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Relatorio Brundtland Nosso Futuro Comum Em Português

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-.mfRo COMUM 
pela Oxlord UnI­
"l1'li11 Importante documen­
Q1Inem deade o Relatório 
....ndf'. Nosso fulllro comum. 
~I 15do da Comleaio Mundial sobre 
liiio Ambiente e Desenvolvimento, 
...... um dOS temas mais preme"" 
... do memento ­ 8 relaçilo entre o 
'11 nvolvlmen1o e o melo ambiente. 
M ~lfaiill.90ea coIlgldaa pela Co­
1IIIIeIo, 10 longo da l!ê8 8noa da 
PIICIU'" e análl_, apólaJn..ae em
"poIrnet1lo8 de centenas de eepe­
....IIIM de quase todoa oa pelles, 
lDImsnCIo um cenádo mundial do de­
l8llVOIv'.n1entO a seu Impacto nos re­
__pllnetérI08. 
..... das Idéias centreis da
"'/10 "'111m comum alltma e com­
PIO'I1t que um desenvOlvimento eco­
lânIoo ... toma Impenoss a con-
1IMI;1o dOII meIoS nalllrals. Sem 
lMdIdu que aesegurem a conquista 
.... obJetIvo, a humanidade pom 
l1li rI4Ico 8 própria aobnIvlYêncla. 
A otn p6e em evldêncls meti­
dilnl, lIdma de qualaquer dúvidas, 
.... ,.11dsde: um progresso econô­
mIcO a aoclal cada vez maior nAo po­
dirá bII_se na axploraçilo Indis­
criminada a devastadora ds natureu. 
Ao conlnlllo: trem o uao sablamente 
dirigido doa recuraoe naturais. nio 
hawr6 desenvOlvlmamo sustentável. 
A fim da ssllanlar as propor­
90M e a marcha das causas que es­
110 concomlndo pera tomar a Terra 
lnabltaval, Nosso fulllro comum
...-nta advartánclss como as se­
e cada ano, 6 milhões da 
de tarraa produtivas se 
em de8ertos Inúteis. Em 
IMO corresponde 8 urns 
....... sornsdes da Ale­
Espanha, Inglatarra, 
Noruega - 2.170.000 
.....111"".. 110 deatruldoa 
'~~T~' 
NOSSO 
-FUTURO 
COMUM 
001-431H110.6 
COMISSÃO 
Presidente: Gro Horlem Brundlland (Noruega) 
Vice-presidente: Ma.-.r Kllalid (Sudão) 
Susanna Agnelli (Itália) 
Salell A. AI·Athel (Arábia Saudita) 
Bernard CII"".ro (Zimbábue)
Lamlne Mohammed Fadlka (Costa do Matflm) 
Volker Hauft (Rep6blica Federal d. Alemanha) 
Ist_an Lang (Hungria) 
Ma Shljun (Repablica Popular da China) 
Margarita Marino de Batera (Colômbia) 
Nagendra 81ngh (índia) 
Paulo Nogueira Neto (Brasil) 
Saburo Okita (Japão) 
SlIridath S. ltamphal (Guiana) 
Wllliam D. ltuekelshaus (EUA) 
Mobamed Sabnoun (Argélia) 
Emil Salim (Indonésia) 
Bukar Shaib (Nigéria) 
Vladimir Sokolov (URSS) 
Ja_ Stanovnlk (Iugoslávia) 
Mauri"" Strong (Canadá) 
EX-OFFICIO 
Jlm Ma.Neill (Canadá) 
-COMISSAO MUNDIAL 
SOBRE MEIO AMBIENTE 
E DESENVOLVIMENTO 
NOSSO 
FUTURO 
COMUM 
2'edíção 
Chamndà~') 
I \.): .... 
~ ~ J!fl/)~I b li:=­ I ""----"'". 
~ 
Editora da Fundação Getulio Vargas 
Rio de Janeiro, RJ ­ 1991 
Titulo da obra em lngJês: 
Our cOIlU7IOn future 
Oxford I New York, Oxlbrd Ulllversily Press, 1987 
Direitos rese....ados desta ediçAo ~ Fimdação Getulio Vatgas 
Praia de Bolafogo, 190 - 22253 
Rio de Jalleiro, RJ - Brasil 
11 vedada. reprodução tutal ou parcial desta obra 
Copyrighl C Comisslo Mundial sobre Meio Ambiente e 
DeseJlV01vimento 
l' edição -1988 
2' ediçAo-I991 
Editora da Fundaçio Getulio Vargas 
Cbef..: Francisco de Castro Azevedo 
Coordenaçlío editorial: DamilIo Nascimento 
Supervisão de editoração: En:llía Lopes de Souza 
Supervisão gráfica: Hélio Lourenço Netto 
Capa: Marcos Tupper 
Nosso [uturo comum I Comisslio M••diol_ Mo., ABlbiea,•• 
De&alvotvimeolO. - 2. ed.. - Rio ... J8IlClro! Edilora da Fudaçio Getulio Varps, 
1991. 
xvüi, 430p. 
Tradução do:: Qllr commOa. mtlH'e. 
lael.i 1>ibllogra!iA. 
1. M.., Ambi..... 2. P.llIica ...bi....I. 3. Proteção ...bi....I. 
4. Deacnvolvim..", ecoallmleo.l. Comias!<> M...,iaI ..ln Meõo ABlbi..... 
D_...lvim_.n. Fuad:açáo GcIlIl., V"'1l'" 
illD-3013 
SUMÁllIo 
Siglas e nota sobre a terminologia 
Ptefácio da presidente 
Da Terra ao mundo: vi.slIo panorâmica da 
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 1 
Pàrtel: PRElQCUPAÇÓES COMUNS 27 
I Um futuro.ameaç.odo 29 
2Em busca do desenvolvimento sustentável 46 
3 O papel da economia internacional 72 
Parte D: DESAFIOS COMUNS 101 
4 População e recursos hllDllUlos 103 
5 Segnmnça alimentar: mantendo o potencial 129 
6 Espécies e ecossisletnllll: recursos para o desenvolvimen­
to 162 
7 Energia: opç6es para o meio ambiente e o desenvolvimen­
to 186 
8 Indt1stria: com menos, produzir mais 230 
9 O desafio w:bano 262 
Parte lli: ESFORÇOS COMUNS 291 
•lI) A adminIs1nlÇ1io das áreas comuns 293 
gpaz, segnmnça, desenvolvimento e o meio ambiente 325 
12 Pels ação comum: propostas de mudança institucional 
e legal 345 
Anexo 1 Sdmula dos princípios legais propostos para a proteção 
ambiental e o desenvolvimento sustentável 388 
Anexo 2 A Comissão e seu trabalho 493 
Neste relatório foram incluídas citaçõeS de algumas das muitas 
pessou que prestaram depoimento nas audiências públicas da 
CMMAD, a fim de ilustrar a ampla garnà de opiniões com que a 
ComissIio travou contato em seus três anos de atividades. Elas 
nlio refletem necessariamente o ponto de vista da Comissão. 
V 
USTA DE TABELAS 
1.1 Tamanho da população e PNB per capita por grupos 
de países 32 
1.2 Distribuição do COIlllUlOO mtmdial, médias para 1980-82 36 
1.3 Taxa anual de crescimento do PIB em países em 
desenvolvimento, 1976-85 39 
3.1 Transf~ líquida de recumos para países em 
desenvolvimento imponadores de capital 74 
3.2 A importância crescente do comércio exterior 86 
4.1 População mundial 1950-85: fatos-chave 109 
4.2 Tamanho da população - atual e projetado - e taxas 
de aumento 110 
4.3 Indicadores de saúde 112 
4.4 Taxas de matrículas dos sexos masculino e feminino, 
por Região. 1960 e 1982 113 
5.1 Duas décadas de desenvolvimento agrícola 130 
7.1 Consumo global de energia primária per capita. 1984 188 
8.1 Participação do valor adicionado manufatoreiro 
no PlB. por grupo de economias e grupo de renda 231 
8.2 Composição do comércio de mercadorias dos países 
em desenvolvimento 233 
9.1 População residente em áreas urbanas, 1950-2000 263 
9.2 Exemplos de rápido aumento popolacional em 
cidade. do Terceiro Mundo 264 
10.1 Pesca mondial nas principais zonas pesqueiras, 
1979-84 300 
LISTA DE BOXES 
2.1 Crescimento, redistribuição e pobreza 54-55 
3.1 Algodão produzido para exportação no Sabel 73 
3.2 Açúcar e desenvolvimento sustentável 90 
3.3 O papel das empresas transnacionais 93 
4.1 O equiUbrio entre alimento e população 106-107 
5.1 Perpectivas regionais de desenvolvimento 
agríeola 132-/33 
5.2 Sistemas naturais de nutrientes e controle de 
prdgas 150 
6.1 Alguns exemplos de extinção de espécies 164 
7. 1 Uuidades de energia 187 
7.2 Dois cenários energéticos 190-191 
7.3 Quanto custam os danos e o controle da poluição 
do ar 201 
9.1 Como dominar as cidades 265 
9.2 Problemas ambientais nas cidades do Terceiro 
Mundo 268 
9.3 Três maneiras de usar US$20 milhões para melhorar 
as condições de uma cidade de 1 milhão de 
habitantes 282 
9.4 A falta de compreensão das necessidades das mulheres 
nos projetos habitacionais 287 
10.1 Os acordos sem precedentes do Tratado Antártico 315 
11.1 Gastos militares versus segurança ambiental 339 
VU VI 
SIGLAS 
AlD Associação Internacional de Desenvolvimento 
AlEA Ag&cia Intemacional de Energia Atómica 
AOO assistência oficiaI ao desenvolvimento 
CAEM Conselho de Assistência Econômica Mlltua 
CCPA Comitê Cientffi<:o de Pesquisa Antártica 
CCRMVA Comissão para a Conservação dos Recursos Marinhos 
Vivos da Antártida 
CE Comunidade Econ&nica Européia 
CEE Comissão Econômica Européia 
ClIDMA Comitê das Instituições Intemacionnis de Desenvol­
vimento para o Meio Ambiente 
CIPB ComissIiD Internacional sobre a Pesca da Baleia 
CIPR Comissão Internacional de Proteção Radiológica 
CIUC Conselho Internacional de Uniões Científicas 
CLA Centto de Ugação Ambiental 
CNUAH Centto das Nações
Unidas para Assentamentos Hu­
manos (Habitat) 
OAESI Departamento das Nações Unidas de Assuntos Eco­
nômicos e Sociais Internacionnis 
EM empresas muItinacionais 
ENC Estratégia Nacional de Conservação 
FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e 
aAgricul~ 
FMI Fundo Monetário Internacional 
FMVS Fundo Mundial para a Vida Selvagem 
GA'IT Acordo GeraI sobre Tarifas e Comércio 
GEACPM Grupo de Especialistas em Aspectos CientífICOS da 
Poluição Marinha 
lIMA0 Institoto Intemaciónal para o Meio Ambiente e o De­
senvolvimento 
IRM Instituto de ReCursos Mundiais 
ICMA Junta das Nações Unidas para a Coordenação do 
Meio Ambiente 
OCOE Organização para a CooperaçliD e o Desenvolvimento 
Econômico 
OIT Organização Internacional do Trabalho 
OMM Organização Meteorol6gica Mundial 
OMS Organização Mundial da Saúde 
ONG organizações nIIo-goVemamentais 
ONUDI O!::ganização das Nações Unidas para o Desenvolvi· 
mento Industrial 
Pffi produto interno bruto 
PIGB Projeto Internacional para a Geoslera e a Biosfera (do 
CIUC) 
PNB produto nacional bruto 
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 
PPP Princípio de Pagamento do Poluidor 
PRI países recém-industriaJizados 
PSN Padrões de Segurança Nuclear 
SGMMA Sislema Global de Monitoração do Meio Ambiente 
STA Sistema do Tratado Antártico 
UICN Upião Internacional para a ConservaçliD da Natureza 
e dos Recursos Naturais 
UJT União Internacional de Telecomunicações 
UNCTAD Conferência da Nações Unidas sobre Comércio e De­
senvolvimento 
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultora 
VAM valor adicionado manufatureiro 
ZEE Zona Econômica Exclusiva 
VIII IX 
NOTA SOBRE A TERMINOLOGIA 
o agrupamento de países na apresentação dos dados está indicado 
nos lugares apropriados, As expressões "países industrializados" 
e "países desenvolvidos 11 em geral compreendem as categorias 
adotadas pela ONU de eeonomias de mercado desenvolvidas e 
países socialistas do Leste europeu e a URSS, Salvo indicação em 
contrário~ a expressão ··pais em desenvolvimento" refere~se ao 
grupo de países em desenvolvimento com economias de mercado 
c aos países socialistas da Ásia. tal como classüicado pela ONU. 
