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Brasília-DF. SuplementoS no eSporte Elaboração Dra. Marta Cecília Soli Alves Rochelle Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 UNIDADE ÚNICA NUTRIÇÃO ESPORTIVA .......................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 SUPLEMENTOS NA ATIVIDADE FÍSICA ......................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE SUPLEMENTOS ....................................................................... 12 CAPÍTULO 3 CLASSIFICAÇÃO E COMPOSIÇÃO BIOQUÍMICA DOS SUPLEMENTOS ....................................... 14 CAPÍTULO 4 USO DOS SUPLEMENTOS DESPORTIVOS: PRÓS E CONTRAS PARA A SAÚDE E DESEMPENHO DE ATLETAS E DESPORTISTAS ........................................................................................................ 20 CAPÍTULO 5 OUTROS SUPLEMENTOS ......................................................................................................... 24 PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 31 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 32 ANEXO ANVISA – RESOLUÇÃO NO 18/2010 – 28/4/2010 ................................................................................. 35 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Os suplementos alimentares são preparações destinadas a complementar a dieta e fornecer nutrientes, como carboidratos, gorduras ou ácidos graxos, proteínas ou aminoácidos, vitaminas e minerais, que podem estar faltando ou não podem ser consumidos em quantidade suficiente na dieta de uma pessoa. Burke & Read classificam os suplementos em duas grandes categorias: os suplementos dietéticos e os auxiliadores ergogênicos. Os suplementos dietéticos são similares aos alimentos em relação aos nutrientes fornecidos, são produtos práticos para ingestão durante atividade e podem servir como auxiliares no aumento do consumo energético ou do aporte vitamínico-mineral. Entre eles estão: as bebidas esportivas (com carboidratos e eletrólitos), os suplementos com alto teor de carboidratos (como os geis de maltodextrina), os multivitamínicos, vitamínicos, suplementos minerais, refeições líquidas e os suplementos à base de cálcio. Por eliminação, o restante das sustâncias ingeridas de forma suplementar na alimentação seria considerado auxiliador ergogênico. Os suplementos dietéticos não promovem aumento de desempenho. O resultado melhor na performance seria uma consequência da capacidade em atender uma demanda nutricional, ou seja, o atleta não ficaria mais forte ou mais rápido devido ao suplemento, mas conseguiria manter-se em atividade mais tempo, por exemplo. Já o auxiliador ergogênico teria a capacidade de aumentar a performance, fornecendo substâncias que fisiologicamente não fariam parte da demanda nutricional. Outras classificações surgiram e alguns autores classificam todos os suplementos como sendo ergogênicos, porque de uma forma ou de outra eles auxiliam na performance. Na verdade, a grande diferenciação que se deve fazer é esta: existem substâncias que podem agir alterando processos metabólicos e genéticos diferentemente dos alimentos e existem produtos que simplesmente fornecem os nutrientes que normalmente viriam da alimentação de outra forma. É a linha que divide o que seria considerado suplementação nutricional do que se aproxima do dopping. Dessa forma, quem consome suplementos e participa de eventos esportivos, deve estar atento para o conteúdo REAL do suplemento para não ingerir substâncias proibidas, fato que já ocorreu com atletas importantes, que foram condenadospor dopping e que depois se provou que a substância provinha de produtos comercializados como “suplementos alimentares”. A ausência de recomendações nutricionais para atletas dos mais diversos esportes facilita a difusão de conceitos infundados em relação à necessidade da suplementação. Normalmente o consumo de suplementos é fomentado pela ideia de que é necessário compensar uma dieta inadequada, para atender um suposto aumento nas necessidades diárias imposto pelo treinamento ou pela vontade de ter um efeito sobre a performance. 8 Mas, na verdade, as carências nutricionais precisam de testes para ser identificadas. O aumento do consumo energético normalmente pode ser feito pela dieta e muitas vezes os conteúdos dos suplementos, como a proteína, já são abundantes na alimentação normal. E a noção de melhorar a performance a custa do suplemento, quase sempre carece de evidência científica. Como alguns costumam dizer: existem dois tipos de suplementos para aumentar a performance: os que não funcionam e os que são proibidos. Os suplementos podem e devem ser utilizados em treinos ou competições quando: » há uma dificuldade em ingerir as calorias suficientes para repor o que o atleta gasta durante o treino ou a competição; » deseja diminuir o bolo fecal para evitar evacuação durante a competição; » pretende fazer uma supercompensação com carboidratos e não existe abundância de alimentos ricos nesse nutriente ou as condições de higiene e preparo não são favoráveis; » existe a necessidade de recuração pós-esforço combinada com situações de falta de apetite ou de tempo para a recuperação; » o indivíduo passa por uma situação temporária de restrição alimentar; » competições e treinos longos necessitam do consumo de carboidratos para serem mantidos em níveis de volume e intensidade aceitáveis. Objetivos » Fornecer conhecimentos atualizados sobre os diversos tipos e usos de suplementos alimentares. » Conhecer as funções específicas desses suplementos, os prós e contras para a saúde e para o desempenho de praticantes de atividades físicas. » Discutir a legislação brasileira sobre alimentos específicos para praticantes de atividades físicas. » Analisar a classificação dos suplementos alimentares e o posicionamentos sobre as últimas pesquisas, para os esportes de força e hipertrofia e para os esportes de resistência aeróbia. 9 UNIDADE ÚNICANUTRIÇÃO ESPORTIVA CAPÍTULO 1 Suplementos na atividade física O desempenho ou performance de um atleta ou desportista está na relação direta de vários fatores como: » treinamento; » genética; » alimentação; » condições psicológicas; » outras condições de operacionalização. Somente alguns recursos ergogênicos podem otimizar, melhorar ou contribuir para o incremento (pois o potencial já existe ou não no indivíduo) da performance, da massa muscular, da energia para o músculo ou da taxa de produção de energia no músculo. Suplementos para atletas e desportistas estão ainda em fase de estudo, com pouco, nenhum ou controverso embasamento científico (WILLIANS, 2004). Suplementos alimentares são produtos acrescidos à dieta que contêm vitaminas, minerais, aminoácidos, proteínas, metabólicos, carboidratos, lipídios e ácidos graxos, isolados ou combinados (WILLIANS, 2004). Os suplementos para praticantes de exercícios físicos também são compostos por nutrientes ou pela sua associação, utilizados com o objetivo de melhorar a saúde, atender às demandas de nutrientes aumentadas pelo esforço físico e compensar hábitos alimentares inadequados (KREIDER et al., 2004). Segundo Hernandez et al. (2009), é crescente o uso de suplementos alimentares e drogas com finalidades ergogênicas entre praticantes de exercícios e atletas, principalmente com o objetivo de modificação estética ou melhora do desempenho (OLIVEIRA et al., 2006). 