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Afecções cirúrgicas da cabeça: Orelha: Otohematoma ou hematoma auricular: Consiste no acúmulo de sangue entre a pele e a cartilagem auricular da pina, sendo uma alteração muito comum na clínica. Em muitos casos, devido à erros do proprietário ou do próprio veterinário, a lesão pode infeccionar e acúmulo passa a ser de pus. É causado basicamente por trauma, por coceira por otite, briga e maus tratos. Após o trauma ocorre fratura da cartilagem, rompimento dos ramos da artéria auricular e sangramento. Depois de algum tempo ocorre a formação de coágulos que cessam o sangramento. Normalmente o animal não sente dor e não se incomoda, a não ser que tenha infecção secundária. Quando um caso desse chegar devemos decidir por um tratamento conservador com tomadas para hematoma ou um processo de drenagem cirúrgico. Quando não se faz nada, apenas pomada ou nada mesmo o otohematoma regride porque o coágulo cessa o sangramento, porém nesses casos a lesão se torna crônica, tornando-se firmes e fibróticas, podendo levar a deformação da orelha, sendo apenas estético. Devemos ter em mente a diferença entre punção e drenagem. A punção consiste na retirada do líquido com agulha, o que não é indicado, pois retiramos o coágulo e o sangramento retorna. Esse só deve ser feito em casos em que a orelha esteja MUITO inchada, de forma paleativa, para aliviar o animal e depois encaminhar pra cirurgia porque para tratar não serve, porque você vai puncionar o resto da vida. Além disso, a punção repetida pode atuar como via de infecção, com inoculação de patógenos. Uma forma de reduzir o risco de infecção é utilizar tubos a vácuo para a punção. Já a drenagem é feita cirurgicamente com bisturi e sutura adequada diminuindo o espaço morto e ligando os vasos, impedindo que o sangramento retorne. O diagnóstico é feito basicamente pelo exame clinico, com inspeção e palpação da orelha. Para tratar devemos identificar a causa primária porque se esta não for tratada o otohematoma retorna. Cirurgia: primeiramente é preciso isolar o conduto auditivo para não cair nada dentro durante o procedimento. Devemos fazer um acesso em elipse ou S de uma ponta a outra da orelha, pois as incisões em linha reta podem colabar muito fácil e ai a drenagem não ocorre e o acúmulo de sangue pode voltar. Em seguida, com uma pinça com gaze estéril, devemos fazer a curetagem que consiste em limpar toda a região retirando todos os coágulos. A sutura deve ser feita com nylon, sem apertar muito e de forma captonada, pois só o fio pode acabar rasgando a pele. O capton utilizado pode ser botão ou pedaços do equipo. A sutura deve pegar pele e cartilagem se o otohematoma estiver só de um lado, se estiver dos dois pega pele, cartilagem e pele de novo. A sutura deve sempre ser feita no maior eixo da orelha, ou seja, da pontinha pra dentro da orelha (em pé), nunca fazer deitado. Isso porque os grandes vasos da orelha estão no sentido da sutura, e assim não há risco de estrangular esse vaso principal. Essa sutura serve pra fazer a hemostasia dos pequenos vasos e diminuir o espaço morto para evitar o sangramento, por isso não é feita no local da incisão, e sim na orelha inteira. A incisão em si deixamos aberta pra fechar por segunda intenção, para que ela mantenha a drenagem. Neoplasias de ouvido externo: Não é muito comum em cães e gatos, porém pode ocorrer como neoplasias de pele ou de glândula, porém o mais comum é o carcinoma de células escamosas ou carcinoma epidermóide. Este é o câncer de pele, que acontece muito em animais claros, principalmente gatos que ficam expostos ao sol, e geralmente ocorre na orelha. As neoplasias de glândula são: adenoma ou adenocarcinoma de glândulas ceruminosas. Já as neoplasias de pele mais comuns são: mastocitoma, fibrossarcoma e melanoma. As neoplasias acometem mais animais de meia idade a idosos. A citologia serve apenas como exame de triagem, porém o confirmatório é feito com histopatologia, pois só esta fornece graduação do tumor e margem cirúrgica. A conchectomia é proibida quando a justificativa é estética, porém em casos de neoplasias e traumatismos pode ser feita. Esta consiste na ressecção da pina com exérese total ou parcial do pavilhão auricular. Olhos e anexos: Pálpebra: Quanto às pálpebras podemos observar entrópio e ectrópio. O entrópio consiste na inversão da pálpebra e dos cílios em direção à córnea. Nesses casos observamos muitos sinais, porém o mais grave que pode ocorrer de forma secundária é a úlcera de córnea. As causas são: hereditária, adquirida (cicatricial), espástica (espasmo muscular orbitário). Como sinais observamos epífora, blefaroespasmos, fotofobia, conjuntivite e ulceração. O tratamento pode ser feito com duas técnicas, uma delas é conservadora e a outra definitiva. A conservadora é mais usada em animais filhotes, pois estes continuam crescendo, e caso você faça a definitiva a pele do animal pode esticar causando ectrópio iatrogênico. O conservador consiste na técnica de fixação palpebral (tacking), com fio de nylon, que fixa a pálpebra pra fora, mas sem retirada de pele. Este