado era prestado por escravos e estrangeiros. Melo(8), lembra: "É importante destacar que as mulheres sempre foram curandeiras em todas as épocas....o cuidado ao doente era feito em casa, e quase sempre pela mulher..." (8) A Igreja, ao consolidar-se como autoridade moral, intelectual e financeira, passou a responsabilizar-se pelo tratamento dos enfermos. No século IV criam-se hospitais em todas as cidades onde já existiam catedrais. Singer et al.(10), ao se referirem à origem dos serviços de saúde, dizem que, na sociedade medieval o cuidado aos desvalidos - órfãos, viúvas, doentes, loucos e desocupados, estava a cargo da Igreja. Institucionalmente o cuidado dos enfermos não se separava da assistência social 
Texto retirado do artigo científico: ASSISTIR/CUIDAR NA ENFERMAGEM. Publicado 1998
O CUIDADO INSTITUCIONALIZADO PRATICADO POR RELIGIOSAS 
No século XIII, com o advento das ordens seculares, ocorreu o que se poderia chamar de introdução da enfermagem nos hospitais através de religiosos. Diáconos e diaconisas assumiram a assistência aos pobres desvalidos e doentes. Os religiosos buscavam salvar as suas almas, salvando a alma dos doentes através do cuidado (8). Já naquele momento, nascia o embrião da estrutura do serviço de enfermagem com uma marcada divisão social e intelectual do trabalho: as religiosas coordenavam e supervisionavam o serviço do hospital, os leigos e trabalhadores mal remunerados realizavam o trabalho manual complementar. A enfermagem exercida no hospital constituía uma prática de cuidar com objetivos diferentes da prática médica. Realizada por mulheres que optavam pela vida conventuária, tinha o caráter caritativo e, portanto, sem trocas econômicas. As regras práticas do trabalho de cuidar eram aprendidas pelas novatas com as mais experientes. Reportando a Foucault(14), encontramos: "Na história do cuidado do doente no Ocidente, houve na realidade, duas classes distintas que não se superpunham, que as vezes se encontravam, mas que diferiam fundamentalmente, a saber: a médica e a hospitalar (...). O pessoal hospitalar não estava destinado a curar o enfermo, mas a conseguir a própria salvação." (14) Pitta(15), reforça esta idéia quando, a partir da análise de fatos da história, nos lembra que as motivações para cuidar dos enfermos certamente se situaram no âmbito da religião e não da ciência e da técnica, ficando portanto, o cuidar enquanto ato de solidariedade humana vinculado historicamente à religiosidade e à abnegação. Nos dizeres de Jamieson(11), percebe-se ao longo da histó- ria, uma constante associação entre religião, medicina e enfermagem. Esta associação diminuiu com a expansão do capitalismo, porém, ainda hoje, há instituições em que está presente através de práticas e crenças religiosas vinculadas ao tratamento, ou através da filantropia.
