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Futebol Feminino

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Futebol Feminino: 
Relações de gênero, construção social, firmação e ampliação do feminino no esporte
Ester Borges Oliveira - Bacharelado
Antropologia e Educação física
Prof.: Jose Alfredo O. Debortoli
Introdução
Rotulada de sexo frágil, a mulher conquistou um espaço especial na sociedade. Elas simplesmente invadiram os campos de futebol, as quadras, piscinas e todo complexo esportivo que antes só homens podiam utilizar. Foi um grande avanço e o mundo do esporte cedeu aos encantos do universo feminino. Com toda sua garra e força, elas se tornaram campeãs e vencedoras de seus próprios limites, rompendo preconceitos.
Não foi tão fácil conquistar esse espaço. Somente com o surgimento da industrialização e da era moderna é que as mulheres começaram a se organizar e a lutar por um espaço ao lado dos homens. Tiveram que passar por grandes esforços físicos, pois era de conceito geral a fragilidade do próprio corpo feminino e ainda quebrar a barreira que a principal tarefa da mulher era apenas a reprodução. Além disso, havia o medo do esporte masculinizar. Hoje temos presidentas de clubes, árbitras e jogadoras de futebol.
Futebol Feminino no Brasil
Existem muitas produções bibliográficas e audiovisuais que mostram a inserção e a consolidação do futebol – como esporte de preferência nacional – no Brasil. A grande maioria delas reconstitui a história social desse esporte sob a perspectiva dos homens, seja na qualidade de jogadores, de torcedores e/ou daqueles que escreveram e produziram a memória da modalidade. Em breve levantamento sobre essas produções veremos que descrevem como o aparecimento do futebol no Brasil foi associado a uma prática de lazer essencialmente destinada aos homens brancos da elite do país. Posteriormente, algumas produções mostram que o futebol passou por uma popularização, profissionalizando-se e permitindo assim que outros homens, negros e pobres, pudessem adentrar aos campos e aos estádios como jogadores e como torcedores. Por fim, ficou evidente que a virilidade, a competitividade e as características comuns dessa modalidade, ainda hoje, associam-se intimamente a um ideal de identidade masculina brasileira.
As mulheres sempre foram colocadas à margem nessa produção histórica do futebol brasileiro. Até o ano de 1920, quando apareciam nas crônicas esportivas e colunas sociais eram retratadas como meras espectadoras que traziam beleza e charme para as arquibancadas. No ano de 1921, os jornais do país noticiaram a primeira partida de futebol disputada por mulheres. À época elas foram chamadas de audaciosas e intrépidas, e a partida, por sua vez, foi motivo de chacota e desconfiança do grande público brasileiro. 
No ano de 1941, sob o pretexto de preservar a saúde reprodutiva dessas mulheres, o Conselho Nacional de Desportos decreta que alguns esportes não seriam compatíveis com a natureza feminina. Acreditava-se que a prática do futebol colocaria em risco a integridade física das mulheres brasileiras: uma forte pancada no baixo ventre poderia torná-las inférteis, comprometendo a maternidade. Dessa forma, até 1979, as mulheres foram proibidas por lei de jogar bola. No ano de 2001, a Federação Paulista de Futebol (FPF) estabeleceu que para uma atleta participar de campeonatos precisaria apresentar signos de feminilidade: cabelos compridos, corpo mais delicado e com curvas, uniformes mais curtos e justos. Em entrevista de jornal, concedida na época, a jogadora Cristiane Silva (anexo 1), medalhista de prata na Olimpíada de Atenas, afirma ser favorável a um modelo de uniforme intermediário, ou seja: nem tão grande, mas também não tão justo. Contudo, segundo ela, usaria um modelo mais cavado se o clube ou patrocinador mandasse, pois “é melhor jogar assim do que não jogar”.
