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Georges Lapassade - As fases A, B e C

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I r I
 1
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 J/
 
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GEORGES LAPASSADE
 
.... ! 
a reprodueao 
pierre bourdieu e jean-claude passeron 
educacao e d~senvolvimento social no brasil 
luiz antonio cunha 
a escola esta morta 
everett reimer 
grupos, organizacoes e instituicoes 
georges lapassade 
a seqtur 
eduCa~o: moderriizacao ou dependencia? 
pedro benjamim garcia . 
GR"UPOS,
 
ORGANIZAOOES
 
E INSTITUICOES
 
Traducao de:
 
HENRIQUE AUGUSTO DE ARAUJO MESQUlTA
 
Esta cbra tot daada par: 
¢~'~J 
-_.. -=--"-.. · ·i~-- _} 
1'.1l0TECJ. se 
Biblioteca MA-PUC/SP Sf TOR BE ?OS­
8IU,i) UAC:40 II. 
1111111111 \~I\\III"11111l110017e601	 La '",!_.~ ~ _ -J 
Livraria Francisco Alves Editora S.A_ 
k 
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Serle EDUCA<;AO EM QUESTAO 
Coord enaciio	 pedro benjamim garcia 
zaia brandao 
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A descoberta dos problemas dos grupos, das organiza­
'l'=oes e das instituicoes, as funcoes de psicossoci6Iogo e de 
conselhos de organizadores nas empresas, a definicao das 
empresas como organizacoes e nao apenas como instituicoes 
econornicas: eis urn movimento que nos parece comecar no 
infcio do seculo xx. Na realidade, ele tern os seus precur­
sores e modifica -se com a hist6ria. E precise situar a "era 
dos organizadores" e 0 "capitalismo de organizacao" no 
conjunto do mov.rnento hist6rico . 
A fase A 
No curso de uma primeira fase - a Iase A , para re­
tornar aoui 0 modelo de Touraine - a fase da sociedade 
industrial e capitalista no seculo XIX, as organizacoes de 
operarios fundarn-se nos oftcios, e isso apesar do gran­
de desenvolvimento do trabalho parcelado, Operarios pro­
fissionais, polivalentes, organizam os sindicatos e desenvol­
vern reivindicacoes de gestae direta ("a min a para os mi­
neiros"). A ideologia anarco-sindicalista e hostil a a~ao no 
nivel "politico", parlamentar. Nessas organizacoes, nao se 
coloca 0 problema da burocracia. No entanto, 0 proleta­
41 
riado do seculo XIX, em seu conjunto, 1130 e "represen­
tado" por meio de organizacoes de massa. 
Nesse momento, sao elaboradas as primeiras grandes 
doutrinas sociologicas e politicas da nova sociedade . E pre­
ciso evocar aqui as grandes correntes que dominam sem­
pre 0 nosso pensamento politico e que constituem., ainda 
hoje em dia, os parametres de nossa ayao e .de nossa re­
flexao. 
Pode-se ver em Fourier 0 verdadeiro precursor da psi­
cossociologia dos pequenos grupos e mesmo das tecnicas de 
,>'. 
grupo. E essa, pelo menos, a tese que urn psicossociologo, 
Robert Pages, estabeleceu a partir de uma analise rigorosa 
do movinrento de Fourier, considerado como portador de 
um projeto de experiencia social e politica no nivel em que, 
atualmente, uma tal experiencia e possfvel: no nivel dos pe­
quenos grupos e das microorganizacoes sociais. Pois 0 gru­
po, no sentido de Fourier, vai ate a dimensao de uma 
empresa , 
Fourier e profundamente diretivo , Ele propde 0 plano 
rigoroso e sistematico de uma sociedade socialista na qual, 
no que toea ao sistema, nada e deixado a improvisacao , as 
grupos de base (de fonp.a~o, de producao) sao rigorosa­
mente integrados num sistema institucional que assegura a 
sua coordenacao e as suas trocas. 
Antes de Lewin e da dinamica de grupo, antes dos es­
pecialistas em cibernetica social, Fourier quis tomar-se 0 
Newton de uma sociedade de pequenos grupos, analisar a 
ordem, ou melhor, a desordem da sociedade industrial nas­
cente com referencia a urn sistema possfvel de "harmonia", 
organizado cientificamente a partir das paixoes do homem 
e, de maneira mais geral, da sua psicologia. Esse sistema 
social de interacao complexa e uma "interpsicologia" que 
deixa lugar para as necessidades, nao repressiva, apesar da 
subordinacao do sistema aos pIanos estabelecidos por Char­
les Fourier. Ja e a ambicao "sociocratica", como dim Au­
gusto Comte, a Human. engineering, 0 psicossociologo-rei. 
Isso dito, a obra de Fourier esta cheia de antecipacoes 
daquilo que propora, um seculo rnais tarde, a psicologia dos 
grupos. Ele mostra, por exemplo, que as mudancas sociais 
e politicas sao, necessariamente, solidarias: s6 a organizacao 
coletiva e coletivista da sociedade permitira uma pedagogia \, de grupo: "nesses grupos, os mais velhos influenciam os 
mais jovens, e educam-se respectivamente para as funyoes 
42 
uteis, em virtude do impulso dado pelas tribos superiores, as 
tribos dos querubins e dos serafins, que ja fazem parte da 
harmonia at iva" . 
Proudhon criticou severamente a "utopia" de Fourier. 
Ele escreve: "Uma ideia da escola dos falansterios que me 
parece inf'eliz foi acreditar que atrairia os hornens se lhes 
fosse permitido apenas instalar a sua tenda e construir urn 
primeiro falansterio modelo. Suponha-se que uma primeira 
tentativa, mais ou menos bem sucedida, acarretaria urna se­
gunda, e que, paulatinamente, as populacoes crescendo 
como bola de neve, as 37 mil cornunas da Franca se veriam, 
urn dia, metamorfoseadas em grupos de harmonia e fa­
lansterios. Em polftica como em economia social, a epige­
nese, como dizem os fisiologistas, e urn principio radical­
mente falso , Para mudar a constituicao de um povo, e pre­
ciso 'agir simultaneamente sobre 0 conjunto e sobre cada 
parte do corpo politico; nunca sera demais lembra-Io" . 
Essa crftica anuncia a critica que fazem hoje em dia 
certos sociologos aos psicossociologos: "denuncia-se" 0 erro 
de uma "revolucao" pelos grupos , a revolucao sociornetrica 
de Moreno, 0 "seminario" de Lewin, ern nome da condicao 
'previa necessaria, que e a rnudanca social no seu conjunto . 
No entanto, quando Proudhon reclama "uma soberania efe­
tiva das massas trabalhadoras, reinantes, governantes", ele 
reencontra os sistemas dos grupos e, por sua vez, e criti­
cado ironicamente por Marx . Segundo 0 sociologo Georges 
Gurvitch, Proudhon anuncia melhor do que Marx a auto­
gestae social, ou seja, 0 sistema generalizado e descentrali­
zado dos grupos. Para Marx, no entanto, tudo isso repre­
senta ern Proudhon apenas uma construcao purarnente 
abstrata, e sem fundamento. 0 pensarnento dos grupos e 
a "miseria da filosofia": "da mesma forma que do movi­
mento dialetico das categorias simples nasce 0 grupo, do 
movimento dialetico dos grupos nasce a serie, e do movi­
rnento dialetico das series nasce 0 sistema inteiro .. . Que 0 
leitor nao se assuste com essa rnetaffsica e toda a sua rnon­
tagern de categorias, de grupos, de series e de sistemas". 