A menos que o contexto indique o contrário. a expressão ''Tercei­
ro MundoH refere-se aos países em desenvolvimento com econo~ 
mias de mercado. tal como definido pela ONU. 
Salvo indicação em contrário. toneladas são toneladas métricas 
(l.oookg ou 2,204.6 libras-peso), Dólares são d6lares none-ame­
ricanos correntes ou para o ano especificado. 
PREFÁCIO DA PRESIDENTE 
"Uma agenda global para mudança" - foi o que se pediu à Co­
missão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvímento que 
preparasse. Tratava-se de um apelo urgente da Assembléia Geral 
das Nações Unidas para: 
• propor estratégias ambientais de longo prazo para obter um de­
senvolvímento sustentável por volta do ano 2000 e da( em diante; 
• recomendar maneiras para que a preocupação com o meio am­
biente se traduza em maior cooperação entre os países em desen­
volvimento e entre pa(ses em estágios diferentes de desenvolvi­
mento econômico e social e leve à consecução de objetivos co­
muns e interligados que considerem as inter-relações de pessoas, 
recursos. meio ambiente e desenvolvimento; 
• considerar meios e maneiras pejos quais a comunidade intema~ 
cional possa lidar mais eficientemente com as preocupações de 
cunho ambiental; 
• ajudar a definir noções comuns relativas a questões ambientais 
de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os 
problemas da proteção e da melhoria do meio ambiente, uma 
agenda de longo prazo a ser posta em prática nos próximos decê­
nios, e os objetivos a que aspira a comunidade mundial. 
Em dezembro de 1983, quando o secretário-geral das Nações 
Unidas me encarregou de criar e presidir urna comissão especial e 
independente para tratar deste grande desafio que se impõe à co­
munidade muodial. eu tinha plena consciência das dimensões da 
tarefa e de que minhas responsabilidades cotidianas de líder de 
panido a tomavam quase impossível. Além disso. o que a Assem­
bléia Geral solicitava parecia írrealista e ambicioso demais. embo· 
ra fosse também uma evidente demonstração do sentimento gene­
ralizado na comunidade internacional de frustração e inadequação 
no tocante à nossa capacidade de enfrentar as questões vitais do 
mundo e lidar bem com elas. 
Bste fato é uma realidade incontestável e difícil de negar. Co­
mo não se dispõe de respostas para questões fundamentals e sé­
rias, a única alternativa é continuar tentando enconlrá-Ias. 
Eu ponderava sobre isto tudo quando o secretário-geral apre­
sentou-me um argumento irrefutável: nenhum outro líder político 
se tomara primeiro-ministro com uma experiência de vários anos, 
no plano nacional e internacional. como ministro do Meio Am­
x XI 
blen .... Isto me deu esperanças de que o meio ambiente não estava 
fadado a pennanecer uma questão secundária no processo polftico 
central de tomada de decisões. 
Em Illtima análise, resolvi aceitar o desafio. O desafio de enca­
rar o fulUro e de proteger os interesses das gerações vindouras. 
Pois uma coisa era perfeitamente clara: precisávamos de um man­
dato para a mudança. 
Vivemos uma era da história das nações em que é mais neces­
sária do que nunca a coordenação entre ação política e responsa­
bilidade. A tarefa e o encargo com que se defrontam as NaÇões 
Unidas e seu secretário-geral são enormes. Satisfazer com respon­
sabilidade os objetivos e as aspirações da humanidade requer o 
apoio ativo de todos nós. 
Minbas reflexões e perspectivas também se baseavam em ou­
tros aspectos importantes de rninba experiência política pessoal: 
OS trabalhos anteriores da Comissão Brandt sobre questões Norte­
Sul e da Comissão Palme sobre questões de desannamento e se­
gurança, de que participei. 
Pediam-me que ajudasse a lançar um terceiro e premente apelo 
11 ação polftica: após Programa para a sobrevivlncia e Crise c0­
mum, da Comissão Brandt, e após Segurança comum, da Comis­
são PaIme, viria FuturO comum. Era isso o que eu tinha em mente 
quando, junto com o Vice-Presidente Mansour Khalid, comerei a 
trabalhar na ambiciosa tarefa que as Nações Unidas nos confiam. 
Este relatório, apresentado à Assembléia Geral da ONU em 1987, 
é o resultado desse processo. 
Talvez nos .. tarefa mais urgente hoje seja persuadir as nações 
da necessidade de um retorno ao multilateralismo. O desafio da 
reconstrução após a 11 Guerra Mundial foi a verdadeira motivação 
que levou ao estabelecimento de nosso sistema econômico inter­
nacional do pós-guerra. O desafio de encontrar rumos' para um 
desenvolvimento sustentável tinha de fornecer o impeto - ou 
mesmo o imperativo - para uma busca renovada de soluçées mul­
tilaterais e para um sislema econ/lmico internacional de coopera­
çãe reestruturado. Esses desaUos se sobrepunbam às distinções de 
soberania nacional, de estratégias limitadas de ganho econllmico e 
de várias diseiplioas cientificas. 
Após 15 anos de paralisaçãe ou mesmo deterioração na coope­
ração global, acredito ter chegado o momento de expectativas 
mais elevadas de busca conjunta de objetivos comuns, de um 
maior empenbo político em relação a nosso futuro comum. 
A década de 60 foi um tempo de otimismo e progresso; havia 
mais esperança de um mundo novo melhor e de idéias cada vez 
Xli 
mais internacionais. A. colônias dotadaJI de recursos naturais to... 
navam-se nações. Os ideais de cooperação e partilha pareciam 
estar sendo seriamente buscados. Paradoxalmente, os aoo~ 70 en­
traram pouco a pouco num clima de reação e isolamento, en­
quanto uma série de conferências da ONU trazia espemnças de 
maior cooperação quanto às questões mais importantes. A Confe­
rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Hwnano, em
1972, levou os países em desenvolvimento e os industrializados a 
traçarem, juntos, os ud.ireitosU da :fanúlia. humana a wn meio am­
biente saudável e produtivo. Várias reuniões desse tipo se sucede­
ram: sobre os direitos das pessoas a uma alimentação adequada, a 
boas moradias, a água de boa qualidade, ao acesso aos meios de 
escolher o tamanho das famfiias. 
Na década amai, verificou-se um retrocesso quanto às preocu­
paçées sociais. Os cientistas chamaram atenção para problemas 
urgentes e complexos ligados à própria sobrevivência do homem: 
um planeta em processo de aquecimento, ameaças à camada de 
ozônio da Terra, desertos que devoram terras de cultivo. Nossa 
resposta foi exigir maiores esclarecimentos e transferir os proble­
mas a iostitoições mal equipadas para lidar cmn eles. A deteriora­
ção ambiental, vista a princípio como um problema sobretudo dos 
países ricos e como um efeito colaleral da riqueza induslrÍal, tor­
nou-se uma questão de sobrevivência para os países em desenvol­
vimento. Ela faz parte da espiral descendente do declfnio econll­
mico e ecológico em que muitas das nações mais pobres se vêem 
enredadas. Apesar de esperanças oÍlciais expressadas por todos, 
nenbuma das tendências hoje idenrifieadas, nenhum programa ou 
polftica oferece qualquer esperança real de estreitar a lacuna cada 
vez maior entre nações ricas e pobres. E, como parte de nosSO 
"desenvolvimento'\ armazenamos arsenais capazes de alterar 08 
rumo. que a evolução vem segnindo há milhões de anos e de criar 
um planeta que nossos ancestrais não reconbeceriam. 
Em 1982, quando se discutiam pela primeira vez as atribuições 
de nossa Comissão, houve quem desejasse que suas considerações 
se limitassem apenas a "questões ambientais". Isto teria sido um 
grave erro. O meio ambiente não existe como uma esfera desvin­
culada das açées, ambições e necessidades humanas, e tentar de­
fendê-lo sem levar em conta os problemas hwnanos deu li própria 
expressão "meio ambiente" uma conotação de ingenuidade em 
certos círculos polftieos. Também a palavra "desenvolvimento" 
fni empregada por alguns num sentido muito limitado, como "o 
que as nações pobres deviam fazer para se tornarem mais ricas", 
e por isso passou a ser posta automaticamente de lado por muitos, 
no plano internacional, como algo atinente a especialistas, àque­
les ligados a questées de "assistência ao desenvolvimento". 
