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Apostila de Dosimetria Prof. Dr. Martin E. Poletti Livre docente do Departamento de F´ısica � +55 16 3602-4442 � poletti@ffclrp.usp.br 1 SUMA´RIO �� ��2 Suma´rio 1 Teoria de Cavidades 3 1.1 Teoria de Cavidades Pequenas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.1.1 Teoria de Bragg−Gray . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.1.2 Teoria de Spencer−Attix . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.2 Teoria de Cavidades Grandes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1.3 Teoria de Cavidades Intermedia´rias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.3.1 Teoria de Cavidades de Burlin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.4 Variac¸a˜o da Φe entre interfaces de materiais com Z diferentes . . . . . . . . . . . . . . 10 Prof. Dr. Martin E. Poletti 2 Departamento de F´ısica �� ��3 1 Teoria de Cavidades Como medir as grandezas dosime´tricas (K, Kc, Kr, X, D)? Para medir a dose de radiac¸a˜o absorvida por um material exposto a` radiac¸a˜o e´ necessa´rio intro- duzir no meio um instrumento que seja sens´ıvel a` radiac¸a˜o. Esse instrumento (o dos´ımetro) deve fornecer uma leitura correlacionada a` dose absorvida em seu volume. Os dos´ımetros podem ser l´ıquidos, so´lidos e gasosos. O volume sens´ıvel geralmente e´ denominado “cavidade”. A dose na cavi- dade e´ diferente da dose que seria depositada no volume na auseˆncia do dos´ımetro. As relac¸o˜es que permitem interpretar e obter essas duas grandezas esta˜o baseadas na teoria de cavidades, definidas pelo tamanho da cavidade (Figura 1). γ e1 g w e1 e2e3e4 gw .Dg g .Dw e4 e3 e2 γ γ a) b) c) Figura 1: Comparac¸a˜o entre diferentes tamanhos de cavidades em relac¸a˜o ao alcance do ele´tron; a) cavidade pequena, b) cavidade intermedia´ria e c) cavidade grande. 1.1 Teoria de Cavidades Pequenas 1.1.1 Teoria de Bragg−Gray Vamos considerar uma flueˆncia de part´ıculas carregadas ideˆnticas de energia cine´tica T passando atrave´s de uma interface entre dois meios diferentes g e w, como mostra a Figura 2. Figura 2: A flueˆncia de part´ıculas carregadas Φ atravessando uma interface entre dois meios w e g (Attix, 1986). Pode-se escrever a dose absorvida no lado g e w da fronteira como: Prof. Dr. Martin E. Poletti 3 Departamento de F´ısica 1.1 Teoria de Cavidades Pequenas �� ��4 Dg = Φ [( dT ρ · dx ) c,g ] T , (1) Dw = Φ [( dT ρ · dx ) c,w ] T , (2) onde, ( dT ρ · dx ) c fornece o poder de freamento por colisa˜o em massa, sendo o valor esperado da taxa de energia perdida por unidade de comprimento de uma part´ıcula carregada com energia cine´tica T , num meio com nu´mero atoˆmico Z e densidade ρ. Representa a taxa de energia perdida por ele´trons em interac¸o˜es por colisa˜o (excitac¸a˜o e ionizac¸a˜o). Supondo que o valor de Φ e´ cont´ınuo atrave´s da interface (ignorando o backscattering), pode-se escrever a raza˜o de doses absorvidas nos dois meios como: Dg Dw = ( dT ρ · dx ) c,g( dT ρ · dx ) c,w , (3) para part´ıculas carregadas monoenerge´ticas. Bragg e Gray aplicaram esta equac¸a˜o ao problema de relacionar a dose absorvida num detector inserido num meio com a dose absorvida nesse meio, identificando o detector como uma “cavidade preenchida de ga´s”, da´ı o nome de teoria da cavidade. Esta teoria consiste no seguinte: temos uma cavidade (preenchida com um meio g) num meio homogeˆneo w, conforme Figura 3. Figura 3: A flueˆncia de part´ıculas carregadas Φ passando atrave´s de uma camada fina de meio g introduzida entre as regio˜es de meio w (Attix, 1986). Nessa teoria, supo˜e-se que a cavidade seja suficientemente pequena em comparac¸a˜o com o alcance dos ele´trons que incidem sobre ela, de tal forma que esta na˜o pertube o campo de part´ıculas carrega- das. Essa suposic¸a˜o e´ chamada de primeira condic¸a˜o de Bragg−Gray, e implica que os nu´meros atoˆmico dos dois meios devem ser muito pro´ximos, podendo assim assegurar as mesmas propriedades de espalhamento dos meios. Tambe´m se assume que nenhuma carga seja formada ou parada em g, ou seja, toda a energia depositada em g e´ devido a`s part´ıculas carregadas que atravessam essa cavidade. Essa suposic¸a˜o e´ chamada de segunda condic¸a˜o de Bragg−Gray. Prof. Dr. Martin E. Poletti 4 Departamento de F´ısica 1.1 Teoria de Cavidades Pequenas �� ��5 Nestas condic¸o˜es podemos novamente escrever Φg = Φw: Dg Dw = ( dT ρ · dx ) c,g( dT ρ · dx ) c,w (4) Esta equac¸a˜o aplica-se para part´ıculas carregadas monoenerge´ticas que atravessam g. Para a flueˆncia de part´ıculas de diferentes energias cine´ticas (distribuic¸a˜o da flueˆncia em energia, ΦT ), temos: Dg Dw = m(S¯c)g m(S¯c)w = m(S¯c) g w, (5) para um feixe polienerge´tico; onde m(S¯c)g e´ o poder de freamento por colisa˜o em massa me´dio para o meio g, dado por: m(S¯c)g = ∫ Tmx 0 ΦT ( dT ρ · dx ) c,g dT∫ Tmx 0 ΦTdT , (6) e m(S¯c)w e´ o poder de freamento por colisa˜o em massa me´dio para o meio w, dado por: m(S¯c)w = ∫ Tmx 0 ΦT ( dT ρ · dx ) c,w dT∫ Tmx 0 ΦTdT , (7) Exemplo: Se o meio g que ocupa a cavidade e´ um ga´s no qual uma carga Q (de qualquer sinal) e´ produzida por algum tipo de radiac¸a˜o, a Dg pode ser expressa em termos de carga como: Dg = Q m (w¯ e ) g , (8) onde (w¯/e)g e´ a energia me´dia necessa´ria para formar um par de ı´ons no ga´s por unidade de carga e m e´ a massa do ga´s. Substituindo a equac¸a˜o (8) na equac¸a˜o (5) temos que a dose no meio pode ser escrita como: Dw = Q m (w¯ e ) g · m(S¯c)wg (9) Esta equac¸a˜o permite calcular a dose absorvida no meio que rodeia imediatamente a cavidade de Bragg−Gray (meio w, wall = parede), com base na carga produzida na cavidade de ga´s. COMENTA´RIOS: Significado de Q (carga real coletada, que e´ maior devido a` recombinac¸a˜o), m (massa ativa). A teoria de B−G tambe´m pode ser aplicada a`s cavidades preenchidas com material so´lido ou l´ıquido. Para que uma cavidade do meio condensado possa satisfazer as condic¸o˜es de B−G, sua espessura deve ser apenas ∼ 0, 001 vezes daquela para a