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Silvio Santos Biografia

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Silvio Santos veio daqui 
História de vida do homem mais conhecido do País tem passagens que poucos conhecem. Saiba como foi a trajetória do Homem do Baú 
Élcio Braga, Patrícia Melo e Souza e Rachel Vita 
O moleque era um zero à esquerda na escola, faltava à maioria das aulas e encarnava um pestinha com os colegas. Seis décadas depois, aquele por quem ninguém daria um tostão estava no alto do carro alegórico da Tradição, no Domingo de Carnaval, abrindo o desfile em sua homenagem. Quando o abre-alas entrou na concentração, Silvio Santos (nome artístico de Senor Abravanel) ficou petrificado com a cena que viu: o Sambódromo, em peso, gritava o seu nome. 
A história do Homem do Baú 
‘Silvio, desse jeito você não vai ser ninguém na vida. Só pensa em futebol". Por ironia do destino, essa era a frase que Senor Abravanel, aos 12 anos, ouvia diariamente de sua professora de 5ª série, Maria Lourdes Bruce, da Escola Primária Celestino da Silva, na Rua do Lavradio, Centro do Rio. A ladainha era sempre a mesma, já que Silvio gostava mais de falar do que de estudar. Era comum ver o menino contar histórias para os alunos sobre a atuação dos times de futebol. Silvio é torcedor do Fluminense. 
As travessuras de Cenourinha – apelido dado por colegas de Silvio, pelo diminutivo de Senor – não se limitavam à sala de aula. Sua mãe, Rebecca Abravanel, vivia atrás do menino, com chinelo na mão, pelas ruelas da Vila Rui Castro, na Travessa Bentevi, no Centro, onde ele nasceu. Silvio brincava horas com os amigos, na rua, e não dava sossego à Dona Rebecca. 
"Ele era um capetinha. Não havia quem o controlasse, apesar da rigidez da mãe", lembra Lydia Marques da Silva, 68 anos, colega de turma de Silvio e vizinha na Vila Rui Castro. 
O temperamento intempestivo de Rebecca vem do sangue. Turca, trazia a rédeas curtas Silvio e os outros cinco filhos (Beatriz, Sara, Leon – ou Léo –, Perla e Henrique). Rebecca conheceu o pai de Senor no Rio. Alberto Abravanel deixou a Grécia, onde nasceu, fugindo do serviço militar. Procurou refúgio na França, mas acabou preso em flagrante e expulso por trabalhar como camelô. 
No mar de incertezas, o jovem embarcou em um navio para o Brasil, onde acabou constituindo a família Abravanel. Com o dinheiro ganho no trabalho como intérprete e guia turístico, no porto, graças às línguas que dominava, Alberto comprou uma lojinha, na Praça Mauá, onde vendia souvenirs. A família era considerada remediada. Mas tudo começou a desandar quando o pai se viciou no jogo. Nos salões dos cassinos, Alberto perdeu a única fonte de renda. Irritado, Silvio deixou a escola, por dois meses, e passou ganhar dinheiro apostando com jogadores de sinuca, nos bares da Lapa. 
Apesar do esforço e da persistência, o trabalho complicava a vida escolar de Silvio, que nem sempre conseguia ir às aulas. No terceiro ano básico, por exemplo, quando tinha 19 anos, das 459 aulas previstas no currículo, ele faltou a 234. Ou seja: 51%. 
Para se divertir, Silvio usava a imaginação e driblava a falta de dinheiro com travessuras. Desde os 12 anos, nos cinemas da Cinelândia, ele e o irmão Léo entravam pela saída das sessões, para não pagar ingresso. 
"No Odeon, nós nos infiltrávamos entre o público que saía e caminhávamos em sentido contrário, andando para dentro do cinema", contou Silvio, em entrevista reproduzida no livro A Fantástica História de Silvio Santos, da Editora do Brasil, escrito pelo jornalista Arlindo Silva. O dinheiro economizado com os ingressos era gasto em outra mania de Silvio: ele colecionava figurinhas que vinham em balas. 
O cinema realmente fascinava Silvio. Ainda mais a série O Vale dos Desaparecidos, todas as quintas-feiras, no extinto Cine OK. Era a única sessão em que ele pagava para entrar. "Não podíamos correr o risco de não poder entrar de carona (...). No Cine OK, nossa pilantragem não dava certo, porque o porteiro e o guarda de serviço já nos conheciam", recorda Silvio, no livro. 
Foi numa dessas tardes de quinta-feira que a estrela de Silvio começou a brilhar. Gripado e com febre alta, ele foi impedido pela mãe de sair de casa para assistir a seu seriado preferido. Ficou arrasado e chorou. Mas a palavra da mãe prevaleceu. Pouco depois, ele descobriu que havia escapado da morte. O Cine OK pegou fogo e muitos espectadores ficaram feridos. Foi o primeiro de uma série de golpes de sorte na vida de Silvio. 
Um amigo fiel de muitos anos 
Depois de acompanhar Silvio Santos por 25 anos, o jornalista Arlindo Silva (foto) decidiu escrever a história do patrão. Em novembro do ano passado, o assessor de imprensa do apresentador lançou o livro A Fantástica História de Silvio Santos, pela Editora do Brasil. O interesse do público garantiu o primeiro lugar em vendagem no País por algumas semanas. 
"Vi que Silvio Santos despertava o interesse de muita gente. Mas só pude escrever o livro quando me aposentei. Antes, não tinha tempo para me dedicar como queria", disse. 
Pelas livrarias de todo o País, foram distribuídos 80 mil exemplares do livro, com 277 páginas. A biografia já está na oitava edição. Arlindo garante que Silvio não participou da elaboração do texto. O jornalista usou uma entrevista que Silvio Santos concedeu a ele, quando ainda trabalhava na revista O Cruzeiro, em 1972, reproduzida no início do livro. 
"Entrevistei amigos, parentes e funcionários. Só mostrei a ele depois de pronto. Silvio leu durante uma viagem aos Estados Unidos. Quando voltou, disse que tinha gostado muito, mas perguntou se o livro não estava muito simpático a ele. Eu acredito que não. A vida dele é assim mesmo. Sem problemas", conta Arlindo Silva, que percorreu o mundo fazendo reportagens para a revista O Cruzeiro. 
Silvio antes de ser patrão
Aos 14 anos, Silvio descobriu que podia
ganhar dinheiro vendendo capas de plástico
para título de eleitor. Deu o pontapé iniciaL
para construir o seu império 
VIDA MILITAR.
Aos 18 anos, na Escola de Pára-quedista, em Deodoro
Com a venda de um simples porta-título, o início de uma fortuna. Aos 14 anos, Silvio Santos decidiu ganhar a vida como camelô. Comprou uma carteira para guardar título de eleitor e saiu pela rua dizendo que era a última. Vendeu de imediato. Com o lucro, comprou mais duas peças. "É a última", alardeava, escondendo a outra no bolso. 
Esperto, o garoto havia descoberto o filão na Avenida Rio Branco. Há dias observara os camelôs em ação. Queria encontrar uma maneira de ganhar dinheiro, sem muito esforço. Chamou-lhe atenção um homem que vendia porta-título a rodo. À espreita, seguiu o vendedor para descobrir onde se conseguia a mercadoria a preço de banana. 
Silvio conta que muitas pessoas consideram que a moeda com que comprou o primeiro porta-título foi como a do Tio Patinhas, personagem de Walt Disney. Deu-lhe muita sorte. 
Ele não queria mais depender da família. Afinal, o pai, Alberto Abravanel, perdia o que ganhava com o jogo. A mãe, severa, ameaçava-o: "Vai ter de trabalhar, senão não vai ter o que comer, e ainda vai apanhar mais", disse ele, em passagem citada no livro A Fantástica História de Silvio Santos, de autoria de Arlindo Silva. 