XIII 
Mas é no urneio ambiente" que todos vivemos; o "'desenvolvi­
monto" é o que todos fazemos ao tentar melhorar o que nos cabe 
neste lugar que ocupamos. Os dois são inseparáveis. Além disso, 
as questões de desenvolvimento devem ser consideradas cruciais 
pelo. líderes políticos que acham que seus países já atingiram um 
nível que outras nações ainda lutam para alcançar. Muitas das es­
tratégias de desenvolvimento adotadas pelas nações industrializa­
das são evidentemente insustentáveis. E devido ao grande poder 
econômico e político desses países, suas decisões quanto ao de­
senvolvimento terão profundo impacto sobre as possibilidades de 
todos os povos manterem o progresso humano para as gemçõcs 
folurns. 
Muitas questões cóticas de sobrevi vência estão relacionadas 
com desenvolvimento desigual, pobreza e aumento populacional. 
Tndas elas impõem pressões sem precedentes sobre as telTllS, 
águas, florestas e outros recursos naturais do planeta, e não ape­
nas nos países em desenvolvimento. A espiral descendente da p0­
breza e da deteriornção ambiental é um desperdício de oportuui­
dades e recursos. De modo especial, é um desperdício de recursos 
humanos. Esses vinculos 'entre pobreza, desigualdade e deteriora­
ção ambiental foram um dos principais temas em nossa análise e 
recomendações. O necessário a80m é wna nova era de cresci­
mento econômico - um crescimento convincente e ao mesmo 
tempo duradouro do ponto de vista social e ambiental. 
Devido à abrangéncia de nosso trabalho e à necessidade de 
wna visão ampla, eu tinha consciência de que era preciso reunir 
wna equipe de cientistas e políticos influentes e altamente qualifi­
cados, a fim de formar wna Coraissão verdadeiramente indepen­
dente. Isto era essencial ao êxito do processo. Juntos, deveríamos 
esquadrinhar o mundo e formular um método interdisciplinar e 
integrado para abordar as preocupaçõcs mundiais e nosso futuro 
comum. Necessitávamos de ampla participação e de uma clara 
maioria de membros de países em desenvolvimento, a Íuo de re­
tratar as realidades do mundo. Necessitávamos de pessoas de 
grande experiência. oriundas de todos os campos políticos, não só 
com fonnação em meio ambiente e desenvolvimento enquanto 
disciplinas políticas, mas de todas as áreas onde são tomadas de­
ci.sões vitais que influenciam o progresso econômico e social nos 
níveis nacional e internacional. 
Assim~ viemos de experiência,; extremamente diversas: minis-­
tros de relações exteriores, funcionários de finanças e planeja­
mento, administradores na. áreas de agricultura, ciência e tocno­
logia. Vários membros da Comissão são rainistros de gabinete e 
economistas de alto nível em suas próprias nações, e muito en­
volvidos nos assuntos desses países. Mas como membros da Co­
missão não exercíamos as funções que tínhamos em nossos paí­
ses, agfamos como individuos: e à medida que nosso trabalho 
avançava, iam diminuindo o nacionalismo e as distinções artifi­
ciais entre '"industrializado" e Hem desenvolvimentou • entre 
Leste e Oeste. Nascia, em vez disso. uma preocupação comum 
com o planeta e com as ameaças ao n:lesmo tempo ecológicas e 
econômicas contra as quais todos OS povos, instituições e gover­
nos agora lutavam, 
Dumnte o tempo em que ,a Coraissão esteve reuuida, tragédias 
como as crises de fome na Africa, o vazamento na fábrica de pes­
ticidas de Bhopal, na (ndia, e o desastre de Tchernobil, na URSS, 
aparentemente justificaram as graves previsões quanto ao futuro 
humano que se tomaram lugar-comum em meados dos anos 80. 
Mas nas audiências públicas que realizamos nos cinco continen­
tes, também tomamos conhecimento de vítimas de catástrofes 
mais crónicas e generalizadas: a crise da dívida, a cessação da as­
sistência aos países em desenvolvimento e do investimento neles. 
a queda dos preços dos produtos básicos e das rendas pessoais. 
FIcamos convencidos de que eram necessárias grandes mudanças~ 
tanto de atitude quanto na fonna em que nossas sociedades são 
organizadas. 
As questões referentes a população pressão populacional, 
população e direitos humanos - e os vínculos entre estas e a p0­
breza, o meio ambiente e o desenvolvimento revelaram-se das 
mais difíceis dentre as que tínhamos de enfrentar. As diferenças 
de ponto de vista pareceram a princípio intran<poníveis, e foi pre­
ciso muita reflexão e muito empenho para supel'31' distinçõcs cul­
turais, religiosas e regionais. 
Outra quesrão de vulto foi a área das relações económicas in­
ternacionais. Neste e em vários outros asJ>eCtos importantes de 
nossa análise e de nossas recomendações, conseguimos chegar a 
um amplo consenso. 
Foi essencial o fato de todos nos tennos tornado mais expe­
rientes, aprendido a suplantar as barTeiras culturais e históricas. 
Houve momentos de grande preocupação e crise potencial, mo­
mentos de gratidão e reaIização~ momentos de sucesso na elabo­
ração de uma análise e uma pempectiva Comuns. O resultado ob­
tido foi certamente mais completo, mais realista e mais voltedo 
para o futuro do que qualquer de nós, sozinho, poderia conseguir. 
Chegamos à Comissão com opiniões e perspectivas diferentes, 
valores e crenças diferentes, experiências e noções muito dife­
rentes. Após três anos de tmbalho em comum, viagens, troca de 
experiências e debates, apresentamos um relatório que é de todos. 
Sou profundamente grata a todos os membros da Coraissão por 
sua dedicação. sua antevisão e seu engajamento pessoal em nossa 
xv 
XIV
lido comum. Foi sem dúvida uma excelente equipe. O clima de 
emize"" e comunicação fIanca. a convergência de idéias e o pr0­
cesso de aprendizagem e participação nos propiciaram uma expe­
riência de otimismo. muito valiosa !anto para nós quanto. creio, 
para este relatório e sua mensagem. Esperamos partilhar com ou­
tras pessoas tndo aquilo que aprendemos e todas as experiências 
que vivemos juntos. Muitas outras pessoas têm de partiIha.r essa 
experiência a fim de que se possa alcançar um desenvolvimento 
sustentável. 
A Comissão foi orientada por pessoas de todas as categorias 
sociais. É a essas pe$soas - a todas as pessoas do mundo - que a 
Comissão agora se dirige. Assim, falamos diretamente às pessoas 
e também às instilUições que eias criaram. 
A Comissão se dirige a governos, seja diretamente. seja por 
meio de suas várias agencias e ministérios. Este relatório destina­
se. principalmente. à congregação de governos. reunida na As­
sembléia Geral das Nações Uuidas. 
A Comissão se dirige também à empresa privada. desde a for­
mada por uma SÓ pessoa até a grande companhia multinacional, 
com um movimento total superior ao de muitos países. e com pos­
sibilidades de promover mudanças e melhorias de grande alcance. 
Antes de 1Udo. 'potém, nossa mensagem se dirige às pessoas, 
cujo bem-estat é o objetivo tlItimo de todas as políticas referentes 
a meio ambiente e desenvolvimento. De modo especial, a Comis­
são se dirige aos jovens. Aos professores de todo o mundo cabe a 
tarefa CtuCial de levar a eles este relatório. 
Se não conseguirmos transmitir nossa mensagem de urgência 
aos pais e administradores de hoje. arriscamo-nos a comprometer 
o direito fundamental de nossas crianças a um meio ambiente 
saudável. que promova a vida. Se não conseguirmos traduzir nos­
sas palavras numa linguagem capaz de tocar os corações e as 
mentes de jovens e idooos. não seremos capazes de empreender as 
amplas mndanças sociais necessárias à correção do curso do de­
senvolvimento. 
A Comissão tenninou seus trabalhos. Pedimos um empenho 
conjunto e novas normas de conduta em todos os nfveis, no iote· 
resse de todos. As mudanças de atilUde, de valores sociais e de 
aspirações que o relat6rio encarece dependeria de amplas campa­
nhas educacionais, de debates e da panicípação pública. 
Com este objetivo, apelamos a grupos de cidadãos, a orgo..Jza­
ções não-govemamentais, a instilUições de ensino e à comunidade 
cientffica. Todos no passado desempenharam funções indispensá­
veis para a conscientização do público e a mudança política. Sua 
participação será vital para orientar o mundo no rumo do desen­
volvimento sustentável, para estabelecer os alicerces de Nosso 
Futuro Comum. 
[ 
O processo de elaboração desterelat6rio prova que é possfvel 
unir esforços, identificar objetivos comuns e estabelecer uma ação 
comum. Cada membro da Comissão, se tivesse escrito o telatório 
sozinho, teria escolhldo palavras diferen",". ConlUdo, consegui­
mos cbegar a acordo sobre a lUlálise, os remédios em geral e as 
recomendações para que o curso do desenvolvimento não sofra . 
intenupções. 
Em última análise, o que importa é estimular a compreensão 
comum e O espírito de responsabilidade comum, tão evidente­
mente necessários num mundo dividido. 
Mil.lumos de pessoas em todo o mundo contribuírmn para os 
trabalhos da Comissão, cOm idéias, com ajuda financeira, ou 
compartilh'!Ddo conosco suas experiencias ao nos transmitirem 
suas necessidades e caténcias. Fico sinceramente grata a IUdos os 
que nos deram sua contribuição. Os nomes de muitas dessas pes­
soas constam do anexo 2 do relatório. Agradeço especialmente 
ao Vice-Presidente Mansour Khalíd, a todos os demais membros 
I 
• da Comissão, ao Secretário-Geral Sim MacNeill e a sua equipe em 
nossa secretaria, que foram muito além do dever para nos ajuda­
tem. Seu entusiasmo e dedicação não tiveram limites, Quero 
agradecer aos presidentes e aos membros do Comitê Preparat6rio ~ Intergovemamental Inter-Sessional. que colaboraram estreita­
mente com a Comissão, dando-nos incentivo e apoio. Também 
agradeço ao diretor executivo do Programa das Nações Unidas 
para o Meio Ambienre, Dr. Mostafa Tolba, por seu apoio e inte­
resse valiosos e constantes. 
