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para Stan Morgan aquela ideia desceu como um trago amargo. Não gostava de perder a iniciativa, e tinha a sensação de que o estavam deixando de lado. — Não quero nem uma queixa dos moradores. Nada de roubar, saquear ou destruir. Simplesmente acabem com esses monstros e voltem aqui. Combinado? Como quiser, patrão — murmurou Grapes em tom irônico, fazendo um gesto para reunir seus homens. — Vamos, rapazes! Temos que chutar algumas bundas! Menos de dez minutos depois estavam na entrada do bairro de Bluefont. A urbanização, composta por umas trezentas casas, ficava do outro lado de um profundo canal que desaguava nas marismas próximas, e só podia ser atravessado por duas pontes. A do lado sul, onde se encontravam, estava guardada pelo ajudante do xerife, um rapaz com pinta de ter saído do colégio na semana anterior e por um punhado de cinquentões armados com fuzis de caça, com cara de quem está prestes a cagar nas calças. — Os não mortos entraram pela ponte norte — disse um deles. — O Muro ainda não está fechado desse lado, e eles entraram. Ted Krumble e seus rapazes deviam estar vigiando a ponte, mas não sei que diabos aconteceu. Estamos chamando pelo rádio há uma hora e não respondem. Ouvimos tiros e uma explosão, mas não sabemos de mais nada. Grapes assentiu, circunspecto. — Quem são esses... como os chamaram? Não mortos?— perguntou. Os demais olharam para ele alucinados. Constrangido, Malachy lhes explicou que não chegavam muitos jornais à cadeia, e ele não tinha nem ideia do que estava acontecendo. Rapidamente informaram- no de tudo. O ariano digeriu a informação com tranquilidade. Não que não acreditasse naqueles velhos assustados, mas tinha certeza de que a coisa não era para tanto. Se eram só sujeitos com raiva, ou algo do tipo, não teriam nenhum problema. Não havia nada que não se curasse com uma injeção de chumbo de sete gramas. — Dizem pelo rádio que se deve atirar na cabeça — disse um dos moradores com voz assustada. — Vou me lembrar de seu conselho — replicou Grapes, enquanto atravessava a ponte a passo ligeiro, seguido de seus homens. Ao chegar do outro lado logo percebeu que alguma coisa não andava bem. Bluefont era uma típica urbanização de periferia americana, formada por uma série de casas com jardim, onde os brancos ricos iam morar assim que tinham oportunidade. Mas, à medida que avançavam, não se via ninguém nas ruas. Em uma calçada, um cortador de grama tombado de lado continuava funcionando. A cestinha havia se soltado e a grama recém-cortada se espalhava pela calçada ao compasso de uma suave brisa. pequeno Subaru estava parado no meio da rua, com o motor ligado e todas as portas abertas. Grapes se aproximou com cuidado e colocou o braço dentro do carro. Girou a chave de contato e desligou o motor. O silêncio que se seguiu foi realmente aterrador. Só se ouviam alguns vagos gemidos, provenientes de algum lugar ao norte, a pouca distância. — Trent, leve Bonder, Kim e mais três e cubram essas casas. Os outros, formem grupos de três e vão entrando de casa em casa para se assegurar de que estão vazias. Se alguém roubar alguma coisa, nem que seja uma caneta, vou lhe arrancar os colhões a dentadas. Fui claro? Os arianos assentiram, obedientes, e dividiram-se em grupos. Grapes continuou avançando pelo meio da rua, com todos os sentidos em alerta. Atrás dele caminhavam mais três arianos, Seth Fretzen, um sujeito pequeno e silencioso chamado Crupps e um gordo de barba que chamavam de Sweet Pussy, só Deus sabia por quê. Ao passar diante de uma casa, parou de repente. A porta estava aberta, só encostada, e havia uma poça de sangue fresco no chão. No batente da porta alguém havia deixado a marca de uma mão encharcada de sangue ao se apoiar. Uma gota escorria lentamente da mancha, traçando um sinuoso caminho na madeira branca. Alguma coisa caiu no chão dentro da casa, despedaçando- se. Grapes olhou para seus homens e indicou que caminhassem