cavidade preenchida de ga´s a` 1 atm, para obter uma espessura ma´ssica compara´vel a` g. Por exemplo, uma cavidade preenchida de ga´s de 1 mm e´ compara´vel a uma cavidade de meio condensado m de 1µm. Prof. Dr. Martin E. Poletti 5 Departamento de F´ısica 1.1 Teoria de Cavidades Pequenas �� ��6 Notar que o EPC na˜o e´ necessa´rio para a definic¸a˜o da relac¸a˜o de B−G, entretanto, se o EPC existir no ponto no qual introduzimos uma cavidade de B−G, teremos uma forma simples de estimar ΦwT . Spencer obteve a relac¸a˜o de B−G usando condic¸o˜es mais restritas, como EPC, a formac¸a˜o de bremsstrahlung e as duas condic¸o˜es de B−G, para um feixe monoenerge´tico com energia inicial T0. Dg Dw = 1 T0(1− Yw(T0)) ∫ T0 0 ( dT ρ · dx ) c,g( dT ρ · dx ) c,w dT (10) onde Yw(T0) e´ a taxa de radiac¸a˜o, ou seja, a frac¸a˜o total de energia que e´ emitida como radiac¸a˜o eletromagne´tica. A produc¸a˜o de radiac¸a˜o Yw(T0) para um ele´tron com energia inicial sera´ dada por: Yw(T0) = y¯w(T0) = 1 T0 ∫ (dT/ρ · dx)R (dT/ρ · dx) dT (11) Colora´rios da relac¸a˜o de Bragg−Gray 1. Primeiro colora´rio da relac¸a˜o B−G: Considere uma cavidade de B−G de volume V com paredes w a qual e´ preenchida com um ga´s g1, de densidade ρ1 e depois com um ga´s g2, de densidade ρ2. Se ideˆnticas as condic¸o˜es de irradiac¸a˜o aplicadas nas duas situac¸o˜es, podemos calcular a raza˜o Q2/Q1, Q2 Q1 = ρ2 ρ1 · (w¯/e)1 (w¯/e)2 · (S¯c) g2g1 (12) Analisando o resultado, vemos que esta raza˜o na˜o depende do material da parede, significa queo mesmo valor desta raza˜o e´ esperado para um experimento repetido com diferentes paredes de caˆmaras. 2. Segundo colora´rio da relac¸a˜o B−G: Consideraremos duas cavidades de B−G com paredes espessas (maiores que o alcance ma´ximo das part´ıculas carregadas) sendo irradiadas nas mesmas condic¸o˜es (produzindo o EPC nas paredes) e contendo um mesmo ga´s g de densidade ρ. Supondo que a primeira caˆmara tenha um volume V1 e paredes w1, e a segunda um volume V2 e paredes w2, podemos calcular a raza˜o Q2/Q1, Q2 Q1 = V2 V1 · (µ¯ab/ρ)w2 (µ¯ab/ρ)w1 · (S¯c) w1 g (S¯c) w2 g = V2 V1 · ( µ¯ab ρ )w2 w1 · (S¯c)w1w2 (13) Analisando o resultado, nota-se que o (S¯c) w1 w2 independe do meio, logo a raza˜o entre Q2/Q1 na˜o depende da escolha do ga´s. 1.1.2 Teoria de Spencer−Attix Experimentalmente se comprovou que a teoria de B−G na˜o prediz exatamente as ionizac¸o˜es que acontecem numa cavidade, especialmente com paredes de alto nu´mero atoˆmico (como apresentado na Figura 4). Na Figura 4 temos a medida de ionizac¸a˜o relativa por unidade de volume de ar com diferentes paredes (C, Al, Sn e Pb) (curvas cont´ınuas) com valores teo´ricos usando a teoria de B−G (marca horizontal sobre o eixo y), calculadas usando segundo colora´rio de B−G, e a de Spencer (curvas Prof. Dr. Martin E. Poletti 6 Departamento de F´ısica 1.1 Teoria de Cavidades Pequenas �� ��7 Figura 4: Comparac¸a˜o das densidades de ionizac¸a˜o medidas (curvas so´lidas) em caˆmaras de ionizac¸a˜o preenchidas com ar, tendo