Uma corrente tecnocratica corneca com Saint-Simon. 
Para ele, depois do seculo das revolucces, nos entramos no 
seculo da orgaaizacao . Os problemas atuais da organizacao 
encontram aqui a sua fonte: Saint-Simon anuncia a substi­
.43 
1iJj~0 dos "politicos" pelos "gerentes" , A partir de 181~ . 
ele publica urn "periodico": 0 organizador, que e 0 ante­
passado das revistas rnodernas sobre administracao de 
ernpresas. 
Augusto Cornte, em seguida, prolonga essa doutrina, 
quando define 0 papel dos "sociocra tas" que, com base ne . 
sociologia nascente, poderao ajudar os gerentes da socie ­
dade industrial na ordenacao dessa sociedade. . 
Todo urn aspecto da sociologia e da psicossociologia 
"intervencionista" liga -se diretarnente a essas doutrinas da, .. 
tecnocracia e da "sociocracia" , Comte atribui aos sociocra­
tas a missao de transformar os clubes revolucionarios em 
lugares onde serao analisados e serao obieto de tratamento­
os conflitos da sociedade industrial , onde 0 proletariado­
aprendera a participar, a ocupar 0 seu lugar na vida da 
nova sociedade . . 
Augusto Comte percebe urna certa verdade nas doutri­
nas socialistas de sua epoca: elas mostram 1'1 sua maneir aque a humanidade, enfim chegada a seu estado adulto, in­
troduzida na idade positiva: conhecera logo a "cooperacao 
universal" . Ele nota uma "orieritacao espontanea" do pro­
letariado no sentido da sociabilidade efetiva. orientacao essa 
que se manifesta, em particular , na "pressa digna de regis­
tro com que a nossa populacao forma c1ubes em todos os 
lugares, sern qualquer excitacao especial. e apesar da au­
senoia de qualquer entusiasmo verdadeiro". Tais sao os clu­
bes revolucionarios e, mais perto de nos, as associacces 
operarias , 
Esses clubes deverao, no entanto, perder, na epoca po­
sitiva, a sua funcao negativa e critica para integrar-se na 
nova ordern espiritua1; "eles constituirao, entao, 0 principal 
ponto de apoio para a reorganizacao espiritual. . . No fun­
do, o clube destina-se sobretudo a substituir provisoriamente 
a igreja, ou melhor, a preparar 0 novo temple". A esses 
clubes, " temples do futuro", opoem-se as doutrinas socia­ .J. 
listas desenvolvidas por todos os "perturbadores ocidentais". 
o positivismo atribui-se como missao, assim, substituir a 
agitacao pela cooperacao, a polftica revolucionaria pela nova 
religiao cujos sacerdotes serao os sociologos, ou, como diz 
muito exatamente Augusto Comte, os sociocratas. 0 seu 
papel ser-a, portanto, educar 0 proletariado nos pequenos 
" grupos que se organizam espontaneamente, e destruir, a() 
44 
... 
nnesmo tempo, as perigosas utopias sociais qu e consistem em 
"'recorrer aos meios politicos quando devem prevalecer os 
aneios morals" . 
o que se deve sobretudo terner nessas utopias, no en­
:tanto, e a sua hostilidade a organizacao hierarquizada da 
producao e da sociedade: "essa utopia opoe-se tambern as 
Jeis sociologicas pelo fato de que ignora as constituicoes na­
nurais da industria moderna lie onde gostariam de arasiar 
-os chefes indispensaveis . Ass irn como nao ha exercito sem 
'Soldados, nao ha exercito sem oficiais; essa nocao elementar 
-convem tanto 1'1 ordem industrial quanta a ordem militar .. . 
Nenhuma grande operacao seria poss lvel se cada execu tante 
-devesse tambem ser administrador, ou se a direcao fosse 
vagarnente confiada a uma comunidade inerte e irresponsa­
vel" , escreve tarnbern Comte em seu Discurso sabre 0 Con­
junto do positivismo. 
Marx pensa, ao contra rio , que nao se trata de organi­
:zar a sociedade capitalista mas de trabalhar para que ela 
desapareca . Para ele , a analise social nao tern como fina­
Iidade fundamentar uma ac;:ao "sociocra tica" : ela deve ser­
vir 0 proletariado em sua luta para destruir a sociedade de 
classe e para por termo a ac;:ao pol ttica . Os clubes devem­
s e transformar, nao em "seminaries" de educacao, mas em 
partidos do proletariado que podem tirar proveito da luta 
'politica para chegar ao poder, para por fim a separacao 
-entre poder e sociedade. 
Marx compreendeu a irnportancia da palavra social e 
da discussao em grupo : "Quan te a vitoria final das propo­
sicoes enunciadas no Manifesto Marx a esperava unica­
mente do desenvolvirnento intelectual da classe operaria, de­
:senvolvimento que dever ia necessariamente resultar da acao 
-comum e da discussao (Engels , Ultimo nrefac io ao Mani­
festo comunistay , Necessitamos compreender hoje em dia a 
importancia atribu ida por Marx e Engels a discussao , a au­
toforrnacao do proletariado , a consciencia social e a critica 
(las ideolog' as . 
Nao ha e nao pode haver lugar na obra de Marx, tendo 
em vista os fundamentos de suas analises, para uma teoria 
positiva dos grupos e das organizacoes, 0 autor do Mani­
festo e do Capital mostra, ao contrario, que a sociedade in­
45' 
- - - -- _._­
.:;
.... 
A fas e B 
nas em todas as esferas da vida social. Um trabalho diale­
tieo, no entanto, prossegue na existencia social para essa 
dissolucao necessaria. Assim, 0 proprio esfacelamento do 
dustrial e 0 reino da burguesia dissolvem as relacoes huma­
grupo familiar prepara uma forma nova, 
c;:oes dissolvidas: "na historia, assim como 
decomposicao e 0 laboratorio da vida . . . " 
Esfacelaram-se tambem os grupos de 
lhos offcios , A "cooperacao" - titulo de 
Capital - nas ernpresas modernas implica 
futura, das rela ­
na natureza, .a 
trabalho des ve­
urn capitulo do ' 
apenas urna "so­
lidariedade" mecanica e de justaposicao: e 0 trabalho em 
migalhas, em que cada urn executa apenas uma parte 
muito especializada na preparacao dos objetos fabricados; 
os "grupos" sao apenas OS produtos cia divisao do trabalho 
e da concentracao industrial dos operarios nas industries­
casernas. A Comuna de Paris ja anuncia, segundo Marx, 
no entanto, 0 self government dos operarios, a autogestao 
dos trabalhadores como base do sistema social a se instalar, 
A revolucao social restabelecera, num nfvel superior, a ver­
dadeira cooperacao . A condicao previa e. necessariamente. . 
a transformacao completa do sistema, a mudanca radical na 
organizacao capitalista de producao. 