 O CUIDADO INSTITUCIONALIZADO PRATICADO POR LEIGOS 
A associação entre enfermagem e religião, profundamente ligada a um valor caritativo e filantrópico, perdurou até o século XVI, quando, como conseqüência da Reforma Protestante gerou uma crise conhecida como “período negro" ou "período obscuro" da enfermagem, que determinou o fechamento de hospitais e a expulsão de religiosos que aí atuavam(8,11,16). Conforme Brant (5),
"Os países que aderiram à Reforma tiveram que substituir os religiosos católicos que atuavam nos seus hospitais, por leigos sem nenhum treinamento, e o que era 'pior', sem as qualidades exigidas à época".(5) Não havia ainda uma prática de enfermagem organizada, baseada em procedimentos científicos. Segundo Foucault(9) "Até meados do século XVIII, o hospital existente na Europa era essencialmente uma assistência aos pobres. Instituição de assistência, como também, de separação e exclusão. O pobre como pobre, tem necessidade de assistência, e como doente, portador de doença e de possível contágio, é perigoso. Por esta razão, o hospital deve estar presente, tanto para recolhê-lo, quanto para proteger os outros do perigoque ele encarna." (9) A necessidade de se cuidar de um grande contingente de pessoas excluídas, moral e socialmente, era uma dívida da sociedade daquela época. Então, para cuidar de excluídos, buscou-se a adesão de um grupo de pessoas também excluí- das: mulheres marginalizadas. A decadência da enfermagem coincide com a transição entre a queda do feudalismo e a instalação do pré-capitalismo. O contexto social, econômico e político porque passou a sociedade no século XIX criou as condições que viriam a dar suporte à profissionalização da enfermagem. O fim da expansão do feudalismo, a Revolução Industrial impulsionando o capitalismo e a expansão econômica e cientí- fica, geraram um desequilíbrio sócio-econômico em vários paí- ses. Surgiu a classe trabalhadora - o proletariado - que vendia sua força de trabalho para manter a sobrevivência. As dificuldades econômicas, a exploração do proletariado e as guerras determinaram o aparecimento e a proliferação de várias doenças(12). A doença vista como um transtorno econômico e político para o processo da produção e consumo e a necessidade de reposição da mão-de-obra, bem como dos soldados, fizeram com que os hospitais marítimos e militares fossem alvo de investimentos, e a saúde da população passou a constituir uma preocupação dos governantes. No bojo destas transformações importantes para a sociedade, houve uma crescente necessidade dos serviços de enfermagem. Esta se expande e cria identidade buscando adequarse ao modo de produção vigente - o capitalismo.
 
+Texto retirado do artigo científico: ASSISTIR/CUIDAR NA ENFERMAGEM. Publicado 1998
	
Texto retirado do artigo científico: História da Enfermagem - o período de declínio da enfermagem nos séculos que se seguiram a Idade Média. .. Publicado 2009.
FLORENCE NIGHTINGALE E O RITUAL CIENTÍFICO DO CUIDAR
No dia 12 de maio de 1820, durante uma viagem que Edward e Francis Nightingale realizavam pela Europa, nasce uma de suas filhas que recebeu o nome de Florence em virtude do nascimento ter acontecido na cidade de Florença(9). Por ter nascido em uma família rica e educada, viveu a adolescência participando de uma sociedade aristocrática, tendo tido a oportunidade de estudar diversos idiomas, matemática, religião e filosofia(10). Extremamente religiosa, desejava mesmo era fazer "trabalho de Deus" - ajudar os pobres, os doentes e os menos dotados, amenizando-lhes o sofrimento e a degradação(11).
Florence Nightingale é considerada a fundadora da Enfermagem moderna em todo o mundo, obtendo projeção maior a partir de sua participação como voluntária na Guerra da Criméia(11), em 1854, quando com 38 mulheres (irmãs anglicanas e católicas) organizou um hospital de 4000 soldados internos, baixando a mortalidade local de 40% para 2%. Com o prêmio recebido do governo inglês por este trabalho, fundou a primeira escola de enfermagem no Hospital St. Thomas - Londres, em 24/06/1860.
Os fundamentos que nortearam a criação da escola de enfermagem foram originados também, de suas experiências anteriores a guerra, ou seja, sua educação aristocrática que lhe permitiu ter acesso a vários idiomas, a matemática, religião e filosofia(12) e seu estágio de três meses no Instituto de Diaconisas de Kaiserswerth/Alemanha, onde aprendeu os primeiros passos da disciplina na enfermagem (regras e horários rígidos, religiosidade, divisão do ensino por classes sociais). A organização do Instituto de Diaconisas instituída pelo pastor luterano Theodor Fliedner e sua esposa Frederika muito se assemelhava àquela preconizada pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, estando mais preocupados em formar o caráter de suas alunas do que em ministrar-lhes conhecimentos específicos de enfermagem(13).
Um fato que é pouco reforçado pelos historiadores é o de que Florence Nightingale conheceu e apreendeu o trabalho desenvolvido pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo em Paris, no Hôtel-dieu, onde acompanhou o tipo de trabalho assistencial e administrativo que realizavam, suas regras, sua forma de cuidar dos doentes, fazendo anotações, gráficos e listas das atividades desenvolvidas, e aplicou o mesmo questionário, que já havia distribuído nos hospitais da Alemanha e Inglaterra, tendo aprofundado seus estudos; a sua organização(14).