10 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA Entre essas substâncias, destacam-se os suplementos específicos para praticantes de exercício, por seu elevado consumo em diversas regiões do Brasil, assim como nos Estados Unidos e em países da Europa e da Ásia, o que pode estar substancialmente relacionado à ausência de uma legislação rigorosa que regule sua comercialização, além da imensa e constante oferta de produtos que prometem efeitos imediatos e eficazes por parte das indústrias (CALEE; FADALE, 2006). A classificação dos suplementos alimentares é ampla e inconsistente, principalmente por não haver uniformidade quanto ao fator em que se deve basear tal classificação (MAUGHAN et al., 2004). Podem ser classificados de acordo com o nutriente (carboidratos, proteínas, multivitamínicos) ou de acordo com a função exercida (emagrecedores, anticatabólicos). No Brasil, a legislação que classificava os suplementos para praticantes de exercícios físicos era a Portaria no 222/1998, que passou a identificá-los como “Alimentos para Praticantes de Atividades Físicas”, além de estabelecer a identidade e características mínimas para cinco categorias de suplementos (repositores hidroeletrolíticos, repositores energéticos, alimentos proteicos, alimentos compensadores e aminoácidos de cadeia ramificada – ACR) (Portaria SVS/MS no 222, de 24 de março de 1998). Em 2008, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), propôs modificação na classificação com o objetivo de incluir três novos grupos, além de excluir os ACR (Consulta Pública SVS/MS no 60, de 14 de novembro de 2008). Com algumas modificações, a proposta foi oficializada após publicação da Resolução no 18/2010, passando a identificar os suplementos como “Alimentos para Atletas”, classificando-os em seis grupos (hidroeletrolíticos para atletas, energéticos para atletas, proteicos para atletas, para substituição parcial de refeições de atletas, creatina para atletas e cafeína para atletas). Contudo, tais alterações só chegarão ao mercado em 2012. Diferentemente de outros países, no Brasil são excluídos dos Alimentos para Praticantes de Atividades Físicas produtos que contenham substâncias estimulantes, hormônios, seus precursores e outras substâncias consideradas doping pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), produtos fitoterápicos e formulações à base de aminoácidos isolados, com exceção dos ACR. Além de não serem permitidas, nos rótulos e na divulgação dos produtos, expressões como: anabolizantes, body building, hipertrofia muscular, “queima de gordura”, fat burners, aumento da capacidade sexual ou equivalente. Segundo Carvalho et al.(2003), tem ocorrido uma verdadeira difusão de suplementos com estas características no mercado brasileiro, alguns dos quais geram controvérsias, visto que são produtos erroneamente classificados como suplementos alimentares. Adicionado a isso, pesquisadores têm evidenciado a inadequabilidade desses produtos à legislação quanto a sua rotulagem, composição, comercialização, classificação em categorias e, consequentemente, efeitos fisiológicos esperados. Nesse sentido, Barbosa (2002) analisou 305 rótulos de alimentos para praticantes de atividades físicas, produzidos por 40 empresas nacionais e internacionais, detectando que 56,4% dos rótulos 11 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA analisados estavam inadequados à legislação em função da presença de informações ilegais, insuficiência de informações sobre os ingredientes, recomendação de uso, dados do fabricante, número de registro, valor nutricional e conteúdo líquido. No que diz respeito à composição dos suplementos, segundo Geyer et al.(2003), Shanzer(2001), Kamber et al.(2001) e Baume et al.(2006), uma parte dos suplementos contém esteroides anabólicos e/ou seus precursores, o que evidencia problemas ainda mais graves como o risco de efeitos colaterais prejudiciais à saúde, doping não intencional e crime contraos direitos do consumidor. Aliada à falta de orientação e de acompanhamento adequado, a inadequabilidade da composição e da classificação dos suplementos à legislação pode acarretar consequências como crenças em características equivocadas dos produtos; frustração das expectativas dos consumidores; eventuais prejuízos à saúde; e, ainda, a responsabilização do profissional que prescreveu o produto por um dano não esperado, como ewaultado da ingestão de substâncias não informadas entre os ingredientes (BRAUN et al., 2009). 12 CAPÍTULO 2 Legislação brasileira sobre suplementos Em 2008, a Anvisa propôs modificação na classificação com a finalidade de incluir três novos grupos, além de excluir os ACRs. Com algumas modificações, a proposta foi oficializada após a publicação da Resolução no 18/2010, passando a identificar os suplementos como “Alimentos para Atletas”. Consideram-se atletas os praticantes de exercício físico com especialização e desempenho máximos, com o objetivo de participação em esporte que tenha esforço muscular intenso. Esses alimentos foram classificados em seis grupos. 1. Repositores hidroeletrolíticos para atletas: produtos destinados a auxiliar a hidratação. 2. Repositores energéticos/compensadores para atletas (mínimo de 90% CHO): produtos destinados a complementar as necessidades energéticas. 13 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA 3. Repositores proteicos para atletas (com até 50% de proteínas e 65% de Alto Valor Biológico): produtos destinados a complementar as necessidades proteicas. 4. Substituição parcial de refeições de atletas: produtos destinados a complementar as refeições de atletas em situações nas quais o acesso a alimentos que compõem a alimentação habitual seja restrito. 5. Creatina para atletas: produto destinado a complementar os estoques endógenos de creatina. 6. Cafeína para atletas: produto destinado a aumentar a resistência aeróbia em exercícios físicos de longa duração. 14 CAPÍTULO 3 Classificação e composição bioquímica dos suplementos Os suplementos hidroeletrolíticos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: » a concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar entre 460 e 1.150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio; » a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; » “isotônico” para os produtos prontos para o consumo com osmolalidade entre 270 e 330 mOsm/kg água; » “hipotônico” para os produtos prontos para o consumo com osmolalidade abaixo de 270 mOsm/kg água; » os carboidratos podem constituir até 8% (m/v) do produto pronto para consumo e não pode ser adicionado de amidos e polióis; » ainda quanto aos carboidratos, o teor de frutose, quando adicionada, não pode ser superior a 3% (m/v) do produto pronto para o consumo; » o produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; » o produto pode ser adicionado de potássio em até 700 mg/l; » o produto não pode ser adicionado de outros nutrientes e não nutrientes; » o produto não pode ser adicionado de fibras alimentares. Os suplementos energéticos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: » o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 75% do valor energético total proveniente dos carboidratos; 15 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA » a quantidade de carboidratos deve ser de, no mínimo, 15 g na porção do produto pronto para consumo; » este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; » este produto pode conter lipídios, proteínas intactas e/ou parcialmente hidrolisadas; » este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares e de não nutrientes. Os suplementos proteicos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: » o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 10 g de proteína na porção; » o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 50% do valor energético total proveniente das proteínas, e a composição proteica do produto deve apresentar PDCAAS acima de 0,9; » a determinação do PDCAAS deve estar de acordo com a metodologia de avaliação recomendada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação/ Organização Mundial da Saúde (FAO/WHO). » lembrando que PDCAAS (Protein Digestibility Corrected Amino Acid Score) significa escore aminoacídico corrigido pela digestibilidade da proteína, para a determinação de sua qualidade biológica; » este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; » este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares e de não nutrientes. Os suplementos para substituição parcial de refeições de atletas devem conter concentrações variadas de macronutrientes, obedecendo aos seguintes requisitos: » a quantidade de carboidratos deve corresponder a 50-70% do valor energético total do produto pronto para consumo; » a quantidade de proteínas deve corresponder a 13-20% do valor energético total do produto pronto para consumo, e a composição proteica do produto deve apresentar PDCAAS acima de 0,9; 16 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA » lembrando que a determinação do PDCAAS deve estar de acordo com a metodologia de avaliação recomendada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação/Organização Mundial da Saúde (FAO/WHO); » a quantidade de lipídios deve corresponder, no máximo, a 30% do valor energético total do produto pronto para consumo; » os teores de gorduras saturadas e gorduras