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1 Curso completo de Direito Constitucional Profª. Sabrina Araújo Feitoza Fernandes Rocha Atualizada até a EC n° 71 de 29/11/12 Esta apostila não é de autoria pessoal, pois foi produzida através das obras de doutrinadores constitucionalistas, dentre eles Ivo Dantas, J. J. Gomes Canotilho, José Afonso da Silva, Paulo Bonavides, Celso D. de Albuquerque Mello, Luís Roberto Barroso, Walber de Moura Agra, Reis Friede, Michel Temer, André Ramos Tavares, Sérgio Bermudes, Nelson Oscar de Souza, Alexandre de Moraes, Nelson Nery Costa/Geraldo Magela Alves, Nagib Slaibi Filho, Sylvio Motta & William Douglas, Henrique Savonitti Miranda e tomou por base a apostila do Prof. Marcos Flávio, com os devidos acréscimos pessoais. PONTO 19 – DA ORDEM SOCIAL A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Prevendo e prevenindo uma extraordinária gama de direitos que partem do trabalho para alcançar o bem-estar da coletividade geral com distribuição de justiça social, a Ordem Social cuida, de modo analítico (detalhado), da Seguridade Social (saúde, previdência e assistência), da Educação, da Cultura, do Desporto, da Ciência e da Tecnologia, da Comunicação Social, do Meio Ambiente, da Família (adolescente, criança e idoso) e dos Índios, cujos arts. Vão do 194 ao 232, CF. 19.1 - DA SEGURIDADE SOCIAL Envolve ações de seguridade: a saúde, a assistência e a previdência sociais. Compreende, em suma, um complexo de ações e benefícios promovidos pelo Estado e pela sociedade civil no sentido de garantir ou assegurar aos indivíduos uma manutenção digna à condição humana, quando em momentos de dificuldades para com o sustento próprio e o da família. Na ordem social, especial atenção deve ser dispensada à seguridade, notadamente ao que se relaciona com seus princípios, seu financiamento e, isoladamente, com as suas ações (saúde, previdência e assistência). 19.1.1 - PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL Os princípios constitucionais específicos da seguridade, de que trata o art. 194, revelam uma intensa preocupação social do sistema para com os seus beneficiários. Vejamos: 1) UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO segundo esse princípio, a seguridade deve beneficiar indistintamente a todas as pessoas, independente de qualquer contribuição. Sob a ótica subjetiva, universalidade abrange todas as pessoas; sob a objetiva, todas as prestações e benefícios. A universalidade da cobertura deve ser entendida como a 2 necessidade das pessoas atingidas por uma contingência humana (idade avançada, morte, impossibilidade de retorno ao trabalho etc.); a de atendimento refere-se às adversidades ou acontecimentos em que a pessoa não disponha de condições próprias de renda ou subsistência. Há universalidade na saúde, pois todos têm direito a socorro do sistema, independente de contribuição, sendo direito da pessoa e dever do Estado (art. 196, CF). 2) UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS desdobra- se do princípio da igualdade, no sentido de não permitir distinções, isto é, não deve haver ‘duas formas’ no regime geral, mas apenas uma (uni). A prestação securitária (ou o objeto da obrigação securitária) se dá por meio de benefícios (prestações pecuniárias ou em dinheiro) e/ou serviços (p. ex.: reabilitação profissional). 3) SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DE BENEFÍCIOS E SERVIÇOS seletividade significa escolher ou selecionar politicamente (por meio de lei) a prestação conforme as disponibilidades o sistema de seguridade. Distributividade, de caráter social, implica solidariedade para distribuição dos recursos securitários. 4) IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS trata-se de segurança jurídica em favor dos segurados, a fim de preservar o valor real da prestação percebida (§ 4º, art. 201, CF). 5) EQÜIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO DO CUSTEIO embora de difícil verificação, ante as diversas fontes de alimentação do sistema, o princípio quer efetivar isonomia no financiamento da seguridade. Tal se caracteriza, p. ex., quando é fixado que as contribuições sociais do empregador poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de-obra (art. 195, § 9º). 6) DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO refere-se às fontes de onde provirão os recursos para custear o sistema. O art. 195, CF, determina o custeio pelos entes públicos, pelos empregadores, pelos trabalhadores e por renda dos concursos de prognósticos. 7) ADMINISTRAÇÃO DEMOCRÁTICA E DESCENTRALIZADA a gestão do sistema, segundo exigência da Lei Magna, deve atender à participação efetiva de representantes dos trabalhadores, dos empresários, dos aposentados e do Governo. Órgãos colegiados são, v.g., o CNPS – Conselho Nacional de Previdência Social, o CNS – Conselho Nacional de Saúde, o CRPS – Conselho de Recursos da Previdência Social etc. 3 No que se relaciona ao financiamento ou custeio da seguridade social, ocupar-nos-emos das contribuições sociais (art. 195, CF), cuja natureza, estudada na parte referente ao Sistema Tributário Nacional, é de exação tributária. A disposição (art. 195) deve ser estudada em conjunto com o art. 149, CF, onde estão as bases para a criação das contribuições sociais. A competência para instituir é exclusiva da União, exceto quanto às contribuições previdenciárias e assistenciais que podem