Num segundo momento, Florence Nightingale retornou a este hospital por mais um mês, vestindo com o hábito das irmãs, para sentir mais próximo o seu carisma, apenas residindo em casa separada. Possivelmente, o convívio com as regras de conduta das Irmãs de Caridade e as Senhoras da Confraria a influenciaram intimamente na construção do seu modelo de enfermagem.
Em 1854, com a Guerra na Criméia, a Grã-Bretanha lutava junto com a França ao lado dos aliados turcos em sua guerra contra a Rússia. Mais uma vez, as contingências aproximam Florence Nightingale das irmãs de caridade, só que agora de forma indireta. As irmãs já estavam em Constantinopla desde 1839, desenvolvendo seu trabalho nos hospitais, e por ocasião da Guerra foram enviadas por solicitação do governo francês para os hospitais militares e da marinha para prestar cuidados aos enfermos "nem os rigores do inverno, nem a cólera e o tifo, nada as assusta, nada as repele"(15). "Ao serviço das ambulâncias e dos hospitais, elas juntaram ainda a visita freqüente aos prisioneiros de todas as nações, e esperavam o desembarque dos navios carregados de doentes e de feridos chegados da Criméia"(15).
Enquanto isso, os hospitais militares ingleses estavam vivendo o caos. O exército britânico estava prestes a ser derrotado em virtude da doença, da desorganização, do frio e da fome. A cólera reduziu o exército à inutilidade e as primeiras batalhas da Criméia foram feitas por homens exauridos pela doença e sedentos.
Os jornais ingleses criticavam a administração dos hospitais militares e alguém que conhecia o excelente trabalho das irmãs de caridade nos hospitais militares franceses escreveu no "Times": "PORQUE NÃO TEMOS IRMÃS DE CARIDADE?" O ótimo tratamento que dispensavam aos soldados franceses constituía, sem dúvida, uma novidade para os ingleses, porquanto, algum tempo depois o Ilustred London News estampou uma ilustração, onde se viam as irmãs trabalhando na enfermaria de seu hospital(16). A conseqüência disto foi que, o Ministro da Guerra necessitava tomar medidas urgentes para reverter a situação,e assim escreve"Na Inglaterra, só conheço uma criatura capaz de organizar e dirigir um plano assim...mas não devo ocultar que, segundo penso, o sucesso final ou o fracasso do projeto depende de sua decisão"(16). Esta pessoa era Florence Nightingale.
A partir destas informações, entendo que, ao pensar numa escola de enfermagem, Florence Nightingale deva ter utilizado muito do que havia aprendido com as irmãs de caridade, desde as vastas exigências de caráter moral e espírito religioso feitas às candidatas, a distribuição e controle do tempo destinado ao trabalho hospitalar, curso e folgas, bem como, a admissão de alunas de classes sociais diferenciadas. As de classe elevada (lady nurses) podem ser comparadas às Senhoras da Confraria, que eram preparadas para as atividades de supervisão, direção e organização do trabalho em geral, e as de nível sócio-econômico inferior (nurses) que podem ser comparadas as irmãs de caridade provenientes das aldeias, que eram mais preparadas para o trabalho manual, o cuidado direto, a obediência e a submissão.
As idéias de Florence Nightingale acerca da enfermagem como profissão chocavam-432teY5se com a ideologia da era vitoriana, correspondente à prática da enfermagem, ou seja, uma forma de ocupação manual desempenhada por empregadas domésticas. Não obstante, a escola iniciou seu funcionamento tendo por base: a) preparo de enfermeiras para o serviço hospitalar e para visitas domiciliárias a doentes pobres; b) preparo de profissionais para o ensino de enfermagem(17). Na seleção das candidatas, as qualidades morais tinham prioridade durante o curso e a disciplina era rigorosa. O rigor da escola justificava-se, considerandoo que era corrente na época, isto é, quem cuidava dos doentes na Inglaterra eram pessoas imorais e, portanto, o modelo preconizado deveria ser o oposto, o mais próximo possível do que relizavam as associações religiosas, porém laicas.