Os textos mais avancados dos te6ricos marxistas desen­
volvem aquilo que, na obra de Marx, e apenas esbocado. : 
Lenin, por exemplo, descreve uma sociedade futura de par­
ticipacao integral de todos e de cada um nas .decis6es: "a , 
cozinheira deve poder governar 0 Estado": na pratica, .no, 
entanto, ele mantern 0 modelo autoritario na organizacao 
da producao, nas relacces de producao, contra a oposicao 
operaria que reclama, desde 1921, a autogestao operaria , 
Trotski une-se a Lenin nesse ponto, apesar de sua capaci- . 
dade de analise microssocial que se pode ver, em particular, 
em Cours nouveau, em que e desenvolvida, antes de sua 
existencia, uma verdadeira sociometria politica das relacoes 
dinamicas, no Partido e no Estado, entre a burocracia e,·os 
grupos fracionarios. Resta que , para Marx e para os mar­
xistas, a sociedade dos grupos e colocada num futuro dis- : 
tante. Ela nascera da decadencia do Estado e, portanto, da 
burocracia. Ela supoe uma sociedade sem classes. ' 
46 
.1 
Na fase B, a partir do comeco de nosso seculo, as gran­
des ernpresas industriais se burocratizam; as teorias classi­
cas da organizacao (Taylor, Fayol .. . ) exprimem e justifi­
cam essa burocratizacao , 0 pr6prio ato do trabalho, da 
producao torna-se "burocratizado" polo taylorismo: 0 rnovi-' 
mento dos gestos produtores e calculado, medido, decidido , 
em outro lugar, nbs escrit6rios de estudos . A alienacao e 
levada a seus limites mais extremes. A separacao esta em 
toda parte. 
As organizacdes de trabalhadores sao a imagem con­
traria e complementar das burocracias da producao. 0 ope­
rario parcelar, fim de um processo que comecou com a rna­
nufatura, 'e nao ontern, delega todos os poderes para defen­
de-le, para representa-lo, para falar em seu nome a "porta-: 
vozes", a organizacoes que tern os seus membros permanen­
tes, as suas burocracias, As decisoes de luta sao tomadas 
em aparelhos que escapam ao controle dos que os elegeram, 
R Michels descreve, desde 1912, a "lei de aco" dessas oli­
garquias. Urn pouco mais tarde, a partir de 1917; esse de­
bate se amplia, no interior do movirnento marxista. A ques­
tao da burocracia torna-se urn problema fundamental da or ': 
ganizacao e do poder , 
. Ao mesmo tempo , a partir de 1924. urn outre movi­
mento, este no interior das ciencias sociais, comeca a cri­
tica das burocracias industriais e procura os rnetodos de tra­
tamento , 0 nascimento da sociologia industrial pode defi­
nir-se, segundo a expressao de B. Mottez, como um mani­
festo antiburocratico , A mesma observacao e valida para 
descrever e explicar 0 nascimento de psicossociologia na in­
dustria a partir des problemas da fase B , 
Em 1924, Elton Mayo foi consultado pela direcao da 
West~m Electric Company para examinar certos problemas 
relacionadn, COm 0 rendirnento na producao , No curso -de 
um primeiro periodo, ele observa uma equipe .de operarias 
forade sua oficina e trabalhando num local especialmente 
escolhido. Urn assistente vai seguir', como observador, (} 
comportamento quotidiano dessas openirias durante dois 
anos; a partir desses resultados, procurar-se-a compreender 
47 
11 1
os fatores que influem sobre 0 trabalho delas no sentido de 
aumentar 0 rendimento , Modificam-se certas condicoes rna­
teriais de tr abalho, e 0 rendimento aumenta; em seguida, au ­
mentam-se os salaries, e 0 rendimento cresce tambern; 
obtem-se urn resultado analogo, diminuindo 0 rnimero de ho­
ras de trabalho, ou concedendo uma pausa no decorrer da 
-qual se lhes sirva cha , Todas essas melhorias parecern, 
assim, favoraveis , 
Volta-se em seguida as condicoes iniciais , e verifica-se 
-que 0 rendimento melhorou ern relacao ao que era antes da 
intervencao , Torna-se entao necessario descobrir urn fator 
de rendimento que niio havia sido, ate entao, considerado . 
Esse fator e 0 grupo, Essas operarias tern, entre elas, boas' 
relacoes pessoais que facilitarn 0 seu trabalho; sao essas re­
lacoes " informais" , que persistem atraves de certas mudan­
-cas na organizacao formal, oficial, do trabalho, que desem­
penham urn papel positive. 
Procede-se entao a uma segunda experiencia na mesma 
-empresa , Numa oficina trabalham 9 rnontadores, 3 soldado­
Tes e 2 veriflcadores . 0 trabalho dos soldadores subordina-se 
tecnicamente (de acordo com a divisao tecnica do trabalho) 
:ao dos montadores: os primeiros devem esperar que os blo­
cos sejarn: preparados pelos montadores para soldar os fios 
nos blocos; : depois disso, poderao intervir os verificadores . 
'Mais uma vez os operarios obtern progressivamente uma 
promocao de sua competencia tecnica e 0 salado liga-se a 
. produ~ao coletiva, 
. A observacao permitiu registrar, nessa equipe, urn co­
-digo impllcito de existencia ern comum: nenhum operario 
procurou, ' individualmente, aumentar os seus lucros . Por 
outro lado, a equipe funcionou como se ela mesma se im­
-pusesse certas normas que nao deveriam ser ultrapassadas: 
existia uma certa solidariedade operaria atualizada numa 
.auto-regulacao da equipe - urn sistema "informal" que era 
necessario levar em consideracao para compreender correta­
mente os mecanismos de producao , Uma analise sociome­
irica rnais fina permitiu cornpreender outros elementos: a 
-existencia de subgrupos diferenciados ern seu comporta­
mento, f'enomenos de ajuda reciproca no trabalho com cer­
'tas ,mu dan~as de postos. Em resuino, foi possivel anali3ar a 
'vida social da equipe, com os' seus jogos, os seus compor­
1a'.mentos na' produ~ao. as suas rela~oes~ os seus conflitos 
-48 ' 
internos, seu sistema de papeis , Essa experiencia coincide 
assim com 0 nascimento de uma psicossociologia industrial 
centrada na analise dos grupos de trabalho. 
A partir de entao, coloca-se nitidamente 0 problema 
das relacoes humanas na empresa; tern origem af 0 movi­
mento das Human. relations. Esse movimento vai, prirneira­
mente, encontrar a corrente sociometrica, e, mais tarde, urn 
outro oriundo do laborat6rio e da pesquisa, 0 movimento 
da dinamica do grupo. 
Ja se pede observar, com Alain Touraine, que a psi­
cossociologia industrial, desde 0 seu nascimento, definiu a 
empresa como uma organizacao, isto e, urn sistema de redes , 
de status e papeis . 0 que significa ao mesmo tempo urn 
progresso e urn risco : 0 risco e 0 de fechar 0 grupo ­
empresa sobre si mesmo, sem ver que ele esta situado num 
sistema social. Este progresso e esse risco tornar-se-ao pre­
cisos Com 0 desenvolvimento da sociometria , 
Por volta do fim da Pr imeira Guerra Mundial, J. L. 