Foi então que decidiu apostar na carreira de camelô, profissão também ilegal naquela época. Nas ruas do Centro, havia, no máximo, 15 pessoas trabalhando como ambulantes. O campeão de venda era um tal de Seu Augusto, que vendia quase 200 canetas em apenas uma hora. O faro de comerciante de Silvio Santos sabia que ali poderia estar a fórmula do dinheiro fácil. Mais uma vez, observou um outro ‘mestre’. Era preciso, antes de tudo, atrair a atenção do público. Falar do produto, de suas funções e, só no fim, do preço. 
A lição foi bem assimilada. Até a bancada para colocar o produto acabou copiada de Seu Augusto. Mas Silvio Santos foi além do ‘mestre’. Usou até manipulações de moedas e baralhos para atrair novos fregueses. Com alguns dias de experiência, passou a vender mais que Seu Augusto. Chegou a ganhar cinco salários mínimos por dia. E tudo isso no horário do almoço do rapa. 
Seus primeiros empregados foram Pedro
Borboleta, o sobrinho do falecido Adolpho Bloch, ex-dono da Manchete, e seu irmão Léo. Enquanto um fingia ser cliente, o outro tomava conta dos passos dos guardas. Silvio teve várias vezes sua mercadoria apreendida. Mas foi exatamente um dos rapas que mudou sua vida de vez. 
O diretor de fiscalização da prefeitura, Renato Meira Lima, não prendeu Silvio, como fez com os outros camelôs. Decidiu dar uma chance ao rapaz, que tinha uma aparência melhor do que os colegas, falava bem e tinha boa voz. Em vez de levá-lo para a delegacia, Renato entregou-lhe um cartão para tentar um emprego na Rádio Guanabara. Mais uma vez, a sorte lhe batia à porta.
Na emissora, Silvio disputou uma vaga com outros 300 candidatos. Entre eles estavam nomes que despontariam na vida artística, como o dos humoristas Chico Anysio e José Vasconcellos (o gago Ruy Barbosa, da Escolinha do Barulho, na Rede Record). Acabou abocanhando o primeiro lugar. Mas a carreira na Rádio Guanabara durou apenas um mês. Como camelô, Silvio ganharia mais, trabalhando bem menos. Então, voltou às ruas, para negociar e faturar. 
Silvio só trocou as ruas por um outro serviço quando ingressou no Exército. Ao completar 18 anos, escolheu a Escola de Pára-quedistas, em Deodoro. E como a ‘cana’ militar seria mais dura, caso fosse preso pelo rapa, Silvio tomou uma decisão: voltou a ser locutor, desta vez na Rádio Continental, em Niterói. Nas idas e vindas enfadonhas das barcas da Cantareira, o locutor teve outra idéia: montar um serviço de alto-falantes. 
O jovem locutor fazia anúncios nos intervalos das músicas. Mais tarde, percebeu que, nas travessias para Paquetá, os passageiros costumavam dançar quando ligava o equipamento de som. Cansados, formavam até fila para beber água no bebedouro. Oportunista, Silvio fez acordo com a Antarctica para vender cerveja e refrigerante na viagem. Quem comprasse uma bebida, recebia uma cartela de bingo. Como prêmio, oferecia bolsa de plástico, jarra e quadro da Última Ceia. 
Ele garante ter passado a ser o primeiro freguês da cervejaria no Rio. E acabou fazendo amizade com um diretor da empresa. Quando a barca sofreu um acidente e precisou ficar no estaleiro, Silvio foi convidado pelo diretor para passar uma temporada em São Paulo. Mais uma vez, abriu-se a porta da esperança e sua vida mudou ainda mais. 
A carreira de vendedor na barca 
Foram muitos os que testemunharam, dia a dia, a ascensão de Silvio. O contra-mestre das Barcas S/A, Leatal de Oliveira Ramos, 60 anos, lembra-se do jovem camelô anunciando com desenvoltura, na entrada das barcas de Niterói, suas mercadorias: canetas, espelhos, relógios, livretos, pentes e o que mais fosse necessidade à época. "Sua voz era inconfundível. Os outros ambulantes gostavam de ficar perto dele, pois sempre havia aglomeração e eles acabavam lucrando", conta. 
A generosidade de Silvio também ficou marcada para Leatal: quando podia, o vendedor distribuía roupas velhas entre as crianças de rua da Praça Araribóia, em Niterói, onde fazia ponto."Ele não fazia escândalo, escolhia uns moleques e falava: toma essa roupa para não passar frio", conta Leatal. Os trabalhadores mais pobres também não deixavam de levar para casa o que estavam precisando. Bom comerciante que era, Silvio abria crédito para os que sempre passavam pelo local. Só saía de mão abanando quem queria. 
O visual já era bacana. Apesar de simples, as blusas eram estampadas, acompanhadas de colares no pescoço. Uma costeleta grossa dava o arremate final. 
Era nas barcas Lagoa, Maracanã e Neves que o vendedor e os clientes cobriam o trajeto Rio–Niterói. Dessas, só a primeira encontra-se em funcionamento, fazendo o percurso Rio–Paquetá. As outras transformaram-se em sucata e lembrança. 
Mas, para Silvio Santos o céu sempre foi o limite. "Tinha dias que o via com barraca montada em Niterói de manhã e depois, à tarde, no Centro da cidade. O homem parecia ser dois", fala o contra-mestre. 
Onde a felicidade começou
A primeira empresa de Silvio Santos
nasceu de uma parceria com Manoel da Nóbrega, que fora vítima de um golpe. O Baú era,
na verdade, uma cesta de brinquedos 
PARCERIA.
Silvio se associou ao amigo Manoel da Nóbrega,
dono do Baú da Felicidade, para salvar o negócio.
Na foto, os dois,na Praça da Alegria
A primeira vez que Silvio Santos entrou no Baú da Felicidade foi uma decepção. Ele nada tinha a ver com aquilo. Estava ali, na Rua Líbero Badaró, colado ao Othon Palace Hotel, em São Paulo, a pedido do amigo e dono da empresa, Manoel da Nóbrega, para fechar aquela bodega e prometer aos clientes enganados que a dívida seria paga. No lugar, estranhou ver um prédio aos cacos e, na frente, um bando de camelôs que vendiam gravatas e camisas. Desorientado, perguntou onde era a loja. Ficou surpreso com a resposta: "É lá no fundo, mas lá embaixo, no porão". 
No Baú, outra cena de abandono. Na pequena loja, havia apenas uma secretária, um alemão e uma máquina de escrever. A primeira providência de Silvio foi mandar embora o tal alemão – dono da idéia de montar o Baú da Felicidade. 
Em 1957, Manoel da Nóbrega, radialista de sucesso em São Paulo, foi procurado na Rádio Nacional pelo tal alemão, que queria fazer uma Cesta de Brinquedos: as pessoas pagariam primeiro e, no fim do ano, receberiam um baú carregado de mercadorias. Na negociação, Nóbrega pagaria pelos anúncios e emprestaria seu nome à firma. O alemão cuidaria da empresa. 
Nóbrega fez a sua parte. Mil pessoas compraram a idéia, atraídas pelos anúncios, mas o sócio perdeu todo o dinheiro. Resultado: virou um baú de despesa para Manoel da Nóbrega, que recorreu a Silvio Santos para salvar a pele. Bom de papo, sua função era convencer as pessoas a não fazer escândalos no jornal, já que o dinheiro seria devolvido. 