trans não podem ultrapassar 10% e 1% do valor energético total, respectivamente; » este produto deve fornecer, no mínimo, 300 kcal por porção; » este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; » este produto pode ser adicionado de fibras alimentares. Os suplementos de creatina para atletas devem atender aos seguintes requisitos: » o produto pronto para consumo deve conter de 1,5 a 3 g de creatina na porção; » deve ser utilizada na formulação do produto creatina monoidratada com grau de pureza mínima de 99,9%; » este produto pode ser adicionado de carboidratos; » este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares. Os suplementos de cafeína para atletas devem atender aos seguintes requisitos: » o produto deve fornecer entre 210 e 420 mg de cafeína na porção; » deve ser utilizada na formulação do produto cafeína com teor mínimo de 98,5% de 1,3,7-trimetilxantina, calculada sobre a base anidra; » o produto não pode ser adicionado de nutrientes e de outros não nutrientes. Observações: a. Na Resolução no 18/2010, fica claro que outras substâncias podem ser autorizadas pela Anvisa desde que a segurança de uso, conforme Regulamento Técnico específico, e a eficácia da finalidade de uso para atendimento das necessidades nutricionais específicas e de desempenho no exercício sejam cientificamente comprovadas. 17 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA b. Todos esses alimentos para de atletas que trata a Resolução no 18/2010 podem ser comercializados em diferentes formas de apresentação, como tablete, comprimido, pó, gel, líquido, cápsula, barra, entre outras, desde que atendam aos requisitos específicos estabelecidos para cada categoria mencionada. c. Os aminoácidos de cadeia ramificada ficam temporariamente dispensados da obrigatoriedade de registro, e podem ser comercializados, enquanto não contemplados em regulamentação específica, obedecidos os seguintes requisitos: › cumpriros procedimentos previstos na Resolução no 23, de 15 de março de 2000, e suas atualizações para produtos dispensados de registro; › não serem indicados para atletas e não conter indicação de uso para atletas na designação, na rotulagem qualquer que seja o material promocional do produto; › utilizar a designação Aminoácidos de Cadeia Ramificada. Requisitos gerais dos suplementos para atletas: » os produtos devem atender aos Regulamentos Técnicos e a outras normas pertinentes de aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia de fabricação; › de contaminantes; › de características macroscópicas, microscópicas e microbiológicas; › de rotulagem geral de alimentos embalados; › de rotulagem nutricional de alimentos embalados; › de embalagens e equipamentos; › de informação nutricional complementar, quando houver. » é permitido o uso dos aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia previstos para os alimentos similares quanto à composição e à forma de apresentação, desde que atendam às restrições e às exigências constantes nos Regulamentos Técnicos pertinentes e não alterem a finalidade do produto; » os ingredientes utilizados devem ser seguros para o consumo humano. A adição de ingredientes que não são utilizados tradicionalmente como alimento pode ser autorizada, desde que seja comprovada a segurança de uso em atendimento a Regulamento Técnico específico; 18 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA » suplementos de vitaminas e minerais isolados – somente doses de 25 a 100% da DRI; » todos os produtos previstos nessa Resolução podem ser comercializados em conjunto, desde que atendam aos requisitos de designação, específicos, gerais e de rotulagem constantes do regulamento da Anvisa; » os produtos abrangidos por essa Resolução somente podem ser vendidos em unidades pré-embaladas na ausência do cliente e prontos para oferta ao consumidor; » para atendimento aos requisitos específicos previstos de cada categoria de suplemento, devem ser considerados os ingredientes provenientes do produto exposto à venda, sem considerar os nutrientes contidos nos ingredientes utilizados na preparação, quando for o caso; » as empresas devem dispor da documentação referente ao atendimento dos requisitos previstos neste regulamento para consulta da autoridade competente. Normas de rotulagem de suplementos » O tamanho da fonte utilizada para designação do produto deve ser, no mínimo, 1/3 do tamanho da fonte utilizada na marca. » Nos rótulos de todos os produtos previstos nessa resolução, deve constar a seguinte frase em destaque e negrito: “Este produto não substitui uma alimentação equilibrada e seu consumo deve ser orientado por nutricionista ou médico”. » Adicionalmente, nos rótulos de suplementos hidroeletrolíticos para atletas, podem constar as expressões: › “isotônico”, para os produtos prontos para o consumo com osmolalidade entre 270 e 330 mOsm/kg água; › “hipotônico”, para os produtos prontos para o consumo com osmolalidade abaixo de 270 mOsm/kg água. » Adicionalmente, nos rótulos de suplementos de creatina para atletas, devem constar as seguintes advertências em destaque e negrito: › “O consumo de creatina acima de 3g ao dia pode ser prejudicial à saúde”; › “Este produto não deve ser consumido por crianças, gestantes, idosos e portadores de enfermidades”. » A quantidade de creatina na porção deve ser declarada no rótulo do produto. 19 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA » Adicionalmente, nos rótulos de suplementos de cafeína para atletas, deve constar a advertência em destaque e negrito: “Este produto não deve ser consumido por crianças, gestantes, idosos e portadores de enfermidades”. » A quantidade de cafeína na porção deve ser declarada no rótulo do produto. » A rotulagem nutricional deve atender ao disposto em Regulamento Técnico específico com base na porção definida pelo fabricante. » Na rotulagem dos produtos comercializados em conjunto, devem constar: › a designação de cada produto, conforme as classificações individuais previstas no art. 4o, de acordo com os produtos que os compõem; › a lista de ingredientes de cada produto; › o número de registro de cada produto; › o prazo de validade correspondente ao do produto com menor prazo; › a informação nutricional de cada produto. » Nos rótulos dos produtos não podem constar: › imagens e/ou expressões que induzam o consumidor a engano quanto a propriedades e/ou efeitos que não possuam ou não possam ser demonstrados, referentes a perda e ganho de peso ou definição de massa muscular e similares; › imagens e/ou expressões que façam referências a hormônios e outras substâncias farmacológicas e/ou do metabolismo; › as expressões: “anabolizantes”, “hipertrofia muscular”, “massa muscular”, “queima de gorduras”, “fat burners”, “aumento da capacidade sexual”, “anticatabólico”, “anabólico”, equivalentes ou similares. 20 CAPÍTULO 4 Uso dos suplementos desportivos: prós e contras para a saúde e desempenho de atletas e desportistas Será possível obter ganhos adicionais no desempenho, por meio do consumo de suplementos esportivos? Há séculos, os atletas e desportistas buscam substâncias ou artifícios para melhorar seu desempenho físico. Essas substâncias são chamadas de ergogênicas, ou ergogênicos nutricionais. O que essa palavra significa? » Ergon = trabalho » Gennan = produzir Cafeína – era doping. Liberada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a partir de 2007, e no Brasil a partir da Resolução no 18 da Anvisa de abril e de 2010. » O produto deve fornecer entre 210 e 420 mg de cafeína na porção. » Suplementação de 2,0 – 6,0 mg/kg de peso/dia. Ex.: Atleta de 70 kg= de 140 a 420 mg/dia máximo. 1 xícara grande de café (150ml) tem 103 mg de cafeína. 