Gro Harlem Brundtland 
Oslo, 20 de março de 1987 
[ 
XVI XVII 
" 
;L 
',' 
~ 
.\}) 
DA TERRA AO MUNDO 
VIsão panorâmica da ComIIisão Mundial 
sobre Melo Ambiente e Desenvolvimento 
Em meados do século XX, vimos nosso planeta do espaço pela 
primeira vez. Talvez os historiadores venham a considerar que 
este fato teve maior impacto sobre o pensamento do que a revolu­
ção copérnica na do século XVI, que abalou a auto-imagem do 
homem ao revelar que a Terra não era o centro do univel'llo. Vista 
do espaço, a Terra é uma hola frágil e pequena, dominada não 
pela ação e pela obra do homem, mas ppr um conjunto ordenado 
de nuvens,oceanos, ~~..<!.~I<iJO fato de a humanidade 
ser incapaz de agit confonne essa ordenação natoraI está alteran­
do fundamentaImente os sistemas planetários. Muitas dessas alte­
rações acarretam ameaças à vida. Esta realidade nova, da qual 
não há como fugir, tem de ser reconhecida - e enfrentada. 
Felizmente, essa realidade nova coincide com fatos mais posi­
tivos e também novos neste século. É possível fazer infOnnaç6es 
e bens circularem por todo o planeta com uma rapidez sem prece­
dentes; é possível produzir mais alimentos e mais bens investindo 
menos recursos; a tecnologia e a ciência de que dispomos nos 
penuitem, ao menos potencialmente, examinar mais a fundo e 
compreender melhor os sistemas naturais. Do e.'!paÇo, podemos 
ver e estodar a Terra como um organismo cuja sallde depende da 
saúde de todas as suas partes. Temos o poder de reconciliar as 
atividades humanas com as leis naturais, e de nos enriquecermos 
com isso. E nesse sentido nossa herança eultoraI e espiritual pode 
fortalecer nossos interesses econômicos e imperativos de sobrevi­
vência. 
Esta Comissão acredita que os homens podem construir um fu­
turo mais próspero. mais justo e mais seguro. Este relat6rio. Nos­
so Futuro Comum, não é uma previsão de decadência. pobreza e 
dificuldades ambientais cada vez maiores num mundo cada vez 
mais poluído e com recl1l'llOS cada. vez menores. Vemos, ao con­
ttário. a possibilidade de uma nova era de creseimento econômi­
co, que tem de se apoiar em práticas que conservem e expandam a 
base de recursos ambientais. E acreditamos, que tal crescimento é 
I absolutamente essencial para mitigar a grande pobreza que se vem ~ intensificando na maior parte do mundo em desenvolvimento. 
Mas a esperança da Comissão em relação ao futuro está condi­
cionada a uma ação política decisiva que deve ser empreendida 
jIi, para que se comece a administrar os recursos do meio am­
I 
blente no intuito de 118Segur8r o progresso hUll'llUlo continuado e a 
IObrevivência da humanidade. Não prevemos o futuro; apenas 
transmitimos a infonnação - wna informação urgente, baseada 
nas evidências científicas mais recenleS e mais abalizadas - de 
que é chegado o momento de tomar as decisões necessllrlU afim 
de garantir os recursos para o sustento desta geração e das próxi­
mas. Não ternos a oferecer um plano detalhado de ação, e sim um 
caminho para que os povos do mundo possam ampliar suas esfe­
ras de cooperação. 
I, O DESAFlO GLOBAL 
1.1 )l:x1tos e ~ 
Os que buscam êxitOs e sinaia de esperança podem encontrar 
muitos: a mortalidade infantil está em queda; a expectativa de vi­
da humana vem aumentendo; o pen:entual de adultos, no mundo, 
que sabem ler e escrever está em ascensão; o pen::entnaI de crian­
ças que ingressam na escola está subindo; e a produção global de 
alimentos aUflleOta mais depnlSSa que a população. 
Mas os mesmos processos que trouxeram essas vantagens gera­
ram tendências que o planeta e seus hablmntes
não podem supor­
tar por muito tempo. Estas têm sido tradicionalmente divididas em 
fracassos do "desenvolvimento" e fracassos na gestão do nosso 
meio ambiente. No tocante ao desenvolvimento, há, em termos 
absolutos, mais famintos no mundo do que nunca, e seu nWnero 
vem aumentando. O mesmo ocorre com o nWnero de analfabetos, 
com o n1lmero dos que não dispõem de água e moradia de boa 
qualidade, e nem de lenha e carvão para cozinhar e se aquecer. 
Amplia-se - em vez de dinúnuir - o fosso entre nações ricas e 
pobres, e, dadas as circunstâncias atuais e as disposições institu­
cional., há poucas perspectivas de que essa tendência se inverta. 
Há também tendências ambientais que ameaçam mndificar ra­
dicalmente o planeta e ameaçam a vida de muitas espécies, In­
cluindo a espécie humana. A cada ano,6 milhões de hectares de 
terras produtivas se transformam em desertos Inúteis. Em 30 anos, 
Isto repnlSCntará uma área quase igual à da Arábia Saudita. 
AnuaImente, são destruídos mais de 11 milhões de hectares de 
florestas, o que, dentro de 30 anos, representará wna área do ta­
manho aproximado da lodia. Grande parte dessas florestas é 
transformada em terra agrícola de baixa qualidade, incapaz de 
prover o sustento dos que nela se estabelecem. Na Europa, as 
chuvas ácidas matam florestas e lagos e danificam o patrimômio 
artístico e arquitetônico das nações; grandes extensões de terra 
• 
• 
I 
" 
~ 
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi­
mento reuniu-se pela primeira vez em outubro de 1984 e 
publicou este relatório 900 dias depois, em abril de 1987. 
Durante esse tempo: 
• na África, a cnse ligada ao meio ambiente e ao desenvol­
vimento. desencadeada pela seca, atingiu o auge, pondo em 
risco 35 milhões de pessoas e matando aproximadamente 1 
milhão; 
• em Bhopal, na lndIa, um vazamento numa fábrica de pes­
ticidas matou mais de 2 mil pessoas, deixando outras 200 
mil oegas ou feridas; 
• na Cidade do México, tanques de gás liquefeito explodi­
ram, matando mil pessoas e deixando milhares desabrigadas; 
• em Tchemobil, a explosão de um reator duelear espalhou 
radiação por toda a Europa, aumentando o risco de incidên­
cia de câncer humano; 
• na Suíça, durante o incêndio de um depósito, foram des­
pejados no rio Reno produtos químicos agrícolas, wlventes 
e mercdrio, matando milhões de peixes e ameaçando o 
abastecimento de água potável na República Federal da 
Alemanha e na Holanda; 
• cerca de 60 milhões de pessoas morreram de doenças in­
testinals decorrentes de desnutrição e da ingestão de água 
imprópria para o consumo; as vitimas, na maioria, eram 
crianças. 
podem ter:se acidificado a ponto de quase não haver esperanças 
de recupernção. A queima de combustfveis fósseis espalha na at­
mosfera dióxido de carbono, o que e.~ provocando um gntdual 
aquecimento do planelÁ. Devido a esse "efeito estufa", ! possível 
que, já no início do pnlximo século, as temperataras médias glo­
bais se tenham elevadu a pontu de acarretar o abandono de áreas 
de produção agrícola e a elevação do nível do mar, de modo a 
inundar cidades costeiras e desequilibrar economias nacionais. 
Certos gases industriais ameaçam comprometer seriamente a ca­
mada protetora de ozÔnio que envolve o planeta, com o que au­
mentaria acentuadamente a incidência de vários tipos de eâncer 
em seres humanos e animais e seria rompida a cadeia alimentar 
dos oceanos. A indústria e a agricultura despejam substâncias t6­
xicas que poluem irremediavelmente a cadeia alimentar hwnana e 
os lençóis subterrineos. 
Os governos e as instituições multilaterais tomam-se cada vez 
mais conscientes da impossibilidade de separar as questões relati­
vas ao desenvolvimento econÔmico das questões relativas ao meio 
l 3 
IIIIbIenle; muilaS fonnas de desenvolvimento desgastam os recur­
80S ambienlais nos quais se deviam fundamentar, e a deterioração ~ do meio ambiente pode prejudicar o desenvolvimenlD econômico. "'~_uma das principais "!msWLC..Jml Qp~nc
,Iêniá. =âinl;i"imíli fiO -mUliãó~POrtántO, T 
esSêS' prOI)Iem:a.~...;mWíiã· 'pé;, 
Até recentemente, o planeta era um grande mundo no qual as ati­
vidades humanas e seus efeitos estavam nitidamente conf"mados 
em nações, setores (energia, agricultura, comércio) e amplas áreas 
de interesse (ambienlai, econômico, social). Esses compartimen­
IDs começaram a se diluir, IsID se aplica em particular às várias 
"crises" globais que preocuparam a lodos. sobretudo nos I1ltimos 
10 anos. NáD sãD crises isoladas: uma crise ambiental, lima crise 
do desenvolvimento, uma crise energética. SáD uma s6. 
O planeta eslá atravessando um período de crescimento drásti­
CO e mudanças fundamenlais. Nosso mundo de 5 bilhões de seres 
., 
humanos tem de encontrar espaço, num contexto ímito, para outro 
mundo de seres humanos. Segundo projeções da ONU, em algum 
momento do próximo século a população poderá estabilizar-se 
entre 8 e 14 bilhões de pessoas. Em sua maior parte, esse au­
mento ocorrerá nos pafses mais pobres (mais de 90%) e em cida­
des já superpovoadas (90%). 
A atividade econômica multiplicou-se para gerar uma econo­
mia mundial de USS13 trilhões, que pode qU,intuplicar ou decu­
plicar nos próximos 50 anos, A produção industrial cresceu mais 
de 50 vezes no illtimo século, sendo que quatro quintos desse 
crescimento se deram a partir de 1950, Esses nllmeros refletem e 
p ... figuram profundos impactos sobre a biosfera, à medida que o 
mundo investe em habitação, transporte, agricultura e inddstria. 
Grande parte do crescimento econ6mico se faz à custa de maté­
, 	 rias-primas de flo...slaS, solos, mares e vias navegáveis. 
A nova tecnologia, uma das molas mestras do crescimenlo 
econômico, possibilita a desaceleração do consumo perigosa­
mente rápido dos recursos finitos, mas também engendra sérios 
riscos, como novos tipos de poluição e o surgimento, no planeta, 
de novas variedades de fonnas de vida que podem alterar os ru­
mos da evolução. Enquanto isso, as indl1s1rias que mais dependem 
de recursos do meio ambiente, e que mais poluem, Se multiplicam 
com grande rapidez no mundo em desenvolvimento, onde o cres­
cimento é mais urgente e há menos possibilidades de minilaizar 
efeitos colaterais nocivos. 