Já no ano de 2004, depois que a Seleção Brasileira de Futebol Feminino conquistou a medalha de prata na Olimpíada de Atenas (anexo 2), algumas reportagens jornalísticas foram feitas e questionaram o preconceito que ronda a modalidade. Esse relacionava-se, sobretudo, ao desinteresse popular por conta da suposta homossexualidade das atletas. Da mesma forma, como no começo do século XX, as poucas reportagens e entrevistas realizadas nos últimos dez anos continuam evidenciando o charme e a beleza da jogadora brasileira em detrimento de sua competência profissional e qualidade técnica.
Futebol Feminino como meio de ampliação e firmação do feminino na sociedade
Sendo o futebol uma modalidade direcionada e compreendida a partir da perspectiva dos homens, os discursos sobre a presença das mulheres avançam, quase sempre, em três direções: a) descrevem-nas como seres naturalmente dóceis e frágeis, voltados para a maternidade e possuidores de aspectos essencialmente femininos; b) colocam em dúvida a sexualidade da mulher atleta sob argumentos homofóbicos; c) instauram medidas arbitrárias que condicionam e restringem a presença delas no âmbito esportivo. Apesar das tentativas de exclusão, das restrições e dos obstáculos enfrentados por elas ao longo dos últimos anos, o futebol feminino pode mostrar-se como um espaço de autonomia e liberdade, propiciando o empoderamento das mulheres.
A partir dessa contextualização, com base nas observações etnográficas alguns relatos evidenciam como elas enfrentam, superam e se empoderam através das suas práticas cotidianas nesse esporte. Assim, o futebol feminino é compreendido e ressignificado em dois casos distintos: o primeiro, com uma equipe amadora e o segundo, um projeto social. 
Vale ressaltar, como apresentado no paper - Futebol Feminino: sobre a formação de jogadoras na periferia da cidade de São Paulo - no II Simpósio Internacional de Estudos sobre Futebol (LUDENS/USP, 2014), que as categorias profissional e amador possuem uma elasticidade muito peculiar em seus usos e aplicações nesse campo de pesquisa. De acordo com quem fala, para quem fala e de onde fala, os seus significados se alteram. Além disso, segundo a antropóloga Jean Williams, existem três tipos de profissionalismo que coexistem quando se trata de futebol feminino: o micro profissionalismo no qual os indivíduos importantes podem ser identificados – por exemplo, quando reconhecemos por nome determinadas profissionais como Cristiane ou Marta –; o mesmo profissionalismo, que pode ser compreendido como momento em que as equipes de futebol feminino participam de competições nacionais; e o macro profissionalismo com uma multiplicidade de competições e torneios internacionais, onde as mulheres possam mostrar seu talento no futebol (2011). Ainda nesse sentido, a autora nos diz que de acordo com as regras da FIFA as mulheres jogadoras podem ser consideradas profissionais a partir do momento em que elas começam a receber dinheiro para jogar, contudo essa remuneração nem sempre chega ao mínimo necessário para cobrir as despesas básicas de subsistência. Dessa forma muitas jogadoras precisam trabalhar e estudar paralelamente aos treinos e isso as torna, na prática, em atletas semiprofissionais (Williams 2011).
Boa parte das análises feitas sobre a prática do futebol descreve a modalidade esportiva como espaço de não inclusão das mulheres e de perpetuação de preconceitos sexistas. Até hoje mulheres e futebol foram compreendidos como dicotomias, colocados em lados opostos e não complementares. Contudo uma transformação, mesmo que ainda lenta, se anuncia. A antropóloga Carmen Rial, ao escrever sobre a presença das mulheres na mídia esportiva durante a Copa do Mundo, mostra que se inicialmente elas ocuparam um espaço secundário – na qualidade de torcedoras, jogadoras e mesmo como jornalistas – hoje começam a ter voz no mundo futebolístico (2014).
Essa transformação que se anuncia vai ao encontro do questionamento levantado pela antropóloga Andrea Cornwall. Segundo a autora, uma resposta possível para as desvantagens persistentes em relação às mulheres – em todas as esferas da vida social – é capacitá-las para exercer agenciamento e fazer escolhas (2013). Nesse sentido, “agenciamento” pode ser compreendidocomo ter o controle sobre a sua própria vida e fazer escolhas fala menos da capacidade de determinar os parâmetros do possível, do que da possibilidade de selecionar opções que as intervenções para o desenvolvimento tornam possíveis.