No quinto dia, Silvio, então com 27 anos, percebeu que o negócio, bem administrado, poderia render uma fortuna. Ele fez a mesma proposta que o alemão: Nóbrega continuaria com os anúncios, enquanto ele tocaria a empresa. A primeira medida foi trocar a caixa de veludo bordô que envolvia os presentes e mais parecia um "caixão de defunto". Passou a vender em catálogo e diversificou as mercadorias. Chegou a encomendar 40 mil bonecas, na Estrela, e fez negócio com a fábrica Nadir Figueiredo para entregar 20 mil jogos de jantar. 
Nóbrega ficou receoso com volume do negócio. "Olha, Silvio, eu nunca fui ao Baú, nem com o alemão e nem com você. Acho que qualquer dinheiro que o Baú possa me dar é desonesto, porque nunca fiz nada pela firma, a não ser os anúncios. Como você é um rapaz corajoso demais, tenho medo que possa fazer um negócio muito grande e, com seu entusiasmo, dê uma cabeçada", disse Nóbrega, em passagem citada no livro A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva, da Editora do Brasil. "Não tenho nenhuma intenção de ser o dono do Baú. É melhor que você fique com ele", completou. 
Mas, ao contrário do alemão, Silvio conseguiu levar adiante os negócios e ainda devolveu todo o investimento feito por Nóbrega. O apresentador fez questão de pagar tudo por gratidão ao amigo. Nóbrega o ajudara no início em São Paulo. Silvio chegara a passeio à Terra da Garoa, três anos antes, a convite de um diretor da Antarctica. A intenção era ficar alguns dias, enquanto a barca da Cantareira, em que mantinha um bar, fosse consertada e voltasse a operar na travessia Rio-Niterói. 
Por acaso, Silvio encontrou um amigo em suas andanças por São Paulo. Era um locutor que conhecera na Rádio Tupi, no Rio. Ele comentou que a Rádio Nacional precisava de locutores. Silvio fez o teste e passou, em primeiro lugar. Foi quando conheceu Manoel da Nóbrega. 
Em São Paulo, Silvio atuou em várias frentes. Para pagar a dívida do bar que montara na barca, no Rio, entrou em sociedade com o cunhado de Hebe Camargo, Ângelo Pessutti, lançou uma revistinha com prêmio e atuou até em circo. 
Em caravanas pelo interior de São Paulo, Silvio ganhou um novo apelido: o Peru que Fala. Nas apresentações, ficava envergonhado, e seu rosto logo ruborizava. Ele trabalhava intensamente.
Nos intervalos, para agüentar o tranco, parava nas farmácias e tomava injeções de Cálcio Cetiva na veia. 
"Agüentei, perdi cinco quilos, fiquei branco, dizia que eu ia estourar. Foi nessas ‘Caravanas do Peru que Fala’ que eu adquiri a facilidade que hoje tenho para animar meus programas", disse Silvio a Arlindo Silva. 
O sucesso do Baú fez Silvio Santos se lançar em outro negócio. Em 1961, ele estreou na televisão com um programa noturno na TV Paulista, atual TV Globo. O Peru que Fala deu o pulo do gato. 
De colega de escola, Stella passou
a fã e compradora dos carnês
Para Stella Matutina Bicalho, 70 anos, O Baú da Felicidade também poderia se chamar Baú da Saudade. Compradora assídua dos carnês, ela tem motivos pessoais para torcer. O apresentador, que ela não vê há 52 anos, foi de sua turma na 4ª e 5ª séries (1941/42) na Escola Primária Celestino da Silva. "Ele estava sempre impecável, com o cabelo engomado", lembra Stella.
No fim de 1942, os amigos foram para colégios diferentes, mas Stella sempre encontrava Silvio vendendo canetas na Rua da Carioca. No último encontro, em 1949, o futuro apresentador mostrou sua aliança do noivado com a primeira mulher, Aparecida Honória Vieira, a Cidinha. "Ele estava muito feliz e orgulhoso", conta. A partir daí, Stella acompanhou de longe seu sucesso, tornando-se cliente fiel de seus produtos. "Torço diariamente por sua vitória. Ele é um batalhador", justifica. 
Funcionário da empresa guarda baú de histórias 
PASSADO.
A primeira loja do Baú no Rio funcionava na Rua Frei Caneca, 73
Trabalhando há 24 anos na loja de troca de mercadorias do Baú no Centro, Edmílson Soares Peixoto, 40, foi um dos agraciados pela empresa de Silvio Santos, mesmo sem nunca ter sido sorteado. Ele começou como office-boy e, hoje, é gerente da loja por onde circulam, diariamente, 700 pessoas. "Foi aqui, também, há 12 anos, que conheci minha esposa, vendedora", conta. 
O patrão famoso nunca esteve na loja e nem sequer conhece Edmílson. "É um homem muito ocupado e, se viesse aqui, a loja seria invadida", justifica. Em janeiro, o funcionário visitou pela primeira vez que o estúdio do SBT, onde os clientes escolhidos tentam a sorte. "Foi um momento de muita emoção, inesquecível", confessa. Em sua opinião, sentimento igual, só quando Silvio diz para os participantes do programa: "Agora, vamos girar a roleta". 
INÍCIO
Na Rádio Mauá, ainda no Rio, Silvio conheceu artistas e se empolgou 
Sílvio mostra a cara na TV
Em 1961, o Baú prosperava tanto que o apresentador passou a chamar a atenção. 
Um deputado resolveu patrociná-lo
na antiga TV Paulista 
CERCADO pelas "colegas de trabalho", as Silvetes,
no tempo da TV Globo, que comprou a TV Paulista
Silvio Santos já foi o Faustão da TV Globo. A partir de 1966, o apresentador passou a comandar a maratona do domingão global. Ganhava força o homem que se transformaria na maior ameaça à hegemonia da Rede Globo. 
Silvio chegou ali como quem não quer nada. O primeiro programa, ainda na TV Paulista, chamava-se Vamos Brincar de Forca e era baseado na manjada brincadeira em que os concorrentes são vão sendo enforcados à medida que erram a resposta. Era apresentado à noite, em 1961. Foi um sucesso. 
Mas, para conquistar seu espaço na TV, Silvio Santos contou com a ajuda do deputado Carlos Kherlakian, dono das Casas Econômicas de Calçados, para quem havia feito comícios durante as apresentações das Caravanas do Peru Que Fala. Foi nesse período que o Baú da Felicidade mudou o esquema de cobrança: as pessoas compravam e só depois escolhiam as mercadorias. Com sua potência empresarial, o Baú, já naquela época uma mina de ouro, deu suporte aos comerciais do programa. 
No ano seguinte, o dono da TV Paulista, Vitor Costa, estava interessado em lançar um programa de variedades do meio-dia às 14h, aos domingos. A preferência pelo horário era por Manoel de Nóbrega. Mais uma vez, Nóbrega, um daqueles amigos que caem do céu, cedeu o espaço para o entusiasmado Silvio. O apresentador sempre se mostraria grato por esse gesto. 
Numa só tacada, Silvio estreou vários quadros no domingo, em meados de 1962. Entre eles, Cuidado com a Buzina, Só Compra Quem Tem, Rainha por um Dia, Partida de 100 e Pergunte e Dance. Não foi difícil se transformar no dono do domingo. 
Em 1966, quando Roberto Marinho comprou a TV Paulista, Silvio foi mantido com seu programa dominical. Fechou um contrato por cinco anos. Ele era o dono do horário, e nunca foi empregado. 
Por de trás das câmeras, Silvio decidiu se casar. Ninguém poderia saber. Para ele, todo o ídolo deveria manter uma mística. As colegas de trabalho, como ele chama o seu público, deveria permanecer na dúvida sobre o seu estado civil. A amada se chamava Aparecida Honória Vieira. Filha de uma dona de pensão, Cidinha costumava freqüentar a Rádio Nacional, em São Paulo, para conhecer artistas. Ficaram amigos. 