Essas alterações correlatas criaram novos vínculos entre a eco­
nomia global e a ecologia global. No passado, nos preocupamos 
com os impactos do crescimento econômico sob... o meio am­
biente. Agora temos de nos preocupar com os impactos do des­
li, 	 gaste ecol6gico - degradaçáD de solos, regimes hídricos, atmosfe­
ra e floreslaS - sobre nossas perspectivas econômicas. Mais re­
centemente tivemos de assistir ao aumento acentuado da interde­
pendência econ6mica das nações. Agora temos de nos acostumar 
., à sua crescente interdependência ecológica. A ecologia e a ec0­
nomia estáD cada vez mais entrelaçadas - em âmbito local, regio­
ual, nacioual e mundial - numa rede inteiriça de causas e efeitos. 
Se a base de recursos local se depaupera, áreas mais amplas 
podem ficar depauperadas: o desflorestamento das tetTaS alIaS 
acarreta inundações nas tetTaS baixas; a poluição industrial preju­
dica a pesca local. Esses implacáveis ciclos localizados passam 
4 
5 
qora ao pIano nacional e regional. A deterioração das terras ári­
cIu leva milhões de refugiados ambientais a transpor as fronteiras 
de seus paises. O desflorestamento na América Latina e na Ásia 
wm provocando ntais inundações. com danos sempre maiores. 
1108 paises situados em áreas mais baixas e no curso inferior dos 
rios. A chuva ácida e a radiação nuclear ultrapassaram"as frontei­ ,< 
ras da Europa. No mundo todo, estio ocorrendo fenômenos simi­
la.res. como o aquecimento global e a perda de ozônio. Produtos 
qufmicos perigosos, presentes em alimentos comercializsdos in­
ternacionaImente, são eles próprios comercializsdos internacio­
'11 
nalmente. No próximo século. poderão aumentar multo as pres­
sões ambientais que geram migrações populacionais. ao passo que 
os obstáculos a essa migração poderão ser ainda maiores do que 
hoje. 
Nos últimos decênios, surgiram no mundo em desenvolvimento 
problemas ambientais que põem em risco a vida. O nllmero cres­
cente de agricultores e de sem-terras vem gerando pressões nas 
áreas rurais. As cidades se enchem de gente. carros e fábricas. E 
no entanto esses pafses em desenvolvimento têm de atuar num 
contexto em que se amplia o fosso entre a maioria das nações in­
dustrializsdas e em desenvolvimento em matéria de recursos, em • 
que o mundo industrializado impõe as normas que regem as prin­
cipais organizações internacionais, e em que esse mundo indus­
trializado já usou grande parte do capital ecológico do planeta. 
Essa desigualdade é o maior problema "ambiental" da Terra; é 
também seu maior problema de "desenvolvimento". 
Em muitos paises em desenvolvimento, as relações econômicas 
internacionais constituem um problema a ntais para a admiaistra­
ção <;lo meio ambiente. A agricultura, a silvicultura, a produção 
energética e a mineração geram pelo menos a metade do produto 
nacional bruto de multos desses países, proporcionando empregos 
e meios de subsistência em escala ainda maior. A exportação de 
recursos naturais continua sendo um fator importante em suas 
economias. sobretudo no caso dos menos desenvolvidos. Devido 
a enonnes pressões econômicas, tanto .externas corno internas. a 
,f 
maioria desses países explora excessivamente sua base de recur­
sos ambientais. 
A recente crise africana ilustra bem e de modo bastante tnígico 
como a economia e a ecologia podem interagir de f0rml!- destruti­
'I 
va e precipitar o desastre. Essa crise, desencadeada pela seca, tem 
causas reais ntais profundas. que devem ser buscadas. em parte. 
nas polfticas nacionais que dispensaram pouquíssima atenção. e 
mesmo assim demasiado tarde. às necessidades da agricullllra de 
pequena escala e aos riscos inerentes a rápidos aumentos popuJe­
donais. As rafzes da crise estendem-se também a um sistema eco­
6 
nômico mundial que retira de um contineote pobre mais do que 
lhe dá. Não podendo pagar suas dívidas, as nações africanas que 
dependem da venda de produtos primários vêem-se obrigadas a 
superexplorar seus solos frágeis, transformando assim terras boas 
em desertos. Por causa das barreiras comerciais impostas pelos 
países ricos - e por muitos países em desenvolvimento - os afri. 
canas têm dificuldade em vender seus produtos a preços razoá­
veis. o que pressiona ainda mais os sistemas ecológicos. A ajuda 
concedida pelas nações doadoras não só tem ficado aquém do de­
sejável. como freqüentemente reflete mais as prioridades destas 
nações do que as necessidades dos países recebedores. A base de 
prodoção de outras áreas do mundo em desenvolvimento é tam­
bém afetada tanto por falhas locais quanto pela atuação dos sis­
temas econômicos internacionais. Devido à "crise da divida" da 
América Latina, os recursos naturais dessa região estáo sendo 
usados não para o desenvolvimento. mas para cumprir as obriga­
ções rmanceiras contraIdas com os credores estrangeiros. Esse en­
foque do problema da dívida é insensato sob vários aspectos: 
cconômico, poUtico e ambiental. Exige que países relativamente 
pobres aceitem o aumento da pobreza ao mesmo tempo que ex­
portam quantidades cada vez maiores de recursos escassos. 
Hoje, a renda per capita da maioria dos paises em desenvolvi­
mento é mais baixa do que no início da década. O aumento da 
pobreza e o desemprego vêm pressionando ainda ntais os recursos 
ambientais, à medida que um nllmero maior de pessoas se vê ror­
çado a depender mais diretamente deles. Multos governos sus­
penderam seus esforços para proteger o meio ambiente e para in­
serir considerações ecológicas no planejamento do desenvolvi­
mento. 
A crise ambiental, que se aprofunda e amplia. representa, para 
a segurança nacional - e até para a sobrevivência - uma ameaça 
talvez ntais séria do que vizinhos hem annados e mal-intenciona­
dos, ou alianças hostis. Em certas áreas da América Latioa. Ásia. 
Oriente Médio e África. a deterioração do meio ambiente está se 
tomando fonte de inquietação polCtica e tensão internacional. A 
recente destruição, na África. de grande parte da produção agrf­
cola de terras áridas foi mais grave do que se um exército invasor 
tivesse devastado essas terras. No entanto, a maioria dos gover­
nos dos pafses afetados ainda gasta hem mais para proteger seus 
povos de exércitos invasores do que de desertos em expansão. 
Em termos globais, os gastos militares totalízam cerca de US$l 
trilhão por ana e não cessam de subir. Em muitos países, os gas­
tos militares consomem uma proporção táo grande do produto na­
cional bruto que chegam a prejudicar bastante os esforços desen­
volvimentistas dessas sociedades. Os governos costumam tratar a 
7 
A Comissão buscou meios pano que no século XXI o desen­
\'Olvimenlo global possa vir a ser sustentável. Cerca de 5 
mil dias separam a publicação de nosso relat6rio elo primeiro 
dia elo século XXI. Que crises ambientais nos estãO reserva­
das nesses S mil dias? 
Na década de 70, o número de pessoas atingidas por cu­
lJi.,trofes "naturais" a cada ano dobrou em relação à década 
de 60. As catástrofes mais diretamente ligadas à má admi­
nistração do meio ambiente e do desenvolvimento - secas e 
inundaç<les - foram as que afetaram o maior número de pes­
soas e as que se intensificaram mais drasticamente em ter.. 
mos de vítimas. Cerca de ISS milhões de pessoas sofreram 
anualmente os efeitus da seca nos anos 60; 24,4 milhões, 
questão "segurança" à base de defmições tradicionais. Istu fica 
patente nas tentativas de obter segurança por meio de sistemas de 
armas nucleares capazes de destruir o planeta. Os estudos indicam 
que o inverno nuclear, frio e escuro~ que se seguiria a uma guerra 
nuclear mesmo limitada poderia destruir ecossistemas vegetais e 
animais e deixar aos sobreviventes humanos um planeta devasta­
do, muito diferente daquele que herdaram. 
A corrida annamentista - em todos os quadrantes elo munelo ­
drena recursos que poderiam ser usados de modo mais produtivo 
pano diminuir as ameaças à segurança gerada por conflitos am­
bientais e ressentimentos alimentados pela pobreza generalizada. 
Muitos dos atuais esforços para manter o progresso humano, 
pano atender às necessidades humanas e para realizar as ambições 
humanas são simplesmente insustentáveis - tanto nas nações ricas 
quanto nas pobres. Elas retimm demais, e a um ritmo acelerado 
demais, de uma conta de recursos ambientais já a descoberto, e no 
futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência des­
sa conta. Podem apresentar lucros nos balancetes da geração 
atual, mas nossos mhos herdarão os prejuízos. Tomamos wn ca­
pital ambiental emprestado às gerações futuras, sem qualquer in­
tenção ou perspectiva de devolvê-lo. Elas podem até nos maldizer 
por nossos atos perdulários, mas jamais poderão cobrar a dIvida 
que temos para COm elas. Agimos desta forma porque podemos 
escapar impones: as gerações futuras não votam, não possuem 
poder poIltico ou financeiro, não têm como opor-sea nossas deci­
sões. . 
~\1 
'. 
• 
.j' 
nos anos 70. Houve 5,2 milhIIes de vítimas de inundações 
por ano na década de 60; 15,4 milhões nos anos 70. O nú­
mero de vítimas de ciclones e terremotos também disparou, 
já que cada veZ fuais pessoas pobres constroem casas precá­
rias em terreno perigoso. 
Ainda não há dados definitivos para o. anos 80. Mas. 56 
na África, 35 milhões de pessoas foram atingidas pela seca, 
e na lndia dezenas de milhões sofremm os efeitos de uma 
seca mal. bem administrada e portanto menos divulgada. 
Inundações assolaram os Andes e.o Himalaia desflorestados 
com wn
vigor sempre crescente. Ao que parece, essa ten­
dência sinistra dos anos 80 se transformará numa crise que 
deverá durar toda a década de 90. 
Mas os efeitos da dissipação atual estão rapidamente acabando 
com as opções das gerações futuras. Muitos dos responsáveis pe­
las decisões tomadas hoje estarão mortos antes que o planeta ve­
nha a sentir os efeitos mais sérios da chuva ácida, do aquecimentu 
da Tetta, da redução da camada de ozônio, da desertiflCação ge­
neralizada ou da extinção de espécies. A maioria dos jovens 
eleitores de hoje ainda eStará viva. Nas audiências da Comissão, 
partiram dos jovens, dos que têm mais a perder, as críticas mal. 
deras à atual administração do planeta. 