Assim, é possível pensar a prática do futebol feminino como um espaço legítimo para o exercício do agenciamento e do empoderamento das mulheres já que o esporte, além de ser um terreno promissor para testar hipóteses sobre as mudanças nas relações e representações de gênero na sociedade contemporânea é um lugar particularmente sensível para indagar os rumos de uma cultura em transição – transição para padrões mais igualitários, ou talvez avançando, embora lentamente, no sentido de uma certa “despadronização”.
Analisar como jogadoras de futebol vivenciam e dão novo significado a prática do futebol em suas vidas, a partir de uma perspectiva feminista de empoderamento, é um exercício que permite uma abordagem voltada para a experiência vivida ao invés de para estereótipos, uma abordagem que pode tolerar contradições e celebrar visões plurais assim como versões de empoderamento que se enquadram nos contextos em que são expressadas. Além disso, esse tipo de análise oferece novas visões sobre as mudanças que contribuem para o avanço da justiça social e de gênero.
A escola como como espaço para a prática do futebol feminino e suas questões de gênero 
Interessante é a exclusão da escola como local possível para a prática do futebol feminino, provavelmente, porque quanto maior o número de pessoas observando, especialmente se for do sexo oposto, mais as garotas se intimidam em participar de atividades ditas predominantemente masculinas. As meninas agem de maneira não condizente com o modelo de feminilidade hegemônico na escola de forma mais frequente na ausência dos meninos. Comparando a escola com grupos de amigos de bairros, dá-se a entender que lugares mais populosos, como a escola, oferecem testemunhas em potencial e as gozações tornam as relações entre gênero mais arriscadas, aumentando a distância entre meninos e meninas e marcando fronteiras de gênero. 
Estas considerações nos auxiliam a compreender as razões que tornam a escola um espaço mais comprometido com os valores da sociedade vigente, já que ocupação do espaço escolar se dá de maneira bastante distinta entre meninos e meninas. Enquanto as meninas aguardam o início das aulas sentadas, os meninos correm de um lado para o outro ou se chutam, ou chutam a bola. Além disso, incluindo todos os momentos dentro da escola, os meninos chegam a ocupar 10 vezes mais espaço físico do que as meninas.
Na verdade, mesmo com o aumento da prática do futebol também nos espaços escolares, o preconceito não deixou de existir. O depoimento da jogadora Cynthia (anexo 3) (Mas..., 1997b, p.5) é bastante ilustrativo: "Quando tinha dez anos Cynthia parou de jogar por um ano. Falavam que eu era João. Nesta época, desviava dos campos porque era muita tentação. A paixão pelo esporte foi muito maior que o preconceito. Superei isso. Hoje, não estou nem aí. Faço o que eu gosto". A prática do futebol feminino é tolerada pelos pais, amigos e garotos, desde que a garota não tenha entrado na adolescência. Portanto, antes de assumir papéis que envolvam a escolha sexual. 
Esta situação pode ser ilustrada através da análise da trajetória da jogadora Pretinha (anexo 4), uma das mais importantes da seleção nacional. O Jornal O Dia relata que sua mãe a proibia de jogar futebol, mas a partir da insistência dos colegas acabou cedendo. Talvez, afirmou sua mãe, o seu acesso à prática do futebol não tivesse ocorrido se não fosse sua semelhança física a um menino, uma vez que só quando os seios começaram a apontar sob a camiseta suada é que os rapazes descobriram que aquele garoto driblador e de chute certeiro era, na verdade, uma menina.
São inegáveis as muitas diferenças no comportamento de meninos e meninas. Reconhecê-las e trabalhar para não as transformar em desvantagens é papel de todo educador. Estar atento às questões de gênero que ocorrem numa aula de Educação Física é uma forma de ajudar os jovens a construir relações de gênero com equidade, respeito pelas diferenças, somando e complementando o que os homens e as mulheres têm de melhor, compreendendo o outro e aprendendo com isso a serem pessoas mais abertas e equilibradas.