Moreno, psiquiatra de origem rornena, organizou em Viena 
uma escola de arte drarnatica inspirada, em particular, nas 
pesquisas de Stanilavsky. Esse empreendimento torna-se ra ­
pidarnente uma escola de improvisacao que escolhe alguns 
de seus temas e de seus enredos na atualidade a mais quo­
tidiana, na politica, nas noticias de jornal. 
Urn dia, Moreno propos a uma de suas alunas, Bar­
bara, abandonar os papers de ingenua que habitualmente re­
presentava para desempenhar 0 papel de uma prostituta 
vulgar e agressiva implicada numa ocorrencia policial. 0 
companheiro da atriz constatou entao uma melhoria em 
seu comportarnento privado . Moreno atribuiu essa melhoria 
a mudanca de papeis , 0 fato de representar esse novo papel 
teve conseqiiencias terapeuticas, ou, como 0 diz Moreno, 
catarticas , 0 termo e tornado de emprestimo a teoria aris­
toteliea do teatro; mas, enquanto 0 fil6sofo grego atribuia 
ao teatro essa funyao catartica para 0 publico; Moreno des­
cobre que a catarse pode exercer-se sobre os pr6prios ato­
res. Efetuou-se assim a passagem do "teatro da esponta­
neidade" ao psicodrarna, da arte dramatica a psicoterapia. 
No entanto, atraves desse progresso, p ermanece 0 tema 
da espontaneidade . Moreno atribui ao psicodrama a missao 
de restaurar a espontaneidade perdida em nossa civiliza9ao. 
Espontaneidade das origens e da inf§.ncia: na cena psicodra­
49 
II'I
 
matica, os atores do drama encontram novamente urn esta­
do de graca analogo ao do nascimento, tal como 0 com­
preende Moreno: nascimento de urn ser inacabado e cria­
dor, em razao mesmo de ser inacabado. 0 psicodrama e­
volta a infancia, a seu genic, desreificacao dos papeis so­
ciais petrificados, impulso criador reencontrado, corn a ca­
pacidade de inventar incessantemente solucoes adaptadas as. 
dificuldades da vida quotidiana. ' , 
No comeco da sessao, eis 0 grupo, os "clientes", 0 psi­
codramatista e seus assisfentes, algumas- vezes urn publico 
pareicipante . 0 - primeiro momento e 0 de uma " fusao" no 
gruw, da criacao de urn clima. , do warming up. E 0 co­
meco.inecessario que .permitira a . procura progressiva de ' um 
tema que interesse a todos: em seguida, sobre esse tema, 
elabora-se urn enredo: esse enredo servira de trama para a: 
improvisacao dramatica, memento culminante da sessao, se­
guide enfim por uma avaliacao feita pelo psicodramatista, 
ou COm a sua ajuda, do que foi manifestado. Tal e a curva 
ideal de uma sessao de urn "psicodrama"; pois convir-se-a 
chamar de psicodrama 0 conjunto de sessoes que consti­
tuem 0 tratamento de urn caso, como, por exernplo, a se­
paracao de urn casal, assim como uma "psicanalise" e o­
conjunto de sessoes que constituem urn tratamento, uma 
"cura" psicanalitica . Urn conjunto de sessces, portanto, e, 
no curso de certas sessoes, uma improvisacao falada e de 
acao: 0 psicodrama nao se limita, como se ve, a represen­
tacroes de papeis, a sketches de intencao terapeutica , Ele e' 
uma coisa cornpletamente diferente e constitui, em par­
ticular, uma tecnica de grupo. Ele funciona como uma psi­
coterapia de grupo e e por isso que Moreno reivindica ­
tambern 0 titulo de fundador das terapias de grupo , 
Moreno tornou-se, enfim, 0 fundador da sociometria . 
Emigrado para os Estados Unidos, Moreno abordou em 
outro plano, mais geral, 0 problema dos grupos. Ele obser­
vava, ja nos jardins de Viena, os grupos de criancas; e ja 
o psicodrarna orientava as suas reflexoes para as dificulda­
des das relacoes sociais. Ocupando-se de urn campo de pes­
soas deslocadas, ele observou que essas pessoas adaptavam-se 
mais facilmente a situa9fio quando eram autorizadas a agru­
par-se segundo as suas escolhas: 0 resultado de tal obser:.. 
vacrao encontra-se, sistematizado, no teste das "escolhas so­
ciometricas", que consiste em interrogar os membros de um 
50 
grupo ou de uma organizacao quanto aos parceiros que dese­
jariam escolher para a realizacao de certas tarefas, ou para 
os seus lazeres. A partir dos resultados assim obtidos, pode-se 
proceder a uma analise do grupo, identificar os Iideres, si­
tuar os que sao rejeitados, os subgrupos, as redes. 0 socio­
grama e a representacao grafica dessa organizacao intema 
do grupo. E preciso distingui-lodo organograma, que e a 
representacao grafica de uma estrutura oficial: hierarquia 
das pessoas e dos grupos numa fabrica, numa escola , num 
hospital. 0 exame sociometrico revela ou tras hierarquias, 
outros sistemas de· poder e dependencia. E raro que coinci. . 
dam 0 sociograma e 0 organograma: uma, tal coincidencia. , 
se fosse geral, significaria-sque ..0 sistema social e inteira­
mente aceito, e que foi escolhido por todos os mernbros. 
do grupo. Moreno' Yin' muito bern, alias, as implicacfies so-. 
dais e poIiticas de 'suas pesquisas : a sua "revolucao socio ­
metrica" nao 6 apenas a expressao de urn privilegio conce­
dido aos pequenos grupos num programa de mudanca social; 
ela exprime igualmente a ideia de uma revolucao permanente 
no proprio interior da revolucao social , e a exigencia de nao 
permitir que as novas sociedades se burocratizem e aban­
donern os impulsos que produzern as transformacoes decisi­
vas, modificam as velhas estruturas e encontram novarnente, 
durante urn certo tempo, a espontaneidade criadora do" 
grupos sociais em "fusao". 
A..sociometria apresenta-se, assim, como uma tecnica da 
mupancra social. A base e psico16gica, ou, rnais 'precisamente 
'interpsicologica- 0 teste sociometrico revela as simpatias ~ 
as antipatias, as estruturas aceitas e as estruturas rejeitadas. 
Revela, porern.. ao mesmo tempo, esse sistema cornplexn de 
"redes infonnais" que constituem os fundamentos psicosso , 
ciologicos reais de urn grupo, ou de urn sistema de grupos. 
Moreno possui 0 sentido da dirnensao institucional nos gru­
pos; a sua intervencao, COrn justica celebre, numa instituicao 
de reeducacao de delinqilentes juvenis, descrita em Les [onde­
ments de fa sociometrie, mostra com clareza que e no nfvel 
total da comunidade, quer dizer, do sistema institucional, com 
a distribuicao social das funcoes, e tudo 0 que constitui a. 
instituicrao interna, que ele decide intervir, situando as liga­
c;:oes e os pequenos grupos, modifi~ando-os. 