1.3 De!lenvolvlmento _tentável 
A humanidade é capaz de tomar o desenvolvimento sustentável ­
de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem com­
prometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também 
às suas. O conceito de desenvolvimento sustentável tem, é claro, 
limites - não limites absolutos, mas limitações impostas pelo es­
tágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aoS 
recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de absorver os 
efeitos da atividade humana. Mas tanto a tecnologia quanto a or­
ganização social podem ser geridas e aprimoradas a fun de pro­
porcionar uma nova era de crescimento econômico. Para a Comis­
são, a pobreza generalizada já não é inevitável. A pobreza não é 
apenas um mal em si mesma, mas pano haver wn desen .. olvimento 
sustentável é preciso atender às necessidades blisicas de todo. e 
dar a todos a oportunidade de realizar suas aspirações de uma vi­
8 9 
da melhor. Um mundo onde a pobreza é endêmica estará sempre 
IllljelIO a cattlslmfes, ecológicas ou de outra datuteza. 
O atendimenlO das necessidades básicas requer não só uma 
nova. era de crescimento econômico para as nações cuja maioria 
da população é pobre, como a garantia de que esses pobres rece­
berão uma pareela justa dos recursos necessários Patll manter esse 
crescimento. Tal eqüidade seria facilitada por sistema~ políticos 
que assegurassem a participação efetiva dos cidadãos na tomada 
de decisões é por processos mais democráticos na tomada de de­
cisões em âmbito internacional. 
Para que haja um desenvolvimento global sustentável é neces­
sário que os mais ricos adntem estilos de vida compatíveis com os 
recursos ecológicos do planeia - quanto ao conswno de energia. 
por exemplo. Além disso, o rápido aumento populacional pode 
intensificar a pressão sobre os recursos e retardar qualquer eleva­
ção dos padrões de vida; portanto, só se pode buscar o desenvol­
vimento sustentável se o lamanho e o aumento da população esti­
verem em harmonia com o potencial produtivo cambiante do 
ecossistema. . 
Afinal, o. desenvolvimento sustentável não é um estado perma­
nente de harmonia, mas um processo de mudança no qual a explo­
ração dos recursos, a orientação dos investimentos. os rumos do 
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de 
acordo com as necessidades atuais e futuras. Sabemos que este 
não é um processo fácil, sem Impeços. Escolhas difíceis terão de 
ser feitas. Assim, em última análise, o desenvolvimento sustentá­
vel depende do empenho político. 
1.4 As 'acnnas institucionais 
A meia do desenvolvimentO' sustentável e a natureza indissociável 
dO'S desafiO'S impostos pelo meio ambiente e o desenvolvimento 
glohais constituem um problema para as instituições nacionais 
e internacionais criadas a partir de preocupações restritas e Com­
partimenladas. De modo geral, a reação dos governos à rapidez e 
à amplitude das mudanças globais tepl sido a relutância em reco­
nhecer devidamente a necessidade de eles mesmos mudarem. Os 
desafios são interdependentes e complemenlares, exigindo por_ 
tanto abordagens abrangentes e participação popular. 
Mas a maioria das instituições que enfrentam esses desafios 
tende a ser independente, fragmentada, com atribuições relativa­
mente limitadas e processos de decisão rechados. As responsáveis 
pela administração dO'S recursos naturais e a proteção do meio 
ambiente estio desvinculadas das que se dedicam à administração 
da economia. O mundo real de sistemas econômicos e ecológicos 
interligados não mudará; mas é preciso que mudem as políticas e 
as instituições envolvidas. 
T0'm8-se cada vez mais necessária uma cooperação internacio­
nal efetiva para lidar com a interdependência ecológica e econô­
mica. Contudo, verifica-se ao mesmo tempo um decréscimo de 
:,' confiança nas organizações internacionais e uma redução do 
apoio que lhes é dado. 
Outra grande falha institucional, no que tange a enfrentar os 
desafioo do meio ambiente e do desenvolvimento é a incapacidade 
dos governos de fazer com que os organismos cujas práticas dete­
rioram o meio ambiente se comprometam a adotar medidas que 
evitem essa deterioração. A preocupação com o meio .&mbiente 
adveio dos danO's causados pelo rápido crescimento econômico 
que se segoiu 11 II Guerra Mundial. Os goveinDs, pressionados 
por seus cidadãos, perceberam a necessidade de reparar esses da­
nos e, para tanto, criaram ministérios e órgãos ambientais. De fa­
to, muitos deles conseguiram - dentro dos limites de suas atribui­
ções - melhorar a qualidade do ar e da água e aumentar outros re­
cursos. Mas em gerai sua atuação concentra-se necessariamente 
na reparação de estragos já causados: ",florestarnento, "'genera­
·,t ção de terras desérticas, r<!Construção de ambientes urbanos, 
restauração de habitats naturais e recuperação de regiões agres­
tes. 
A existência desses órgãos deu a muitos governos e cidadãO'S a 
falsa impressão de que os mesmos eram capazes de, sozinhos. 
proteger e aumentar a base de recursos ambientais. Contudo, 
muitos países industrializados e a maioria dos em desenvolvi­
mento arcam com pesados ônus decorrentes de problemas herda­
dos, como poluição do ar e da água, esgolamento dos lençóis 
subterdlneos, proliferação de produtos quúnícos tóxicos e de re­
jeitos perigosos. A esses problemas vieram juntar-se outros mais 
recentes - erosão, desertificaçlio, acidificação, novos produtos 
qul'micos e novos tipos de rejeitos - direlamente relacionadO'S com 
, políticas e práticas agncolas,.industríais, energéticas,-florestais e 
viárias. 
As atribuições dos ministérios econômicos, centrais e setoriais, 
são também, com freqüência, muito limitadas, muito volladas para 
aspectoo quantitativos da produçllo ou do crescimento. Entre as 
atribuições dO'S ministérios da indOstria estão as metas de produ­
ção, enquanto a poluição daí decorren"" fica a cargo dos ministé­
rios do meio ambiente. Os órgãos responsãveis pela eletricidade 
produzem energia, mas a limpeza da poluição !lcida que também 
produzem é deixada para outros organismos. O desafio atual con­
siste em atribuir aos ministérios econômicos~ centrais e setoriais. 
a responsabilidade pela qualidade das áreas do meio ambiente 
.~ 
11 10 
a 
humano afetadas por suas decisões, e em dar mais poder aos ór­
gãos ambientais para enfrentarem os efeítos do desenvolvimento 
não-sustentável. 
Também os órgãos internacionals que tratam de empréstimos 
para o desenvolvimento, regulamentação do comércio, desenvol­
vimento agrícola etc. necessitam de mudanças. Esses órgãos cus­
taram a dar importância aos efeitos de suas atividades sobre o 
meio ambiente, embora alguns estejam tentandô fazer isso. 
Para que os danos ao meio ambiente possam ser previstos e 
evitados é preciso levar em conta não s6 os aspectos ecológicos 
das políticas. mas também os aspectos econômicos, comerciais, 
energéticos, agrícolas e outros. Todos eles devem ser levados em 
consideração nas mesmas agendas e uas mesmas instituições na~ 
denais e internacionais. 
Essa reorientação é um dos principais desaÍlOs institucionais 
para os anos 90 e os seguintes.
Realizá-Ia exigirá g1'andes refor­
mas institucionais. Muitos países. por serem pobres ou pequenos 
demais ou por disporem de pouca capacidade administrativa, te­
rão dificuldade em empreender essa tarefa sem ajuda. Precisarão 
de assistência financeira e técnica, além de fonnação profissional. 
Mas há necessidade de mudanÇas em todos os países, grandes e 
pequenos, ricos e pobres. 
Z. AS DIRETRIZES DE POLÍTICA 
A Comissão concentrou sua atenção nas áreas de população, se­
gurança alimentar, extinção de espécies e esgotamento de recUr­
sos genéticos~ energia. indústria e assentamentos humanos - por 
entender que todas se interligam e não podem ser tratadas isola­
damente. Este item contém apenas algumas das muitas recomen­
dações da Comissão. 
1.1 População e recu.-- hum'anos 
Em muitas partes do mundo, a população vem aumentando a taxas 
incompatíveis com os recursos ambientais disponíveis, e que 
frustram qualquer expectativa razoável de obter progressos em 
áreas como habitação, serviços sanitários, segurança alimentar ou 
fornecimento de energia. 
O problema não está apenas no número de pessoas, mas na re­
lação entre esse número e os recursos disponíveis. Assim, o 
"problema populacional" tem de ser soluciollado por meio de es­
forços para eliminar a pobreza generalizada, a fim de garantir um 
acesso mais justo aos recursos e~ por meio da educação, a fim de 
,~ . 
aprimorar o potencial humano para administrar esses recursos. 
São necessárias medidas urgentes para conter as elevadas taxas 
de awnento populacional. As opções feitas agora influenciarão o 
nível em que a população se estabilizará no próximo século - por 
volta de 6 bilhões de pessoas. Mas esta não é apenas uma questão 
demográfica; dar às pessoas os meios e a educação necessários 
para que decidam sobre o tamanho de suas famflias é um modo de 
assegurar - especialmente às mulheres - o direito humano básico 
da livre escolha. 
Os governos que precisam agir dessa forma devem adotar pc>­
líticas populacionais multifacetadas e de longo prazo, e empreen­
der wna campanha visando a amplos objetivos demográficos: 
fortaIecer as motivações sociais, culturais e econômicas para o 
planejamento familiar e fornecer a todos os interessados a educa­
ção, 0$ contraceptivos e os serviços necessários. 
O desenvolvimento dos recursos humanos é requisito básico 
não sÓ para a aquisição de aptidões e conhecimentos técnicos, 
mas também para o estabelecimento de novos valores que ajudem 
os indivíduos e as nações a enfrentarem as :realidades sociais, am­
bientais e de desenvolvimento que se encontram em rápida trans­
formação. Se o mundo partilhar o conhecimento, haverá maior 
entendimento mútuo e maior empenho em partilhar eqüitativa­
mente os recursos globais. 
Os povos tribais e indígenas vão requerer especial atenção, já 
que as forças do desenvolvimento econômico conturbam seus es­
tilos tradicionais de vida - estilos que muitao lições têm a dar às 
sociedades modernas no tocante à administração de recursos em 
ecossistemas complexos de florestas, montanhas e terras áridas. 