Texto retirado do artigo científico: Florence Nightingale e as irmãs de caridade: revisitando a história. Publicado 2005.
A HISTÓRIA DE FLORENCE
A vida de Florence tem servido de exemplo para a humanidade, especialmente para a Enfermagem. Sua abnegação e decisão em modificar as condições de saúde da sociedade no final do século XIX, marcaram profundamente a história. Assim, contar, investigar, comprovar sua idoneidade ou desmistificar sua imagem tem sido objeto de estudo para o qual pesquisadores de enfermagem e de áreas afins se voltam. Sua vida tem sido biografada, narrada e divulgada sob variados aspectos. O maior enfoque dos 35 resumos desta categoria versam sobre a história de vida de Nightingale. Uma dificuldade para constituir o corpus de análise nos eixos aqui propostos, se relaciona ao fato de que os aspectos de sua vida como mulher, enfermeira, política, epidemiologista, visionária, exemplo para outras mulheres, se entrelaçam no mesmo resumo. Assim, é prudente salientar que a divisão apresentada tem a intenção de fazer um panorama das idéias sobre Nightingale e mantém relação direta com o número de ocorrência nos resumos e não com a totalidade destes. O resultado do estudo destes autores pode ser desmembrado em três eixos: o primeiro trata da vida pessoal e familiar, o segundo e mais extenso, se refere a sua vida profissional e o terceiro, mostra a sua imagem no consciente coletivo como um símbolo para a enfermagem e a humanidade ou como algo a ser desmistificado. Aspectos relativos à família de Nightingale, que era rica, poderosa e mantinha contato com pessoas investidas de poder governamental, o primeiro eixo de discussão, foi enfocado em quatro resumos. Um deles conta que seus pais, após as núpcias, passaram a viajar pela Europa em turnê com uma comitiva luxuosa, por um período de dois anos. Durante esta viagem, nasceram Florence e sua irmã, as quais receberam o nome das cidades onde ocorreram os nascimentos. A casa onde Nightingale nasceu e viveu durante o primeiro ano de vida, na Vila Columbaia, foi alvo de peregrinação de curiosos, historiadores e profissionais da saúde. Esta foi preservada e transformada, primeiramente em uma escola católica privada e, posteriormente, após a Segunda Guerra Mundial, serviu de hospital. Atualmente existe uma construção ocupando aquela área, porém, ainda é referenciada e visitada como o local de seu nascimento. Curiosamente, as freiras que comandavam a escola, precisaram aprender o idioma inglês para atenderem os visitantes que não conheciam o idioma italiano. O fato de sua família ter poder econômico, social e político foi salientado constantemente e considerado como decisivo para que seus feitos fossem propagados.13 Onze resumos se referem à educação esmerada e diferenciada daquela oferecida às mulheres de sua época. Os ensinamentos incluíam filosofia, italiano, latim e grego, mas foi em matemática que Nightingale se destacou quando adulta. Ela demonstrou grande capacidade de raciocínio, usando estes conhecimentos nos cálculos que fez como estatística e epidemiologista. Sua inteligência e cultura, bastante incomuns, principalmente para uma época em que a mulher era educada para a vida doméstica, estão registradas nos resumos pesquisados. Durante 16 anos ela se dedicou a vencer a resistência de sua família à sua decisão em se tornar enfermeira.14 Seu trabalho na Guerra da Criméia teve grande repercussão, sendo considerado um marco de divisão na história da Enfermagem, porém o conhecimento de outros eventos e habilidades evidenciaram sua personalidade plural, atrelada à imagem contemporânea da enfermagem, aspectos estes explorados em cinco resumos. O segundo eixo temático desta categoria discorre sobre sua atuação profissional e remete para a imagem que é descrita, mostrando a íntima relação entre o que o sujeito faz e o que ele é. A principal contribuição deixada para a Enfermagem, no entanto, foi sua atuação após o término da guerra. Nesta época, ela poderia ocupar qualquer cargo ou ter se aposentado, mas preferiu usar sua influência, promovendo programas educativos e campanhas, criando também a primeira escola de enfermagem. Existe um vínculo entre seu trabalho, suas pesquisas, anotações e