A intervencrao so~iometrica nos grupos e nas instituicr6es 
e, portanto, animada por uma preocupayao analoga a dO' 
51 
psicodrama: trata-se sempre de liberar a espontaneidade e 
a criatividade, a capacidade de inventar uma hist6ria pessoal 
ou uma historia co1etiva. Trata-se, portanto, de conhecer os 
grupos, nao com uma finalidade exc1usiva de pesquisa, mas, 
ao contrario, para facilitar as mudancas. 
o termo "dinarnica de grupo" aparece pela primeira vez 
num artigo pupblicado por K. Lewin em 1944. Esse texto 
torna preciso tambem 0 1a90 entre a pratica e a teoria: "No 
dominic da dinamica de grupo, mais do que em qua1quer 
outro dominio psico16gico, a teoria e a pratica estao mete­
dicamente ligadas de uma maneira que, se corretamente con­
duzida, pode fornecer respostas a problemas te6ricos e for­
ta1ecer, ao mesmo tempo, essa aproximaeao raciona1 de 
nossos problemas sociais praticos que e uma das exigencies 
fundamentals de sua solucao">, No ana seguinte (1945), 0 
Research Center of Group Dynamics (Centro de Pesquisas 
de Dinamica de Grupoj> foi criado per Lewin, a principio 
nos quadros do M.I.T. (Massachusetts Institute of Techno­
logy) da Universidade de Cambridge, para unir-se, em se­
guida, em 1948, a Universidade de Michigan. 
A obra cientfficade K. Lewin comecou, no en tanto, na 
Alemanha com trabalhos de psicologia individuda1 que sera 
necessario conhecer para cornpreender-se a origem e 0 con­
tendo dos conceitos que fundamentam a dinamica de grupo. 
Podem-se distinguir, -com Claude Faucheux", tres diferentes 
momentos na carreira de K. Lewin. Encerra-se em 1930 um 
primeiro periodo nessa biografia inte1ectual. Lewin interes­
sa-seentao por assuntos classicos em psicologia experimental : 
estudo da YQnt~d.e:, ..das percepcoes, do movimento, etc., estu­
do .que e1e aborda na continuacao de uma corrente impor­
tante da psicologia" de laborat6rio. 
Essa psicologia experimental passou por duas fases. Por 
volta .de...1..89Q, os psicoffsicos alemaes modificaram 0 metodo 
da psicologia, sem mudar 0 seu objeto: em lugar de tomar 
a introspeccao como caminho de aproximacao da realidade 
psicologica, 0 pesquisador endereca-se aos instrumentos de 
1aborat6rio. Ele guarda, no entanto, como objeto de pes­
quisa, as velhas categorias herdadas da filosofia escolastica: 
a vontade, a inteligencia, a associacao de ideias. No curso 
tiram-se de aventais brancos, e camuflaram Santo Tomas em 
cilindros registradores. Na mesma epoca, no entanto, Freud 
funda, pela pratica psicanalitica, uma psicologia do "drama 
humano" muito mais concreta, e que desta vez muda, oao 
apenas 0 metodo da psicologia , mas 0 seu proprio objeto. 0 
objeto do psicologo e 0 individuo existente, ou a pessoa 
humana, em sua historia e em sua vida de todos os dias. 
Essa nova orientacao vai agir igualmente sobre 0 pensarnento 
e sobre os trabalhos dos psic6logos experimentalistas. 
No curso de urn segundo periodo, a partir , de 1930, 
Lewin continua a interessar-se ·pela psicologia individual, mas 
desta vez numa 6tica diferente. 0 novo objeto de sua pes­
quisa e a psicologia topologica: ele esforca-se por construir, 
sob esse termo, uma representacao espacial das situacces 
psicologicas .e de seu ambiente, no qual se situain regioes . 
Chega-se assim a 'definir urn campo psicologico formado pe1a 
pessoa e pelo ambiente. Essa teoria do campo, inspirada 
na fisica (e, em particular, no eletromagnetismo) , sera trans­
posta mais tarde para 0 estudo dos grupos. Urn outro con­
ceito sera igualmente transposto: 0 conceito de dinarnica 
psicologica elaborado primeiramente no nivel da personalida­
de e principalmente sob a influencia de Freud. 
o terceiro periodo dessa carreira cientifica 6 sernpre urn 
perfodo de pesquisa experimental. Essa experiencia comeca 
em 1938 com a celebre experiencia de Lewin ,e de seus dois 
co1aboradores, Lippit e While, sobre os "dimas sociais'". 
Todos conhecem hoje essa experiencia, 'que so tornou famosa, 
e que mostra bern 0 primeiro passe experimental nesse do­
minic. E preciso lembrar aqui, no entanto, que a carreira 
de Lewin conheceu, ate 1947, um quarto e ultimo periodo, 
interrompido prematuramente por sua morte, no pr6prio mo­
mento em que Lewin , depois de ter estudado 0 campo psico­
Iogico (do indivfduo) , e, depois, 0 campo do grupo, abor­
dava em Sua pratica e em sua teoria os problemas do campo 
social. Tem-se, em excesso, com efeito, a tendencia de ver 
em Lewin urn fundador de uma dina-mica de grupo que se 
reduziria a ciencia experimental dos pequenos grupos, E urn 
erro. Basta ler 0 que escreve K. Lewin, em 1943, no mo­
mento em que trabalha na rnudanca des habitos alimentares, 
para compreender que , cada vez mais, ele procura estabelecer 
uma ciencia do campo social na qual a intervencao do psi­
desse periodo, como 0 diz Georges Politzer, os teologos ves- cossoci6logo em situacoes sociais reais toma 0 lugar da ex-I
 52 53 
'periencia de laboratorio. Por outro lado, 0 papel ativo que 
desempenha no fim de sua vida na elaboracao de metodos 
.de formacao (que se desenvolveram, depois, a partir do cen­
tro de formacao de Bethel) mostra igualmente uma nova 
erientacao, na qual 0 tecnico em dinamica de grupo ela­
·bora 0 conhecimento a partir de uma pratica social. A ul­
tima contribuicao cientffica e teorica de Lewin e, portanto, 
a doutrina episternologica da action research - pesquisa 
ativa, ou melhor, pesquisa comprometida, empenhada. Por 
fim, 0 artigo inacabado, que foi publicado em 1947, e e 
considerado como 0 seu testamento cientlfico", concentra-se 
:no projeto de integracao das ciencias sociais . - Como ex­
iPlicar esse compromisso de ciencia? 
A, pergunta dirigida aos psicossociologos pelas organi­
zacoes industrials, e, depois, pelo conjunto da sociedade, 
-explica-se, primeiramente, para n6s, pelas dificuldades de 
comando, de comunicacao, de funcionamentoque sociologos 
como Merton, Se1znick, ' Gouldner definiam, depois de Max 
Weber, em termos de burocratizacao. Max Weber havia 
mostrado que a burocracia era a racionalizacao na orga­
nizacao da empresa. Descobre-se agora que essa racionali­
dade e irracional, que a fun9ao irnplica disfuncoes, Perce­
be-se ao mesmo tempo que, ao lado do nivel "formal", of i­
cial, burocratico, existe urn outro nfvel, 0 dos laces infor­
mais, dos grupos, das fracoes. 
A tarefa do psicossociologo sera encontrar novamente 
a relacao entre 0 formal e- 0 informal, entre a organizacao 
e .a motivacao, sera "desburocratizar" a organizacao, ou. : 
mais exatamente, 'modemizar a burocracia por uma tera­
peutica da rigidez burocratica, da impossibilidade de co­
municacao efetiva, da pratica do trabalho em comum. 