Alguns desses povos estão ameaçados de extinção devido a um 
desenvolvimento insensível, sobre o qual não têm qualquer con­
trole. Seus direitos tradicionais deveriam ser reconhecidos e eles 
deveriam ter voz ativa na fonnulação de políticaS relativas a de­
senvolvimento de recursos nas áreas onde vivem. (Ver capítulo 4 
para uma análise mais ampla dessas questões e recomeodações,) 
1.1 Seaunmça alimentar, manter fi potencial 
O crescimento da produção mundial de cereais vem invariavel­
mente suplantando o da população do mundo. Mesmo assim, a 
cada ano é maior o n1lmero de pessoas que não obtêm alimentos 
em quantidade suficiente. A agrícultura mundial tem condições de 
produzir alimentos para todos, mas com freqüência não há ali­
mento disponível onde é necessário. 
Nos países industrializados, a produção tem sido em gerai 
muito subsidiada e protegida da concorrência internacíooai. Esses 
13 
12 
subsídios estimularam o USO abusivo do solo e de produtos quúni­
cos, a contaminação dos recursos hídricos e dos alimentos com 
esses produtos, e a delerioração das áreas rurais. Muitos desses 
esforços geraram excedenle., mas também ônus financeiros. E 
parte desses excedentes foi "enviada. em condiçl5es subvencionais. 
a países em desenvolvimento, prejudicando suas polnicas agríco­
las. Contudo, alguns países estão tomando maior consciência das 
conseqüências ambientais e econômicas dessas práticas, e agora 
suas polfticas agrícolas dão ênfase à conservação. 
Por outro lado, muitos países em desenvolvimento têm passado 
pelo problema oposto: não há apoio suficiente aos agricultores. 
Em alguns desses países, a combinação de tecnologia mais avan­
çada, incentivos através dos preços e serviços pl'iblicos produziu 
um aumento repentino e marcaole na produção de alimentos. Mas 
em outros, os pequenos produtores de alimentos foram negligen­
ciados. Contando cOm tecnologias quase sempre inadequadas e 
poucos incentivos econômicos, muitos são forçados a trabalhar 
terras marginais: muito secas, muito encharcadas, ou pobres em 
nutrientes. Florestas são derrubadas e terras áridas produtivas tor­
nam-se estéreis. 
A maioria dos países em desenvolvimento necessita de siste­
mas de incentivos mais eficazes para estimular a produção, s0­
bretudo de culturas alimentares. Em suma, é preciso que as "rela­
ções de troca" passem a favorecer o pequeno agricultor. Já a 
maioria dos países industrializados deve alterar os sistemas atuais, 
a fim de cortar excedentes, reduzir a concorrência desleal com os 
países que possam ter vantagens comparativas reais, e promover 
práticas agrfcolas sensatas do ponto de vista ecológico. 
A segurança alimentar exige que se atenle para questões de 
distribuição, pois a fome quase sempre advém da falta de poder 
aquisitivo e não da falta de alimentos. Pode ser propiciada por ...,.. 
formas agrárias e por políticas de proteção aos agricultores de 
subsistência, aos pequenos pecuaristas e aos sem-terra - grupos 
vulneráveis que por volta do ano 2000 compreenderão 220 mi­
lhões de faruflias. Sua maior pro'speridade dependerá de um de­
senvolvimento rural integrado que aumenle as oportunidades de 
trabalho tanto na agricultura como em outros setores. (Ver capí­
tulo 5 para uma análise mais ampla dessas questões e recomenda­
ções.) 
1.3 EspécIes e eeossisteroas: l'eaIrsos para o desenvolvimento 
As espécies do planeta estão em risco. Há um consenso científico 
cada vez mais generalizado de que certas espécies desaparecem 
do planeta a wn ritmo sem precedenle, embora tarubém haja con­
14 
• 
trovérsias quanto a esse ritmo e os riscos que acarreta. Mas ainda 
está em tempo de deter esse processo. 
A diversidade de espécies é necessãria ao funcionamento nor­
mai dos ecossistemas e da biosfera. O material genético das espé­
cies selvagens contribui anualmenle com bilhões de dÓlares para a 
economia mundial sob a fonna de cultivos melhorados. novas 
drogas e medicamentos, e matérias-primas para a indústria. Mas, 
além da utilidade, há também razões morais, éticas, culturais, es­
téticas e puramente científicas para a conservação da vida selva­
gem. 
Uma prioridade básica é fazer com que o problema das espé­
cies em extinção e dos ecossistemas ameaçados conste nas agen­
das políticas como item da maior importância no tocante à eco­
nomia e aos recursos. 
Os governos podem sustar a destraição de florestas tropicais 
e outras reservas de diversidade biolÓgica, e ao mesmo tempo de­
senvolvê-Ias economicamente. A refonnulação dos termos de 
concessão e dos sistemas de receitas florestais poderia gerar bi­
lhões de dÓlares de receitas adicionais, promover um uso mais 
eficiente e de longo prazo dos recursos florestais e conter o des­
matamento. 
O conjunto de áreas protegidas de que o mundo
precisará no 
futuro deve abranger áreas muito mais amplas que contem com 
algwn tipo de proJeção. Assim, o custo da conservação se elevará 
diretamenle e em tennos de oportunidades de desenvolvimento. 
Mas a longo prazo as oportunidades de desenvolvimento serão 
favorecidas. Portanto, as agêndas internacionais de desenvolvi­
mento deveriam dar atenção detida e sistemática aos problemas e 
oportunidades da conservação de espécies. 
Os governos deveriam considerar a possibilidade de estabele­
cerem uma "Convenção das E.~pécies". semelhante em espírito e 
objetivos a outras convenções internacionais atinentes a princípios 
relativos a Hrecursos universaisH• Também deveriam pensar em 
acordos financeiros internacionais para custear a implementação 
dessa convenção. (Ver capítuio 6 para uma análise mais ampla 
dessas questões e recomendações.) 
1.4 Energia: opçiies para o meio ambiente 
e o desenvolvimento 
Uma via energética segura e duradoura é indispensável ao desen­
volvimento sustentável; ainda não a encontramos. As taxas de 
aumento de consumo de energia estão declinando. Mas a indus­
trialização, o desenvolvimento agrícola e as populações que au­
mentam em ritmo acelerado nos países em desenvolvimento preci­
lS 
-- - - --- ---~ 
sarão de muito mais energia, Hoje~ o indivíduo médio numa eco­
nomia industrial de mercado consome mais de 80 vezes mais 
energia que um habitante da África subsaariana. Portanto, qual­
quer cenário energético global realista deve contar com um au­
mento substancial no consumo de energia primária nos países em 
desenvolvimento. 
Para que, por volta do ano 2025, os países em desenvolvi­
mento consumam tanta energia quanto os industrializados. seria 
preciso aumentar cinco vezes o atual consumo global. O eoossis~ 
tema planetário não suportaria isso. sobretudo se esses aumentos 
se concenmu,sem em combustíveis fósseis não-renováveis, Os ris­
cos de aquecimento do planeta e acidificação do meio ambiente 
muito provarelmente descartam até mesmo uma duplicação do 
consumo de energia mediante as atuais combinações de fontes 
primárias. 
Uma nova era de crescimento econômico deve, portanto. con­
sumir menos energia que o crescimento passado. As políticas de 
rendimento energético devem ser a pedra-de-toque das estratégias 
energéticas nacionais para um desenvolvimento sustentável, e há 
muitas possibilidades de melhoria nesse sentido. As aparelhagens 
modernas podem ser reformulada. de modo a fornecer o mesmo 
rendimento usando apenas dois terços ou mesmo a metade dos in­
sumOs energéticos primários necessários ao funcionamento dos 
equipamentos tradicionais. E as medidas que visam a ampliar o 
rendimento energético em geral são eficientes em função dos 
custos. 
Após quase 40 anos de intensQ esforço tecnológico, o uso da 
energia nuclear ampliou-se bastante. Mas nesse período, a nature­
za de seus custos. riscos e beneficios tomou-se mais evidente, 
servindo de tema a ardentes controvérsias. Vários pafses, em todo 
o mundo, adotam posições diferentes quanto ao uso da energia 
nuclear. Os debates no âmbito da Comissão também refletiram es­
sas opiniões e atitudes diferentes. No entanto, todos foram unâ­
nimes em que a geração de energia nuclear só se justifica se hou­
ver soluções seguras para os problemas que acarreta. Há que dar 
prioridade máxima à busca de alternativas sensatas do ponto de 
vista ambiental e ecológico, bem como de meios para tomar a 
energia nuclear maís segura. 
No que se refere ao rendimento energético, cabe apenas espe­
rar que o mundo formule vias alternativas de baixo consumo 
energétíco com base em fontes renováveis~ que deverão ser o ali­
cerce da estrutura energética global do século XXI. A maioria 
dessas fontes apresenta hoje problemas, mas, com inovações, p0­
derão fornecer a mesma quantidade de energia primária que o 
planeta consome atualmente. Contudo. para atingir esses níveis de 
16 
.. 
consumo será preciso um programa coordenado de pesquisa.. e 
projetos de demonstração .que disponha dos recursos financeiros 
necessários para garantir o lápido desenvolvimento da energia re­
nováveL Os países em desenvolvimento terão de ser assistidos pa. 
ra alterar seus padrões de consumo de energia nesse sentido. 
No mundo em desenvolvimenlo, milhOes de pessoas carecem 
de combustível vegetal, a principal fonte de energia doméstica de 
metade da humanidade, e esse número vem aumentando. As na­
ções com pouca madeira devem organizar seus setores agrícolas 
de rondo a produzir grandes quantidades de lenha e outros com­
bustíveis vegetais. 
A atual silllação energética do mundo exige grandes mudanças, 
mas, dado o papel preponderante dos governos como produlores 
de energia e sua importância como consumidores, estas não serão 
obtidas apenas mediante pressões do mercado. Para manter e am­
pliar a tendência recente de ganhos anuais de rendimento energé­
tico, os governos têm de transformá-Ia num objetivo explícito de 
suas políticas de fIXação de preços de energia para os consumido­
res. Há vários meios de chegar a preços que estimulem a adoção 
de medidas poupadoras de energia. Embora a Comissão não ex­
presse preferências, a "fixação de preços de conservação" requer 
uma análise a longo prazo dos custos e beneficios das várias me­
didas. Dada a importância dos preços do peb'Óleo para a política 
energética internacional~ deveriam ser tentados novos mecanismos 
para encorajar o diálogo entre consomidores e produtores. 
Uma estratégia energética segura, viável do ponto de vista am­
biental e econômico, capaz de manter o progresso humano até um 
futuro distante, é evidentemente unperativa. E também possfvel. 