Os dois se apaixonaram e resolveram se casar, às escondidas, em 15 de março de 1962. Precavido, Silvio preferiu o regime de separação de bens. 
O anonimato incomodava Cidinha. Em certa ocasião, ela chegou a comentar com uma amiga que tinha vontade de pregar a certidão de casamento na porta de casa. Era comum baterem a sua porta e perguntarem: "Você é a mulher do Silvio?" Um dia, o apresentador se arrependeria da atitude. O casal teve duas filhas: Silvia e Cíntia. 
Nada poderia atrapalhar a carreira de sucesso. O ano de 1968 foi um que, em particular, nunca deveria ter acabado para Silvio. Os índices de audiência o elevavam à condição de estrela da emissora. 
Aos domingos, era o rei, e imperava do meio-dia às 20h com os programas: Show de Calouros; Show da Loteria; Vamos Fazer Média; Disco de Ouro; Quem Sabe Mais, o Homem ou a Mulher?; Sinos de Belém e Boa Noite, Cinderela. Este último encantava e emocionava, principalmente as crianças. Em um cenário de conto de fadas, uma garota, geralmente de família humilde, passava um dia de Cinderela, com direito a sapatinho de cristal, coroa e trono. Sempre ao som de uma canção que embalava a emoção dos telespectadores. Fez tanto sucesso que ficou 10 anos no ar. 
Mas o programa que mais preocupava a produção era Sinos de Belém. As tarefas aventureiras eram executadas também por Silvio, que até subiu e desceu um prédio de 15 andares pela escada dos bombeiros. Seus colaboradores o convenceram a maneirar. 
Silvio chegou a acumular programas. Além do sucesso na Globo, ele apresentava o Cidade Contra Cidade, que também alavancava a audiência na TV Tupi. As delegações, vindas em caravanas, disputavam olimpíadas de provas no ar. 
No palco global, o apresentador contava com as Silvetes. Eram as assistentes, que se destacavam pela beleza. Em meados de 1971, ele passou a apresentar o Troféu Imprensa. O prêmio havia sido lançado em 1958, pela revista São Paulo na TV, e premiaria os destaques da televisão e do rádio. 
Para ajudar um amigo, Silvio Santos aceitou até, em 1971, aparecer careca na capa da Revista Melodias, que estava quase na falência. Arlindo Silva, que escreveu o livro A Fantástica História de Silvio Santos, garante que foi feita uma fotomontagem para atrair a atenção do leitor. Mas a revista ajudou a aumentar um outro mistério em torno de Silvio: Lombardi, ele é careca ou não é?. "Careca, ele não é. Se fez implante, foi só um tufinho na testa", afirma Arlindo Silva. 
Em 1973, o apresentador enfrentou um drama. A mulher Cidinha descobriu que estava com câncer durante uma viagem a Espanha. Ela sentia fortes dores no estômago e, em quatro anos, a doença se espalhou pelo corpo. Cidinha fez tratamento até em Nova Iorque. 
A despedida do casal ocorreu na UTI do Hospital Albert Einstein. Até na hora da morte, Cidinha mostrou o quanto se preocupava com Neco, como chamava o amado, em alusão a boneco: "Neco, você tomou seu café da manhã?", perguntava, nos últimos momentos de vida.
SILVIO acertou na mosca ao apostar na
audiência de programas de jogos
Pedro de Lara e o patrão: dobradinha na interpretação de sonhos
Das ondas do rádio para a tela da TV. O comediante
Pedro de Lara, 76 anos, companheiro de trabalho de Silvio Santos há 30, acompanhou a evolução da carreira do amigo, de locutor para maior apresentador de programas dos últimos tempos. 
O primeiro encontro aconteceu na extinta Rádio Nacional, quando Silvio e Pedro apresentavam um animado programa de interpretação de sonhos – "Já fazia algo parecido no Rio, na Rádio Globo. O Silvio me convidou para estrear em São Paulo", conta Pedro. 
As recordações da época vêm recheadas de risos. Silvio, com a voz impostada, narrava o sonho de uma ouvinte e, depois de um tempo no qual o público permanecia ansioso, a pergunta do significado era feita a Pedro, uma espécie de guru. "Eu não podia titubear, tinha que interpretar na hora. Os temas eram os mais variados, muitos envolviam o mar, como a ouvinte que relatou o sonho em que era levada por uma onda", conta.
Depois do rádio, convite para trabalhar na TV 
Ao estrear na TV, Silvio convidou Pedro para participações em seu programa e, graças ao sucesso, ele acabou ficando. Foram mais de 10 anos nos quais Pedro acabou com a raça de pobres calouros nas tardes de domingo. "Nosso linguajar é o mesmo, somos povão ", diz. 
Apesar de admirar o apresentador, Pedro confessa que não queria ser ele por nem por apenas 20 minutos. "É um homem que não se pertence. O trabalho o domina. Ele nasceu para ser um líder, mas, para isso, abdicou de muitas coisas", opina. 
Quanto à vida pessoal do patrão, o comediante afirma nada saber. "Ele sempre foi reservado e eu o respeito. Estou no SBT até hoje porque sei o meu lugar", diz, com humildade. 
Uma das brincadeira prediletas de Pedro de Lara com Silvio era falar do jeito econômico do patrão. "Uma vez, comecei a elogiá-lo, falando que ele era um grande multiplicador. Quando ele abriu um sorriso, disparei que, infelizmente, eu só sabia dividir, e aproveitei para pedir R$10 mil", conta, recordando a resposta. "Ele foi rápido e direto: Vai chatear outro, Pedro!". 
Um canal de influências
Silvio age nos bastidores para sair à frente na luta pelas concessões de TV. Com o refrão ‘é coisa nossa’, conquista a simpatia das autoridades
SILVIO chora durante a assinatura da concessão do
canal 11 (TVS). De costas, Manoel da Nóbrega, que vendeu
o Baú da Felicidade para o apresentador 
Nos bastidores do programa de Silvio Santos, havia uma ordem expressa: ninguém podia chegar perfumado perto do patrão. Nem mesmo com perfume francês. O ex-camelô sofria de alergia a qualquer fragrância, o que o deixava sem seu principal instrumento de trabalho: a voz. O perfume provocava, na garganta e nas vias respiratórias do apresentador, uma reação que o deixava rouco; muitas vezes, sem poder falar. 
Durante muito tempo, Silvio dividiu-se entre Brasil e Estados Unidos. Os americanos aplicavam injeções de cortisona no nariz do apresentador a cada quatro meses. Era a única maneira que ele encontrara, até então, para inibir a doença. "Um dia, durante a gravação do programa, ele ficou rouco e começou a se queixar: ‘Acho que os americanos não aplicaram essa injeção direito’", lembra Arlindo Silva, assessor de imprensa de Silvio Santos por 25 anos. Foi o suficiente para que ele procurasse outro profissional: o alergista Tufik Mattar (foto abaixo). 
"Ele sofria de edema de Quink, alergia muito comum. Eu o obriguei a parar de tomar a tal injeção com cortisona e fiz uma autovacina", conta Tufik. Durante três anos, religiosamente, ele tomou doses da nova vacina e, segundo o médico, ficou curado. "Agora, podem até beijá-lo com perfume, que não tem problema", afirma. 
Nos negócios, o fôlego continuava invejável e Silvio foi montando seu império. O sucesso na TV alimentou ainda mais as vendas do Baú da Felicidade. Para atender novos clientes e manter o lucro em suas mãos, Silvio criou novas empresas. A primeira era de publicidade, para agenciar outros anunciantes. Com o lançamento do Plano para a Casa Própria, surgiu a necessidade de montar uma construtora. Depois, uma financeira, para facilitar o crédito, e uma concessionária, para entregar carros – outra novidade do Baú. Não satisfeito, Silvio lançou também uma companhia de seguros. 