paredes de diversos materiais e separac¸a˜o entre as paredes ajusta´veis, com a teoria de Bragg−Gray (marcac¸o˜es a` esquerda do gra´fico) e teoria de Spencer (curvas tracejadas), para raios γ de 198Au. (Attix, De La Vergne and Ritz, 1958). tracejadas) exposto a um feixe de fo´tons de 412 keV produzido por uma fonte radioativa de 198Au (Attix, 1986). Spencer (1955) sugere que a produc¸a˜o de raios δ deve ser levada em conta na deduc¸a˜o da teoria de cavidade de B−G, incorporando tambe´m o tamanho da cavidade. A teoria de Spencer comec¸a com as mesmas suposic¸o˜es para obter a relac¸a˜o de B−G, isto e´, as duas condic¸o˜es de B−G, ale´m de EPC e auseˆncia de formac¸a˜o de bremsstrahlung. Nesta teoria, o tamanho da cavidade esta relacionado a uma quantidade ∆ (energia de corte do stopping power restrito), que e´ escolhida como a energia me´dia de ele´trons que possuem alcances projetados suficientes apenas para cruzar a cavidade. O espectro de ele´trons formados δ ao redor da cavidade, Φe,δT (incluindo raios δ) e´ dividido da seguinte forma: a) Ele´trons que possuem energia T ≥ ∆. Estes podem transportar energia e tem energia suficiente para cruzar a cavidade. b) Ele´trons que possuem energia T < ∆. Assume-se que estes teˆm alcance zero, ou seja, perdem sua energia no ponto de formac¸a˜o. Assim, estes na˜o entram na cavidade. Podemos agora escrever a dose de radiac¸a˜o absorvida no meio como: Dw EPC = N · T0 = ∫ T0 ∆ Φe,δT m(Sc)w(T,∆) dT = ∫ T0 ∆ Φe,δT (L∆)w dT, (14) onde, m(Sc)w(T,∆) e´ o stopping power restrito para ele´trons de energia T , o qual inclui apenas energias de raios δ que na˜o excedam ∆, Φe,δT pode ser escrito como: Φe,δT = N ·R(T0, T ) (dT/ρ · dx)w , onde R(T0, T ) = ΦδT ΦT (15) Prof. Dr. Martin E. Poletti 7 Departamento de F´ısica 1.2 Teoria de Cavidades Grandes �� ��8 Alguns valores de cociente R(T0, T ) sa˜o apresentados na Tabela 1. Tabela 1: Valores aproximados de R(T0, T ). R(T0,T) T/T0 C Al Cu Sn Pb 1, 00 1, 00 1, 00 1, 00 1, 00 1, 00 0, 50 1, 00 1, 00 1, 00 1, 00 1, 00 0, 25 1, 05 1, 05 1, 06 1, 06 1, 07 0, 125 1, 21 1, 23 1, 25 1, 27 1, 29 0, 062 1, 60 1, 66 1, 73 1, 79 1, 85 0, 031 2, 4 2, 6 2, 8 2, 9 3, 1 0, 016 4, 4 4, 7 5, 2 5, 5 6, 0 0, 008 8, 5 9, 4 10, 5 11, 3 12, 3 0, 004 17 19 22 24 − Logo a dose para a cavidade w e´ dada por: Dw EPC = N ∫ T0 ∆ R(T0, T )( dT ρ · dx ) w mSw(T,∆) dT (16) A equac¸a˜o correspondente para a dose de radiac¸a˜o na cavidade g sera´: Dg EPC = N ∫ T0 ∆ R(T0, T )( dT ρ · dx ) w mSg(T,∆) dT (17) Podemos agora escrever a relac¸a˜o Dg/Dw: Dg Dw = N ∫ T0 ∆ R(T0, T ) (dT/ρ · dx)wL∆,g dT N ∫ T0 ∆ R(T0, T ) (dT/ρ · dx)wL∆,w dT = (L¯∆)g (L¯∆)w (18) 1.2 Teoria de Cavidades Grandes Nas duas teorias citadas (B−G e S−A), o tamanho da cavidade deve ser pequeno suficiente para garantir a existeˆncia da segunda condic¸a˜o de B−G. Isto faz com que os resultados experimentais obtidos tragam uma discussa˜o sobre este problema, pensando no caso de utilizar-se uma cavidade grande quando comparada com o alcance dos