ser instituídas pelos Estados, Distrito Federal e Municípios a serem cobradas de seus servidores e revertidas em benefício deles. É assentamento do STF que as contribuições sociais de que trata o art. 195, cobradas dos empregadores, trabalhadores e as incidentes sobre a receita de prognósticospodem ser instituídas por meio de lei ordinária (não se aplicam o art. 146, III, ‘a’, referente a impostos, nem o § 4º do 195, relativo à competência residual da União para criar contribuição de seguridade sobre fonte nova). Entendimento do STF: “A seguridade social será financiada por toda a sociedade. As contribuições para seu custeio são devidas por todos, inclusive pelas empresas que realizem operações relativas à energia elétrica, aos serviços de telecomunicações, aos derivados de petróleo, combustíveis e minerais, não se aplicando a elas, as empresas, a imunidade objetiva prevista no art. 155, § 3º” (RREE 227.832-PR; 230.337-RN; 233.807-RN). 19.1.2 - A SAÚDE O Estado deve prestar assistência à saúde de sua gente de modo integral e gratuito, independente de sua condição ou status social, isto é, quer esteja empregado quer desempregado, quer se trate de natural quer de estrangeiro etc., precisamente porque a Ordem Maior a concebe como direito de todos e dever do Estado. O Texto Fundamental preceitua que as ações e os serviços de saúde são de relevância pública. Ao Poder Público cabe dispor acerca da regulamentação, fiscalização e controle. A execução das ações DEVE ser de modo direto (regra geral), facultada a prestação terceirizada por pessoa física ou jurídica de direito privado. A saúde é consistente dum sistema único de ações numa integração da rede regionalizada e hierarquizada, tendo como diretrizes a descentralização (no nível de cada esfera de governo), o atendimento integral e a participação da comunidade. Os entes políticos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) devem aplicar anualmente um percentual mínimo de suas arrecadações, a ser estabelecido em lei complementar, em ações e serviços de saúde. Por expressa determinação da inclusão procedida por intermédio da EC 51, de 14 de fevereiro de 2006, os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúdeeagentes de combateàs endemiaspor meio de processo seletivo público (ou processo seletivo simplificado, como, p. ex., análise de currículos), o que configura uma flexibilização das normas constitucionais atinentes à contratação de agentes apenas por intermédio de concurso público de provas ou de provas e títulos, 4 devendo, para tanto, considerar a natureza e complexidade das atribuições e requisitos específicos para a atuação no desiderato fixado nessa nova ordem. Restou reservada à Lei federal a atribuição para dispor sobre o regime jurídico e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias. Essa nova ordem constitucional incluída pelo Poder Reformador (EC 51/06) no sentido de que tais agentes somente poderão ser contratados diretamente pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios na forma por agora estabelecida, cuja constitucionalidade é claramente duvidável, assentou que além das hipóteses de perda do cargo reservada aos servidores estáveis (conforme § 1º do art. 41) e bem assim a sua perda para fins de controle dos gastos da administração (como posto no § 4º do art. 169, CF), o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. A iniciativa privada participa do sistema único de modo complementar, por meio de contratos ou convênios, dando-se preferência a entidades filantrópicas e sem fins lucrativos, vedada a participação do capital estrangeiro na assistência à saúde no País, salvo nos casos dispostos em lei. As competências do SUS estão baseadas no controle e fiscalizaçãode procedimentos, de produtos e substâncias, na participação da produção de medicamentos, equipamentos imunobiológicos, hemoderivados etc. Cabe-lhe, também, a vigilância sanitária, controlede epidemiologia, a execuçãoda saúde do trabalhador, a ordenaçãoda formação dos recursos humanos de saúde, a participaçãona formulação da política de saúde e da execuçãodas ações de saneamento básico. Compete ao SUS, ainda, incrementaro desenvolvimento científico e tecnológico e fiscalizar e inspecionaralimentos e bebidas para consumo humano. Finalmente, além de outras ações legais, é da atribuição do SUS participardo controle e da fiscalização da produção, do transporte, da guarda e da utilização de substâncias, produtos psicoativos, tóxicos e radiativos, além do deverde colaborar na proteção do meio ambiente. 19.1.3 - A PREVIDÊNCIA SOCIAL A previdência social busca amparar o indivíduo que doou sua força de trabalho anos a fio para o crescimento econômico e desenvolvimento social de seu Estado, recorrendo agora, quando não mais lhe restam forças para trabalhar, à proteção do sistema para o qual contribuiu e formou, sendo coberto por eventos de doença, invalidez, morte (em relação aos dependentes), maternidade etc. Diferentemente da saúde, o regime geral da previdência é de filiação obrigatória e contributivo por todos quantos participem do sistema. Quanto ao que afeta à previdência, a CF cuida de fixar as linhas mestras dos regimes geral e complementar privado. Regula que o acesso à aposentadoria poderá ocorrer por tempo de CONTRIBUIÇÃO (o homem com 35 e a mulher com trinta anos de 5 contribuição, reduzidos 5 anos para professores exclusivos da educação infantil E no ensino fundamental e médio) e decurso de idade (o homem com 65 e a mulher com 60, reduzidos 5 anos para rurais, de economia familiar, garimpeiro, produtor rural e pescador). As demais condições de aposentadoria (para a especial, por invalidez, doença profissional) e o estabelecimento de outros benefícios ficam a cargo da legislação infraconstitucional que regula a matéria pertinente à seguridade social. 