21 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA 1 lata de Coca-Cola tem 45 mg. 1 barra de chocolate tem de 5 a 35 mg. Cuidados com efeitos colaterais: taquicardia (maior frequência cardíaca), sudorese, dependência, desconforto gastrointestinal, insônia, cefaleia, ansiedade, desidratação, tremores (doses acima de 15 mg/kg. Efeitos positivos esperados: alívio da fadiga, melhor desempenho. Creatina A produção e a venda foram autorizadas no Brasil pela Anvisa, a partir da Resolução no 18, de abril de 2010. » A creatina foi descoberta antes de 1830 pelo químico francês Michel Chevreul. » Em 1847, o químico alemão, Justus von Liebig, descobriu que a creatina estava presente na carne e teria efeitos no desempenho muscular. » Em 1970, ela foi utilizada como agente ergogênico pelos estados soviéticos e pelo bloco oriental. » Em 1990, iniciaram-se os estudos nos Estados Unidos e na Inglaterra. » A International Society of Sports tem uma posição padrão: “Creatina monoidratada é o mais efetivo suplemento nutricional ergogênico de forma geral, disponível para atletas em termos de aumento da capacidade de exercícios de alta intensidade e aumento de massa magra durante treinamento” (JSSN, 2007). » Melhora a potência e a resistência aeróbia, aprimorando a performance de atividades aeróbias em movimentos específicos de alta intensidade. Contribui para redução de gordura. Ex.: Sprints múltiplos numa atividade de ciclismo, velocistas de natação. » A creatina aumenta a fibra tipo II, que aumenta a força, por causar hipertrofia. 22 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA » A creatina aumenta a proteína contrátil (cadeia pesada de miosina). » Os produtos prontos para consumo que têm creatina devem conter de 1,5 a 3 g de creatina na porção. » É necessário aumentar carboidratos e proteínas (dentro de limites adequados) para ajudar na retenção da creatina. Suplementação recomendada: 0,03g/kg de peso/dia paraatletas, desde que não ultrapasse 3g/dia – “O consumo de creatina acima de 3g ao dia pode ser prejudicial à saúde” (Anvisa, Resolução no 18, de abril de 2010). » Alguns estudos sugerem que o uso de creatina deve ser descontinuado por um mês a cada dois meses de uso. Whey Protein Whey Protein é uma proteína do soro do leite, rica em beta-lactoglobulinas e alfa-lactoalbuminas. Foi desenvolvido na Dinamarca e possui alto valor biológico em proteínas, isto é, possui todos os aminoácidos essenciais e em proporção adequada. Entre esses aminoácidos, estão os de cadeia ramificada, chamados de BCAA (Branched Chain Amino Acids), dos quais o Whey Protein é uma boa fonte. Como suplementos proteicos para atletas, esse produtos devem conter, no mínimo, 10 g de proteína na porção, e o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 50% do valor energético total proveniente das proteínas. A prescrição desses suplementos proteicos deve fazer parte da somatória de proteínas a ser ingerida diariamente pelos praticantes de atividade física e, mesmo com a inclusão desses suplementos proteicos, a quantidade final total não contraria a quantidade máxima recomendada por dia para os diferentes tipos de atletas. a. Atletas de endurance: de 1,2 a 1,6g/kg/dia. b. Atletas de força e hipertrofia: de 1,6 a 1,8g/kg/dia, chegando a um máximo de 2,0g/ kg/dia, considerando-se a utilização proteica líquida. c. Desportistas recreativos: de 0,8 a 1,2 g/kg/dia. Suplementação de Whey Protein = 20 a 30 g/dia, somente em dias de treinamento ou provas, e sempre acompanhado do cálculo de gramas de proteínas máximas por quilo de peso, por dia. 23 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA Os vários tipos de Whey Protein são boas fontes de proteínas, como já dito, e possuem pouca ou nenhuma quantidade de gordura e carboidrato. Aumentam a massa magra, melhoram a síntese proteica muscular em exercícios de resistência sobre a força, além de reduzirem o desgaste físico. Em recentes estudos, a associação de Whey Protein com carboidrato/creatina mostrou-se ainda mais eficaz. 24 CAPÍTULO 5 Outros suplementos Abaixo, outros suplementos que você precisa saber um pouco mais, para compreender as verdades e mentiras desses produtos tão populares no meio esportivo. Glutamina A glutamina é o aminoácido mais abundante no sangue e nos tecidos, principalmente nos músculos. Em humanos, a glutamina representa cerca de 20% do total dos aminoácidos. Não é considerado um aminoácido essencial, porque pode ser sintetizado pelo organismo. Portanto, em algumas condições como esforço físico intenso, a concentração intracelular e plasmática desse aminoácido diminui em até 50%. Assim, quando a demanda é maior que a produção, estabelece-se um quadro de deficiência de glutamina. Glutamina x exercício A primeira evidência de que a glutamina possui propriedades metabólicas importantes surgiu dos trabalhos desenvolvidos por Eagle, em 1955, que demonstrou a importância para o crescimento e a manutenção das células. Durante o exercício físico, ocorrem estimulação e resposta imediata do metabolismo energético muscular, variando de acordo com a intensidade e a duração do esforço. O treinamento, por sua vez, também provoca adaptações, que são mais ou menos duradouras, dependendo dos mecanismos envolvidos. A intensidade e a duração do exercício são determinantes para a utilização da glicose, dos ácidos graxos ou aminoácidos, sendo o consumo da glicose e a produção de ácido lático predominantes. Já para os exercícios de longa duração e intensidade leve ou moderada são utilizados também os ácidos graxos e aminoácidos. Os aminoácidos de cadeia ramificada (valina, leucina e isoleucina) são, juntamente com a glutamina, os mais abundantes no tecido muscular e os mais importantes energeticamente. No papel modulador na síntese proteica, a glutamina parece estar relacionada à regulação metabólica desempenhada pelo estado de hidratação celular, promovida pela entrada do aminoácido na célula, que serviria como um estímulo para a síntese e/ou inibição da degradação proteica e do glicogênio muscular, resultando em maior hipertrofia muscular. Função imune Treinamentos intensos e exercícios prolongados, associados com períodos de recuperação insuficientes, são frequentemente relacionados à depressão da função imune e à maior incidência 25 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA de infecções das vias respiratórias. Isso ocorre devido ao fato de que os exercícios mencionados provocam diminuição na concentração plasmática de glutamina, não apenas durante o exercício, mas também por várias horas e até mesmo dias, durante a recuperação, pois o estresse induzido pelo exercício parece ser o fator de desequilíbrio entre produção/liberação e captação/utilização da glutamina. Em condições normais, a glutamina é produzida e liberada pelos músculos em quantidades excedentes àquelas utilizadas pelos linfócitos. Contudo, o treinamento pode induzir alterações no processo de síntese de glutamina nos músculos esqueléticos, diminuindo a disponibilidade desse aminoácido para as células do sistema imune, podendo provocar imunodepressão e tornando os atletas mais susceptíveis a processos infecciosos. O que pode ocorrer com esse processo é a alteração de alguns hormônios, como adrenalina, cortisol, hormônio do crescimento e b-endorfina. Suplementação Atualmente, pesquisam-se algumas alternativas de suplementação antes, durante e após o exercício, a fim de reverter a diminuição da concentração de glutamina que ocorre depois do esforço físico. Porém, a efetividade da suplementação com a glutamina pode ser questionada, pois 50% dela pode ser sintetizada pelo próprio organismo. Além disso faltam estudos que comprovem sua verdadeira eficácia. Ácido Linoleico Conjugado (CLA) O Ácido Linoleico Conjugado (CLA) refere-se a uma mistura de isômeros do ácido linoleico (18:2 n-6), em que as duplas ligações são conjugadas em vez de existirem na configuração interrompida metilênica típica (MOURÃO et al., 2005). O CLA foi descoberto na década de 1970, e, desde então, vem sendo estudado de forma constante e exaustiva quanto às suas supostas propriedades benéficas à saúde, em especial a redução da gordura corporal, o que tem sido associado ao controle das doenças crônicas degenerativas (SANTO-ZAGO; BOTELHO; OLIVEIRA, 2008). Ele é naturalmente encontrado em alimentos como carnes bovinas e de demais animais ruminantes (PARIZA; PARK; COOK, 2001), além de aves, ovos e leite e seus derivados, como queijos e iogurtes, desde que tenham sofrido algum tratamento térmico. Gorduras vegetais não são fontes significativas de CLA. No entanto, este pode ser produzido a partir do ácido linoleico encontrado no óleo de girassol, por um tratamento tecnológico especial. O CLA foi originalmente encontrado na gordura presente no leite, sob a forma de triglicerídeos e fosfolipídios. Há fortes evidências de que o leite humano seja uma fonte importante de CLA (HENDLER, 2001). O CLA não pode ser produzido pelo organismo humano e, apesar de estar presente em muitos alimentos, diversos fatores ambientais e