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Economia e ética – Pedro Cezar Dutra Fonseca Aborda a relação ética e economia em três aspectos: 1. A tensão entre economia e ética começou com o surgimento da economia como ciência, onde esta se tornou independente da teologia e política. A impessoalidade de mercado era usada como afirmação do capitalismo nascente em que as “leis” econômicas possuíam lógica independente da vontade dos homens e não podiam ser julgadas pela ética ou moral, onde os homens teriam capacidade de decidir sobre a vida em sociedade, portanto, anti-ética ou a-ética. Surge um discurso positivista, afirmando filosoficamente a negação da filosofia na economia, ocorre separação entre Economia Positiva e Economia Normativa, consagrada por Keynes. Galbrait fala sobre a economia ignorar o poder, “As características mais debatidas da economia neoclássica ou neokeynesiana são os pressupostos de que o poder, e com ele a política, é alheio ao abjeto da ciência econômica”. A maioria dos modelos teóricos de economia abandona variáveis políticas e éticas para simplificação, onde na determinação do preço de equilíbrio entre oferta e demanda, o fato disso acontecer é ocultado e os economistas que falam que esse fato é importante são tidos como ortodoxos ou pouco respeitados. No exercício de cargos públicos, o detalhe do economista é estar muito próximo do poder, sempre o servindo, mas sem possuí-lo. A manipulação de macrovariáveis com implicações sociais sérias, como defesa do desemprego e recessão, sempre é feita em nome de objetivos e valores definidos pela própria economia. 2. A relação entre economia e ética se torna mais complexa quando se confronta com as ciências naturais, “a existência de uma teoria influencia decisivamente para que suas predições venham a concretizar- se”. A teoria das expectativas racionais propõe que se os agentes econômicos acreditarem a inflação irá acontecer, ou algum outro fator irá alterar e isso tende realmente a acontecer, onde a crença a respeito de um fato é fundamental para que o mesmo venha a ocorrer. Os agentes são racionais à medida que suas ações seguem os próprios pressupostos do modelo, e estes supõem sua racionalidade. Os agentes são racionais para perceberem que o aumento em gastos públicos tende a elevar a inflação, e se antecipam, pois os agentes acreditam na teoria de que os gastos públicos interferem na inflação. Trata-se de uma relação entre homens, e não de uma relação entre homens e objetos. 3. Dentre as ciências sócias, a ciência econômica é a que mais se presta a quantificação devido às categorias que trabalha. Isso está internalizado que mesmo os economistas mais renomados confundem determinação com flutuação, como mostrou Ricardo, algo que só é possível quando o número, a grandeza quantitativa, é confundida com a variável que é expressa por ele. Isso não acarretaria problema ético se não trabalhasse com agregados. As discussões envolvendo ética nas relações humanas enfatizam relações entre homens, no geral ou como grupos, não individualmente. A economia recorreu às variáveis amplas, em um nível que nenhum outra ciência fez, que são relacionadas em modelos muito simplificados, abrangendo todo um país ou o mundo, esquecendo-se das especificidades. Este vício perdura até os dias de hoje, onde o economista tem facilidade de apresentar o complexo da visa social em modelos ultra-simplificados e extrair conclusões para a vida dos indivíduos. Este “erro” foi reproduzido por Ricardo e Malthus em suas teorias, onde na “ética do agregado” os economistas não podem ter culpa de a realidade ser perversa. Em nenhuma ciência usam coisas tão otimistas como o equilíbrio geral, estabilidade automática, tendências maximizadoras e etc que dominam a análise de mercados e agregados, caindo por terra quando envolvem seres humanos, como o mercado de trabalho em que a taxa de desemprego passa a ser natural. A ética passa a ser mais visível e palpável nas relações interpessoais; na macroeconomia dos agregados, é apenas o deslocamento de uma curva. Toda a postura ética (relações entre homens) desaparece, por essa relação estar aparentando uma relação entre coisas (mistificação), não uma relação entre indivíduo que é o que ocorre, como afirma Marx. Seria este o preço pago pela economia para ganhar status de discurso cientifico, seu pecado original, ao pretender libertar-se da teologia e da ciência política?
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