Mas para chegar a ela serão necessários um empenho político e 
uma cooperação institucional renovados. (Ver capítulo 7 para 
uma análise mais ampla dessas questões e recomendações.) 
l.S Indústria: com menos, produzir mais 
Hoje o mundo fabrica sete vezes mais produtos do que o fazia há 
'relativamente pouco tempo, nos anos 50. Considerando as taxas 
de aumento populacional, será necessário elevar de cinco a 10 ve­
zes a produção de manufaturados apenas para fazer com que o 
consumo desses bens no mundo em desenvolvimento atinja os ní­
veis do mundo industrializado quando as taxas de aumento popu­
lacional se nivelarem no próximo século. 
A experiência dos países industrializados demonstrou que, no 
tocante aos danos evitados para a saúde, a propriedade e o meio 
ambiente, a tecnologia pntipoluição foi eficiente em função dos 
custos. Além disso, fez com que muitall inddstrias se tomassem 
17 
mais lucrativas por usarem os recursos com mais eficiência. Em­
bora o crescimento econômico tenha prosseguido. o conswno de 
matérias-primsB se manteve estável ou mesmo declinou. e novas 
tecnologias prometem ser ainda mais eficientes. 
As nações têm de arcar com os custos da industrialização ina· 
dequada, e muitos pafses em desenvolvimento estáo percebendo 
que não dispõem nem de recmsos nem de tempo - dada a rapidez 
das mudanças tecnol<Sgicas - para danificar agora seu meio amo 
biente e mais tarde recuperá-Io. Mas também precisam de assis­
tência e de infOI1llaÇÕeS das nações industrializadas, a fim de. usar 
a tecnologia da melhor forma possível. Cabe em especial às em­
presas transnacionais a respollB8bilidade de facilitar a industriali­
zação das nações em que operam. 
As tecnologias emergentes prometem maior produtividade. 
mais eficiência e menos poluição, mas muitas apresentam o riaco 
de novos produtos qufmioos e rejeito. t6xicos e de graves aci· 
dentes que superam em natureza e proporções os atuais mecaniS" 
mos para enfrentá·los. Urge Controlar mais rigomsamente a ex­
portação de produtos químicos agrícolas e industriais perigosos. 
O. atuais controles sobre o despejo de rejeito. perigosos deve­
riam ser mais rígidos. 
Muitas das necessidades humanu básicas
só podem ser atendi­
das por bens e serviços industriais, e a transição para o cresci· 
mento sustentável deve ser estimulada por um fluJ<O contínuo de 
riqueza proveniente da indllstria. (Ver capítulo 8 para uma análise 
mais ampla dessas questões e recomendações.) 
2.6 O desafio urbano 
Na viradà do século, quase metade da humanidade viverá em cio 
dades; o mundo do século XXI será predominantemente urbano. 
Em apenas 65 anos. a população urbana do mundo em desenvol­
vimento decuplicou. passando de aproximadamente 100 milhões 
em 1920 a I bilhão hoje. Em 1940. de cada 100 pessoas, uma vivia 
em cidades com I milhão ou mais de habitantes; em 1980. isto 
ocoma com uma em cada 1Q. De 1985 até o ano 2000, as cidades 
do Terceiro Mundo poderão abrigar mais de 750 milhões de pes­
soas. Isto indica que. nos pr6ximos anos. o mundo em desenvol­
vimento precisa aumentar em 65% sua capacidade de proporcio­
nar infra-estrutura. serviços e moradias urilanos apenas para 
manter as condições atuais. quase sempre bastante precárias. 
Poucos governos municipais do mundo em desenvolvimento 
dispõem de poder, recursos e pessoal qualificado para fornecer a 
suas populações em rápido crescimento as terras, os serviços e as 
instalações que a qualidade da vida humana reqUer: água potável, 
18 
saneamento, escolas e transportes. O resultado é a pmlifemção de 
assentamentos ilegais. com instalações primitivas, populações em 
crescimento desenfreado e índices aiarmantes de doenças conju­
gados a um ambiente insalubre. Muitas cidades do mundo .indos­
trializado também enfrentam problemas: infra-estrotura em deca­
dência, degeneração do tneio ambiente. deterioração dos centros 
urbanos e descaracterização de bairros. Mas como dispõem dos 
tneios e recursos para combater essa sitoação, o problema da 
maioria dos-países industrializados restringe-se a uma opção poJ(­
tica e social. Este não é o caso dos países em desenvolvimento, 
que se vêem a braços com uma grave crise urilana. 
Os governos terão de formular estratégias de assentamento 
bem definidas para orientar o processo de urbanização. desafogar 
os grandes centros urbanos e erguer cidades menores, integrando­
as mais estreitamente às áreas interioranas. Isto sigoifica rever e 
alterar outras polftjcas - tributação, fixação de preços de alimen­
tos, transporte. saúde, industrialização -. que se opõem aos obje­
tivos das estratégias de assentamento. 
Uma boa administração municipal requer a descentralização ­
de recursos, de poder polftjco e de pessoal- em favor das autori­
dades locais.' que estão em melhor sitoação para avaliar e prover 
as necessidades de sua área. Mas o desenvolvimento sustentável 
das cidades depende de uma cooperação mais estreita com as 
maiorias pobres UIbanas, que são os verdadeiros construtores das 
cidades. somando suas aptidões e recursos àqueles do "setor in­
fonnal". Muito pode ser feito por tneio de projetos "comunitá­
rios" que proporeionem às famílias serviços básicos em tomo dos 
quais se possam construir habitações mais sólidas. (Ver capftolo 9 
para uma anlllise mais ampla dessas questões e recomendações.) 
3, COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 
E REFORMA DAS INSTITUIÇÕES 
3.10 papel da economia Internadonal 
Para que os intercâmbios econômicos internacionais beneficiem a 
todas as partes envolvidas, é preciso que antes sejam atendidas 
duas condições: a manutenção dos ecossistemas dos quais depen­
de a economia global deve ser garantida; e os parceims econômi­
cos têm de estar convencidos de que o intereâmbio se processa 
numa base justa. No caso de muitos países em desenvolvimento. 
nenhuma dessas condições é atendida. 
Em muitos desses países, o crescimento vem sendo contido 
pela queda dos preços dos produtos básicos, pelo p .... tecíonismo. 
19 
pelo intolerável ônus da díVida e pela redução dos fluxos de fi­
nanciamento do desenvolvimento, Para que os padrões de vida sé 
elevem e aliviem a pobreza. é preciso inverter essas tendências. 
Nesse sentido, cabe ao Banco Mundial e à Associação mtema­
cianal de Desenvolvimento a maior parcela de responsabiIi<iaQ;:" 
já que constituem o principal canal .de financiamento multilateral 
para países em desenvolvimento. No que respeita a fluxos fman­
ceiros constantemente ampliados, o Banco Mundial pode custear 
projetos e polfticas que sejam benéficos ao meio ambiente. No to­
cante ao financiamento para ajustes estruturais, o Fundo Monetá­
rio mternacional deveria apoiar objetivos 'de desenvolvimento 
mais amplos e de mais longo prazo que os atuais: crescímento, 
metas sociais e efeitos sobre o meio ambiente. 
O nível atual do serviço'da dívida de muitos países, sobretudo 
na África e na América Latina, não se coaduna com o desenvol­
vimento sustentável. Os devedores estão sendo instados a recorrer 
a excedentes comerciais para pagar o serviço de suas dívidas e, 
para tanto, exploram em excesso seus recursos não-renováveis. 
São necessárias medidas urgentes para aliviar o ônus da dívida, 
de mudo a que baja uma divisão mais justa de responsabilidades e 
obrigações entre devedores e credores. 
Os atuais acordos sobre produtos básicos poderiam ser bas­
tante aperfioiçoados: mais fmanciamento compensatório para con­
trabalançar os choques econômicos encorajaria os produtpres a 
adotarem uma perspecti va de mais longo prazo e a não produzir 
mercadorias em excesso; e os programas de diversificação p0de­
riam prestar maior assistência. Os acordos exclusivamente ati­
nentes a produtos básicos podem seguir o modelo do Acordo m­
ternacional sobre Madeiras Tropicais, um dos poucos a incluir es­
pecificamente deteI;!IÚnaç6es ecol6gicas. 
As empresas multinacionais têm importante papel a desempe­
nhar no desenvolvimento sustentável, sobretudo à medida que os 
países em desenvolvimento passam a depender mafs de capital so­
cial estraogeiro. Mas para que essas empresas influam de modo 
positivo no desenvolvimento, a capacidade de negociação dos 
países em desenvolvimento em relação às multinacionais deve ser 
fortalecida, a flnl de que obtenham condições que respeitem seus 
interesses ambientais. 
Mas essas medidas específicas devem estar inseridas num 
contexto mais amplo de cooperação efetiva para gerar um sistema 
econômico internacional comprometido com o crescimento e a 
eliminação da pobreza no mundo . (Ver capítulo 3 para uma análi­
se mais ampla das questões e recomendações sobre economia in­
ternacionaL) 
3.2 Administrando OS bens <OmWJS 
As formas tradicionais de soberania nacional geram problemas 
específicos quanto à administração dos "bens comuns do globo" 
e de seus ecossistemas - os oceanos,. o espaço c6smico e a Antár­
tida. Já se obteve algum progresso nas três áreas, mas ainda há 
muito que fazer, 
A Conferência das Nações Unidas sobre Direito Marítimo foi 
a tentativa mais ambiciosa jamais feita para se chegar a um regi­
me internacionalmente aceito de administração dos oceanos. To­
das as nações deveriam ratificar o mais rápido possível o Tratado 
sobre Direito Marítimo. Seria preciso fortalecer os acordos de 
, pesca para impedir a superexploração que hoje se verifica. e tam­
bém as convenções para controlar e regulamentar o despejo de 
rejeitos perigosos no mar. 
Há uma preocupação cada vez maior com a administração do 
espaço orbital, centrada no uso da tecnologia dos satélites para 
controlar os sistemas planetários, no uso mais eficiente possível 
das capacidades restritas da órbita geossinCfÔnica para satélites de 
comunicações, e na contenção do entulho espacial. A colocação 
de armas em órbita e os testes espaciais aumentariam bastante es­
se entulho. A comunidade internacional deveria tentar elaborar e 
pôr em prática um regime espacial que assegurasse a manutenção 
do espaço corno ambiente pacífico, para o benefício de todos. 
A Antártida está submetida ao Tratado Antártico de 1959. 
Contudo. muitas

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