relacionados ao estilo de vida podem bloquear, com facilidade, a enzima que transforma esse ácido graxo na sua forma biologicamente ativa (SMEDMAN; VESSBY, 2001). Em virtude disso, pesquisadores estão estudando diversas estratégias para 26 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA aumentar, de forma natural, a concentração de CLA em alimentos, entre elas, a modificação da ração de vacas com suplementação de ácidos graxos insaturados. Estudos O consumo de CLA vem sendo atualmente relacionado a efeitos anticarcinogênicos (LEE et al., 2005), antiaterogênicos e, para os indivíduos fisicamente ativos e atletas,agiria sobre a composição corporal, reduzindo o percentual de gordura e contribuindo para o aumento da massa magra. No entanto, essas ações do CLA vêm sendo estudadas, sobretudo em pesquisas experimentais com animais. São poucos, na realidade, os estudos com humanos. Há muitas controvérsias a respeito da suplementação de CLA, em razão dos diferentes efeitos fisiológicos citados por várias pesquisas (BOTELHO; SANTOS-ZAGO; REIS et al., 2005). O primeiro estudo duplo-cego placebo-controlado com suplementação de CLA em humanos (indivíduos normolipidêmicos) para investigar o efeito do CLA no metabolismo de lipoproteínas foi publicado em 2001 (NOONE et al., 2001). O efeito da suplementação (3 g/d), durante 8 semanas, com misturas isoméricas de CLA em diferentes proporções (50:50 ou 80:20) dos isômeros 9c,11t e 10t,12c em sujeitos normolipêmicos, resultou na observação de que a mistura isomérica 50:50 reduziu significativamente as concentrações de triacilgliceróis (-20%), enquanto que, para a mistura 80:20, não foi observado nenhum efeito. Novamente foi indicado o isômero 10t,12c como redutor dos níveis de lipídios. A concentração plasmática de triacilgliceróis tem sido identificada como um fator de risco para as doenças cardiovasculares (YANAGITA; NAGAO, 2008) e um importante contribuinte para a aterotrombose (CICHOSZ, 2007). Um estudo randomizado feito por Norris et al., com mulheres pós-menopausa, obesas e diabéticas tipo 2, observou que a suplementação de CLA durante 16 semanas obteve resultados benéficos, sendo que houve diminuição do peso corporal, IMC, percentual de gordura e ainda houve melhora no controle glicêmico das mulheres (NORRIS et al., 2009). Outro estudo feito com 53 indivíduos saudáveis observou que aqueles que consumiram 4,2 g de CLA por dia obtiveram redução de 3,8% de gordura, comparado com os indivíduos que não consumiram o CLA (SMEDMAN; VESSBY, 2001). Entretanto, apesar de alguns estudos demonstrarem resultados benéficos, outros têm demonstrado efeitos contrários. Uma série de estudos experimentais feitos em animais e estudos de revisão têm mostrado que a suplementação de CLA pode levar ao aumento do fígado, esteatose hepática, hiperinsulinemia e diminuição dos níveis séricos de leptina (WEST et al., 1998; DELANY et al., 1999; TSUBOYAMA-KASAOKA et al., 2000; KELLY, 2001; POIRIER et al., 2005). Assim, são necessárias mais pesquisas para elucidar a ação sobre a composição corporal e sobre os demais efeitos associados à suplementação de CLA. Vale lembrar que a Anvisa, desde 2007, com o intuito de proteger e promover a saúde da população, proibiu a comercialização do CLA no Brasil, até que os requisitos legais que exigem a comprovação de sua segurança de uso, seus mecanismos de ação e sua eficácia sejam atendidos (ANVISA, 2007). 27 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA Aminoácidos de cadeia ramificada = BCAA (Branched Chain Amino Acids) Há muito tempo, os aminoácidos de cadeia ramificada têm sido utilizados na nutrição clínica no tratamento de uma série de patologias. Hoje, muito se discute sobre seus possíveis efeitos ergogênicos destes na atividade física, bem como seus diferentes mecanismos de ação fisiológica. Os aminoácidos de cadeia ramificada, popularmente conhecidos como BCAAs, sigla derivada de sua designação em inglês Branched Chain Amino Acids, compreendem três aminoácidos essenciais: leucina, isoleucina e valina, encontrados, sobretudo, em fontes proteicas de origem animal (HENDLER & RORVIK, 2001). Apesar de esses aminoácidos não serem considerados a principal fonte de energia para o processo de contração muscular, sabe-se que atuam como importante fonte de energia muscular durante o estresse metabólico. Neste contexto, estudos têm mostrado que nestas situações a administração de BCAAs, particularmente a leucina, poderia estimular a síntese proteica e diminuir o catabolismo proteico muscular (BLOMSTRAND & SALTIN, 2001). Além dos possíveis efeitos ergogênicos no metabolismo proteico muscular, outros são sugeridos: retardar a ocorrência de fadiga central (NEWSHOLME & BLOMSTRAND, 2006), aumentar o rendimento esportivo (MADSEN et al., 1996), poupar os estoques de glicogênio muscular e aumentar os níveis plasmáticos de glutamina após o exercício intenso (BLOMSTRAND & SALTIN, 2001). BCAA e síntese proteica muscular Estudos com suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada demonstram que essa estratégia nutricional pode ser efetiva na promoção do anabolismo proteico muscular e na diminuição da lesão muscular pós-exercício. No processo de síntese proteica muscular, destaca-se, entre os aminoácidos de cadeia ramificada, a leucina, que induz a estimulação da fosforilação de proteínas envolvidas no processo de iniciação da tradução do RNA mensageiro, o que, desse modo, contribui para a estimulação da síntese proteica (ROGERO & TIRAPEGUI, 2007). Cabe ressaltar que a administração oral de leucina produz um ligeiro e transitório aumento na concentração de insulina plasmática, fato este que também estimula a síntese proteica (ROGERO & TIRAPEGUI, 2007). BCAA e fadiga central A fadiga decorrente do exercício físico é um fenômeno complexo cujas causas parecem depender do tipo, da intensidade e da duração do exercício (FITTS, 1994). Para efeito de discussão, a fadiga pode ser definida como um conjunto de manifestações produzidas por trabalho ou exercício prolongado, que tem como consequência redução ou prejuízo na capacidade funcional de manter ou continuar o rendimento esperado (ROSSI & TIRAPEGUI, 2000). Na fadiga central, os mecanismos relacionados à ocorrência seriam a hipoglicemia e a alteração plasmática na concentração de aminoácidos de cadeia ramificada e triptofano (NEWSHOLME & BLOMSTRAND, 2006). 28 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA O triptofano é um aminoácido essencial, tanto para homens quanto para animais. Entre suas diversas funções, está a de precursor do neurotransmissor serotonina, o que influencia no sono, no comportamento, na fadiga, na ingestão alimentar etc. O triptofano pode ser encontrado na corrente sanguínea na forma livre (10%) ou ligado a proteínas transportadoras (90%). Em exercícios de longa duração, o organismo passa a utilizar os lipídeos como fonte de energia, fazendo com que o triptofano possa circular em grande quantidade na forma livre pela corrente sanguínea. Assim, quando existe grande quantidade circulante deste aminoácido, possivelmente ocorre maior síntese do neurotransmissor serotonina, um dos grandes responsáveis pela ocorrência da fadiga central. A suplementação de BCAAs tem sido sugerida na hipótese de competir com o triptofano livre na corrente sanguínea, diminuindo, desse modo, a síntese de serotonina e, consequentemente, prevenindo a ocorrência de fadiga central (ROSSI & TIRAPEGUI, 2004). Outras evidências Não há evidências de que a suplementação com BCAAs exerça efeito significativo sobre o rendimento físico e o metabolismo de carboidratos, uma vez que os resultados dos estudos são conflitantes. Em contraste, foi verificado que a suplementação com BCAAs promove aumento significativo nos níveis plasmáticos de glutamina no período de recuperação (pós-exercício), que servem de substrato para a síntese deste aminoácido (BLOMSTRAND et al., 1995). Parece não haver necessidade para a ingestão de BCAAs, antes e durante o exercício, como estratégia para melhorar o desempenho esportivo. Contudo, a ingestão de aminoácidos, em particular de BCAAs, pode trazer benefícios de outra natureza, tais como a redução do catabolismo proteico durante o esforço e/ou durante a recuperação. O uso de BCAAs é considerado ético. Os principais efeitos adversos relatados com o uso do suplemento, especificamente com altas doses, são: desconforto gastrintestinal,como diarreia, a e comprometimento da absorção de outros aminoácidos (WILLIAMS, 1998). A Anvisa, por meio da Resolução no 18, de abril de 2010, assim decide. Os aminoácidos de cadeia ramificada ficam temporariamente dispensados da obrigatoriedade de registro, e podem ser comercializados, enquanto não contemplados em regulamentação específica, obedecidos os seguintes requisitos: I. cumprir os procedimentos previstos na Resolução no 23, de 15 de março de 2000, e suas atualizações para produtos dispensados de registro; II. não ser indicados para atletas e não conter indicação de uso para atletas na designação, na rotulagem e qualquer que seja o material promocional do produto; III. utilizar a designação Aminoácidos de Cadeia Ramificada. 