Assim, 0 psicossociologo pratico aparece como urn dos 
agentes da modernizacao da burocracia, aquele que facilita, 
\: com 0 seu trabalho, a passagern hist6rica da fase B a 
fase C. 
Ve-se 0 quanta essa analise separa-nos das criticas po ­!II liticas da psicologia :que sao publicadas e ouvidas hoje em 
dia. Em 1948, certos ideologos "rnarxistas" desencadearam 
a ofensiva ao mesmo tempo contra a psicanalise e contra 
a psicossociologia das relacoes humanas, sem jamais dis­
tingui-las corretamente, mas deforrnando 0 essencial de sua 
a9ao. 0 psicossociologo era apresentado como instrum enzo 
54. 
docil dos patroes, e mesmo como urn policial de urn novo 
tipo , encarregado de fazer falar os operarios numa empresa, 
para fazer, em seguida, urn relat6rio a direcao, Poi dito 
-J igualrnente que ele tinha por missao substituir a "infelici­
dade coletiva", politica, por uma "infelicidade privada" e 
afetiva, e fazer cessar a luta de classes na empresa, esta­
belecendo boas relacoes, dialogos entre dirigentes e dirigi­
dos. 0 psicossociologo era assim definido em termos poll­
tieos, e denunciado. 
Esquecia-se que ele era tambern aquele por cujo inter­
medic a luta informal' e pennanente na empresa era reve­
Iada: pode-se sustentar, que os psicossociologos aprofunda­
ram as analises de Marx e levaram mais longe 0 conheci­
mento das relacoes de producao na empresav; sao verdadei­
ros, ao mesmo tempo, 0 carater "reformista" da acao dos 
psicossociologos e 0 valor revolucionario de suas descobertas. 
A Fasc C 
/ A passagem historica para a fase C tern bases tecno-
Iogicas, e e levada em seu movimento pela modernizacao 
das tecnicas, pelo desenvolvimento da autornacao e pelas 
transformacoes das industrias modernas (eletronica, petro­
qu'rnica, etc ... ) e tam bern pelas formas modernas de ges­
tao (bancos, etc .). Esse movimento coordena-se ele pro­
prio com as transformacoes econornicas da sociedade neo­
capitalista, com as variacoes na composicao do capital. Ele 
rmplica 0 aparecimento de uma "nova classe operaria" que 
modifica a doutrina e a estrategia sindicais". Ele inspira 0 
pensamento dos novos planificadores, A burocracia gestio­
naria da fase C perde a sua rigidez, e capaz de integrar os 
que se desviam, de praticar a dinarnica de grupo e a demo­
cracia intema de gerir a rnudanca . de buscar a participacao; 
mas isso nao e a democracia direta, a autogestao verda­
deirarnente coletiva. Consiste talvez nisso 0 futuro proximo. 
II 
55 
A burocracia tradicional suscitou, nos grupos sociais 
que dominava, revoltas, oposicoes violentas; e assim que 
apareceram, por exemplo, os grupos infonnais nas empresas, 
os grupos fracionarios nos partidos enos sindicatos, Nos <> 
sindicatos de novo estilo, no entanto, a existencia de fra ­
c;:5es de oposicao tende a desaparecer. 0 que resta e per­
manece sao conflitos pelo poder e em prol da modernizacao 
no interior das direcces burocraticas. Nao se trata de con­
flitos entre a "base" e 0 "aparelho", 
no interior do "aparelho". 
Ve-se a vontade de participacao 
diminuir na medida em que diminui 
autoritarismo. 0 perito em ciencias 
bri-lo nas sociedades burocraticas em 
linizacao". . 
mas de contradicfies 
e de gestae da base 
0 constrangimento, 0 
politicas pode desco­
periodo de "desesta- ' 
Isso nao significa, no entanto, 0 desaparecimento de 
todos' os problemas. A vitoria sobre as doencas deixa apa­
recer outras doencas "da civilizacao". Uma sociedade neo­
burocratica conhecera perturbacoes sociais e individuals; as 
revoltas dos jovens - os planificadores autores das "refle­
xoes para 1985" reconhecem - poderiam desenvolver-se sob 
outras formas e agravar-se, transformando-se. A revolta nao 
se transf'orma necessariamente em adaptacao ativa, em par­
ticipacao, Ela pode ser tambem expressao de um niilismo 
que seria 0 complemento da modernidade. E precise ver 
que continuam as contradicoes na burocracia: 0 conflito 
sino-sovietico destr6i as bases ideo16gica e polftica da uni­
ficacao buro crati ca. Pode-se enfim opor ao dirigismo buro­
cratico 0 princfpio da nao-diretividade, profundamente Iiga­
do ao projeto de autogestao social. 
o psicoterapeuta americano Carl Rogers, como se sabe, 
introduziu em psicologia 0 conceito da nao-diretividade. 
Mais recentemente, ele lancou algumas teses com referenda 
,: a educacao, Encontra-se numa publicacao recente" uma ge­
neralizacao desse principio da nao-diretividade, 0 qual estava 
presente, com quatro nomes, em tempos mais distantes de 
nossa hist6ria cultural. 
Como no caso de S6crates, como no caso de Rousseau, 
o ponte de partida da reflexao de Rogers, pelo menos em 
materia de educacao, e evidentemente uma decepcao e uma 
autocritica. Ele 0 diz claramente na conferencia dita de 
56 
..._====-------------­
"Harvard", publicada em 1961, e cuja difusao na Franca 
provocou reoentemente alguns protestos (Education Natio­
nale, 18 de outubro de 1962). Rogers esboca nessa confe­
rencia uma autobiografia profissional: "Eu VOu procurar 
condensar 0 que extraf de minha experiencia de professor 
e da pratica da terapia individual e coletiva, Nao se trata 
de sugerir conclusoes a outras pessoas alern de mim, nem 
de propor um modelo do que deve e do que nao deve ser 
feito, Sao simplesmente tentativas de explicacao atual, de' 
abril de 1961, de minha experiencia ... ". Segue-se a expo­
sic;:ao de teses, na aparencia, paradoxais; citemos as rnais. 
caracteristicas: "A minha experiencia levou-me a pensar que' 
eu nao posso ensinar a alguma outra pessoa a ensinar... Pare­
ce-me que tudo 0 que pode ser ensinado a uma outra pessoa­
e relativamente pouco utilizado e tem pouca ou nenhuma­
influencia sobre 0 seu comportamento .. . Chego atualmente 
a acreditar que os iinicos conhecimentos que possam in­
fluenciar 0 cornportamento de urn' indivfduo sao aqueles que' 
ele proprio descobre ..e.idos .qp.ais se apropria", As passagens 
que- acabamesvde-der-reeastituem 0 primeiro momento, 0 ' 
memento destruidor, negativo, -da demarche de Rogers. A 
conseqiiencia que Rogers extrai disso- e muito clara: "A 
minha rofissao de roressar nao tern mais ara mim ual­
QueI"' mteress.~". Ve-se em que se trata de urn elemento 
antobiografico, Rogers "confessa" ::a sua' decepcao, 0 seu 
ceticismo de professor. Isso .introduz, no entanto, como vai 
se ver, a ideia de que os verdadeiros conhecimentos nao 
estao no exterior, para serem transmitidos, mas estao no 
interior de cada urn de nos e . em nossa experiencia. Reco­
nhecemos togo a maieutica de Socrates e a educacao nega­
tiva de Rousseau. 