ele´trons presentes nela. y Cavidade grande em feixe de fo´tons Uma cavidade grande e´ uma cavidade com dimenso˜es tais que a dose me´dia na cavidade e´ pratica- mente liberada por ele´trons gerados dentro da cavidade. Para uma cavidade grande a raza˜o Dg/Dw Prof. Dr. Martin E. Poletti 8 Departamento de F´ısica 1.3 Teoria de Cavidades Intermedia´rias �� ��9 e´ calculada como a raza˜o entre o kerma de colisa˜o na cavidade e no meio, em iguais condic¸o˜es de irradiac¸a˜o. Dg Dw = (Kc)g (Kc)w = Ψg · ( µab ρ ) g Ψw · ( µab ρ ) w Ψg=Ψw = ( µab ρ ) g( µab ρ ) w = ( µab ρ )g w (feixe monoenerge´tico). (19) Dg Dw = (Kc)g (Kc)w = Ψg · ( µ¯ab ρ ) g Ψw · ( µ¯ab ρ ) w Ψg=Ψw = ( µ¯ab ρ )g w (feixe polienerge´tico). (20) 1.3 Teoria de Cavidades Intermedia´rias 1.3.1 Teoria de Cavidades de Burlin Teoria de Burlin: Burlin (1968) estende a teoria de B−G e S−A para cavidades intermedia´rias, usando considerac¸o˜es puramente fenomenologicas (ajustando dados experimentais). A teoria de Burlin inclui um paraˆmetro, d, relacionado ao tamanho da cavidade atrave´s da seguinte expressa˜o: Dg Dw = d · mS¯gw + (1− d) ( µ¯ab ρ )g w , (21) onde, d e´ igual a 1 para cavidades pequenas (igualando sua previso a` da teoria de B−G) e igual a 0 para cavidades grandes. As condic¸o˜es requeridas por esta teoria sa˜o: y Meios (cavidades e paredes) homogeˆneos. y Campo de fo´tons homogeˆneos atravessando os meios. y EPC em todo ponto dos meios (fora da regia˜o de build-up). y Espectro de ele´trons secunda´rios iguais no meio e na cavidade. Burlin propo˜e um me´todo para estimar d atrave´s da relac¸a˜o Φw/Φ e w (Figura 5): d ≡ Φ¯w Φew = ∫ L 0 Φew e −βL dL∫ L 0 Φew dL = 1− e−βL βL , (22) onde, β e´ o coeficiente efetivo de atenuac¸a˜o para ele´trons e L e´ o comprimento de corda me´dio da cavidade (ou seja, o caminho me´dio percorrido pelos ele´trons atrave´s do dos´ımetro). Por comple- mentaridade: 1− d ≡ Φ¯g Φeg = ∫ L 0 Φeg (1− e−βL) dL∫ L 0 Φeg dL = βL− 1 + e−βL βL (23) A Figura 5 mostra que a flueˆncia de ele´trons produzida na parede cai com e−βl, enquanto que a flueˆncia de ele´trons produzida na cavidade aumenta com (1− e−βl). Prof. Dr. Martin E. Poletti 9 Departamento de F´ısica 1.4 Variac¸a˜o da Φe entre interfaces de materiais com Z diferentes �� ��10 Figura 5: Ilustrac¸a˜o do decaimento e acumulo exponenciais na teoria de cavidade de burlin. A flueˆncia de ele´trons em equil´ıbrio na parede, Φew, decai exponencialmente a medida que penetra numa cavidade homegeˆnea, assumindo que os meios w e g sa˜o ideˆnticos. O acumulo da flueˆncia de ele´trons gerada na cavidade, Φeg, segue uma complementaridade exponencial, alcanc¸ando assintoticamente seu valor de equil´ıbrio Φew = Φ e g. Foram propostos diversos modos de calcular o β e o L (= 4V/S, sendo V e S o volume e a superf´ıcie do dos´ımetro, respectivamente) do Ar e do LiF. Por exemplo para o ar, em aplicac¸o˜es envolvendo cavidades preenchidas com ar, burlin avaliou β (cm−1) a partir da fo´rmula de Loevinger: β =16ρ (Tmax − 0.036)1.4 (24) onde ρ e´ a densidade do ar (g/cm3) e Tmax e´ o valor ma´ximo a partir da energia inicial T0 dos raios δ em MeV. Posteriormente burlin sugeriu usar o valor de β que satisfac¸a: e−βlmax = 0.01 (25) onde lmax e´ a ma´xima profundidade de penetrac¸a˜o dos ele´trons. 