29 NUTRIÇÃO ESPORTIVA │ UNIDADE ÚNICA Queimando gorduras (Fat Burners) L-CARNITINA Promessa Reduzir a gordura corporal pela ação termogênica e ação no metabolismo de lipídeos. Hipótese A L-carnitina é um tipo de aminoácido ligado a vitaminas do complexo B, cuja função seria facilitar a entrada de ácidos graxos na mitocôndria, para produção de energia. Os ácidos graxos são partículas de lipídio (gordura) da dieta e do tecido gorduroso do corpo e a mitocôndria é uma estrutura celular responsável pela produção de energia a partir de diversas substâncias, entre elas os ácidos graxos. De acordo com esta teoria, a suplementação com carnitina melhoraria o transporte de ácidos graxos para o interior da mitocôndria, aumentando, assim, a oxidação de lipídios durante a atividade física, ou seja, aumentaria o uso de gordura durante o exercício e, consequentemente, ocorreria uma diminuição da quantidade de gordura corporal. O que realmente acontece Segundo diversos estudos, esta teoria não foi confirmada. A necessidade de carnitina em adultos é satisfeita pelas fontes dietéticas e pela síntese endógena (feita pelo próprio organismo), não havendo necessidade de suplementação. Alguns indivíduos podem apresentar deficiência de L-carnitina (como recém-nascidos de baixo peso e atletas que praticam atividades físicas de longa duração, como maratonas), o que justificaria a suplementação. 30 UNIDADE ÚNICA │ NUTRIÇÃO ESPORTIVA Substâncias estimulantes, hormônios e fitoterápicos A Resolução no 18, de abril de 2010, da Anvisa aplica-se aos alimentos especialmente formulados para auxiliar os atletas a atender suas necessidades nutricionais específicas e auxiliar no desempenho do exercício. Este regulamento não abrange: » substâncias estimulantes, hormônios ou outras consideradas como doping, contidas na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (WADA) e/ou legislação pertinente; » substâncias com ação ou finalidade terapêutica ou medicamentosa, incluindo produtos fitoterápicos, bem como suas associações com nutrientes ou não nutrientes. As funções dessas substâncias são bem conhecidas, entretanto mais estudos são necessários para achar respostas para as seguintes perguntas » Qual é a dosagem segura? » Quais são os efeitos em longo prazo? » Quais são os efeitos colaterais? » Quais são os prováveis efeitos em alta dosagem? » Qual é a real necessidade de utilização e quando se deve efetivamente indicar? Nunca esquecer que uma dieta balanceada é, acima de tudo, a melhor orientação para a saúde e para um bem desempenho no esporte. O ideal é contar com uma equipe multidisciplinar para atender o atleta: médico, fisioterapeuta, nutricionista, educador físico etc. Assim, é possível analisar o atleta como um todo e decidir pela suplementação ou não. 31 Para (não) Finalizar O uso de suplementos cresce no mercado e milhares de pessoas buscam esse tipo de produto na esperança de mais saúde, beleza e rendimento. As promessas de resultados feitas pelos fabricantes geralmente não possuem, ou possuem pouco respaldo científico ou embasamento em pesquisas encomendas. A abundância de produtos disponíveis e a falta de controle fazem com que seja difícil estudar a eficácia e até mesmo a segurança dos suplementos. Muito do que é divulgado não passa de estratégias de marketing. Existe uma indústria milionária apoiando a venda desses produtos enquanto que a verba investida em pesquisa séria sobre os produtos é muito pequena ainda. Esse acúmulo crescente de acordo com Pereira (2003), de conhecimentos com consequente necessidade de atualização por parte do profissional de saúde, é indispensável para a realização de um processo de formação continuada que não almeje somente a aquisição de habilidades técnicas, mas também a melhora de suas potencialidades no meio de trabalho e no meio social. 32 Referências ARAÚJO, L. R.; ANDREOLO, J.; SILVA, M. S. Utilização de suplemento alimentar e anabolizante por praticantes de musculação nas academias de Goiânia, GO. Revista Brasileira de Ciência da Saúde. 2002; 0 (3): 13-18. ARAÚJO, A. C. M.; SOARES, Y. N. G. Perfil de utilização de repositores proteicos nas academias de Bélem, Pará. Revista de Nutrição 1999; 12 (1): 5-19. AYRANCI, U.; SON, N.; SON, O. Prevalence of nonvitamin, nonmineral supplement usage among students in a Turkish university. BMC Public Health. 2005; 47 (5): 1-10. BARBOSA, M. S. I. Avaliação da adequabilidade dos dizeres de rotulagem dos alimentos para praticantes de atividade física comercializados no Distrito Federal à legislação vigente. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública. Brasília, UnB. 2002. BAUME, N.; MAHLER, N.; KAMBER, M.; MANGIN, P.; SAUGY, M. Research of stimulants and anabolic steroids in dietary supplements. Scand. J. Med. Sci. Sports. 2006; 16 (1): 41–48. BRASIL. Portaria SVS/MS no 222, de 24 de março de 1998. Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Alimentos para Praticantes de Atividade Física. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 de março de 1998. BRASIL. Consulta Pública SVS/MS no 60, de 14 de novembro de 2008. Consulta Pública para que sejam apresentadas críticas e sugestões relativas à proposta de Regulamento Técnico que dispõe sobre alimentos para atletas, constante do Anexo desta Consulta Pública. Diário Oficial da União. Brasília, 14 de novembro de 2008. BRASIL. Resolução Anvisa n. 18, de 27 de abril de 2010. Dispõe sobre alimentos para atletas. Diário Oficial da União. Brasília, 27 de abril de 2010. BRAUN, H.; KOEHLER, K.; GEYER, H.; KLEINERT, J.; MESTER, J.; SCHANZER, W. Dietary Supplement Use Among Elite Young German Athletes. Int. J. Sport Nutr. Exerc. Metab. 2009; 19 (2): 97-109. CALFEE, R.; FADALE, P. Popular ergogenic drugs and supplements in young athletes. Pediatrics. 2006; 117 (S1): 577-589. CARVALHO, T.; RODRIGUES, T.; MEYER, F.; LANCHA, Jr. A.H.; DE ROSE, E. H.; NÓBREGA, A. C. L. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2003; 9 (2). 33 REFERÊNCIAS GEYER, H.; BREDEHO, M.; MARECK, U.; PARR, M.; SCHANZER, W. High doses of the anabolic steroid metandienone found in dietary supplements. Euro J. Sport Sci. 2003; 1 (3): 1–5. Adequabilidade dos Suplementos Alimentares. HALLAK, A.; FABRINI, S.; PELUZIO, M. C. G. Avaliação do consumo de suplementos nutricionais em academias da zona sul de Belo Horizonte, MG, Brasil. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva. 2007; 1 (2): 55-60. HERNANDEZ, A. J.; NAHAS, R. M.; RODRIGUES, T.; MEYER, F.; ZOGAIB, P.; LAZZOLI, J. K. et al. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileirade Medicina do Esporte. 2009; 15(3): 3-12. KAMBER, M.; BAUME, N.; SAUGY, M.; RIVER, L. Nutritional supplements as a source for positive doping cases? Int. J. Sport Nutr. Exerc. Metab. 2001; 11 (2): 258–263. KREIDER, R. B.; ALMADA, A. L.; ANTONIO, J.; BROEDER, C.; EARNEST, C.; GREENWOOD, M. I. S. S. N. Exercise & sport nutrition review: research & recommendations. Int. J. Sports Nutrition. 2004; 1 (1): 1-44. MAUGHAN, R. J.; KING, D. S.; LEA, T. Dietary supplements. Journal of Sports Sciences. 2004; 22 (2): 95-113. OLIVEIRA, P. V.; BAPTISTA, L.; MOREIRA, F.; LANCHA JÚNIOR, A. H. Correlação entre a suplementação de proteína e carboidrato e variáveis antropométricas e de força em indivíduos submetidos a um programa de treinamento com pesos. 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Sports Nutr. 2004; 1 (2): 1-6. 