colados a ele em direção à entrada. Subiu os degraus lentamente, tentando não fazer barulho, mas eles rangeram de leve. Ao chegar à porta, empurrou-a com o cano de seu M16. Lá dentro estava escuro e fresco. Dali ele podia ver um saguão que dava para uma sala ao fundo. Do lado direito, uma escada para o andar superior. As manchas de sangue salpicavam vários degraus, e quem quer que fosse fora arrastando com seu corpo todos os quadros pendurados na parede da escada, pois estavam no chão, espatifados. Com gestos, indicou a Seth e Crupps que subissem as escadas. Ele, com Sweet Pussy em seus calcanhares, atravessou o saguão e entrou na sala. Era uma sala que dizia aos quatro ventos: "Olhe para mim, meu dono é um sujeito podre de rico". Os móveis eram da melhor qualidade, e havia um sofá que parecia ter sido planejado para acomodar uma dúzia de pessoas, pelo menos. Na parede, uma tevê monstruosa, e os tapetes eram tão grossos que se uma moeda caísse neles se perderia para sempre. Sweet Pussy puxou a manga de Grapes e apontou para o chão. Em um canto, ao lado de um enorme aparador, um vaso estava despedaçado. Aquilo devia ser o que haviam ouvido cair quando passavam pela frente da casa. Alguma coisa soou dentro da cozinha. Evitando pisar nos pedaços quebrados do vaso, Grapes foi se aproximando lentamente da porta. E ali parou, atônito. Uma garota de vinte e poucos anos, alta, magra, de corpo escultural, usando apenas com urna minúscula tanga, balançava-se no meio do aposento, com o olhar perdido. Está totalmente chapada, foi a primeira coisa que Grapes pensou, tentando afastar o olhar dos seios operados da garota. O cabelo louro e liso caía sobre a metade de seu rosto, ocultando sua expressão, e ela não parecia ter notado que os dois homens haviam entrado ali. Alguma coisa não está certa aqui. Seu cérebro lançava sinais de alarme para todo lado, mas ele não conseguia localizar a peça que não se encaixava. Sweet Pussy entrou atrás dele e, ao ver a garota nua, arregalou os olhos. — Caralho! Olá, linda! — exclamou, enquanto se aproximava da garota. Você viu, Grapes? Que par de... Tudo aconteceu em uma fração de segundo. Sweet Pussy esticou a mão para os peitos da garota (estão cobertos de veias, de veias estouradas) com um brilho luxurioso no olhar. A garota levantou a cabeça (os olhos, os olhos estão mortos, caralho), e antes que ele tivesse tempo de reagir cravou os dentes no pescoço de Sweet Pussy. O bandido soltou um rugido de surpresa, afastando a garota com um empurrão. Com a culatra da arma, bateu na cabeça dela, arrebentando sua boca. Grapes observou, fascinado, que em vez de cair como um pedaço de chumbo, a garota voava de novo para cima de Sweet Pussy, como se nada houvesse acontecido. Para Sweet Pussy, as coisas se complicaram a seguir. Ele tentou acertar a garota de novo, mas a mordida havia cortado sua carótida, e, embora ele ainda não soubesse, seu cérebro já estava morrendo por falta de irrigação. Tonto, deu um golpe frouxo e desviado, mas não pôde evitar que a garota se jogasse de novo para cima dele. Ambos rolaram pelo chão, arrastando na queda uma montanha de pratos, que se quebraram com estrondo. Com um empurrão, conseguiu afastá-la alguns metros e atirou na garota com seu M16. As balas de ponta oca estouraram ao impacto contra o corpo da garota, abrindo um enorme buraco em seu abdome. O impulso do tiro a projetou contra a parede com violência. Seu corpo bateu com força e foi escorregando lentamente, enquanto seus intestinos começavam a se espalhar. — Grapes... — gorgolejou Sweet Pussy no chão, levando a mão ao pescoço. — Grapes... preciso... de ajuda. Grapes o observou, sabendo que estava condenado. O sangue brotava em jatos regulares, enquanto seu coração continuava bombeando sem parar, tentando alimentar um cérebro que morria irreparavelmente. A luz da vida fugia dos olhos de Sweet Pussy, mas Grapes não lhe prestou atenção. Porque a garota nua havia se levantado de novo! Com um gemido