Para aliviar a mordida do Leão do Imposto de Renda, o empresário passou a aplicar parte do lucro em agropecuária, no Mato Grosso, e em reflorestamento, no Paraná. "Veja você como é o destino: um negócio que surgiu em um porão é, hoje, um verdadeiro mundo", comentou ele, em entrevista à revista O Cruzeiro, em 1972. 
O furacão Silvio Santos espalhava-se em todas as direções. Em 1974, criou a empresa Studios Silvio Santos Cinema e Televisão, uma grande central de produção do programa do apresentador, de comerciais, coberturas jornalísticas e shows em feiras. "Tem tudo o que uma estação tem. Só falta o canal", observou à época. 
Silvio continuava na TV Globo, mas como seu próprio patrão. Pagava o horário à empresa, vendia comerciais e embolsava o lucro. Mas a emissora começou a esticar o olho sobre o horário ocupado por ele, no domingo. Inicialmente, a Globo lhe ofereceu um novo contrato, em que o apresentador perderia parte do poder. Há muito, queria-se interferir no programa, considerado fora do padrão global. Silvio não aceitou os novos termos. A saída parecia irreversível. 
O dono da Globo, Roberto Marinho, porém, entrou em cena. Em telefonema a Silvio, explicou que, apesar da opinião contrária de seus diretores, queria que Silvio continuasse. Em 1972, o animador fechou contrato com a Globo por mais cinco anos. 
Por baixo dos panos, Silvio começou a articular a consolidação de um canal de TV. A oportunidade surgiu quando João Batista Amaral quis vender os seus 50% de ações da TV Record. O outro sócio, Paulo Machado de Carvalho, foi quem sugeriu a compra a Silvio. Mas o grupo Gerdau passou a frente na oferta. Seis meses depois, por divergências com o sócio, o grupo recolocou as ações à venda. Foi então que Silvio fechou o negócio e ficou com metade da Record. 
Pelo contrato com a Globo, ele não poderia ser acionista de nenhuma outra emissora de televisão. Por isso, a negociação foi mantida em sigilo, e Silvio usou um testa-de-ferro: o empresário Joaquim Cintra Gordinho. 
Por fora, o apresentador continuou buscando a concessão do canal 11, do Rio. Escaldado por outras tentativas frustradas, no passado, Silvio agiu nos bastidores. Valeu-se da influência de amigos no Governo para apresentar seu projeto de um canal autofinanciável por suas empresas. Em seu programa, passou a citar o nome de políticos que poderiam interceder a seu favor. 
"O Raphael Baldacci é coisa nossa... O general Golbery é coisa nossa", cantava aos domingos, para milhares de telespectadores. Raphael era o deputado que opinava, no Ministério das Comunicações, sobre concessões; e Golbery, o chefe da Casa Militar da Presidência da República. O resultado não poderia ser outro: em 22 de outubro de 1975, o presidente, o general Ernesto Geisel, assinou o decreto que outorgava o canal 11 (TVS) a Silvio Santos. E Silvio saiu da Globo no dia 5 de janeiro de 1976. 
Ganancioso, passou a apresentar seu programa simultaneamente na TV Tupi e na TV Record, em São Paulo, e na TVS, no Rio. Manteve os laços estreitos com o poder. Ao saber da concessão de duas novas redes pelo governo militar, o empresário entrou na concorrência. Mais uma vez, lançou-se a uma luta ferrenha nos bastidores. Um de seus jurados no programa era Carlos Renato, primo da mulher do presidente João Figueiredo, Dulce Figueiredo. Até mesmo a dupla Don e Ravel, que compunha músicas que agradavam à cúpula militar ("Eu te amo meu Brasil, eu te amo..."), foi mobilizada. 
Silvio promoveu a dupla. Em contrapartida, Don intercedia em favor do apresentador. Outra vez, deu Silvio na cabeça. Ele abocanhou mais quatro canais. Como um era no Rio, vendeu-o para a TV Record. Surgia, aí, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). 
'É difícil dizer não a ele. Sempre acaba
conseguindo fazer valer sua opinião’ 
"Sempre quis falar do fenômeno Silvio Santos. Ele poderia ter sido um homem como milhões, mas resolveu construir
seu futuro amparado numa determinação e intuição incríveis. Quando ele decide apostar, pode ter certeza: vai dar certo! Líder nato, mais fala do que ouve, mas consegue captar o instante em que uma idéia deva ser colocada em prática. Outra coisa: é difícil dizer não a ele. Por ser mais que um patrão, um vitorioso, humilde apesar do seu poder, Silvio sempre acaba conseguindo fazer valer sua opinião. E é mesmo complicado discordar da lógica de um homem que vive televisão 24 horas por dia. 
Às vezes, eu e outros profissionais não entendemos a aversão que ele mostra por alguns aspectos importantes de uma grade de televisão, como o jornalismo, por exemplo. Mas eu acho que isso vai acabar mudando, e o SBT acabará abrindo espaço para mais notícia. Mesmo assim, confiamos no faro dele, pois seu maior segredo é a cumplicidade com o público."
HEBE CAMARGO, 72 anos, apresentadora 
Antigos jurados dão o veredicto sobre 
o animador de auditório 
ELKE MARAVILHA: relação fria com oi e tchau
Impossível esquecer o júri que alegrava as tardes de domingo no Programa de Calouros, apresentado por Silvio Santos. Décio Pittinini, Araci de Almeida, Pedro de Lara e Sérgio Mallandro foram alguns dos que passaram e deixaram sua marca. A lembrança deixada pelo patrão oscila entre extremos: para uns, santo; para outros, nem tanto. "Não posso falar de minha relação com Silvio, pois ela não existia. Era só oi e tchau" disse Elke Maravilha, que por sete anos fez parte do júri. Por isso, ela criou para o apresentador o apelido de "patrão". "Um dia, ele me perguntou por que eu o chamava assim. Respondi que no dia em que fosse meu amigo, eu o chamaria de amigo", explicou, lembrando que o apresentador Chacrinha, com quem também trabalhou, era chamado de "painho". 
O apresentador Wagner Montes, 46 anos, idolatra Silvio. "Quando sofri o acidente, ele ligou para o meu pai e falou que não se preocupasse, pois buscaria para mim a melhor prótese do mundo. Nunca esquecerei isso", disse, emocionado. Mas Sônia Lima, 39 anos, sua mulher há 14, não compartilha a opinião: "Gosto muito do Silvio, mas acho que ele não valorizou as pessoas que começaram com o SBT. Sempre soube criar seus produtos, usar e depois jogar fora". 
A urna da felicidade
Silvio Santos se casa pela segunda vez,
sofre com problemas na garganta e o
poder cada vez mais o seduz. Ele tentou,
em vão, ser candidato a prefeito e
também à Presidência 
É namoro ou amizade? Nem um nem outro. O caso de Silvio Santos com a funcionária Íris Pássaro, do Baú da Felicidade, filha de um pequeno empresário, foi paixão avassaladora. Os dois se casaram, longe da Imprensa, em 20 de fevereiro de 1981. Exatamente como no primeiro casamento, Silvio – que tem fama de pão-duro – se uniu à amada em regime de separação de bens. Contou com o apoio da mulher nos momentos mais delicados, até quando se candidatou a Presidência da República (na foto, ainda se recuperando da cirurgia que precisou fazer nas cordas vocais, Silvio, ao lado de Íris, decide sair candidato à prefeitura de São Paulo). 