34 REFERÊNCIAS Outras referências BACARAU, R.F. Nutrição e suplementação esportiva. São Paulo: Phorte, 2005. CURI, Castro. Glutamina: metabolismo e aplicações clínicas e no esporte – Rio de Janeiro: Sprint, 2000. DAMASO, A. Nutrição e exercício na prevenção de doenças. Belo Horizonte: Medsi, 2001. GARRETT JR, W.E.; KIRKENDALL, D.T. A ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed, 2003. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado da Fisiologia Médica. São Paulo: Guanabara Koogan, 1992. LANCHA JR, A.H. Nutrição e metabolismo aplicados à atividade motora. Rio de Janeiro: Atheneu, 2002. McARDLE,W.; KATCH,F; KATCH,V. Nutrição para o desporto e o exercício. São Paulo: Guanabara Koogan, 2001. WILMORE, J.H.; COSTIL, D.L. Fisiologia do esporte e do exercício. Barueri (SP): Manole, 2001. WOLINSKY, I; HICKSON JR, J.F. Nutrição no exercício e no esporte. São Paulo: Roca, 1996. 35 ANEXO Anvisa – Resolução no 18/2010 – 28/4/2010 RESOLUÇÃO ANVISA No 18, DE 27 DE ABRIL DE 2010 DOU 28/04/2010 Dispõe sobre alimentos para atletas A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso da atribuição que lhe confere o inciso IV do art. 11 do Regulamento aprovado pelo Decreto no 3.029, de 16 de abril de 1999, e tendo em vista o disposto no inciso II e nos §§ 1o e 3o do art. 54 do Regimento Interno aprovado nos termos do Anexo I da Portaria no 354 da Anvisa, de 11 de agosto de 2006, republicada no DOU de 21 de agosto de 2006, em reunião realizada em 26 de abril de 2010, e considerando a competência da Anvisa para regulamentar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública, estabelecida na Lei no 9.782, de 26 de janeiro de 1999, e especialmente no inciso II do § 1o de seu art. 8o, que inclui os alimentos, inclusive bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas embalagens, aditivos alimentares, limites de contaminantes orgânicos, resíduos de agrotóxicos e de medicamentos veterinários entre os bens e produtos submetidos ao controle e à fiscalização sanitária pela Agência, adota a seguinte Resolução de Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente, determino a sua publicação: Art. 1o Fica aprovado o Regulamento Técnico sobre Alimentos para Atletas, nos termos desta Resolução. CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS Seção I Objetivo Art. 2o Este regulamento tem o objetivo de estabelecer a classificação, a designação, os requisitos de composição e de rotulagem dos alimentos para atletas. Seção II Abrangência Art. 3o Este regulamento se aplica aos alimentos especialmente formulados para auxiliar os atletas a atender suas necessidades nutricionais específicas e auxiliar no desempenho do exercício. 36 ANEXO Parágrafo único. Este regulamento não abrange: I – substâncias estimulantes, hormônios ou outras consideradas como doping contidas na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (WADA) e ou legislação pertinente; II – substâncias com ação ou finalidade terapêutica ou medicamentosa, incluindo produtos fitoterápicos, bem como suas associações com nutrientes ou não nutrientes. Seção III Definições Art. 4o Para efeito deste regulamento são adotadas as seguintes definições: I – atletas: praticantes de exercício físico com especialização e desempenho máximos com o objetivo de participação em esporte com esforço muscular intenso; II – suplemento hidroeletrolítico para atletas: produto destinado a auxiliar a hidratação; III – suplemento energético para atletas: produto destinado a complementar as necessidades energéticas; IV – suplemento proteico para atletas: produto destinado a complementar as necessidades proteicas; V – suplemento para substituição parcial de refeições de atletas: produto destinado a complementar as refeições de atletas em situações nas quais o acesso a alimentos que compõem a alimentação habitual seja restrito; VI – suplemento de creatina para atletas: produto destinado a complementar os estoques endógenos de creatina; VII – suplemento de cafeína para atletas: produto destinado a aumentar a resistência aeróbia em exercícios físicos de longa duração; VIII – PDCAAS (Protein Digestibility Corrected Amino Acid Score): escore aminoacídico corrigido pela digestibilidade da proteína para a determinação de sua qualidade biológica. CAPÍTULO II DA CLASSIFICAÇÃO E DESIGNAÇÃO Art. 5o É adotada a seguinte classificação para os produtos abrangidos por este regulamento: I – suplemento hidroeletrolítico para atletas; II – suplemento energético para atletas; III – suplemento proteico para atletas; 37 ANEXO IV – suplemento para substituição parcial de refeições de atletas; V – suplemento de creatina para atletas; VI – suplemento de cafeína para atletas. Parágrafo único. Os produtos devem ser designados conforme classificação definida neste artigo. CAPÍTULO III DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS Art. 6o Os suplementos hidroeletrolíticos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: I – a concentração de sódio no produto pronto para consumo deve estar entre 460 e 1.150 mg/l, devendo ser utilizados sais inorgânicos para fins alimentícios como fonte de sódio; II – a osmolalidade do produto pronto para consumo deve ser inferior a 330 mOsm/kg água; III – os carboidratos podem constituir até 8% (m/v) do produto pronto para consumo; IV – o produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; V – o produto pode ser adicionado de potássio em até 700 mg/l; VI – o produto não pode ser adicionado de outros nutrientes e não nutrientes; VII – o produto não pode ser adicionado de fibras alimentares. §1o Quanto ao tipo de carboidratos, referente ao inciso III, este produto não pode ser adicionado de amidos e polióis. §2o Com relação ao teor de carboidratos, constante do inciso III, o teor de frutose, quando adicionada, não pode ser superior a 3% (m/v) do produto pronto para o consumo. Art. 7o Os suplementosenergéticos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: I – o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 75% do valor energético total proveniente dos carboidratos; II – a quantidade de carboidratos deve ser de, no mínimo, 15 g na porção do produto pronto para consumo; III – este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; IV – este produto pode conter lipídios, proteínas intactas e ou parcialmente hidrolisadas; 38 ANEXO V – este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares e de não nutrientes. Art. 8o Os suplementos proteicos para atletas devem atender aos seguintes requisitos: I – o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 10 g de proteína na porção; II – o produto pronto para consumo deve conter, no mínimo, 50% do valor energético total proveniente das proteínas; III – este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; IV – este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares e de não nutrientes. §1o Quanto ao requisito de proteínas, referente ao inciso II, a composição proteica do produto deve apresentar PDCAAS acima de 0,9. §2o A determinação do PDCAAS deve estar de acordo com a metodologia de avaliação recomendada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação/Organização Mundial da Saúde (FAO/WHO). Art. 9o Os suplementos para substituição parcial de refeições de atletas devem conter concentrações variadas de macronutrientes, obedecendo aos seguintes requisitos: I – a quantidade de carboidratos deve corresponder a 50-70% do valor energético total do produto pronto para consumo; II – a quantidade de proteínas deve corresponder a 13-20% do valor energético total do produto pronto para consumo; III – a quantidade de lipídios deve corresponder, no máximo, a 30% do valor energético total do produto pronto para consumo; IV – os teores de gorduras saturadas e gorduras trans não podem ultrapassar 10% e 1% do valor energético total, respectivamente; V – este produto deve fornecer, no mínimo, 300 kcal por porção; VI – este produto pode ser adicionado de vitaminas e minerais, conforme Regulamento Técnico específico sobre adição de nutrientes essenciais; VII – este produto pode ser adicionado de fibras alimentares. §1o Quanto ao requisito de proteínas, referente ao inciso II, a composição proteica do produto deve apresentar PDCAAS acima de 0,9. §2o A determinação do PDCAAS deve estar de acordo com a metodologia de avaliação recomendada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação/Organização Mundial da Saúde (FAO/WHO). 