Esse pensamento torna-se explicito no caso de Rogers 
numa teoria da experiencia formadora. "Esses conhecimen­
tos descobertos pelo individuo, essas verdades de que pes­
soalmente se apropria e que assimila no curso de urna 
experiencia nao podem ser diretamente comunicados a ou­
tros. " Eu ercebo ue me interesso a enas r a render . . . 
Considero satis at no aprender, seja em grupo, em relacao­
individual como em terapia, ou sozinho. Descobri que a 
melhor maneira de aprender - emboraseja a mais diffcil' 
- consiste para mim em abandonar a minha atitude de­
fensiva - ao menos provisoriamente - para procurar com­
57 
preender como e que uma outra pessoa concebe e sente a 
Sua propria experiencia. Uma outra maneira de aprender 
consiste ' para mim em exprimir as minhas incertezas, ern 
procurar planejar os meus problemas, a fim de melhor com­
preender a significacao de minha experiencia." 
~ 
As ultimas frases citadas, que encerram, alias, a con­
ferencia, parecem-nos revelar um outro aspecto essencial do 
f'\ pensamento nao-diretivo: e urn pensamento do nao-acabado. 
; Concluir e acabar urn pensamento, pOr termo a urn pro­
\ cesso de desenvolvimento, Se Rogers pede declarar que as 
"conclusoes" transmitidas nao tem valor formador e porque 
ele percebe, no termo de sua meditaeao, que 0 unico co­
\\ nhecimento autentico e conhecimento inacabado e conheci­Jmento do inacabado. Tal e 0 destine- das ciencias ho]e em 
dia : todos os te6ricos das ciencias e todos os que se ocupam 
da pratica das tecnicas descobrem-no, no momento em que 
refletem sobre 0 destino atual de nossa civilizacao, Esse ele­
rnento do principle da nao-diretlvidade pedag6gica, a saber, 
o fato de que 0 hornern e 0 mundo sao inacabados, e talvez 
o aspecto mais recentemente revelado dassa concepcao peda­
g6gica. No entanto, ele estava sem duvida laterite em S6­
crates e em Rousseau; esses dois "precursores" da nao-di ­
retividade viviam, no entanto, em momentos hist6ricos em 
,.que a posse adulta dos saberes e das tecnicas era urn obje ­
tivo que se atingia com mais facilidade do que hoje em dia. 
Compreende-se assim que 0 tema do nao-acabado, ernbora 
presente e fundamental em suas analises dialeticas e em 
.suas concepcoes negativas da educaeao, nao se manifeste 
no caso deles com 0 carater radical que Rogers quer con­
ferir-lhe. Uma outra maneira de exprimir esse tema do 
nao-acabadc em pedagogia consiste em sublinhar, como 0 
faz Rogers, as "maneiras de estudar que provocam uma 
mudanca'". 
A noc;:~o de mudanca pernrite a Rogers estabelecer uma 
relacao entre a sua experiencia de psicoterapeuta e a sua 
experiencia, mais limitada, de professor. 0 psicoterapeuta 
trata, corn 'efeito, dos problemas de mudanca; a finalidade 
de uma psicoterapia consiste em desfazer as barreiras que 
impedem 0 cliente de desenvolver-se, ou, como diz Rogers, 
de "crescer". Pois 0 princfpio que Rogers sustenta como 
fundamental para a sua empresa terapeutica e 0 de urn 
prescimento que nao deixa de evo-car, como jtt foi muitas 
58 
vezes sublinhado, a bondade natural de Rousseau - no 
sentido psicopedag6gico desse conceito. Lembrado esse prin­
.cfpio, cbservar-se-a que 0 essencial das analises tecnicas 
;propostas por Rogers situa-se menos no nfvel do cresci­
mento do que no nfvel da relacao terapeutica. No trabalho 
-cuja lic;:ao seguimos aqui, Rogers evoca "0 olhar incondi­
cionalmente positivo do terapeuta, a sua cornpreensao em­
.patica", quer dizer, outros tantos aspectos especificos de 
nima relacao com outrem, A ideia da nao-diretividad e en ­
contra aqui 0 seu fundamento : e'a imp' ica essencialmente 
uma relacao de poder. 0 livre desenvol vimento de urn ser 
particular ou de urn grupo e uma conseqiiencia desse pri­
rneiro princfpio. Em resurno, a nao-diretividade e uma po­
Utica antes de ser urna psicologia genetica, urn me todo tera­
peutico ou uma nova concepcao da pedagogia. 
Isso dito, 'nos podemos com Rogers enurnerar alguns 
elementos para uma pedagogia nao-diretiva. 0 primeiro as­
pecto que ele propoe que . se retenha e 0 "contato corn os 
problemas". Rogers entende com essa expressao 0 fato de 
que "urn conhecimento autentico e mais facilrnente adqui­
rido quando ligado a situacoes que , sao percebidas como 
problemas". A ilustrac;:ao experimental que ele cita em apoio 
desse princlpio e uma observacao do que se passa em situa­
s:6es rnenos "diretivas" do que ensino ex cathedra: "achei 
rnais eficazes os trabalhos de serninar io do que os cursos 
regulates, os curses livres do que os curses ex cathedra. As 
pessoas que vern a seminaries ou a cursos livres sao aquelas 
<que estao em contato com problemas que reconhecern como 
\ seus" 10 . 
; Rogers anaJisa, em seguida, 0 que chama de "realisrno 
:-do" ensino", e depois as atitudes de "aceitacao e de com­
preensao", para passar daf ao estudo dos meios pedagogicos 
e do uso que deles pede fazer 0 professor. Urn ultimo e 
importante problema que Rogers coloca refere-se aos obje­
~. tivos da educacao. Nao se trata, no entanto. de uma questao 
que pertenca com exclusividade a nao-diretividade. Ela per­
tence e sernpre pertenceu a problernatica pedagogica. 0 que 
pertence com exclusividade a escola nfic-diretiva e 0 se­
guinte: os objetivos que se reconhecem sao os dos indivi­
rluos formados, e nao mais os objetivos dos pro fessores. 
' ~~ ," A influencia 'de Carl Rogers sobre a pedagogia con­
temporanea e ainda limitadal1 ; a sua capacidade de con­
testa~o e, em contraste, decisiva. 0 ataque visa 0 pedagogo 
59 
em suas posicoes mais bern defendidas, mais abrigadas. E 
nisso se encontra a sua diferenca essencial para com o 
reformismo pedag6gico que encerram os metodos novos, 
quer dizer, toda a corrente da escola ativa e da educacao 
nova. 
A palavra "reforrnismo" foi escolhida aqui a fim de 
provocar uma comparacao com a polltica. Sabe-se que em 
politica 0 reformismo e a "revolucao feita pela burocracia". 
Evita-se assim urna mudanca radical na organizacao social, 
quer dizer, que 0 grupo inteiro ponha em questao as estru­
turas do poder. Passa-se 0 mesmo com 0 1 refonnismo peda­
g6gico: pde-se tudo em questao, menos aquele que provo ca 
as questoes, quer dizer, 0 professor, 0 educador. Rogers; ·aci 
contrario, coloca-se a si mesmo em questao em sua funcso 
e mesmo em seu ser. Ele comeca a duvidar de sua propria 
eficacfa; de- 'renuncia as' [ustlficacoes e a boa consciencia. 