1.4 Variac¸a˜o da Φe entre interfaces de materiais com Z diferentes Dutreix e Bernard (1966) verificaram que a ionizac¸a˜o produzida por um feixe de raios γ numa fina camada preenchida com ar era gradualmente deslocada desde a regia˜o de equil´ıbrio eletroˆnico no carbono, passando pela interface entre carbono e cobre, ate´ a regia˜o de equil´ıbrio eletroˆnico no cobre. Com isso eles verificaram que a flueˆncia de ele´trons Φe na˜o e´ constante para meios com nu´mero atoˆmico que na˜o sa˜o muito pro´ximos, como mostrado na Figura 6. Nesta figura as curvas so´lidas mostram os resultados obtidos atrave´s da variac¸a˜o da ionizac¸a˜o pro- duzida numa camada de ar entre carbono e cobre, quando inseridos ou retirados pequenas espessuras destes materiais nas superf´ıcies. As curvas tracejadas e as trac¸o-pontilhadas indicam a quantidade de ele´trons produzidos pelo cobre e pelo carbono, respectivamente. FCu e´ a frac¸a˜o da flueˆncia de ele´trons em equil´ıbrio que varia na direc¸a˜o da emissa˜o γ. BCu e´ a componente de retroespalha- mento (backscattering) do cobre. Como o carbono tem baixo nu´mero atoˆmico esta componente e´ considerada nula. Prof. Dr. Martin E. Poletti 10 Departamento de F´ısica 1.4 Variac¸a˜o da Φe entre interfaces de materiais com Z diferentes �� ��11 Figura 6: Variac¸a˜o da flueˆncia de ele´trons com a distaˆncia a partir da interface de carbono e cobre quando irradiados com um feixe perpendicular de raios γ. Verificamos que na Figura 6-A) que flueˆncia total de ele´trons diminui do ponto de equil´ıbrio eletroˆnico para o cobre ate´ FCu devido ao retroespalhamento, e enta˜o a partir do carbono ela aumenta ate´ o ponto de equil´ıbrio eletroˆnico para o carbono. Na Figura 6-B) o feixe de fo´tons agora incide no sentido oposto, mostrando que a flueˆncia total agora aumenta a medida que se aproxima da interface de cobre devido ao retroespalhamento produ- zido pelo cobre, e apo´s a interface, decai devido a` este retroespalhamento ate´ a regia˜o de equil´ıbrio eletroˆnico. Na Figura 6-C) e´ levado em considerac¸a˜o os ele´trons que sa˜o originados no carbono e que realizam retroespalhamento no cobre, causando um aumento na flueˆncia destes ele´trons em ate´ 43 % na regia˜o adjacente a` interface, o que na˜o e´ considerado no caso B). Refereˆncias 1. Frank H. Attix, Introduction to Radiological Physics and Radiation Dosimetry, (Cap. 10 - Cavity Theory), 3rd Ed., 1986. Exerc´ıcios 1.) Considere uma flueˆncia de ele´trons (4, 1×1011 eletrons cm2 ) com energia de 12,5 MeV passando atrave´s de uma interface entre dois meios, carbono e alumı´nio. Calcule a dose absorvida no carbono, DC , e a raza˜o entre o DAl DC . Prof. Dr. Martin E. Poletti 11 Departamento de F´ısica 1.4 Variac¸a˜o