O casal tem quatro filhas: Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata. Certa vez, durante um programa, ele falou emocionadamente sobre a paixão. "Me satisfaço com ela, sou feliz com minha família. Não tenho necessidade de mais nada", disse. 
Silvio estava amadurecido. Nada lembrava aquele menino da Lapa, aos 14 anos, que realizou a primeira relação sexual com uma prostituta francesa. Uma experiência que lhe agradou. Satisfeito, procuraria mais tarde outra francesa. O garoto ficaria assustado com as manobras radicais, que se definiam - é tudo que sabia - como bouchet. 
O começo do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) foi de vacas magras. A assinatura da concessão da nova rede, com quatro canais, ocorreu em 19 de agosto de 1981. A cerimônia foi transmitida ao vivo pela TVS, do Rio, e pelo canal 4 de São Paulo. 
A programação era à base de enlatados, novelas mexicanas e produções baratas. Era o que preenchia as 12 horas no ar exigidas pelo Ministério das Comunicações. A opção desde o início foi por uma grade de programação mais popular do que a da Globo. 
Entre as atrações da rede, estavam Moacir Franco Show, O Homem do Sapato Branco, Feira do Riso, Almoço com as Estrelas e Raul Gil e o palhaço Bozo. Marcou época o programa O Povo na TV, com Wilton Franco, que relatava casos policiais com estardalhaço. 
Com os dramalhões mexicanos, pelo menos 25% mais baratos que as novelas nacionais, Silvio encontrou novo filão. O primeiro sucesso foi Os Ricos Também Choram, com Verônica Castro. 
Mas o programa que mais surpreenderia seria uma produção de cenários de papelão, piadas velhas e atores de segunda linha. Ninguém contava com a astúcia de "Chaves", personagem do mexicano Roberto Boloños. Apesar de ninguém levar fé, o programa permanece há 17 anos no ar. 
O maior comunicador do Brasil perdeu a voz. No final de 1987, Silvio começou a ficar rouco. Chegou a importar um aparelho para ampliar o som quando falava ao telefone. O programa era interrompido quando quase não conseguia ouvi-lo. 
Preocupado, Silvio bateu em retirada. Viajou para os Estados Unidos em busca de tratamento. Ele descobrira que possuía um tumor na pálpebra esquerda – extirpado no Brasil – e, devido ao cansaço de um músculo da garganta, ficava rouco. 
A volta à TV ocorreu, um mês depois, num domingo. Silvio era outro homem. No programa, expôs suas inquietações, negou boatos de que teria tido caso com Sônia Lima, explicou a doença e falou sobre as preocupações com o povo. Foi o que bastou para o homem do Baú ser taxado até de novo Messias. 
Era a deixa para Silvio entrar na política. Assessores do PFL entraram em ação para viabilizar a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. 
Silvio queria ser um político diferente e não gostava de fazer campanha. Ele fora alertado sobre as pressões que sofreria. À época, argumentou que não temia os ataques. Citou até reportagem da revista Contigo que bancava a versão de que ele e Gugu eram amantes. "O Gugu não é o meu tipo", brincou Silvio, segundo Arlindo Silva. 
A indefinição de Silvio sobre a candidatura o enfraqueceu. Na convenção do partido, havia manobra para se apoiar a coligação com o PMDB, apoiando João Osvaldo Leiva, indicado por Orestes Quércia. Sem possibilidades de vitória na convenção, Silvio desistiu. Alegou, na ocasião, que seguia recomendação médica para poupar a voz, devido ainda a um edema na garganta. O empresário foi operado no início de 1989. 
O PFL voltou a fustigar Silvio a entrar na política. Queria-o como candidato a presidente da República. O empresário passava por um momento delicado. Ainda era incerto se ele poderia voltar a apresentar seus programas devido ao problema na garganta. Logo depois da cirurgia, Silvio reuniu a imprensa para fazer um comunicado. "Minha candidatura só depende de eu não ter condições de falar profissionalmente", contou. 
Uma articulação no PRN ainda tentou convencê-lo a ser o vice de Fernando Collor. "Olhe, na minha vida, eu nunca fui vice, só fui presidente", rebateu Silvio, segundo o seu assessor Arlindo Silva. 
A candidatura de Silvio estremeceu a campanha em 1989. Muitos acreditavam que suas empresas, principalmente o Baú, seriam duramente atingidas por denúncias de irregularidade. Para garantir o lugar na disputa, Silvio – sempre atrasado – buscou um partido nanico, o PMB. Mas não pôde levar adiante sua campanha. 
O Tribunal Superior Eleitoral impugnou o registro do partido por não ter feito convenções em nove estados. Durante o pleito, houve acusações de que um outro partido teria tentado vender a legenda para que Silvio Santos se candidatasse. 
No livro A Fantástica História de Silvio Santos, o autor Arlindo Silva, conta uma outra passagem polêmica: o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, teria rompido uma amizade com o então Presidente da República, José Sarney, por acreditar que ele teria lançado Silvio Santos como candidato pelo PMDB. Silvio ainda tentou entrar na política mais duas vezes: para governador e de novo para prefeito.
Também não deu certo. Pessoas ligadas ao apresentador garantem: Silvio nunca mais trocará o Baú pela urna. 
Trechos da carta de Íris 
Na campanha para a Presidência da República, uma parte do PFL queria que Silvio Santos fosse candidato pelo partido. As articulações não deram certo. Silvio usou seu programa para explicar o caso e leu um trecho da carta da mulher, Íris: 
"...Contar vantagem, todo o mundo conta. Mas é a coragem da luta que tem valor, porque daí surgirá a vitória final. Seja constante e persistente. (...) Se a resposta, hoje, for a favor da sua candidatura, não tema, pois terá Deus a seu lado para realizar sua missão." 
Apresentador chega a ser posto
para fora de casa pela mulher 
Silvio Santos não gosta de expor sua intimidade. Não é à toa que raramente concede uma entrevista. Mas, no fim de 1992, um escândalo fez sua vida pessoal extrapolar os muros da mansão do casal Abravanel, no Morumbi, em São Paulo. Ele e Íris se desentenderam, e a briga foi parar na delegacia. Íris registrou queixa, garantindo que o marido teria aproveitado a ausência dela para retirar obras-de-arte, móveis, tapetes e até um cofre. Para configurar abandono de lar, ela fez questão de que constasse no boletim que o apresentador havia passado o fim de semana fora de casa. Silvio Santos, por sua vez, também registrou queixa contra a mulher, e o caso acabou na Justiça. 
À época, uma reportagem do jornal paulista Diário Popular atribuía a briga dos Abravanel à Rainha dos Caminhoneiros, Sula Miranda. Irmã da também cantora Gretchen, Sula tinha um programa no SBT e manteria, segundo a reportagem, um romance com o patrão. Sula, na ocasião, negou o caso. O ex-assessor de imprensa de Silvio Santos, Arlindo Silva, garante que o relacionamento não passou de um boato. "Foi uma idéia suicida da assessora de imprensa da Sula. Ela achou que isso poderia promover a Sula. Mas foi tudo uma mentira. Silvio ficou furioso da vida, tirou o programa do ar, e a assessora de imprensa perdeu o emprego", contou Arlindo, que se aposentou no ano passado e escreveu o livro A Fantástica História de Silvio Santos. 
Arlindo contou que o real motivo da briga do casal foi o pouco tempo que Silvio passava com a família. O apresentador se dedicava demais aos negócios. "Íris reclamou que as filhas não tinham convivência com ele. Não viam o pai nem nos fins de semana", afirmou. 