habilidades pessoais com a influência política e econômica de sua família. No entanto, é unânime, a idéia de que era uma mulher visionária, determinada, contestadora e questionadora, bem como de seu pioneirismo, dentre eles o uso da ilustração gráfica de dados para apresentar os resultados de suas pesquisas. Por outro lado, ela promoveu reformas consideradas surpreendentes nos hospitais militares, que com seus princípios de cura e liderança exerceram influência sobre a criação de novas escolas de enfermagem, formação de enfermeiros e médicos dos hospitais militares. Por estas razões é considerada a criadora de uma nova profissão feminina e da Enfermagem Moderna. Contrapondo a imagem desta mulher, dois resumos afirmam que muitas outras mulheres poderiam ter se dedicado em prol de uma causa, no entanto, preferiram seguir os padrões sociais da época. Outras não receberam o devido destaque e permaneceram à sombra de Nightingale, e ainda, as que são assemelhadas a ela no que se refere ao enaltecimento da imagem feminina como símbolo de uma profissão. Artigos produzidos por profissionais de outras áreas, como a odontologia, ou produzidos por enfermeiros de países fora dos Estados Unidos da América, buscam semelhanças na biografia de Nightingale com outras personagens que se destacaram na história, estabelecendo comparações. Em dois resumos existe a referência de que ela é a mais famosa personagem do sexo feminino, vinculando sua história à da medicina e destacam seu nome como um dos mais conhecidos e venerados no mundo. O relato biográfico confere uma nova roupagem à dialética entre indivíduo e contexto. O indiví- duo como sujeito é observado na intimidade de suas relações de amizade, condição social, pertencimento a grupos filosófico-religiosos, região onde viveu e, tecida nestas relações, a realidade biográfica é construída.15 Embora autores pretendam desfazer o mito de Nightingale, é indiscutível sua ligação com a prática científica da Enfermagem. A orientação de diferentes ordens religiosas, a presença de virtudes na educação moral dos enfermeiros, são justificativas para a representação social da enfermagem como profissão abnegada e altruísta. Ela era considerada a “Dama da Lâmpada” pois durante a noite incansavelmente visitava os doentes dentro do hospital, velando por aus vidas.
Texto retirado do artigo científico: O legado de Florence Nightingale: uma viagem no tempo.Publicado 2009 .
IMAGEM
A imagem significa o quadro que uma pessoa tem do objeto de sua vivência. Seu conceito está intimamente ligado à idéia de prestígio social e sua construção relaciona-se a concepções, sentimentos e atitudes. Imagem pode significar também a opinião (contra ou a favor) que o público pode ter de uma instituição, organização ou personalidade ou ainda o conceito que uma pessoa goza junto a outrem(1).
A imagem de qualquer categoria profissional na sociedade pode ser associada a poder, reconhecimento e status. O que a sociedade pensa do profissional é tão importante quanto aquilo que ele é, pois a projeção de uma imagem negativa dificulta o desenvolvimento da profissão e o seu reconhecimento por parte da sociedade(2).
A imagem profissional da enfermeira é uma rede de representações sociais da profissão. Para Silva, Padilha e Borenstein (3:588) "é representada por um conjunto de conceitos, afirmações e explicações, reproduz e é reproduzida pelas ideologias originadas no contexto das práticas sociais, internas/externas a ela".
Assim, a imagem profissional remete à identidade da profissão, relacionada às suas característicase significados exclusivos. Essa relação imagem/identidade é um fenômeno histórico, social e político, configurando-se em uma totalidade contraditória, múltipla e mutável(3).
A imagem da enfermeira é influenciada pela história da enfermagem. As primeiras referências a enfermeiras são encontradas no Velho Testamento Bíblico. A palavra enfermeira é derivada do latim nutrix que corresponde à "mãe enfermeira", imagem associada a uma mulher que acompanhava uma criança que geralmente não era sua, como uma babá. Ao longo dos séculos a palavra "enfermeira" evoluiu até ser associada a uma pessoa que cuida de enfermos, não necessariamente do sexo feminino(4).