Conclusão 
Através dos dados obtidos nesta pesquisa, é possível identificar, ainda nos dias de hoje, a real necessidade da reconstrução do papel da mulher na sociedade, através de sua inserção no cenário esportivo e da forma como a mídia aborda a questão. Faz-se necessário a construção de uma nova imagem em substituição à imagem de Apolo (WILSHIRE, 1997), onde a superioridade vinculada ao masculino, como fonte de força e de conhecimento, venha dar lugar ao equilíbrio entre o masculino e o feminino.
A forma de apresentação da mulher que pratica o futebol tende a criar uma falsa identidade do que deveria ser o papel da mulher na sociedade, permitindo uma reprodução do ideal de beleza, de sujeição e de procriação. Embora identifiquemos uma tendência de valorização do futebol feminino, esta tendência mostrou-se de caráter transitório, estático e momentâneo.
 Evidenciamos, entretanto, a necessidade da mudança dos fundamentos do discurso sobre a mulher, particularmente da mulher que pratica futebol, em que o preconceito seja objeto de estudo histórico do passado e a tendência de valorizar o esporte praticado por homens seja substituída pelo devido tratamento a quem quer que pratique o esporte.
Ainda persiste a esperança de que a medalha de prata e a grande quantidade de matérias sobre futebol feminino durante o mês de agosto de 2004 não tenham sido em vão, mas que seja um momento para reflexão e que os instrumentos pedagógicos utilizem estas informações para criar resistência aos movimentos de captura sobre a mulher e o futebol e, por que não dizer, sobre a mulher e o esporte e ainda sobre a mulher e a sociedade.
Embora o futebol seja considerado uma paixão nacional, parece não assumir este papel social quando a questão é o futebol feminino. Este trabalho reforça a necessidade de se redirecionar o status social dessa questão na sociedade brasileira, despertando de seu estado de dormência, pela forma como tem sido tratado o futebol feminino pela mídia, não apenas pelo que se diz mas também pelo silêncio sobre ele.
Referências 
Altman, H. (1998). Rompendo fronteiras de gênero: Marias (e) homens na educação física. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Faria Jr, A.G. (1995). Futebol, questões de gênero e coeducação: algumas considerações didáticas sob enfoque multicultural. Revista de Campo: Futebol e Cultura Brasileira, 2, 17-39
Romero, E. (1994). A educação física a serviço da ideologia sexista. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 15, 3.
Souza, Jr., O. (1991). A implementação de uma proposta de futebol feminino para a Educação Física escolar. Monografia de Conclusão de Curso de Graduação, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro
MORENO, M. Como se ensina a ser menina: o sexismo na escola. São Paulo: Moderna; Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1999.
MOURÃO, L. e MOREL, M. As narrativas sobre o futebol feminino: o discurso da mídia impressa em campo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 2, p. 9-20, 2005.
PRIORE, M. Corpo a corpo com a mulher: pequenas histórias das transformações do corpo feminino no Brasil. São Paulo: SENAC, 2000.
WILLIAMS, Jean Williams. Women’s Football, Europe and Professionalization 1971-2011: Global Gendered Labour Markets. 20 de setembro de 2011.
CORNWALL, Andrea. 2013. Apresentação: trilhas do empoderamento de mulheres in Revista Feminismos. Vol. 1, N. 2. Bahia.
Anexos
Cristiane, atacante, seleção brasileira de futebol feminino, Paris Saint-German
Seleção Brasileira de futebol feminino medalhista de ouro, Atenas 2004.
Cynthia, Seleção brasileira de futebol femininoPretinha, Seleção brasileira de futebol feminino
Eu e as atuais jogadoras da Seleção Brasileira de futebol feminino, Andressinha (meio-campo) e Camilinha (lateral) no Seminário sobre futebol feminino - Realidade Brasil x USA.

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