19.1.4 - A ASSISTÊNCIA SOCIAL Tutela a assistência à sociedade no seu sentido mais amplo, mesmo àqueles que, pelos desígnios de sua própria história, jamais vieram a contribuir na formação do sistema. Essa é a assistência material e psicológica, treinamento e capacitação para o trabalho etc. Seus objetivos básicos são a proteçãoà família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparoàs crianças e adolescentes carentes; a promoçãoda integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitaçãodas pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; a garantiade um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social (art. 195), além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, e participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. 19.1.5 - A EDUCAÇÃO Em gênero, é um direito de todos e dever do Estado e da família. Será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O ensino será ministrado com base nos princípios: 1) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 2) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; 3) pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 4) gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 5) valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; 6 6) gestão democrática do ensino público, na forma da lei; 7) garantia de padrão de qualidade. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, sendo-lhes facultado admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei, e aplicando-se esses princípios às instituições de pesquisa científica e tecnológica. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante as garantias de: 1) ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria; 2) progressiva universalização do ensino médio gratuito; 3) atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; 4) atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; 5) acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; 6) oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; 7) atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo, importando em responsabilidade da autoridade competente o não- oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular. Cumpridas as normas gerais de educação nacional e observadas a autorizaçãoe a avaliação de qualidade pelo Poder Público, o ensino é livre à iniciativa privada. O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil, enquanto os Estados e o Distrito Federal no fundamental e médio. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação e assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder Público. 7 A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à: 1) erradicação do analfabetismo; 2) universalização do atendimento escolar; 3) melhoria da qualidade do ensino; 4) formação para o trabalho; 5) promoção humanística, científica e tecnológica do País. 19.1.6 - A CULTURA É dever do Estadogarantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorização e a difusão das manifestações culturais, proteger as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional, devendo, ainda, fixar, por lei, as datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. Não bastassem todas essas disposições de eficácia limitada, trazidas originariamente no corpo da Carta de 1988, a Emenda Constitucional nº 48, de 10 de agosto de 2005, também trouxe mais um programa a ser atendido por lei regulamentadora do legislador constituído (infraconstitucional), dispondo que deve a lei estabelecer o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: 1) defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; 2) produção, promoção e difusão de bens culturais; 3) formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; 4) democratização do acesso aos bens de cultura; 5) valorização da diversidade étnica e regional. O patrimônio cultural brasileiro é constituído dos bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 1) as formas de expressão; 2) os modos de criar, fazer e viver; 3) as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 4) as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; 5) os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, 8 vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. A própria Carta Magna já determinou que ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. A Emenda Constitucional nº 71 de 29/01/12 acrescentou o art. 216 – A para instituir o Sistema Nacional de Cultura, como segue: “O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais. § 1º O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na política nacional de cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano Nacional de Cultura, e rege-se pelos seguintes princípios: I - diversidade das expressões culturais; II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais; III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens culturais; IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na área cultural; V - integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas; VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais; VII - transversalidade das políticas culturais; VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil; IX - transparência e compartilhamento das informações; X - democratização dos processos decisórios com participação e controle social; XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações; XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura. § 2º Constitui a estrutura do Sistema Nacional de Cultura, nas respectivas esferas da Federação: I - órgãos gestores da cultura; II - conselhos de política cultural; III - conferências de cultura; IV - comissões intergestores; V - planos de cultura; VI - sistemas de financiamento à cultura; VII - sistemas de informações e indicadores culturais; VIII - programas de formação na área da cultura; e IX - sistemas setoriais de cultura. 9 § 3º Lei federal disporá sobre a regulamentação do Sistema Nacional de Cultura, bem como de sua articulação com os demais sistemas nacionais ou políticas setoriais de governo. § 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão seus respectivos sistemas de cultura em leis próprias." 19.1.7 -O DESPORTO É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados: 1) a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; 2) a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; 3) o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não- profissional; 4) a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, que terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final. 19.1.8 - A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. Entende-se como ciência o conjunto das formulações teóricas dos estudos empreendidos acerca de uma área do saber humano. Tecnologia seria, de outra sorte, a aplicação prática dos resultados teóricos obtidos pela ciência. “Tecnologia é a ciência aplicada” (Celso B. Ribeiro). A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências, voltados preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que delas se ocupem meios e condiçõesespeciais de trabalho. Conforme se dispuser a lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho, sendo facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de 10 sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal. 19.1.9 - A COMUNICAÇÃO SOCIAL Amanifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto na Constituição. Observadas as disposições quanto aos direitos e garantias fundamentais, nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, ficando vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. A regulação das diversões e dos espetáculos públicos será dada por lei federal, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada. Também é matéria de lei federal o estabelecimento dos meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto acerca da moralidade e individualidade da família e do indivíduo, bem como normatizar a defesa contra a propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso. Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio, sendo firme que a publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: 1) preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; 2) promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; 3) regionalizaçãoda produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; 4) respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão 11 obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação social. A participação de capital estrangeiro nas empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens será regulada por lei, devendo as alterações de seu controle societário ser comunicadas ao Congresso Nacional. Compete ao Poder Executivooutorgar e renovarconcessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal, cujo ato será analisado pelo Congresso Nacional. A não renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal, sendo certo que o ato de outorga ou renovação somente produzirá efeitos legais após deliberação pela Casa Legislativa indicada, auxiliada pelo Conselho de Comunicação Social, e que o cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo, depende de decisão judicial. O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as emissoras de rádio e de quinze para as de televisão. 19.1.10 - O MEIO AMBIENTE Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; 12 proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei, sendo que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 19.1.11 - FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE, DO JOVEM (EC n° 65 de 13- 07-10) E IDOSO A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. O casamento é civil e gratuita a celebração, mas o casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente). A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar aspessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. Obs: CUIDADO! Tivemos duas Emendas Constitucionais que alterou este capítulo da Constituição, foram as EC n° 65 e 66. A primeira acrescentou a palavra jovem em todos os dispositivos que tem criança, adolescente e ao jovem (art. 227, caput; §§ 1°+ II; § 3°, VII; § 7°, I e II). A segunda facilitou a vida de quem deseja se divorciar, pois não precisa mais de nenhum requisito, bata o querer para acontecer (art. 226,§ 6°)
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