Por esse-lade; ele e verdadeiramente- 0 herdeiro de Socrates 
e de Rousseau. Sob 0 aspecto pedag6gico, no entanto, ele 
ultrapassa os precursores. 0 metoda nao-dlretivo e mais fino 
hoje em dia, parecendo mesmo dispens ar a manipulacao'". ' 
Enfim, n6s ja. 0 dissemos, a nao-diretividade rogeriana 'de­
fine-so mais explicitamente em funyao da mudanca indivi­
dual e coletiva, quer dizer , em funcao do inacabado hu­
rnano-". . 
Se e possivel ver nisso urn progresso no plano estrita­
mente pedag6gico, pode-se, por outro lade, estimar que, 
sob 0 aspecto de seus fundamentos filosoficos e politicos, o 
pensamento de Rogers representa urn retrocesso com rela­
~ao aos metodos de S6crates e de Rousseau, tendo-se em 
vista a temporalidade .historica . 
Com efeito, S6crates foi condenado como agitador po­
litico e tudo mostra que 0 metodo pedagogico e 0 metodo 
politico, no sentido grego do termo, nunca estiveram sepa­
rados para 0 fundador da filosofia. No que se refere a 
Rousseau, e evidente que 0 Emilio nao pode- ser cornpreen­ . 1. 
dido a nao ser ern Iigacao com 0 Conirato social: nao es- ' 
quecamos que a Ultima etapa da formacao, no 
a etapa da experiencia politica. 
Rogers parece, ao contrario, refugiar-se num 
cologismo. E os seus seguidores fazem 0 rrresmo. 
lidade nao-diretiva estimaria ser hoje em dia 
"desengajamento", de urn pretenso apoliticismo 
Emilio, e­
certo psi­
A neutra­
a de urn 
do homem 
de ciencia e do terapeuta, 0 que nao e nada mais do que 
uma op~ao politica nao dec1arada e nao tornada explfcita. 
E por isso enfim que a nao-diretividade rogeriana para no 
meio do caminho, e se fecha na contradicao que e a pro ­
pria contradicao da sociedade que permitiu 0 seu desen­
volvimento. 
A doutrina de Rogers, e mais geralmente a formacao 
nao-diretiva, desenvolve -se num contexto social que e 0 de 
uma sociedade industrial hierarquizada, na qual se pede 
aos individuos bastante iniciativapara fazer 0 que nao po­
·dem fazer os robes: tomar decisoes. Espera-se deles, ao 
mesmo tempo, bastante "submissao" para que coloquern ern 
questao as estruturas, as instituicoes, os principios gerais de 
funcionamento da sociedade. Dai procede 0 pedagogismo co­
piado da pratica terapeutica : colocam-se 0 individuo e os 
.grupos como candidatos - a uma "rnaturidade" psicologica 
-cuja norma carregam em seu interior e cujo desenvolvimen­
to sera facilitado, 
Para Rousseau, ao contrario, a maturidade era politica. 
E , sem duvida, a experiencia politica vem coroar, no Emilio , 
a maturacao individual, a iniciacao, A compreensao dessa 
'Ultima etapa da formacao leva novamente, no entanto, as 
analise do Contrato em que R ousseau mostra que 0 rno­
delo familiar da relacao crianca-adulto nao pode constituir 
alicerce para a analise polftica do poder. Ha aqui duas or­
-dens diferentes. 0 movimento nao-diretivo conternporaneo, 
.a o contrario, psicologiza a politica, ern lugar de politizar a 
·psicologia. . 
Na doutrina original de Rogers a nao-diretividade indi­
-vidual ou social nao coloca ern questao a diretividade es­
·tru tural. Em outros termos: a autoformacao nao-diretiva 
nao se funda na autogestao dessa formacao. Eis a sua con ­
· trad i~ao central. S6 se pode esperar resolve-la reunindo 0 
que foi separado: a politica e a educacao, quer dizer , ela­
borando os princlpios e as tecnicas de uma autoforrnacao 
que implicaria, ern seu inicio , a gestae da formacao por 
'aqueles que sao os seus c1ientes . Isso nao elimina 0 monitor. 
Nao propomos 0 laisser [eire em pedagogia. 0 problema do 
monitor continua colocado. Talvez 0 monitor verdadeira­
mente "nao-diretivo" seja aquele que da a possibilidade ao 
.grupo de autoforrnacao - e nao mais do "grupo de for­
ma~ao" - de estruturar ele pr6prio as condi~6 es da peda ­
:gogia. 
6160 
Rogers fez progredir notavelmente 0 problema da nao­
diretividade pedagogics . Faltou-lhe um elemento essencial ; 
colocando claramente 0 problema da autoformacao sob os 
olhos de urn monitor nao-diretivo, nao leva as tiltimas con ­
seqiiencias seu pensamento, que implica a autogestao da 
formacao, quer dizer, a politizacao consciente da peda­
gogia>'. 
Veremos dentro em breve que a autoformacao, a auto­
gestae educativa e a pedagogia institucional implicam, aO' 
contra-rio, de parte dos alunos, uma atividade de instituir 
Isso permite ultrapassar os limites do "trabalho livre por 
grupos" no qual, segundo a expressao de R. Cousinet, 0 
professor deve limitar-se a "organizer a escola". - Desco­
briremos assim que a verdadeira nao-diretividade educative 
supoe que se ascenda do nivel dos grupos ao nfvel das ins ­
tituicoes. 
Basta-nos, nessa etapa de nosso caminho, sublinhar esse 
primeiro tema que comple.menta e ilustra tudo 0 que foi 
dito , nesse capitulo, sobre 0 nascimento e sobre 0 desen­
volvimento da psicologia dos grupos, das organizacoes e 
das instituicoes. N6s evocamos 0 horizonte politico e, ja, 
o problema da autogestao social. Ora, nesse plano, igual­
mente e colocado 0 problema da relacao entre os grupos 
e as instituicoes: a verdadeira autogestao social nao e apenas 
a autogestao das empresas, das escolas e das organizacoes 
socials de base; e, se isso e possfvel, a autogestao da so­
ciedade em seu conjunto, E 0 desaparecimento do Estado e 
a sua substituicao por uma auto-regulacao nao burocratica 
das relacoes entre os grupos e as organizacoes que consti­
tuem uma sociedade. 
Ve-se por isso que 0 problema des grupos - conferin­
do a essa palavra a sua significacao rnais ampla - evoca 
sempre e necessariamente 0 problema das instituicdes. A de­
mocracia dos grupos nao significa praticamente nada, desde 
que nao se integre numa democracia institucional. 
Essa relacao foi descoberta per vias separadas, mas 
convergentes: as reflexoes sobre os problemas do socialis­
rno da psicoterapia institucional e da autogestao educativa 
encontram esse mesmo problema.. Nao se pode tratar dos 
problemas dos gropes, sem tratar ' ao mesmo tempo dos pro­
blemas das organizacoes e das instituicoes, 
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capitulo 2 
as grupos 
pesquisa ­ formacao
 intervencao 
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