da Φe entre interfaces de materiais com Z diferentes �� ��12 2.) Uma cavidade de Bragg−Gray e´ caracterizada por duas importantes condic¸o˜es. Quais sa˜o? 3.) Duas caˆmaras de ionizac¸a˜o de ar sa˜o ideˆnticas exceto na composic¸a˜o de suas paredes, uma e´ de alumı´nio e a outra de grafite, sendo em ambos os casos de paredes grossas (maiores que o alcance dos ele´trons produzidos por fo´tons de 1 MeV). Calcule aproximadamente a raza˜o da carga produzida nas duas caˆmaras. 4.) Uma pequena caˆmara de ionizac¸a˜o preenchida com ar tem paredes de cobre com espessura igual ao ma´ximo alcance dos ele´trons. O volume da cavidade e´ 0,100 cm3, a densidade do ar e´ 0,001293 g/cm3 e uma dada irradiac¸a˜o com raios γ gera uma carga de 7,00 × 10−10 C. (a) Qual a dose absorvida me´dia na cavidade de ar? (b) Aplique a teoria B-G para estimar a dose absorvida adjacente a` parede de cobre, assumindo energia me´dia T=0,43 MeV para os ele´trons atravessando a cavidade. (c) Suponha T¯ igual a 34% no erro e deve ter o valor de 0,65 MeV. Refac¸a a parte (b). Qual o erro percentual resultante em DCu? 5.) Considere uma cavidade B-G com paredes de cobre com espessura para o equil´ıbrio. Primei- ramente, e´ preenchida com uma massa m de ar, e depois pela mesma massa de hidrogeˆnio. Assumindo irradiac¸o˜es γ em ambos os casos, qual a raza˜o de cargas Qar/QH? Assuma que a recombinac¸a˜o ioˆnica tenha sido corrigida, isto e´, (w/e)H=36.5 J/C e que a energia me´dia dos ele´trons e´ T=0,80 MeV. 6.) Uma cavidade de 1 cm3 de ar e´ colocada num bloco de carbono e exposta numa bomba de 60Co. A carga produzida foi 3× 10−8C. Calcule a dose absorvida no carbono. 7.) Uma caˆmara de ionizac¸a˜o com paredes de grafite e cavidade de ar de 1 cm3 e´ colocada num fantoma de a´gua e exposta numa bomba de 60Co, produzindo uma carga de 3× 10−8C. Calcule a dose na a´gua, considerando as paredes da caˆmara grossas. 8.) Considere uma camada de a´gua com espesssura de 1mm entre duas camadas de teflon, irradiada por fo´tons de 2 MeV. (a) usando a teoria de Burlin calcule aproximadamente a dose absorvida em a´gua se o Kc no teflon e´ 10 Gy. Considere ( µ ρ ) Teflon = 0, 0225 cm 2 g e e−β.Tma´x = 0, 04. (b) Quais sa˜o os valores l´ımites (cavidade pequena e cavidade grande) para a dose absorvida na a´gua? 9.) Determine a dose absorvida num meio m, a partir da medida feita numa cavidade c, com paredes, w, considerando: (a) paredes grossas, volume (cavidade) pequeno. (b) paredes grossas, volume (cavidade) grande. (c) paredes finas, volume (cavidade) pequeno. (d) nos items anteriores voceˆ escolheria qual material similar ao meio: a cavidade ou a parede? Prof. Dr. Martin E. Poletti 12 Departamento de F´ısica Teoria de Cavidades Teoria de Cavidades Pequenas Teoria de Bragg-Gray Teoria de Spencer-Attix Teoria de Cavidades Grandes Teoria de Cavidades Intermediárias Teoria de Cavidades de Burlin Variação da e entre interfaces de materiais com Z diferentes
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