A Enfermagem surgiu como uma resposta intuitiva ao desejo de manter as pessoas saudáveis, proporcionar conforto e proteção aos doentes, constituindo a Imagem Folclórica da Enfermeira (5). O papel de enfermeira era assumido por aquelas mulheres que apresentavam desejo e habilidade para cuidar. O conhecimento que essas mulheres desenvolviam e acumulavam sobre saúde era passado oralmente de geração para geração. Naquela época existia uma relação íntima da religião e do folclore com as artes curativas(6).
A Imagem Religiosa da Enfermeira(5) se desenvolveu na Era Cristã e Idade Média, com organizações voltadas para a caridade e o cuidado de doentes, pobres, órfãos, viúvos, idosos, escravos e prisioneiros(4). Nessa fase, as mulheres solteiras (diaconisas), as virgens e as viúvas tiveram oportunidades de trabalho jamais imaginadas. À medida que a Enfermagem desenvolvia uma imagem associada à religião, uma disciplina cada vez mais rígida era exigida e a obediência absoluta às ordens médicas e dos pastores era determinada(4).
No passado, os cuidados aos doentes eram considerados como inatos à mulher, inscritos no seu patrimônio genético e associados ao amor maternal. O impacto disso, associado à divisão sexual do trabalho e à influência dos valores religiosos veiculados desde a idade média, colaboram para a desvalorização econômica lenta, mas segura, do conjunto de práticas de cuidado asseguradas pelas mulheres(7). Amor e doação estão associados ao exercício da obediência e humildade, contribuindo para que faça parte do ideário da sociedade que as enfermeiras trabalhem sempre a serviço do outro, sem uma remuneração justa ou mesmo condições de trabalho que possibilitem um digno exercício da profissão(8).
O Renascimento (séc. XIV a XVI) provocou uma revolta contra a supremacia da Igreja Católica, quando foram dissolvidas ordens religiosas e o trabalho das mulheres nessas ordens foi extinto, iniciando os "Anos Negros da Enfermagem". O papel das mulheres na sociedade mudou: deveriam resignar-se aos limites de seus lares e obedecer a seus maridos. Assim, o cuidado aos doentes foi deixado a cargo de um grupo mulheres que compreendia prisioneiras e prostitutas que eram forçadas a trabalhar como serventes domésticas(4). A Enfermagem naquela época era considerada um serviço doméstico, sendo pouco desejável, em virtude das longas horas, da baixa remuneração e do estressante trabalho. A denominada Imagem Servil da Enfermeira(5)representava uma mulher gorda, velha, bêbada, com uma aparência desagradável, por vezes masculinizada e insensível(4).
As características marcantes de gênero em uma profissão quase que exclusivamente feminina contribuíram com essa imagem de obediência e submissão. Fazia parte da formação advertir as enfermeiras que não era necessário dominar o conhecimento médico, mas realizar tarefas domésticas de rotina, sem julgamento crítico ou iniciativa(9). Com isso eram garantidas a subordinação e a dependência de seu trabalho ao médico, o que interferiu na evolução da profissão, visto que suas precursoras preocupavam-se em enaltecer os valores referentes à beleza dessa atividade e às perspectivas de vida dedicada ao próximo.
No Brasil, a Enfermagem surgiu com elementos exclusivamente do sexo masculino, primeiramente com os índios, nas figuras dos feiticeiros, pajés e curandeiros, que se ocupavam dos cuidados aos que adoeciam em suas tribos, e mais tarde com os jesuítas, voluntários leigos e escravos, selecionados para tal tarefa(10). No Brasil do século XVI, a Enfermagem tinha um cunho essencialmente prático, razão pela qual eram extremamente simplificados os requisitos para o exercício da função de enfermeira. Essa condição perdurou até o início do século XX, sendo que, nesse período não era exigido qualquer nível de escolarização para aqueles que exerciam a profissão e a prática era embasada em conhecimentos puramente empíricos(10).
 
 Texto retirado do artigo científico: Imagem da enfermeira: revisão da literatura. Publicado 2005.

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