39 ANEXO Art. 10. Os suplementos de creatina para atletas devem atender aos seguintes requisitos: I – o produto pronto para consumo deve conter de 1,5 a 3 g de creatina na porção; II – deve ser utilizada na formulação do produto creatina monoidratada com grau de pureza mínima de 99,9%. III – este produto pode ser adicionado de carboidratos; IV – este produto não pode ser adicionado de fibras alimentares. Art. 11. Os suplementos de cafeína para atletas devem atender aos seguintes requisitos: I – o produto deve fornecer entre 210 e 420 mg de cafeína na porção; II – deve ser utilizada na formulação do produto cafeína com teor mínimo de 98,5% de 1,3,7-trimetilxantina, calculada sobre a base anidra; III – o produto não pode ser adicionado de nutrientes e de outros não nutrientes. Art. 12. Outras substâncias podem ser autorizadas pela Anvisa desde que a segurança de uso, conforme Regulamento Técnico específico, e a eficácia da finalidade de uso para atendimento das necessidades nutricionais específicas e de desempenho no exercício sejam cientificamente comprovadas. CAPÍTULO IV DOS REQUISITOS GERAIS Art. 13. Os produtos devem atender aos Regulamentos Técnicos, e outras normas pertinentes: I – de aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia de fabricação; II – de contaminantes; III – de características macroscópicas, microscópicas e microbiológicas; IV – de rotulagem geral de alimentos embalados; V – de rotulagem nutricional de alimentos embalados; VI – de embalagens e equipamentos; VII – de informação nutricional complementar, quando houver. Parágrafo único. É permitido o uso dos aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia previstos para os alimentos similares quanto à composição e forma de apresentação, desde que atendam às restrições e exigências constantes nos Regulamentos Técnicos pertinentes e não alterem a finalidade do produto. 40 ANEXO Art. 14. Os ingredientes utilizados devem ser seguros para o consumo humano. A adição de ingredientes que não são utilizados tradicionalmente como alimento pode ser autorizada desde que seja comprovada a segurança de uso em atendimento a Regulamento Técnico específico. Art. 15. Os produtos previstos no art. 5o podem ser comercializados em conjunto, desde que atendam aos requisitos de designação, específicos, gerais e de rotulagem constantes deste regulamento. Art. 16. Os produtos abrangidos por este regulamento somente podem ser vendidos em unidades pré-embaladas na ausência do cliente e prontos para oferta ao consumidor. Art.17. Para atendimento aos requisitos específicos previstos nos arts. 6o ao 12, devem ser considerados os ingredientes provenientes do produto exposto à venda, sem considerar os nutrientes contidos nos ingredientes utilizados na preparação, quando for o caso. Parágrafo único. Este artigo não se aplica ao disposto no inciso II do art. 6o. Art. 18. Os produtos previstos no art. 5o podem ser comercializados em diferentes formas de apresentação, como tablete, comprimido, pó, gel, líquido, cápsula, barra, dentre outras, desde que atendam aos requisitos específicos estabelecidos nos arts. 6o ao 12. Art. 19. A empresa deve dispor da documentação referente ao atendimento dos requisitos previstos neste regulamento para consulta da autoridade competente. CAPÍTULO V DA ROTULAGEM Art. 20. O tamanho da fonte utilizada para designação do produto deve ser no mínimo 1/3 do tamanho da fonte utilizada na marca. Art. 21. Nos rótulos de todos os produtos previstos neste regulamento deve constar a seguinte frase em destaque e negrito: “Este produto não substitui uma alimentação equilibrada e seu consumo deve ser orientado por nutricionista ou médico”. Art. 22. Adicionalmente ao disposto no art. 21, nos rótulos de suplementos hidroeletrolíticos para atletas, pode constar a expressão: I – “isotônico” para os produtos prontos para o consumo com osmolalidade entre 270 e 330 mOsm/ kg água; II – “hipotônico” para os produtos prontos para o consumo com osmolalidade abaixo de 270 mOsm/ kg água. Art. 23. Adicionalmente ao disposto no art. 21, nos rótulos de suplementos de creatina para atletas devem constar as seguintes advertências em destaque e negrito: I – “O consumo de creatina acima de 3g ao dia pode ser prejudicial à saúde”; 41 ANEXO II – “Este produto não deve ser consumido por crianças, gestantes, idosos e portadores de enfermidades”. Parágrafo único. A quantidade de creatina na porção deve ser declarada no rótulo do produto. Art. 24. Adicionalmente ao disposto no art. 21, nos rótulos de suplementos de cafeína para atletas deve constar a advertência em destaque e negrito: “Este produto não deve ser consumido por crianças, gestantes, idosos e portadores de enfermidades”. Parágrafo único. A quantidade de cafeína na porção deve ser declarada no rótulo do produto. Art. 25. A rotulagem nutricional deve atender ao disposto em Regulamento Técnico específico com base na porção definida pelo fabricante. Art. 26.Na rotulagem dos produtos comercializados em conjunto conforme previsto no art. 15 devem constar: I – a designação de cada produto, conforme as classificações individuais previstas no art. 4o, de acordo com os produtos que os compõem; II – a lista de ingredientes de cada produto; III – o número de registro de cada produto; IV – o prazo de validade correspondente ao do produto com menor prazo; V – a informação nutricional de cada produto. Art. 27. Nos rótulos dos produtos não podem constar: I – imagens e ou expressões que induzam o consumidor a engano quanto a propriedades e/ou efeitos que não possuam ou não possam ser demonstrados referentes a perda de peso, ganho ou definição de massa muscular e similares; II – imagens e ou expressões que façam referências a hormônios e outras substâncias farmacológicas e/ou do metabolismo; III – as expressões: “anabolizantes”, “hipertrofia muscular”, “massa muscular”, “queima de gorduras”, “fat burners”, “aumento da capacidade sexual”, “anticatabólico”, “anabólico”, equivalentes ou similares. CAPÍTULO VI DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Art. 28. As empresas abrangidas por esta Resolução terão o prazo de 18 (dezoito) meses contados a partir da data de sua publicação para promover as adequações necessárias de seus produtos ao 42 ANEXO presente Regulamento Técnico, ficando proibida a comercialização dos produtos não adequados após o término do prazo. §1o A partir da publicação desta Resolução, os novos produtos devem atender na íntegra às exigências contidas neste regulamento. §2o Os processos de pedido de registro, além de suas petições secundárias, que se encontram na Anvisa ou nos órgãos de vigilância sanitária estaduais, distrital e municipais devem passar por exigência técnica para adequação a norma vigente. Art. 29. Os aminoácidos de cadeia ramificada ficam temporariamente dispensados da obrigatoriedade de registro, e podem ser comercializados, enquanto não contemplados em regulamentação específica, obedecidos os seguintes requisitos: I – cumprir os procedimentos previstos na Resolução no 23, de 15 de março de 2000, e suas atualizações para produtos dispensados de registro; II – não ser indicados para atletas e não conter indicação de uso para atletas na designação, rotulagem e qualquer que seja o material promocional do produto; III – utilizar a designação Aminoácidos de Cadeia Ramificada; IV – cumprir as exigências estabelecidas nos itens 4.3.5; 9.1.2.2; 5; 6; 7; e, Anexo B da Portaria SVS/ MS no 222/1998. Parágrafo único. Os produtos com registros atualmente vigentes terão o prazo de 18 (dezoito) meses para se adequarem aos requisitos acima. Art. 30. O descumprimento das disposições contidas nesta Resolução e no regulamento por ela aprovado constitui infração sanitária, nos termos da Lei no 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das responsabilidades civil, administrativa e penal cabíveis. Art. 31. Fica revogada a Portaria SVS/MS no 222, de 24 de março de 1998, à exceção dos itens 4.3.5; 9.1.2.2; 5; 6; 7; e Anexo B no que se refere aos aminoácidos de cadeia ramificada. Art. 32. Nos itens 2.2.2 e 4.2.2 do Anexo da Portaria no 29, de 13 de janeiro de 1998 e no Anexo II da Resolução RDC no 278, de 22 de setembro de 2005, onde se lê “alimentos para praticantes de atividade física”, leia-se: “alimentos para atletas”. Art. 33. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. DIRCEU RAPOSO DE MELLO Fonte: Diário Oficial da União.
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