Enquanto o caso ganhava o noticiário, Íris e Silvio Santos discutiam na Justiça. A senhora Abravanel chegou a trocar a fechadura de casa para impedir a entrada do marido. Em um lance inicial, estimou-se que Íris receberia US$ 15 mil mensais (R$ 31,9 mil), fora outras mordomias. Quanto aos imóveis, eles casaram em regime de separação de bens, e Íris poderia não ter direito à bolada. Mas, em 1993, depois de muitas intrigas, o casal fez as pazes e trocou beijos à frente das câmeras. Uma intimidade que poucas vezes Silvio permitiu no ar. 
O duelo dos poderosos
Silvio Santos começa a incomodar a TV Globo. O ex-funcionário agora é um concorrente de peso e obriga emissora de Roberto Marinho a alterar os planos
O empresário Silvio Santos tirou do baú as armas na luta por pontos no Ibope, a partir de 1987: Hebe Camargo, A Praça É Nossa e Jô Soares. A fórmula, aparentemente despretensiosa, deu certo. O Sistema Brasileiro de Televisão está no segundo lugar em audiência. 
A vice-líder, às vezes, alcança a liderança. Sinal de desespero para os diretores da soberana TV Globo, a quarta maior rede do mundo. É algo para impressionar até o próprio Silvio. Tudo começara com um canal furreca, a TVS, que exibia três vezes seguidas o mesmo filme, em meados dos anos 70, por falta de atrações para preencher a programação. 
O primeiro aviso de que Silvio viera para incomodar aconteceu durante a exibição, pela TV Globo, da novela Roque Santeiro, em 1985. Com a maior cara-de-pau, ele convidava, em seu programa, os telespectadores a, depois de assistir à novela da Globo, mudar de canal para acompanhar Pássaros Feridos, um filme exibido em cinco capítulos. 
A surra foi mais forte que um tapinha: o SBT obteve média de 47% de audiência, contra 27% da concorrente. Para tentar reverter o quadro, a Globo usou uma estratégia que não deu certo: esticou os capítulos da novela o quanto pôde. Silvio não esquentou; mudou também o horário do filme. 
"É um filme muito bom, um filme a que eu já assisti várias vezes. É a história de um padre que se apaixona. Mas podem ver a novela. Esse filme só vai começar depois que a novela acabar", repetia no ar, durante seu programa. 
Silvio fez isso várias vezes. O telespectador cansou de ouvir as dicas do apresentador sobre filmes que exibia em sua emissora. Quando o empresário não assistia, havia a impressão de alguém da sua família sobre a fita. "Podem ver. Minha filha assistiu e disse que é ótimo", comentava, como se estivesse falando com um colega de trabalho. 
Mas, no fim dos anos 80, ele decidiu melhorar a qualidade dos programas. Investiu o dinheiro que recebera com a venda da TV Record para a Igreja Universal. Abandonou, por exemplo, atrações como O Povo na TV e o Moacir Franco Show. A audiência era boa, mas o faturamento não alcançava as cifras necessárias para manter uma empresa como o SBT. 
A fórmula que escolheu era simples: bonito e barato e, principalmente, dando lucro. "A Globo faz questão de estar em primeiro lugar, nem que, para isso, tenha que gastar milhões. Silvio pensa em não perder dinheiro", observa o humorista Carlos Alberto de Nóbrega, um de seus grandes amigos. 
As atrações emplacaram. Hebe Camargo transformou-se na "dama da televisão brasileira", com seu programa, nas segundas-feiras. A Praça É Nossa, que tinha 10 pontos na Bandeirantes, saltou para 35 pontos no SBT. Jô Soares ajudou a qualificar a programação, que passou a contar ainda com um investimento pesado em jornalismo. 
O SBT se consagrou como líder absoluto do segundo lugar. Muitos programas passaram a incomodar a Rede Globo, até então imbatível. O jornal Aqui e Agora trazia reportagens dinâmicas que retratavam, principalmente, a violência sofrida pelos moradores de São Paulo e também do Rio. Foi tachado de "mundo cão", mas aumentou a audiência do telejornal do SBT, que sempre perdeu feio, nesse segmento, para a Globo. 
O jornal do SBT, com Lilian Witte Fibe, o TJ Brasil, com Boris Casoy, e o Jô Onze e Meia atenderam classes mais altas, que não costumavam apertar no controle o canal do SBT. O apresentador Gugu foi substituindo o patrão, aos poucos, aos domingos. O programa do Faustão passou a perder no Ibope para o colega de horário. Virou uma gangorra de audiência. A cada semana, um era o vencedor. A estratégia de Gugu foi concentrar suas melhores atrações no momento em que Faustão está no ar. No resto do dia, podia até perder para a Xuxa e o Tom Cavalcanti, mas nunca do Faustão. Deu certo: ganhou a briga dos domingos. 
Gugu já esteve com um pé na Globo, mas Silvio Santos abriu o baú para mantê-lo na sua emissora. Quando Jô Soares assinou com o SBT, a Globo contratou Gugu para competir com Silvio nas tardes de domingo. O dono do canal 11 agiu rápido e jogou pesado: fez uma proposta irrecusável a Gugu, que à época, comandava no SBT o Viva a Noite, e levou a mulher, Íris, e as quatro filha à tiracolo para o encontro. A pressão deu certo. Silvio Santos pegou um avião com Gugu, e os dois conversaram com Roberto Marinho. Foi tudo resolvido. Menos a multa pela rescisão do contrato, que não foi perdoada. 
Em outro episódio, Silvio conversou com os Marinhos. Ligou para o Roberto Irineu Marinho, filho do dono das Organizações Globo. O apresentador queria levar José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para trabalhar no SBT. "Eu não vou dispensar o Boni. Não me interessa que ele opere em outra televisão", teria afirmado Marinho, em frase reproduzida no livro A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva. 
Para neutralizar o adversário, a Globo contratou algumas estrelas da emissora rival. Jô Soares e Serginho Groisman foram alguns dos que passaram para o lado
de lá. Para recuperar as perdas, a estratégia de Silvio Santos foi tentar enfraquecer a concorrência. Tentou minar Jô ao mudar o horário do programa para ainda mais tarde. 
Outras emissoras levaram peças-chaves do SBT. Foi o caso de Eliana e Boris Casoy, que arrumaram as malas para a TV Record. Silvio manteve o formato dos programas, com exceção do Jô Soares. Mas decidiu abandonar o investimento no jornalismo para priorizar o entretenimento. 
Pessoas ligadas ao apresentador garantem que Silvio Santos nem sempre é um bom negociador. "O Ratinho queria muito trabalhar no SBT. Silvio não quis. Ele me ligou um pouco antes de assinar contrato com a Record e pediu R$ 70 mil. Não teve jeito. Quatro meses depois, Silvio o chamou e pagou R$ 400 mil", lembra Luciano Callegari, primeiro homem do SBT até 1997. 
Ratinho conseguiu 15 pontos de audiência com seu programa no SBT, o mesmo percentual que Boni havia prometido conseguir para a emissora, caso fosse contratado por Silvio. "Foi mais fácil contratar o Ratinho, que já me deu os 15 pontos de audiência", brincou Silvio em uma palestra, arrancando riso da platéia.
Carlos Alberto de Nóbrega ficou 11 anos
sem falar com o apresentador. Ele pensava
que Silvio tivesse enganado seu pai 
Ser segundo lugar já incomoda ao SBT. Há quase um ano, na noite de sábado, a resistente A Praça É Nossa vem apanhando do humorístico Zorra Total, da TV Globo. Para melhorar os números, o apresentador Carlos Alberto de Nóbrega procurou Silvio Santos. É preciso bagunçar a vida do Zorra. 
A idéia de Carlos Alberto é aumentar a divulgação da Praça durante os intervalos no horário nobre do SBT. Outro pedido é a encomenda, ao DataFolha, de uma pesquisa para aferir a audiência e compará-la aos números do Ibope. 