é temporário, para esperar o animal crescer e vê se melhora com a pele esticada, se não melhorar vai ter que fazer o definitivo. O definitivo consiste na técnica de hotz-celsus, que é uma blefaroplastia, e nesse caso a retirada de um pedaço de pele abaixo da pálpebra e fixação desta mais abaixo. Já o ectrópio consiste na eversão da pálpebra inferior com a exposição da conjuntiva. O tratamento cirúrgico só é feito em casos mais graves com alterações secundárias. As neoplasias de pálpebra mais comuns são: adenoma, adenocarcioma, melanoma, papiloma, epitelioma. Glândula da terceira pálpebra (glândula de harder): O quadro mais comum é a protusão da glândula da membrana nictitante e pode ocorrer de forma congênita por anormalidade ou frouxidão do tecido conjuntivo, sendo mais comum em braquicefálicos. A glândula possui um papel importante na produção lacrimal, por isso ela não deve ser retirada e sim reposicionada. A excisão só deve ser retirada em caso de neoplasia ou fibrosamento. A reposição pode ser feita por duas técnicas, separadas ou juntas. Uma delas é a fixação da glândula no periósteo e a outra e a criação de uma bolsa conjuntival (pocket), onde vamos colocar a glândula e fechar ela lá dentro. Globo ocular: Um quadro comum envolvendo o globo ocular é a sua protusão, ocorrendo mais em braquicefálicos. Pode ocorrer por trauma (+comum), abscessos, neoplasias. Dependendo do tempo da protusão podemos reposicionar o globo, porém quando já é tardia devemos fazer a enucleação caso o olho esteja inviável. Para reposicionar devemos diminuir o edema com colírios a base de corticoide e compressa de água fria, podemos lubrificar com pomada oftálmica. Em seguida reposicionamos o olho. Em alguns casos pode ser necessária uma cantotomia lateral (faz uma incisão lateral ao olho), para facilitar o processo porque pra sair é fácil, mas pra voltar é difícil por causa da anatomia e da pressão ocular. Após o reposicionamento devemos fazer um ponto simples nas pálpebras (tarssorrafia) fechando o olho e forma temporária, para que ele não sai de novo. O medicamento pode ser feito pelas brechas que sobram do ponto. Enucleação: É a retirada total do globo ocular em casos em que este esteja inviável. As indicações são: processos infecciosos crônicos que não respondem ao tratamento clínico, neoplasias intra-oculares, traumas graves, desconforto ocular sem possibilidade de tratamento clínico, corpo estranho. A técnica consiste nesse passo a passo: Cantotomia bilateral e dissecção da conjuntiva Dissecação da musculatura extra ocular e peri-orbital Ligadura do pedículo do nervo óptico coma artéria e veia. Devemos pinçar e ligar, mas antes podemos jogar anestésico local porque a manipulação do nervo dói mesmo sob anestesia geral. Remover olho, terceira pálpebra, glândulas e margens palpebrais Sutura conjuntiva e sutura pele (tarssorrafia e dermorrafia). Devemos prestar atenção para não manipular e tracionar o olho em excesso, pois devido ao quiasma óptico que conecta os dois olhos, podemos lesionar o outro olho e o animal ficar cego. Além disso, a manipulação excessiva pode causar bradicardia irresponsiva a medicamentos, devido ao estímulo vagal direto. Cavidade oral: Cálculos dentários ou odontolitíase: geralmente acomete animais adultos a idosos, com alguns fatores predisponentes, como: predisposição racial e individual, alimentação, persistência de dentes de leite (decíduos). Algumas complicações podem ocorrer, entre elas: migrações de bactérias e formação de fístulas. O tratamento é cirúrgico, sempre com antibioticoterapia prévia. Quando há fístula devemos extrair o dente afetado ou tratar o canal. Fratura de sínfese mentoniana: ocorre por traumas e existem alguns métodos para solução, podendo ser feita a associação destes. Um deles é a sutura com fio de aço ou nylon grosso em X, passando o fio por trás dos caninos e aproximando a lesão. Outra possibilidade é a utilização de um aparelho odontológico que se molda nos dentes e auxilia na calcificação da sinfese. E por último temos o fixador externo que também pode ser utilizado. Neoplasias: hiperplasia gengival (boxer!), melanoma, mastocitoma, histiocitoma, fibrossarcoma, plasmocitoma. Prognóstico de neoplasias em cavidade oral é reservado a desfavorável, pois são normalmente tumores malignos, além do fato de que a margem cirúrgica é muito restrita. Quando se opta pela cirurgia, muitas vezes esta é mutiladora. Algumas cirurgias que podem ser feitas são: mandibulectomia e maxilectomia. A mandibulectomia pode ser parcial ou total, rostral ou caudal. Durante a cirurgia devemos ligar a artéria alveolar mandibular, que é muito difícil e sangra muito, sendo a dificuldade da técnica. Glândulas salivares: o que pode ocorrer são pequenos cálculos que se formam dentro dessas glândulas e acabam por obstruí-las, dificultando a saída da saliva, caracterizando o quadro de mucocele. Assim, essa começa a se acumular, e podemos observar um aumento da face na região das glândulas. O tratamento é cirúrgico para retirada do cálculo e da saliva acumulada.
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