O que Carlos Alberto de Nóbrega tenta entender é como A Praça É Nossa perdeu a liderança. Até um ano atrás, A Praça emplacava média próxima de 20 pontos de audiência. O máximo que o Zorra conseguia era reduzir a diferença para 1 ponto, quando entrava em cena o espetacular Alberto Roberto, personagem de Chico Anysio. Depois da saída de Chico, A Praça começou a perder. E feio. Crava 14 ou 15 pontos, contra mais de 22 pontos da Globo. Carlos Alberto pediu ainda uma pesquisa para saber o que o público acha da Praça. 
Não é fácil dobrar o homem do Baú. Silvio é autoritário e gosta das coisas a seu modo. "Ele tem um temperamento danado. Cansei de bater de frente com ele quando cheguei à emissora, em 1987", relembra Carlos Alberto, filho de Manoel de Nóbrega, aquele que passou o Baú para Silvio. 
"Hoje, eu sei me relacionar com o Silvio. Imagina quantos problemas ele tem. Faço o pedido no momento certo, e ele nunca diz não", observou. 
Os dois são amigos desde o tempo em que Silvio vendia muamba, nos anos 50. Fizeram juntos a primeira viagem ao exterior, a Buenos Aires, na Argentina. Carlos Alberto pretendia comprar coisas para o enxoval de seu casamento. Silvio o convenceu a comprar isqueiros e presilhas para gravata. "Disse que venderia tudo em São Paulo. Com o lucro, compraria o enxoval e ainda sobraria dinheiro", recordou. 
Em outra época, Silvio comprara um carro aos pedaços. Na viagem para São Paulo, Carlos Alberto dirigia e Silvio segurava as portas. Ao chegar a São Paulo, ele anunciou e vendeu o carro ali mesmo. Era uma amizade de passeios, festas e confidências. 
Os dois ficaram sem se falar por 11 anos. Segundo Carlos Alberto, por causa de um mal-entendido. Sem entrar em detalhes, disse que o problema envolvia ações da TV. "Meu pai me contou uma coisa. Só depois, o Silvio me explicou tudo. Meu pai (morto em 1976), que tinha Silvio como um filho, estava enganado", conta. 
Carlos Alberto é grato a Silvio por ter salvado o pai da falência, em 1975. Manoel de Nóbrega se envolvera em um malfadado negócio. Silvio pagou a dívida e, provisoriamente, ficou com os bens de Nóbrega. Um belo dia, Nóbrega, que pensara que perdera tudo, recebeu todas as escrituras de volta (dois ou três apartamentos, uma casa e dois terrenos). Silvio viajou em seguida. "Ele não queria receber o telefonema de agradecimento do meu pai", relembrou. 
A vida encarregou-se de afastá-los. Hoje, só se encontram a trabalho. Em datas festivas, Silvio envia cartão e lembranças. Na Páscoa, mandou-lhe um grande ovo. Na segunda-feira, Carlos Alberto completará 65 anos, mas sabe que o máximo que pode esperar é um bom presente. "Preferia que ele não me enviasse nada. Mas que aparecesse para me dar um abraço", observou. 
Ele é o show do bilhão
Silvio Santos é um megaempresário.
O faturamento de suas 34 empresas soma
R$ 1,5 bilhão por ano. Só de salário,
ele retira R$ 55 milhões do Baú
O baú ficou pesado. Cheio de dinheiro. Por ano, o apresentador Silvio Santos recebe R$ 55 milhões de salário como empregado do Baú da Felicidade e da Liderança Capitalização. Ninguém no País paga mais Imposto de Renda, como pessoa física, do que ele. São R$ 15 milhões para o Leão. O faturamento de suas empresas é superior a R$ 1,5 bilhão, anualmente. 
Não é à toa que ele é também conhecido como "o homem do sorriso". Desde 1957, quando iniciou a saga com o Baú, Silvio construiu uma carreira de conquistas. "Achava que ele subiria na vida por ter uma visão comercial. Mas nunca poderia imaginar que chegaria tão longe", confessa Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador de A Praça É Nossa e amigo dos tempos bicudos. 
Silvio construiu um patrimônio da ordem de R$ 879 milhões, conforme declaração à Receita Federal, em 1999. Não seria hora de parar, viajar pelo mundo e gastar um pouco dessa fortuna? 
Não adianta. Ele quer mais. Já chegou a anunciar que se aposentaria dos palcos aos 60 anos. Passados 10 anos, continua com todo o vigor. À frente do Show do Milhão, respira mais um sucesso. 
Ao que parece, Silvio sonha ir mais longe. E ele se prepara para tanto. Hoje, o SBT já fatura um quarto do que a Rede Globo abocanha. 
Cuidadosamente, sem grandes endividamentos, a emissora se expande. Um dos marcos é o Complexo do Anhangüera, inaugurado em 1996, um centro de produção para a TV equivalente a 31 campos de futebol, a 17 quilômetros do Centro de São Paulo. 
Para melhorar ainda mais a qualidade da programação e passar a atrair as classes mais altas, o SBT ataca em várias frentes. Fechou acordos com as americanas Warner e Walt Disney e a Televisa, poderosa emissora mexicana. Acertou ainda com uma produtora holandesa um programa nos moldes de No Limite, exibido pela Globo. Só que os participantes se envolvem numa disputa numa casa. A previsão inicial é de levar a atração ao ar ainda no primeiro semestre. 
Silvio também está de olho no mercado lucrativo das TVs por assinatura. Formou consórcio com a Bandeirantes, fundos de pensões norte-americanos e o Grupo Associados (ex-Diários Associados) e criou a TV Cidade. Tem autorização para operar em 16 municípios brasileiros, entre eles, Niterói e São Gonçalo. 
Já investiu em um hotel no Guarujá, à espera da liberação do jogo no País. Esse empreendimento é inspirado em um navio de luxo e poderá se transformar em um grande cassino no litoral paulista. Silvio já disse que pretende morar ali quando se aposentar. Se isso acontecer. 
Hoje, ele vive com a mulher, Íris, e suas quatro filhas em uma mansão no Morumbi. Contou com o conforto da família para enfrentar grandes perdas. Seu pai, Alberto, morreu em 1976. Léo, o irmão mais chegado, foi enterrado em 1982. E a mãe, Rebecca, sete anos depois. Durante a campanha para prefeito de São Paulo, em 1992, um outro baque. 
Sua irmã Sara, mais conhecida como Sarita, foi seqüestrada no Rio. Ela saia de casa, na Tijuca, para o SBT, onde trabalhava como diretora regional da emissora. Quatro bandidos inexperientes a obrigaram a entrar no porta-malas de um Chevette, sob a mira de um revólver. Os seqüestradores exigiram 500 mil dólares (quase R$ 1 milhão) e mais meio quilo de ouro. A polícia foi logo mobilizada pelo governador Leonel Brizola e, em 15 horas, os bandidos foram presos. O erro deles foi ligar para um número com bina. Sarita ficou o tempo todo
amarrada, no porta-malas. 
Aos 70 anos, completados em 12 de dezembro, Silvio é um homem vitorioso. Dono de uma fortuna invejável, o seu maior patrimônio, porém, é a popularidade. É o maior apresentador da história da televisão brasileira. Desde 1993, o Programa Silvio Santos figura no Guinness, o Livro dos Recordes, como o mais duradouro da televisão brasileira. 
O engraçado é que o homem que conseguiu tudo isso, o maior comunicador do Brasil, peca pela timidez. "Ele é terrivelmente tímido. Sozinho com alguém numa sala, é um desastre. Mas, ponha um público ali, e ele arrebenta", avalia o amigo Carlos Alberto.

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